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1 Ana Carolina Caires INJURIA RENAL AGUDA CONCEITO É uma síndrome caracterizada pela queda abrupta da função renal (de horas ou dias), potencialmente reversível, ocasionando retenção de escórias do metabolismo nitrogenado, como ureia e creatinina, além de desregulação do volume extracelular e de eletrólitos. Pode ocorrer tanto em pacientes com função renal prévia normal quanto naqueles com doença renal prévia (doença renal crônica agudizada). As principais funções dos rins são excreção, manutenção do equilíbrio acidobásico e hidroeletrolítico e função endócrina (produção de eritropoetina e calcitriol). Dessas três, as duas primeiras são essencialmente afetadas na IRA. Logo, os sintomas da IRA são, em sua maior parte, decorrentes da perda dessas duas funções. EPIDEMIOLOGIA A IRA complica 5% das internações hospitalares e 30% das admissões em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Quando casos leves são incluídos, a mortalidade é próxima de 20%; porém, quando os pacientes apresentam quadros clínicos mais graves, como creatinina superior ou igual a 3 mg/dL, oligúria persistente ou necessidade de terapia dialítica, a taxa de mortalidade varia de 40 a 50%, sendo, em UTI, de 50 a 70%. FATORES DE EXPOSIÇÃO E SUSCETIBILIDADE AO RISCO DE DESENVOLVIMENTO EXPOSIÇÃO • Sepse; • Doença crítica; • Choque circulatório; • Queimadura; • Trauma; • Cirurgia cardíaca; • Cirurgia de grande porte não cardíaca; • Drogas nefrotóxicas; • Radiocontrastes iodados; • Plantas e animais venenosos. SUSCETIBILIDADE • Desidratação ou depleção volêmica; • Idade avançada; • Sexo feminino; • Raça negra; • Doença renal crônica ou proteinúria (acima de 200 mg/24h); • Doenças crônicas (coração, pulmão, Fígado); • Diabetes mellitus; • Neoplasia maligna; • Anemia; • Condições urológicas obstrutivas. ETIOLOGIA IRA PRÉ-RENAL Secundária a hipoperfusão renal. Nela, a integridade do parênquima renal ainda está mantida (ocorre em 55-60% dos casos). Causa + comum de IRA. IRA PRÉ-RENAL = fator hemodinâmico. Pois se tem uma diminuição do fluxo efetivo renal (hipoperfusão renal) que leva a redução da perfusão e da pressão de filtração intraglomerular, aumentando a creatinina ou reduzindo debito urinário. As causas mais comuns de IRA pré-renal incluem hipovolemia, estados de choque, insuficiência cardíaca e cirrose hepática. FISIOPATOLOGIA 2 Ana Carolina Caires Normalmente, os rins mantêm o volume extracelular pelo ajuste da excreção de sódio e água. Esse ajuste envolve uma parcela pequena da carga filtrada de sódio, o túbulo coletor faz isso. (A fração de excreção de sódio (FENa% = carga excretada/carga filtrada x 100) é muito baixa, inferior a 1% em condições normais) Na situação patológica da IRA PRÉ RENAL, as condições de depleção do volume extracelular (principalmente sódio) faz conservar o sódio e água, o contrario do que ocorre fisiologicamente. O mecanismo de autorregulação do fluxo sanguíneo renal e da filtração gloomerular pelos vasos renais faz com que uma redução da pressão arterial resulte em uma dilatação das arteríolas aferentes renais (essa dilatação depende do estimulo direto de barorreceptores de estiramento da musculatura lisa das artérias e liberação de vasodilatadores endógenos que agem predominantemente na arteríola aferente, como prostaglandina E2, óxido nítrico e sistema calicreína-cinina. Na hipotensão, redução da perfusão renal e de vasoconstrição estimulada pela angiotensina II, norepinefrina, vasopressina ou endotelina, a síntese de prostaglandina é aumentada para manter a perfusão renal e minimizar a isquemia, por isso o uso de medicamentos, como os AINHs, que inibem a formação de prostaglandinas, os Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECAs) e os Antagonistas dos Receptores de Angiotensina II (ARAs II), prejudica a autorregulação do fluxo sanguíneo renal e a TFG, bem como predispõe à lesão renal aguda.). A dilatação das arteríolas provoca uma redução