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LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL Ricardo Besserra da Rosa Oiticica(Org.) Alessandro Rocha Luiz Antonio Luzio Coelho Maria Clara Cavalcanti Stella de Moraes Pellegrini Pedagogia . Módulo 6 . Volume 4 Ilhéus, 2012 PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 1PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 1 01/08/2012 15:16:0001/08/2012 15:16:00 PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 2PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 2 01/08/2012 15:16:0301/08/2012 15:16:03 Universidade Estadual de Santa Cruz Reitora Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro Vice-reitor Prof. Evandro Sena Freire Pró-reitor de Graduação Prof. Elias Lins Guimarães Diretora do Departamento de Ciências da Educação Profª. Emilia Peixoto Vieira Ministério da Educação PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 3PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 3 01/08/2012 15:16:0301/08/2012 15:16:03 Ficha Catalográfi ca 1ª edição | Agosto de 2012 | 476 exemplares Copyright by EAD-UAB/UESC Projeto Gráfi co e Diagramação Jamile Azevedo de Mattos Chagouri Ocké João Luiz Cardeal Craveiro Capa Sheylla Tomás Silva Impressão e acabamento JM Gráfi ca e Editora Todos os direitos reservados à EAD-UAB/UESC Obra desenvolvida para os cursos de Educação a Distância da Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC (Ilhéus-BA) Campus Soane Nazaré de Andrade - Rodovia Ilhéus- Itabuna, Km 16 - CEP 45662-900 - Ilhéus-Bahia. www.nead.uesc.br | uabuesc@uesc.br | (73) 3680.5458 Pedagogia | Módulo 6 | Volume 4 - Leitura e Produção Textual L533 Leitura e produção textual / coordenação Ricardo Besserra da Rosa Oiticica ; produtores de conteúdo Alessandro Rocha ... [at. al.].– Ilhéus, BA : Editus, 2012. 162 p. : il. (Pedagogia – módulo 6 – volume 4) ISBN: 978-85-7455-288-0 1. Leitura – Estudo e ensino (Ensino fundamental). 2. Língua portuguesa – Composição e exercícios (Ensino fundamental). I. Oiticica, Ricardo Besserra da Rosa. II. Ro- cha, Alessandro. CDD 372.4 PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 4PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 4 01/08/2012 15:16:0401/08/2012 15:16:04 Coordenação UAB – UESC Profª. Drª. Maridalva de Souza Penteado Coordenação Adjunta UAB – UESC Profª. Dr.ª Marta Magda Dornelles Coordenação do Curso de Pedagogia (EAD) Profª. Drª. Maria Elizabete Souza Couto Coordenação de Elaboração de Conteúdo Prof. PHD Ricardo Besserra da Rosa Oiticica Elaboração de Conteúdo Prof. PHD Alessandro Rocha Prof. PHD Luiz Antonio Luzio Coelho Profª. Esp. Maria Clara Cavalcanti Profª. PHD Stella de Moraes Pellegrini Instrucional Design Profª. Ma. Marileide dos Santos de Oliveira Profª. Ma. Cibele Cristina Barbosa Costa Profª. Drª. Cláudia Celeste Lima Costa Menezes Revisão Prof. Me. Roberto Santos de Carvalho Coordenação Fluxo Editorial Me. Saul Edgardo Mendez Sanchez Filho EAD . UAB|UESC PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 5PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 5 01/08/2012 15:16:0401/08/2012 15:16:04 PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 6PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 6 01/08/2012 15:16:0401/08/2012 15:16:04 DISCIPLINA LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL EMENTA A interação leitor/escritor; texto/contexto: a função social da leitura e escrita. Leitura e escola: cultura, poder e convivência social. Os diversos portadores de texto (impressos e imagéticos). A formação do leitor. Leitura e produção de texto na alfabetização e nas séries iniciais. Carga horária: 60 horas Prof. PHD Ricardo Besserra da Rosa OiticicaProf. PHD Alessandro RochaProf. PHD Luiz Antonio Luzio CoelhoProfª. Esp. Maria Clara Cavalcanti Profª. PHD Stella de Moraes Pellegrini PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 7PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 7 01/08/2012 15:16:0401/08/2012 15:16:04 PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 8PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 8 01/08/2012 15:16:0501/08/2012 15:16:05 OS AUTORES Alessandro Rocha Pós-doutor em Letras, Doutor e Mestre em Teologia, Especialista em Gestão do Ensino Superior e em Filosofi a, Licenciado em Filosofi a, Bacharel em Teologia. Pesquisador da Cátedra UNESCO de Leitura da PUC-Rio. E-mail: alessandro.reler@esp.puc-rio.br Luiz Antonio Luzio Coelho Bolsista de Produtividade em Pesquisa 2 Graduação em Direito pela Universidade Cândido Mendes (1970), especialização em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1973), mestrado (1979) e doutorado (1989) em Comunicação Social, Media Ecology Program, da New York University. Fez pós-doutoramento nas Reading University e Birmingham University, na Inglaterra (1997). Foi docente da Universidade Federal Fluminense (Cinema) e Assessor Internacional da mesma até 1994. Atualmente é Professor Associado da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e exerceu, de outubro de 2006 a dezembro de 2008, a direção do Departamento de Artes & Design na mesma IES, onde cocoordena a Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio. Coordena, também, um grupo de 18 pesquisadores, Núcleo de Estudos do Design na Leitura-NEL, apoiado pela FAPERJ e CNPq. Foi membro da Comissão de Avaliação da CAPES para área de Arquitetura, Urbanismo e Design de 2004 a 2007 e é consultor do CNPq, FAPEMIG, FAPERJ, CAPES, FAPESP Universidade Anhembi-Morumbi (Design), SENAC-SP e Universidade Federal do Paraná (Design). Atuou no Projeto College Horizons, patrocinado pelo governo dos EUA, na condição de ex- bolsista Fulbright. É membro da Associação Norte-americana de Comunicação. É bolsista PQ do CNPq e teve a Bolsa Cientistas de Nosso Estado da FAPERJ de 2006 a 2008. É membro do Conselho Científi co da Sociedade Brasileira de Design da Informação/SBDI e da Revista INFODESIGN. Tem experiência na área de Design, com ênfase em Sistemas Simbólicos da Comunicação Visual, atuando principalmente nos seguintes temas: design, cinema, livro, metodologia e gestão internacional. E-mail: urbanosantos@terra.com.br PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 9PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 9 01/08/2012 15:16:0501/08/2012 15:16:05 Maria Clara Cavalcanti de Albuquerque Psicóloga, pesquisadora da Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio, especialista em Leitura: Teoria e Práticas pela Pontifícia Universidade Católica – PUC-Rio, e em Literatura Infantil e Juvenil pela Universidade Federal Fluminense. Ministra ofi cinas de Contadores de Histórias, Práticas Leitoras, Oralidade e Memória. Autora de livros de Literatura Infantil e Juvenil. Articulista de Cadernos Literários de Jornais e de Revistas especializadas em Leitura e Literatura. E-mail: clara.pc@ig.com.br Ricardo Beserra da Rosa Oiticica Graduação em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1984), mestrado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica (1988) e doutorado em LETRAS pela Pontifícia Universidade Católica (1997). Atualmente é professor adjunto do CENTRO UNIVERSITÁRIO DA CIDADE, bolsista - Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio, assessor cultural da Pontifícia Universidade Católica e professor da SOCIEDADE BRASILEIRA E FRANCESA DE ENSINO. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura, leitura, sociologia, instituto nacional do livro, estado novo, história e regime militarde 64. E-mail: ricardo.oiticica@hotmail.com Stella de Moraes Pellegrini Doutora e Mestra em Letras. Especialista em Tecnologias em Educação. Professora das Redes Municipal, Estadual e Particular de Ensino do Rio de Janeiro. Mediadora e Orientadora de Monografi as – CCEAD/PUC-Rio. Coordenadora da Educopédia (Ensino Fundamental - SME-RJ). Autora do livro Caminhos e Encruzilhadas (Menção Altamente recomendável na categoria Teórico - FNLIJ, 2005). Publicações em periódicos nacionais e internacionais. Pesquisadora da Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio, onde coordenou pesquisa sobre o Prêmio Viva Leitura (2006-2007) - MEC. Coordena, atualmente, o Projeto Pensa Rio, que tem por objetivo mapear o perfi l leitor dos professores do Ensino Médio do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: spellegrini@oi.com.br PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 10PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 10 01/08/2012 15:16:0501/08/2012 15:16:05 Prezado/a Aluno/a, Este módulo foi preparado por pesquisadores que desenvolvem seu trabalho na Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio. Nossas pesquisas têm como fi o condutor as diretrizes que nortearam a criação do Proler – Programa