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25 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 2 Identificação de impactos Como apresentado no capítulo anterior, o estudo de impacto am- biental (EIA) tem como objetivo identificar todos os impactos prováveis e demonstrar quais deles podem ser significativos para, então, propor medidas de interferência. Esse conjunto de informações será importan- te para analisar a viabilidade ambiental do empreendimento, e, por con- seguinte, recomendar ou não a emissão da licença prévia. 26 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Os estudos iniciais do EIA, voltados à caracterização do empreendi- mento e ao diagnóstico da região afetada, devem ser planejados com base em uma identificação preliminar dos prováveis impactos. Apesar dessa identificação preliminar não ser apresentada no EIA, ela é par- te fundamental do planejamento das atividades do estudo. Para ajudar nessa tarefa, geralmente são consultados manuais técnicos, estudos desenvolvidos para casos semelhantes, publicações científicas e tam- bém o próprio conhecimento da equipe envolvida no desenvolvimento do EIA, sempre buscando reunir impactos comuns do empreendimento proposto. Há inclusive várias listas de verificação (checklists) que são disponibilizadas por órgãos ambientais no Brasil para garantir que im- pactos que possam ser relevantes não sejam esquecidos no processo. A etapa em que é elaborada a lista de impactos específica para o em- preendimento em análise no EIA é chamada de identificação de impac- tos. Destacaremos neste capítulo alguns dos procedimentos e métodos adotados para esse fim. 1 Cruzamento das características do projeto com as características socioambientais A identificação de impactos é feita a partir do cruzamento de carac- terísticas do projeto com características ambientais da localização do projeto proposto, de acordo com suas áreas de influência. Um certo tipo de projeto costuma ter alguns impactos comuns in- dependentemente de onde ele se instala. É o caso dos impactos decor- rentes do barramento de águas em uma barragem ou a modificação da orla na implantação de um porto, que são inerentes a esses empreen- dimentos e que certamente ocorrerão em qualquer localização e para todo o tipo de porte e design do projeto. Porém, há impactos específicos em algumas localizações. Por exem- plo, em uma região com formações cársticas, os empreendimentos 27 Identificação de impactos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. podem vir a impedir o acesso a cavernas ou até suprimir cavidades; se na região houver escassez hídrica severa, mesmo projetos com consu- mo relativamente baixo podem se mostrar inviáveis; em regiões com grande número de espécies endêmicas, a supressão de vegetação não pode ser compensada de forma que haja equivalência ecológica, levan- do à perda de biodiversidade. Essas características podem ser modi- ficadas em maior ou menor grau por um novo projeto, a depender de seu porte, das tecnologias que serão adotadas e da forma como serão executadas as obras, entre outros aspectos. Cada característica do projeto e da área deve ser analisada, individual e conjuntamente, visando então elencar quais impactos podem ocorrer com base nas informações reunidas. Aqueles que foram enumerados na identificação preliminar devem ser revisados para verificar se são aplicáveis. Além disso, é possível que novos impactos sejam apontados. É preciso que a análise seja bem detalhada em relação às informa- ções disponíveis para que nenhum impacto relevante seja esquecido. Um exemplo de impacto de grande importância que não foi identifi- cado ocorreu no caso do projeto de transposição de águas do rio São Francisco para o Nordeste setentrional, em que o EIA não apontou o impacto indireto da supressão de vegetação para implantação de novas áreas de irrigação. No entanto, esse EIA indicou a utilização agrícola dessas áreas como efeito positivo do empreendimento (BRASIL, 2004). Assim, as áreas foram consideradas na análise, mas um dos impactos não foi identificado nem analisado no EIA. A identificação de impactos é bastante dependente das informa- ções do diagnóstico e da caracterização do empreendimento, de for- ma que se essas informações não forem exploradas adequadamente, existe grande probabilidade de impactos relevantes não serem iden- tificados. No caso da Usina Hidrelétrica de Barra Grande, o diagnósti- co do EIA não mencionou a existência de remanescentes de floresta com araucárias que abrigavam importantes espécies ameaçadas de 28 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .extinção e alto índice de diversidade genética na área a ser inunda- da pelo