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Introdução Segundo a OMS, o AVC se destaca como a 2ª maior causa de morte no mundo, responsável por ~6,7 milhões de óbitos em 2016; • Existe uma tendência de manter-se assim até o ano de 2030, sendo responsável por ~12,2% dos óbitos previstos; No Brasil, as doenças cerebrovasculares causaram 99.732 óbitos no ano de 2010; • O diagnóstico médico de AVC, em 2012, foi responsável por cerca de 166 mil internações hospitalares, com custos que ultrapassaram R$ 163 milhões de reais; Trata-se, portanto, de uma doença altamente onerosa; O AVC é uma síndrome neurológica focal ou global repentina de provável origem vascular; Pode se manifestar de duas formas: • Isquêmico: ocasionados pela obstrução de um vaso por meio de processos ateroscleróticos ou embólicos - dificultando o suprimento de oxigênio e substratos ao tecido cerebral; • Hemorrágico: originado pela ruptura de um vaso com extravasamento de sangue dentro ou em volta das estruturas do sistema nervoso central; A forma isquêmica é predominante, com cerca de 80% do total dos casos, contra 15% de casos de AVC hemorrágico; A incidência de AVC aumenta com a idade, sendo que cerca de dois terços de todos os AVCs ocorrem em pessoas com mais de 65 anos; A incidência é um pouco maior em homens do que em mulheres, sendo maior em afrodescendentes do que em brancos; Os fatores de risco modificáveis: hipertensão sistólica ou diastólica, fibrilação atrial, diabetes, dislipidemia e falta de atividade física; Os fatores genéticos também parecem ser importantes na patogênese dos AVCs, embora a causa da maioria dos AVCs seja multifatorial; Características O AVC é uma síndrome marcada por quatro características principais: 1. Início súbito – O início súbito dos sintomas é documentado pela história; 2. Envolvimento focal do sistema nervoso central – O local de envolvimento do sistema nervoso central é sugerido pela natureza dos sinais e sintomas, delineados mais pelo exame neurológico e confirmado por TC ou RM; 3. Ausência de resolução rápida – No passado, a definição-padrão de AVC exigia que os déficits persistissem por pelo menos 24 horas, para distinguir um AVC de um AIT. No entanto, qualquer indicação temporal é arbitrária, e o AIT geralmente melhora até uma hora; 4. Causa vascular – Uma causa vascular pode ser sugerida a partir do início agudo dos sintomas e, muitas vezes, a partir da idade, da presença de fatores de risco e da ocorrência de sinais e sintomas que podem ser atribuídos a determinado vaso cerebral; Isquemia A interrupção do fluxo sanguíneo para o cérebro priva neurônios, glia e células vasculares do substrato glicose e do oxigênio; A menos que o fluxo seja restaurado prontamente, isso leva à morte isquêmica do tecido cerebral; O padrão de morte celular depende da gravidade da isquemia; • Com uma isquemia leve, como na parada cardíaca com reperfusão, a vulnerabilidade seletiva de certas populações neuronais resulta em sua perda preferencial; • Uma isquemia mais grave produz necrose neuronal seletiva, na qual todos os neurônios da glia morrem, mas as células gliais e vasculares são preservadas; • Uma isquemia completa e permanente, como ocorre no AVC, causa uma pan- necrose, afetando todos os tipos celulares; Se o paciente sobreviver, esta necrose leva, finalmente, a lesões cerebrais cavitárias crônicas; Nos locais em que a isquemia é incompleta, como na região fronteiriça ou na zona de penumbra isquêmica (circunda o núcleo da região cerebral isquêmica), a lesão celular é potencialmente reversível, e a sobrevivência celular pode ser prolongada; • A morte do tecido penumbral está associada com um resultado clínico ruim; Edema cerebral é outro fator determinante do resultado de um AVC; • A isquemia leva ao edema vasogênico, (o líquido do compartimento intravascular vaza para o parênquima cerebral); • O edema costuma ser máximo em cerca de 2 a 3 dias após o AVC, podendo ser suficientemente grave para causar herniação cerebral e óbito. Dois mecanismos patogênicos podem produzir AVC isquêmico – trombose e embolia; Trombose: • A trombose produz AVC por oclusão de grandes artérias cerebrais (em especial carótida interna, cerebral média ou basilar), de pequenas artérias penetrantes (como no AVC lacunar), de veias cerebrais ou de seios venosos; • Os sintomas geralmente evoluem durante minutos a horas; • AVCs trombóticos com frequência são precedidos de AITs, que tendem a produzir sintomas semelhantes; Embolia: • A embolia produz AVC quando artérias cerebrais são ocluídas pela passagem distal de um trombo do coração, do arco aórtico ou das grandes