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Universidade Estadual de Santa Cruz Reitor Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos Vice-reitora Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro Pró-reitora de Graduação Profª. Flávia Azevedo de Mattos Moura Costa Diretora do Departamento de Ciências da Educação Profª. Raimunda Alves Moreira Assis Ministério da Educação Ficha Catalográfica P371 Pedagogia: psicologia e educação ll : aprendizagem e linguagens – EAD; módulo 3, volume 4 / Elaboração de conteúdo: Karina Pereira Pinto. – [Ilhéus, BA]: UAB/ UESC, [ 2011]. 191, [33] p. : il. ISBN: 978-785-7455-227-9 Inclui bibliografias. 1. Psicologia educacional. 2. Psicologia da aprendiza- gem. I. Pinto, Karina Pereira. II. Título: Aprendizagem e linguagens, módulo 3, volume 4. CDD 370.15 PE DA G O G IA EA D - U ES C Coordenação UAB – UESC Profª. Drª. Maridalva de Souza Penteado Coordenação do Curso Pedagogia (EAD) Profª. Drª. Maria Elizabete Sauza Couto Elaboração de Conteúdo Profª. Drª. Karina Pereira Pinto Instrucional Design Profª. Msc. Marileide dos Santos de Olivera Profª. Msc. Cibele Cristina Barbosa Costa Profª. Msc. Cláudia Celeste Lima Costa Menezes Revisão Profª. Msc. Sylvia Maria Campos Teixeira Coordenação de Design Profª. Msc. Julianna Nascimento Torezani Diagramação Jamile A. de Mattos Chagouri Ocké João Luiz Cardeal Craveiro Capa Sheylla Tomás Silva PARA ORIENTAR SEUS ESTUDOS: Ao longo do texto você encontrará alguns boxes com orientações de estudo. A seguir descrevo o que cada uma significa e como você deve proceder diante das orientações. PARA REFLETIR: São pequenas provocações feitas ao longo do tex- to para que você interrompa por alguns minutos a leitura e pense sobre o que está sendo estudado. ATENÇÃO: Nos boxes em que há pedido de atenção são apresen- tadas questões ou conceitos importantes para a elaboração de sua aprendizagem e continuidade dos estudos. SAIBA MAIS: Aqui você terá acesso a informações que complemen- tam seus estudos a respeito do tema abordado. São apresentados trechos de textos ou indicações que contribuem para o aprofunda- mento de seus estudos. FILME RECOMENDADO: São indicações de filmes (curtas-metra- gens e/ou longas-metragens) que contribuem para a complementa- ção dos estudos realizados. LEITURA RECOMENDADA: Indicação de obras bibliográficas vincu- ladas ao conteúdo abordado. ATIVIDADES: Esta é a única orientação de estudo que será avaliada e receberá nota. As atividades devem ser realizadas de acordo com as orientações específicas. PRINCIPAIS CONCEITOS ESTUDADOS: Ao longo das unidades, ao apresentar as diversas teorias, serão destacados em caixa-alta os principais conceitos abordados. Ao final de cada teoria estudada, os conceitos são retomados para que você possa verificar sua aprendi- zagem. VOCÊ SABIA?: Apresentamos curiosidades relacionadas aos temas que estão sendo abordados. VERBETE: Significado ou referência de uma palavra utilizada no texto que seja importante para sua compreensão. PARA ORIENTAR SEUS ESTUDOS Sumário UNIDADE I Psicologia e educação: pensando aprendizagem e desenvolvimento 1 PRIMEIRAS PALAVRAS .............................................................................................................. 19 2 RETOMANDO ALGUMAS QUESTÕES ............................................................................................. 20 3 COMPREENSÃO CRÍTICA DOS SISTEMAS TEÓRICOS SOBRE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM .... 23 4 A ESCOLHA DA ABORDAGEM EM PSICOLOGIA E A PRÁTICA PEDAGÓGICA ....................................... 28 4.1 Como escolher uma abordagem? ..................................................................................... 31 ATIVIDADES ........................................................................................................................... 35 RESUMINDO ........................................................................................................................... 35 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 36 UNIDADE II Abordagens tradicionais da Psicologia da Educação 1 PRIMEIRAS PALAVRAS .............................................................................................................. 41 2 TEORIAS COMPORTAMENTAIS .................................................................................................... 42 2.1 Pressupostos teóricos ..................................................................................................... 42 2.1.1 O Condicionamento Clássico de Ivan Pavlov .................................................................... 43 2.1.2 O Behaviorismo Radical de Frederic Skinner ................................................................... 45 3 TEORIA PSICANALÍTICA DE FREUD ............................................................................................. 52 3.1 Pressupostos teóricos ..................................................................................................... 53 3.1.1 Transferência como condição de aprendizagem ............................................................... 56 3.1.2 O professor e o Ideal do Eu ......................................................................................... 61 ATIVIDADES ........................................................................................................................... 65 RESUMINDO ........................................................................................................................... 65 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 66 UNIDADE III Abordagens Interacionistas em Psicologia e Educação 1 PRIMEIRAS PALAVRAS .............................................................................................................. 73 2 PSICOLOGIA GENÉTICA DE JEAN PIAGET..................................................................................... 74 2.1 Pressupostos teóricos ..................................................................................................... 75 2.2 Tema para reflexão: A importância da interação social para o desenvolvimento do conhecimento lógico-matemático .................................................................................. 84 3 PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA DE VYGOTSKY ............................................................................ 88 3.1 Pressupostos teóricos ..................................................................................................... 89 3.2 Tema para reflexão: Autoconceito e preconceito no cotidiano escolar .................................... 98 4 PIAGET E VYGOTSKY: DIFERENÇAS ........................................................................................... 104 ATIVIDADES ......................................................................................................................... 107 RESUMINDO ......................................................................................................................... 107 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 108 UNIDADE IV Abordagens sócio-históricas transdisciplinares em Psicologia e Educação 1 PRIMEIRAS PALAVRAS ............................................................................................................ 113 2 GENEALOGIA DE MICHEL FOUCAULT ........................................................................................116 2.1 Pressupostos teóricos ................................................................................................... 120 2.2 Tema para reflexão: Medicalização da vida escolar ........................................................... 141 3 ANÁLISE INSTITUCIONAL ........................................................................................................ 150 3.1 Pressupostos teóricos ................................................................................................... 154 3.2 Tema para reflexão: Educação, mídia e produção de subjetividade .................................... 172 ATIVIDADES ......................................................................................................................... 181 RESUMINDO ......................................................................................................................... 