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PEDAGOGIA EDUCAÇÃO, LUDICIDADE E CORPOREIDADE C M Y CM MY CY CMY K Universidade Estadual de Santa Cruz Reitor Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos Vice-reitora Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro Pró-reitora de Graduação Profª. Flávia Azevedo de Mattos Moura Costa Diretora do Departamento de Ciências da Educação Profª. Raimunda Alves Moreira Assis Ministério da Educação Ficha Catalográfica E24 Educação, ludicidade e corporeidade: pedagogia: módulo 4, volume 4 – EAD, / Elaboração de conteúdo: Daniele Nunes Henrique Silva. – [Ilhéus, BA]: EDITUS, [2011]. 66 p. : il. ISBN 798-85-7455-259-0 1. Educação. 2. Brincadeiras. 3. Linguagem corporal. 4. Atividades criativas na sala de aula. I. Silva, Daniele Nunes Henrique Silva. II. Pedagogia. CDD 370 Coordenação UAB – UESC Profª. Drª. Maridalva de Souza Penteado Coordenação do Curso de Pedagogia (EAD) Drª. Maria Elizabete Sauza Couto Elaboração de Conteúdo Profª. Drª. Daniele Nunes Henrique Silva Instrucional Design Profª. Msc. Marileide dos Santos de Olivera Profª. Msc. Cibele Cristina Barbosa Costa Profª. Msc. Cláudia Celeste Lima Costa Menezes Revisão Profª. Msc. Sylvia Maria Campos Teixeira Coordenação de Design Profª. Msc. Julianna Nascimento Torezani Diagramação Jamile A. de Mattos Chagouri Ocké João Luiz Cardeal Craveiro Capa Sheylla Tomás Silva Pedagogia EAD . UAB|UESC PARA ORIENTAR SEUS ESTUDOS SAIBA MAIS Aqui você terá acesso a informações que complementam seus estudos a respeito do tema abordado. São apresentados trechos de textos ou indicações que contribuem para o aprofundamento de seus estudos. LEITURA RECOMENDADA Indicação de leituras vinculadas ao conte- údo abordado. PARA CONHECER Aqui você será apresentado a autores e fontes de pesquisa a fim de melhor conhe- cê-los. VOCÊ SABIA? Esses são boxes que trazem curiosidades a respeito da temática abordada. Sumário UNIDADE I CORPO, SAÚDE E EDUCAÇÃO: ASPECTOS CONCEITUAIS 1 INTRODUÇÃO ...........................................................................11 2 A HISTÓRIA DO CORPO ............................................................12 3 O CORPO COMO LINGUAGEM ...................................................15 4 CORPO, SAÚDE E BEM-ESTAR PSICOSSOCIAL: ASPECTOS CONTEMPORÂNEOS .................................................20 5 CORPO NA ESCOLA ...................................................................22 LEITURA NECESSÁRIA ..............................................................24 ATIVIDADES ............................................................................24 RESUMINDO ...........................................................................25 REFERÊNCIAS ..........................................................................26 UNIDADE II A PARTICIPAÇÃO DO CORPO DA CRIANÇA NAS ATIVIDADES CRIADORAS: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL 1 INTRODUÇÃO ...........................................................................29 2 IMAGINAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL .....................30 3 CORPO, IMAGINAÇÃO E LUDICIDADE: FOCALIZANDO AS QUESTÕES PEDAGÓGICAS ..................................................36 4 AS ATIVIDADES CRIADORAS DA CRIANÇA: FAZ-DE-CONTA, NARRATIVA E DESENHO .................................38 LEITURA NECESSÁRIA ..............................................................45 ATIVIDADES.............................................................................45 RESUMINDO .............................................................................46 REFERÊNCIAS ..........................................................................46 UNIDADE III INFÂNCIA E CONTEMPORANEIDADE: MÍDIA, CORPO E ESPAÇO PEDAGÓGICO 1 INTRODUÇÃO ...........................................................................51 2 CONTEMPORANEIDADE E A REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA: LUGAR DE PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADES .............................52 3 INFÂNCIA, MÍDIA E CONTEMPORANEIDADE ............................54 LEITURA NECESSÁRIA ..............................................................60 ATIVIDADES.............................................................................61 RESUMINDO .............................................................................65 REFERÊNCIAS ..........................................................................66 A AUTORA Profª. Drª. Daniele Nunes Henrique Silva Professora do Programa de Pós-Graduação em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde (PG-PDS/ UNB), Universidade de Brasília/Instituto de Psicologia (Departamento de Psicologia Escolar e Desenvolvimento) e pesquisadora vinculada ao Grupo de Pesquisa Pensamento e Linguagem (GPPL/UNICAMP). Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Outubro, 2006). Tem experiência na área de Psicologia da Educação: perspectiva histórico-cultural, com ênfase investigativa nos seguintes temas: psicologia do desenvolvimento humano, infância e cultura, psicologia da arte (funcionamento imaginativo e processos criativos no desenvolvimento), educação inclusiva, processos mediacionais no ensino e na aprendizagem, surdez e outras necessidades especiais educativas. DISCIPLINA EDUCAÇÃO, LUDICIDADE E CORPOREIDADE Paradigmas sobre o estudo da corporeidade humana. O corpo, saúde e bem-estar psicossocial. A corporeidade e a ludicidade na prática educativa de crianças e jovens da escola básica. O corpo na escola: linguagem, movimento e saúde. A representação do jogo, brinquedo e ludicidade na vida da criança, na escola e na aprendizagem. A linguagem do corpo na mídia e os jogos midiáticos. Carga horária: 60 horas EMENTA Profª. Drª. Daniele Nunes Henrique Silva 1 INTRODUÇÃO Nesta unidade, vamos introduzir as questões que serão discutidas ao longo de toda a disciplina. Num primeiro momento, estudaremos as transformações do conceito de corpo ao longo da história, analisando interpretações dadas ao tema da Grécia Antiga até os dias atuais e seus reflexos no comportamento humano, na construção da subjetividade. Por fim, chegaremos à escola, nosso objeto de estudo, com o intuito de observarmos de que maneira essa instituição tem mediado o corpo em suas práticas. 11PedagogiaUESC 1 U ni da deUNIDADE I CORPO, SAÚDE E EDUCAÇÃO: ASPECTOS CONCEITUAIS OBJETIVOS Nessa unidade, você será capaz de: • apresentar a centralidade da cultura nos estudos sobre o corpo, especialmente, em sua dimensão simbólica; • perceber as diferentes interpretações dadas ao corpo em distintos momentos da história; • problematizar as relações entre corpo, saúde e educação na contemporaneidade. Colaborou na escrita dessa unidade: Ma- rina Costa (mestran- da do Programa de Pós-Graduação em Processos de Desen- volvimento e Saúde – Instituto de Psicolo- gia, UnB). 2 A HISTÓRIA DO CORPO Se entrássemos em um barzinho agora, para conversarmos sobre o que cada pessoa pensa acerca do corpo, rapidamente iríamos perceber que, dependendo do olhar e vivência de cada um, a noção de corpo iria variar. Uma dançarina abordaria de uma maneira, o esportista talvez enfocasse o trabalho do atleta, aquela que acabou de fazer uma plástica comentaria sobre os efeitos da cirurgia estética. Ou seja, o assunto em questão seria o mesmo: o corpo. No entanto, a análise de cada indivíduo sofreria alterações de acordo com as próprias experiências e expectativas. Assim também acontece com a história do corpo. Ao longo do tempo, as sociedades mudam e alteram os significados e as interpretações dadas a um determinado conceito. Logo, a cultura desempenha um papel fundamental no modo como ocorpo se expressa e age, bem como na forma como ele é pensado (GONÇALVES, 2008). Se fizermos uma retrospectiva histórica, veremos que, desde a Grécia Antiga, a temática do corpo vem sendo discutida. Entre os pensadores gregos, existia a crença de que corpo e mente eram duas coisas distintas e separadas. Platão e outros filósofos da época o tinham como morada da alma. Isso significava que o corpo devia buscar a perfeição, por meio do culto à beleza física e à virtude. O corpo, para Platão, pertencia ao domínio do sensível e a alma ao domínio do inteligível. Dessa forma, o homem platônico estaria mais próximo da verdade à medida que se afastasse do corpóreo, do sensorial (HERZOG; MAGALHÃES e GONDAR, 2008). A partir desses pensamentos, o esporte e a saúde eram tidos como objetivos principais, pois, para aquela sociedade, um corpo com saúde e vigor era capaz de desenvolver melhor a espiritualidade, alcançando, assim, a perfeição (COSTE, 1988). Na Roma antiga, a preocupação com o corpo era diferente. O povo romano vivia em muitas guerras na disputa de terras e poder e, para isso, precisava de homens fortes e preparados. Dessa maneira, vislumbrava-se um corpo capaz de enfrentar as adversidades da guerra. A força esperada se transformava em objetivo, e não mais em perfeição, como no caso da sociedade grega. Na Idade Média, em particular no período da Inquisição, o corpo era associado ao pecado. O prazer e a sexualidade eram analisados como fatores que Figura 1.1 – Discóbolo: escultura grega que retrata a arte, a beleza e o movimen- to. Fonte: <http://es.wikipedia.org/wiki/ Disc%C3%B3bolo>. 