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Injúria renal aguda A insuficiência renal é definida como a queda da taxa de filtração glomerular e é dita aguda quando sua evolução é rápida, ao longo de horas ou dias. A injúria renal aguda é uma síndrome caracterizada pela redução abrupta da filtração glomerular, com consequente retenção de compostos nitrogenados, como ureia e creatinina (usados para avaliar a taxa de filtração glomerular), geralmente acompanhada por redução do volume urinário. Seu diagnóstico é puramente laboratorial, feito pelo reconhecimento da elevação de ureia e creatinina plasmáticas, definida como azotemia, podendo não haver nenhum sintoma. Quando a disfunção renal é grave (CrPL > 4,0 mg/dL, com TFG < 15-30 mL/min), os sinais e sintomas da síndrome urêmica podem aparecer. De acordo com o KDIGO, a IRA é definida como aumento da creatinina sérica ≥ 0,3 mg/dL dentro de 48h OU aumento da creatinina sérica ≥ 1,5x o valor de base nos últimos 7 dias OU débito urinário < 0,5 mL/kg/h por mais de 6h. Um dos parâmetros mais usados para a classificação é o RIFLE: Risco, Injúria, Falência, Perda e Estágio terminal de doença renal. Risco Aumento de 1,5x da creatinina Decréscimo de mais de 25% do RFG Volume urinário < 0,5 mL/kg/hora em 6 horas Injúria Aumento de 2x da creatinina Decréscimo de mais de 50% da taxa de filtração glomerular Volume urinário < 0,5 mL/kg/hora em 12 horas Falência Aumento de 3x da creatinina (ou > 4,0 mg/dL) Decréscimo de mais de 75% do ritmo de filtração glomerular Volume urinário < 0,3 mL/kg/hora em 24h ou anúria a 12h Perda Insuficiência renal há mais de 4 semanas Estágio terminal da doença Outra forma de classificar a insuficiência renal aguda é pelo método AKIN, que é dividido em três estágios: Estágio Creatinina sérica Fluxo urinário I (risco) Aumento > 0,3 mg/dL ou > 50% (1,5x) do valor basal < 0,5 mL/kg/hora em 6 horas II (lesão renal) Aumento > 200- 300% (2,0-3,0x) do valor basal < 0,5 mL/kg/hora em 12 horas III (falência renal) Aumento > 300% (3,0x) do valor basal ou > 4,0 mg/dL com aumento agudo de pelo menos 0,5 mg/dL < 0,3 mL/kg/hora em 24 horas ou anúria por 12h Apesar do destaque dado à oliguria, a IRA pode ser dividida em três subtipos: oligúrica, quando o débito urinário for inferior a 400-500 mL/24h, não oligúria, quando a diurese for maior que 400-500 mL/24h, ou anúria, para débitos urinários inferiores a 50-100 mL/24h. Azotemia: aumento de escórias nitrogenadas, detectado pela elevação de ureia e creatinina no sangue. Uremia: termo sindrômico que faz referência aos sinais e sintomas que resultam da injúria renal grave. A síndrome urêmica costuma ocorrer com uma TGF abaixo de 15-30 mL/min, o que corresponde, no geral, a uma concentração de ureia de 120 mg/dL e de creatinina de 4,0 mg/dL. Como consequências da perda da função renal, destacam-se o risco de hiperpotassemia, acidose metabólica, retenção de fluidos, uremia, coma e até mesmo morte. A taxa de mortalidade varia de acordo com a causa da insuficiência renal aguda, sendo geralmente em torno de 25%, mas podendo chegar até 60%. Atualmente, a taxa de mortalidade em UTIs por insuficiência renal aguda relacionada a COVID chega à 60%, sendo ainda maior quando o paciente está em ventilação mecânica, chegando a quase 100%. As causas pré-renais estão relacionadas ao fluxo sanguíneo que chega ao rim, como hipotensão, ICC, hipovolemia e vasoconstrição (as doenças pré-renais não tratadas acabam se tornando renais). As causas renais acometem o parênquima renal, como isquemia, sepse, doença vascular renal, toxinas (mioglobina, aminoglicosídeo, anfotericina B, radiocontraste), nefrite túbulointersticial, glomerulonefrite