182 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 183 Considerações Finais Anexos ANEXO 1 – Manifesto de Lançamento do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade ANEXO 2 – Infância, televisão e publicidade Sobre a autora Profª. Drª. Karina Pereira Pinto Doutora em Educação pela PUC/SP, mestre em Psicologia Social pela UERJ, graduada em Psicolo- gia pela UERJ. Professora da área de Psicologia do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da UESC. É professora e pesquisadora na área de For- mação de Professores e atua nos seguintes temas: Psicologia e Educação, Psicologia Social, Processos de Exclusão Social, Saúde Mental, História da Psico- logia. Coordena, juntamente com Hildeberto Vieira Martins (UFF), o Grupo de Pesquisa Interinstitucio- nal “Saberes Psicológicos e Produção de Subjetivida- des: História, Educação, Diversidade Sociocultural e suas interfaces”, cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq. Ementa DISCIPLINA PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO II Profª. Drª. Karina Pereira Pinto Contribuições das principais teorias psicológicas para a compreensão do processo ensino-aprendi- zagem: comportamentalismo e interacionismo. A construção do conhecimento, as teorias da apren- dizagem e a prática pedagógica. Fatores sócio-am- bientais e interpessoais da aprendizagem escolar. O sujeito como aprendente no contexto da socie- dade tecnológica. Agradecimento Agradeço a Elisa Teixeira pela leitura dos originais e colaboração com suas generosas sugestões durante a produção de todo material de Psicologia e Educação I e II para o curso de Pedagogia EAD - UAB/UESC. Agradeço a Kayobi de Azevedo Vargas que me incen- tivou e apoiou a cada instante de meu processo de elaboração e escrita. Agradeço a minha mãe, Marlene Dias Pereira Pinto, que me afetou com seu amor pela educação e pela profissão docente. Agradeço a Maria Elizabete Souza Couto, pela feliz oportunidade de produzir os livros de Psicologia e Educação I e II para o curso de Pedagogia EAD - UAB/ UESC, pois através deles pude sistematizar e aper- feiçoar meus conhecimentos e, concomitantemente, minha prática pedagógica. Hoje eu acordei com medo Mas não chorei, nem reclamei abrigo Do escuro eu via o infinito Sem presente, passado ou futuro Senti um abraço forte, já não era medo Era uma coisa sua que ficou em mim, e que não tem fim (Cazuza & Frejat – Poema) Ao final da unidade o(a) aluno(a) deverá: • ter clareza sobre as diferentes abordagens que com- põem a Psicologia como ciência; • conhecer, de maneira geral, os assuntos que serão de- senvolvidos na disciplina Psicologia e Educação II; • desenvolver a capacidade de escolha em relação às abordagens da Psicologia. Objetivos PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO: PENSANDO APRENDIZAGEM E DE- SENVOLVIMENTO 1Unidade UNIDADE 1 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO: PENSANDO APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO 1 PRIMEIRAS PALAVRAS De um modo geral, podemos dizer que a Psicologia é uma ci- ência que contribui para os estudos da subjetividade. Subjetividade são os modos de ser, agir, pensar e sentir, construídos por cada um de nós a partir das relações sociais. Somos todos diferentes e, ao mesmo tempo, temos várias coisas em comum. Dentre os elementos que nos igualam, podemos dizer que vi- venciamos questões em comum no âmbito social (a realidade social que nos cerca), cultural (atribuímos significados parecidos às coisas que fazem parte de nossas vidas, como, por exemplo, o modo como entendemos o que é ser mãe) e histórico (vivemos um tempo his- tórico - os séculos XX e XXI - marcado pelo avanço tecnológico, por guerras, pela luta pelos direitos humanos, por grandes movimentos sociais, pela globalização etc.). Já os elementos que nos diferenciam são constituídos a partir da relação que nós estabelecemos com múltiplas questões sociais, culturais e históricas. A partir desta relação, nos tornamos capazes, ou não, de fazer escolhas, de decidir que caminho queremos seguir. Para além de nossas possibilidades de escolhas, algumas coisas vão nos afetar positiva ou negativamente e outras nos serão indiferen- tes. Por que algumas pessoas sentem medo de roda-gigante e outras adoram? Por que algumas pessoas têm mais afinidade pelas ciências exatas, e outras pelas ciências humanas? Por que algumas pessoas aprendem rapidamente alguns assuntos, e outras precisam de mais tempo? Explicar a construção da subjetividade a partir da relação entre os processos individuais e coletivos é uma forma bem ampla e genérica de falar de um conceito que é bastante complexo. Para compreender, de uma forma mais aprofundada, como nossas subje- tividades se constituem, é preciso recorrer às teorias da Psicologia. Há muitas teorias da Psicologia, e, para cada uma, a subjetividade é Figura 1 UAB|UESC 19PedagogiaUESC U ni da de 1 explicada de uma forma específica. Nesta unidade veremos algumas abordagens tradicionais da Psicologia da Educação, e outras abordagens que contribuem para a compreensão de questões que permeiam a Psicologia e a Educação. Nas próximas unidades, teremos contato com as teorias da Psicologia e suas diversas formas de compreender a construção da subjetivida- de. 2 RETOMANDO ALGUMAS QUESTÕES Vamos relembrar algumas questões que estudamos na disci- plina Psicologia e Educação I? Com base na abordagem sócio-histórica, vimos que o desen- volvimento humano não se dá de maneira linear e previsível, de- marcado apenas pela idade cronológica. Vimos que, quando levamos em consideração apenas a idade cronológica, acabamos rotulando as pessoas em etapas de vida determinadas socialmente, e que nem sempre o modo de vida mais saudável para cada um condiz com as normas pré-estabelecidas. Uma questão central nas discussões reali- zadas em Psicologia e Educação I foi que a prática de rotular pessoas pode ser muito prejudicial para seus processos de desenvolvimento e aprendizagem. Estudamos que a Psicologia não é uma ciência estática, para- da no tempo. A Psicologia é uma ciência em permanente transforma- ção, e a formulação das teorias que a compõem está marcada pelo contexto político-social em que tais teorias são formuladas. Desta forma, dizemos que a Psicologia não é uma ciência neutra, pois suas formulações teóricas são marcadas por determinados contextos his- tóricos, culturais, políticos, sociais e econômicos. No Brasil, a Psicologia sofreu grandes transformações nas úl- timas décadas, e podemos dizer que a história da Psicologia no Brasil foi marcada por três grandes momentos: Higienismo: o Higienismo é um movimento que se inicia, no Brasil, no século XIX, com o objetivo de promover uma limpeza social através da pre- venção de doenças físicas e mentais. Seu desen- volvimento tomará rumos questionáveis, pois o higienismo trará uma forte marca das ideias eu- genistas, que tinham como meta a melhoria e a regeneração racial. A Eugenia foi uma das bases do Nazismo.O higienismo pode ser compreen- dido, portanto, como um movimento que trata da prevenção de doenças físicas e mentais e da limpeza étnico-racial de cunho eugenista. • O primeiro momento abrange o início do sé- culo XIX até 1961: período anterior à regu- lamentação da profissão. A Psicologia desen- volveu-se a partir de três grandes áreas do conhecimento, a Filosofia, a Medicina e a Edu- cação, caracterizando-se por discursos higie- nistas e moralizantes. 20 Módulo 3 I Volume 4 EAD Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimentoPsicologia e Educação II • No segundo momento, de 1962 a 1985, temos a regulamentação da Psicologia como profissão (1962). Os primeiros anos de desen- volvimento da Psicologia como profissão no Brasil foram marca- dos pelo regime da ditadura militar (1964-1985). Este fato trouxe consequências para a Psicologia como ciência e profissão, pro- duzindo no imaginário social a representação da Psicologia como ciência que “soluciona problemas” e adéqua pessoas às normas sociais (PINTO, 2010a). • O terceiro momento, de 1985 até hoje em dia, é caracterizado por grandes movimentos sociais de abertura política, dos quais a ca- tegoria dos psicólogos participou ativamente no sentido de ressig- nificar a Psicologia como ciência e profissão no Brasil. Ao invés da Psicologia permanecer no papel de solucionar problemas de adap- tação, ela volta-se para a promoção da qualidade de vida. Esta transformação nas concepções da Psicologia afeta diretamente as noções sobre desenvolvimento humano e aprendizagem. É importante lembrar que, de acordo com o contexto polí- tico-cultural, algumas teorias da Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem terão predominância em relação a outras. E, dentre as várias teorias, temos diferentes objetos de estudo, com diferentes concepções de homem, e, consequentemente, diferentes formas de conceber a subjetividade. Dependendo do modo como entendemos o que é subjetividade, temos uma concepção específica sobre como se processa o desenvolvimento e a aprendizagem dos sujeitos. SAIBA MAIS Quer saber mais sobre Higienismo e Eugenia? Leia o texto “Higienis- mo e Eugenia: discursos que não envelhecem”, de Maria Lúcia Boarini e Oswaldo H. Yamamoto. Disponível em: http:// www.cocsite.coc.fiocruz. br/psi/pdf/higienismo_ eugenia.pdf Figura 2 – Fonte: http://blogdocappacete.blogspot.com/2009_11_01_archive.html 21PedagogiaUESC U ni da de 1 Atualmente, o desenvolvimento humano é compreendido como um processo de transformação que acontece ao longo de toda a vida dos sujeitos, sempre marcado pelo contexto histórico e cultural, pela relação com o outro, e determinado por múltiplos fatores. Desta forma, quando falamos em criança, adolescente, idade adulta e velhice, não estamos falando em fases naturais do ser hu- mano, e, sim, em períodos da vida que foram delimitados a partir de contextos históricos e culturais específicos. No módulo de Psicologia e Educação I (PINTO, 2010b, p. 79), temos um bom exemplo das determinações sociais sobre o desenvol- vimento: As próprias transformações do corpo vêm a constituir a adolescência como um fenômeno social, lembrando que até mesmo as marcas corporais são significadas socialmente. Vejamos um exemplo: ‘Os seios na menina e os músculos no menino. Sabemos que os seios e o desenvolvimento da massa muscular acontecem na mesma fase da adolescência, mas a menina que tem seus seios se desenvolvendo não os vê, sente e significa como possibilidade de amamentar seus filhos no futuro, o que seria vê-los como naturais. Com