12 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | Corpo, saúde e educação: aspectos conceituais distanciavam o homem da salvação e, por conseguinte, de Deus, que ocupava o centro do universo (teocentrismo). As práticas físicas ficavam restritas à nobreza, sendo utilizadas somente para preparar os homens para guerra (SANT’ANNA, 2004; JATOBA; FRANCO, 2007). A partir do século XVII, surge no campo filosófico a corrente Racionalista, que Hegel afirma ter sido iniciado por René Descartes. O primeiro filósofo a adotar o princípio racionalista para sua própria doutrina, porém, foi Kant. De modo geral, o Racionalismo está marcado pela crença na superioridade da razão, na soberania da mente sobre o corpo e, mesmo, sobre a natureza. Nesta perspectiva, ser racional significava dominar emoções e sentimentos. Assim, posicionando o homem como o centro do universo (antropocentrismo), o indivíduo passou a comandar o mundo em que vive, por meio do pensamento racional. Ser pensante, o homem tomava consciência de seu controle sobre si mesmo e sobre a natureza. Ao corpo restou ser modelado para corresponder às expectativas da mente. Com o advento e expansão do Capitalismo, cada vez mais o corpo foi concebido como espaço de modelagem, contenção e obediência aos aparelhos institucionais que buscavam a disciplina para o trabalho e vida em sociedade. Dessa maneira, o corpo se restringiu a um instrumento submisso à ciência e ao controle. Foucault (1993), conhecido filósofo francês do século XX, reflete sobre o tratamento dado ao corpo pela sociedade burguesa: um instrumento para responder aos ditames da produção capitalista. Nesse sentido, Foucault nos fala sobre a docilização e a domesticação do corpo. Mas o que é isso? De acordo com esse autor, o corpo na sociedade burguesa é padronizado. Ele afirma: “É dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado” (FOUCAULT, 1993, p. 118). saiba mais Racionalismo - dou- trina iniciada no sécu- lo XVII, que tem como pressuposto básico que todas as coisas existen- tes no mundo apresen- tem uma justificativa inteligível. Para expli- car os acontecimentos, essa corrente filosófica se baseia no raciocínio, negando os sentidos e as experiências, pois estas trazem uma ideia confusa da realidade. Capitalismo – regime social cujo interesse en- contra-se no lucro. As produções são de pro- priedade privada e de grandes indústrias, ou seja, os bens não per- tencem a quem de fato produziu por seu traba- lho. Esse regime apare- ce junto com a classe social burguesa na Eu- ropa e se consolida pós- Revolução Industrial, no século XVIII. Figura 1.2 - Michel Foucault. Fonte: <http://es.wikipedia. org/wiki/Michel_Foucault>. para conhecer Paul-Michel Foucault nasceu em Poitiers, na França, em 15 de outubro de 1926. Licenciou-se em Filoso- fia pela Sorbonne, e posteriormente em psicologia. A sua obra de maior visibilidade é “Vigiar e Punir”, onde o autor faz um amplo estudo sobre a disci- plina na sociedade moderna, que para ele é “uma técnica de produção de corpos dóceis”. Interessou- se, também, em analisar os processos disciplinares empregados nas prisões, considerando-os exem- plos da imposição, às pessoas, e padrões “normais” de conduta estabelecida pelas ciências sociais. Fou- 13PedagogiaUESC 1 U ni da de cault não teve tempo de acabar seu mais ambicioso projeto sobre a história da sexualidade, cujo objetivo era mostrar como a sociedade ocidental se utilizou do sexo como um instrumento de poder. Dos seus volumes pretendidos, ape- nas 03 foram publicados: “A Vontade de Saber” (1976), “O Uso dos Prazeres” (1984), que analisa a sexualidade na Grécia Antiga e “O Cuidado de Si” (1984), que trata da Roma antiga. Fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u720.jhtm Nesses termos, as grandes instituições disciplinares, tais como as escolares, as militares, as hospitalares e as religiosas visariam à produção de indivíduos iguais, esvaziados de si mesmo e modelados para responderem de forma passiva às ordens impostas pela sociedade (PORTER, 1992; SOUZA, 2001; GONÇALVES, 2008). Contudo, atualmente, a sociedade que ora tinha como objetivo a disciplina, começa a interiorizá-la fora das instituições sociais (escola, igreja, quartel, entre outros) e os sujeitos passaram a ser controlados. Segundo os estudos de Negri e Hardt (2004), com o surgimento da microeletrônica e a difusão/democratização do mundo virtual, novas formas de relacionamento e comportamento emergem, fazendo com que valores antes impostos e exigidos fossem incorporados à própria subjetividade. Esse processo de incorporação é denominado de alienação autônoma. Assim, como veremos adiante, as dificuldades de acesso a outras culturas mostram-se quase suprimidas e o que se constrói é um corpo acelerado, cheio de informações, mesclado com outras fronteiras, para além do vivenciado no cotidiano, numa Sociedade fundamentada no Controle. Dessa maneira, fica claro que aquilo que pensamos sobre o corpo, como o interpretamos e agimos sobre ele parte do âmbito cultural (seja real ou virtual). A cultura influencia de forma decisiva o modo como o corpo se expressa e se constrói como linguagem. Ou seja, o corpo comunica, criando significados e produzindo sentidos, em determinado contexto histórico. Souza (2001), apoiada na teoria histórico-cultural, que teve Vigotski como precursor, comenta que o julgamento que fazemos do nosso corpo (seja belo/feio ou perfeito/imperfeito) depende do momento histórico em que estamos vivendo e a qual sociedade pertencemos. O que pensamos a respeito do nosso corpo se relaciona diretamente àquilo que aprendemos como aceitável e esperado culturalmente. Assim, ao refletirmos sobre nosso corpo, devemos pensá-lo conceitualmente para além de um objeto observável. O corpo, uma construção simbólica, que se revela (e é revelado) muito além do visível. 14 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | Corpo, saúde e educação: aspectos conceituais Vigotski nasceu em Orsha, na antiga União Soviética, em 1886. Vindo de uma família judia, sua formação aconteceu a maior parte do tempo, em casa. Somente aos 15 anos ingressouna escola. Em 1917, graduou- se em Direito e, embora tenha realizado cursos de filosofia, psicologia e literatura, não recebeu os títulos acadêmicos respectivos. Além desses estudos, cursou medicina visando compreender os problemas relacionados à neurologia e, assim, entender a psicologia humana. Sua teoria histórico-cultural apoia-se no pressu- posto de que as funções psicológicas apresentam um aporte no biológico, pois resultam do mecanismo ce- rebral, porém são transformados pela cultura, a partir das interações sociais, entre o indivíduo e o universo circundante, em um dado momento histórico. As es- feras simbólicas, por meio da operação com os sig- nos, seriam responsáveis por mediar as interações sociais que, ao serem internalizadas individualmente, vão compondo os processos intrapsíquicos (OLIVEIRA, 2001). Em linhas gerais, podemos afirmar que precisa- mos do outro para nos constituir. É na interação com o outro que formamos nossa subjetividade. Figura 1.3 – Vigotski. Fonte: http://vygotsky.afraid.org/ para conhecer 3 O CORPO COMO LINGUAGEM Na contemporaneidade, em muitas áreas do conhecimento, observamos uma superação da antiga dicotomia corpo-mente. Atualmente, corpo e mente são entendidos de forma integrada, interdependente e sem sobreposição. Reafirma-se, portanto, a cultura como elemento primordial para mediar a construção do significado do corpo. Dessa maneira, Alves (1989) alerta para pontos muito importantes: a imaginação e as convenções. O autor nos diz que é por meio delas que a cultura se desenvolve. O ser humano criou maneiras de estar no mundo e, para transmitir suas invenções, precisou convencionar linguagens, sendo uma delas a linguagem do corpo. Vamos refletir sobre a nudez. O homem é o único animal capaz de simbolizar e atribuir significados à nudez. Para cada sociedade, por exemplo, o significado do nu é compreendido de uma determinada maneira. Se formos visitar uma aldeia, observaremos que alguns índios, de tribos mais tradicionais, provavelmente, não cobrirão seus corpos, pois enxergam a nudez de modo diferente de um cristão. A palavra nudez é carregada, na sociedade ocidental, de significados 15PedagogiaUESC 1 U ni da de relacionados à vergonha e ao pudor; por isso, tem de ser contida. Como vimos anteriormente, as práticas corporais são marcadas pela cultura, a partir das relações sociais. As crenças e os valores que permeiam a sociedade em determinado espaço e