reservatório. As informações dessa área só foram exploradas quando foi solicitada a autorização para supressão da vegetação, mui- to depois da aprovação do EIA e emissão de licença prévia e de insta- lação (PROCHNOW, 2005). De forma semelhante, é possível que um impacto seja identificado, mas que as informações do diagnóstico e da caracterização do em- preendimento não sejam suficientes para uma avaliação adequada. Hipoteticamente, a comunidade local pode ter mencionado a taboa como importante espécie para o artesanato local, todavia, ao buscar informações no diagnóstico, há apenas a menção da existência da ta- boa e que a espécie não está ameaçada de extinção, mas sem trazer informações sobre a localização e o futuro da área em que a taboa é co- letada. Nessas situações, é admissível que sejam elaborados estudos complementares que possam auxiliar na caracterização do impacto. Com isso, há casos em que há informações e o impacto não é iden- tificado, e há casos em que não há informações adequadas ou a infor- mação é insuficiente, o que também não permite a adequada identifica- ção e análise do impacto. Para que nenhum desses problemas ocorra, é preciso tanto adotar boas práticas na elaboração do diagnóstico e da caracterização do empreendimento quanto adotar métodos sistemáti- cos para a identificação de impactos. O diagnóstico do estudo deve ser planejado a partir da tipologia do empreendimento, avaliando quais os principais componentes socio- ambientais podem ser afetados. Por exemplo, se a tipologia for uma hidrelétrica, os componentes associados ao curso d’água devem ser considerados, como qualidade da água, regime de transporte de sedi- mentos, processos erosivos, biota aquática, comunidades ribeirinhas de pesca, vegetação de APP e da área do reservatório, entre outros. Para uma indústria, não se pode negligenciar os estudos de qualidade do ar considerando as emissões do processo industrial e associando-se aos 29 Identificação de impactos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas daLei. © Editora Senac São Paulo. limites da bacia aérea. Associada à tipologia, deve-se analisar a sensi- bilidade do local de instalação, retomando os exemplos citados. Se a hidrelétrica for na Amazônia, os componentes associados à biodiver- sidade devem ser estudados em profundidade. No caso da indústria, o estudo da população do entorno é muito importante para avaliar os futuros impactos. O diagnóstico também precisa ser analisado quanto às suas principais conclusões, com atenção especial para os temas mais sensíveis ou prioritários para a qualidade ambiental e qualidade de vida. O projeto deve ser observado em relação a todas as atividades a se- rem desenvolvidas, a localização das estruturas, consumo de recursos, efluentes e emissões esperadas; é preciso também observar possíveis impactos de estruturas associadas ao empreendimento. Linhas de transmissão que serão implantadas como parte de projetos ou vias de acesso, por exemplo, são dois casos em que os impactos podem ser analisados apenas parcialmente (BRASIL, 2004). O empreendedor deve fornecer informações com detalhamento suficiente para que o item de caracterização do empreendimento explicite informações relevan- tes e permitam a identificação das atividades a serem executadas em cada etapa do empreendimento (genericamente identificadas em pla- nejamento, implantação, operação e desativação). É fundamental que sejam disponibilizadas informações sobre o porte de cada ação; por exemplo, área afetada, volume de movimento de terra, número de mão de obra em cada etapa, volume de insumos necessários, quantitativo de caminhões e maquinários, local e detalhamento do canteiro de obras e acessos, entre outros. Um ponto importante que influencia a identificação de impactos é o grau de detalhamento do projeto de engenharia que é usado como base para a elaboração do EIA. Esses projetos começam a ser desenvolvidos em linhas gerais e vão sendo detalhados ao longo do tempo, e é muito comum que o EIA seja desenvolvido a partir de um projeto preliminar, que é detalhado posteriormente, com a elaboração do projeto básico, e 30 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .finalmente, na elaboração do projeto executivo. Com isso, pode haver uma grande diferença entre o projeto estudado no EIA e o projeto que será implantado. Assim, obviamente, é preciso que a equipe responsá- vel pelos estudos ambientais esteja sempre munida das informações mais recentes do projeto, e que, em fases posteriores do processo de AIA, faça as atualizações necessárias. Finalmente, boas práticas na identificação de impactos demandam uma análise conjunta das informações do diagnóstico