certeza, em algum tempo ou cultura isso já foi assim. Hoje, os seios tornam as meninas sedutoras e sensuais. Esse é o significado atribuído em nosso tempo. A força muscular dos meninos já foi significada como possibilidade de trabalhar, guerrear e caçar. Hoje é beleza, sensualidade e masculinidade’ (AGUIAR; BOCK; OZELLA apud PINTO, 2010b, p. 79). Por isso, atualmente, as teorias dos Ciclos de Vida ou do Life Span (estudadas em Psicologia e Educação I) estão sendo muito di- fundidas: há uma valorização e um respeito pelos diferentes modos de atribuir significado à vida, sem que haja julgamentos de valor a partir das normas determinadas hegemonicamente. Dependendo do contexto histórico, cultural e social em que a pessoa está inserida, ela terá diferentes formas de vivenciar os diversos momentos e idades de sua vida. Neste sentido, inserimos aqui, também, a necessidade de compreensão sobre as diversas for- mas como as famílias se organizam, reforçando o que a pesquisadora Szymanski (2009, p. 108) afirma: “falar em família desestruturada é bobagem. O que há são diferentes estruturas de família”. A visão preconceituosa de “família desestruturada” está sendo recusada pela Psicologia, pois esta reconhece o polimorfismo familiar, ou seja, a Psi- cologia reconhece que existem muitas formas de organização fami- liar, e que nenhuma é melhor ou mais saudável do que a outra. Vimos 22 Módulo 3 I Volume 4 EAD Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimentoPsicologia e Educação II que a qualidade das relações familiares é um dentre muitos fatores que contribuem para o desenvolvimento dos sujeitos. 3 COMPREENSÃO CRÍTICA DOS SISTEMAS TEÓRICOS SOBRE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM As definições de desenvolvimento e aprendizagem dependem, sempre, da corrente teórica à qual estão referidas. Tradicionalmen- te a Psicologia da Educação subdivide as correntes teóricas em três grandes abordagens: o Inatismo, o Ambientalismo e o Interacionis- mo. Vejamos suas principais características em relação ao desenvol- vimento humano e à aprendizagem no Quadro 1. QUADRO 1 – Inatismo, Ambientalismo, Interacionismo Abordagem Características Inatismo • Pressupõe que todo indivíduo já nasce com todas as qualidades e capacidades básicas que são responsáveis pelas características de cada pessoa; • considera que os sujeitos, após o nascimento, sofrem poucas transformações ao longo de sua existência; • acredita-se que há um “curso natural” no desenvolvimento humano determinado a priori; • postula que existe uma essência imutável no ser humano, o “verdadeiro-eu”. • O Inatismo na prática pedagógica: o aluno vai se desenvolver sozinho, pois seguirá seu curso natural. Ao professor cabe apenas observar, pois sua capacidade de interferir no desenvolvimento espontâneo do aluno é mínima. • Ditado popular: “Pau que nasce torto nunca se endireita”. Ambientalismo • Postula que “o homem é uma tábula rasa ao nascer”, baseando-se na máxima do empirismo inglês; • acredita que o meio é capaz de moldar o homem segundo seus imperativos, colocando o homem no lugar de passividade e submissão: ele não faz escolhas, apenas é moldado; • considera que o homem é um ser extremamente plástico, que desenvolve suas características em função das condições presentes no meio em que se encontra; • concebe que o papel do ambiente é muito mais importante do que a maturação biológica. • O Ambientalismo na prática pedagógica: o professor deve conduzir a aprendizagem do aluno através de condicionamentos e reforços, enquanto o aluno apenas responde aos estímulos oferecidos. Se os estímulos forem adequados, o aluno tem um bom aprendizado; se forem inadequados, o aluno terá prejuízo na aprendizagem. Todo processo educacional depende da ação do professor. • Ditado popular: “A ocasião faz o ladrão”. 23PedagogiaUESC U ni da de 1 Interacionismo • Concebe o conhecimento como um processo de construção que emerge em meio a relações, e estas relações não são lineares, ou seja: como em toda relação, existem contradições, movimentos e sinuosidades, tornando cada construção do conhecimento única; • pressupõe que o desenvolvimento humano só adquire sentido se pensado em relação dialética com a realidade na qual ele processa; • postula que as determinações biológicasnão devem ser negligenciadas, mas devem ser pensadas em sua relação dialética com o contexto no qual irão se atualizar; • afirma que é preciso pensar o ser humano em sua totalidade, e não dividido em partes. • O Interacionismo na prática pedagógica: o desenvolvimento e a aprendizagem se realizam a partir da relação professor-aluno, levando-se, sempre, em consideração o contexto social, histórico e cultural em que os sujeitos (professor e aluno) estão inseridos. • Ditado popular: “Enquanto há vida, há esperança”. Fontes: CATHARINO (2001), DAVIS; OLIVEIRA (1994). Esta divisão clássica da Psicologia da Educação é bastante interessante, pois traz um panorama geral sobre diferentes formas de conceber o ser humano e suas impli- cações para a prática pedagógica. No entanto, encontramos alguns problemas nesta divisão: • Por ser muito ampla, a divisão em três abordagens agrupa teorias que são muito distintas entre si, consi- derando apenas alguns poucos aspectos que as unem. É o exemplo da Teoria genética de Piaget e da Psicolo- gia sócio-histórica de Vygotsky. Estas duas teorias se aproximam pelo fato de considerarem o sujeito como um ser ativo no processo de aprendizagem, conceben- do seu desenvolvimento a partir da interação com o mundo que o cerca. Mas as teorias apresentam muito mais diferenças do que semelhanças no modo como concebem os processos de desenvolvimento e apren- dizagem (veremos aspectos específicos de suas con- cepções na unidade III). Agrupá-las em uma mesma abordagem, portanto, torna-se um problema. • Outro aspecto complicado da divisão em três aborda- Empirismo inglês: Thomas Ho- bbes é um empirista inglês. Para ele, a origem de todo conhecimen- to é a sensação, princípio origi- nal do conhecimento dos próprios princípios: a imaginação é um agrupamento inédito de fragmen- tos de sensação e a memória nada mais é do que o reflexo de antigas sensações. A filosofia de Hobbes é materialista e mecanicista. Fonte: http://www.monografias.brasiles- cola.com/filosofia/spinoza-hobbes. htm Dialética: “Um dos mais interes- santes debates sobre a dialética ocorreu entre os filósofos Hegel e Marx. Na visão do primeiro, a for- ma de relacionar com o mundo era construída a partir de uma razão que determinava os meios de se enxergar e pensar a realidade. Em contrapartida, Marx assumia uma postura diferente ao dizer que na relação com o mundo também encontramos formas de se alterar nossas formas de pensar”. Fonte: http://www.brasilescola.com/filo- sofia/dialetica.htm 24 Módulo 3 I Volume 4 EAD Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimentoPsicologia e Educação II gens é o fato de que esta divisão não contempla várias teorias da Psicologia que trazem contribuições importantes para a Edu- cação, como, por exemplo, a Psicanálise. A Psicanálise, mais do que uma linha teórica, pode ser considerada uma abordagem da Psicologia, pois, a partir da Teoria psicanalítica de Freud, vários teóricos propuseram teorias de base psicanalítica, como Jacques Lacan, Carl Gustav Jung, Melanie Klein, Donald Winnicott, dentre outros. Conforme a concepção de homem presente nas diversas linhas teóricas da Psicanálise, teremos proposições sobre desen- volvimento e aprendizagem diferentes. Desta forma, a partir das três grandes abordagens menciona- das – Inatismo, Ambientalismo e Interacionismo –, poderíamos fazer várias outras subdivisões, mais específicas, das diversas teorias da Psicologia que contribuem para as questões educacionais. A seguir, reproduzo dois quadros do módulo de Psicologia e Educação I para relembrarmos as principais abordagens e teorias da Psicologia nos séculos XX e XXI, e as principais perspectivas da Psi- cologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Preste atenção na variedade de abordagens e perspectivas teóricas nos Quadros 2 e 3. QUADRO 2 – Principais abordagens e teorias da Psicologia nos séculos XX e XXI: Teoria/ abordagem Proposição Teóricos e Tendências atuais Behaviorismo Também conhecida como Teoria Comportamental, “nasce com Watson e tem um desenvolvimento grande nos EUA, em função de suas aplicações práticas, tornou-se importante por ter definido o fato psicológico, de modo concreto, a partir da noção de comportamento” . Behaviorismo Radical (Skinner) Behaviorismo cognitivista (Bandura) Gestalt “Tem seu berço na Europa, surge como uma negação da fragmentação das ações e processos humanos, realizada pelas tendências da Psicologia científica do séc. XIX, postulando a necessidade de se compreender o homem como uma totalidade. A Gestalt é a tendência teórica mais ligada à filosofia”. Considera que o primeiro dado imediato é a forma, revelada pela percepção. Wertheimer, Koffka e Köhler Gestalt Terapia (Pearls) Derivações: Psicologia Existencialista-Humanista (Sartre) Teoria do Campo (Kurt Lewin) Psicologia humanista (Carl Rogers) Psicanálise “Nasce com Freud, a partir da prática médica, recupera para a Psicologia a importância da afetividade e postula o inconsciente como objeto de estudo, quebrando a tradição da Psicologia como ciência da consciência e da razão”. Psicanálise (Sigmund Freud) Psicologia Analítica (Jung) Psicologia Reichiana (Reich) Psicanálise Lacaniana (Lacan) Psicanálise Kleiniana (Melanie Klein) Dentre outras 25PedagogiaUESC U ni da de 1 Psicologia sócio-histórica Nasce da crítica à naturalização do fenômeno psicológico. Nesta abordagem, o fenômeno psicológico é constituído na realidade social, cultural e histórica em que está imerso. Vygotsky (sociointeracionismo) Michel Foucault Análise Institucional Fontes: BOCK; FURTADO; TEIXEIRA (2007); CATHARINO (2001). QUADRO 3 – Principais perspectivas da Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem Perspectiva Teorias Proposição Conceitos Centrais Psicanalítica Teoria psicanalítica de Freud O comportamento é controlado por pulsões - Inconsciente - Complexo de Édipo Comportamental Behaviorismo (Pavlov, Skinner) O meio controla o comportamento - Condicionamento clássico e operante Teoria da Aprendizagem Social de Bandura As crianças aprendem no contexto social observando e imitando mode- los - Aprendizagem por modela- gem - Aprendizagem por observa- ção Cognitiva Psicologia Genética de Piaget Mudanças qualitativas no pensamen- to entre a primeira infância e a ado- lescência - Equilibração - Esquemas de ação - Interação - Autonomia Teoria da Aprendizagem Verbal Significativa de Ausubel Aprendizagem como um processo de modificação do conhecimento a partir da relação que os conceitos estabele- cem entre si - Aprendizagem significativa - Conceito inclusor - Inclusão obliteradora - Assimilação cognitiva - Hierarquias conceituais Teoria do Processamento de Informações Os seres humanos são processadores de símbolos - Esquemas de conhecimento Sociointeracionista Teoria Sociocultural de Vygotsky O contexto sociocultural de uma criança tem impacto importante no seu desenvolvimento - Mediação - Internalização - Zona de Desenvolvimento Proximal Teoria Psicogenética de Wallon Compreensão do processo de consti- tuição da pessoa conforme os mode- los que a cultura do seu tempo dis- ponibiliza - Processo de integração or- ganismo-meio - Processo de integração dos conjuntos funcionais - Integração afetiva-cogniti- va-motora Teoria da Ação Compreensão político-ética da infân- cia. A ação humana se reveste de caráter de intervenção contínua nos acontecimentos do mundo - Dimensão coletiva do agir humano - O sentido do agir se cons- trói como acontecimento - O agir humano não se sepa- ra do pensar e do ser Life Span (Curso de Vida) Possui uma conotação de extensão da vida sem utilizar critérios de estágios para fins de delimitação ou periodi- zação - Deve-se estar atento aos eventos do contexto - Estratégias longitudinais - Cortes transversais Fontes: PAPALIA; OLDS (2000); COLL-SALVADORet al (2000); CASTRO (2001); MAHONEY; ALMEIDA (2005); NERI (2001). 26 Módulo 3 I Volume 4 EAD Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimentoPsicologia e Educação II Todas estas abordagens e perspectivas teóricas da Psicologia podem trazer contribuições para a Educação, mas, neste material de Psicologia e Educação II, veremos apenas algumas teorias que tra- zem contribuições mais específicas para compreendermos os proces- sos de desenvolvimento e aprendizagem escolares e não escolares. Ao longo do estudo das teorias, vocês verão que cada uma compreende os sujeitos e seus processos de uma forma. É impor- tante ressaltar que nenhuma teoria é mais importante que a outra. As teorias selecionadas para este material de estudo não são as úni- cas que existem, e também não podem ser consideradas as mais importantes. Elas foram selecionadas, pois apresentam, atualmente, muitas pesquisas e estudos no âmbito da Psicologia e Educação, tra- zendo muitas contribuições para as práticas pedagógicas escolares e não escolares. Outro critério que utilizei para a seleção das teorias é a grande diversidade de visões de mundo e de concepções de homem de cada perspectiva. Acredito que é muito importante para o estu- dante de Pedagogia o contato com uma ampla diversidade de teorias, não para que ele utilize um pouquinho de cada uma, mas para que saiba ESCOLHER qual perspectiva teórica utilizará como embasamen- to de sua prática pedagógica. Discutiremos esta questão com mais detalhe no tópico 4. No Quadro 4, apresento um breve resumo das teorias e abor- dagens que serão estudadas nas unidades II, III e IV deste material de estudo de Psicologia e Educação II. Preste atenção às proposições de cada teoria. Algumas se aproximam e, até, dialogam, enquanto outras se distanciam muito. Quadro 4 – Perspectivas teóricas que serão trabalhadas na disciplina Psicologia e Educação II Abordagem / Teorias Proposição Conceitos Centrais Teorias Comportamentais (Pavlov, Skinner) As abordagens comportamentais em Psicologia são comumente conhecidas pelo nome Behavio- rismo. Behavior, em inglês, significa “comporta- mento”. Desta forma, para designar as teorias que têm como objeto de estudo o comportamen- to, as denominamos genericamente de Behavio- ristas ou Comportamentalistas, ou ainda, Teorias Comportamentais. - Estímulo-resposta e ambiente - Reflexo Condicionado - Condicionamento operante - Reforço - Discriminação e Generalização Teoria Psicanalítica de Freud Freud elabora a teoria psicanalítica a partir da escuta de seus pacientes. A Psicanálise propõe que processos inconscientes ocorrem simultane- amente ao desenvolvimento biológico e social e que o estudo deles é fundamental para compre- endermos o comportamento, as subjetividades e os sintomas humanos. - Consciente, Pré-consciente e Inconsciente - Sonhos, Atos Falhos e Sintomas - Eu, Isso e Supereu - Sexualidade - Transferência - Ideal do Eu 27PedagogiaUESC U ni da de 1 Psicologia Genética de Piaget A Psicologia Genética de Piaget é uma concep- ção Interacionista e Construtivista. Interacionis- ta, pois considera que o organismo e o meio se influenciam mutuamente e que esta interação provoca mudanças no indivíduo. Construtivista, pois, a partir desta interação com o meio, o co- nhecimento vai sendo adquirido como um pro- cesso construído pelo indivíduo durante toda sua vida. - Interação - Ação - Esquemas de ação - Assimilação e Acomodação - Equilibração Majorante - Erro construtivo Teoria Sociocultural de Vygotsky Lev Semenovich Vygotsky elaborou uma teoria da Psicologia voltada para reflexões acerca do desenvolvimento humano, a partir de uma abor- dagem qualitativa e interdisciplinar. Recebe a denominação de Sociointeracionismo, pois, além de considerar o indivíduo ativo em seus processos de desenvolvimento e aprendiza- gem, este se constitui necessariamente em um ambiente histórico e social. - Funções psicológicas superiores - Mediação - Instrumentos e signos - Internalização - Zona de Desenvolvimento Proximal Genealogia de Michel Foucault Seus estudos trazem grandes contribuições para a Psicologia e Educação, pois, com sua teoria provocadora, desestabiliza algumas questões que não conseguimos perceber em nosso coti- diano educacional, de tão comuns que elas se apresentam. Uma das contribuições inestimáveis de Foucault para o campo educacional é a desna- turalização das práticas escolares. - Desnaturalização - Relações de forças - Produção de subjetividades - Poder e Resistência - Prática - Regimes de verdade - Disciplina ou Poder disciplinar Análise Institucional (Lourau, Deleuze e Guattari) As diferentes escolas que compõem a aborda- gem da Análise Institucional se reúnem em tor- no da proposta de propiciar, apoiar e deflagrar nas comunidades, nos coletivos e conjuntos de pessoas, processos de auto-análise e de auto- gestão. Com a Análise Institucional, de repente, não estamos mais em uma instituição, não trata- mos mais a instituição, mas somos, por exemplo, atravessados pela instituição. - Autogestão e Autoanálise - Demanda - Instituição, Instituído e Instituinte - Atravessamento e Transversalidade - Produção de Subjetividades - Desejo - Subjetividades assujeitadas e Subjetividades singularizadas 4 A ESCOLHA DA ABORDAGEM EM PSICOLOGIA E A PRÁTICA PEDAGÓGICA A partir do estudo do Quadro 4, passamos a ter conhecimen- to de várias perspectivas teóricas da Psicologia diferentes entre si. Como cada teoria traz uma visão de mundo, com certa concepção de homem, não é correto utilizarmos um pedaço de cada teoria em nossas práticas pedagógicas. Algumas concepções de homem são in- compatíveis; outras são bastante próximas. Precisamos estar atentos ao modo como cada teoria compre- ende o ser humano, pois, como vimos em Psicologia e Educação I, as subjetividades se constituem, em grande parte, a partir das expecta- 28 Módulo 3 I Volume 4 EAD Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimentoPsicologia e Educação II tivas que depositam em nós. Vamos relembrar uma questão que estudamos em Psicologia e Educação I: Como se produz o “senso de normalidade” Nos seres humanos, da infância à velhice, atravessamos os processos que chamamos comumente de “crescimento, ganho ou progresso” e “perdas e degenerações”. Anita Liberalesso Neri (2001) afirma que “a sociedade constrói cursos de vida na medida em que prescreve expectativas e nor- mas de compor tamento apropriado para as diferentes faixas etárias” (p. 19). Ao redor de tais expectativas e normas, o ser humano acaba por de- sempenhar papéis sociais “que uma dada sociedade convencionou serem típicos daquela fase da vida” (NERI, 2001, p. 20). A mesma autora ressalta que a estruturação da vida das pessoas em ida- des produz um “senso de normalidade” entre os