aguda, mieloma múltiplo e linfoma. Causas pós-renais são obstrutitvas, associadas à cálculos renais, hiperplasia prostática benigna, tumores e coágulos. • Causas de IRA próprias do Brasil: → Leptospirose Quadro de febre, IRA não oligúrica, hipocalemia, icterícia e hemorragia alveolar. O Leptospira interrogans é um parasita móvel, aeróbico, não corado pelo Gram, que produz endotoxinas que afetam as células tubulointersticiais, podendo provocar danos diretos na Na+/K+ ATPase A doença de Weil cursa com envolvimento de múltiplos órgãos, hemorragia alveolar difusa, edema pulmonar, SARA e IRA. A diálise precoce melhora o prognóstico. O tratamento também inclui o uso de antibioticoterapia. → Malária por P. falciparum → Acidentes ofídicos → Meningococcemia Patogênese • Pré-renal O rim recebe cerca de ¼ do débito cardíaco e elimina apenas 1% do ultrafiltrado durante o dia. A IRA pré- renal é caracterizada pela elevação das escórias nitrogenadas causada pela redução do fluxo sanguíneo renal, como ocorre na desidratação, por exemplo, em que há uma redução do volume arterial efetivo, reduzindo a perfusão renal e, consequentemente, a filtração glomerular. Além de hipovolemia, pode ocorrer em estados de choque, insuficiência cardíaca e cirrose hepática com ascite. É marcada por RFG baixo, absorção intensa de eletrólitos e de água (urina hiperconcentrada), [Na+] urinária baixa e fração de excreção de sódio < 1% e osmolalidade urinária alta. A retenção de eletrólitos e de água é justificada pela ativação do SNA simpático e do SRAA, a fim de restaurar a volemia. É clinicamente reversível, uma vez que restaurado o fluxo renal. → Fisiopatologia A autorregulação do fluxo renal e da filtração glomerular mantém a resistência vascular do rim quando há queda da PAM, evitando o hipofluxo. No entanto, quando a PA sistólica cai abaixo de 80 mmHg, esse mecanismo não é capaz de evitar o hipofluxo, pois as arteríolas já estão em seu estado máximo de vasodilatação. A vasodilatação aferente depende de estímulo direto de barorreceptores e da liberação intrarrenal de vasodilatadores endógenos ou de angiotensina II. Por isso, AINEs, iECA e BRA prejudicam a autorregulação do fluxo renal e da TFG, podendo precipitar azotemia pré- renal em pacientes com baixo fluxo renal, como hipovolemia moderada a grave, ICC descompensada, nefropatia crônica ou estenose bilateral de artéria renal. PCREAT = 2,5 mg/dL PUREIA = 280 mg/dL [Na+] plasmático = 140 mmol/L [K+] plasmático = 6 mmol/L pH arterial = 7,35 [HCO3-] plasmático = 16 mmol/L pCO2 arterial = 30 mmHg Fluxo urinário = 310 mL/dia [Na+] urinária = 5 mmol/L (normal acima de 10) [K+] urinária = 32 mmol/L (avaliar a variação) UOSM = 850 mOsm/L Maiores quantidades de ureia plasmática são mais características de ureia pré-renal, pois a menor perfusão renal faz com que a ureia fique muito concentrada na medula renal, aumentando sua absorção. Relações Ureia plasmática Creatinina plasmática > 40 também falam a favor de IRA pré-renal. A concentração de potássio urinário é aumentada pela retenção de sódio. A manutenção da causa de uma IRA pré-renal pode provocar necrose tubular aguda, impossibilitando a concentração efetiva da urina, o que faz com que a osmolalidade urinária fique próxima a do plasma. O tratamento consiste na reposição volêmica. A reposição pode ser feita com ringer lactato ou soro fisiológico. • Renal Disfunção renal aguda causada por lesão no próprio parênquima renal. O comprometimento tubular é a causa mais comum de lesão renal intrínseca aguda. → Necrose tubular aguda A causa mais frequente é a necrose tubular aguda consequente a isquemia. Para levar à NTA, a isquemia