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123 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 7 Medidas compensatórias Neste capítulo vamos apresentar e explorar o conceito de medidas compensatórias e seus objetivos. Além disso, será abordada a relação entre essas medidas e os impactos, quando elas são recomendadas na legislação brasileira e como tem sido sua aplicação nos casos de licen- ciamento ambiental em alguns contextos no país. 1 Conceito de medidas compensatórias e seus objetivos Após propor medidas mitigadoras, visando evitar, minimizar e corrigir efeitos de impactos adversos, é preciso analisar os impactos residuais, 124 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .uma vez que esses, remanescentes, podem ser considerados não mi- tigáveis e, para esses casos, só resta propor que sejam apresentadas medidas compensatórias. A compensação vem com o reconhecimento de que, em muitos ca- sos, não é possível eliminar completamente um impacto ou mesmo re- duzi-lo a níveis aceitáveis. A lógica que fundamenta essa aplicação é que a medida compensatória deve oferecer um benefício equivalente ou maior do que a perda ou o dano que serão causados por um impacto negativo inevitável. A figura 1 mostra uma representação da importân- cia de um impacto negativo sem mitigação, da redução de seu alcance após a aplicação de medidas mitigadoras e corretivas e, por fim, mostra que a medida compensatória causaria um impacto com importância equivalente à do impacto residual. Figura 1 – Hierarquia de mitigação e compensação Positivo Im po rtâ nc ia e n at ur ez a do im pa ct o Negativo Impacto sem mitigação Impacto residual Efeito da medida mitigadora Efeito da medida mitigadora Impacto residual Efeito da medida corretiva Ganhos adicionais Efeito da medida compensatória Fonte: adaptado de Business and Biodiversity Offsets Programme (2012a). A compensação é considerada a última alternativa a ser adotada – pri- meiro é preciso evitar o impacto, minimizar ou corrigir seus efeitos, sem- pre respeitando a hierarquia de mitigação. A compensação deve oferecer ganhos que sejam, ao menos, equivalentes às perdas, mas há os casos 125Medidas compensatórias M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. em que os benefícios são considerados maiores que as perdas, e geram os chamados “ganhos adicionais” (que no inglês são chamadas de addi- tional conservation actions – ACA), como mostra a figura 1. Seguindo esse raciocínio de ganhos equivalentes ou ganhos adicio- nais, para os casos de compensação ecológica relacionados à perda de biodiversidade, são definidos dois tipos de compensação. No primeiro, há proteção de áreas que possuem funções ecológicas semelhantes à mesma área geográfica afetada, e na base de um para um, ou seja, com a área de compensação do mesmo tamanho que a área afetada; esse tipo de compensação é chamado de like for like (SÁNCHEZ, 2013). O segundo tipo ocorre quando um resultado melhor pode ser alcançado se a compensação privilegiar a restauração ou proteção de uma área ou recurso de maior valor ambiental, o que poderia ser identificado em es- tratégias de desenvolvimento regional como áreas prioritárias para pro- teção (HAYES; MORRISON-SAUNDERS, 2007; MORRISON-SAUNDERS; POPE, 2013). Esse tipo de compensação é chamado de like for better e, geralmente, demanda a proteção de áreas maiores do que a área afeta- da, em uma proporção maior que um para um. Alguns autores argumentam que a compensação em áreas do mes- mo tamanho é insuficiente para cobrir os danos ecológicos da supres- são de uma área, até porque raramente há estudo detalhado sobre os habitats, impedindo que seja comprovado que há equivalência ecoló- gica entre a área afetada e a área da compensação (SÁNCHEZ, 2013). Por isso, tem sido frequente a ideia de que se deve buscar evitar a perda líquida de habitats, expressa no conceito de no net loss. Isso signi- fica admitir perdas localizadas, mas sempre acompanhadas de medidas compensatórias, que, ao final, seriam ganhos suficientes para não haver uma perda global. Do ponto de vista da conservação, não haver perdas líquidas, ou alcançar ganhos líquidos, significa que não haverá redução na diversidade de espécies e tipos de vegetação, que há viabilidade em longo prazo para as espécies e tipos de vegetação presentes em uma 126 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .área; e que haverá funcionamento de conjuntos de espécies e ecossis- temas, incluindo processos ecológicos e evolutivos (BUSINESS AND BIODIVERSITY OFFSETS PROGRAMME, 2012a). Entretanto, é necessário destacar que nem sempre é possível aten- der a essas premissas de equivalência ecológica e ganhos líquidos. Para evidenciar esses casos, diferenciam-se as compensações in-kind (mesmo tipo), que seriam as que ocorrem para uma área com caracte- rísticas semelhantes às da área de impacto, e as compensações out- -of-kind (de outro tipo), quando as ações ocorrem em áreas com carac- terísticas/feições distintas da área impactada. Um exemplo é a vege- tação de canga, que ocorre nos campos rupestres ferruginosos, áreas com concentrações elevadas de ferro no solo. Esse tipo de solo é típico de áreas em que há depósitos de minério de ferro, e o desenvolvimento de atividades de mineração nessas áreas demanda a remoção da vege- tação de canga. Como essa vegetação sempre ocorre em área de inte- resse para exploração mineral, a compensação usualmente é admitida em áreas com outros tipos de ecossistemas (JACOBI; CARMO, 2008). Isso faz com que os benefícios gerados, mesmo que maiores, não se- jam capazes de oferecer equivalência ecológica, o que faz desse caso uma compensação out-of-kind. Pode ocorrer também de haver uma espécie endêmica, e para a qual a execução de um projeto pode colocar em risco a existência da espé- cie, podendo levar à perda de biodiversidade insubstituível (por exem- plo, extinção global de uma espécie). Nesses casos, nenhuma medida de compensação de biodiversidade poderia contrabalancear a perda. Espécies ou comunidades que já estejam em risco também podem ser severamente afetadas caso um projeto de compensação não seja efi- caz. Por isso, esse tipo de impacto é suficiente para demonstrar que não há viabilidade ambiental de um projeto que tenha sido submetido ao li- cenciamento. Há limites para a compensação e eles precisam observar o contexto em cada caso. Em 2016, foi arquivado o pedido de licença prévia para a UHE (usina hidrelétrica) de São Luiz do Tapajós, pois o 127Medidas compensatórias M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. parecer da Funai (Fundação Nacional do Índio) indicou que o projeto demandaria a remoção permanentede aldeias do povo Munduruku na terra indígena Sawré Muybu, no oeste do Pará, o que não é permitido pela Constituição. Nesse caso, trata-se de um impacto não compensá- vel, e que inviabilizou o projeto da forma como foi apresentado. Medidas compensatórias são empregadas em várias partes do mundo com foco em impactos relacionados à perda de biodiversidade, incluindo áreas com vegetação e alagadas (SÁNCHEZ, 2013; CHISHOLM; JESUS, 2017; EMBERTON; WENNING; TREWEEK, 2017). Há também experiên- cias de compensação relacionadas à perda de patrimônio cultural (con- siderando o patrimônio espeleológico) e a impactos sociais (VANCLAY et al., 2015). Mais recentemente, medidas para compensar impactos sobre mudanças climáticas, com projetos de captura e aumento do estoque de carbono, também têm se destacado (WILSON; MINAS, 2017). No caso de impactos sociais, aplica-se a mesma lógica da hierarquia de mitigação, mas há especificidades que precisam ser levadas em con- sideração durante o planejamento das medidas (VANCLAY et al., 2015). No caso de projetos que exigem reassentamento de comunidades, não é suficiente que seja oferecida apenas uma nova casa a cada família afetada. É preciso oferecer soluções adequadas para garantir a melho- ria ou pelo menos o restabelecimento de condições de vida e meios de subsistência. A localização e as características do novo assentamento também devem ser discutidas com as comunidades – é preciso con- siderar se havia, por exemplo, proximidade com rios ou cachoeiras ou áreas de lazer que eram frequentadas pela população, se havia acesso a plantas medicinais ou outros hábitos importantes para as comunidades afetadas e que possam ser reproduzidos em um novo local. É comum que em casos de compensação na forma de pagamentos em dinheiro, em substituição a fontes de renda perdidas, as pessoas criem novas rotinas sem o trabalho, que podem significar aumento de alcoolismo ou práticas de vícios que desestruturam famílias e comuni- dades, e podem ainda levar a problemas de saúde e segurança. Realizar 128 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .pagamentos em grandes quantidades de dinheiro de uma vez também pode gerar efeitos adversos – a experiência mostra que há um aumento imediato da inflação local, que os gastos são feitos de forma impru- dente em bens de consumo em vez do investimento na restauração ou melhoria de meios de subsistência sustentáveis, o que leva ao empo- brecimento de comunidades (VANCLAY et al., 2015). Faz-se necessário que as propostas de compensação reúnam um conjunto de interven- ções, considerando de forma ampla suas condições de vida e meios de subsistência, e observem também os impactos sobre as comunidades de acolhimento (aquelas que receberão as pessoas que estão sendo reassentadas), propondo também benefícios e benfeitorias para elas. 2 Relação entre o impacto e a medida compensatória A lógica adotada na figura 1 é útil para pensar nos casos em que há uma relação direta entre o impacto e a medida compensatória. Ela