sujeitos que, de certa forma, buscam “estar em dia” com sua própria idade. Por isso observamos comportamentos semelhantes entre pessoas de uma mesma faixa etária de um dado local. Este processo, no entanto, não tem nada de natural. Tra- ta-se de um processo social. Mas, sem perceber, os indivíduos internalizam as expectativas sociais e “passam a pensar que é natural corresponder à expectativa social em relação ao comportamento apropriado para cada idade” (NERI, 2001b, p. 20). ATENÇÃO Figura 3 – Banco de Img UAB|UESC As pesquisadoras Rita Marisa Ribes Pereira e Solange Jobim e Souza (2001) também abordam esta questão, destacando o quanto as teorias da Psicologia também agem no sentido de construir um “senso de normalidade” entre os sujeitos, que buscam estar enqua- drados nas expectativas que depositam neles. Segundo Pereira e Souza (2001), “cada momento histórico constrói simultaneamente suas questões e os modos pelos quais bus- ca resolvê-los” (p. 27). Podemos entender esta afirmativa da seguinte 29PedagogiaUESC U ni da de 1 forma: atualmente temos algumaspreocupações sobre a infância que não existiam há 50 anos, como, por exemplo, a de que as crianças hoje são mais agitadas. A partir desta preocupação, vários pesquisa- dores buscam explicações sobre o motivo das crianças hoje demons- trarem esta agitação, e produzem, com isso, explicações teóricas e conceitos (como a hiperatividade) que são difundidos nas escolas, na mídia etc. Vejamos, novamente com Pereira e Souza (2001), os efei- tos disso: Cada época irá proferir o discurso que revela seus ideais e expectativas em relação às crianças, tendo esses discursos conseqüências constitutivas sobre o sujeito em formação. Melhor dizendo, a produção e o consumo de conceitos sobre a infância pelo conjunto da sociedade interferem diretamente no comportamento de crianças, adolescentes e adultos, e modelam formas de ser e agir de acordo com as expectativas criadas nos discursos que passam a circular entre as pessoas, expectativas essas que, por sua vez, correspondem aos interesses culturais, políticos e econômicos do contexto social mais amplo (PEREIRA; SOUZA, 2001, p. 28). A partir da divulgação de certos conceitos em ambientes não científicos, este conceito acaba por se transformar em senso comum e produz sujeitos que vão corresponder aos rótulos que receberão. Vamos voltar ao exemplo da criança agitada: os pais de uma crian- ça que tem muita energia, que corre e brinca bastante, ouvirão em algum telejornal a notícia sobre crianças hiperativas. A partir daí, começarão a se preocupar se seu filho tem ou não este “problema”, e observarão que seu filho brinca muito mais do que outras crian- ças. Os pais comentarão isso com a professora que dirá “seu filho não presta muita atenção na aula, pois fica brincando com os cole- gas”. Aos poucos, e num processo que é quase imperceptível, este “medo” da criança ser hiperativa começa a transparecer nas atitudes dos pais e da professora, e tudo que a criança faz passa a ser visto como um “sintoma do problema”, até que a criança começa a cor- responder à expectativa de “agitação”. Neste momento, ela é levada para o psicólogo ou para o médico que examinam superficialmente a criança – em geral, perguntando ao adulto o que ela tem, e não à própria criança – e diagnosticam a criança a partir da percepção do adulto. Está criado o problema real, a partir da imaginação dos pais! No momento em que a criança é levada para um especialista que lhe atribui um diagnóstico, a criança passa a acreditar que “é doente”, e seu comportamento, de fato, se altera. A criança está cumprindo as 30 Módulo 3 I Volume 4 EAD Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimentoPsicologia e Educação II expectativas que lhe foram depositadas, enquadrando-se, assim, no “senso de normalidade” de criança doente. Pereira e Souza (2001) trazem algumas falas bastante inte- ressantes que ilustram a busca pelo “senso de normalidade”: • Relato 1. Desabafo de mãe: “Estava lendo a carteirinha de va- cinação e lá dizia que a criança levanta a cabecinha com qua- tro meses. Meu filho com dois meses está tentando levantar. É para deixar?” (apud PEREIRA; SOUZA, 2001, p. 31). • Relato 2. Na pracinha um grupo de crianças estava brincando e as mães “corujando” as proezas dos filhos. As mães trocam informações sobre as idades de cada um. Um dos meninos, embora na mesma faixa etária, não demonstra a mesma “de- senvoltura” dos companheiros. A mãe mente sua idade (apud PEREIRA; SOUZA, 2001, p. 31). • Relato 3. Em uma reportagem de um programa jornalístico, discute-se o tema “a vida dos adolescentes de hoje”. No sho- pping, entre outras mocinhas, a adolescente Michele dá todas as dicas sobre marcas da moda, formas de paquera etc. Já em casa, após muita insistência da repórter, Michele assume que tem bonecas. Guardadas. Escondidas embaixo da cama (apud PEREIRA; SOUZA, 2001, p. 31). A partir destas considerações, vemos como é importante estu- darmos muito bem as teorias da Psicologia, pois nossa escolha teóri- ca subsidiará nossa prática pedagógica, construindo o sujeito a partir da relação professor-teoria-prática-aluno. 4.1 Como escolher uma abordagem? Bem, como já dissemos, cada abordagem possui uma concep- ção de homem, um modo de compreender como o homem se relacio- na com o mundo e traz uma implicação para a prática pedagógica. • Concepção de homem De uma forma bem simplificada, podemos fazer algumas dis- tinções entre as diferentes concepções de homem. Há abordagens que consideram o homem de forma determinista, ou seja, sua vida é determinada por questões que escapam à sua possibilidade de es- Figura 4 UAB/UESC 31PedagogiaUESC U ni da de 1 colha (Behaviorismo e Psicanálise). Outras abordagens descrevem o homem com mais liberdade. Algumas consideram que o ser humano se constitui a partir do contexto sócio-histórico (VYGOTSKY; FOU- CAULT; Análise Institucional), e outras concebem algumas caracterís- ticas do desenvolvimento de forma universal e a-histórica (PIAGET). • Como o homem se relaciona com o mundo A partir de suas diferentes concepções de homem, cada abor- dagem tem uma forma de compreender como homem e mundo se re- lacionam. Para o Behaviorismo, o homem se relaciona com o mundo a partir de estímulos e respostas. Para a Psicanálise, a relação homem- mundo se dá a partir de processos psíquicos internos e inconscientes. Para Piaget, a relação homem-mundo parte de processos cognitivos do sujeito em direção ao mundo. Já para Vygotsky, o processo se dá de forma inversa: do mundo para o sujeito. Foucault e a abordagem da Análise Institucional afirmam que homem e mundo se constituem mutuamente através de múltiplos processos sociais, históricos e cul- turais. • Implicação da abordagem para a prática pedagógica Por que é importante pensar sobre essas questões em um curso de Pedagogia? Bem, como já foi estudado em outro momen- to, é muito importante que o pedagogo tenha consciência de que a Psicologia não é uma ciência neutra. Cada abordagem e perspectiva teórica, portanto, traz uma implicação. O termo implicação aqui utilizado é diferente da definição que encontramos nos dicionários. Implicação é um conceito da aborda- gem da Análise Institucional que nos ajuda a compreender as esco- lhas teóricas que fazemos. Implicação é um processo que ocorre com os sujeitos que exercem determinada ação, como resultado do contato com determi- nada situação. A implicação não começa no sujeito, nem na situação que sofre intervenção, e sim na relação sujeito-situação. Trata-se de um processo político, social e cultural, pois a relação sujeito-situação produz efeitos. Desta forma, as implicações devem ser analisadas em todas as suas dimensões, pois os efeitos estão diretamente relacio- nados com a constituição dos sujeitos e do mundo em que vivemos. 32 Módulo 3 I Volume 4 EAD Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimentoPsicologia e Educação II Para deixar mais claro o que significa pensar as implicações da escolha de uma determinada abordagem para a prática pedagógica do professor, vamos pensar a partir de um exemplo: Situação: uma criança está apresentando dificuldades em realizar suas tarefas escolares em sala de aula. Sujeito: professor que baseia sua prática pedagógica em uma determina- da abordagem ou linha teórica da Psicologia. Relação sujeito-situação: de acordo com a perspectiva teórica que o professor escolher para basear sua prática pedagógica, ele terá um enten- dimento específico sobre a situação que presencia, e sua intervenção se dará de determinada forma. Análise da implicação: vamos imaginar, de forma bastante simplificada, duas situações distintas. (a) Um professor que baseia sua prática pedagó- gica na abordagem comportamental, (b) e outro professor que baseia sua prática pedagógica na teoria sócio-histórica de Vygotsky. (a) O professor que baseia sua prática na abordagemcomportamental terá a seguinte percepção da situação: a criança está com dificuldades de realizar suas tarefas, pois a atividade não foi planejada adequadamente. É preciso compreender quais estímulos estão interferindo na compreensão da criança sobre a tarefa a ser realizada, controlar tais estímulos, para que a criança responda de maneira satisfatória. Compreende-se que a apren- dizagem da criança se realiza a partir de respostas a estímulos específicos. Dependendo do estímulo que lhe é direcionado, a criança dará a resposta