e do projeto, quando a equipe responsável pela elaboração do EIA poderá criar uma lista dos impactos do empreendimento em estudo, a ser detalhada e caracterizada nas etapas seguintes. O grupo responsável deve buscar indicar todos os efeitos que possam ser significativos, incluindo os im- pactos indiretos, os que terão características de cumulatividade e siner- gia e também os que só irão se manifestar em longo prazo. Para ajudar nessa trabalhosa tarefa de identificação, algumas fer- ramentas são frequentemente usadas. Neste capítulo vamos explorar duas delas: a matriz de identificação e as redes de impactos ou diagra- mas de interação. Essas ferramentas são importantes para o estabe- lecimento de relações de causa e efeito, considerando as ações pro- postas pelo empreendimento como as causas, e os impactos, como efeitos. Esse estabelecimento de causalidade é fundamental para iden- tificar as consequências de cada uma das ações previstas e permite ainda evidenciar a cumulatividade de alguns impactos (quando vários deles incidem sobre um mesmo componente) e direcionar a proposi- ção de medidas mitigadoras às suas causas (DUARTE; SÁNCHEZ, 2015; PERDICOÚLIS; GLASSON, 2006; 2012). 2 Definindo enunciados dos impactos Antes de explorarmos os métodos, vale destacar um aspecto rele- vante sobre a identificação de impactos: sua definição de enunciado. 31 Identificação de impactos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Esse tema é relevante pois há uma grande heterogeneidade na forma como os impactos são denominados. Por vezes eles podem ser apre- sentados de forma genérica ou mesmo incorreta (BRASIL, 2004). Os enunciados dos impactos podem ser abrangentes ou mais deta- lhados, em outras palavras, podem agregar vários impactos menores ou semelhantes sob um único título ou privilegiar a especificação e o tratamento em separado de cada um deles. A opção por formatos mais agregados ou desagregados resultará em um número de impactos maior ou menor. Isso não é necessariamente um problema, obviamen- te, o essencial é que todos os impactos sejam contemplados. No entan- to, é preciso considerar que optar por formas mais agregadas ou menos agregadas traz consequências para as etapas seguintes, em que é reali- zada a caracterização e avaliação de cada um dos impactos, bem como a indicação de proposta de medidas mitigadoras e monitoramento. Para apresentar enunciados de impactos de forma adequada, é pre- ciso ter em mente o conceito de impacto ambiental – alterações impos- tas ao ambiente pela ação humana. Por isso, o enunciado do impacto deve, obrigatoriamente, indicar qual alteração está ocorrendo. Segundo Sánchez (2013), esses enunciados devem ser concisos, suficientemente precisos para evitar ambiguidades na interpretação, logo, precisam ser sintéticos, autoexplicativos e descrever o sentido das alterações (se se- rão positivos ou negativos). Um impacto descrito de forma genérica, como “alteração da qualidade de vida”, é incapaz de comunicar qual mudança poderá ocorrer. Em vez de adotar esse enunciado, que diz respeito a uma série de mudanças, o me- lhor seria detalhar cada uma das alterações em enunciados separados. Impactos socioeconômicos usualmente são descrições de processos sociais e há variadas formas de apresentá-los (VANCLAY et al., 2015). Esses processos estão muitas vezes estreitamente relacionados, sendo que um decorre do outro e/ou não ocorre sem o outro. Por exemplo, a contratação de mão de obra que privilegie a qualificação de trabalhadores locais gerará aumento da qualificação da mão de obra, da massa salarial, 32 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .da renda da população e do número de trabalhadores empregados. Uma única ação gera impactos distintos e positivos nesse caso. Já a migração – quando muitas pessoas são atraídas para os municípios em que há previsão de contratação de mão de obra – provoca aumento populacional repentino, comumente não acompanha- do por aumento da oferta de serviços públicos e infraestrutura. Alguns dos impactos sociais que decorrem desse processo migratório são au- mento da demanda por: • equipamentos e serviços públicos para saúde; • equipamentos e serviços públicos para educação; • segurança pública; • infraestrutura viária; • infraestrutura e serviços de comunicação; • infraestrutura e serviços de saneamento(esgotamento sanitário, abastecimento de água e coleta e destinação de resíduos sólidos). Detalhar os impactos dessa forma pode ser fundamental para uma proposição adequada de medidas mitigadoras que sejam focadas em cada um desses processos. Também seria possível demonstrar clara- mente quais atores precisariam ser envolvidos em cada caso e