de- monstra que é essencial que o benefício oferecido pela compensação seja, ao menos, equivalente ao dano causado. Isso se aplica aos casos de compensação florestal e também à compensação espeleológica, mas não é o que ocorre em todos os casos de compensação. Em alguns casos de compensação social, o órgão ambiental pode exigir a implantação de programas de saneamento básico amplos com coleta de resíduos, programa de reciclagem, instalação de redes coleto- ras de esgoto e estações de tratamento nas comunidades afetadas, ain- da que o empreendimento não seja o responsável pela ausência desses sistemas/ações. Esses casos são relevantes no licenciamento ambien- tal brasileiro, mas mantêm certa distância da fundamentação teórica de como devem ser planejadas as medidas compensatórias. Para explorar como deve ser demonstrada a relação entre o impacto e a medida mitigadora, bem como os outros elementos relevantes para 129Medidas compensatórias M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. sua proposição, vamos tomar como exemplo os impactos relacionados à perda de biodiversidade, que ocorre em muitos empreendimentos, principalmente, como parte da limpeza e preparação do terreno para o início das atividades das obras, quando é necessário que seja feita supressão de vegetação. Há uma série de boas práticas que são reco- mendadas para a definição de medidas compensatórias, que auxiliam a identificar as melhores opções de acordo com o impacto causado. Com destaque, estão as iniciativas do Programa Empresas e Compensação da Biodiversidade (Business and Biodiversity Offsets Programme, BBOP). Esse programa é uma colaboração de mais de 80 organizações e indi- víduos líderes, incluindo empresas, instituições financeiras, agências governamentais e organizações da sociedade civil, e que visa desen- volver e testar as melhores práticas para compensação de biodiver- sidade e bancos de conservação em todo o mundo (BUSINESS AND BIODIVERSITY OFFSETS PROGRAMME, s.d.). O manual do BBOP para compensação traz diretrizes para o desenho de propostas de compensação e cálculo de compensações baseada em princípios, critérios e indicadores. Os princípios são declarações funda- mentais sobre os resultados desejados, critérios são as condições que devem ser cumpridas para alcançar um princípio e os indicadores são métricas que permitem avaliar se um critério específico foi ou não aten- dido (BUSINESS AND BIODIVERSITY OFFSETS PROGRAMME , 2012b). A aplicação dos princípios deve permear toda a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental, e não apenas ser aplicado na etapa de elabora- ção das propostas de medidas mitigadoras; assim sendo, o material apresenta qual deve ser a preocupação da equipe em cada etapa da elaboração do EIA para que os melhores resultados sejam alcançados. Os princípios propostos pelo BBOP são os seguintes (BUSINESS AND BIODIVERSITY OFFSETS PROGRAMME, 2012b): 1. Aderência à hierarquia de mitigação, com apresentação de relatos sobre medidas preventivas, mitigatórias e corretivas relacionadas ao impacto que foram adotadas; 130 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .2. Reconhecimento de que há limites do que pode ser compensado; 3. Consideração do contexto do estudo, incluindo a escala da paisa- gem e as prioridades regionais para a conservação; 4. Não deve haver perda líquida e, preferencialmente, deve haver ga- nhos líquidos de biodiversidade; 5. Os resultados devem superar o que ocorreria naturalmente em um cenário sem intervenção do projeto e das medidas de compensa- ção – deve haver resultados de conservação adicionais; 6. Deve haver participação das partes interessadas, desde a avalia- ção do impacto, e seleção de áreas até o monitoramento; 7. A implantação deve considerar princípios de equidade, comparti- lhando entre as partes interessadas os direitos e responsabilida- des, riscos e recompensas associados a um projeto de desenvolvi- mento e compensados de forma justa e equilibrada, com especial atenção aos direitosde povos indígenas e comunidades locais; 8. O projeto e a implementação de uma compensação de biodiversi- dade devem basear-se em uma abordagem de gestão adaptativa, incorporando monitoramento e avaliação com o objetivo de ga- rantir resultados de longo prazo; 9. Deve haver mecanismos de transparência, capazes de tornar pú- blicos os processos de planejamento, implantação e também da divulgação dos resultados; 10. O processo deve ser fundamentado no conhecimento científico e considerar o conhecimento tradicional. Há outros guias que podem ser consultados, com diretrizes que se as- semelham às do BBOP, como o Guia de Plano de Gestão da Biodiversidade do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT, 131Medidas compensatórias M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 2014), e o Guia do Usuário para Compensação