Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
LESÃO RENAL AGUDA I. Definição: ➢ Funções dos rins: ➢ Retirada de circulação de produtos do metabolismo (creatinina). *(Fosfocreatinina → creatinina – produzida/eliminada cte. dependendo da massa muscular do indivíduo – errado utilizar a creatinina isolada p/ avaliar a função renal do paciente). ➢ Controle da volemia. ➢ Manutenção da homeostase dos eletrólitos. ➢ Eliminação do excesso de ácido. ➢ Eliminação de toxinas exógenas. ➢ Produção de hormônios: renina, eritropoetina e vit D ativada. ➢ Kinetic eGFR na LRA! ➢ Função renal oscilante. ➢ Valor da creatinina varia diariamente. ➢ Definição LRA KDIGO 2012: Elevação da creatinina Débito urinário 1 Elevação de 1,5x do valor basal em até 7 dias OU Elevação ≥ 0,3mg/dL em até 48h. < 0,5mL/Kg/h por 6h. 2 Elevação de 2x do valor basal em até 7 dias. < 0,5mL/Kg/h por 12h 3 Elevação de 3x do valor basal em até 7 dias OU Creatinina ≥4,0mg/dL e com elevação de pelo menos 0,5mg/dL do valor basal OU Em TRS. < 0,3mL/Kg/h por 24h OU 12h de anúria. *Classificar sempre pelo mais grave. ➢ Diagnóstico de LRA: Importante!! ➢ Elevação da creatinina de 0,3mg/dL em até 48h. ➢ Aumento de 1,5x no valor basal de creatinina em até 7 dias. ➢ Redução de débito urinário para valores menores que 0,5mL/Kg/h por pelo menos 6h. II- Etiologia: 1. Pré-renal: rim está morfologicamente normal; chega um volume menor de sangue com uma pressão menor do que deveria – diminuição da perfusão – rim não consegue executar a filtração glomerular – acúmulo de escórias – alteração de creatinina, ureia etc. ➢ Depleção de volume: sangramento agudo, perda GI (vômitos/diarreia volumosos). ➢ Hipotensão: choque circulatório. ➢ Medicações: anti-hipertensivos em excesso, sedativos. ➢ Má perfusão + edema (IC/cirrose/síndrome nefrótica) – paciente aparenta estar hipervolêmico na avaliação clínica, mas está depletado (hipovolemia efetiva – paciente não consegue perfundir o rim). *Na pré-renal, reestabelecendo a função renal, rapidamente o paciente recupera os valores normais de creatinina e não tem sequelas. ➢ Avaliação da volemia (Pré-renal): ➢ Exame clínico: sinais vitais, ausculta pulmonar, avaliação de edema, avaliação de mucosa, avaliação de turgor. ➢ Ultrassom (point of care): pulmão (pulmão normal tem linhas A/presença de linhas B → sugere hipervolemia, calibre da veia cava (volume da v. cava resposta de acordo com a volemia) e ecocardiograma. ➢ Monitorização invasiva: pressão venosa central, pressão de oclusão de artéria pulmonar, variação de pressão de pulso. OBS: Técnica para testar se o paciente é volume-responsivo (se passar volume p/ ele, ocorre melhora do DC, PA e perfusão renal): elevar as pernas do paciente acima da cabeça → aumento da PA/DC em um paciente hipovolêmico. Lesão renal aguda Função tubular preservada (Pré-renal) U Na (mMol/L) <20↓ (estará reabs. sódio) U Osm (mOsm/L) >500↑ (estará conc. a urina) Densidade urinária >1020↑ (estará conc. a urina) Relação ureia/creat. >40 (↑ureia > ↑creat.) FENa% <1↓ FEUreia% <35 (p/ pcts com pré-renal + DIU) *FENa (fração de excreção de Na): quantidade de sódio que sai na urina em relação a quantidade de sódio que foi filtrado; Atenção para pacientes que usam DIU (hidroclorotiazida/ furosemida) – bloqueiam a reabs de sódio – havendo uma carga de sódio maior na urina; ou seja, o túbulo pode estar integro como na pré-renal, e mesmo assim o paciente desenvolve uma FENa>1% → usar a FEUreia para esses pacientes. ➢ Exame de urina rotina na LRA pré-renal: ➢ Densidade >1020. ➢ Leucócitos e hemácias normais. ➢ Cilindros hialinos (normal) ou ausentes. 