suas atribuições – órgãos ligados a saúde, educação, segurança, obras pú- blicas e saneamento. A avaliação de importância de cada um deles também poderia ser diferente, uma vez que talvez haja infraestrutura suficiente para educação, mas não para saúde e saneamento. A avaliação de impactos sociais (AIS) pode ser conduzida de forma paralela ao desenvolvimento do EIA, o que é adotado em alguns paí- ses, como Austrália, África do Sul e Estados Unidos (ESTEVES; FRANKS; VANCLAY, 2012). Nesses casos, o processo de AIS começa antes dos 33 Identificação de impactos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. estudos ambientais e analisa impactos, propõe e implementa medidas que ocorrem ainda na fase de planejamento. No Brasil, ainda que haja identificação de impactos da fase de planejamento, quando o EIA é aprovado e a LP emitida, muitos deles já ocorreram ou estão em curso. Desse modo, o EIA ainda não tem as medidas mitigadoras detalhadas e aprovadas, pois isso só ocorre após a elaboração do PBA e a emissão da LI. Ainda assim, o empreendedor poderá iniciar o gerenciamento de impactos na etapa de planejamento de forma voluntária. PARA SABER MAIS Conceitos, boas práticas e métodos da AIS podem ser adotados no con- texto brasileiro tanto para a fase de planejamento quanto para as pos- teriores (HANNA et al., 2014; MONTAÑO, 2014). Um importante manual dessa área é o Social impact assessment: guidance for assessing and managing the social impacts of projects (VANCLAY et al., 2015), que foi elaborado a partir da experiência prática de profissionais e pesquisa- dores de vários países e publicado pela Associação Internacional para Avaliação de Impacto (IAIA) em 2015. Outra questão relevante na definição dos impactos é explicitar o sen- tido da alteração. É comum encontrar o impacto descrito como “criação de expectativas” na etapa de planejamento dos empreendimentos. Ora, quando há a divulgação da intenção de instalar um novo empreendi- mento em uma região, moradores e migrantes podem ficar receosos e ter uma expectativa negativa em relação às transformações que pode- rão ocorrer no modo de vida. Ao mesmo tempo, têm expectativas posi- tivas quanto aos benefícios com a geração de empregos e mesmo com a movimentação na região. Por isso, seria possível diferenciar o impacto “criação de expectativas positivas” do impacto “criação de expectativas negativas”, já que se trata de dois impactos distintos, que também exigi- rão medidas que os acompanhem. 34 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .IMPORTANTE A definição dos enunciados dos impactos ambientais e sociais deve indi- car o tipo de alteração prevista e o processo, propriedade ou componente afetado. É possível também incluir a descrição da causa do impacto se isso tornar a definição mais precisa e clara. Como exemplos de enuncia- dos podemos então citar: aumento do incômodo à população devido ao ruído na fase de obras ou à geração de poeira; perda de indivíduos da fauna por atropelamento ou por aumento de atividades de caça. 3 Matrizes de identificação As matrizes de identificação de impactos são amplamente adotadas nos EIAs brasileiros. Uma matriz consiste em uma tabela com infor- mações sobre o empreendimento e a região, uma em linhas e a outra em colunas, que permite a verificação da relação entre cada elemento individualmente. As matrizes cruzam informações das fases ou atividades do empre- endimento e os componentes ambientais por cada um dos meios. No lugar dos componentes, podem também apresentar processos ambien- tais e sociais. De modo geral, são listadas as etapas do projeto, seus componentes ou processos, que são contrapostos às características dos meios estudados, marcando de diferentes modos as relações en- contradas. Tais marcações são, então, descritas nas etapas seguintes do EIA. Acompanhe nos exemplos dos quadros 1 e 2 as matrizes apre- sentadas em dois EIAs. 35 Identificação de impactos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Quadro 1 – Trecho da matriz de identificação de impactos apresentada em um EIA de usina de cana-de-açúcar Meio ambiente Atividades de ampliação e operação Planejamento Implantação Operação Ambiente Componentes 1 Compatibilidade legal 2 Obras de ampliação 3 Processo agrícola 4 Processo industrial 5 Suporte AID – Área de influência direta M ei o fís ic o At m os fé ric o Clima Temperatura Umidade do ar Chuva Ventos Qualidade do ar N N Ruído N N N Te rre st re Geologia Geomorfologia Pedologia N N Geotecnia (erosão) N N Aptidão agrícola do solo N e P N Aq uá tic o Hidrogeologia Qualidade das águas subterrâneas N N P e N Suscetibilidade ao assoreamento N N Suscetibilidade à inundação Qualidade das águas superficiais N N P Legenda: N – impactos negativos P – impactos positivos Fonte: Proamb (2010). 