da Biodiversidade do Banco Mundial (WORLD BANK GROUP, 2016). Outros autores também destacam que é importante que as perdas e os ganhos de biodiversidade devam ser mensuráveis e comparáveis em tipo e valor; que é importante que sempre haja ganhos adicionais com as medidas, e que os ganhos devem ser de longo prazo ou duradouros (GARDNER et al., 2013). Idealmente, todas as propostas de compen- sação devem ser planejadas considerando as boas práticas, além de justificativas quando alguma delas não for atendida. Projetos de compensação relacionados a outros tipos de impactos que não os relacionados à perda de biodiversidade devem seguir tam- bém boas práticas que demonstrem a relação entre danos causados e benefícios recebidos observando as especificidades de cada contexto. 3 Como as medidas compensatórias têm sido adotadas em licenciamentos no Brasil No Brasil, o licenciamento ambiental segue as regulamentações legais definidas para vários tipos de compensação e também têm sido propostos planos de compensação para casos específicos. Os ti- pos de compensação que vamos explorar nas próximas seções são: a compensação monetária prevista na Lei do Snuc, diferentes casos de compensação florestal, a compensação espeleológica, a compensação social e a compensação financeira. 3.1 Compensação monetária A Lei Federal no 9.985/2000 define o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc) e determina em seu artigo 36 que, nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo im- pacto ambiental, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e 132 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .manutenção de unidade de conservação (UC) mediante o pagamento de um valor proporcional ao investimento no projeto. Se houver UCs na área de influência do empreendimento, elas deverão ser beneficiárias da compensação ambiental, se não houver, a UC escolhida deve ser do grupo de proteção integral. O cálculo do valor dessa compensação monetária é feito com base em uma fórmula definida no Decreto Federal no 4.340/2002, que con- sidera o somatório dos investimentos necessários para implantação do empreendimento (sem considerar os custos do licenciamento am- biental) e o grau de impacto nos ecossistemas, que incluirá estimati- vas do impacto sobre a biodiversidade, do comprometimento de área prioritária e da influência em unidades de conservação, sendo que to- dos esses componentes da equação têm valores definidos a partir de características preestabelecidas (BRASIL, s.d.). O valor a ser pago pelo empreendedor pode variar, conforme a definição do Decreto Federal no 6.848/2009, de 0 a 0,5% do valor de investimento do empreendimento. O uso dos recursos pelas UCs deve também seguir uma ordem de prioridade, de acordo com o Decreto Federal no 4.340/2002, e contem- plar regularização fundiária e demarcação de terras; elaboração, revisão ou implantação de plano de manejo; aquisição de bens e serviços ne- cessários à implantação, gestão, monitoramento e proteção da unida- de, compreendendo sua área de amortecimento; desenvolvimento de estudos necessários à criação de nova unidade de conservação; e de- senvolvimento de pesquisas necessárias para o manejo da unidade de conservação e área de amortecimento. Esse mesmo decreto estabelece a instituição da câmara de com- pensação ambiental no âmbito federal, como parte do Ministério do Meio Ambiente, que deve atuar para definir prioridades e diretrizes para aplicação dos recursos da compensação ambiental e também para avaliar e auditar a metodologia e os procedimentos de cálculo da com- pensação ambiental, entre outras atividades. Seguindo essa mesma dire- triz, os estados também vêm definindo câmaras de compensação para gestão da compensação ambiental prevista no Snuc (SÃO PAULO, s.d.). 133Medidas compensatórias M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. É importante lembrarmos que, mesmo que a compensação monetá- ria nesse caso tenha como objetivo beneficiar UCs, não há relação dire- ta nem equivalência entre os impactos do empreendimento e os benefí- cios obtidos com a compensação. O valor da compensação e o objetivo de sua aplicação são definidos com base em critérios gerais e não têm foco em um impacto de perda de biodiversidade. Um empreendimento que tenha esse tipo de impacto deverá, portanto, observar a legislação incidente sobre seu contexto. Em decorrência da aplicação dessa legislação, há tanto suporte para a manutenção das atividades de UCs já existentes como também para a criação de novas unidades, como é o caso da Estação Ecológica do Barreiro Rico, em São Paulo, que foi estabelecida a partir do paga- mento da compensação do licenciamento da expansão de uma indús- tria siderúrgica em Piracicaba, e também do Parque Estadual da Lagoa do Açu, no Rio de Janeiro, que foi regularizado a partir da compensação