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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 
16º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo 
FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – Novembro de 2018 
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1 
 
 
A noção de Jornalismo de Dados no jornalismo contemporâneo 
 
 
 
Vanessa Teixeira de Barros1 
 
Aluna do Mestrado Profissional em Jornalismo da FIAM/FAAM. 
 
 
Resumo 
Pesquisadores e jornalistas dedicados ao Jornalismo de Dados o resumem (com algumas variá-
veis) como técnicas e procedimentos (através do computador) que auxiliam a visualização, o 
cruzamento e o tratamento de grandes quantidades de dados, os quais uma pessoa seria incapaz 
de extrair com tanta rapidez. O objetivo deste artigo é situar quando surge essa noção de jorna-
lismo e o quanto isto está articulado com as mudanças tecnológicas e as novas formas de circu-
lação de informação. 
Busca-se, portanto, problematizar a ideia da emergência do jornalismo de dados, tencionando o 
que há de novo de fato nesse método, e o que se apresenta como continuidade do jornalismo no 
modelo tradicional de redação. 
 
Palavras-chave: Jornalismo de Dados; Tecnologias; Circulação de Informação. 
 
 
 
Introdução 
Há hoje uma forte constatação de que expressivas transformações sociais, produtivas e 
organizacionais a nível mundial estão acontecendo nas últimas décadas, dentre elas, 
transformações tecnológicas que permitem que outras formas de produção e circulação 
 
1 Jornalista; Mestranda do programa de Mestrado Profissional em Jornalismo da FIAM/FAAM, orientada 
pela professora Dra Alciane Baccin. Email: vanessa.tbarros@hotmail.com 
 
mailto:vanessa.tbarros@hotmail.com
 
 
 
SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 
16º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo 
FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – Novembro de 2018 
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de informação aconteçam, colocando em cena novas práticas e atores no cenário infor-
macional. Assim como outros campos, o jornalismo é fortemente impactado em diferen-
tes níveis, e neste cenário, vemos o modelo de negócio das empresas jornalísticas ten-
tando se reorganizar: diminuindo suas estruturas, com redações que fragilizam as poten-
cialidades dos seus profissionais, refuncionalização do jornalista e o surgimento de mo-
dalidades de jornalismo vão além das redações tradicionais. 
Paralelo ao avanço das tecnologias de informação, mobilizações afins de facilitar a di-
vulgação de informações de interesse público fizeram com que governos e instituições 
disponibilizassem bases de dados na internet. A disseminação desses dados então come-
çou a ocorrer de forma mais global a partir dos anos 90 com a adoção de movimentos de 
dados abertos, e da pressão social por transparência governamental. 
Com a disponibilidade de dados nas redes, surgiu a necessidade de tratamento dessas 
informações de modo que pudessem ser aplicadas na fiscalização do poder público, em-
presas ou outras instituições. A partir dessa demanda, foram surgindo softwares e fer-
ramentas de visualização e extração de dados que possibilitaram seu tratamento. 
O momento mais expressivo atual em que o uso de grandes bases de dados se populari-
zou foi nos casos dos vazamentos de dados em larga escala conhecidos como “Cablega-
te”, coordenado pelo WikiLeaks, e Panamá Papers, liderado pelo Consórcio Internacio-
nal de Jornalistas Investigativos (ICIJ). Em 2010, Julian Assange e alguns parceiros do 
WikiLeaks montaram uma estratégia tecnológica e jornalística para distribuir em alguns 
grandes jornais do mundo, cerca de 250 mil documentos organizados e tratados de for-
ma facilitada para serem publicados, uma equipe de qualquer jornal levaria anos para 
conseguir organizar a quantidade de arquivos obtida. 
Quase 6 anos depois, em 2016 foi a vez do Consórcio Internacional de Jornalistas Inves-
tigativos liberar na internet um compilado de cerca de 11 milhões de documentos de um 
escritório de advocacia panamenho cujo a especialidade era tratar de empresas em para-
ísos fiscais. O vazamento ficou conhecido como Panama Papers e hoje é considerado "o 
maior vazamento da história do jornalismo de dados" (Baack, 2016, online). 
 
 
 
SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 
16º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo 
FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – Novembro de 2018 
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Esses casos ilustram como essa modalidade de informação vem sendo utilizada por ini-
ciativas que atendem a demandas específicas, na maioria das vezes sem a participação 
de equipes profissionais de empresas informativas tradicionais, como explica Anderson: 
Foi assim que algoritmos em grande escala se tornaram protagonistas 
de jornais de grande porte pela primeira vez. Desta forma, o "Cablega-
te" popularizou a notícia da existência de grandes bancos de dados na 
internet, despertando o interesse de ciberativistas e instituições de in-
teligência no mundo todo. (ANDERSON et al., 2013, p.44) 
Diante disso, a abordagem proposta neste artigo pretende responder não o que é o JD 
especificamente, apesar da definição dessa prática acompanhar o texto, mas procura 
compreender se essa noção de método de trabalho específico começou a circular como 
uma possível estratégia de legitimação do próprio campo jornalístico. 
 