deve ser grave ou prolongada, mas se o paciente for nefropata crônico ou estiver tomando medicamentos nefrotóxicos, a NTA pode ocorrer com graus menos severos de isquemia. Ocorre descamação do epitélio tubular e obstrução dos túbulos pelos restos celulares, o que também propicia a saída de líquido para o interstício. Ela pode ser oligúrica (fluxo urinário < 400 mL/dia) ou não-oligúrica (fluxo urinário > 400 mL/dia).A chegada do oxigênio no rim se dá na região glomerular, deixando a medula num quadro de hipóxia relativa. A hipóxia faz com que o rim perca a capacidade de transporte ativo e provoca desgarramento de células (desestruturação do esqueleto de actina), ativação de mecanismos de lesão (como a produção de hipoxantina, que é convertida em ácido úrico e propicia a formação de radicais livres após reperfusão), perda de polaridade das células transportadoras. A isquemia renal também propicia aumento de cálcio no citosol, o que causa vasoconstrição renal. Além disso, a lesão endotelial diminui as substâncias vasodilatadoras. Na oligúrica, a lesão renal faz com que o paciente não consiga urinar. Quando associada à administração de volume, pode ocorrer congestão pulmonar por hipervolemia. PCREAT = 4,5 mg/dL PUREIA = 127 mg/dL [Na+] plasmático = 140 mmol/L [K+] plasmático = 6,5 mmol/L pH arterial = 7,33 [HCO3-] plasmático = 15 mmol/L pCO2 arterial = 29 mmHg Fluxo urinário = 80 mL/dia [Na+] urinária = 80 mmol/L [K+] urinária = 12 mmol/L (avaliar a variação) UOSM = 303 mOsm/Kg H2O O sódio urinárino fica aumentado pois o túbulo é incapaz de absorver o sódio, portanto a FENA+ é superior a 1%. Na não-oligúrica, o paciente apresenta isostenúria, ou seja, é incapaz de concentrar a urina pelo dano tubular, fazendo com que sua osmolalidade fique igual à do plasma. PCREAT = 24,1 mg/dL PUREIA = 119 mg/dL [Na+] plasmático = 140 mmol/L [K+] plasmático = 6,3 mmol/L pH arterial = 7,33 [HCO3-] plasmático = 15 mmol/L pCO2 arterial = 29 mmHg Fluxo urinário = 1800 mL/dia [Na+] urinária = 90 mmol/L [K+] urinária = 6 mmol/L (avaliar a variação) UOSM = 298 mOsm/Kg É possível realizar administração de diuréticos e hidratação. → Tóxica Existem vários agentes que podem causar IRA, como antibióticos, contrastes iodados, AINEs, imunossupressores e iECA. Venenos de ofídeos, aracnídeos, lagartas e abelhas também podem desencadear um quadro de IRA, assim como pigmentos, a exemplo de hemoglobina e mioglobina. Outras drogas nefrotóxicas são ciclosporina, anfotericina B e aciclovir. Apresenta uma letalidade relativamente baixa e é reversível com a suspensão do agente causador. Também tem uma tendência à forma não-oligúrica. A IRA provocada por AINEs é hemodinâmica, por redução da TFG, e é mais comum em idosos e portadores de IRC e IC, sendo o uso desses fármacos seguro em pessoas saudáveis. Provocam vasoconstrição de arteríola aferente pela redução de prostaglandinas. Também podem causar nefrite intersticial aguda, uma reação imunológica. iECA e BRA prejudicam a vasoconstrição de arteríola eferente, o que é potencializado por desidratação e hipotensão. É uma medicação muito segura e não deve ser suspensa em pré-operatório, desde que o paciente esteja em uso regular. Por reduzirem a filtração glomerular, preservando o glomérulo contra a hipertensão, se o paciente estiver com a função renal muito ruim ou com insuficiência renal aguda, a retirada desses medicamentos pode provocar uma melhora da função renal. Os aminoglicosídeos são responsáveis pelo maior número de casos de NTA, sendo muito nefrotóxicos quando administrados em doses altos, mais de uma vez ao dia, por mais de 10 dias. São absorvidos por lisossomos, fazendo com que sua concentração