artérias cerebrais; • Êmbolos na circulação cerebral anterior ocluem, frequentemente, a artéria cerebral média ou seus ramos, pois 85% do sangue periférico são transportados por esse vaso; • Êmbolos na circulação cerebral posterior geralmente se alojam no ápice da artéria basilar ou nas artérias cerebrais posteriores; • AVCs embólicos produzem caracteristicamente déficits neurológicos que são máximos no início do quadro; Etiologia A isquemia cerebral focal pode resultar de distúrbios subjacentes que afetam principalmente o sangue, os vasos sanguíneos ou o coração; Fisiopatologia Foram identificados vários mecanismos subjacentes potencialmente importantes; – MECANISMOS DE LESÃO Insuficiência energética: Os neurônios dependem do metabolismo oxidativo para gerar grandes quantidades de ATP necessárias para manter suas altas demandas energéticas; A redução do fluxo sanguíneo interfere com o fornecimento de dois substratos essenciais para esse processo – oxigênio e glicose – levando à queda dos níveis de ATP; • As células compensam essa deficiência parcialmente, por meio da geração de ATP pela glicólise (conversão de glicose em piruvato e lactato); Entretanto, sem reperfusão imediata, esta estratégia é inadequada; Como outros mecanismos de lesão, a insuficiência energética é mais acentuada no núcleo da isquemia; Gradientes iônicos: Uma das utilidades mais importantes da energia gerada pelas células é a manutenção dos gradientes iônicos transmembrana; • Com a insuficiência energética, esses gradientes são dissipados; A bomba de sódio-potássio, que é responsável pela manutenção de altas contrações intracelulares de K, deixa de fazê-lo; • Consequentemente, o K vaza das células e despolariza células adjacentes, ativando os canais iônicos voltagem- regulados, o influxo de Ca e a liberação de neurotransmissores; Níveis elevados de K, juntamente com o glutamato, também causam uma disseminação da depressão cortical, um fenômeno elétrico associado com despolarização neuronal e astrocitária, que consome energia e pode aumentar o infarto; Desregulação do cálcio: O Ca é mantido a níveis citoplasmáticos baixos por meio de vários mecanismos de sequestro e extrusão; A elevação do K desencadeia a entrada de Ca através de canais de Ca, canais de glutamato voltagem-sensitivos e receptor-controlados, e canais receptores potenciais transitórios; • O Ca também entra por canais iônicos ácido-sensíveis ativados por H produzidos por glicólise; O aumento do Na intracelular que resulta da perda da atividade da bomba Na-K faz o permutador Na-Ca, que normalmente exporta Ca das células contra o seu gradiente de pressão, passar a operar de modo reverso, importando Ca; • Além disso, o Ca induz a liberação de Ca do retículo endoplasmático; Com o aumento dos níveis de Ca, a capacidade de tamponamento das organelas (mitocôndria e retículo endoplasmático) e das proteínas de ligação de Ca é superada; • Proteases catabólicas, lipases e nucleases são ativadas, a função mitocondrial é comprometida e as vias de morte celular são mobilizadas;Excitotoxicidade: Refere-se aos efeitos patogênicos dos neurotransmissores excitatórios, especialmente o glutamato, sobre os neurônios centrais; • Promovida pela estimulação da liberação sináptica do Glu, liberando Glu pela captação reversa do glutamato astrocítico, e ativação dos canais de glu voltagem- sensitivos e receptor-controlados; Os receptores primariamente envolvidos na excitotoxicidade são: os receptores NMDA- preferencial ionotrópicos, especialmente aqueles que são extrassinápticos e que contêm uma subunidade NR2B; O influxo de Ca por canais NMDA receptor- acoplados contribui com a desregulação de Ca21; • Esta via de entrada de Ca está estreitamente ligada à ativação de óxido nítrico-sintase neuronal (NOS1), que gera o transmissor óxido nítrico (NO); • Em contraste, o NO gerado pela óxido nítrico-sintase endotelial (NOS3) confere uma proteção da isquemia, por suas propriedades vasodilatadoras; Lesão oxidativa e nitrosativa: Alguns dos efeitos tóxicos da isquemia são mediados pela produção de espécies altamente reativas de oxigênio e nitrogênio; Acredita-se que atuem principalmente durante a fase de reperfusão que segue a isquemia; Seus efeitos incluem a inibição das enzimas e do funcionamento mitocondrial, lesão do DNA, ativação dos canais iônicos, modificação covalente de proteínas e desencadeamento das vias de morte celular; Cascatas da morte celular: A morte celular rápida no núcleo isquêmico é representada pela necrose; • Entretanto, a morte celular programada podem predominar na zona de penumbra e durante a lesão de reperfusão; A