Nacional de Incentivo à Leitura, idealizado pela Profª. Eliana Yunes, na gestão do Prof. Affonso Romano de Sant’ Anna, na Fundação Biblioteca Nacional, entre 1992 e 1996. Dessa forma consistem mais em refl exões críticas que podem auxiliá-lo a compreender a leitura em outra dimensão e, a partir daí, assumir, com autonomia, a responsabilidade cidadã de contribuir com sua formação para criar no país uma sociedade leitora. Fogem, portanto, das “receitas prontas” que se encontram nos Manuais Escolares, nos Livros Didáticos ou no material criado para “facilitar” o trabalho do professor. Para seu conhecimento, apresentamos os pressupostos teóricos e os princípios pedagógicos que orientam nossa produção. OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS • A leitura é uma atividade permanente na condição humana, quer se tenha ou não consciência dela. Lemos o mundo desde que nascemos e nossas ações decorrem desta leitura; a leitura tem, portanto, uma dimensão semiótica. • A leitura não está afeta apenas à linguagem verbal grafi camente codifi cada, e o domínio do processo leitura/escrita não independe da leitura do mundo que os indivíduos, crianças, inclusive, venham realizando, ao formalizar-se o domínio do código gráfi co da língua materna. • A diversidade das metodologias pode contribuir para o avanço das questões em torno da promoção da leitura e mais vale discuti-las do que recusá-las a priori. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 11PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 11 01/08/2012 15:16:0501/08/2012 15:16:05 • A leitura deve ser experimentada como prazer que se aprende e se apura num estreitamento maior das relações entre leitor, texto e contexto – esta premissa exclui, sim, teorias e metodologias que tornem o ato de ler um pesar e valoriza as que trabalham a produção do sentido, como um ato de interpretação. • A leitura tem repercussões biológicas e psicológicas, que afetam o sujeito do ato de ler, física, emocional e intelectualmente e, portanto, interfere com educação não apenas da inteligência, mas também do “corpo” social e individual do homem. • A leitura é um exercício de interação de várias ordens, mobilizadas pelo leitor frente ao texto, a partir de suas vivências, de suas histórias de leitura, de sua habilidade de percepção e refl exão, donde a importância de atualizar suas “memórias” em relação à leitura. • As linguagens não são imunes a ideologias e doutrinas; a leitura perspicaz e aberta permite desnudar estes compromissos e vislumbrar os interesses que determinam sua produção enquanto discurso. • A aprendizagem da leitura lato sensu percorre as diversas áreas do conhecimento e como tal não pode estar restrita ao início da escolaridade ou ao processo de alfabetização. • A atividade da leitura vai da leitura do mundo – na ilusão das coisas tais como se apresentam aos indivíduos – à leitura de mundo – fi ltrada pela interpretação. A leitura é mediada pelas linguagens em que se materializam os sentidos para os interlocutores, com refl exo sobre as práticas sociais. Seu exercício pleno pode contribuir para a análise crítica do cotidiano, levando à participação social mais coerente com consciência dos direitos e deveres da cidadania. PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 12PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 12 01/08/2012 15:16:0501/08/2012 15:16:05 OS PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS A unidade do trabalho pedagógico do PROLER são os encontros de formação de recursos humanos para a promoção da leitura, que se organizam em perspectiva de aprofundamento e extensão, por um período mínimo de três anos. As pesquisas e estudos sobre a promoção da leitura – desde seus aspectos ligados à organização da linguagem, no âmbito da psicolingüística, passando pela contextualização social da produção dos discursos, estendendo-se a questões de interpretação e recepção por parte do leitor – apontam caminhos e alternativas diversos, posturas mais ou menos estreitas, metodologias de diferente valor pedagógico, consoante as bases fi losófi cas com que se considere o ato de ler. A bibliografi a brasileira [...] cresceu muito e representa linhas de pensamento plurais, esforçando-se para enfrentar os problemas basicamente a partir da crise da escola. Estudos e artigos também procuraram apontar a necessidade de maior efi cácia das ações para levar ao prazer e à convivência com a leitura além dos bancos escolares, de fornecer e retroalimentar permanentemente a informação necessária para uma participação crítica do indivíduo na sociedade. O PROLER elegeu alguns princípios pedagógicos desde 1990 e os reconhece como práticas em observação e sob avaliação contínua tanto na sua aplicação quanto nos resultados que produzirá a médio e longo prazos. Trata-se, portanto, de uma pedagogia em processo. Ei-los: • Primeiro: Pesquisas apontam que prazer de “ler” se constitui desde a mais tenra infância, quando as crianças se familiarizam com narrativas orais. As estruturas narrativas têm efetivamente o poder de organizar sequências temporais, ajudando as crianças a perceber alterações no fi o do tempo. Movem as emoções, provocam imagens, suscitam a refl exão e promovem um trânsito permanente entre imaginário e real, fi cção e história. Por isso o PROLER tem valorizado a recuperação do contato com a oralidade, através da formação de contadores de histórias que, não apenas rememoram os relatos ancestrais, mas promovem autores e obras contemporâneas, além de clássicos universais e “causos” regionais. • Segundo: A preferência explícita pelo texto literário, para suscitar uma nova “relação amorosa” com a leitura, vem de seus recursos mobilizadores PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 13PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 13 01/08/2012 15:16:0501/08/2012 15:16:05 da totalidade da pessoa humana, na medida em que a arte suscita tanto a afetividade quanto a inteligência dos homens. Sem dogmatismos, sem doutrinas, a literatura comove, instiga à refl exão, reanima idéias e desejos, colocando o leitor em posição de fazer interagir o que lê com o que vive. Sua introdução para o leitor abandona manuais e questionários para empreender caminho novo: além dos contadores de histórias, círculos de leitura, encontro com autores e leitores-guia. Isto não exclui o envolvimento e a abordagem de “textos” de diferentes linguagens e campos do conhecimento: o teatro, o cinema, a ilustração, a pintura, a fi losofi a, a política, a história, a comunicação de massas, entre outros, são passíveis de leiturae esta prática precisa ser recuperada pela sociedade como um todo. • Terceiro: Como não é possível prática sem refl exão, o PROLER propõe espaços teóricos: conferências, mesas, painéis que apresentem os problemas e sua solução sugerida por especialistas e pesquisadores. Da teoria à prática, preconiza ofi cinas que exercitem com o público a experiência da leitura prazerosa e apresentem, para sua realização, metodologias e recursos fundados na valorização da relação texto-leitor-contexto. • Quarto: Sendo a leitura percebida como prática de vida, ela não pode estar confi nada às aulas de Língua e Literatura e deve percorrer todo o espaço da aprendizagem, da história às matemáticas, da ciência à fi losofi a. Portanto, a noção da territorialidade da linguagem é um pressuposto para a prática da leitura, que desnuda versões, posturas e objetivos de quem narra (=produz) fatos, descobertas, imaginário. • Quinto: A formação de recursos humanos não pode se dar em reciclagens de poucas horas. É um processo continuado e sistêmico a se desdobrar em atualização permanente e que carece de um impulso longo, inicial, a ser acompanhado. O PROLER prevê a formação de recursos humanos em etapas de cinco módulos, pelo menos, seguindo um fi o pedagógico/temático assim proposto: 1. Linguagem/sociedade/cidadania (sensibilização) leitor-mundo; 2. Literatura/memória/aprendizagem (interação) leitor-texto; PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 14PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 14 01/08/2012 15:16:0501/08/2012 15:16:05 3. Discurso/história/interdisciplinaridade (refl exão) leitor-contexto; 4. Signifi cação/recepção/interpretação (comunicação) leitor-teoria; 5. Intertextualidade/crítica/escrita (expressão) leitor-produção. Como é impossível a prática compartimentada destes tópicos, opta-se pela ênfase seqüenciada, uma vez que todos se apresentam recorrentes em todo o processo, em cada um dos módulos. • Sexto: Estas etapas estratégicas visam antes a formar o leitor. Este se transformará em agente de promoção da leitura no seu espaço de convivência: escola, trabalho, família, comunidade. Para isto é dada especial atenção ao processo que vai se sua sensibilização à sua capacitação como promotor da leitura e produtor de textos. • Sétimo: Os encontros de capacitação têm por objetivo o exercício de aprofundamento teórico-prático e a ampliação dos recursos para os agentes de leitura nas áreas de abrangência geográfi ca do núcleo local formado em torno do PROLER. Associado às secretarias de educação e cultura locais, às universidades e instituições que tenham uma experiência e prática educativo-cultural, o trabalho pode estender sua atuação junto à sociedade. Portanto, os núcleos pedagógicos regionais/estaduais precisam estar em condições reais de funcionamento para atender à formação e ao acompanhamento extensivo por tempo indeterminado. • Oitavo: Estes núcleos, nas regiões e municípios em que se instalam para uma ação pedagógica de longo curso, devem estar formalmente amparados por acervos adequados à promoção da leitura: bibliotecas públicas, salas de leitura, em espaços diversos, de forma a viabilizar a convivência dos leitores com livros, imagens e textos diferentes. [...]