sérica seja baixa, mas a concentração tecidual é alta, podendo causar lesão na borda em escova. Para evitar que isso ocorra, é interessante a administração em doses únicas diárias. São eliminados pela filtração glomerular e podem causar IRA quando o paciente apresentar IRC, idade avançada, hipotensão, sepse ou outras drogas tóxicas no organismo. Drogas ilícitas podem provocar insuficiência renal, principalmente a cocaína, por causar vasoconstrição e HAS severa. As anfetaminas podem causar rabdomiólise. Os contrastes hiperosmolares estão associados a maior risco de causar IRA (ocorre 48h depois), por causar toxicidade direta nas células epiteliais tubulares, pela vasoconstrição da arteríola aferente mediada pela liberação renal de endotelina. Atualmente, os contrastes administrados são hiposmolares, reduzindo esse risco, mas a atenção deve ser mantida em pacientes idosos, diabéticos, desidratados, com IRC ou IC. A prevenção é feita com hidratação (antes e depois do procedimento) e redução do volume de contraste. → IRA na UTI As causas mais comuns são choque séptico e sepse grave. Apenas 5% necessitam de terapia renal substitutiva (RRT) e a mortalidade é em torno de 50- 70%. Isso ocorre pela perda entre o equilíbrio entre vasodilatação e vasoconstrição das arteríolas aferente e eferente, fazendo com que o sangue que passe pelo glomérulo não seja filtrado. A sepse cursa com instabilidade hemodinâmica, depressão miocárdica, aumento de TNF-, IL-6, NO e ICAM, apoptose das células tubulares renais e infiltração neutrofílica. Além disso, os pacientes em UTI apresentam outras alterações, como ventilação mecânica, insuficiência hepática e translocação bacteriana, que podem provocar o dano renal. → COVID e IRA O coronavírus apresenta proteínas spikes, que se ligam aos receptores de ECA, muito presentes em pulmões e rins, para entrar nas células. O vírus promove internalização dos receptores de ECA, fazendo com que os efeitos deletérios da angiotensina I e II sejam potencializados, como ativação do SRAA, vasoconstrição, inflamação e fibrose. O vírus também promove consequências vasculares, como obstrução capilar, necrose fibrinoide e isquemia glomerular, sistema ativado pela tempestade de citocinas. Além disso, a entrada do SARS-CoV-2 nas células dos túbulos proximais e nos podócitos, promove injúria e necrose tubular aguda. • Pós-renal Causada por fatores obstrutivos no sistema uroexcretor, como tumores, nefrolitíase e fibrose retroperitoneal, sendo a hiperplasia prostática benigna a causa mais comum. A IRA pós-renal só se desenvolve nas obstruções com repercussão renal bilateral, pois obstruções unilaterais, mesmo que completas, geralmente não causam azotemia. Em pacientes nefropatas crônicos, a obstrução de um único ureter pode desencadear um quadro de uremia, pois o ruim não obstruído não é capaz de manter a homeostase. Os pacientes podem fazer poliúria pós-desobstrutiva, com risco de desidratação. Após um quadro de obstrução urinária aguda, a pressão no interior dos túbulos renais aumenta, aumentando a filtração glomerular nas primeiras horas pela produção excessiva de prostaglandinas, que dilatam a arteríola aferente. Passadas 12-24h, é iniciada a produção de substâncias vasoconstritoras, como angiotensina II e tromboxano A2, que levam à diminuição da filtração glomerular. Quadro clínico Os sinais e sintomas são devidos à condição clínica causal, podendo haver rebaixamento do nível de consciência, ICC, edema pulmonar agudo, congestão pulmonar, derrame pericárdico, arritmias por hipercalemia, sangramentos, anemia, gastrite e aumento de infecções. Em quadros mais graves, o paciente apresenta a síndrome urêmica