na resistência vascular renal que mantém a TFG e fluxo sanguíneo renal. Esse mecanismo é capaz de manter a perfusão sanguínea renal até umas PAS de 80mmHg, quando cai abaixo desse limite o mecanismo de autorregulação renal não é capaz de manter o fluxo sanguíneo renal e perfusão cai, predispondo a isquemia e IRA PRÉ-RENAL. Se essa isquemia for mantida, a lesão renal se agrava e resulta em necrose tubular aguda. OBS: pacientes idosos e com doença renal crônica, esse mecanismo de autorregulação é anormal, de forma que reduções mais sutis da PAS já passam a resultar em isquemia renal. O quadro de hipoperfusão renal pode levar à ativação do sistema renina-angiotensinaaldosterona, sistema adrenérgico e liberação de ADH (vasopressina), tudo por redução do volume circulante efetivo, o que leva à vasoconstrição da arteríola eferente e à vasodilatação da aferente, com redução consequente da TFG. Com o objetivo da manutenção hidrossalina, a angiotensina II aumenta a reabsorção de sódio e água pelo néfron proximal; a aldosterona aumenta a reabsorção de sódio e água no néfron distal; a vasopressina aumenta a reabsorção de água livre no mesmo néfron. Consequentemente, a urina na IRA pré-renal é hiperconcentrada, pobre em sódio e em quantidade reduzida (oligúria). Como os túbulos estão hiperfuncionantes, há reabsorção de outros componentes do ultrafiltrado, especialmente via túbulo contorcido proximal, como a ureia, levando a uma fração de excreção baixa desse soluto. IRA RENAL OU INTRÍNSECA Pode ter origem isquêmica ou nefrotóxica, e há dano tissular renal (ocorre em 35-40%). Deve ser considerada: vascular, glomerular, tubular e intersticial. Protótipo da alteração histológica = necrose tubular aguda!!!! FISIOPATOLOGIA O mecanismo fisiopatológico passa por duas alterações principais: lesão isquêmica ou lesão tubular direta (geralmente estão somadas), levam a descamação celular. 3 Ana Carolina Caires A isquemia é microvascular no sistema tubular, levando a lesão celular tubular e perda da capacidade de concentração urinária e de função renal. A maioria dos casos de NTA (necrose tubular aguda) é precedida por um período de IRA pré- renal, no qual a isquemia/hipoperfusão renal não foi corrigida, enquanto a lesão tubular ainda era reversível. Porém, alguns casos de IRA renal não são precedidos por essa fase dita pré-renal. Isso ocorre porque a instalação da hipoperfusão renal foi tão rápida e grave que não houve tempo para a fase pré-renal ou porque o fator etiológico é outro que não hipoperfusão – como no caso das peçonhas, que geram efeito tóxico direto sobre os rins. Enquanto na IRA pré-renal há aumento desproporcional de ureia (em razão da intensa absorção proximal de ureia) em relação à creatinina, na IRA renal observa-se que essa desproporção desaparece. Na IRA renal, a concentração urinária de sódio é muito alta (acima de 40 mEq/L), e a osmolalidade urinária é próxima da do plasma (abaixo de 250 mOsm/kg), com FENa acima de 1%, ou seja, o néfron foi lesado e não consegue concentrar a urina corretamente. Uma vez instalada, a IRA renal não pode mais ser revertida rapidamente, mesmo que seja corrigido o distúrbio que a ocasionou. A recuperação da TFG e do fluxo urinário só ocorre após um período, que pode ser de dias ou semanas, quando o tecido renal se recupera espontaneamente. Vários compostos químicos podem causar queda abrupta da TFG, promovendo diretamente a vasoconstrição renal (efeito observado com contrastes radiológicos e ciclosporina), com consequente redução do fluxo sanguíneo renal. Outros compostos promovem lesão tubular por agressão tóxica direta, causando destruição celular semelhante à provocada por isquemia prolongada. É importante notar que, independentementedo mecanismo de ação, o rim é particularmente sensível a agentes tóxicos, especialmente os de ação direta. 