2. Pós-renal: obstrução das vias urinárias que impede o rim de eliminar escórias? ➢ Quadro clínico característico: ➢ Anúria/hematúria. ➢ Massa abdominal (bexigoma). ➢ Dor lombar/suprapúbica. ➢ Lesão renal aguda em pct oncológico: ➢ Colo de útero. ➢ Bexiga. ➢ Próstata. ➢ Cólon/sigmoide/reto. ➢ US de rins e vias urinárias. ➢ Exame de urina rotina na LRA pós renal: ➢ Paciente pode ser anúrico. ➢ Campo tomado por hemácias (causa urológica). ➢ Heme-pigmento positivo. 3. Renal intrínseca: necrose tubular aguda/demais complicações. ➢ Necrose tubular aguda: ➢ Persistência de má-perfusão renal (por uma pré-renal que demorou para ser tratada) – necrose tubular aguda acontece antes da necrose cortical. ➢ Lesão tóxica (exposição a tóxicos). Endógenos Exógenos Mioglobina (Rabdomiólise) Anti-inflamatórios Síndrome de lise tumoral (pré/pós quimioterapia) Vancomicina Aminoglicosídeos Mieloma múltiplo (cadeias leves) Contrastes iodados Anfotericina Quimioterápicos Antirretrovirais (TDF) ➢ Cilindros: ➢ Restos celulares. ➢ Proteínas de origem tubular (Tamm-Horsfall). ➢ Retrovazamento: ➢ Edema intersticial. ➢ Aumento da pressão hidrostática. ➢ Obstrução de outros túbulos. ➢ Explica a ocorrência de LRA oligúrica. *O epitélio tubular demora cerca de 7-14 dias para se reestruturar de forma adequada e melhorar a função renal na necrose tubular aguda; a melhora muito rápida da função renal aguda lembra mais uma pré- renal. Lesão renal aguda Função tubular alterada (NTA) U Na (mMol/L) >40 (próx. do valor plasmático) U Osm (mOsm/L) <350 (próx. do valor plasmático) Densidade urinária <1015 (próx. do valor plasmático) Relação ureia/creat. <20 (↑ = por redução da filtração) FENa% >2 (reabs. não eficiente) FEUreia% >50 (reabs. não eficiente) É um rim que não consegue mais concentrar urina pois o túbulo está necrosado. ➢ Exame de urina rotina na NTA: ➢ Densidade urinária <1015. ➢ Leucocitúria e hematúria costumam estar ausentes. ➢ Cilindros granulosos: células tubulares grudadas com as proteínas de Tamm-Horsfall → NTA isquêmica, tóxica ou glomerulopatia? ➢ 3-B: Demais complicações: ➢ Compartimento vascular: dissecção aguda de aorta (isquemia que causa alteração morfológica no rim ≠ pré-renal), vasculites. ➢ Microangiopatia trombótica (lesão em pequenos vasos – presença de esquizócitos). ➢ Compartimento glomerular (amigdalite?/ Lúpus?/ vasculites?) → cilindros granulosos e cilindros hemáticos. ➢ Nefrite intersticial aguda: ➢ Piora aguda de função renal. ➢ Rash cutâneo. ➢ Eosinofilia. ➢ Eosinofilúria. ➢ Leucocitúria estéril. ➢ Febre. ➢ NIA - Pode ser uma resposta inflamatória a uma medicação, de hipersensibilidade, que leva a uma lesão intersticial: ➢ AINE. ➢ Penicilina/cefalosporina. ➢ Sulfametoxazol-trimetropima. ➢ DIU de alça/tiazídicos. ➢ Quinolona. ➢ Rifampicina. ➢ Alopurinol. ➢ Omeprazol. ➢ Indinavir. ➢ Exame de urina rotina na NIA: ➢ Densidade urinária <1015. ➢ Leucocitúria presente (c/ urocultura negativa). ➢ Eosinofilúria. ➢ Cilindros leucocitários. OBS: Biopsiar paciente com LRA de etiologia indefinida, particularmente na suspeita de: GLOMERULOPATIA, VASCULITES, MICROANGIOPATIA TROMBÓTICA, NEFRITE INTERSTICIAL AGUDA! III. Tratamento: ➢ Melhor prognostico → evitar que o pct desenvolva LRA. ➢ Preciso identificar o paciente de alto risco (geralmente grave, CTI). 