paga no licenciamento do Porto do Açu. 3.2 Compensação florestal As intervenções e supressões de vegetação sempre demandam auto- rização do órgão ambiental responsável e podem precisar de reposição florestal. No caso de áreas de preservação permanente (APP), o novo Código Florestal, Lei Federal no 12.651/2012, define que a intervenção ou a supressão de vegetação nativa em APP só pode ser autorizada em ca- sos de projetos ou atividades que tenham objetivos que se enquadrem como de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental (art. 8o), e determina que os requerimentos de supressão sejam acompa- nhados de “reposição ou compensação ambiental”. A Resolução Conama no 369/2006 prevê que, nesses casos, as medidas de caráter compensatório consistem na efetiva recuperação ou recomposição de APP e determina que devem ocorrer na mesma 134 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .sub-bacia hidrográfica, com prioridade para a área de influência do em- preendimento ou em cabeceiras dos rios. IMPORTANTE As áreas de preservaçãopermanente (APP) estão definidas no artigo 4o da Lei Federal no 12.651/2012 e incluem: as faixas marginais de qual- quer curso d’água natural perene e intermitente, que variam de 30 a 500 metros dependendo da largura do rio; as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais; as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, no raio mínimo de 50 metros; as encostas ou partes destas com declividade superior a 45 graus; as restingas, manguezais em toda a sua extensão; as bordas dos tabuleiros ou chapadas; topo de morros, montes, montanhas e serras; as áreas em altitude superior a 1.800 me- tros; e as faixas laterais de veredas. Outras áreas também podem ser declaradas como APPs, confor- me artigo 6o, visando proteção contra erosão, abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção e proteger áreas úmidas, entre outras finalidades. Também deve haver compensação para o caso de supressão de ve- getação nativa para uso alternativo do solo, o que significa a substitui- ção dessa vegetação para o exercício de atividades antrópicas como agropecuárias, industriais, de geração e transmissão de energia, de mineração e transporte, assentamentos urbanos ou outras formas de ocupação humana, como define o novo Código Florestal no artigo 3o. Essa lei prevê que a supressão de vegetação nativa para uso alternativo do solo dependerá do cadastramento do imóvel no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e de prévia autorização do órgão estadual competente do Sisnama, e indica que, no caso de reposição florestal, devem ser priori- zados os projetos que contemplem a utilização de espécies nativas do mesmo bioma onde ocorreu a supressão (art. 26). 135Medidas compensatórias M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. A reposição florestal é a compensação do volume de matéria-prima extraído de vegetação natural pelo volume de matéria-prima resultante de plantio florestal para geração de estoque ou recuperação de cober- tura florestal (BRASIL, 2016). Na prática, portanto, a supressão e a repo- sição devem ser indicadas pelo órgão ambiental responsável e há uma variedade de normas por estado e bioma a serem observadas. Se houver supressão de indivíduos de espécies ameaçadas de extinção, segundo listas oficiais, ou espécies migratórias, o novo Código Florestal determina que a autorização para supressão dependerá da adoção de me- didas compensatórias e mitigadoras que assegurem a conservação da espécie (cf. art. 27). A instrução normativa (IN) no 2/2015 do Ministério do Meio Ambiente (MMA) define que, no âmbito do licenciamento ambiental, quando houver supressão de vegetação em área de ocorrência de espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção, devem ser avaliadas as alterna- tivas locacionais do empreendimento ou atividade e, também, a relevância da área, objeto do processo de licenciamento ambiental, para a conserva- ção das espécies ameaçadas e o risco de extinção de cada espécie. Essa IN (art. 5o, par. único) determina que a definição das medidas de mitigação e compensação nesses casos deverá (BRASIL, 2015) […] guardar relação direta com os impactos identificados para a es- pécie, observar a categoria de risco de extinção de cada espécie e as ações indicadas nos Planos de Ação Nacionais para Conservação de Espécies Ameaçadas – PAN, quando existentes. Dessa forma, a IN solicita a equivalência ecológica para os casos de supressão de espécies ameaçadas de extinção. Adicionalmente, o novo Código Florestal prevê que a reserva legal pode ser instituída em área de compensação, o que seria uma área adicio- nal de proteção, sem relação com os impactos de um empreendimento. 