apoptose pode ser desencadeada por sinais extracelulares ou intracelularesínseca); • No AVC, predomina a via intrínseca; A morte celular por via intrínseca pode ainda ser subdividida com base na sua dependência das caspases; • Tanto na morte celular caspase-dependente quanto na caspase-independente, a sobrecarga de Ca e o movimento de proteínas proapoptóticas do citoplasma para a mitocôndria alteram a permeabilidade da membrana mitocondrial externa, permitindo a liberação adicional de fatores proapoptóticos; Na morte celular caspase-dependente, o principal fator envolvido é o citocromo C, que transloca da mitocôndria para o citoplasma, ativando a caspase-9 e, então, a caspase executora ou caspase-3; Na morte celular caspase-independente, o fator de indução da apoptose (AIF) transloca da mitocôndria para o núcleo, onde promove a degradação do DNA; Inflamação: A isquemia cerebral desencadeia uma resposta inflamatória que envolve as células neuronais e as células sanguíneas do sistema imunológico; A inflamação começa dentro dos vasos sanguíneos, em resposta à oclusão, sendo amplificada pela morte celular dentro do parênquima cerebral; • As respostas imunológicas adaptativas aparecem posteriormente, na evolução; Os mediadores moleculares da inflamação induzida pela isquemia incluem moléculas de adesão, citocinas, quimioquinas e proteases; Embora acredite-se que a resposta inflamatória precoce à isquemia seja capaz de provocar lesão secundária, os eventos inflamatórios subsequentes podem ser neuroprotetores ou contribuir para o reparo tecidual; Correlação Anatomo-Clínica O reconhecimento dessas síndromes pode facilitar o diagnóstico anatômico e, às vezes, o diagnóstico etiológico, auxiliando assim na orientação do tratamento; ARTÉRIA CEREBRAL ANTERIOR Anatomia: A artéria cerebral anterior supre o córtex cerebral parassagital, que inclui porções do córtex motor e sensoriais relacionadas com a perna contralateral e o centro miccional; Síndrome clínica: Os AVCs da artéria cerebral anterior são incomuns; Existe uma paralisia contralateral e perda sensorial afetando a perna; O controle voluntário da micção pode estar comprometido em decorrência da falta de inibição das contrações vesicais reflexas, resultando em micção; ARTÉRIA CEREBRAL MÉDIA Anatomia: A artéria cerebral média supre a maior parte do hemisfério cerebral remanescente e as estruturas subcorticais profundas; A divisão superior dos ramos corticais da artéria cerebral média suprem toda a representação cortical motora e sensitiva da face, da mão e do braço, e a área da linguagem expressiva (Broca) do hemisfério dominante; A divisão inferior supre as radiações visuais, a região do córtex visual relacionado à visão macular e a área da linguagem receptiva (Wernicke) do hemisfério dominante; Os ramos lentículo-estriados da porção mais proximal da artéria cerebral média suprem os núcleos da base, assim como as fibras motoras relacionadas com a face, a mão, o braço e a perna; Síndrome clínica: A artéria cerebral média é o vaso mais comumente envolvido em grandes AVCs isquêmicos; Dependendo do local de envolvimento, podem ocorrer diversas síndromes clínicas; 1. AVC da divisão superior: hemiparesia contralateral que afeta a face, a mão e o braço, mas poupa a perna, e déficit hemissensorial contralateral. Quando o hemisfério dominante está envolvido: + afasia de Broca; 2. O AVC da divisão inferior: é - comum e resulta em hemianopsia homônima contralateral, que pode ser mais densa inferiormente, funções sensoriais corticais comprometidas (p. ex., estereognosia no lado contralateral) e distúrbios do pensamento espacial. Se o hemisfério dominante estiver envolvido: ocorre uma afasia de Wernicke; 3. A oclusão junto à bifurcação ou trifurcação da artéria cerebral média: Essa síndrome grave de AVC combina as características do AVC das divisões superior e inferior. Características clínicas: hemiparesia contralateral e déficit hemissensorial envolvendo a face e o braço, mais que a perna, hemianopsia homônima e – se o hemisférico dominante estiver envolvido – afasia global; 4. A oclusão do tronco da artéria cerebral média: Como todo o território da artéria está afetado, este AVC é semelhante ao observado após a oclusão junto à trifurcação, exceto que, há também o infarto das fibras motoras na cápsula interna. O resultado é uma hemiplegia contralateral e perda sensorial afetando a face, a mão, o braço e a perna; ARTÉRIA CARÓTIDA INTERNA Anatomia: Além dos seus ramos cerebral anterior e cerebral médio, a artéria carótida interna também dá origem à artéria oftálmica, que supre a retina; A gravidade