esperada (fazer a tarefa) ou uma resposta insatisfatória (não faz a tare- fa). O professor deve, portanto, ter um bom controle sobre os estímulos para que as respostas sejam dadas de maneira satisfatória. As implicações desta abordagem para a prática pedagógica são: o professor lida com o aluno como um ser passivo que reage a estímulos; as questões externas ao processo de aprendizagem em sala de aula não são consideradas em um primeiro momento; a responsabilidade em relação à aprendizagem do aluno recai sobre o planejamento do professor. (b) O professor que baseia sua prática na teoria sócio-histórica de Vygotsky terá a seguinte percepção da situação: a criança está com dificuldades de realizar suas tarefas, pois ainda não alcançou o desenvolvimento neces- sário para realizá-la de forma autônoma. É preciso compreender em qual nível de desenvolvimento a criança se encontra para, a partir daí, introdu- zir mediadores que possibilitem que o desenvolvimento da criança avance. Várias atividades, de tipos e dificuldades diversificados, serão realizadas com a turma toda em que a criança está inserida para que o professor ob- tenha uma boa compreensão sobre o que aquela criança consegue ou não realizar sozinha. Compreende-se que a aprendizagem da criança se reali- za a partir da interação da criança com a cultura. A relação com pessoas mais experientes (que agem como mediadoras) é fundamental para que o desenvolvimento avance. O professor deve, portanto, possibilitar que as interações entre todos os envolvidos (crianças e adultos) favoreçam, na criança com dificuldade de realizar a tarefa, a passagem de um nível de PARA REFLETIR 33PedagogiaUESC U ni da de 1 desenvolvimento potencial para um nível de desenvolvimento real. As im- plicações desta abordagem para a prática pedagógica são: o professor lida com o aluno como um ser ativo que se desenvolve a partir de sua interação com o mundo; as questões externas ao processo de aprendizagem em sala de aula são consideradas a todo o momento, pois os processos culturais são fundamentais para o desenvolvimento e aprendizagem; a responsa- bilidade em relação à aprendizagem do aluno é de todos os envolvidos no processo. Bem, a partir destas considerações gerais, a importância da escolha em relação às abordagens da Psicologia deve ter ficado mais clara. Para escolher uma abordagem, portanto, é preciso estar atento a um aspecto primordial: qual abordagem se aproxima mais da forma como você compreende o ser humano? 34 Módulo 3 I Volume 4 EAD Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimentoPsicologia e Educação II 5 ATIVIDADES 1. Explique o que é “senso de normalidade”. 2. Qual a importância de analisar as implicações das abordagens da Psicologia para a prática pedagógica do professor? 6 RESUMINDO Nesta unidade, fizemos uma breve recapitulação dos principais aspectos que foram estudados em Psicologia e Educação I, especial- mente relativos à noção de desenvolvimento humano, à compreensão da Psicologia como uma ciência datada, ao conceito de subjetividade, às teorias dos Ciclos de Vida e Life Span, e uma compreensão não preconceituosa sobre família. Vimos que as definições de desenvolvimento e aprendizagem dependem, sempre, da corrente teórica a qual estão referidas, e fi- zemos um breve passeio por três grandes abordagens tradicionais da Psicologia da Educação: o Inatismo, o Ambientalismo e o Interacionis- mo. Foram apresentadas as teorias que compõem o material de estudo de Psicologia e Educação II, que trazem contribuições mais específicas para compreendermos os processos de desenvolvimento e aprendizagem escolares e não escolares, ressaltando que nenhuma teoria é mais importante que a outra. Retomamos a noção de “senso de normalidade” para enfatizar que as subjetividades se constituem, em grande parte, a partir das expectativas que depositam em nós. Vimos como é importante estu- darmos muito bem as teorias da Psicologia, pois nossa escolha teórica subsidiará nossa prática pedagógica, construindo o sujeito a partir da relação professor-teoria-prática-aluno. Desta forma, a escolha da abordagem que servirá de base para nossa prática pedagógica é fun- damental, pois cada abordagem possui uma concepção de homem, um modo de compreender como o homem se relaciona com o mundo e traz uma implicação para a prática pedagógica. ATIVIDADES RESUMINDO 35PedagogiaUESC U ni da de 1 7 REFERÊNCIAS CATHARINO, Tânia. Psicologia na Educação: contribuições da Análise Institucional. In: MACIEL, Ira Maria (Org). Psicologia e Educação: novos caminhos para a formação. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2001, p. 35-54. DAVIS, Cláudia; OLIVEIRA, Zilma de. Psicologia na Educação. São Paulo: Cortez, 1994. NERI, Anita Liberalesso. Paradigmas contemporâneos sobre desen- volvimento humano em Psicologia e em sociologia. In: NERI, Anita Liberalesso (Org.). Desenvolvimento e envelhecimento: pers- pectivas biológicas, psicológicas e sociológicas. Campinas: Papirus, 2001. p. 11-37. PEREIRA, Rita Marisa Ribes; SOUZA, Solange Jobim e. Infância, co- nhecimento e contemporaneidade. In: KRAMER, Sônia; LEITE, Maria Isabel (Orgs.). Infância e produção cultural. Campinas: Papirus, 2001. p. 25-42. PINTO, Karina Pereira. Formação de psicólogos, que caminhos? Da solução de problemas de ajustamento à promoção da qualidade de vida. In: Anais do IX Encontro Clio-Psyché: Gênero, Psicologia e História – CD-ROM. Rio de Janeiro: Clio-Psyché, 2010a. PINTO, Karina Pereira. Docência e fundamentos da educação – Pedagogia: Psicologia e Educação I – EAD, módulo 2, volume 4. Ilhéus: UAB; UESC, 2010b. BOARINI, Maria Lúcia; YAMAMOTO, Oswaldo. Higienismo e Euge- nia: discursos que não envelhecem Disponível em: <http://www. cocsite.coc.fiocruz.br/psi/pdf /higienismo_eugenia.pdf>. Acesso em: 2010. REFERÊNCIAS 36 Módulo 3 I Volume 4 EAD Psicologia e Educação: pensando aprendizagem e desenvolvimentoPsicologia e Educação II Suas anotações _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Ao final da unidade o(a) aluno(a) deverá: • obter conhecimentos específicos sobre as contribui- ções que as Teorias Comportamentais e da Psicanáli- se trazem para as questões educacionais; • analisar as diferentes formas de abordar as questões psicológicas do sujeito da aprendizagem. Objetivos ABORDAGENS TRADICIONAIS DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO 2Unidade 1 PRIMEIRAS PALAVRAS Nesta unidade, veremos duas abordagens teóricas bastante distintas: as Teorias Comportamentais e a Psicanálise. O objetivo da unidade, além de trazer conhecimentos específicos sobre as contri- buições que cada abordagem traz para as questões educacionais, é dar a oportunidade para que você, estudante de Pedagogia, perceba as diferentes formas de abordar as questões psicológicas do sujeito da aprendizagem. Estude com afinco cada uma das abordagens desta unidade, e esteja atento às suas diferenças nas concepções de homem, nos modos de compreender como o homem se relaciona com o mundo e nas implicações pedagógicas de cada abordagem. UNIDADE 2 ABORDAGENS TRADICIONAIS DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO 41PedagogiaUESC 2 U ni da de 1 2 TEORIAS COMPORTAMENTAIS As abordagens comportamentais em Psicologia são comumen- te conhecidas pelo nome Behaviorismo. Este termo foi criado pelo autor estadunidense John B. Watson, em 1913 (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2007a). Behavior, em inglês, significa “comportamento”. Desta forma, para designar as teorias que têm como objeto de estudo o comportamento, as denominamos genericamente de Behavioristas ou Comportamentalistas ou, ainda, Teorias Comportamentais. Segundo Eduard Marti Sala e Javier Onrubia Goñi (2000a), as teorias comportamentais mantêm, até início da década de 1960, o status de principais teorias da aprendizagem. Após este período, ocorre o que os autores chamam de Revolução Cognitivista, ou seja, outras teorias que não utilizam a abordagem comportamental entram em cena, ampliando o leque de possibilidades na compreensão dos processos escolares de aprendizagem. 2.1 Pressupostos teóricos Marti Sala e Onrubia Goñi (2000a) afirmam que, guardadas as diferenças entre as diversas teorias comportamentais existentes, estas conservam princípios e pressupostos básicos em comum. Desta forma, podemos apresentar o Behaviorismo da seguinte maneira: Herdeiro da tradição empirista e do positivismo, adota como atitudes comuns, na versão mais clássica, a definição do comportamento nos termos de uma linguagem E-R (estímulo-resposta), essencialmente molecular, o periferismo no tratamento dos fenômenos comportamentais, a insistência na importância do ambiente na hora de determinar o comportamento, a ênfase na aprendizagem e em alguma forma de associação E-R com as leis básicas que o regem e a pesquisa de um tratamento objetivo dos fenômenos de condutas, segundo o modelo científico natural (MARTI SALA; ONRUBIA GOÑI, 2000a, p. 215.) As bases para compreensão dos pressupostos teóricos do Behaviorismo têm início com a Reflexologia russa. Esta corrente teó- rica teve como principais representantes Séchenov, Pavlov e Bechte- rew, teóricos que recusavam explicações mentalistas para os com- portamentos, buscando explicações na fisiologia dos reflexos. Dentre os três autores citados, Pavlov foi o que influenciou mais diretamente a construção do Behaviorismo (SOUZA JR.; LOPES; CIRINO, 2007). VOCÊ SABIA? “A Rússia foi um país pio- neiro no campo de es- tudos da Reflexologia, exercendo um importante papel no desenvolvimento científico de meados do século XIX até a década de 1940. Foi um perío- do marcado pela extre- ma efervescência política do então Estado czarista russo, que culminou com a implantação do Estado socialista em 1917. Den- tre os numerosos pes- quisadores empenhados na fisiologia dos reflexos, pode-se destacar a in- fluência de pelo menos três na história da Psico- logia moderna”: Séche- nov (1829-1905), Pavlov (1849-1936) e Bechterew (1857-1927) (SOUZA JR.; LOPES; CIRINO, 2007, p. 169). 