136 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Outro dispositivo importante para a compensação florestal é a Lei da Mata Atlântica, Lei Federal no 11.428/2006, que define que a supres- são de vegetação primária e secundária nos estágios avançado e médio nesse bioma, autorizadas legalmente, sejam compensadas. O artigo 17 dessa lei diz que deve ser feita a […] destinação de área equivalente à extensão da área desmata- da, com as mesmas características ecológicas, na mesma bacia hidrográfica, sempre que possível na mesma microbacia hidrográ- fica. (BRASIL, 2006) Para saber se uma área está no bioma da mata atlântica, o Decreto Federal no 6.660/2008 estabeleceu o Mapa da Área de Aplicação da Lei no 11.428, de 2006, que indica a localização e os limites das formações florestais nativas e ecossistemas do bioma. Observando a hierarquia de mitigação, a lei também procura proteger o que restou da mata atlântica ao estabelecer que quaisquer novos empreendimentos sejam preferen- cialmente implementados em áreas já substancialmente alteradas ou de- gradadas. Para os casos de supressão de exemplares de espécies da flo- ra nativa ameaçadas de extinção da mata atlântica, a Resolução Conama no 300/2002 determina que a emissão de autorização fica condicionada à reposição florestal obrigatória da espécie suprimida. Seguindo o ordenamento jurídico federativo, os estados podem deta- lhar essas previsões legais, mas não contradizer nem ser mais permissi- vos. Como exemplo, o estado de São Paulo apresenta na Resolução SMA no 7/2017 (alterada pela Resolução SMA no 20/2017) o regramento para a compensação ambiental decorrente de supressão de vegetação nativa, corte de árvores isoladas e intervenção em APP, apresentando índices para compensação muito maiores do que 1:1 – para cada árvore isolada que for suprimida pode ser exigido o replantio de até 30 mudas, a depen- der das características da espécie e da área. Por isso, é importante que se observe em cada caso qual é a legislação mais restritiva vigente. 137Medidas compensatórias M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 3.3 Compensação espeleológica O Decreto Federal no 6.640/2008 instituiu formas de compensação de danos ambientais relacionadas especificamente à conservação do patrimônio espeleológico no licenciamento ambiental. Esse decreto, que altera o Decreto no 99.556/1990 sobre a proteção de cavidades na- turais subterrâneas, introduziu o novo conceito de relevância das cavi- dades naturais, que passaram a ser classificadas em graus máximo, alto, médio e baixo de relevância, sendo somente as de máxima relevân- cia protegidas de impactos negativos irreversíveis. Quando um empreendimento ocasionar impacto negativo irreversível em cavidade natural subterrânea, que significa a supressão de uma ca- verna, é necessário adotar medidas e ações para assegurar a preserva- ção de duas cavidades naturais subterrâneas caso a cavidade suprimida seja de alta relevância. A cavidade a ser protegida como forma de com- pensação deverá ter o mesmo grau de relevância, mesma litologia, atribu- tos similares, em área contínua e no mesmo grupo geológico da cavidade que sofreu o impacto. Quando não houver cavidades com essas caracte- rísticas, o decreto indica que o Instituto Chico Mendes poderá definir, de comum acordo com o empreendedor, outras formas de compensação. Se a cavidade suprimida for classificada como de média relevância, o empreendedor deverá adotar medidas e financiar ações que contribuam para a conservação e o uso adequado do patrimônio espeleológico bra-sileiro. No caso de grau de relevância baixo, o empreendedor não estará obrigado a adotar medidas e ações para assegurar a preservação de outras cavidades naturais subterrâneas. A legislação prevê que, em casos de impactos negativos irreversíveis em cavidades naturais subterrâneas causados pelo empreendimento, a compensação ambiental de que trata o art. 36 da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, deverá ser prioritariamente destinada à criação e imple- mentação de unidade de conservação em área de interesse espeleoló- gico, sempre que possível na região do empreendimento. 138 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 3.4 Compensação social Os impactos de um grande empreendimento sobre as comunidades locais também têm levado os órgãos ambientais a demandar medidas compensatórias. O aumento populacional decorrente da instalação de um empreendimento comumente gera sobrecarga na infraestrutura, prin- cipalmente de saúde, educação, segurança, habitação e saneamento. As medidas compensatórias para esses impactos visam ampliar a capaci- dade de atendimento dos serviços públicos na área afetada, incluindo a construção de hospitais e escolas, a doação de viaturas e ambulâncias e a implantação de estações de tratamento de esgotos ou aterros sanitá- rios. Nem sempre as medidas guardam relação direta com um impacto específico do empreendimento. Esse tipo de medida é