4 Ana Carolina Caires IRA PÓS-RENAL Há obstrução aguda do trato urinário (ocorre em menor de 5%). É geralmente diagnosticada pela presença de hidronefrose na USG de rins e vias urinarias ou na TC. As causas mais frequentes de IRA pós-renal são: doença prostática (hiperplasia benigna, câncer ou infecções), bexiga neurogênica ou terapia com drogas anticolinérgicas. Com menos frequência, há obstruções por coágulos, cálculos e invasão ureteral por neoplasias. FISIOPATOLOGIA Aumento da pressão com redução da filtração. Para ocorrer IRA pós-renal, é necessário haver obstrução entre o meato uretral externo e o trígono vesical, ou obstrução ureteral bilateral, ou então obstrução ureteral unilateral em portador de rim único funcionante (ou com algum grau prévio de insuficiência renal). A obstrução acarreta ELEVAÇÃO DA PRESSÃO hidrostática da via urinária, que se transmite aos túbulos e espaço de Bowman, levando à anulação da pressão efetiva de ultrafiltração e à cessação do processo de filtração glomerular. Após um ou dois dias de obstrução, outros mecanismos, como a produção local de vasoconstritores, entram em ação, contribuindo para manter baixo o RFG. Conforme o tempo de obstrução aumenta, diminui a possibilidade de recuperação dos néfrons, por isso estima-se que, após 12 semanas de obstrução, será possível estabelecer um quadro irreversível. QUADRO CLÍNICO A IRA é frequentemente assintomática, diagnosticada normalmente em exames de rotina de admissão hospitalar. Os sintomas dependem da gravidade da injúria renal, de sua velocidade de instalação, bem como de sua etiologia. Como manifestações clínicas, os pacientes podem apresentar desde mal-estar inespecífico até quadro urêmico (náuseas, vômitos, sangramento gastrintestinal, tamponamento pericárdico, dispneia, hipertensão, alterações neurológicas e do nível de consciência). Os pacientes podem ter sinais e sintomas decorrentes da doença de base (exemplos: pneumonia com choque séptico, insuficiência cardíaca grave etc.) ou da perda de função renal. A instalação súbita de anúria, definida como diurese inferior a 100 mL/ 24h, é incomum e sugere a ocorrência de obstrução pós-renal total, trombose arterial bilateral, trombose venosa bilateral ou necrose cortical. A condição que acarreta a lesão renal frequentemente produz sintomas graves não relacionados aos rins. Por exemplo, febre alta, choque, insuficiência cardíaca e insuficiência hepática são possíveis antes da insuficiência renal e podem ser mais graves que qualquer um dos sintomas da insuficiência renal. Quando há hidronefrose, em IRA pós-renal, o refluxo da urina para o interior do rim faz a área coletora de urina (pelve renal) distender, causando uma dor tipo cólica de intensidade variável (de leve a lancinante), normalmente localizada no flanco. SISTEMA CARDIOVASCULAR Hipervolemia, que pode manifestar-se por hipertensão leve, congestão pulmonar incipiente com estertoração pulmonar em 5 Ana Carolina Caires bases, derrame pleural, ascite e, finalmente, edema agudo pulmonar e insuficiência respiratória aguda; arritmias (secundárias a hipermagnesemia, hipercalemia, acidose); desidratação; hipotensão; choque e parada cardiorrespiratória (além dos distúrbios metabólicos, pode ocorrer tamponamento pericárdico). SISTEMA RESPIRATÓRIO Taquipneia e respiração profunda (acidótica ou de Kussmaul). SISTEMA NEUROLÓGICO Geralmente, são relacionados à própria uremia: confusão, sonolência, convulsões e coma. Raramente podem ocorrer sintomas relacionados com hipocalcemia, como parestesias periorais, cãibras, confusão, sinal de Chvostek (contração da musculatura facial após estímulo do nervo facial sobre a mandíbula), sinal de Trousseau (contratura da mão após a oclusão da circulação arterial por 3 minutos) e tetania espontânea (contrações musculares dolorosas, convulsões, laringoespasmo). SISTEMA GASTROINTESTINAL Vômitos intensos, hemorragia digestiva, soluços, dor à palpação de abdome, massas palpáveis. DISTÚRBIO URINÁRIO O volume urinário pode variar entre dois extremos: de anúria à poliúria. Pacientes com obstrução urinária bilateral ou obstrução arterial