tempo histórico, bem como as vivências transmitidas a cada geração, revelam a relação entre corpo, cultura e significado (KOPFES, 1989; VILLAÇA, 2009). O corpo em si não se caracteriza somente como um objeto para observação ou julgamento, mas uma representação. Cada indivíduo, a partir das interações interpessoais, vai elaborando, tomando para si, uma forma de se expressar por meio do corpo. Portanto, ao mesmo tempo em que o corpo é múltiplo e plural (esfera cultural), também é uno e singular (espaço intrapsíquico). É matéria e espírito em simultaneidade (VILLAÇA, 2009). Muito interessante sabermos que somos, ao mesmo tempo, por meio da linguagem, produto da cultura e produtores de cultura. Mais instigante ainda é compreender que nosso corpo participa ativamente dessa elaboração. Ele faz parte disso! E, sendo signo, o corpo é uma ideologia, como afirmaria Mikhail Bakhtin. Para este filósofo e linguista russo, um signo não se apresenta no vazio. Ele carrega consigo as ideias, as lutas, os movimentos de força e produção que o envolvem (SOUZA, 2001). Mikhail Mikhailóvitch Bakhtin, conhe- cido como o “filósofo do discurso”, nasceu em Orel, ao sul de Moscou, em 1895. For- mado em História e Filologia pela Univer- sidade São Petersburgo, foi um dos mais destacados pensadores de uma rede de profissionais preocupados com as formas de estudar linguagem, literatura e arte. Tal movimento ficou conhecido como “O círculo de Bakhtin”. De intensa produção acadêmica e inúme- ras contribuições no campo da linguística, a que ganha destaque é a tese da lingua- gem mediada pelo diálogo e suas intera- ções. “A língua materna, seu vocabulário e sua estrutura gramatical, não conhece- mos por meio de dicionários ou manuais de gramática, mas graças aos enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos na comunicação efetiva com as pessoas que nos rodeiam”, escreveu o filósofo. Nesse sentido, percebemos a importân- cia do outro na mediação, o contexto histórico e social, a ideologia, e, principal- mente, o sujeito, como agente das transformações sociais em uma constante dialógica entre locutor e interlocutor do meio social. para conhecer Figura 1.4 - Mikhail Bakhtin. Fonte: <http://revistaescola. abril.com.br/img/formacao/224-pensadores1.jpg>. 16 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | Corpo, saúde e educação: aspectos conceituais Vejamos o que você pensa ao olhar para esta imagem: Figura 1.5: Reprodução Fonte: Arquivos UAB/UESC Poucos segundos e já compreendemos o que essa imagem nos revela. Sabemos que, no centro da figura, está o planeta Terra. Ele encontra-se pintado de verde e envolvido pelas mãos humanas, segurando-o e protegendo-o. Por trás dessa imagem, entendemos o sentido que ela nos traz: as ideias de preservação e cuidado tão necessárias e urgentes a nossa sobrevivência. Essa ideia não surgiu do nada, mas nas interações sociais; é ideológica, dependendo de quem, como e onde é produzida/reproduzida. Ou seja, a imagem, enquanto signo, não é neutra. Essa análise também serve para o corpo. Como dito anteriormente, o corpo é um signo e atua na esfera simbólica. Percebemos que essas interpretações dadas ao corpo se revelam também na arte. Nela, por exemplo, o corpo assume dimensão revolucionária. Se observarmos, por exemplo, a arte neoconcretista (do final da década de 50), vamos identificar que aquelas produções artísticas (que se opunham ao concretismo; racionalismo e perfeição) apresentavam a sensibilidade como esfera central da expressão plástica. Os artistas trabalhavam com múltiplas linguagens, indo além da geometria pura. Nesta corrente, as obras geométricas tomam proporção tridimensional e o objetivo é que o espectador interaja com a produção artística. Sendo cada espectador único, a obra, por meio das sensações tácteis, visuais, auditivas, gustativas e/ou olfativas, se revela de inúmeras formas. 17PedagogiaUESC 1 U ni da de O concretismo surge na Europa, como forma de defesa à racionalidade e rejeição ao Expressionismo, o acaso, a abstração lírica e aleatória, buscando criar uma manifestação abstrata da arte. O grande objetivo dos artistas era incorporar diversas manifestações artísticas (música, poesia, artes plásti- cas) às estruturas matemáticas geométricas, desvinculando o mundo artís- tico do natural, distinguindo forma de conteúdo. Para os artistas concretistas a arte é entendida como autônoma e a sua forma remete à realidade. Dessa maneira, é comum encontrar poesias concretistas cada vez mais próximas de formas arquitetônicas ou esculturais. Nas artes visuais busca-se mostrar que no mundo há uma realidade palpável, que pode ser observada por di- ferentes ângulos. Fonte: <http://www.brasilescola.com/literatura/concretismo.htm>. O Neoconcretismo surgiu, em 1959, como movimento artístico em contraposição ao Concretismo. Segundo o manifesto do movimento, que foi publicado no “Jornal do Brasil” em 22 de março, o Neoconcrestimo era definido como: “uma tomada de posição em face à arte concreta levada a uma perigosa exacerbação racionalista”. Liderados por Ferreira Gullar, os artistas: Franz Weissmann, Amílcar de Castro, Lygia Clark, Lígia Pape, Reynaldo Jardim, Theon Spanudis procuravam novos caminhos de expressão, afirmando que a arte não era um mero objeto, pois está imersa em uma sensibilidade expressiva que está além do geometrismo. Fonte: <http://edu; cacao.uol.com.br/cultura-brasileira/neoconcretismo-reacao-ao-concretismo.jhtm>. saiba mais Figura 1.6: Relógio, Haroldo Campos Fonte: <http://concretismo3-ano.blogspot. com/2008/10/giro-haroldo-campos.html>. Figura 1.7 - Exposição Os Bichos, Lygia Clark Fonte da imagem: http://ongartebrasil.blo- gspot.com/2011/07/lygia-clark.html Dessa maneira, Lygia Clark, grande artista do Neoconcretismo, e outros participantes do movimento passaram a se utilizar do corpo em suas obras para questionar e romper com as regras tanto da sociedade como da própria arte (MATESCO, 2009). Figura 1.8 - Lygia Clark. Fonte: <http://www. infoescola.com/biografias/lygia-clark/>. Lygia Clark (Belo Horizonte, 1920 – Rio de Janeiro, 1988) inicia seus estudos artísticos em 1947, no Rio de Janeiro, sob a orientação de Roberto Burle Marx e Zélia Salgado. Em 1950, ela viaja para Paris e estuda com Arpad Szènes, Dobrinsky e Fernand Léger. Assina, em 1959, o Manifesto Neoconcreto, ao lado de Amilcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanudis Em 1960, Lygia cria a série “Bichos”: esculturas, feitas em alumínio, possuidoras de dobradiças, que promovem a articulação das diferentes partes do “corpo”. O espectador é convidado a descobrir as inúmeras formas que esta estrutura aberta oferece, manipulando as suas peças de metal, interagindo com o objeto artístico. Clark é um a artista de difícil rotulação. Ela é atemporal! Sobre o seu trabalho, ela afirma: “Se a pessoa, depois de fizer essa série de coisas que eu dou, se ela consegue viver de uma maneira mais livre, usar o corpo de uma maneira mais sensual, se expressar melhor, amar melhor, comer melhor, isso no fundo me interessa muito mais como resultado do que a própria coisa em si que eu proponho a vocês” (Cf. O Mundo de Lygia Clark,1973, filme dirigido por Eduardo Clark, PLUG Produções). Fonte: <http://www.lygiaclark.org.br/biografiaPT.asp>. para conhecer 18 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | Corpo, saúde e educação: aspectos conceituais http://pt.wikipedia.org/wiki/Expressionismo http://noticias.uol.com.br/licaodecasa/materias/fundamental/cultura/ult1687u43.jhtm http://noticias.uol.com.br/licaodecasa/materias/fundamental/cultura/ult1687u44.jhtm http://noticias.uol.com.br/licaodecasa/materias/fundamental/cultura/ult1687u44.jhtm Então, se entendermos que o corpo é vetor de linguagem, esfera de impressões e expressões, cada um de nós pode assumi- lo de modo consciente e fazer dele o que realmente deseja, como ocorre, em alguns casos de forma extrema, com as pessoas que fazem transformação no próprio corpo (body transformation). Disponível no site <http://www.insoonia.com/adeptos-do-body-modification- levam-o-proprio-corpo-ao-limite-da-transformacao>. Figuras 1.9 - (1) María Jose Cristerna a “mulher vampira” (alargador, tatuagem, chifres de titânio, implante dentário, piercings). Fonte: <http:// g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2011/08/ mulher-vampiro-exibe-novos-chifres-de-titanio. html>. (2) Erik Sprague o homem lagarto; (3) Dennis Avner o “homem tigre”; (4) Elaine Davidson brasileira recordista de piercing; (5) Kala Kawai “o havaiano mutante”; (6) Paulie “Pauly Unstoppable”. Fonte: <http://g1.globo.com/ Noticias/PlanetaBizarro/0,,MUL737296-6091,00-ADEPTO S+DO+BODY+MODIFICATION+LEVAM+O+PROPRIO+CO RPO+AO+LIMITE+DA+TRANSFORMAC.html>. 