36 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Como é possível verificar no quadro 1, a matriz inclui mais informa- ções do que apenas se o impacto existe ou não. No exemplo, a identi- ficação apresenta também a natureza do impacto. Alguns modelos de matrizes diferenciam já nesta etapa quem serão os afetados em cada um dos casos, bem como exibem dados comparativos entre diferentes alternativas (GLASSON; THÉRIVEL; CHADWICK, 2012). Quadro 2 – Trecho da matriz de identificação de impactos do EIA do prolongamento da Rodovia SP-083 – Fase 2 ASPECTOS AMBIENTAIS (AA) AA.1 MEIO FÍSICO AA.2 MEIO BIÓTICO ATIVIDADES IMPACTANTES (AI) AA.1.1 Terrenos AA.1.2 AA.1.3 AA.1.4 AA.2.3 Recursos Recursos AA.2.1 AA.2.2 Qualidade Unid. de hídricos hídricos Vegetação Faunado ar conserv.superficiais subterrâneos AI.1. ETAPA DE PLANEJAMENTO AI.1.1 Divulgação do empreendimento AI.1.2 Desapropriação AI.2. ETAPA DE CONSTRUÇÃO AI.2.1 Liberação da faixa de domínio AI.2.2 Contratação de mão de obra AI.2.3 Contratação de serviços (cont.) 37 Identificação de impactos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. ASPECTOS AMBIENTAIS (AA) ATIVIDADES IMPACTANTES (AI) AA.1 MEIO FÍSICO AA.2 MEIO BIÓTICO AA.1.1 Terrenos AA.1.2 Recursos hídricos superficiais AA.1.3 Recursos hídricos subterrâneos AA.1.4 qualidade do ar AA.2.1 Vegetação AA.2.2 Fauna AA.2.3 Unid. de conserv. AI.2.6 Limpeza epreparação do terreno IP.1.1 IP.2.1 / IP.2.2 IP.4.1 IP.5.1 IP.5.2 IP.6.1 IP.6.3 IP.7.1 AI.2.7 Demolições IP.4.1 P.6.3 Fonte: Geotec (2016, p. 35). No quadro 2, nas células, há a indicação de um código que é adotado nas seções seguintes do EIA, visando garantir que os impactos identifica- dos na matriz serão todos descritos nas seções seguintes do EIA. Note que mais de um impacto pode ocorrer em um mesmo cruzamento. Como um ponto forte, as matrizes conseguem sintetizar uma quan- tidade grande de informações e permitem identificar rapidamente os componentes mais afetados e as atividades relevantes para o contexto da avaliação de impactos ambientais. Como ponto negativo, as relações de causa e efeito não ficam claras na matriz e precisam ser explicadas em texto. A equipe responsável pelo desenvolvimento do EIA também deverá ter o cuidado de extrair da matriz todos os impactos identifica- dos, para então apresentá-los em detalhes nas seções subsequentes do EIA, em que é feita análise, valoração de impactos e a proposição de medidas (GLASSON; THÉRIVEL; CHADWICK, 2012). As matrizes podem também incluir resultados das análises sobre os impactos, de forma que, além de evidenciá-los, também já demons- trariam suas características. No quadro 3 temos um exemplo de matriz que traz a identificação de atividades, aspectos e impactos. Ela também confere uma qualificação de importância para os diferentes impactos que já estão apresentados com seus enunciados no lado direito. 38 Im pactos am bientais: análise e m edidas Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Quadro 3 – Exemplo de matriz de identificação com indicação de características dos impactos ATIVIDADES QUE COMPÕEM OS ALTEAMENTOS DA BARRAGEM B5 ASPECTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DO EMPREENDIMENTO IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DO EMPREENDIMENTO OB RA S DE R EF OR ÇO D O PÉ D AS B AR RA GE NS B 1/ B4 DE SM AT AM EN TO OB RA S DE D ES VI O DO S AC ES SO S (3 .1 60 m ) OB RA S DE A LT EA M EN TO A TÉ A C OT A DE 9 58 m OB RA S DE A LT EA M EN TO A TÉ A C OT A DE 9 65 m M ON IT OR AM EN TO G EO TÉ CN IC O OP ER AÇ ÃO N O AL TE AM EN TO A TÉ A C OT A DE 9 58 m OB RA S DE A LT EA M EN TO A TÉ A C OT A 96 5 m RE VE ST IM EN TO D OS T AL UD ES D E JU SA NT E M ON IT OR AM EN TO A M BI EN TA L DE SA TI VA ÇÃ O DE TE RI OR AÇ ÃO D AS P RO PR IE DA DE S FÍ SI CA S DO S OL O RI SC O DE C ON TA M IN AÇ ÃO D O SO LO DE TE RI OR AÇ ÃO D A QU AL ID AD E DO A R DE TE RI OR AÇ ÃO D A QU AL ID AD E DA S ÁG UA S SU PE RF IC IA IS PE RD A DE E SP ÉC IM ES (I ND IV ÍD UO S) D E FL OR A NA TI VA PE RD A DE H AB IT AT S TE RR ES TR ES N AT UR AI S IM PA CT O VI SU AL IN CÔ M OD O E DE SC ON FO RT O AM BI EN TA L PE RD A PO TE NC IA L DE V ES TÍ GI OS A RQ UE OL ÓG IC OS M AN UT EN ÇÃ O DE P OS TO S DE T RA BA LH O MUDANÇA DE USO DO SOLO X X X X X X ALTERAÇÃO DA TOPOGRAFIA LOCAL X PERDA DE VEGETAÇÃO NATIVA X X PERDA DE ÁREAS POTENCIAIS DE CULTURA E PASTAGEM X X X X X X X MODIFICAÇÃO DAS FORMAS DE USO DO SOLO X X GERAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS X X X X X X CARREAMENTO DE PARTÍCULAS SÓLIDAS EMISSÕES X X X X X X EMISSÃO DE MATERIAL PARTICULADO (cont.) 