bilateral apresentam anúria; portadores de IRA relacionada a drogas podem apresentar poliúria (por exemplo, lítio, aminoglicosídeos) ou oligúria (por exemplo, anti-inflamatórios). Pode haver também alternância entre anúria e diurese, que deve apontar para obstrução urinária de caráter intermitente. Bexiga palpável (“bexigoma”), sinal bastante sugestivo de obstrução urinária. É importante avaliar a necessidade de toque retal (especialmente em homens) e de exame ginecológico nas mulheres. Adicionalmente, deve-se pesquisar a presença de lesões cutâneas que indiquem doenças específicas (autoimunes, endocardite, gota) ou rash maculopapular que sugere nefrite intersticial por hipersensibilidade a drogas. DIAGNÓSTICO O médico suspeita de IRA quando o débito urinário diminui. A dosagem da concentração de creatinina e ureia no sangue ajuda a ratificar o diagnóstico, ou seja, aumento progressivo da concentração sérica de creatinina e/ou redução do volume urinário indica IRA. ANAMNESE A história clínica é de grande importância, tanto para pacientes internados como para ambulatoriais: indícios de doença sistêmica crônica prévia (diabetes, lúpus, hipertensão arterial) que os tornem suscetíveis a qualquer evento agudo. Devem-se investigar todas as medicações em uso crônico ou recente (AINHs, IECAs, diuréticos, antibióticos), história de traumatismo recente, procedimentos cirúrgicos e antecedentes de uropatia obstrutiva (em homens idosos). Além disso, é importante avaliar o risco de intoxicação acidental ou intencional por metais pesados ou solventes orgânicos; obter informações a respeito de depleção hídrica (diurese excessiva, uso de diuréticos, débito de sonda vesical, drenos, diarreia, hipertermia), redução da ingestão hídrica, cirurgia recente; verificar o anestésico utilizado e as intercorrências clínicas que se seguiram, como infecções, hipotensão, balanço hídrico negativo; se o doente realizou algum procedimento radiológico com uso de contraste ou com manipulação intravenosa que antecedeu o desenvolvimento da IRA; procurar definir se é um quadro agudo realmente ou se já existiam sintomas de doença renal prévia; questionar os sintomas por órgãos e aparelhos: presença ou ausência de sintomas pulmonares, cardiovasculares, gastrintestinais e neurológicos. 6 Ana Carolina Caires EXAME FÍSICO Devem-se avaliar os rins para determinar se ocorreu aumento no tamanho ou se estão dolorosos à palpação. A estenose (estreitamento) da artéria principal que irriga um rim pode produzir ruído como de corrente (sopro), o qual pode ser auscultado com o auxílio de estetoscópio colocado no abdome do paciente. Quando é detectado aumento da bexiga (bexigoma) ao exame físico, deve-se passar uma sonda vesical para avaliar seu débito. Sobretudo nos homens idosos, o fluxo urinário pode ser obstruído na saída da bexiga (na abertura da bexiga para a uretra), por causa do aumento prostático benigno ou maligno. Consequentemente, a bexiga dilata e a urina reflui, lesando os rins. Na suspeita de obstrução, o médico deve realizar exame proctológico ou ginecológico para verificar se alguma massa em uma dessas regiões pode estar causando a obstrução. FUNÇÃO RENAL: Mesurada por meio do Clearence de Creatinina (metabolito do musculo esquelético filtrado pelo néfron não sendo reabsorvida). Os níveis de creatinina variam de acordo ao estado nutricional, massa muscular e sexo. UREIA E CREATININA SÉRICASA ureia e a creatinina séricas estão aumentadas na IRA. O Clearance de creatinina pode superar a TFG, pois a creatinina tambem é excretada no túbulo contorcido proximal. Dessa forma, pode-se usar o clearancede creatinina ou a concentração sérica de creatinina para estimar a função renal.O clearancede creatinina é calculado como: creatinina urinaria X creatinina plasmática. Em situações fisiológicas a creatinina é totalmente excretada na urina. Porem, na IRA ela aumenta sua concentração sérica e diminui na urina (TFG < 70%) ou seja a concentração de