1. Pacientes internados em risco de LRA: ➢ Criticamente enfermos: instabilidade hemodinâmica. ➢ Com alteração prévia da função renal/DRC: idoso. ➢ Em uso de drogas nefrotóxicas (QT, ATB, antivirais). ➢ Com patologias graves: IC agudamente descompensada, hepatopatia crônica, politraumatizados ou grande queimados, sepse, cirurgia de grande porte. 2. Manejo dos pacientes de risco para LRA: ➢ Descontinuar medicações nefrotóxicas. ➢ Buscar alternativas para exames contrastados. ➢ Buscar euvolemia e manter perfusão renal adequada. ➢ Monitorizar creatinina, ureia e débito urinário. ➢ Controle adequado da glicemia (110-180mg/dL). 3. E se o paciente desenvolver LRA? ➢ Avaliar necessidade de terapia intensiva.➢ Correção dos distúrbios hidroeletrolíticos (hiponatremia, hipercalemia, hipocalcemia). ➢ Correção da acidose metabólica. ➢ Adequar dose de medicações conforme o valor do clearance de creatinina (se o medicamento for de eliminação renal). 4. Adequação das medicações – Abordagem prática: ➢ Evitar subdose em pacientes graves (subdose → sepse). ➢ Individualizar a dose → Kinetic eGFR. ➢ Considerar o tipo de diálise realizada. ➢ Prescrever dose pós diálise quando indicado. 5. Dieta: ➢ Tentar sempre via oral/enteral. ➢ Fornecer aporte calórico com 20-30 kcal/Kg/dia (semelhante ao pct crítico). ➢ Não restringir proteína para postergar/evitar TRS; exceto, por exemplo, em pacientes com LRA pós- renal de causa urológica que está no aguardo da intervenção da urologia (condição transitória) – 0,8- 1,0g/kg de proteína – pacientes não catabólicos em tto conservador. 6. TRS – Objetivos: ➢ Manutenção da homeostase. ➢ Permitir recuperação da função renal. ➢ Eliminação de toxinas. ➢ Permitir medidas de suporte clínico (dieta parenteral, hemotransfusão, antibioticoterapia). 7. Indicações absolutas de TRS na LRA: ➢ Hipercalemia grave e refratária. ➢ Acidose metabólica grave. ➢ Hipervolemia refratária. ➢ Uremia (síndrome urêmica). ➢ Hipercalcemia. ➢ Hiperurecemia. ➢ Intoxicação exógena (AAS, metformina, etilenoglicol, metanol, lítio). 8. Início TRS na LRA: ➢ Presença de indicação absoluta. ➢ Ausência de indicação absoluta: ➢ Gravidade da doença de base (pct gravemente enfermo e com piora da condição clínica). ➢ Perspectiva de recuperação da função renal. ➢ Disfunção de outros órgãos. ➢ Expectativa de piora rápida (lise tumoral e rabdomiólise). ➢ A necessidade da administração de fluidos. ➢ Evolução dos exames laboratoriais (observar a evolução da creatinina e ureia). ➢ Maior necessidade de iniciar TRS em pacientes com DRC agudizada (dependendo do estágio da DRC). 9. Hemodiálise no paciente crítico: ➢ Hemodiálise intermitente: TTO que dura de 2-4h, e acontece 1x por dia; altamente eficiente – vantajoso para o pct crítico; desvantagem – retiradas de soluto e volume ocorrem num pequeno intervalo de tempo – risco do pct desenvolver instabilidade hemodinâmica (pacientes instáveis, mais graves, com necessidade de aminas vasoativas para manter PA → terapia contínua). ➢ Ex: PA - 200x120 c/ edema agudo de pulmão. ➢ Hemodiálise contínua: funciona 24h por dia, por até 6 dias seguidos, permitindo que a retirada de soluto e volume ocorra lentamente/continuamente, fazendo com que o paciente tolere melhor, sem apresentar hipotensão ou instabilidade. ➢ Ex: PA - 9x6 c/ noradrenalina para manter a PA.
Compartilhar