1 1 2 3 4 5 6 19PedagogiaUESC 1 U ni da de 4 CORPO, SAÚDE E BEM-ESTAR PSICOSSOCIAL: ASPEC- TOS CONTEMPORÂNEOS Outro ponto importante a discutirmos diz respeito ao corpo sob a ótica da saúde e do bem-estar. Avanços na medicina proporcionam maior controle sobre as enfermidades e hoje conseguimos fazer com sucesso mudanças estéticas do corpo. Novos valores surgem na cultura, afirmando a busca de um corpo saudável, às vezes só na aparência, promotor de algum sentido de bem-estar. A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, saúde se torna sinônimo de bem-estar constante (SANT’ANNA, 1993). Essa relação entre o bem-estar e o modo como o corpo se comporta, conforme afirmamos anteriormente, revela o estado psicossocial do próprio corpo, a sua dimensão psicológica. Na contemporaneidade, a busca pelo prazer e pela satisfação pessoal, o hedonismo, constitui-se socialmente como um valor importante. Nesses termos, o sofrimento tende a ser ignorado e o homem procura a todo custo realizar seus desejos, experimentar situações que, no passado, estariam interditadas. O bem-estar vira uma regra e ir em direção a ele torna-se obrigatório. O importante é a obtenção do prazer. A moda, por exemplo, sofreu grandes mudanças em função das transformações históricas da sociedade. Veja, por exemplo, no site: <www.vizworld.com/2010/04/infographics- evolution-bra>, como a evolução dos sutiãs demonstra essa relação corpo-moda-história. Todavia a busca desenfreada do bem- estar aparente, associada às novas tecnologias (constantemente inventadas e reinventadas), nos leva a um controle da saúde; uma procura pela juventude eterna e pelo prolongamento da vida a qualquer custo. Os testes de rendimento físico, as atividades programadas nas academias, as diversas plásticas são experiências corriqueiras de nosso dia a dia e há um limite muito tênue entre o cuidado com a saúde e a obsessão pela perfeição do corpo. É grande a quantidade de mulheres e homens que banalizam as intervenções plásticas, buscando uma suposta perfeição. Algumas vezes, no entanto, as escolhas que fazemos não são necessariamente aquelas que queremos. As decisões sobre a construção Figura 11: Espelho. Fonte: UAB/UESC - Sheylla Tomás 20 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | Corpo, saúde e educação: aspectos conceituais História do Sutiã Símbolo de contestação feminina, o surgimento do sutiã coincide com um momento de liberação da mu- lher. Era início do século 20 e o estilista francês Paul Poiret colocou fim ao uso dos espartilhos, ao criar vestidos com cintura alta. A americana Mary Tucek (1907), do outro lado do Atlântico, percebeu que fal- tava algo para sustentar os seios e inventou uma peça com bojos separados, alças nos ombros e preso na parte de trás por colchetes; os primeiro sutiã. Anos 20 e 30 saiba mais Anos 40 e 50 Anos 60 e 70 Anos 80 e 90 Ano 2000 Figuras 1.11: História do Sutiã Fonte: http://manequim.abril.com.br/moda/historia-da-moda/historia_da_moda_277896.shtml?page=page1 21PedagogiaUESC 1 U ni da de do corpo não estão totalmente livres de influências midiáticas, pois os meios de comunicação veiculam sistematicamente padrões sobre o corpo e bem-estar, e não se pode desprezar sua capacidade de produzir subjetividades. Como signo, um meio de linguagem, o corpo mostra como queremos ser observados e o que desejamos falar de nós mesmos. O corpo é aquilo que somos e como nos apresentamos diante da vida (SANT’ANNA, 2004). 5 CORPO NA ESCOLA Com toda essa discussão sobre o corpo ao longo da história, como será que a escola vem agindo em suas práticas? A escola é uma instituição social que se caracteriza pela contradição, pois se estabelece como entidade promotora de modificações na sociedade e, ao mesmo tempo, reafirma os valores hegemônicos. Ou seja, ela vivencia uma constante contradição entre, por um lado, romper com os padrões e crenças que a sociedade apresenta como enraizados e corretos e, por outro, promover a mudança. De acordo com Foucault, a escola é a instituição social do conhecimento por excelência, cuja finalidade, entre outras, é controlar os corpos de seus estudantes, por meio de atividades rotineiras. Nessa linha argumentativa, Tiriba (2008) afirma que não há espaço para a expressão livre e autêntica. Assim, o comportamento e o sentimento esperados de cada aluno são previsíveis e modelados. A criança não revela, de fato, quem é, o que deseja e pensa, mas sim uma forma de ser aluno. Ela aprende como deve fazer para ser aceita na comunidadeescolar. E, a cada dia, se encaixa no sistema, esvaziando-se de si mesma. Reflita sobre: as filas feitas todos os dias; a maneira correta para se sentar nas carteiras; a distribuição do tempo escolar em grades fechadas; o silêncio exigido e tantas outras tarefas. Você já parou para pensar em que momento em sala de aula a criança pode se expressar livremente? Como e quando ela fala com seu corpo, sua voz, sua alma? Que ideologia o corpo da criança revela em sala de aula? Percebe-se que, na prática, o corpo não apresenta lugar de destaque nos planejamentos diários. A escola tradicional, ainda, investe na compreensão de um corpo que está separado da mente (CRUZ, 2002). O importante é sentar, prestar atenção na aula e fazer 22 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | Corpo, saúde e educação: aspectos conceituais as tarefas pedidas. Ou seja, trabalhar a mente. Entende-se, assim, que a aprendizagem liga-se ao pensamento, como se o corpo fosse destituído de saberes, conhecimentos e emoções. No momento em que a criança brinca, desenha ou narra, por exemplo, podemos perceber claramente como o seu corpo é revelador dos modos de expressão e interpretação da cultura. Essas atividades criadoras são produções infantis que surgem, cotidianamente, no espaço escolar. De fato, quando uma criança está brincando, corpo e mente estão em ação, criando e recriando o mundo. Por meio dos recursos imaginativos, a criança cria novas realidades, novas maneiras de se expressar sobre o mundo da cultura, transformando todo seu funcionamento psíquico (VIGOTSKI, 2008). Já reparou como uma criança conta uma história? Seu corpo inteiro fala. Não somente sua voz é emitida, mas gestos, entonação e movimento são expressos. Ao narrar um fato, uma opinião, a criança se coloca inteira. Muitas vezes, até sua respiração se modifica. A oralidade, então, vem acompanhada de uma gestualidade que mostra em toda sua complexidade como ela interpreta e age sobre a cultura. Desta maneira, as leituras de mundo que as crianças realizam são expressas e produzidas no corpo; dimensão de chegada e partida de interpretações que elas fazem do meio em que vivem (RENNÓ, 2001). Embora a educação tenha mudado muito nos últimos anos, o domínio do cor- po e da mente em sala de aula ainda é uma realidade nas escolas brasileiras, como vimos acima. Assista ao clip da banda Pink Floyd, cuja música chama-se: “Another brick on the wall” e reflita sobre essa questão. Tenho certeza que você gostará! Acesse o link <www.youtube.com/watch?v=M_bvT-DGcWw>. Existem, também, vários filmes que exploram essa temática. Um deles, muito famoso, é Sociedade dos poetas mortos, lançado em 1989. Trata-se de uma es- cola tradicional, em que os alunos deveriam pensar e agir conforme as regras, sendo passivos de qualquer atividade. Nessa instituição, chega um professor revolucionário, que ministra suas aulas dando voz aos seus alunos. Eles se expressam de diferentes maneiras, inclusive pelo corpo, por meio do teatro, e na própria sala de aula. Se você já tiver assistido, experimente outra vez, mas com esse novo olhar... E para terminar, assista Vem dançar. O filme conta a história de um professor que se voluntaria a dar aulas de dança em uma escola pública dos Estados Unidos. A formação profissional do professor apresenta alguns conflitos pela maneira como os alunos se expressam, surgindo uma grande troca de valores entre as partes. Fonte: <www.lendo.org/21-filmes-em-que-a-educacao-e-um-tema-criativo>. você sabia? 23PedagogiaUESC 1 U ni da de LEITURA NECESSÁRIA DELEUZE, G. Conversações. São Paulo: Editora 34, 1992. PARENTE, A.(Org.) Tramas da Rede. Porto Alegre: Sulina, 2004. ATIVIDADES 1- No filme O Grande Ditador, o grande artista do cinema mudo Charles Chaplin parodia Adolf Hitler e, em cena memorável, faz um discurso. Você é capaz de perceber que emoções, impressões e expressões o ator transmite pelo corpo? Anote suas observações, reflita sobre a relação entre corpo – história – cultura e disserte teoricamente sobre o assunto (25-30 linhas). 2- Você conhece a música Alma e matéria, de Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown? Depois de ler a letra apresentada abaixo, explicite as relações entre a letra proposta e os conceitos discutidos nesse capítulo. Alma e matéria (Composição: Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown) Procuro nas coisas vagas Ciência! Eu movo dezenas de músculos Para sorrir... Nos poros a contrair Nas pétalas do jasmim Com a brisa que vem roçar Da outra margem do mar... Procuro na paisagem Cadência! Os átomos coreografam A grama do chão. Na pele braile pra ler Na superfície de mim Milímetros de prazer Quilômetros de paixão... LEITURA NECESSÁRIA ATIVIDADES 24 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | Corpo, saúde e educação: aspectos conceituais Vem pr’esse mundo Deus quer nascer Há algo invisível e encantado Entre eu e você E a alma aproveita pra ser A matéria e viver... 