creatinina não muda até que mais de 50% da função renal esteja comprometida. O aumento muito rápido da creatinina pode indicar rabdomiólise. A uréia, principal produto do catabolismo proteico. Quando existe diminuição do fluxo sanguíneo renal a reabsorção de ureia pode chegar a 90%. Entretanto, há situações que cursam com o aumento da ureia sem relação com disfunção renal como sangramento TGI, uso de corticoides, hipercatabolismo e alta ingesta proteica. [UreiaPlasmática] / [CreatininaPlasmática]= indício de IRA e classifica sua etiologia: Injuria Pré- Renal: há maior filtração de ureia e creatinina com maior reabsorção da ureia (90%). Assim o valor de referencia aumenta para 40:1. Injuria Renal Intrínseca: Não ocorre reabsorção da ureia devido a disfunção das células tubulares. Dessa forma, o valor de referência cai para 15:1. Injuria Pós-Renal: Geralmente considera-se o valor de referencia 20:1, podendo haver um leve aumento devido ao aumento da pressão de reabsorção da ureia por conta da obstrução. EAS DE URINA: Avalia as características químicas da urina (pH, presença de glicose, proteína, outras substancias, sangue e pus), características físicas (aspecto, densidade, coloração) e sedimentoscopia (elementos celulares, leucócitos, cilindros- deposição de moléculas com células mortas). Injuria Pré-renal: Aspecto químico normal, com maior densidade (aumento da concentração- menor quantidade de água), os sedimentos estão ausentes ou presença de cilindros hialinos. Injuria renal intrínseca: Quando ocorre lesão no parênquima pode haver hematúria, piúria, proteinúria e glicosúria; a urina encontra-se menos densa (mais diluída) devido a alteração de reabsorção. Pode ser encontrado, células epiteliais, leucócitos e cilindros. Injuria Pós- renal: A lesão obstrutiva pode gerar hematúria, piuria. A urina pode ser normal ou concentrada se houver aumento de pressão tubular. FRAÇÃO DE EXCREÇÃO URINÁRIA DE SÓDIO 7 Ana Carolina Caires A medida da concentração de sódio urinário fornece informações sobre a integridade do processo de reabsorção tubular. Diferencia as etiologias pré-renal da renal intrínseca. Injuria Pré-renal: Devido ao hipofluxo renal o rim absorve muita água e sódio. Por isso a excreção de Na será < 1%. Obs. Se estiver em uso de diurético a excreção será < 35%. Injuria Renal Intrínseca: A reabsorção é comprometida por isso há a excreção > 2%. Obs. Se estiver em uso de diurético a excreção será > 50%. EXAMES DE IMAGEM USG É o exame inicial de escolha e pode mostrar: • Obstrução do trato urinário, com consequente hidronefrose (Figura 6.12 - A): a USG deve ser realizada em todo indivíduo com IRA de origem indeterminada, já que a obstrução do trato urinário é uma causa de IRA possivelmente reversível. Lembrar que pode ocorrer um período variável de dias até que se verifique a dilatação pielocalicial; • Alterações parenquimatosas: analisar a ecogenicidade do parênquima renal, a espessura do córtex e a relação córtex/medula, importantes na avaliação de presença de nefropatia crônica prévia; • Presença de cistos – doença renal policística ou massas; Possibilidade de fornecer pistas para a etiologia da IRA: rins aumentados podem sugerir mieloma, amiloidose, diabetes. TC Deve ser feita a princípio sem contraste e pode mostrar dados não visualizados pela USG, como no caso de cálculos e obstruções. Se houver suspeita de lesões vasculares, como trombose de artéria renal, deverá ser realizada a angiotomografia com contraste iodado, para possibilitar a visualização dessas lesões. No entanto, com o contraste iodado, há risco de nefropatia por contraste, que pode agravar a IRA desses pacientes. Para minimizar esse risco, deve ser realizada profilaxia para nefropatia por contraste, principalmente com hidratação venosa. ANGIORESSONANCIA Pode ser de grande auxílio no caso de lesões vasculares, evitando o contraste iodado, que seria necessário para a realização de TC. Também pode ser útil no caso de gestantes com IRA. No entanto, se houver insuficiência renal importante com clearance de creatinina abaixo de 30 mL/min, deve- se evitar a angiorressonância por causa do risco de fibrose sistêmica nefrogênica pelo uso do gadolínio. CINTILOGRAFIA Pode ser útil para avaliar tanto a função renal (por meio dos marcadores de filtração e excreção (EDTA e DTPA), respectivamente) quanto o fluxo renal. Pode ser, também, de grande valor quando utilizada em casos específicos, como na investigação da nefrite intersticial aguda, em que a cintilografia com gálio mostra captação quase patognomônica da lesão. 