é altamente variável, dependendo da adequação da circulação colateral, que tende a se desenvolver para compensar uma oclusão de evolução lenta; Síndrome clínica: A oclusão intracraniana ou extracraniana da artéria carótida interna é responsável por cerca de um quinto dos AVCs isquêmicos; • Cerca de 15% dos casos, é precedida por AITs premonitórios ou por cegueira monocular transitória; A oclusão da artéria carótida pode ser assintomática; A oclusão sintomática resulta em uma síndrome semelhante ao AVC da artéria cerebral média: hemiplegia contralateral, déficit hemissensorial e hemianopsia homônima, além de afasia, caso o hemisfério dominante esteja envolvido; ARTÉRIA CEREBRAL POSTERIOR Anatomia: Se origina no ápice da artéria basilar e supre o córtex occipital, os lobos temporais mediais, o tálamo e o mesencéfalo rostral; Os êmbolos transportados para cima da artéria basilar tendem a se alojar em seu ápice, onde podem ocluir uma ou ambas as artérias cerebrais posteriores; Subsequentemente, esses êmbolos podem se fragmentar e produzir sinais assimétricos ou irregulares de infarto da artéria cerebral posterior; Síndrome clínica: A oclusão da artéria cerebral posterior produz uma hemianopsia homônima afetando o campo visual contralateral; Nas oclusões próximas da origem da artéria cerebelar posterior junto ao nível do mesencéfalo, as anormalidades oculares podem incluir paralisia do olhar vertical, paralisia do nervooculomotor (III), oftalmoplegia internuclear e desvio de inclinação vertical dos olhos; Quando a oclusão da artéria cerebral posterior afeta o lobo occipital do hemisfério dominante, os pacientes podem apresentar afasia anômica, alexia sem agrafia, ou agnosia visual; O infarto bilateral da artéria cerebral posterior pode resultar em cegueira cortical, comprometimento da memória, ou incapacidade de reconhecer rostos familiares; ARTÉRIA BASILAR Anatomia: A artéria basilar trafega sobre a superfície ventral do tronco cerebral, para terminar ao nível do mesencéfalo, onde se bifurca para dar origem às artérias cerebrais posteriores; Os ramos da artéria basilar suprem os lobos occipitais e temporais mediais, o tálamo medial, a perna posterior da cápsula interna e todo o tronco cerebral e o cerebelo; Síndromes clínicas: Trombose – A oclusão trombótica da artéria basilar é um evento grave, muitas vezes incompatível com a sobrevivência, causando sinais neurológicos bilaterais que indicam o comprometimento de múltiplos ramos arteriais; A trombose basilar costuma afetar a porção proximal da artéria basilar, que supre a ponte; O envolvimento da porção dorsal da ponte produz uma paralisia unilateral ou bilateral do nervo abducente (VI): movimentos oculares horizontais comprometidos, nistagmo vertical e bobbing ocular podem estar presentes; As pupilas estão contraídas, resultado do envolvimento de fibras pupilodilatadoras simpáticas, mas podem permanecer reativas; Hemiplegia ou quadriplegia em geral estão presentes; o coma é comum; Em alguns pacientes com oclusão basilar, a porção ventral da ponte está infartada e o tegumento está poupado; • Tais pacientes permanecem conscientes, mas quadriplégicos; • A este quadro aplica-se o termo síndrome locked-in (encarceramento); Embolia – A redução resultante no fluxo sanguíneo para a formação reticular ascendente do mesencéfalo e do tálamo produz perda imediata ou comprometimento da consciência; Paralisias unilaterais ou bilaterais do nervo oculomotor (III) são características; Hemiplegia ou quadriplegia com postura descerebrada ou decorticada ocorre em decorrência do envolvimento dos pedúnculos cerebrais no mesencéfalo; • A sd do topo da artéria basilar pode ser confundida com lesão mesencefálica; Menos comumente, um êmbolo pode se alojar mais proximalmente na artéria basilar, produzindo uma síndrome indistinguível de trombose basilar; Êmbolos menores podem ocluir rapidamente a artéria basilar rostral antes de serem fragmentados; • Podem ser infartadas porções do mesencéfalo, do tálamo e dos lobos temporais e occipitais; • Quando conscientes, esses pacientes apresentam diversas anormalidades visuais (hemianopsia homônima, cegueira cortical), visuomotoras (comprometimento da convergência, paralisia do olhar para cima, diplopia) e comportamentais (especialmente confusão), sem disfunção motora proeminente; Respostas pupilares lentas são um sinal útil de envolvimento mesencefálico; RAMOS VERTEBROBASILARES CIRCUNFERENCIAIS LONGOS Anatomia: São a artéria cerebelar inferior posterior, a artéria cerebelar inferior anterior e a artéria cerebelar superior; Esses vasos suprem o tronco cerebral