3- Depois de tudo que apresentamos, agora pensando na escola, elabore uma atividade, em que você, educador(a), dê à criança a oportunidade de uma experiência com o “corpo revolucionário”. Boa Sorte! RESUMINDO Neste capítulo, nós vimos que o conceito e a ideia que se tem do corpo está permeada por alguns elementos, como, por exemplo, os aspectos culturais, doutrinas e regimes sociais vigentes em cada época. Cada momento histórico influenciou a maneira como nos relacionamos com o nosso corpo. Atualmente, o corpo tem sido estudado como uma representação, que traz consigo uma série de ideologias, marcas, influências, que se constituíram a partir das mediações culturais. Na contemporaneidade, em função de uma valoração hedonista sobre a vida, observamos uma nova forma de nos relacionarmos com o corpo, com a saúde em busca de um bem-estar permanente. Na escola, apesar das mudanças culturais, ainda percebemos a dicotomia platônica corpo-mente. De acordo com as contribuições de Foucault, observamos que as atividades rotineiras, muito comuns nas práticas educacionais, modelam e controlam os corpos das crianças, imprimindo uma forma correta de se comportar, de ser e de pensar. RESUMINDO 25PedagogiaUESC 1 U ni da de REFERÊNCIAS ALVES, R. O corpo e as palavras. In: BRUHNS, H. (Org.). Conversando sobre o corpo. 3. ed. Campinas: Papirus, 1989. p.17- 42. COSTE, J. C. A psicomotricidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1988. CRUZ, M.N. Imaginação, Conhecimento e Linguagem: uma análise de suas relações numa perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento humano. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas, 2002. FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 10. ed. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1997. GONÇALVES, M. A. Sentir, pensar, agir – corporeidade e educação, 11. ed. Campinas: Papirus, 2008. HERZOG, R; MAGALHÃES, F.C; GONDAR, J. III Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental. In: Mesa redonda: Afeto: entre o conceito e a experiência psicanalítica, 2008. Disponível em: <http:// www.fundamentalpsycopathology.org/8_cong_anais/MR_329a.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2011. JATOBÁ, V; FRANCO, W.L. Análise reflexiva do corpo cultural. 2007. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd109/analise- reflexiva-do-corpo-cultural.htm>. Acesso em: 20. fev. 2011. KOFES, S. E sobre o corpo, não é o próprio corpo que fala? Ou, o discurso desse corpo sobre o qual se fala. In: BRUHNS, H. (Orgs.). Conversando sobre o corpo. 3. ed. Campinas: Papirus, 1989. p.45- 60. MATESCO, V. Corpo e subjetividade na arte contemporânea brasileira. In: OLIVEIRA, C; ROUCHOU, J; VELLOSO. Corpo – identidades, memórias e subjetividades. Rio de Janeiro: Mauad X, 2009. p. 93- 100. NEGRI,A; HARDT,M. A produção biopolítica. In: A. Parente. Tramas da rede. RioGrande do Sul: Editora Sulina, 2004. p.161-173. REFERÊNCIAS 26 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | Corpo, saúde e educação: aspectos conceituais OLIVEIRA, M.K. Vygotsky – Aprendizado e desenvolvimento – Um processo sócio-histórico. 4. ed. São Paulo: Scipione, 2001. PORTER, R; BURKE, P. História do corpo. 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Corpo – identidades, memórias e subjetividades, Rio de Janeiro: Mauad X, 2009. p. 31-39. 27PedagogiaUESC 1 U ni da de Suas anotações ........................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................... 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........................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................... 1 INTRODUÇÃO Os termos imaginação, criatividade e criação são palavras utilizadas em nosso cotidiano. Nesta unidade, aprofundaremos aspectos conceituais que, muitas vezes, não são problematizados no trabalho educacional. O foco dessa unidade é o desenvolvimento infantil, a partir da perspectiva histórico-cultural. Para além, abordaremos o desenvolvimento da criança e as formas de manifestação da atividade criadora em sala de aula e os modos de participação do corpo na experiência lúdica. UNIDADE II A PARTICIPAÇÃO DO CORPO DA CRIANÇA NAS ATIVIDADES CRIADORAS: UMA ANÁLISENA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL OBJETIVOS Nessa unidade, você será capaz de: • compreender as bases sociogenéticas das atividades criadoras na infância, a partir da perspectiva histórico- cultural; • refletir criticamente sobre o tema da imaginação na sala de aula, em especial, na atuação docente; • estudar o papel do faz-de-conta, do desenho e da narrativa no desenvolvimento infantil e seus modos de emergência na instituição escolar. Colaborou com a escrita dessa unidade Fabrício Santos Dias de Abreu (aluno de graduação do curso de Pedagogia, Faculdade de Educação, UnB). 29PedagogiaUESC 2 U ni da de 2 IMAGINAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL No século XX, o tema da imaginação foi tratado por diversos campos de investigação (SILVA, 2006). Notamos trabalhos importantes sobre esse tema no âmbito da filosofia fenomenológica (SARTRE, 1964, 1996), da psicologia do desenvolvimento (PIAGET, 1975; VIGOSTKI, 2009) e da psicanálise (BERNIS, 2003). Todas essas correntes buscaram desvendar as inúmeras relações entre a produção de imagens, a percepção do real e a configuração da imaginação humana. Todavia esse movimento acerca dos estudos da imaginação, seu funcionamento e a sua complexa configuração, apresenta-se de forma confusa e não complementar nas diversas análises teóricas, em função da interpretação apresentada nos diferentes referenciais epistemológicos que sustentam teoricamente cada autor. Tal divergência, apesar de vantajosa por trazer vários pontos de vista, coloca o tema em uma área desafiadora, em que a delimitação conceitual se faz necessária. Analisaremos, então, as questões relacionadas à imaginação e seus desdobramentos sob o olhar da corrente histórico-cultural, em especial, tendo como base os estudos feitos pelo psicólogo russo L. S. Vigotski. Esse autor dedicou parte de seus estudos a investigar a compreensão do funcionamento imaginativo, caracterizando-o pela capacidade de o homem criar novas imagens por meio de associações e dissociações das impressões percebidas do real. Para ele, o homem cria seus meios de vida e, indiretamente, sua própria materialidade, alterando, por meio do trabalho e da organização social, suas condições de existência, ao longo de uma história natural que se transforma em uma história cultural. Ou seja, a relação do homem com a natureza não se dá de forma direta, mas envolve processos mediacionais: a linguagem e o uso de instrumentos. (por exemplo: uso do martelo, da vara de pescar etc.). A função do instrumento é servir como um condutor de influência humana sobre o objeto da atividade; ele é orientador externamente; deve necessariamente levar a mudanças no objeto. Constitui um meio pelo qual a atividade humana externa é dirigida para o controle e domínio da natureza (VIGOTSKI, 2008, p. 55 - grifo do autor). Vigotski, curioso em estudar as raízes históricas e culturais do 30 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | A participação do corpo da criança nas atividades criadoras: uma análise na perspectiva histórico-cultural funcionamento psicológico superior, interessou-se, dentre outros, pela reflexão sobre o papel da imaginação no desenvolvimento humano. Por meio da atividade criadora, o homem é capaz de transformar sua realidade e, assim, seu modo de pensar e os produtos de seu pensar. Com uma ação que supera as disposições biológicas, nós somos capazes de agir e criar elementos artificiais. Nós somos criadores e criaturas de nossa cultura! Nesse sentido, Vigostki interessa-se por focalizar o funcionamento da imaginação e da fantasia. O autor tece argumentos sobre imaginação em diferentes momentos de suas obras como, por exemplo, em um dos textos do livro Formação Social da Mente (2007) e em Imaginação e Criação na Infância (2009). Como forma de atividade consciente, a imaginação consolida as ações criadoras, que se manifestam em todos os aspectos que constituem a vida cultural do homem. Assim, não há nada no mundo (a não ser o que é da ordem da natureza) que não seja resultado da criação humana, portanto, de sua autoria (SILVA, 2006). Cruz (2002), por exemplo, argumenta que a ciência, a arte e a técnica são exemplos de produção que, ao serem viabilizadas pela imaginação, conferem aos homens uma experiência/dimensão autoral. Vigotski (2009) sustenta que a memória é um elemento importante para as atividades relacionadas à imaginação e à criação. O fato de o homem memorizar vivências anteriores possibilitou sua adaptação à natureza, por meio da criação de novas formas de lidar e interagir com o meio. Nesse sentido, o cérebro é capaz não somente de guardar experiências e reproduzi-las, mas, por meio delas, criar novas maneiras de pensar e agir. Assim, a imaginação é fruto das experiências já vividas e internalizadas pelo sujeito, de tal forma que, quanto mais rica for a experiência da pessoa, mais material estará disponível para a sua composição imaginativa. Se a atividade do homem se restringisse à mera re- produção do velho, ele seria um ser voltado somente para o passado, adaptando-se ao futuro apenas na medida em que este reproduzisse aquele. É exata- mente a atividade criadora que faz do homem um ser que se volta para o futuro, erigindo-o e modificando o seu presente (VIGOTSKI, 2009, p.14). A imaginação da criança, por exemplo, é reveladora dos processos de expressão e representação da cultura infantil. Sendo assim, por meio de associações e dissociações das impressões do real, as crianças compõem seu universo imaginativo. 