. • Nono: Para promover um maior intercâmbio e troca de experiências, além de uma disseminação ampla dos estudos e práticas de formação de leitura, o PROLER recorre sistematicamente a especialistas de todo o país, oriundos de universidades diversas ou núcleos de estudos, centros de pesquisa com competência reconhecida, fazendo aproximar suas experiências. Estas PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 15PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 15 01/08/2012 15:16:0501/08/2012 15:16:05 colaborações que enriquecem o PROLER, por ora trazem pluralidade senão contradições, enquanto não for possível organizar, por falta de apoio, alguns encontros regionais de porte que viabilizem uma discussão mais ampla sobre as posturas e métodos mais adequados às situações identifi cadas. Ainda que assim ocorresse, as linhas metodológicas, oriundas de pesquisas em teoria da leitura, precisas ser disseminadas em sua diferença, optando o agente de promoção da leitura por aquela que lhe ofereça convencimento, segurança e efi cácia para suscitar o,prazer de ler. • Décimo: O PROLER [...] coloca-se explicitamente a favor da leitura concebida como exercício permanente do homem em sociedade, que interage com as situações, amplia seus horizontes e se reposiciona face ao real. Este percurso pode ocorrer à análise do discurso, à análise de textos literários ou lançar mão da teoria da comunicação e de outras, na perspectiva da interdisciplinaridade. Por isso, são historiadores, semiólogos, artistas, autores, antropólogos, profi ssionais de áreas diversas de formação, convidados a participar dos encontros de formação de recursos humanos que podem sugerir, por sua vez, materiais pedagógicos a serem editados – cadernos, livros, vídeos, audiovisuais, em regime de co-edição ou de patrocínio, pelo PROLER. Os encontros de capacitação de recursos humanos devem, portanto, orientar-se no sentido de planejar e propor a formação de núcleos estáveis de promoção da leitura, que tornem visível socialmente uma ação em favor da leitura, e a valorizem como condição para a cidadania plena. (YUNES, Eliana. Para entender a proposta do PROLER- Programa Nacional de Incentivo à Leitura. Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, 1992). Boa refl exão e bom trabalho Stella Pellegrini (Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio) PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 16PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 16 01/08/2012 15:16:0501/08/2012 15:16:05 SUMÁRIO UNIDADE I | A INTERAÇÃO LEITOR/ESCRITOR – TEXTO/ CONTEXTO: A FUNÇÃO SOCIAL DA LEITURA E ESCRITA 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................21 2 INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS SOBRE OS LUGARES DE SENTIDO .............22 1.1 Intenção do autor ...................................................................... 22 1.2 Intenção do texto ...................................................................... 23 1.3 Intenção do leitor ...................................................................... 24 3 A INTERAÇÃO LEITOR/ESCRITOR - TEXTO/CONTEXTO ......................25 4 BREVE PANORAMA HISTÓRICO DA HERMENÊUTICA FILOSÓFICA E SUA COMPREENSÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE TEXTO E LEITOR .......26 4.1 Friedrich Schleiermacher ............................................................ 27 4.2 Wilhelm Dilthey .......................................................................... 27 4.3 Martin Heidegger ........................................................................ 29 4.4 Hans Georg Gadamer .................................................................. 30 5 A FUNÇÃO SOCIAL DA LEITURA ..........................................................32 ATIVIDADES ............................................................................................. 36 RESUMINDO ............................................................................................. 37 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 38 UNIDADE II | LEITURA E ESCOLA: CULTURA, PODER E CONVIVÊNCIA SOCIAL 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................43 2 LEITURA E CIDADANIA ......................................................................43 3 UMA ESCOLA PARA TODOS .................................................................494 LEITURA E ESCOLA .............................................................................53 5 LEITURA E PODER ..............................................................................59 6 LEITURA PARA ALÉM DA ESCOLA .......................................................64 ATIVIDADES ............................................................................................. 76 RESUMINDO ............................................................................................. 81 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 82 PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 17PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 17 01/08/2012 15:16:0501/08/2012 15:16:05 UNIDADE III | OS DIVERSOS PORTADORES DE TEXTO: IMPRESSOS E IMAGÉTICOS 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................89 2 NO PRINCÍPIO ERA O VERBO .............................................................90 3 A NATUREZA DA IMAGEM ...................................................................95 4 O LETRAMENTO OU LITERACIA NA IMAGEM .......................................98 5 O SENTIDO DA VISÃO NA LEITURA ....................................................99 6 LEITURA E IMAGEM: IDENTIDADE E LEGIBILIDADE ...........................100 ATIVIDADES ............................................................................................. 103 RESUMINDO ............................................................................................. 105 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 105 UNIDADE IV | A FORMAÇÃO DE LEITORES 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................113 2 FORMAR LEITORES? ...........................................................................115 3 LEITOR... LEITOR DE QUÊ? LEITOR PRA QUÊ? ....................................119 4 GRÃOS VIZIRES - ESSES ANDARILHOS COMPROMETIDOS ..................123 ATIVIDADES ............................................................................................ 132 RESUMINDO ............................................................................................. 133 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 134 UNIDADE V | LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO NA ALFABETIZAÇÃO E NAS SÉRIES INICIAIS 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................139 2 SEMEADURAS E COLHEITAS ...............................................................140 3 APERTEM OS CINTOS, A LEITURA VAI COMEÇAR OU PASSAPORTE CARIMBADO .......................................................................................145 4 ALGUNS CAMINHOS... ........................................................................149 ATIVIDADES ............................................................................................ 155 RESUMINDO ............................................................................................ 