considerado, muitas vezes, como uma inver- são de papéis, com o setor privado assumindo a responsabilidade pela garantia de direitos sociais que, legalmente, deveriam ser oferecidos pelo estado. De toda forma, é preciso reconhecer que um novo empre- endimento de grande porte que se avizinha a comunidades pouco de- senvolvidas se tornará um fator decisivo para o futuro naquela região. E se os indicadores econômicos, sociais e ambientais forem ruins, e houver pouca capacidade de propor e executar planejamentos eficazes e eficientes, então aumentam as chances de o empreendimento apro- fundar alguns dos problemas existentes. Em contextos assim, é improvável que o licenciamento ambiental sozinho seja capaz de garantir a melhoria da qualidade de vida das co- munidades por meio de suas condicionantes. O sucesso nesses casos só é possível se houver uma estratégia de governança integrada, da qual o empreendimento deve ser parte da solução (GIBSON et al., 2005; DUARTE, 2013). Esse tipo de articulação, no entanto, tem se mostrado bastante difícil de ser desenvolvido, havendo vários casos de empreen- dimentos que não executam ou não têm êxito na implantação das me- didas mitigadoras e compensatórias relacionadas a impactos sociais. 139Medidas compensatórias M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. PARA SABER MAIS O documentário Belo Monte: depois da inundação mostra uma série de problemas com a execução das medidas mitigadoras e compensatórias no caso do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte. Do lado do empreen- dedor, é possível verificar o cumprimento de dezenas de condicionantes em relatórios independentes disponibilizados publicamente. O atraso, a implantação parcial de medidas e também novos impactos não pre- vistos e não mitigados a tempo resultam na manifestação de impactos adversos significativos que causam danos sociais e ambientais que não deveriam ocorrer no contexto do licenciamento ambiental. Em casos em que há interferência nas atividades de pesca artesanal, têm sido solicitados planos de compensação específicos, visando mi- tigar impactos do impedimento temporário gerado à atividade. Nessas situações, a aplicação da compensação está baseada na Política Nacional de Educação Ambiental, Lei no 9.795/1999, e pelo Decreto no 4.281/2002, que a regulamenta, e nas Notas Técnicas CGPEG/DILIC no 1/2010 e 2/2010. Os planos de compensação da atividade pesqueira (PCAP) têm sido amplamente adotados de forma a fomentar projetos locais voltados ao fortalecimento da atividade de pesca artesanal e ao uso sustentável dos recursos pesqueiros. Um elemento fundamental na implantação de medidas de mitiga- ção ou compensação com comunidades afetadas é a priorização de processos participativos desde o início do planejamento das ações. As comunidades impactadas podem não concordar que os impactos cau- sados estejam sendo contrabalanceados com as medidas, e condicio- nantes que sejam tomadas como já tendo sido cumpridas podem ainda ser motivo de insatisfação entre os afetados. Como exemplo, há ca- sos de realocação de comunidades para novos bairros, criados com in- fraestrutura mais adequada que a da situação anterior – com siste- ma de esgotamento sanitário, fornecimento de água potável, energia, 140 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .telefonia e arruamento –, mas aos quais a comunidade não se adapta. Essa situação já ocorreu em uma série de casos, como na UHE Itapebi, UHE Santo Antônio e UHE Irapé. Isso pode acontecer por uma série de motivos, incluindo a localiza- ção do novo assentamento, a ausência de elementos naturais antes disponíveis e o tipo de casas construídas. Por isso, é fundamental que as medidas relacionadas aos impactos sociais sejam elaboradas com participação das comunidades afetadas, pois ainda que na visão dos técnicos uma solução ótima esteja sendo oferecida, é fundamental con- siderar que nesses casos a opinião e a satisfação da comunidade em questão é que definirá o sucesso das medidas implantadas. 3.5 Compensação financeira Um último tipo de compensação é o pagamento de royalties. A compensação financeira foi prevista na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 20, § 1o, e regulamentada pela Lei no 7.990/1989. Ela corresponde à indenização aos estados, ao Distrito Federal e aos mu- nicípios, bem como a órgãos da administração direta da União, pelo resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídri- cos para fins de geração de energia elétrica e de recursos minerais em seus respectivos territórios. O pagamento dos royalties ocorre mensalmente e seus valores são proporcionais ao valor da produção do empreendimento. Como exem- plo, os municípios que tiveram áreas alagadas pelos reservatórios ou que abrigam a casa de máquinas serão compensados pelo uso da água dos rios para a geração de energia elétrica. Os recursos que são arre- cadados dessa forma podem ser aplicados, por exemplo, em investi- mentos em infraestrutura, mas não podem ser usados para abatimento de dívidas (a não ser que o credor seja a União e suas entidades) e no pagamento do quadro permanente de pessoal. 