39 Identificação de im pactos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. ATIVIDADES QUE COMPÕEM OS ALTEAMENTOS DA BARRAGEM B5 ASPECTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DO EMPREENDIMENTO IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DO EMPREENDIMENTO OB RA S DE R EF OR ÇO D O PÉ D AS B AR RA GE NS B 1/ B4 DE SM AT AM EN TO OB RA S DE D ES VI O DO S AC ES SO S (3 .1 60 m ) OB RA S DE A LT EA M EN TO A TÉ A C OT A DE 9 58 m OB RA S DE A LT EA M EN TO A TÉ A C OT A DE 9 65 m M ON IT OR AM EN TO G EO TÉ CN IC O OP ER AÇ ÃO N O AL TE AM EN TO A TÉ A C OT A DE 9 58 m OB RA S DE A LT EA M EN TO A TÉ A C OT A 96 5 m RE VE ST IM EN TO D OS T AL UD ES D E JU SA NT E M ON IT OR AM EN TO A M BI EN TA L DE SA TI VA ÇÃ O DE TE RI OR AÇ ÃO D AS P RO PR IE DA DE S FÍ SI CA S DO S OL O RI SC O DE C ON TA M IN AÇ ÃO D O SO LO DE TE RI OR AÇ ÃO D A QU AL ID AD E DO A R DE TE RI OR AÇ ÃO D A QU AL ID AD E DA S ÁG UA S SU PE RF IC IA IS PE RD A DE E SP ÉC IM ES (I ND IV ÍD UO S) D E FL OR A NA TI VA PE RD A DE H AB IT AT S TE RR ES TR ES N AT UR AI S IM PA CT O VI SU AL IN CÔ M OD O E DE SC ON FO RT O AM BI EN TA L PE RD A PO TE NC IA L DE V ES TÍ GI OS A RQ UE OL ÓG IC OS M AN UT EN ÇÃ O DE P OS TO S DE T RA BA LH O X X X X EMISSÃO DE RUÍDOS X X X X EMISSÃO DE POLUENTES DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS X X X CONTENÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS X X X X INTERFERÊNCIA POTENCIAL EM SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS X X GERAÇÃO DE IMPOSTOS E TAXAS Legenda: – Fase de implantação – Fase de operação – Fase de desativação – Impacto de pequena importância – Impacto de média importância – Impacto de grande importância Fonte: adaptado de Sánchez e Hacking (2002, p. 25-38). 40 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 4 Redes de impactos As redes de impactos ou diagramas de integração buscam demons- trar a relação entre ações do empreendimento e os impactos de cada uma delas, em representações gráficas semelhantes a fluxogramas. Esse tipo de método estabelece cadeias de causa e efeito capazes de explicitar objetivamente a origem dos impactos de um empreendimento (CANTER, 1996; PERDICOÚLIS; GLASSON, 2006) e também é útil para demonstrar impactos que decorrem de outros impactos. Isso é relevante porque existe uma hierarquia entre eles. Os impactos que decorrem diretamente da ação do empreendimento são os primários; os decorrentes deste serão secundários, depois terciários e assim sucessi- vamente. Também é comum encontrar essa divisão apenas entre impactos diretos, que seriam os primários, e indiretos, todos os outros subsequentes (GLASSON; THÉRIVEL; CHADWICK, 2012; SÁNCHEZ, 2013). Um modelo que segue a lógica dessas redes e é adotado em alguns EIAs produzidos no Brasil é o Magia (modelo de avaliação e gestão de impactos ambientais). Ele foi desenvolvido na década de 1980 e nor- teou, inicialmente, os estudos de impacto ambiental de grandes hidrelé- tricas, sendo utilizado em grandes empreendimentos nas regiões Norte e Centro-Oeste do país (MACEDO, 1987). A figura 1 reproduz um dos diagramas apresentados no EIA da UHE (usina hidrelétrica) Santo Antônio do Jari. INAs são intervenções am- bientais, ações diretamente associadas ao empreendimento. Elas irão gerar PINs, processos indutores que determinam modificações físicas e funcionais sobre o ambiente. As modificações sobre bens ambientais causadas pelos PINs são os impactos ambientais, denominados IMPs. Nesse modelo, as caixas são ainda nomeadas com diferentes códigos que permitem uma fácil correlaçãocom o texto do estudo. 41 Identificação de impactos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Figura 1 – Rede de impacto apresentada no EIA da UHE Santo Antônio do Jari INA 04 Instalação / operação canteiro de obras PIN 15 Transporte de equipamentos materiais e insumos constr. PIN 17 Operação de máquinas e equipamentos PIN 18 Geração de descartes PIN 35 Lançamento de efluentes PIN 20 Terraplanagem PIN 37 Operação da central de britagem PIN 38 Geração de energia elétrica (diesel) PIN 16 Supressão da cobertura vegetal PIN 19 Alteração do tráfego de veículos IMP 21 Incômodos relacionados a ruídos e vibrações IMP 28 Alteração da qualidade da água PIN 39 Geração de material particulado PIN 40 Emissão de gases IMP 17 Perda de áreas de extração vegetal PIN 24 Mortandade da fauna IMP 18 Aumento do risco de acidentes rodoviários IMP 07 Risco de atrito com a população IMP 19 Sobrecarga capacidade local de disposição de resíduos sólidos IMP 04 Indução a processos erosivos IMP 06 Queda da qualidade do ar IMP 20 Pressão sobre ecossistemas terrestres Fonte: Ecology Brasil (2009, p. 