157 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 158 PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 18PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 18 01/08/2012 15:16:0501/08/2012 15:16:05 A INTERAÇÃO LEITOR/ ESCRITOR - TEXTO/ CONTEXTO: A FUNÇÃO SOCIAL DA LEITURA E ESCRITA Ao fi nal desta Unidade, o/a aluno/a será capaz de: Identifi car as relações possíveis e necessárias entre o texto e seu mundo, bem como as estratégias de leitura propostas pela hermenêutica fi losófi ca. Compreender criticamente a leitura como elemento de construção e intervenção sobre a realidade, destacando assim sua função social. Prof. PHD Alessandro Rocha 1ª unidade PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 19PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 19 01/08/2012 15:16:0601/08/2012 15:16:06 PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 20PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 20 01/08/2012 15:16:0601/08/2012 15:16:06 1 INTRODUÇÃO Nesta unidade vamos mostrar as possibilidades de interação entre leitor/escritor, focando, sobretudo, a relação texto/contexto. A principal intenção será chamar a atenção para a função social da leitura e da escrita. Para tanto percorreremos o seguinte caminho: Introdução às teorias sobre os lugares de sentido. Aqui faremos uma exposição a partir da teoria da literatura sobre os lugares de sentido (autor, texto e leitor). A interação leitor/escritor - texto/contexto. Nesse segundo tópico, privilegiaremos o dístico texto/leitor como sendo os lugares apropriados para uma teoria da leitura e sua devida incidência social. Breve panorama histórico da hermenêutica filosófica e sua compreensão sobre a relação entre texto e leitor. Nesse terceiro tópico, faremos, mesmo que de forma panorâmica, um percurso na hermenêutica filosófica contemporânea naquilo que diz respeito às estratégias de leitura. A função social da leitura. Por último abordaremos a necessidade de superação da leitura em seu aspecto mecânico para salientar sua necessária incidência sobre a vida social. Nesta unidade será criado o fórum: “Lendo e Escrevendo”, que servirá como espaço para a troca das experiências vividas com a leitura e reflexão dos temas abordados. Bom trabalho! Módulo 6 I Volume 4 21UESC A interação leitor/escritor – texto/ contexto: a função social da leitura e escrita 1 U ni da de PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 21PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 21 01/08/2012 15:16:0601/08/2012 15:16:06 Leitura e Produção Textual 2 INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS SOBRE OS LUGARES DE SENTIDO A teoria literária apresenta três lugares de sentido e, por conseguinte, três teorias de interpretação: o autor – ou a intentio auctoris, a intenção do autor; o texto – ou a intentio operis, a intenção da obra; o leitor – ou a intentio lectoris, a intenção do leitor. A pergunta metodológica da teoria literária ou do critério literário para a leitura é: onde está fundamentado o sentido? Na intenção do autor? Na intenção do texto? Ou na intenção do leitor? O debate acerca dos lugares de sentido foi bem sintetizado por Umberto Eco. Sua obra deixa transparecer uma mudança de posição com o passar do tempo. Contudo, mesmo com essa variação – e quem sabe exatamente por causa dela – sua obra apresenta bem a importância da temática para o universo da teoria literária. 1.1 Intenção do autor Na intentio auctoris o lugar de sentido é o autor. Ler é, portanto, conversar com o autor do texto, é alcançar seu pensamento original. O autor é uma espécie de professor ausente do qual se deve apreender a ideia central e seus argumentos, a fim de identificar a intenção original do texto por ele escrito. Os pressupostos vinculados ao centro da intentio auctoris como sede do sentido hermenêutico são os seguintes: o autor tem uma formulação para transmitir que responde a fundamentos intrínsecos à razão ou aos seus próprios interesses. O autor se vale de códigos sintáticos e de estrutura semântica para comunicar-se. O processo de leitura, então, segundo a teoria da Dentre as obras de Umber- to Eco que tratam direta ou indiretamente do tema dos lugares de sentido desta- camos as seguintes: ECO, Umberto. Obra aberta: forma e indeter- minações nas poéticas contemporâneas. 9. ed. São Paulo: Perspectiva, 2007. ECO, Umberto. Tratado geral de semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1980. ECO, Umberto. Lector in fabula. A cooperação interpretativa nos textos narrativos. 2. ed. São Pau- lo: Perspectiva, 2004. ECO, Umberto. Os limites da interpretação. 2. ed. São Paulo:Perspectiva, 20 04. ECO, Umberto. Interpre- tação e superinterpre- tação. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. saiba mais 22 EADPedagogia PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 22PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 22 01/08/2012 15:16:0601/08/2012 15:16:06 intenção original do autor, é aquele através do qual, mediante a decifração dos códigos sintáticos e estruturais do texto, chega-se à ideia original do autor, à intentio auctoris. Numa palavra, pressupõe-se que o autor consiga transmiti-la através do texto que escreve, não só porque está capacitado a pensar e comunicá-la de forma escrita, mas também pela pressuposição fundamental de que a intentio auctoris está disponível e identificável no texto. Nesse caso, o papel do leitor é dominar um conjunto de técnicas e aplicá-las corretamente. Se lhe forem fornecidas as habilidades necessárias, e se dispuser dos instrumentais indispensáveis, o leitor pode alcançar através do texto a intenção do autor e aí o sentido último do próprio texto. O desafio do leitor é decodificar a sintaxe e a estrutura textuais para tocar com dedos e mente a intentio auctoris. 1.2 Intenção do texto Na intentio Operis o lugar de sentido é o texto. A teoria da intenção do texto como sede do sentido hermenêutico ameaça a intentio auctoris. A teoria da intentio operis como o lugar de sentido declara que o autor é um ser morto. Dessa forma o texto é uma obra autônoma, independente, daí poder falar da intentio operis. Tão logo o autor termine sua última linha, o texto conquista inexorável liberdade. Dizer que o texto se torna ou é uma obra autônoma significa dizer que o texto é mais do que o seu autor poderia desejar, e é também dizer que o autor não tem nenhum controle sobre seu próprio texto. Na intentio Operis afirma-se que o texto é polissêmico. A polissemia consiste na capacidade de o texto sustentar diversos sentidos possíveis e válidos. Um texto jamais é unívoco, antes, sustenta inúmeras possibilidades de sentido e discurso. Nesse caso a leitura consiste no encontro plural Módulo 6 I Volume 4 23UESC A interação leitor/escritor – texto/ contexto: a função social da leitura e escrita 1 U ni da de PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 23PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 23 01/08/2012 15:16:0601/08/2012 15:16:06 Leitura e Produção Textual entre leitor e texto. O texto emancipou-se, e o leitor não precisa da presença do autor. O texto, por si só, carrega sentido suficiente para manter viva a relação com o leitor, e de controlá-lo em sua prática interpretativa. “Ninguém mais do que eu é favorável a que se abram as leituras, mas o problema continua sendo o de estabelecer o que é mister proteger para abrir, não o que é mister abrir para proteger”. (ECO, Umberto. Os limites da interpretação. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2004, p. 11). 1.3 Intenção do leitor Na intentio lectoris o lugar de sentido é o leitor. A pressuposição da intentio lectoris é a de que nem o autor, nem o texto controlam a situação: é o leitor que determina o sentido. A instância metafísica intangível chamada intenção do autor desaparece quando o texto torna-se texto. O texto pode ter centenas de sentidos possíveis, mas o leitor só terá os olhos para um deles, aquele que estiver inexoravelmente relacionado com seu mundo. Leitura, para a intentio lectoris é o processo de o leitor produzir sentido a partir do texto. Enquanto a intentio auctoris pressupõe a exegese (tirar do texto) como método de leitura, a intentio lectoris afirma e eisegese (levar de fora para o texto), sem com isso desprezar a exegese. No primeiro caso, a ênfase está em tirar do texto o sentido representativo da intenção do autor. No segundo, a ênfase está na percepção que quem lê o faz a partir de seu mundo, sendo assim toda leitura é marcada pela realidade do leitor que ao ler “se lê no texto”. Esta seria a invariável dimensão hermenêutica da realidade. Intenção do autor – Na intentio auctoris, o lugar de sentido é o autor. Intenção do texto – Na intentio operis, o lugar de sentido é o texto. Intenção do leitor – Na intentio lectoris, o lugar de sentido é o leitor. saiba mais 24 EADPedagogia PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 24PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 24 01/08/2012 15:16:0601/08/2012 15:16:06 3 A INTERAÇÃO LEITOR/ESCRITOR - TEXTO/ CONTEXTO Figura 1.1 - Interação Leitor - Escritor. Fonte: http://rogerandmore.deviantart.com/art/keep- on-reading-151817544?q=boost%3Apopular%20reading&qo=990 Ao tratarmos da relação leitor-texto focaremos a necessária relação entre texto e contexto na atividade da leitura. Pensando a leitura para além de sua atividade mecânica, ler um texto é uma ação política, psicológica, existencial etc. Isso tudo porque quem lê o faz a partir de seu próprio lugar, e isso faz com que o leitor esteja implicado na leitura, que o contexto esteja presente no texto lido. Lembremos, a leitura depende dos olhos que temos e do chão em que pisamos. Por isso faremos o caminho da hermenêutica para compreender tais relações. No âmbito da hermenêutica, é possível afirmar a relação leitor/texto como constitutiva de sentido. Em outras palavras, na hermenêutica é possível trazer a lume o olhar “adiante do texto”. A adesão à hermenêutica surge da convicção de que o texto literário não pode ser um depósito fechado que já disse tudo. Antes, é um texto que diz. Manter a tensão entre o sentido fixado e o sentido por vir é fundamental para afirmar a relação Hermenêutica é um ramo da fi losofi a que es- tuda a teoria da interpre- tação, que pode referir-se tanto à arte da interpre- tação, ou à teoria e ao treino de interpretação. A hermenêutica fi losófi ca refere-se principalmente à teoria do conhecimen- to, enfatizando, sobretudo seu caráter interpretativo. você sabia? Módulo 6 I Volume 4 25UESC A interação leitor/escritor – texto/ contexto: a função social da leitura e escrita 1 U ni da de PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 25PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 25 01/08/2012 15:16:0601/08/2012 15:16:06 Leitura e Produção Textual necessária entre o leitor e o escritor, entre o texto e o contexto. A hermenêutica permite afirmar a necessidade de interpretação que, por sua vez, exige a percepção que aquele que interpreta o faz a partir de uma pré-compreensão surgida de seu próprio contexto vital. Sendo assim fica claro que o processo contínuo de leituras constitui um crescer de sentido do texto interpretado. Esse processo só é possível porque há uma interação entre leitor e texto, onde o primeiro participa com sua própria história, sem que isso constitua mera ideologia, exatamente porque o segundo guarda em sua constituição uma “reserva de sentido”. Essa é propriamente a dinâmica simbólica que constitui o ato hermenêutico: o símbolo acontece quando duas partes se encontram revelando o sentido possível que tangencia certa realidade. Numa perspectiva filosófica, a condição hermenêutica da realidade tem uma história no pensamento do Ocidente. 4 BREVE PANORAMA HISTÓRICO DA HERMENÊUTICA FILOSÓFICA E SUA COMPREENSÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE TEXTO E LEITOR Muitos pensadores têm discutido a questão da hermenêutica e suas pesquisas vieram fertilizar o terreno da hermenêutica filosófica que se desenvolveu no decorrer do século XX, que tem em nomes como Paul Ricoeur um dos pilares dessa discussão a partir de obras como O Conflito das interpretações, ..... .(O autor não fez complementações. A minha sugestão é: retirar as reticências, colocar ponto após a palavra interpretações.) Entre os nomes de destaque nessa área do conhecimento selecionamos aqueles que deram os fundamentospara as pesquisas que posteriormente leitura complementar leitura complementar Para melhor compreensão da hermenêutica, consul- tar texto de Alessandro Rocha in: http://www.praler. catedra.puc-rio.br/Pages/ Conceitos.aspx LER – Leitura em Re- vista é uma revista in- terdisciplinar de estudos avançados em leitura com publicação semestral, em versão eletrônica, da Cá- tedra UNESCO de Leitura PUC-Rio. Tem como obje- tivo divulgar textos origi- nais sobre o eixo temático da leitura que privilegiem pesquisas de natureza predominantemente qua- litativas, a fi m de contri- buir para o desenvolvi- mento de estudos sobre leitura numa perspectiva crítica, transformadora e interdisciplinar. Conheça LER – Leitura em Revista, acessando o site: http://www. catedra.puc-rio.br/portal/ formacao/publicacoes/ revista_digital 26 EADPedagogia PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 26PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 26 01/08/2012 15:16:0801/08/2012 15:16:08 se desenvolveram: Friedrich Schleiermacher, Wilhelm Dilthey, Martin Heidegger e Hans Georg Gadamer. A seguir são apresentados alguns conceitos defendidos por estes filósofos, mostrando a variedade de abordagens pelas quais se pode refletir sobre o tema. 4.1 Friedrich Schleiermacher Friedrich Schleiermacher é considerado o pai da hermenêutica moderna. Para ele a compreensão é um processo de reconstrução, “é a arte de voltar de novo a experimentar os processos mentais do autor do texto” (1999, p. 93). Uma autêntica interpretação é, portanto, a capacidade de sentir-com, de com-penetrar-se, de sin- tonizar, de entrar na vida daquela realidade que queremos compreender. O método de F. Schleiermacher implica uma análise filosófica das condições que tornam possível o entendimento. Seus pressupostos básicos determinam que, para compreender uma obra, temos que reconstruí- la rastreando o processo pelo qual ela veio a existir (1999, 93). 4.2 Wilhelm Dilthey Depois de F. Schleiermacher, foi Wilhelm Dilthey quem continuou o projeto de desenvolver uma hermenêutica geral. W. Dilthey tinha como objetivo apresentar um método capaz de alcançar de forma válida e objetiva as “expressões da vida interior”. Seus esforços o distinguiram das abordagens científicas que caracterizavam as ciências naturais com seu objetivismo histórico. Figura 1.2 - Friedrich Schleiermacher. Fonte: http:// upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/4/4a/Daniel_friedrich_ schleiermacher.jpg Figura 1.3 - Wilhelm Dilthey. Fonte: http://upload.wikimedia. org/wikipedia/commons/d/df/ Dilthey1-4.jpg saiba mais Para um aprofundamen- to na crítica de W. Dilthey ao objetivismo histórico do século XIX ver: BLEICHER, Josef. Hermenêutica con- temporânea. Lisboa. Edi- ções 70, 1980. p. 34-39. Módulo 6 I Volume 4 27UESC A interação leitor/escritor – texto/ contexto: a função social da leitura e escrita 1 U ni da de PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 27PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 27 01/08/2012 15:16:0801/08/2012 15:16:08 Leitura e Produção Textual Às ciências naturais, bem como à sua epistemologia, W. Dilthey contrapôs o que viria a se chamar ciências do espírito, ou ciências humanas (Geisteswissenschaften). Nestas últimas “os processos de compreensão e interpretação permanecem sendo a base” (DILTHEY, 1999, p. 12). A distinção que W. Dilthey fez entre ciências naturais e ciências humanas se constitui o centro de sua teoria hermenêutica, bem como de toda a hermenêutica filosófica que se desenvolveu ao longo do século XX. Para ele, as ciências da natureza são ciências da explicação, enquanto as ciências humanas são ciências da compreensão. A compreensão, diferentemente da suposta objetividade da explicação, exige uma relação de subjetividades – do intérprete e do interpretado –, uma intersubjetividade. Compreender é com-preender. Uma ação que só se faz em dinâmica de partilha, que, se realizada em maior ou menor grau, incide diretamente na intensidade do compreendido. A este propósito, W. Dilthey (1999) afirma o seguinte: O compreender mostra graus diversos. Estes são em primeiro lugar determinados pelo interesse. Se o interesse é limitado, então também a compreensão o é. Quão impacientemente ouvimos algumas dis- cussões, delas apenas registramos algum ponto importante para nossa prática, sem ter interesse na vida interior da pessoa que fala. Em outros casos, pelo contrário, bus- camos com esforço penetrar o interior da pessoa que fala através de cada feição de seu rosto e de cada palavra. Tal compre- ender [...] de expressões vivenciais fixadas [...] nós denominamos interpretação (p. 13-1). A natureza é explicada, mas a vida espiritual é compreendida numa dinâmica interpretativa. Isso se dá – no caso da hermenêutica de W. Dilthey – na interpretação dos restos da existência humana preservados na escrita. 