141Medidas compensatórias M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Esse tipo de compensação geralmente não é contabilizado no licen- ciamento ambiental, nem está associado diretamente a impactos do empreendimento. No entanto, alguns empreendedores entendem que esse pagamento poderia ser considerado comocompensação social e substituir os programas sociais que se estendem pelo período de opera- ção do empreendimento. Assim, em vez de o empreendedor assumir a responsabilidade de ações relacionadas a direitos sociais, haveria ape- nas o pagamento dos valores e a responsabilidade seria dos governos. Considerações finais As medidas compensatórias estão na ponta da hierarquia de mitigação, como última alternativa, mas são fundamentais em casos em que há impac- tos inevitáveis que ainda são significativos, mas foram considerados aceitá- veis. É muito importante que sempre sejam buscadas formas de minimizar ao máximo a magnitude e importância dos impactos, para só então aplicar a compensação, que não deve se tornar uma moeda de troca para permitir a ocorrência de quaisquer impactos sem um adequado planejamento. Na prática, a decisão sobre quando um impacto pode ser compensa- do não é simples, uma vez que isso está ligado a definir quais deles são ou não aceitáveis. Se um impacto residual é considerado não aceitável, isso pode levar ao indeferimento do pedido da licença; mas se for con- siderado aceitável, então as medidas compensatórias precisam gerar benefícios para que não se concretize um dano ambiental ou social. As medidas de compensação no Brasil, definidas em âmbito federal, incluem a compensação monetária prevista na Lei do Snuc, compen- sações florestais definidas no novo Código Florestal e na Lei da Mata Atlântica e em algumas resoluções Conama, compensação espeleoló- gica no caso de supressão de cavidades naturais, compensação social e também financeira. Dentre esses tipos, somente as florestais que de- correm de supressão da vegetação e a espeleológica estão diretamente associadas aos impactos do empreendimento. A compensação social 142 Impactos ambientais: análise e medidas Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .pode ou não estar associada a esses impactos e as compensações monetária e financeira são definidas com base em outros critérios, e a aplicação dos recursos obtidos nesses pode não estar relacionada aos danos que se manifestaram concretamente. A aplicação da hierarquia de mitigação é demandada em vários ca- sos, mas os mecanismos para assegurar que sua aplicação seja satis- fatória ainda não estão estabelecidos (GIBSON et al., 2005; DUARTE, 2013). As boas práticas internacionais, no entanto, oferecem procedi- mentos e princípios a serem observados para auxiliar na definição de medidas de compensação que sejam capazes de contrabalancear os danos causados. A aplicação dessa lógica é fundamental para garantir que a prática no planejamento de empreendimentos esteja voltada à busca de melhores soluções, ao contrário de ser apenas uma forma permissiva de viabilizar projetos com impactos sociais e/ou ambientais em níveis não aceitáveis. Referências BRASIL. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBIO. Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas – Cecav. Orientações sobre compensação espeleológica. [201-]. Disponível em: <http://www.icmbio. gov.br/cecav/images/stories/downloads/Orientacoes/CECAV_Orientacos_ compensacao_espeleologica.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2017. ______. Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006. 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Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. in_mma_02_2015_supress%C3%A3o_vegeta%C3%A7%C3%A3o_especies_amea%- C3%A7adas_p_443_444_445_2014_atende_esta_in.pdf>. Acesso em: 8 dez 2017. ______. Ministério do Meio Ambiente. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis – Ibama. Metodologia de cálculo da compensação ambiental. [s.d.]. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/ca- mara-federal-de-compensacao-ambiental/metodologia-de-calculo-da-compen- sacao-ambiental>. Acesso em: 23 nov. 2017. ______. Ministério do Meio Ambiente. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis – Ibama. Reposição florestal. 2016. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/flora-e-madeira/reposicao-florestal/o-que-e-reposi- cao-florestal>. Acesso em: 23 nov. 2017. BUSINESS AND BIODIVERSITY OFFSETS PROGRAMME. Biodiversity Offset Design Handbook-Updated. 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