31PedagogiaUESC 2 U ni da de Figura 2.1 - Crianças pulando carniça. Portinari, 1957. Fonte: http://www.portinari.org.br/candinho/candinho/abertura.htm A emergência dos processos criativos está vinculada às condições sociais específicas. O que se imagina e como se imagina, estão determinados pelas condições de produção da expressão criativa, por seu contexto cultural mais amplo. Assim, a imaginação revela-se em todos os aspectos culturais do ser humano, seja na arte, na ciência, na técnica ou no cotidiano. O processo de imaginar lida com elementos da realidade, em que o faz-de-conta, o desenho e a narrativa emergem de experiências vividas (VIGOTSKI, 2009). Ao contrário do que se pensa, imaginar não é se perder no campo das ilusões. A criança dirige sua atenção para a cultura: re-produz cenários da vida do grupo social, assume o lugar e os dizeres de figuras desses cenários; faz uso de ob- jetos pertinentes à atividade humana; atende regras de relações interpessoais, de acordo com posições de prestígio e poder; explora formas de agir, valores, afetos e saberes; mais geralmente, re-conhece dis- cursos e práticas sociais (GÓES e LEITE, 2003, p. 2). Muito embora possa ser influenciada pela experiência passada (articulada com a memória), a imaginação refere-se à capacidade de criação de novos elemen- tos. No processo histórico do ser humano, foi a partir da necessidade de adaptar-se ao meio que o homem passou a transformar seu ambiente, (re)criando-o. 32 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | A participação do corpo da criança nas atividades criadoras: uma análise na perspectiva histórico-cultural Desta forma, toda atividade criadora, guiada pelas possibilidades imaginativas, parte da experiência e interpretação das percepções/possibilidades de reali- dade. Assim, uma criação não se faz do nada, mas sim do que se viveu de forma direta ou indireta. Pense neste momento sobre algo que você tenha criado. Pode ser uma receita, uma letra de música, um poema, um plano de aula: perceba o quanto de sua ação criadora está relacionado com as experiências que você teve. Portanto, a imaginação não é a mera reprodução de um evento. Imaginar é criar! Se observarmos a produção científica sobre as questões relacionadas à imaginação e à criatividade, perceberemosque raros são os estudos investigativos que se voltam para a problematização de temas relativos à dimensão criadora no contexto educacional. Na história descrita abaixo, podemos observar como a professora impede a experiência criativa da criança. Vamos ler e refletir um pouco... O menininho Autora: Helen E, Buckley Era uma vez um menininho bastante pequeno que contrastava com a escola bastante grande. Quando o menininho descobriu que podia ir à sua sala caminhando pela porta da rua, ficou feliz. A escola não parecia tão grande quanto antes. Uma manhã a professora disse: - Hoje nós iremos fazer um desenho! -Que bom! Pensou o menininho. Ele gostava de desenhar. Leões, tigres, galinhas, vacas, trens e barcos... Pegou sua caixa de lápis de cor e começou a desenhar. A professora então disse: - Esperem, ainda não é hora de começar! Ela esperou até que todos estivessem prontos e disse: - Agora nós iremos desenhar flores. O menininho começou a desenhar bonitas flores com seus lápis rosa, laranja e azul, quando escutou a professora dizer: - Esperem! Vou mostrar como fazer! E a flor era vermelha com o caule verde. - Assim, agora vocês podem começar a desenhar, disse a professora. O menininho olhou para a flor da professora, então olhou para a sua flor. Gostou mais da sua flor, mas não podia dizer isso... Virou o papel Figura 2.2 – Arco Iris Fonte: Arquivo UAB/UESC 33PedagogiaUESC 2 U ni da de e desenhou uma flor igual a da professora. Era vermelha com o caule verde. Num outro dia, quando o menininho estava em aula ao ar livre, a professora disse: - Hoje nós iremos fazer alguma coisa com o barro. Que bom! Pensou o menininho. Ele gostava de trabalhar com barro. Podia fazer com ele todos os tipos de coisas: elefantes, camundongos, carros e caminhões. Começou a juntar e amassar a sua bola de barro. Então a professora disse: - Esperem! Não é hora de começar! Ela esperou até que todos estivessem prontos. - Agora, disse a professora, nós iremos fazer um prato. Que bom! Pensou o menininho. Ele gostava de fazer pratos de todas as formas e tamanhos. A professora disse: - Esperem! Vou mostrar como se faz. Assim, agora vocês podem começar. E o prato era um prato fundo. O menininho olhou para o prato da professora, olhou para o próprio prato e gostou mais do seu, mas ele não podia dizer isso. Amassou seu barro numa grande bola novamente e fez um prato fundo igual ao da professora. E muito cedo o menininho aprendeu a esperar e a olhar e a fazer as coisa exatamente como a professora. E muito cedo ele não fazia mais coisas por si próprio. Então, aconteceu que o menininho teve que mudar de escola. Esta escola era maior ainda que a primeira. Ele tinha que subir grandes escadas até a sua sala. Um dia a professora disse: - Hoje nós vamos fazer um desenho. Que bom! Pensou o menininho e esperou que a professora dissesse o que fazer. Ela não disse. Apenas andava pela sala. Quando veio até o menininho perguntou: - Você não quer desenhar? - Sim, o que nós vamos fazer? - Eu não sei até que você o faça. - Como eu posso fazê-lo? - Da maneira que você gostar. - E de que cor? - Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas cores, como eu posso saber qual é o desenho de cada um? - Eu não sei! Respondeu por fim o menininho e começou a desenhar uma flor vermelha com o caule verde. Contudo, nas duas últimas décadas no Brasil, a temática acerca da imaginação, dos processos criativos e da experiência sensível, dentre outros, vem ganhando espaço dentro das discussões educacionais. As relações entre arte e educação são assumidas como assuntos importantes para o trabalho escolar. 34 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | A participação do corpo da criança nas atividades criadoras: uma análise na perspectiva histórico-cultural Inclusive, alguns documentos oficiais voltados para a área educacional demonstram compromisso, em seu texto, com questões relacionadas aos acontecimentos e experiências estéticas dentro de sala de aula. Nas Diretrizes Curriculares Educacionais para a Educação Básica (BRASIL, 1998), por exemplo, destacam-se as resoluções em que se coloca a necessidade de que as instituições de Ensino Fundamental pautem suas ações pedagógicas de forma a integrar os princípios estéticos, da criatividade, entre outros. Além disso, especificamente no Ensino Médio, o documento informa que a dimensão sensível deve estar articulada aos aspectos éticos e políticos, sendo capaz de substituir a repetição e a padronização, fatores impeditivos da criatividade e do espírito inventivo. Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Artes (BRASIL, 1997) outro documento importante, apontam a importância da educação em arte para o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética do estudante. Caracterizando um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana, desenvolvendo experiências sensíveis, de percepção e de imaginação, a arte possibilita a abertura para o mundo (im)possível. No âmbito da Educação Infantil, voltada para as crianças de 0 a 5 anos de idade, as repercussões oficiais foram mais rápidas e merecem ser destacadas de forma mais abrangente, aqui, devido ao nosso interesse em problematizar de forma mais focada essa etapa da escolarização. O início da década de 90 é responsável pela emergência de uma nova forma de compreender a infância, bem como os espaços destinados à experiência infantil. Nessa perspectiva, as ações de cuidar/educar devem estar interligadas, por sua reciprocidade, e os modos de expressão e representação dos pequenos precisam ser respeitados (LEITE, 2004; SILVA, 2006). Nesse sentido, a publicação do Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (BRASIL, 1997) foi um marco importante no que diz respeito às políticas públicas voltadas para a infância. Este prioriza o caráter educacional no trabalho com e no atendimento às crianças pequenas, trazendo como pontos centrais para o desenvolvimento da criança os aspectos lúdicos e criativos, demarcando a relevância e a necessidade de se garantir a fluência dos processos imaginativos das crianças nos espaços escolares. 