28 EADPedagogia PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 28PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 28 01/08/2012 15:16:0801/08/2012 15:16:08 Este voltar-se para o espírito conduz W. Dilthey a uma denúncia do racionalismo moderno e sua dependência do método, onde o caminho para a verdade é sempre determinado objetivamente, sendo o papel do cientista a explicação isenta de realidades objetivas. O compreender coloca o saber diante de princípios indeterminados próprios da dimensão do espírito, em suma, da própria vida e sua dinâmica. A experiência constitui-se o espaço concreto do saber e, a leitura não pode prescindir disso, o leitor e todo o seu contexto precisam estar conscientes diante do texto lido. 4.3 Martin Heidegger Martin Heidegger levará o projeto hermenêutico de W. Dilthey a outro nível de desenvolvimento. Para ele ser homem – essa pre-sença no mundo – significa compreender. A compreensão tem em si a estrutura existencial que M. Heidegger chama de projeto. (HEIDEGGER, 2000. p. 200). Na compreensão o ser humano realiza-se como tal. Exatamente por isso podemos dizer que o ser humano, como ser de compreensão e, portanto, hermenêutico, é ser de projeto, ou melhor, é ser em projeto. Uma das expressões mais importantes do léxico do pensamente Heideggeriano é a que se refere ao ser-no-mundo: Dasein. Isso coloca a questão da interação do leitor com o texto no nível mais importante das discussões sobre leitura. O leitor, somente à medida que desenvolve compreensão sobre o mundo e o texto lido, torna-se ser realizando sua vocação. A leitura é, portanto, o caminho de construção do ser, mas isso somente quando ela não é um simples exercício mecânico, mas uma ação que envolve seu contexto, ou seja, sua história. Figura 1.4 - Heidegger. Fonte: http://upload.wikimedia.org/ wikipedia/en/8/84/Martin_ Heidegger.jpg Módulo 6 I Volume 4 29UESC A interação leitor/escritor – texto/ contexto: a função social da leitura e escrita 1 U ni da de PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 29PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 29 01/08/2012 15:16:0801/08/2012 15:16:08 Leitura e Produção Textual Nesse sentido, para M. Heidegger, a questão fundamental da hermenêutica não é tanto a aquisição de novos conhecimentos, mas antes de o mundo, que foi já compreendido, vir a ser interpretado. “A interpretação não é só uma derivação da compreensão fundamental, como é também dirigida por esta última, no que se refere ao para quê que constitui a estrutura de algo como algo” (BLEICHER, 1980, p. 142). 4.4 Hans Georg Gadamer Um momento especial da hermenêutica filosófica é protagonizado pelo discípulo de M. Heidegger, Hans Georg Gadamer. Para Gadamer, toda compreensão parte de uma pré-compreensão – um pré-conceito – que na verdade não é mais do que compreensão de si mesmo enquanto ser-no-mundo. Afirmar o pré de todo o conceito e julgamento significa localizarambos na dimensão da história, ou seja, de de-limitá-los. Todo o conceito e julgamento significa localizar ambos na dimensão da história, ou seja, de de-limitá-los. Para Gadamer, os preconceitos convivem dialogicamente no interior do texto/acontecimento e em sua interpretação. Portanto a melhor forma de evidenciar as pré-compreensões arbitrárias é reconhecer a pré-compreensão com o inerente ao processo de interpretação. Para ele, “querer evitar os próprios conceitos na interpretação não é somente impossível, mas é também um absurdo evidente. Interpretar significa justamente colocar em jogo os próprios conceitos prévios, com a finalidade de que a intenção do texto seja realmente trazida à fala para nós” (GADAMER, 2002. p. 578). Segundo Michael Inwood: Certas palavras alemãs pare- cem signifi car tudo. Uma des- tas palavras é da. Ela signifi ca “lá” (lá vão eles) e “aí” (aí vêm eles), assim como “então”, “desde” etc. Como prefi xo de sein, “ser”, ela forma Dasein, “ser aí, presente, disponível, existir” [...] Como infi nitivo substantivado, Dasein não tem plural. Refere-se a todo e qualquer ser humano [...] re- fere-se a qualquer e todo SER [...] Dasein está essencial- mente no mundo e ilumina a si mesmo e ao mundo. “aí (das Da)” é o espaço que abre e ilu- mina: O ‘aí (das ‘da’) não é um lugar que contrasta com ‘lá’ (‘dort’); Da-sein signifi ca não estar aqui em vez de lá, nem mesmo estar aqui ou lá, mas é a possibilidade, a condição de ser orientado por um estar aqui e estar lá [...] Da-sein signifi ca às vezes não “estar- aí”, mas “aí onde o ser reside”, quando ele chega: Este onde como o aí da morada pertence ao próprio ser, é o próprio ser, sendo assim, chama Da-sein. INWOOD, Michael. Dicionário Heidegger. Rio de Janeiro: JZE, 2002. p. 29. Figura 1.5 - Gadamer. Fonte: http:// www.realmagick.com/hans-georg- gadamer-quotes/ saiba mais 30 EADPedagogia PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 30PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 30 01/08/2012 15:16:0801/08/2012 15:16:08 É preciso reconhecer a relação dialógica entre intérprete e texto; dialética entre pergunta e resposta; abertura à tradição. Desta compreensão da historicidade do ser surge a relação dialógica que se efetua pela linguagem através da tradição. (2002, p. 557-709). H. G. Gadamer dedica a terceira parte da obra Verdade e Método à discussão da importância da linguagem para a hermenêutica. (GADAMER, Hans-Georg. Op Cit. p. 557-709). Perceber seu próprio horizonte e também o do texto com que se está lidando é fruto dessa dialogicidade. Nesse momento hermenêutico ocorre tanto a percepção de horizontes – o do texto e seu mundo e do leitor e seu mundo –, como a relação de ambos pela intensificação do processo dialógico, o que H. G. Gadamer chamou de fusão de horizontes. Para ele, “o horizonte do presente não se forma, pois, à margem do passado. Nem mesmo existe um horizonte do presente por si mesmo [...] compreender é sempre o processo de fusão desses horizontes” (2002, p. 457). Nesse sentido, compreender é tarefa que só se realiza no encontro dos horizontes do passado (do atrás do texto) com o presente (o diante do texto). A relação autor-texto abre-se ao protagonismo de homens e mulheres que aqui e agora identificam suas histórias com aquelas fixadas em certas textualidades. Não há, portanto, um sentido dado desde sempre habitando um não lugar, mas, antes, a única possibilidade de afirmá-lo no chão concreto onde homens e mulheres pisam e constroem suas histórias. Nesse processo que H. G. Gadamer chama de fusão de horizontes, ocorre o intercâmbio de significados possibilitando a compreensão. Módulo 6 I Volume 4 31UESC A interação leitor/escritor – texto/ contexto: a função social da leitura e escrita 1 U ni da de PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 31PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 31 01/08/2012 15:16:0801/08/2012 15:16:08 Leitura e Produção Textual 5 A FUNÇÃO SOCIAL DA LEITURA Figura 1.6 - Função Social da Leitura. Fonte: http://fc07.deviantart.net/fs7/i/2005/244/d/1/ reading_my_book_by_theresap.jpg A leitura não pode ser somente um ato mecânico. Na perspectiva hermenêutica onde texto e leitor (ou ainda texto e contexto) se implicam mutuamente na geração de sentido, a função social da leitura torna-se evidente. Ler não é uma atitude passiva de pura fruição, antes é uma intervenção sobre o mundo, tanto aquele mais imediato que me circunda, quanto ao mundo mais extenso que compõe a sociedade enquanto tal. Nesse sentido, o tema da leitura não se circunscreve só à educação, mas ao político, social, histórico etc. Está ligada a uma inserção do indivíduo na sociedade letrada, o que lhe dá um status diferenciado. Saber ler (o texto e seu contexto), pois não diferencia apenas os alfabetizados dos analfabetos, mas é senha para entrada no seleto mundo da escrita, que se constitui, ainda hoje, em lugar privilegiado do conhecimento (Cf. FREIRE, 2003). Não deixando de valorizar essa dimensão política do ato da leitura, queremos aqui focar o ato humanizante da 32 EADPedagogia PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 32PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 32 01/08/2012 15:16:0801/08/2012 15:16:08 leitura. Dizer que a leitura humaniza significa que ela insere a pessoa numa dinâmica mais integradora do ser. A leitura, sobretudo a leitura literária, permite ao humano ser pleno. À medida que se entra em contato com o universo literário, o eu é mais plenamente percebido, inclusive em toda a sua potencialidade de transcendência, exatamente porque ele entra no mundo de um outro. Ler é criar e habitar outros mundos possíveis. Além disso, a literatura desatrofia dimensões do humano que nenhum outro tipo de leitura pode fazer (Cf. YUNES, 2009, p. 30-31). Por exemplo, observemos o que nos diz a poesia de Alberto Caeiro: Procuro dizer o que sinto Sem pensar em que o sinto. Procuro encostar as palavras à idéia E não precisar dum corredor Do pensamento para as palavras. Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir. O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar. Procuro despir-me do que aprendi, Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras, Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro, Mas um animal humano que a Natureza produziu. E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem, Mas como quem sente a Natureza, e mais nada. E assim escrevo, ora bem ora mal, Ora acertando com o que quero dizer ora errando, Módulo 6 I Volume 4 33UESC A interação leitor/escritor – texto/ contexto: a função social da leitura e escrita 1 U ni da de PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 33PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 33 01/08/2012 15:16:1001/08/2012 15:16:10 Leitura e Produção Textual Caindo aqui, levantando-me acolá, Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso. (Alberto Caeiro – O guardador de rebanhos) Desatrofiar os sentidos é estar capacitado para um processo educacional onde todo o ser está em jogo, não somente um ou outro aspecto. Isso constitui a função social da leitura. A leitura literária, bem como a escrita, são os caminhos por excelência para essa “fisioterapia da alma”. Nela encontramos a senda para o vasto universo da experiência. Walter Benjamin, escrevendo sobre a ausência desse tipo de experiências, compara-a com a metáfora do vidro, um material novo e cada vez mais utilizado. Ele se refere nos seguintes termos: “não é por acaso que o vidro é um material tão duro e tão liso, no qual nada se fixa. É também um material frio e sóbrio. As coisas de vidro não têmnenhuma aura. O vidro é em geral o inimigo do mistério” (BENJAMIN, 1996, p. 117). Numa dependência exclusiva do cognitivo e da técnica, a pessoa não consegue mais ser “tocada” pela leitura: a praticidade, preferida agora pela maioria das pessoas, modifica profundamente a relação entre o sujeito e o mundo que o cerca. A leitura literária e a escrita (que em todo o caso indica uma atuação sobre o mundo como sujeito do processo) têm a condição de nos colocar mais uma vez nus diante da condição humana e do mundo que nos envolve. Nesse sentido, a leitura é mais do que decifração de signos, ela é um acesso ao mundo. Nessa mesma intenção, A. B. Buoro exemplifica e enumera os diferentes tipos de leitores e os diferentes textos lidos: Os leitores de livro [...] ampliam ou con- centram uma função comum a todos nós. 34 EADPedagogia PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 34PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 34 01/08/2012 15:16:1001/08/2012 15:16:10 Ler as letras de uma página é apenas um de seus poucos disfarces. O astrônomo lendo um mapa de estrelas que não existem mais; [...] o zoólogo lendo os rastros de animais na floresta; o jogador lendo os gestos do parceiro antes de jogar a carta vencedora; [...] o tecelão lendo o desenho intrincado de um tapete sendo tecido; o organista lendo várias linhas musicais simultâneas orquestradas na página; os pais lendo no rosto do bebê sinais de alegria, medo ou admiração [...] – todos eles compartilham com os leitores de livros a arte de decifrar e traduzir signos (2002, p. 15). A literatura oferece uma iniciação ao ato de ler, ler o texto é uma escola para ler o mundo. Leitura do texto e leitura do mundo são dinâmicas que se reclamam mutuamente: lendo o texto lemos o mundo e, lendo o mundo, somos devolvidos transformados ao texto. Figura 1.7 - O ato de ler. Fonte: http://fc01.deviantart.net/fs14/f/2007/062/1/5/Olde_Books_by_ Satanarchist.jpg O ato de ler é, portanto, a condição primeira, além de instrumento principal, para a aquisição de outros conhecimentos. Uma formação que passe pela leitura de Módulo 6 I Volume 4 35UESC A interação leitor/escritor – texto/ contexto: a função social da leitura e escrita 1 U ni da de PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 35PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 35 01/08/2012 15:16:1001/08/2012 15:16:10 Leitura e Produção Textual textos literários não será somente uma formação mais culta, mas outra formação. Outra porque foi tocada definitivamente por certa visão de mundo onde as dimensões da existência reclamam articulação. ATIVIDADES As questões que se seguem têm como finalidade apurar e aprofundar as reflexões propostas nos textos que compõem esta unidade e podem ser discutidas no Fórum: “Lendo e escrevendo”, antes de serem respondidas e entregues ao tutor, que estará disponível para esclarecer qualquer dúvida. 1. Reflita sobre as leituras oferecidas nesta unidade e discuta a possibilidade de o contexto interferir na leitura de textos. 2. Comente sobre o conceito de leitura que se extrai desses textos. 3. Como os textos podem nos ajudar na leitura do mundo? 4. Fale sobre a função social da leitura e da escrita. 5. Com o auxílio dos textos e de pesquisas em livros e/ou internet descreva o que é fusão de horizontes (Tese de Gadamer) e como ela auxilia na função social de leitura. 6. Fale da função política da leitura. 7. Qual é a importância da Literatura na formação do leitor? 8. Ainda com apoio nos textos lidos, discuta a leitura como experiência existencial. ATIVIDADES 36 EADPedagogia PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 36PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 36 01/08/2012 15:16:1101/08/2012 15:16:11 RESUMindo A leitura é uma experiência que envolve a necessidade de interpretação. Aquele que interpreta o faz a partir de uma pré-compreensão surgida de seu próprio contexto vital, ou seja, quem interpreta o que lê, o faz a partir do próprio repertório, das próprias experiências de vida. Essa interação, porém, só é possível porque o texto guarda em sua constituição uma reserva de sentido. A hermenêutica filosófica permite afirmar que esta relação em que leitor e texto interagem é constitutiva de sentido e que o texto literário é um texto que diz, ou seja, existe sempre um possível sentido por vir. O texto literário não pode ser entendido como um depósito fechado. Existem outras possíveis leituras. Quem lê um texto, o faz a partir do seu próprio lugar e isso faz com que o leitor esteja implicado na leitura, que o contexto esteja presente no texto lido. A interação do leitor com o texto coloca-se, portanto, no nível mais importante das discussões sobre a leitura porque é nesta relação que se dá a constituição do ser, a possibilidade de intervenção sobre o mundo e de construção da própria história. A leitura do texto e do mundo são dinâmicas que se reclamam mutuamente: lendo o texto lemos o mundo e, lendo o mundo, somos devolvidos transformados ao texto. RESUMINDO Módulo 6 I Volume 4 37UESC A interação leitor/escritor – texto/ contexto: a função social da leitura e escrita 1 U ni da de PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 37PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 37 01/08/2012 15:16:1101/08/2012 15:16:11 Leitura e Produção Textual REFERÊNCIAS BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet, 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1996 (Obras Escolhidas. v. 1, p.117). BLEICHER, Josef. Hermenêutica contemporânea. Lisboa. Edições 70, 1980. DILTHEY, Wilhelm. O surgimento da hermenêutica. In Numem. Revista de estudos e pesquisa da religião, 2, 1999/1. ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. ____________. Obra aberta: forma e indeterminações nas poéticas contemporâneas. 9. ed. São Paulo: Perspectiva, 2007. ____________. Tratado geral de semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1980. ____________. Lector in fabula. A cooperação interpretativa nos textos narrativos. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2004. ____________. Os limites da interpretação. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2004. ____________. Interpretação e superinterpretação. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos REFERÊNCIAS REREREREREREREEREREREREREREREREREREEFEFEFEFEFEFEFEFEFFF RRRRRR 38 EADPedagogia PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 38PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 38 01/08/2012 15:16:1101/08/2012 15:16:11 que se completam. 44. ed. São Paulo: Cortez, 2003. YUNES, Eliana. Tecendo um leitor. Uma rede de fios cruzados. Curitiba: Aymará, 2009. GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método. Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. v. 1. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2000. INWOOD. Michael. Dicionário Heidegger. Rio de Janeiro: JZE, 2002. PALMER, Richard E. Hermenêutica. Lisboa: Edições 70, 1990. ROCHA, Alessandro. Teologia, hermenêutica e Teoria Literária. Disponível em <http://www.maxwell.lambda. ele.puc-rio.br/17727>. SCHLEIERMACHER, Friedrich. Hermenêutica. Arte e técnica da interpretação. Petrópolis: Vozes, 1999. VATTIMO, Gianni. Schleiermacher filosofo dell’interpretazione. Milano: Mursia, 1967. Módulo 6 I Volume 4 39UESC A interação leitor/escritor – texto/ contexto: a função social da leitura e escrita 1 U ni da de PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 39PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 39 01/08/2012 15:16:1101/08/2012 15:16:11 Suas anotações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 40PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 40 01/08/2012 15:16:1101/08/2012 15:16:11 Ao fi nal desta Unidade, o/a aluno/a será capaz de: Identifi car as relações possíveis e necessárias entre o texto e seu mundo, bem como as estratégias de leitura propostas pela hermenêutica fi losófi ca. Compreender criticamente a leitura como elemento de construção e intervenção sobre a realidade, destacando assim sua função social. Profª. PHD Stella Pellegrini 2ª unidade LEITURA E ESCOLA: CULTURA, PODER E CONVIVÊNCIA SOCIAL PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 41PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 41 01/08/2012 15:16:1101/08/2012 15:16:11 PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 42PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 42 01/08/2012 15:16:1101/08/201215:16:11 1 INTRODUÇÃO Esta unidade propõe uma reflexão crítica sobre um tema que tem se configurado um desafio em nosso país: o acesso do povo à educação. Pensar esta questão exige que nos debrucemos sobre a história da educação no Brasil nos últimos cento e vinte anos, ou seja, a partir da instauração da República, quando o projeto educacional para a instituição de uma escola democrática, gratuita e laica passa a dar suporte ao ideal de construir a Nação. No percurso proposto, vamos descortinando o caráter eminentemente político da educação e a importância da leitura nesse processo, por favorecer o acesso ao conhecimento. Questões como cidadania, direito à educação de qualidade, função da escola na formação do leitor, relações entre leitura e escola, leitura e poder, leitura transcendendo os muros da escola são revisitadas à luz de uma perspectiva que vê a leitura como “experiência de se pensar pensando o mundo” (YUNES, 2002). Nesta unidade será criado, ainda, o “Fórum de Leitura”, que servirá como espaço para a troca das experiências vividas com a leitura e reflexão dos temas abordados. Bom trabalho! 2 LEITURA E CIDADANIA No Brasil, por muitas gerações, a capacidade leitora tem distinguido a população entre cidadãos e não cidadãos. Rui Barbosa, relator da Comissão de Instrução Pública Módulo 6 I Volume 4 43UESC Leitura e Escola: cultura, poder e convivência social 2 U ni da de PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 43PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 43 01/08/2012 15:16:1101/08/2012 15:16:11 Leitura e Produção Textual e responsável pela elaboração de um projeto de reforma educacional em 1882, assim se posicionou sobre o tema, no final do século XIX, quando da Reforma Eleitoral. “A leitura é quem forma o cidadão, o homem civilizado, o homem moderno. Como ler é o meio de aprender, infere- se que onde está o instrumento aquisitivo da capacidade aí está a capacidade”. Esta posição é referendada através da Constituição da República de 1891, que nega aos analfabetos (sem renda significativa) o direito ao voto, e que será mantida nessa perspectiva até 1988. A Constituição de 1988, promulgada e denominada “Constituição Cidadã” em virtude do viés socializante de muitas de suas determinações e da participação popular na discussão de algumas questões fundamentais, garante, entre outros direitos, o voto para os analfabetos, a terra com função social, o combate ao racismo, e os direitos básicos, como educação, saúde, lazer e previdência social. Ainda que atendendo a reivindicações do povo, o fato de constarem da Constituição não garante a possibilidade de usufruir plenamente desses direitos. Para que efetivamente sejam respeitados, é necessário que a sociedade se mobilize, o que ocorre normalmente em países que têm uma sólida experiência de respeito às leis e em que existem canais de interlocução a possibilitar o diálogo. Figura 2.1 - A leitura. Fonte: http://fc06.deviantart.net/fs70/f/2011/133/0/5/reading_time_by_ the_golden_princess-d3g8rum.jpg 44 EADPedagogia PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 44PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 44 01/08/2012 15:16:1201/08/2012 15:16:12 Revendo o Anuário Estatístico Brasileiro de 1995, observa-se que a taxa de alfabetizados, no país, em 1930, era de 35%, entre os maiores de 15 anos. Na mesma faixa etária, segundo dados do PNAD/IBGE, 2005, registram-se 17,4% de analfabetos na Região Nordeste, que concentra 57,6% dos 14.529.616 analfabetos do Brasil. Considere-se que, destes dados, excluiu-se a população rural da Região Norte para a devida compatibilização com a série histórica, conforme alerta o documento, e que a condição de alfabetizado para o IBGE é garantida, atualmente, pela habilidade de escrever um bilhete simples. Analisando estes dados, observa-se que, decorrido mais de um século, a formação de uma sociedade leitora permanece, ainda hoje, como um grande impasse para a construção de uma nação justa, onde todos tenham acesso às mesmas oportunidades, como se impõe numa democracia. Dessa forma, temas discutidos desde o início do período republicano insistem em nos cobrar soluções, principalmente na qualidade de cidadãos, por meio de perguntas absurdamente simples, entretanto pateticamente incômodas, diante do conformismo que se vai consolidando na sociedade. Por que a leitura ainda representa uma barreira para grande parte dos brasileiros? Qual é a responsabilidade da escola, local “autorizado” de construção do conhecimento e de aquisição da leitura, quando se mostra incapaz de formar leitores? Na última década, com o desenvolvimento tecnológico, convivemos com outras linguagens. Que benefícios as novas tecnologias educacionais trouxeram para impulsionar a formação de leitores? Nas avaliações nacionais e internacionais, os resultados do desempenho em leitura revelam índices preocupantes, apesar das políticas públicas implementadas no setor. O que é preciso modificar nessas políticas para que obtenham êxito? Identificando o viés político que subjaz a exclusão Módulo 6 I Volume 4 45UESC Leitura e Escola: cultura, poder e convivência social 2 U ni da de PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 45PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 45 01/08/2012 15:16:1301/08/2012 15:16:13 Leitura e Produção Textual social, a impedir que grande contingente da sociedade tenha garantido seu acesso aos bens culturais, entre os quais o acesso à leitura, muitos movimentos surgiram, no país, em especial a partir da década de 1960. Fundamentavam-se na certeza de que só o “empenho de ampliar ao máximo, a participação responsável de todos e todas pode[ria] gestar um mundo de paz, colaboração e justiça” (LINHARES: 2002, p. 85). Entre estes movimentos mais relevantes temos os CPCs – Centros Populares de Cultura, que se iniciam em 1959, a partir de amplos debates entre “jovens intelectuais e artistas pertencentes ao teatro de Arena” (PAIVA, 1987, p. 237), no Rio de Janeiro. O movimento se estendeu levando espetáculos, exposições e palestras a várias localidades do estado com a intenção de criar Centros de Cultura Popular em cada um dos bairros visitados, mas só se fortaleceu após a criação do CPC da UNE - União Nacional dos Estudantes. Além dos CPCs, iniciam-se, também, no país, os Movimentos de Cultura Popular (MCP), estes dependentes do poder público. O primeiro foi criado em 1960, por estudantes universitários, artistas e intelectuais que desenvolveram suas ações inicialmente em Recife, para combater o analfabetismo. Seu principal participante e colaborador foi Paulo Freire. Após uma década de experiências na área da alfabetização de adultos, em Recife, Paulo Freire cria um método que, em sua simplicidade, traz para a educação novas perspectivas, em especial um olhar mais sensível no respeito à alteridade. Outro aspecto relevante dessa experiência é a pesquisa do universo vocabular dos envolvidos no processo de alfabetização, de modo que o acesso à leitura acontecesse com a imersão na realidade vivida no cotidiano. A partir de palavras geradoras imbuídas de vida, abria-se o espaço para que se enunciassem, refletissem e se apropriassem, então, dos recursos para transformar aquela realidade. 46 EADPedagogia PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 46PEDAGOGIA - MOD 6 - VOL 4 - leitura e produção de texto.indd 46 01/08/2012 15:16:1301/08/2012 15:16:13 Essa perspectiva que amplia o conceito de leitura, não se restringindo à leitura escolarizada, à leitura do texto escrito, mas respeitando o saber do outro e entendendo que aqueles homens e mulheres traziam outro repertório, outra leitura, “a leitura de mundo”, vai fertilizar os estudos sobre o tema e indicar novos rumos posteriormente. O âmbito das ações
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