8 Ana Carolina Caires DIAGNÓSTICO IRA PRÉ-RENAL Historia e quadro clínico compatível: diarréia, desidratação, dose elevada de diurético. Laboratório: sistema tubular de reabsorção e concentração urinaria funcionante, a urina é ultraconcentrada. Elevação de uréia e creatinina: U/Cr > 40:1 UNa (fração de excreção do sódio): <20 mEq/L (baixo) FENa (fração de excreção do sódio): < 1% FEUreia (fração de excreção uréia): <35% (baixa) Densidade: >1.020 (alta) Osmolaridade: >500 (alta) Cilindros hialinos (cilindros fisiológicos, vistos principalmente em estado de desidratação). DIAGNÓSTICO IRA RENAL/INTRÍNSECA Dados da história afim de identificar agente causal. Avaliar função renal e eletrólitos + sedimento urinário + hemograma + investigação infecciosa + exames de imagem. Biópsia renal. DIAGNÓSTICO IRA PRÉ-RENAL Historia clínica compatível – avaliar “bexigoma” em homens, oligúria, dor abdominal. Medicações em uso. Laboratório = elevação de escorias nitrogenadas Elevação de uréia e creatinina; UNa (fração de excreção do sódio): >20 (elevado, pois não está tendo reabsorção de sódio e água); FENa (fração de excreção de sódio: >1% FEUreia (fração de excreção de uréia): >50 (alta); Densidade: <1010 = diluída; Osmolaridade: <250 = baixa. Bioquímica urinária: achados compatíveis com disfunção tubular, devido ao aumento da pressão no sistema por obstrução. USG/TOMO – achado de dilatação pielo calicial bilateral + possibilidade de identificação do fator obstrutivo. CRITÉRIO DIAGNÓSTICO KDIGO: o mais recente e mais usado, mesclando o RIFLE e AKIN. propõe que, para ser diagnosticado com injúria renal aguda, o paciente precisa apresentar UM dos seguintes TRÊS critérios: • Aumento da creatinina sérica > 0,3 mg/dL dentro de 48 horas; • Aumento da creatinina sérica > 1,5x o valor de base, conhecido ou presumido nos últimos 7 dias; • Débito urinário < 0,5ml/kg/h por 6 horas. CRITÉRIOS DE ESTADIAMENTO O KDIGO também possui critérios para o estadiamento da IRA, ajudando a determinar o quão grave é seu estado. ESTÁGIO 1 • Aumento da creatinina sérica 1,5 a 1,9 vezes o valor de base; OU • Aumento da creatinina > 0,3mg/dl; OU • Aumento da creatinina > 0,3mg/dl; OU 9 Ana Carolina Caires • Débito urinário < 0,5ml/kg/h por 6-12 horas. ESTÁGIO 2 • Aumento da creatinina sérica em 2 a 2,9 vezes o valor de base; OU • Débito urinário < 0,5ml/kg/h > 12 horas. ESTÁGIO 3 • Aumento da creatinina 3 vezes o valor de base; OU • Aumento da creatinina > 0,4mg/dl; OU • Débito urinário < 0,3ml/kg/h > 24 horas;OU • Anúria > 12 horas; OU • Início de terapia de substituição renal; OU • Redução da TFG < 35ml/min nos pacientes com menos de 18 anos. TRATAMENTO O tratamento de pacientes com Injúria Renal Aguda (IRA) é essencialmente de suporte. As medidas terapêuticas iniciais devem estar voltadas para correção da volemia, restabelecimento do equilíbrio eletrolítico e controle das manifestações urêmicas. A hipotensão deve ser evitada, uma vez que essa condição promove redução na perfusão renal. Detectada a hipovolemia, o volume intravascular deve ser restituído com solução salina. Caso não se atinja pressão arterial média ideal, deve-se iniciar o uso de drogas vasopressoras, sendo preferencial a noradrenalina. Entretanto, especialmente em IRA hospitalar, é comum a hipervolemia, sendo necessário tratar a congestão pulmonar. Os pacientes costumam estar hipertensos e podem ser necessários