35PedagogiaUESC 2 U ni da de Conforme aponta a perspectiva histórico-cultural, a música abaixo revela como os elementos da realidade estão articulados à estruturação do faz- de-conta. Estampas Eucalol (Hélio Contreiras) Montado no meu cavalo Libertava Prometeu Toureava o Minotauro Era amigo de Teseu Viajava o mundo inteiro Nas estampas eucalol A sombra de um abacateiro Ícaro fugia do sol. Subia o monte Olimpo Ribanceira lá do quintal Mergulhava até Netuno No oceano abissal São Jorge ia prá lua Lutar contra o dragão São Jorge quase morria Mas eu lhe dava a mão E voltava trazendo a moça Com quem ia me casar Era minha professora Que roubei do Rei Lear Fonte:< http://www.vagalume.com.br/xangai/estampas-eucalol. html#ixzz1Mfoh78H8?>. 3 CORPO, IMAGINAÇÃO E LUDICIDADE: FOCALIZANDO AS QUESTÕES PEDAGÓGICAS Como vimos no primeiro capítulo, as práticas escolares, tanto do ponto de vista curricular, como no âmbito das propostas pedagógicas, foram colocadas de formas dicotômicas e separadas. Ou seja, os espaços de imaginar e compreender divergiam-se na sala de aula. Havia uma crença de que a aprendizagem significativa ocorria por meio do controle constante da mente e do corpo. Teme-se que a disciplina, que é foco central na maioria das dinâmicas pedagógicas, se perca nos espaços em que a criação e a imaginação estejam presentes. Sobre isso, Fernandes (1997) comenta que a escola é herdeira de um ideário positivista, calcado nas contribuições de Durkheim (século XVIII-XIX). De acordo com esse pensador, o homem é 36 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | A participação do corpo da criança nas atividades criadoras: uma análise na perspectivahistórico-cultural fraturado em duas faces dicotômicas, que se divergem pelo caráter opositor que as constituem. De um lado, tem-se a curiosidade, a imaginação e a instabilidade e, por outro lado, tradicionalismo, respeito as normas e credulidade. Os educadores devem priorizar a face de segunda ordem, mesmo que tenham que destruir a primeira. A sala de aula, de modo geral, tem como legado um viés educacional voltado para formas de controle da ação e do tempo do aluno. Os processos guiados pela imaginação, muitas vezes, por força de seu caráter voltado para a imprevisibilidade, acabam por provocar um mal-estar no adulto, porque tais atividades rompem com o planejado e com o esperado. De fato, os conteúdos, as regras, os processos normativos e conteudísticos são privilegiados, não somente nos espaços escolares, mas também em todas as dinâmicas sociais. O cotidiano escolar, na maioria das vezes, reproduz concepções hegemônicas mais amplas, que se traduzem no fascínio à razão e à busca de verdades científicas, em oposição aos elementos da experiência sensível, ao campo da imaginação e das artes. Tendo como herança uma concepção pedagógica mais tradicional, o espaço de sala de aula deixa de ser experimental, utópico, produtor e motivador de novidades e se configura como um mero reprodutor de ideologias que permeiam as atividades educacionais e as estratégias pedagógicas. Por isso, torna-se necessário ampliar os esforços investigativos para uma melhor compreensão, por parte do universo escolar, das formas de manifestação da imaginação e criação de crianças e educadores. Revela-se, então, a necessidade de se rediscutir as práticas tradicionais de formação, que ainda se encontram presas aos conteúdos ancorados na racionalidade técnica. Nessa linha argumentativa, é importante entender que imaginar e conhecer são processos que não se separam. Para os teóricos da corrente histórico-cultural, a ação criadora envolve processos cognoscitivos e vice-versa. [...] cada indivíduo tem objetivado no real, nas di- versas obras que compartilha, que cria ou que vê sendo criadas, um saber original sobre a própria re- alidade. Por isso, é impossível pensar os atos cri- adores dissociados dos atos de significação e dos processos de interpretação historicamente produzi- dos. Nesse sentido, imaginar e conhecer são proces- sos indissociáveis da atividade mental do homem e constituem o princípio do processo criativo (SILVA, 2006, p. 125). 37PedagogiaUESC 2 U ni da de As formas como as crianças configuram suas expressões criativas, por meio das brincadeiras, narrativas, desenhos e demais meios, demonstram, não somente, seus modos de pensar sobre o real, mas também de senti-lo e interpretá-lo (SILVA; DIAS; ABREU, 2003). No que tange ao fazer pedagógico, este deve privilegiar a capacidade de expandir tais atividades imaginativas. Isso significa dizer que os espaços formativos podem e devem diversificar e multiplicar as experiências dos alunos frente à realidade conhecida, vivida e sentida. Por outro lado, pesquisas apontam para a restrição de ações pedagógicas que privilegiam a imaginação (GOÉS, 1997; GONÇALVES, 2001; ROCHA 1997 et al). Em decorrência disso, tais investigações demonstram a real necessidade de se ampliar as discussões sobre a atividade criadora no processo de formação de educadores (ABREU e SILVA, 2010). Assim, essas questões devem ser refletidas de modo constante pelos profissionais da escola para que a imaginação possa ser compreendida na esfera institucional como espaço propício para a ampliação da experiência infantil. 4 AS ATIVIDADES CRIADORAS DA CRIANÇA: FAZ-DE- CONTA, NARRATIVA E DESENHO Na abordagem histórico-cultural, privilegia-se, de modo especial, o modo de participação do outro nos processos de ensino aprendizagem. As relações educador/aluno e aluno/aluno são destacadas nas investigações e análises do evento educacional. De fato, a posição assumida pelo adulto diante das produções infantis, em especial, nas atividades de cunho imaginativo, ou seja, naquelas guiadas pela imaginação (em que se destaca o desenho, a narrativa e as brincadeiras, entre outras); além de consolidar uma visão sobre o espaço pedagógico, também reflete a forma como as crianças significam suas ações e a maneira como o educador se percebe como autor de seu próprio ofício. O educador se torna ator principal (junto com a criança) dentro do fazer pedagógico, por encorajar as manifestações criativas ou as inibir. Mas, como indicado pelas pesquisas anteriormente citadas, na maioria das vezes, a posição ocupada pelo professor é a de repreender as fantasias infantis. 38 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | A participação do corpo da criança nas atividades criadoras: uma análise na perspectiva histórico-cultural Figura 2.3: Imaginação Fonte: http://www.futurity.org/health-medicine/imagination-helps-kids-cope-with-pain/ Veja o episódio abaixo, ocorrido em uma turma de pré-escolar, no Estado do Rio de Janeiro: O Curupira de pé-direito A professora pega um livro e começa a ler a história do Curupira. Ela está em pé, de frente para as crianças, que se encontram sentadas em suas carteiras. As crianças, aos poucos, vão se levantando, ficam paralisadas com a história. No momento, em que ela fala que o Curupira gosta de fumar e beber, a professora lembra (à turma) que a história não é de verdade, é uma lenda e que não existe na vida real. Ela comenta, de forma incisiva, que é mentira, mas é questionada por Gustavo: - Nunca vi um Curupira de pé para trás, mas já vi um Curupira de pé-direito. Imediatamente, Luisa comenta, com olhos bem fixos em Gustavo: - Onde você viu? Me fala... onde você viu? 39PedagogiaUESC 2 U ni da de Gustavo, meio intimidado, desconversa e comenta (para que a docente esqueça da situação): - Continua... Continua a ler... [...] No que diz respeito às brincadeiras, Rocha (2000) relata, ao investigar o faz-de-conta na pré-escola, que, no decorrer desta atividade, não eram raras as censuras efetuadas pelas educadoras. Nos episódios analisados por ela, percebe-se que a brincadeira se estabelece como um momento livre, em que se podem deixar as crianças no parque sem grandes preocupações, salvo nos momentos de disputa de material e confusões entre as crianças. Ou seja, nos momentos em que há uma necessidade de organização e disciplina. Em outras circunstâncias, em que a educadora participa das brincadeiras, pode-se observar que há uma condução docente sobre as encenações lúdicas das crianças. Em geral, o brincar toma direcionamentos para atividades de cunho avaliativo e de ensino de conteúdos escolares previstos para a idade. Essa atitude, segundo a autora, acarreta uma descaracterização do próprio funcionamento do lúdico, que vai ganhando uma configuração por parte das crianças de que a brincadeira é uma atividade diversa da produção cognoscitiva. Veja o episódio coletado por Rocha (2000, p. 129- 131), em uma turma do pré-escolar: “ Ana: Tia, olha a minha mamadeira. (mostra a “mamadeira”.) Pf:Nossa, que mamadeira moderna, não? Ana: Aqui, [Aponta um dos botões] aperta, sai leite. Pf:Ah, sai leite! Hum! Leite quente ou leite frio? Quente ou frio? Ana: Quente. Aqui a gente aperta e sai de morango [Aponta outro botão]. Pf: O que é quente que você conhece? O que é quente? Alguma coisa que você conhece que é quente? Ana: Comida. Pf: Comida é quente. Que mais é quente sem ser comida? Ana: Leite. Pf: Leite quente. Que mais que é quente? 