42 Módulo 3 I Volume 4 EAD Abordagens tradicionais da Psicologia da EducaçãoPsicologia e Educação II 2.1.1 O Condicionamento Clássico de Ivan Pavlov Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) nasceu na Rússia em 1849 e trouxe como contribuição para a Psicologia do compor- tamento a proposição teórica do Reflexo Condicionado. Seus experimentos, atualmente, são conhecidos como “Processos de Condicionamento Clássico”. Sempre preocupado com a padronização das condições experimentais de suas pesquisas, Pavlov utilizava controles rigorosos para eliminar quaisquer possibilidades de erros. Os termos ESTÍMULO, RESPOSTA e AMBIENTE foram cunhados para tornar seus estudos mais precisos. As pesquisas de Pavlov apresentam grande relevância para as teorias da aprendizagem, pois Pavlov analisou as conexões existentes entre estímulos ambientais neutros e a atividade fisiológica (respos- ta), descobrindo que os chamados comportamentos involuntários po- dem ser controlados por condições ambientais. Vamos exemplificar: ao ouvirmos um carro frear bruscamente, nosso coração palpita com mais intensidade. Qual a relação entre o estímulo ambiental neutro (carro freando bruscamente) e nossa reação fisiológica (coração pal- pitar mais intensamente)? Pavlov estudou como o estímulo ambiental pode desencadear reações involuntárias (não temos controle volun- tário sobre as batidas de nosso coração). Segundo Eduard Marti Sala e Javier Onrubia Goñi (2000a): [...] o organismo aprende a desencadear determinadas condutas que já existem em seu repertório comportamental e como resposta – de maneira condicionada – a certos estímulos ambientais inicialmente neutros em relação a tais condutas, como uma conseqüência do reiterado surgimento conjunto desses estímulos inicialmente neutros com algum dos estímulos que, de maneira direta e incondicional, provocam as condutas em questão (p. 216). Vejamos como foi realizada sua pesquisa com salivação de cães: Pavlov delineou a seguinte metodologia em seus estudos sobre os reflexos: colocava-se o sujeito experimental (em geral, cães) sobre uma mesa, preso por correias, dentro de uma sala de isolamento acústico e isenta de estimulação visual externa. Através de uma fístula feita na parte inferior do focinho do animal, introduzia-se um encanamento Figura 5 - Ivan Pavlov Fonte: http://commons.wikimedia.org/ wiki/File:Ivan_Pavlov_(Nobel).png 43PedagogiaUESC 2 U ni da de 1 ATENÇÃO emborrachadoque era ligado às glândulas salivares. Esse encanamento continha uma escala graduada onde era possível aferir com precisão a quantidade de saliva secretada. Através da cânula, toda a saliva era depositada num pequeno recipiente apoiado sobre uma mola sensível. A saliva que caía no recipiente movimentava uma agulha ligada à mola, que registrava o gotejamento num quimógrafo. Os experimentos iniciais consistiam na apresentação ao cão de um pedaço de pão que logo em seguida era dado ao animal para que o comesse. Com a repetição do procedimento, bastava a visão do alimento para que o cão salivasse. O reflexo salivar eliciado pelo alimento colocado na boca do animal foi denominado reflexo incondicionado, visto que não demandava nenhuma aprendizagem. Era, portanto, inato. Já a secreção salivar obtida com a visão do alimento só foi obtida após algumas tentativas. Logo, o processo demandou uma aprendizagem ou condicionamento, fato que levou Pavlov a denominá-lo REFLEXO CONDICIONADO (SOUZA JR.; LOPES; CIRINO, 2007, P. 172-173 – grifo meu). Posteriormente, Pavlov aperfeiçoaria sua pesquisa, produzin- do um experimento que se tornaria um clássico da Psicologia moder- na: Reflexo Condicionado “Sem dúvida, o exem- plo mais famoso de condicionamento clás- sico, extraído dos tra- balhos de Pavlov, é o da aprendizagem por parte de um cachor- ro da conduta de sali- vação ao ouvir o som de um sininho: em um primeiro momento, o cachorro saliva – res- posta incondicionada – quando lhe é oferecida alguma comida – estímulo incondicionado –, porém não diante do som do sininho; no processo de condicionamento, soa-se o sininho repetidas vezes, simultaneamente ao apresentar a comida; de- pois desse processo, o cachorro aprende a salivar, respondendo ao som do sininho – resposta condicionada a um estímulo condicionado – mesmo antes que lhe seja dado qualquer comida” (MARTI SALA; ONRUBIA GOÑI, 2000a, p. 216). Figura 6 - Experimento de Pavlov. Fonte: http://html. rincondelvago.com/ivan-pavlov.html 44 Módulo 3 I Volume 4 EAD Abordagens tradicionais da Psicologia da EducaçãoPsicologia e Educação II Esquematicamente, podemos compreender o experimento de Pavlov da seguinte maneira: 1. Comida (estímulo incondicionado) -> salivação (resposta in- condicionada) 2. Comida + sininho -> salivação 3. Sininho (sem comida) -> salivação (resposta condicionada) O experimento de Pavlov sobre o Condicionamento clássico como um processo de aprendizagem é de grande importância para a Psicologia, pois permitiu compreender como estímulos e respostas que, a princípio, não tinham nenhuma relação, podem ser conecta- dos. FILME RECOMENDADO Para ilustrar os estudos de Pavlov com bom humor, recomendamos o curta-metragem de animação Pavloviana, de Alexandre Bersot. FICHA TÉCNICA: Título: Pavloviana Diretor: Alexandre Bersot; Gênero: Animação; Ano: 2004; Duração: 9 min. Sinopse: Condicionado desde feto, toda vez que Otho ouve um apito ou um som estridente sente uma fome incontrolável. Disponível em <http://www.youtube.com/watch ?v=v6eU9pMDedQ> O trabalho de Pavlov provocou grandes mudanças na Psico- logia moderna, pois, além de utilizar instrumentos de medida mais exatos em suas pesquisas, formulou “uma terminologia mais precisa para se referir ao que denominava fenômenos psicológicos, como por exemplo, estímulo, resposta e ambiente” (SOUZA JR.; LOPES; CIRI- NO, 2007, p. 174) e construiu uma metodologia que foi fundamental para a expansão posterior do Behaviorismo. 2.1.2 O Behaviorismo Radical de Frederic Skinner Como dissemos anteriormente, o termo Behaviorismo foi cria- do por John Watson em 1913. Este autor possui uma frase clássica: “O que precisamos fazer é começar a trabalhar na psicologia fazendo 45PedagogiaUESC 2 U ni da de 1 VOCÊ SABIA? do comportamento, e não da consciência, o ponto objetivo de nos- so ataque” (WATSON apud CANÇADO; SOARES; CIRINO, 2007, p. 181). O interesse de Watson, portanto, era o estudo do comporta- mento, sendo sua fase inicial marcada pelos estudos sobre compor- tamento animal. Mais tarde, mudará seu interesse para o estudo do comportamento de crianças. Watson teve os estudos de Ivan Pavlov como uma de suas principais influências, e estes dois autores terão bastante influência no itinerário de formação de Skinner. Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) nasceu no dia 20 de março de 1904, na cidade de Susquehanna, na Pensilvânia, nos Es- tados Unidos. Durante a infância, permaneceu nesta cidade e, pos- teriormente, foi estudar no Hemigton College de Nova York. Skinner relata da seguinte maneira sua experiência nos anos de vida univer- sitária: Nunca me adaptei à vida de estudante. Ingressei numa fraternidade acadêmica sem saber do que se tratava. Não era bom nos esportes e sofria muito quando as minhas canelas eram atingidas no hóquei sobre o gelo ou quando melhores jogadores de basquete faziam tabela na minha cabeça… Num artigo que escrevi no final do meu ano de calouro, reclamei de que o colégio me obrigava a cumprir exigências desnecessárias (uma delas era a presença diária na capela) e que quase nenhum interesse intelectual era demonstrado pela maioria dos alunos. No meu último ano, eu era um rebelde declarado (SKINNER apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1992, p. 279). Sua crítica às exigências desnecessárias, impostas pelo meio escolar, somada à compreensão sobre a importância dos processos escolares, faz Skinner dedicar-se aos estudos sobre aprendizagem. O contato inicial de Skinner com a Psicologia se deu através de lei- turas de textos de Watson e Pavlov (MACIEL; SÁ, 2001). Foi influen- ciado pelas proposições teóricas destes autores, mas suas reflexões ganharam um caráter diferenciado: Os resultados de Skinner em suas pesquisas sobre o comportamento reordenaram as considerações feitas sobre esse objeto de estudo até então. O comportamento dos organismos não seria influenciado apenas por alterações ambientais antecedentes, como proposto pela psicologia estímulo-resposta, baseada no paradigma reflexo. Grande parte do comportamento seria influenciada por suas conseqüências. Um organismo, ao comportar-se, produz modificações no ambiente que, por sua vez, alteram a forma como o indivíduo se comporta. É neste sentido que, na perspectiva Figura 7 - Skinner e os experimentos da Caixa de Skinner. Fonte: http://www. skeptically.org/skinner/id4.html “A designação ‘Behavio- rismo Radical’ foi cunhada por Skinner para se referir à filosofia da análise expe- rimental do comportamen- to. O termo ‘radical’ vem de raiz, no sentido em que designaria uma proposta que se atém ao estudo do comportamento a partir do próprio comportamento, sem o recurso explicativo a qualquer outra entidade” (CANÇADO; SOARES; CIRI- NO, 2007, p. 188) 46 Módulo 3 I Volume 4 EAD Abordagens tradicionais da Psicologia da EducaçãoPsicologia e Educação II skinneriana, pode-se dizer que o organismo produz o meio que o determina (CANÇADO; SOARES; CIRINO, 2007, p. 184). O grande salto que Skinner dá em relação à Pavlov e Watson foi o seguinte questionamento: como se explica a mudança no re- pertório de comportamentos do organismo? Ou seja, como ocorrem aprendizagens de comportamentos novos e mais complexos? A par- tir destes questionamentos, Skinner formula o conceito de CONDI- CIONAMENTO OPERANTE, pois o considerou mais representativo da situação de aprendizagem da vida humana (MARTI SALA; ONRUBIA GOÑI, 2000a; MACIEL; SÁ, 2001). No condicionamento operante, o que propicia a aprendizagem de novos comportamentos é a ação do organismo sobre o meio e o efeito resultante desta ação. O condicionamento operante não ne- cessita de nenhum estímulo externo observável, pois a ação do or- ganismo é, primeiramente, espontânea. Esta ação espontânea, no entanto, vai gerar consequências que se tornam estímulos que ser- virão para manter, ou não, aquela ação. Daí o nome “operante”,pois significa que o organismo vai “operar”, “agir” sobre o meio. “Os homens agem so- bre o mundo, modifi- cando-no e, por sua vez, são modificados pelas conseqüências de suas ações” (SKINNER, 1978, p. 15). Caixa de Skinner “O que hoje chamamos de análise do compor- tamento começou com o estudo do que Skinner denominou reflexo alimentar. O que parecia ser um simples reflexo a ser investigado para uma tese de doutorado mostrou-se uma fonte ines- perada de novos conhecimentos. Ratos eram colocados em uma pequena câmara experi- mental com acesso a pelotas de alimento em uma cuba colocada em uma das paredes. Com peso corporal controlado e número de horas de privação de alimentos constante, Skinner re- gistrava o número de pelotas consumidas por unidade de tempo. Um equipamento rudimen- tar produzia um gráfico on-line da freqüência acumulada de pelotas consumidas, usando um quimógrafo adaptado. O registro do quimógra- fo mostrava visualmente a diminuição na força do reflexo alimentar (número de pelotas por minuto) como função do número de pelotas consumidas. Para automatizar esse registro Skinner colocou uma portinhola basculante fechando a boca da cuba. Os ratos empurravam a porta para chegar até o alimento, o que acionava um meca- nismo que registrava automaticamente o consumo de uma pelota. Na verdade, registrava o empurrão na porta, mas não garantia que apenas uma pelota era consumida cada vez que o rato tinha acesso ao alimento. O passo seguinte foi esvaziar a cuba e construir um mecanismo dispensador de alimento. Uma pequena barra de me- tal, quando pressionada, fazia cair na cuba uma pelota de alimento por vez. Agora, o contador eletromecânico acionado pela pressão à barra de metal registrava fidedignamente o consumo de cada pelota. O aparato foi um sucesso e veio a ser o precursor das milhões de Caixas de Skinner (as Skinner Boxes) fabricadas nos últimos 70 anos” (TODOROV, 2004, p. 151-152). Figura 8 - Caixa de Skinner. Fonte: http://str.com.br/Str/caixa.jpg SAIBA MAIS 47PedagogiaUESC 2 U ni da de 1 O conceito central que explica os processos de condiciona- mento operante é REFORÇO. Segundo Eduard Marti Sala e Javier On- rubia Goñi (2000a): [...] o reforço é o processo de fortalecimento de uma determinada resposta de acordo com suas conseqüências; portanto, em um processo de reforço, uma determinada classe de respostas aumenta a probabilidade de ocorrência no futuro (p. 217). Para Skinner, o condicionamento só se efetua quando o orga- nismo é estimulado pelas consequências de seu comportamento. Para isso, há dois tipos de reforços: positivo ou negativo. • Reforço positivo: “é todo evento que aumenta a probabili- dade futura da resposta que o produz” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2007a, p. 50). Para tornar mais clara a explica- ção, vejamos o exemplo que Ira Maciel e Márcia Sá (2001) nos fornecem: “Em situações do cotidiano escolar quando um aluno recebe um elogio do professor, este elogio (reforço positivo) mantém ou fortalece um comportamento operante” (MACIEL; SÁ, 2001, p. 121). • Reforço negativo: “é todo evento que aumenta a probabili- dade futura da resposta que o remove ou atenua” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2007a, p. 50). Maciel e Sá (2001) nos ajudam a compreender: “O aumento do consumo de analgé- sicos, por exemplo, pode ser explicado por meio deste tipo de reforço. A retirada do estímulo aversivo (dor de cabeça) pelo uso do remédio aumenta o procedimento de tomar com- primidos” (p. 121). Segundo a proposição teórica do Condicionamento operante de Skinner, a aprendizagem é consequência de uma série de reforços bem planejados pelos professores. Vejamos nas palavras de Skinner (1972) como isto se dá: Condicionamento operante e reforço “A aplicação do condicionamento operante na educação é simples e direta. O ensino é um arranjo de contingências sob as quais os alunos aprendem. Aprendem a ser ensinados no seu ambiente natural, mas os professores arranjam contingências especiais que aceleram a aprendizagem, facilitan- do o aparecimento do comportamento que, de outro modo, seria adquirido vagarosamente, ou assegurando o aparecimento do comportamento que poderia, de outro modo, não ocorrer nunca” (SKINNER, 1972, p. 62). A TE N Ç Ã O 48 Módulo 3 I Volume 4 EAD Abordagens tradicionais da Psicologia da EducaçãoPsicologia e Educação II O processo inverso ao que ocorre em relação ao reforço é a extinção: esta ocorre sempre que uma resposta reforçada anterior- mente deixa de ser reforçada sistematicamente. O desaparecimento da resposta se dá de maneira gradual. Outros conceitos que complementam a compreensão sobre condicionamento operante são: DISCRIMINAÇÃO e GENERALIZAÇÃO. Vejamos como Eduard Marti Sala e Javier Onrubia Goñi (2000a) ex- plicam e exemplificam tais conceitos: A discriminação é o processo pelo qual se aprende a dar uma resposta na presença de um certo estímulo ou classe de estímulos, e somente na presença desses, de maneira que tais estímulos acabem tornando-se signos ou sinais específicos que regulam o comportamento tratado – como, por exemplo, aprender a identificar pelo nome uma determinada letra sem utilizar qualquer outra letra. Essa conexão funcional entre os estímulos discrimitativos e as respostas é obtida quando se reforça sistematicamente a resposta diante desses estímulos e não se reforça diante de outros. A generalização, por sua vez, é o processo pelo qual é possível transferir a aprendizagem efetuada por um estímulo contextual concreto a outros estímulos similares – por exemplo, identificar uma letra não somente quando é manuscrita caligraficamente, mas também quando diferentes pessoas escrevem ou quando estiver escrita de maneiras diferentes (p. 217 – grifos no original). Ao combinarmos a discriminação com a generalização cria- mos a possibilidade de formar conceitos e transferir comportamentos aprendidos de uma situação para outra, pois se torna possível esta- belecer novas relações entre as atividades do sujeito, seu meio e as atividades previamente existentes. Após o estudo de tantos conceitos novos, você deve estar se perguntando: de que forma podemos utilizar os conceitos do Beha- viorismo na prática pedagógica? Bem, vejamos alguns aspectos: • Um ponto interessante que vale a pena ressaltar diz respeito à punição: há um debate entre os behavioristas a respeito da validade da punição como forma de reduzir a frequência de respostas que não são esperadas. As práticas punitivas na educação foram há muito questionadas, pois as razões que levaram o aluno a ter uma ação indesejada (ação que sofre punição) não são alteradas com a punição. Os alunos que sofrem punições, ao invés de adotarem novos comportamen- 49PedagogiaUESC 2 U ni da de 1 tos, tornam-se especialistas na esquiva e na fuga. As ações podem, até, parar de ocorrer temporariamente, mas isso não significa que a motivação para realizá-la novamente tenha se alterado. Os behavioristas “propuseram a substituição defi- nitiva das práticas punitivas por procedimentos de instalação de comportamentos desejáveis” (BOCK; FURTADO; TEIXEI- RA, 2007a, p. 53). • Para Skinner, o erro no processo de aprendizagem deve ser reduzido: Skinner dá ênfase à estruturação de estímulos que controlem a resposta do aluno através da programação dos reforços oferecidos, de modo a manter a intensidade do com- portamento esperado. Para isso, “propõe dividir a matéria de aprendizagem em passos muito pequenos, diante dos quais os alunos devem responder constantemente, com o objetivo de argumentar tanto quanto se possa a freqüência dos refor- ços e reduzir ao mínimo os erros” (MARTI SALA; ONRUBIA GOÑI, 2000a, p. 219). • Sobre o papel do professor: este é concebido como um ex- perimentador das situações de ensino no cotidiano escolar. Deve planejar previamente a organização dos conteúdos de forma hierarquizada. “Cabe ao professor
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