dorsolateral, incluindo os núcleos dos nervos cranianos situados dorsolateralmente (V, VII e VIII) e as vias que entram e saem do cerebelo nos pedúnculos cerebelares; Síndromes clínicas: A oclusão de um dos ramos circunferenciais produz infarto na medula dorsolateral ou na ponte; 1. A oclusão da a. cerebelar inferior posterior resulta na síndrome medular lateral (Wallenberg). Essa sd varia em sua apresentação, mas pode incluir ataxia cerebelar ipsilateral, síndrome de Horner e déficit sensorial facial; comprometimento contralateral da sensibilidade térmica e dolorosa; nistagmo, vertigem, náuseas, vômito, disfagia, disartria e soluço. O sistema motor está poupado; 2. A oclusão da a. cerebelar inferior anterior leva ao infarto da porção lateral da ponte caudal, produzindo uma síndrome com algumas características iguais. No entanto, síndrome de Horner, disfagia, disartria e soluços não ocorrem, mas fraqueza facial ipsilateral, paralisia do olhar, surdez e zumbido são achados comuns; 3. A síndrome de infarto pontino rostral lateral decorrente de oclusão da a. cerebelar superior lembra a sd associada com lesões da a. cerebelar inferior anterior, mas pode ocorrer comprometimento do nistagmo optocinético ou desvio inclinado do olhar. O distúrbio sensorial contralateral pode envolver as sensibilidades tátil, vibratória e postural, assim como as sensibilidades térmica e dolorosa; RAMOS VERTEBROBASILARES PARAMEDIANOS PENETRANTES LONGOS Anatomia: As artérias paramedianas penetrantes longas suprem o tronco cerebral medial a partir da superfície ventral do assoalho do quarto ventrículo; (pega a porção medial do pedúnculo cerebral, as vias sensoriais, o núcleo rubro, a formação reticular e os núcleos de nervos cranianos da linha média (III, IV, VI, XII); Síndrome clínica: A oclusão de uma artéria penetrante longa causa infarto paramediano do tronco cerebral, resultando em hemiparesia contralateral, caso o pedúnculo cerebral esteja afetado; No mesencéfalo, a oclusão resulta em paralisia do nervo oculomotor ipsilateral, que pode estar associada com tremor ou ataxia contralateral (envolvimento das vias que conectam o núcleo rubro e o cerebelo); Paralisias ipsilaterais dos nervos abducente e facial são observadas na ponte, e o envolvimento do nervo hipoglosso pode ocorrer na medula; Se a lesão parece irregular ou envolve ambos os lados do tronco cerebral (se manifesta por coma ou quadriparesia); RAMOS VERTEBROBASILARES BASAIS CURTOS Anatomia: Se originam de artérias circunferenciais longas penetram no tronco cerebral ventral para suprir as vias motoras do tronco cerebral; Síndrome clínica: O achado mais evidente é a hemiparesia contralateral, causada pelo envolvimento do trato corticospinal no pedúnculo cerebral ou na base da ponte; Os nervos cranianos também podem estar afetados, dando origem a paralisias de nervos cranianos ipsilaterais; INFARTOS LACUNARES Anatomia: Os infartos lacunares resultantes são mais comuns nos núcleos cerebrais profundos (putame, tálamo, núcleo caudado), na ponte e na perna posterior da cápsula interna; Síndromes clínicas: Muitos infartos lacunares não são reconhecidos clinicamente; O início do acidente vascular lacunar pode ser gradual, desenvolvendo-se durante várias horas ou dias; A cefaleia está ausente e o nível de consciência permanece inalterado; A anticoagulação não está indicada, pois não há evidência de que traga qualquer benefício nesse contexto; Embora uma grande variedade de déficits possa ser produzida, existem quatro síndromes lacunares distintas: 1. Hemiparesia motora pura – hemiparesia afetando a face, o braço e a perna em uma extensão grosseiramente igual, sem que exista um distúrbio associado da sensibilidade, da visão ou da linguagem; 2. AVC puramente sensorial – perda hemissensorial, que pode estar associada com parestesia e resulta de um infarto lacunar no tálamo contralateral; 3. Hemiparesia atáxica – hemiparesia motora combinada com a ataxia do lado hemiparético e em geral afeta predominantemente a perna. Resultado de uma lesão na ponte contralateral, na cápsula interna ou na substância branca subcortical; 4. Síndrome disartria-mão desajeitada – disartria, fraqueza facial, disfagia e fraqueza leve + desajeitamento da mão no lado do envolvimento facial. Quando a sd é por infarto lacunar, a lesão situa-se na ponte contralateral ou na cápsula interna; Achados Clínicos/Diagnóstico HISTÓRIA Fatores predisponentes: Deve-se buscar ospossíveis fatores de risco, como AITs, hipertensão, tabagismo, diabetes e dislipidemias; Em mulheres, o uso de contraceptivos orais tem sido associado com AVC, especialmente na presença