vasodilatadores (nitroprussiato de sódio ou nitroglicerina). A furosemida pode ser intravenosa, em bolus, na dose inicial entre 20 e 100 mg; caso não se obtenha resposta adequada na hora seguinte, a dose pode ser dobrada e assim por diante. A infusão contínua de furosemida algumas vezes possibilita um efeito diurético maior. Em última instância, caso não se obtenha resposta diurética ou o volume urinário obtido seja insuficiente, devem-se utilizar técnicas dialíticas (hemofiltração, hemodiálise ou diálise peritoneal, a depender das características de cada paciente). Na rabdomiólise, o esquema terapêutico sugerido consiste na administração de solução salina isotônica, precocemente, ajudando a prevenir a precipitação de mioglobina nos túbulos e reduzir o risco de IRA grave. Todas as medicações que o paciente recebe devem ser revisadas, e as doses, ajustadas conforme o clearance estimado (habitualmente inferior a 10 mL/min). Orientações gerais: Assegurar volume intravascular; Manter PAM > 80mmHg; Manter Ht> 30%; Manter sO2 adequada; Evitar hiper-hidratação- pode gerar edema, hipertensão, IC, hiponatremia; Prevenir hipercalemia- diminuição da ingesta de potássio; Tratar hipercalemias graves com infusão EV de cálcio, glicose, insulina, B2 agonista, correção da acidose ou hemodiálise; Tomar precauções contra processos infecciosos; Evitar utilização de antibióticos sem necessidade; Evitar restrição alimentar severa. NA INJURIA PRÉ-RENAL Reposição volêmica para normalizar a PAS; Suspender diuréticos. NA INJURIA RENAL INTRÍNSECA Se houver infarto renal: Anticoagulante e estatina. Se a lesão for causada por intoxicação: Suspender agente causal; Suspender AINEs; Suspender corticóides. NA INJURIA PÓS RENAL Solicitar avaliação urológica; Se necessário, desobstrução do trato urinário com um cateter vesical. 10 Ana Carolina Caires Todos os pacientes devem passar por correção das alterações hidroeletrolíticas, azotemia e da acidose metabólica: Acompanhar a concentração de eletrólitos, creatinina e uréia; Assegurar dieta pobre em sódio e potássio ate melhorar a função renal; Se houver hiponatremia: restringir uso de soluções hipotônicas e ingesta de água; Suspender IECA, BRA, AINEs pois interferem na perfusão renal; Evitar aminoglicosídeos e contrastes radiológicos; Pode-se usar diurético, porem eles não melhoram a função renal e nem interferem no prognostico; deve-se evitar o uso prolongado. TERAPIA DIALÍTICA Indicação de diálise: A dialise assume a função filtradora o rim lesado o que resolve algumas complicações. Entretanto, ela não melhora o prognostico. TERAPIA DE SUBSTITUIÇÃO RENAL Indicada quando as medias gerais tornam- se ineficientes; Corrige anormalidades metabólicas, desequilíbrios hidroeletrolíticos ; Adequa a concentração de liquido extracelular para recuperação das funções sistêmicas. TRATAMENTO IRA PRÉ-RENAL Hidratação – via enteral ou parenteral; Correção da causa base (pilar do tratamento); Correção das alterações metabólicas decorrentes. TRATAMENTO IRA PÓS RENAL Desobstrução – reversão do processo obstrutivo no menor tempo possível. Correção dos distúrbios hidroeletrolíticos associados. Raramente há necessidade de hemodiálise quando a causa é corrigida. PREVENÇÃO Existem situações clinicas que é previsível a possibilidade de IRA como o uso de drogas nefrotóxicas, cirurgias de grande porte, quadros infecciosos, liberação de pigmento (mioglobina, hemoglobina e bilirrubina) 1. Estabeleça nível basal da creatinina: a dosagem da creatinina é pouco sensível, pois seu valor pode esta < 1,5mg/dl em pacientes com redução da filtração glomerular. O Clearance da Creatinina apresenta um dado mais fidedigno. A creatinina elevada aumenta as chances de IRA 2. Mantenha PAM > 80mmHg, Ht> 30% e oxigenação adequada 3. Evite drogas nefrotóxicas 4. Em casos de mioglobinuria e hemoglobinúria- utiliza-se solução salina expansora, bicarbonato de sódio e manitol para prevenir IRA.
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