aguda, caracterizada por acúmulo de toxinas nitrogenadas dialisáveis, hipervolemia e desequilíbrio hidroeletrolítico e ácido-básico. Diagnóstico Pacientes com suspeita de IRA devem ser submetidos a ultrassonografia para confirmar o diagnóstico e definir qual o tipo de IRA (saber se o paciente tá entupido ou não). A biópsia renal é uma opção para descartar doenças glomerulares. Dilatação intra-renal, pode ser provocada por IRA pós-renal. Tratamento Controle dos distúrbios hidroeletrolíticos, correção de anemia e sangramentos, otimização da volemia, nutrição adequada, correção da dose de antibióticos e evitar drogas nefrotóxicas. As indicações de terapia dialítica são hiperpotassemia, hipervolemia, uremia e acidose metabólica. Casos clínicos • Síndrome hepatorrenal Caso clínico: homem de 50 anos, com cirrose por vírusC, Child C, listado para transplante hepático, dá entrada no OS com história de queda do estado geral, mal estar inespecífico e astenia. Tem história de paracenteses de repetição por ascite refratária. Fazia uso de aldactone 100 mg, furosemida 40 mg bid, lactulose 30 mL tid (evitar constipação, que pode causar delirium) e propranolol 40 mg bid (evitar sangramento de varizes). Ao exame físico, apresentava PA 90x60, FC 75, REG, ascite volumosa e edema de MMII. Exames de entrada: creatinina 1.0, ureia 40, K+ 3.6, Na+ 130, pH 7.35, BIC 21, Hb 10, leuco 12800 com 5% de BT, plaquetas 80 mil, INR 2.5, albumina 2.0 e PCR 60. Paracentese: PBE iniciou tratamento com rocefin e recebeu albumina no 1º e no 3º dias. Evoluiu com piora progressiva da função renal: creatinina 3.54, ureia 168, K+ 5.6, Na+ 130, pH 7.30, BIC 16, Hb 10, leuco 5800 sem desvio, plaquetas 80 mil, INR 2.5, albumina 2.0 e PCR 60 Urina I sem alterações, USRVUR: tamanho normal, ecogenicidade discretamente aumentada Descartado sangramento, nega uso de drogas nefrotóxicas e contraste, prova de volume com albumina sem resposta. A conduta consiste em suspender diuréticos e aldactone, quantificar peso e diurese, monitorar função renal, eletrólitos e gasometria diariamente. O tratamento é feito com albumina (1g/kg de peso no 1º dia e 20-40g/dia) e terlipressina (2mg 4-6h até redução da creatinina 1-1,2 mg/dL; 5-15 dias). A síndrome hepatorrenal é uma disfunção renal pré- renal provocada por uma intensa vasoconstrição nas artérias e arteríolas pré-glomerulares em pacientes cirróticos. Uma característica importante é um rim hipovolêmico, com sódio urinário muito baixo. Na cirrose compensada, o paciente apresenta aumento da resistência sinusoidal hepática e hipertensão moderada do sistema portal, acompanhada por varizes de esôfago e vasodilatação vascular esplâncnica. Além disso, há uma redução do volume arterial efetivo do paciente (rim e coração pensam que está com hipovolemia), portanto há aumento do DC e liberação de mediadores para aumentar o volume plasmático, como ativação do SRAA. Na descompensação, ocorre um aumento da pressão portal, provavelmente por translocação bacteriana em casos de infecção, que acarreta uma severa dilatação esplâncnica, com redução grave do volume arterial efetivo, aumento da bomba cardíaca, ativação de mecanismos para aumento de volemia e vasodilatação renal (glomérulo perde a capacidade de vasodilatar a a. aferente e vasoconstringir a a. eferente para aumentar a ultrafiltração; a perda dessa capacidade motora faz com que o paciente passe o sangue sem filtrar, aumentando escórias nitrogenadas). O aumento do tônus adrenérgico promove vasoconstrição renal direta e o excesso de angiotensina II induz a hipersecreção de aldosterona, aumentando a reabsorção de sódio pelos rins. Os diuréticos e as drogas nefrotóxicas