de hipertensão e tabagismo; A presença de condições médicas como doença valvar cardíaca ou arritmias cardíacas também deve ser examinada; Início e evolução: Em alguns casos, pela história clínica, é possível avaliar a probabilidade de um AVC ser trombótico ou se existe uma origem embólica; Fatores sugestivos de AVC trombótico – muitas vezes apresentam déficits neurológicos que pioram gradualmente; • Os AITs precedem o infarto em 25 a 50% dos pacientes; • Em cerca de um terço desses pacientes, no entanto, o início do infarto é abrupto; Fatores que sugerem AVC embólico – normalmente causa déficits neurológicos que ocorrem de modo abrupto e que são máximos no início do quadro; A origem cardíaca dos êmbolos pode ser sugerida por infarto cerebral multifocal, doença de valva cardíaca, cardiomegalia, arritmias ou endocardite; Sintomas associados: Convulsões acompanham o início de um AVC em um pequeno número de casos; elas podem seguir o AVC durante semanas a anos; Convulsões no início do AVC podem ser mais comuns com a embolia; Cefaleia ocorre em cerca de 25% dos pacientes com AVC isquêmico, possivelmente em decorrência de dilatação aguda dos vasos colaterais EXAME FÍSICO Exame físico geral: O exame físico geral do paciente deve ter como foco a busca por uma causa sistêmica subjacente, em especial uma causa tratável; 1. A pressão arterial deve ser medida para definir se existe hipertensão; 2. A comparação da pressão arterial e do pulso dos dois lados pode revelar doença aterosclerótica do arco da aorta ou coarctação da aorta; 3. O exame oftalmoscópico da retina pode mostrar evidências de embolização da circulação anterior; 4. O exame do pescoço pode revelar a ausência de pulsos carotídeos ou a presença de sopros carotídeos; 5. O exame cardíaco é essencial para detectar arritmias ou ruídos relacionados à doença valvar; 6. A palpação das artérias temporais é útil para o diagnóstico de arterite de células gigantes; Exame neurológico: Os pacientes podem ou não apresentar achados neurológicos anormais ao exame; • Um exame normal é esperado, por exemplo, após a resolução de um AIT; • Quando são encontrados déficits neurológicos, a meta do exame é definir o local anatômico da lesão, que pode sugerir a causa ou o tratamento ideal do AVC; O estabelecimento de que os sintomas estão associados com a circulação vertebrobasilar ou com um infarto lacunar irá ditar uma abordagem diferente; 1. Devem ser procurados déficits cognitivos que indiquem lesões corticais na circulação anterior. P. ex., se existe uma afasia, o distúrbio subjacente não pode estar na circulação posterior e não é provável que represente um infarto lacunar. Isto também é verdadeiro para lesões no hemisfério não dominante; 2. De modo similar, anormalidades do campo visual excluem infarto lacunar. No entanto, a hemianopsia pode ocorrer com o envolvimento da a. cerebral média ou posterior, que supre as radiações ópticas e o córtex visual primário, respectivamente. Uma hemianopsia isolada sugere infarto de a. cerebral posterior, pois quando decorre de AVC da a. c. média produz déficits adicionais; 3. Paralisias oculares, nistagmo ou oftalmoplegia internuclear atribuem a lesão no tronco cerebral e à circ. posterior; 4. A hemiparesia pode ser decorrente de lesões nas regiões corticais cerebrais supridas pela circulação anterior, vias motoras descendentes no tronco cerebral supridas pelo sistema vertebrobasilar, ou lacunas em locais subcorticais (coroa radiada, cápsula interna) ou em locais do tronco cerebral. No entanto, a hemiparesia facial, na mão ou no braço mais do que a perna é característica de lesões dentro da distribuição da artéria cerebral média. Uma hemiparesia cruzada – ou seja, envolvendo a face de um lado e o resto do corpo do outro lado – significa que a anormalidade deve estar situada entre o nível do núcleo do nervo facial e a ponte e a decussação das pirâmides na medula; 5. Déficits sensoriais corticais como astereognosia ou agrafestesia com preservação das modalidades sensoriais primárias implica um déficit cortical cerebral dentro do território da artéria cerebral média. Déficits hemissensoriais isolados, sem envolvimento motor associado, geralmente têm origem lacunar. Déficits sensoriais cruzados resultam de lesões no tronco cerebral na medula, como aqueles observados na síndrome medular lateral (síndrome de Wallenberg) 6. A hemiataxia geralmente indica lesão no tronco cerebral ipsilateral ou no cerebelo; INVESTIGAÇÕES EXAMES DE SANGUE Devem ser feitos para detectar causas tratáveis de AVC e excluir condições que possam imitar um; • Hemograma completo: pode identificar