40 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | A participação do corpo da criança nas atividades criadoras: uma análise na perspectiva histórico-cultural [...] Ana: Sopa, sopa! Pf: Ah, sopa é quente. Que mais que é quente? Ana: Macarrão. Pf: Macarrão é quente. Humm! Você gosta de macarrão? [...] Ana: Aperta aqui, sai morango.Pf: Ah! Aperta aqui sai morango? Sai morango? É sabor de morango? Que mais que você conhece que tem sabor de morango? Ana: Morango. Pf: Morango tem sabor de morango. Que mais que você conhece que tem sabor de morango? Segue-se conversa sobre coisas que tem sabor de morango, com a professora dando pistas para Ana, para que respondesse sorvete e gelatina. O mesmo esquema de conversa se segue quando Ana aponta o terceiro botão: Ana: Aperta aqui, sai... Pf:Onde aperta? Aperta aqui sai de quê? Ana:...de Leite Moça. Pf: De Leite Moça. Que que você já comeu que tem Leite Moça? [...] Pf: Limão é azedo. O que mais você conhece que é azedo? Ana:Sal. Pf: Sal é azedo? É azedo sal? [Com tom de voz indicando estranhamento]. Ana: Não. No decorrer da conversa, Aline passa por perto delas e diz: Aline: Ah minha mamadeira! [Tira a “mamadeira” da mão de Ana e sai.] [...] Nessa direção, Paniagua e Palacios (2008) colocam que a brincadeira tem papel fundamental na educação infantil; pois, por meio dela, é possível tentar todos os tipos de habilidades sem as exigências próprias das tarefas. Mas não é raro acontecer, ainda mais nos anos finais da educação infantil, que a ação lúdica seja colocada como descanso ou prêmio para aqueles que se comportaram ou fizeram a atividade. A escola tende a podar o brincar, pois está voltada para atitudes 41PedagogiaUESC 2 U ni da de formativas, em que as atividades lúdico/pedagógicas, que envolvem a formação criativa e estética do aluno, são renegadas. E, assim, incorpora-se a concepção hegemônica de que a brincadeira é algo inferior, menos importante que os aspectos conteudísticos, já que a escola é comumente vista como local para fazer lições, exercícios e dever. Dessa maneira, estabelece-se uma dualidade entre o brincar e o trabalho sério, como se o brincar não tivesse uma conotação também educativa e direcionada. Sabe-se que nessa idade a brincadeira não é só diversão, mas também é entendida como descoberta, consolidação e aprendizagem sobre coisas e relações. Mais do que isso! É por meio dela que a criança também se revela como autora. Ao brincar, a criança lê e interpreta o mundo. A criança que monta um cabo de vassoura e imagi- na-se cavalgando um cavalo; a menina que brinca de boneca e imagina-se a mãe; a criança que, na brincadeira, transforma-se num bandido, num sol- dado do Exercito Vermelho, num marinheiro – todas essas crianças brincantes representam exemplos da sua autentica e verdadeira criação. [...] As brincadei- ras infantis, frequentemente, são apenas um eco do que a criança viu e ouviu dos adultos [...] (VIGOTS- KI, 2009. p. 16 e 17). Como assim? Além de imitar papéis sociais (pai, mãe, motorista, professora, vizinho, irmão), ela, por meio da observação e das experiências em diversas situações do cotidiano, elabora situações, criando coisas. Por meio da imaginação, como um jogo de tira-retira (as- sociação e dissociação), os pe- quenos combinam elementos de sua realidade e reconstroem suas próprias maneiras de se co- locar no mundo, surgindo novos comportamentos. Podemos per- ceber, então, que a brincadeira é uma das formas da criança criar e recriar a cultura. Outra forma de ativida- de da criança é o desenho. Silva (1993), ao pesquisá-lo, identifi- ca, assim como Rocha (2000), atitudes impeditivas e/ou orien- Figura 2.4: Crianças brincando. Portinari, 1955. Fonte: <http://www.portinari.org.br/ candinho/candinho/abertura.htm>. 42 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | A participação do corpo da criança nas atividades criadoras: uma análise na perspectiva histórico-cultural tações pedagógicas frente às produções dos pequenos. Em muitos momentos, a pesquisadora observou que a professora instrumentali- zou o modo como a criança deve confeccionar seu desenho, por meio de sugestão, determinação de cores a serem usadas e de uma pa- dronização estética presa a determinados critérios gráficos. De fato, a prática docente tende a priorizar o produto, em detrimento do pro- cesso, em que o desenho é composto. Quem conhece a música Aquarela, na voz de Toquinho? Nela, podemos identificar a relação entre o desenho e a imaginação infantil. Aquarela (Toquinho / Vinicius de Moraes / G.Morra / M.Fabrizio) Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo. Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva, E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva. Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel, Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu. Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul, Vou com ela, viajando, Havai, Pequim ou Istambul. Pinto um barco a vela branco, navegando, é tanto céu e mar num beijo azul. Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená. Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar. Basta imaginar e ele está partindo, sereno, indo, E se a gente quiser ele vai pousar. Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida. De uma América a outra consigo passar num segundo, Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo. Um menino caminha e caminhando chega no muro E ali logo em frente, a esperar pela gente, o futuro está. E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar, Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar. Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar. Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá. O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar. Vamos todos numa linda passarela De uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá. Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá). E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá). Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo (que descolorirá). Fonte:http://www.vagalume.com.br/toquinho/aquarela-original.html#ixzz 1MfrrH0Ff Ou seja, a forma de elaboração e as opções estéticas da criança, ao desenhar, são questões que não são focalizadas pelos educadores. Ferreira (1998) corrobora com essa ideia, ao apontar 43PedagogiaUESC 2 U ni da de que existe uma situação contraditória por parte dos educadores que: ora incentivam o desenho (na maioria das vezes, em algum trabalho associado a ocasiões especiais – Dia das Mães, por exemplo), ora propõem desenhos livres (para ocupar o tempo entre uma atividade ou outra), menosprezando e ignorando a esfera efetiva da produção das crianças. Além do faz-de-conta e do desenho, a narrativa merece atenção. Sobre isso, Góes (1997) demonstra que, apesar de os momentos de contar histórias serem valorizados nas dinâmicas pedagógicas, ainda existem restrições de educadores no tratamento da produção infantil. Muitas vezes, a história contada pela criança é silenciada, deslocada ou instrumentalizada. É comum, em situações em que as crianças contam o que foi vivido (relatando casos reais mesclados com eventos imaginários), os educadores tentarem conduzi-las a uma operação de conhecimento formal. Essa atitude desconstrói a narrativa produzida e desencoraja na elaboração de histórias que não tem apelo à realidade, ao concreto, ao verossímil. Dessa forma, como vimos nesse capítulo, é fundamental desenvolver um olhar atencioso frente às ações criadoras das crianças, viabilizando o alargamento da experiência subjetiva implicada na criação. Oportunizar às crianças o contato com o mundo do faz- de-conta (em que o cachorro fala e a porta sorri, por exemplo) é fundamental para que as janelas da imaginação e da elaboração dos processos abstrativos se desenvolvam plenamente. Figura 2.5: Soltando Papagaios. Porti- nari, 1952. Fonte: http://www.portinari. org.br/candinho/candinho/abertura.htm 44 Módulo 4 I Volume 4 EAD Educação, Ludicidade e Corporeidade | A participação do corpo da criança nas atividades criadoras: uma
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