41). Para construir uma rede de impactos é preciso atentar-se ao esta- belecimento correto das relações existentes. Afinal, mostrar como as ações do empreendimento estão ligadas aos impactos é a principal 42 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .razão para o uso das redes. Deste modo, apresentar conexões difíceis de compreender ou então incompletas faz o uso desse método se tor- nar injustificado. É importante que os profissionais de diferentes áreas que participam da elaboração do EIA verifiquem os diagramas e façam suas contribuições. Essa não é uma tarefa fácil, mas uma rede de im- pactos bem estabelecida traz muita clareza em relação às ações/fontes geradoras dos impactos e permite direcionar melhor a proposição de medidas mitigadoras. Vamos explorar algumas das sequências estabelecidas na rede de impactos da figura 1. A atividade de instalação e operação do canteiro de obras demanda transporte de equipamentos, materiais e insumos de construção (PIN15), considerado um processo indutor. Esse transporte, por sua vez, altera o tráfego (PIN19), que aí vai gerar um impacto de au- mento do risco de acidentes rodoviários (IMP18). Essa mesma ativida- de também induz o lançamento de efluentes (PIN35) e o impacto altera- ção da qualidade da água (IMP28). Um leitor atento poderá notar que a alteração da qualidade da água é considerada um impacto, enquanto no caso do ar foi usado o termo queda na qualidade (IMP06), com indica- ção do sentido da alteração. Já a indução a processos erosivos (IMP04) não é dada como processo indutor, mas como impacto, em vez da ace- leração ou desencadeamento de processos erosivos. Outras conexões também seriam possíveis – o impacto pressão sobre os ecossistemas terrestres (IMP20), descrito em termos gerais, poderia estar conectado ao processo indutor da supressão da cobertura vegetal, e o risco de atri- to com a população (IMP07), a depender do contexto e do uso da área, estar ligado ao impacto de perda de área de extração vegetal (IMP17). O impacto indução a processos erosivos (IMP04) certamente deve- ria estar conectado ao de alteração da qualidade da água (IMP28), que nesse exemplo não está ligada a nenhum processo indutor relacionado aos processos de movimentação de solo. Em diagramas ou redes de impacto em outros EIAs, alguns processos indutores desse exemplo poderiam ser apresentados como atividades do empreendimento. É o 43 Identificação de impactos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. caso de terraplenagem, operação de máquinas e equipamentos e tam- bém operação da central de britagem. Note que alguns desses pontos não são apenas questões de reda- ção, mas expressões de conceitos adotados. É importante que o EIA seja consistente e coerente ao longo de todo o relatório para que o leitor compreenda de forma correta as terminologias empregadas. Outro modelo de diagrama de impacto é feito a partir do estabeleci- mento de relações entre atividades, aspectos e impactos ambientais, como definido na ISO 14001, que dá as orientações para implantação de sistemas de gestão ambiental (SGA). O processo de AIA é iniciado muito antes do SGA e tem caráter preventivo, enquanto o SGA está fo- cado no controle e monitoramento de impactos em atividades já im- plantadas. Ainda assim, o estabelecimento de relações entre ações e impactos em ambos os casos segue uma lógica semelhante, de forma que o procedimento estabelecido na norma ISO 14001 pode ser adap- tado para aplicação em um EIA. Esse modelo tem a vantagem de ser já conhecido e aplicado por muitas empresas no Brasil e no mundo, mas ainda é pouco empregado na elaboração de EIAs. O mecanismo ou processo pelo qual uma ação humana causa um impacto é definido como aspecto ambiental. Segundo a norma NBR ISO 14001, este é o “elemento das atividades de um empreendimento que inte- rage ou pode interagir com o meio ambiente” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2015, p. 3). Um aspecto ambiental é inerente a uma atividade, ocorrendo independentemente das características socio- ambientais locais. Como exemplo, tem-se que a operação de um canteiro de obras (atividade) apresenta como um aspecto ambiental típico a gera- ção de ruídos, que pode ter diferentes impactos de acordo com os recep- tores na área: como afugentamento e perturbação comportamental da fauna (descanso, alimentação, reprodução, comunicação, socialização, etc.); e aumento da incidência de doenças ocupacionais e do incômodo à população, dependendo de características de ocupação do entorno. A representação gráfica dessas relações é apresentada na figura 2. 