as causas possíveis (p. ex., trombocitose, policitemia, anemia falciforme, ou leucocitose) ou infecção concomitante que pode complicar a evolução. Leucocitose elevada na admissão pode indicar um mau prognóstico; • Marcadores inflamatórios: VHS aumentada é observada na arterite de células gigantes e em outras vasculites; Proteína C-reativa elevada é um marcador de inflamação sistêmica associado com risco aumentado de AVC; • Sorologia para sífilis: Um ensaio para treponema, como FTA-ABS ou MHA-TP ou VDRL no LCS; • Glicemia: hipo ou hiperglicemia pode se manifestar por sinais neurológicos, mascarando um AVC; • Lipídeos: determinação do colesterol total e HDL ajuda a avaliar os riscos para AVC; ELETROCARDIOGRAMA (ECG) Um ECG deve ser feito de rotina para detectar infarto do miocárdio que não foi reconhecido anteriormente, ou arritmias cardíacas, como a fibrilação atrial, que predispõe ao AVC embólico; PUNÇÃO LOMBAR A punção lombar deve ser realizada em casos selecionados, para excluir HSA ou para documentar uma sífilis meningovascular (VDRL reativo) como a causa do AVC; TC OU RM Uma TC ou RM devem ser feitas para distinguir entre infarto e hemorragia e excluir outras lesões (p. ex., tumor, abscesso), além de localizar a lesão; Uma TC sem contraste costuma ser preferida para o diagnóstico inicial, pois é amplamente disponível e rápida, além de ser capaz de distinguir rapidamente entre isquemia e hemorragia; • Sua sensibilidade nas primeiras seis horas é limitada; A RM pode ser superior à TC para mostrar infartos isquêmicos precoces, mostrando acidentes vasculares isquêmicos no tronco cerebral ou no cerebelo, e detectando oclusões trombóticas dos seios venosos; RM ponderada em difusão (DWI) e RM ponderada em perfusão (PWI) são técnicas de imagem úteis na detecção precoce do AVC; • A DWI mede o movimento browniano de moléculas de água dentro dos tecidos; • Como a oclusão arterial reduz a difusão de água em minutos a horas, a DWI é superior à TC para a detecção de AVC nas primeiras 12 horas após início do quadro; • Anormalidades de DWI também tendem a predizer o volume final do infarto em um AVC da circulação anterior; • A PWI determina a perfusão capilar dos tecidos e permite o cálculo do fluxo sanguíneo cerebral; Alguns estudos sugerem que a DWI delineia um núcleo isquêmico, enquanto a PWI descreve a extensão total da hipoperfusão; De acordo com esta formulação, a diferença entre as anormalidades de DWI e PWI representa o tecido com risco de infarto, mas que pode ser salvo, o que equivale à penumbra isquêmica; 1. Esta discrepância pode indicar até que ponto a trombólise ou outros tratamentos podem ser benéficos; EXAMES VASCULARES DE IMAGEM A angiografia de subtração digital (o meio de contraste é injetado na artéria femoral), seguida por imagens de raios X, é altamente sensível e específica paraa detecção de estenose moderada a grave da artéria carótida interna extracraniana; 2. Essa técnica é invasiva e carrega um risco de complicações neurovasculares, e é substituida por métodos não invasivos; A ultrassonografia com Doppler também pode detectar uma estenose de artéria carótida interna e é um exame não invasivo, mas pode ser incapaz de distinguir entre estenose e oclusão; 3. Entretanto, sua segurança e uma taxa baixa de resultados falso-negativos levaram a sua ampla utilização; A angiorressonância magnética (ARM) contrastada é usada nos dias de hoje como um método não invasivo para substituir a angiografia de subtração digital, a despeito de sua resolução um pouco mais baixa; A angiotomografia é uma abordagem alternativa, embora envolva exposição à radiação; Certas características das placas ateromatosas (grande núcleo lipídico, revestimento fibroso atenuado ou roto, ou hemorragia dentro da placa) indicam um risco aumentado para AVC; 4. Por isso, os métodos de visualização da placa carotídea, como RM de alta resolução ou TC por emissão de pósitron fluorodesoxiglicose, podem ser úteis; A ultrassonografia transcraniana com Doppler é usada na avaliação de suspeita de estenose da a. carótida interna intracraniana, da a. cerebral média ou da a. basilar, e para a detecção do vasoespasmo cerebral após HSA aneurismática; ECOCARDIOGRAFIA A ecocardiografia pode ser útil para demonstrar as lesões cardíacas responsáveis por AVC embólico em pacientes com trombo mural, doença valvar ou mixoma atrial, por exemplo. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Em pacientes que apresentam disfunção do SNC de início súbito, um AVC isquêmico deve ser distinguido de processos estruturais e metabólicos; Deve-se suspeitar de um processo subjacente quando o déficit neurológico resultante não está em conformidade com a distribuição de qualquer artéria cerebral isolada; Além disso, AVCs normalmente não comprometem a consciência na ausência de déficits focais profundos, enquanto outros distúrbios cerebrais podem fazê-lo; Distúrbios vasculares que podem ser confundidos com AVCi: hemorragia intracerebral, hematoma subdural ou epidural e hemorragia subaracnóidea decorrente de aneurisma ou malformação vascular; • Essas condições muitas vezes podem ser distinguidas por uma história de traumatismo ou cefaleia excruciante no início do quadro, uma depressão mais ou menos acentuada da consciência ou presença de rigidez de nuca; Tais condições podem ser excluídas por TC ou RM; Outras lesões estruturais, como tumor ou abscesso, também podem produzir sintomas cerebrais focais de início agudo; • O abscesso é sugerido pela presença de febre concorrente, e tanto o abscesso como o tumor em geral podem ser diagnosticados por TC ou RM; Ataque Isquêmico Transitório Um AIT, é um episódio de isquemia cerebral focal que se resolve rápida e completamente (± 1 hora); Por definição, um paciente com AIT não apresenta déficit neurológico residual no momento do diagnóstico; A meta do tratamento é prevenir AVCs subsequentes, que acontecem em cerca de 5 a 7% dos pacientes dentro de 48 horas e 10 a 15% dos pacientes dentro de três meses após o AIT; Investigações: A internação hospitalar é preferida para que, caso os sintomas retornem, possam ser rapidamente atendidos; Os pacientes devem ser avaliados urgentemente com exames de sangue (hemograma completo, tempo de protrombina e tromboplastina parcial, taxa de hemossedimentação, teste de treponema para a sífilis, glicemia) e ECG para identificar as causas subjacentes de doença cerebrovascular, além de RM com DWI ou TC para documentar AIT ou AVC e excluir outras causas; Pacientes com sintomas/achados de imagem consistentes com isquemia da circulação anterior, e que sejam bons candidatos para a cirurgia, devem ser submetidos à angiografia por RM, angiotomografia ou ultrassonografia com Doppler para detectar lesões operáveis na artéria carótida extracraniana; Uma ecocardiografia deve ser realizada se houver predisposição para distúrbio cardíaco, ou quando os sintomas sugerem êmbolo cardiogênico; Tratamento medicamentoso: 1. A PA em geral não deve ser reduzida agudamente, para não haver risco de redução da perfusão de um tecido cerebral em situação de risco; 2. Anticoagulação com heparina, administrada em infusão intravenosa contínua para obter um tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa) de 1,5 a 2,5 o valor de controle, seguida por varfarina, administrada por via oral para atingir uma relação internacional normalizada (INR) de 2,0 a 3,5, está indicada quando uma fonte embólica cardíaca parece ser a responsável; 3. Tratamento antiplaquetário com ácido acetilsalicílico/dipiridamol, ácido acetilsalicílico isolado ou clopidogrel é recomendado para AITs de origem presumidamente não cardiogênica, caso não sejam encontradas outras lesões vasculares passíveis de cirurgia, ou quando o paciente não é candidato a endarterectomia carotídea ou implante de stent; 4. Estatinas (ex., atorvastatina, 80 mg diários vo) também reduzem o risco de AVC e de outros eventos cardiovasculares em pacientes com AIT; Tratamento cirúrgico: 1. A endarterectomia da carótida (remoção cirúrgica do trombo da a. carótida interna ou comum estenosada na região do pescoço) é indicada para pacientes com AITs da circulação anterior e com estenose carotídea de alto grau (70 a 99%) – e para pacientes selecionados com estenose moderada (50 a 70%) – do lado apropriado responsável por causar os sintomas; 2. O implante de stent na artéria carótida (inserção transluminal percutânea de um stent de níquel ou titânio e um dispositivo de proteção embólica), tem uma eficácia similar com a endarterectomia. O procedimento gera risco aumentado para avc durante o procedimento, portanto a endarterectomia carotídea ainda permanece superior, embora para alguns pacientes a colocação de stent possa ser preferível (p. ex., pacientes mais jovens); 3. A estenose intracraniana da artéria carótida atualmente não é indicação de cirurgia. Para pacientes com estenose sintomática maior do que 70% da artéria carótida interna intracraniana, da artéria cerebral média, da artéria vertebral ou da artéria basilar, um tratamento medicamentoso agressivo (2 fármacos antiplaquetários e correção dos fatores de risco cardiovasculares) é superior à colocação de stent para prevenir o AVC;
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