devem ser retirados nesses casos, para confirmar que os sintomas não provêm desses medicamentos. Também é necessário descartar doenças parenquimatosas renais, hipovolemia e choque. É um quadro reversível, que depende da normalização da função hepática, o que pode ser feito com a administração de telipressina (ou noradrenalina, que são potentes vasoconstritores) e albumina. O rim é normal e as alterações são provenientes de problemas hepáticos, portanto o transplante de fígado também é um tratamento eficaz. • Síndrome de lise tumoral Paciente de 81 anos, sexo masculino, com antecedente de DM insulino-dependente, com história de ascite, emagrecimento, aumento do volume abdominal e dispneia há 3 meses, com piora há 3 dias. Ao exame físico apresentava FC 92, PA 102/65, SO2 94% com cateter de O2, afebril, REG, descorado, desidratado, acianótico, anictérico, com linfonodo inguinal bilateral de cerca de 2 cm. Orientado, consciente, sem déficits motores ou sensitivos. 2 BRNFs sem sopros, MV bilateral diminuído em bases, com estertores crepitantes e roncos difusos. Abdome ascítico, hepatoesplenomegalia. MMII com edema bilateral. Exames de entrada: creatinina 3.4, ureia 207, Na+ 145, K+ 5.7, P 6.9, Ca2+ 4.6, pH 7.30, BIC 13, Hb 11, leuco 74420 e linfócitos 64700 mil/mm³m, plaquetas 172 mil, PCR 30, DHL 1524, AU 20, AST 68. A terapia de tumores de alto grau de malignidade pode aumentar abruptamente os níveis séricos de ácido úrico (liberado na lise das células tumorais), que formará cristais obstrutivos no lúmen tubular, destruindo o epitélio. Além disso, cursa com potássio e fósforo elevados, hipocalcemia reativa e aumento de creatinina. Além da deposição de cristais de ácido úrico no rim, há depleção de volume e hipotensão e oligúria/anúria e insuficiência respiratória. O paciente deve ser hidratado com cristaloides e passar por diálise. O metabolismo das xantinas deve ser barrado. • Rabdomiólise Paciente de 65 anos, com antecedente de HAS, DLP, ex- tabagista, OAC, internada para angioplastia com STENT de tibial anterior esquerda sem sucesso, no PO evoluiu com isquemia do MIE e síndrome compartimental. Evoluiu com piora de função renal. A lesão muscular provocada libera uma grande quantidade de mioglobina, que precipita nos túbulos e provoca lesão renal. Além de lesar diretamento os túbulos renais, a mioglobina também possui efeito vasoconstritor, por depletar o óxido nítrico intrarrenal. As causas mais comuns de rabdomiólise são trauma, isquemia muscular, imobilização prolongada, grande mal epiléptico, hipertermia maligna, exercício físico extenuante, hipocalemia ou fosfatemia graves, infecções, intoxicações e envenenamentos. O diagnóstico é dado pela história clínica, pela dosagem de CPK, que fala a favor de lesão muscular, e pela mioglobinúria. A conduta terapêutica consiste em hidratação, alcalinização da urina e administração de manitol (mantém um alto fluxo tubular, lavando a mioglobina). Deve-se considerar hemodiálise se distúrbios eletrolíticos graves, hipervolemia, oliguria e acidose. • Hipercalcemia por malignidade Paciente de 52 anos, internado por queda do estado geral e dor lombar. Exame físico: REG, desidratado, descorado, sem outras alterações. Creatinina 2.63, ureia 68, K+ 3,4, Ca2+ 8.10, P 2.20, Na+ 146, pH 7.37, BIC 16.8, Hb 8, leuco 5200 sem desvio, plaqueta 70 mil. Hidratação intensa, com posterior administração de furosemida e de antimetabólicos ósseos, como pamidronato. Investigação de neoplasias: eletroforese de proteínas, raio-x de ósseos longos. Alguns tipos de neoplasia podem elevar a concentração de paratormônio ou vitamina D símile.
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