44 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Figura 2 - Representação da relação entre atividades, aspectos e impactos Operação do canteiro de obras (atividade) Geração de ruídos (aspecto) Dispersão desordenada da fauna (impacto 2) Aumento da incidência de doenças ocupacionais (impacto 3) Aumento do incômodo à população (impacto 4) Perturbação comportamental da fauna (impacto 1) Fonte: adaptado de Brasil (2016). Esse modelo tem sido estimulado desde 2016 nos licenciamentos ambientais federais conduzidos pelo Ibama (BRASIL, 2016), sendo que houve a preparação de dois manuais com orientações para uso desse método, aplicado a sistemas de transmissão de energia e a rodovias. As vantagens das redes de impactos residem no fato de incluírem uma clara evidenciação das relações existentes entre atividades, pro- cessos e impactos e as inter-relações entre estes. As redes são de fácil leitura e especialmente úteis para a identificação de impactos indiretos e cumulativos, que não são claramente percebidos na elaboração de listas de impactos (GLASSON; THÉRIVEL; CHADWICK, 2012).Como desvantagens, em situações complexas, as redes podem se tornar difíceis de ler/compreender, devido ao grande número de processos, impactos e relações. Como limitações, elas não são indicadas para expressar características dos impactos, como significância, reversibi- lidade ou duração, nem permitem a inclusão de informações sobre o estado atual dos componentes, o que seria útil para visualizar quais impactos incidem sobre temas mais sensíveis. 45 Identificação de impactos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Já a cadeia causal apresentada pelo Ibama tem como vantagem o estabelecimento de relações simples entre atividades, aspectos e im- pactos, além de contar com os conceitos dos dois últimos mais co- nhecidos entre os que atuam com a norma ISO 14001. Esse modelo, entretanto, da forma como está proposto, não prevê a identificação de cadeias de impactos indiretos, além de compartilhar as mesmas limita- ções apresentadas no parágrafo anterior para redes de impactos. É importante ressaltar que esses exemplos apresentados são ape- nas algumas das possibilidades de métodos para identificação de im- pactos e foram selecionados por terem aplicação em casos reais. No entanto, a equipe responsável pela elaboração do EIA poderá desenvol- ver um modelo próprio de matriz de identificação ou rede de impactos. Considerações finais Neste capítulo exploramos elementos importantes para a identifica- ção de impactos, a qual deve ocorrer após uma análise conjunta das informações do diagnóstico e da caracterização do empreendimento. A partir dessa análise, é possível obter uma lista de impactos, sendo que cada um deles deve ser identificado e estudado com detalhes nas seções seguintes do EIA. Para isso, recomenda-se a adoção de métodos de identificação a partir da análise simples das atividades e de impactos potenciais, ou então de métodos que permitam identificar graficamente as relações entre ações do empreendimento e os impactos causados, como as ma- trizes e as redes de impactos. Para uma adequada identificação de impactos, é preciso que as informações do diagnóstico e da caracterização do empreendimento apresentem as informações necessárias. Isso porque há casos em que 46 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .elas são insuficientes ou inexistentes, de forma a restringir a identifica- ção de todos os impactos. Neste capítulo exploramos também a importância de que os enun- ciados dos impactos sejam claros e precisos, indicando qual altera- ção ambiental ou social está ocorrendo e qual processo, propriedade ou componente está sendo afetado, podendo também ser indicada a causa do impacto. Enunciados precisos garantem melhor comunicação aos leitores e analistas do EIA. Após a identificação, cada um dos impactos deverá ser caracterizado e estudado em maiores detalhes, como abordaremos nos próximos capí- tulos. Detalharemos o que é importante na descrição e previsão dos im- pactos e também os parâmetros usados para classificá-los e valorá-los. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14001:2015 – Sistema de gestão ambiental – requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. p. 41. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis – Ibama. Avaliação de impacto ambiental: caminhos para o fortalecimento do Licenciamento Ambiental Federal: sumário executivo. Brasília: Ibama, 2016. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/phocadownlo- ad/noticias/noticias2016/resumo_executivo.pdf>. Acesso em: 17 set. 2017. ______. Ministério Público Federal. Deficiências em estudos de impacto am- biental. Brasília: MPU; ESMPU, 2004. 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