Panorama do jornalismo contemporâneo 
Para contextualizar o surgimento do JD no panorama do jornalismo contemporâneo, 
neste artigo optamos por olhar para as transformações do jornalismo a partir das impli-
cações no trabalho e identidade dos jornalistas expostos nos estudos de Zélia Adghirni 
(2008), e pela contextualização das novas formas de produzir e circular informação pro-
postos por Axel Bruns a partir dos conceitos de gatekeeping e gatewhatching (2014). 
No mundo de hoje onde boa parte dos jornalistas está fora do espaço das redações, as 
teorias do jornalismo nem sempre dão conta de explicar as práticas contemporâneas, 
uma vez que elas estão centradas em explicar o jornalismo na figura das redações tradi-
cionais de jornalismo impresso. O jornalismo sempre esteve em movimento, mas a par-
tir da década de 70 essa movimentação passou a borrar as fronteiras de definições do 
jornalismo. A pesquisadora Zélia Adghirni (2008) em seus estudos sobre as mudanças 
estruturais do jornalismo retoma os quatro tipos de jornalismo existentes a partir de cir-
cunstâncias sociais propostas pelos pesquisadores canadenses Brin, Charron, e Bonville 
(2004) “jornalismo de transmissão, no séxulo XVII; jornalismo de opinião, no século 
XIX; jornalismo de informação, fim do século XIX e seguiu como modelo de coleta de 
notícias da atualidade, e jornalismo de comunicação, a partir da década de 70 caracteri-
zado pela subordinação da oferta às preferencias do público”. Especificamente no con-
texto brasileiro, os estudos de Adghirni se concentram a partir da introdução da internet 
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nas redações na década de 1990. (ADGHIRNI, 2008) a partir desse período a autora 
classifica as fases de mudanças do jornalismoem três eixos. O primeiro diz respeito às 
mudanças nas rotinas de produção: processo de convergência que começou na informá-
tica, passou para as telecomunicações e evoluiu para convergência de mídias. A partir 
desta fase surgiram novas formas e postos de trabalho com noção de multifuncionalida-
de do jornalista. O segundo eixo diz respeito as mudanças que impactaram o perfil e a 
identidade dos jornalistas a partir do surgimento de novos postos de trabalho, uma vez 
que o espaço profissional pretendido inicialmente ficou saturado. Por fim, o terceiro diz 
respeito aos efeitos e desdobramentos sobre a ideia de profissão: neste eixo a autora 
discorre sobre a não exigência do diploma, a desregulamentação da profissão de jorna-
lista e a perda da centralidade do jornalista na mediação da produção da informação 
como uma consequência dessas transformações atuais. 
Já nos estudos de Bruns (2011) o autor discorre sobre a descentralização do domínio da 
informação das empresas jornalísticas industriais, uma vez que hoje os jornalistas fazem 
parte de um cenário online que possibilitou um aumento de grupos e atores sociais tam-
bém envolvidos com as notícias, permitindo que a audiência tenha acesso a uma varie-
dade de outras fontes. É neste cenário que, segundo Bruns, os jornalistas devem desem-
penhar a função de gatewhatching através de seus métodos e esforços de investigação 
para tratar da curadoria dessa gama de informações disponíveis. 
Além disso, essa nova forma de produção e circulação de conteúdo, quando realizada a 
partir de uma lógica coletiva, pode resultar em coberturas jornalísticas tão extensivas 
quanto às realizadas até então apenas pelas organizações jornalísticas industriais. Bruns 
define essa lógica de esforços colaborativos como produssage: 
a premissa dentro da comunidade de produsage é que quanto mais par-
ticipantes puderem examinar, avaliar e expandir as contribuições dos 
seus predecessores, mais provável será um resultado de qualidade for-
te e crescente (uma extensão do lema das fontes abertas, “com globos 
oculares suficientes, todos os defeitos são superficiais”) (BRUNS, 
2014, p. 24). 
 
Um exemplo disso, é o jornal The Guardian, que em junho de 2009, para lidar com 
montante de documentos sobre as despesas dos Membros do Parlamento Britânico, dis-
ponibilizou on-line o banco de dados e convidou os leitores para participar do processo 
de revisão e investigação. O resultado? Um terço dos documentos foram revisados nas 
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primeiras 80 horas (ANDERSON, 2009). Bruns utiliza esse episódio da imprensa bri-
tânica para ilustrar nova fase de relacionamento da imprensa com a sua audiência a par-
tir da década de 90, com a popularização da web. 
Esta mudança foi fomentada por dois aspectos que se combinaram pa-
ra substituir as práticas de gatekeeping por aquelas de gatewatching: a 
multiplicação contínua dos canais disponíveis para a publicação e di-
vulgação das notícias, especialmente desde o surgimento do World 
Wide Web como uma mídia popular, e o desenvolvimento dos mode-
los colaborativos para a participação dos usuários e para a criação de 
conteúdo, que atualmente são frequentemente resumidos sob o rótulo 
de “Web 2.0”. (BRUNS, 2014. p. 122) 
Nesta conjuntura, o jornalismo de dados como vem sendo discutido atualmente ganha 
projeção, como veremos a seguir. 
Jornalismo de Dados (JD): contextos e conceitos 
Em 2010 Julian Assange e alguns parceiros do Wikileaks conseguiram acesso aos dados 
(que ficaram conhecidos como Gablegate) e montaram uma estratégia tecnológica para 
distribuir, organizar e tratar os documentos de forma facilitada para serem publicados. 
Esse é exemplo de maior expressividade de publicação de dados públicos nesta década, 
e aconteceu originalmente sem participação de equipes profissionais de empresas in-
formativas tradicionais, apenas após o tratamento e organização dos dados, é que os 
jornais publicaram os documentos. Já o Panamá Papers, considerado hoje "o maior va-
zamento da história do jornalismo de dados" (Baack, 2016, online) foi liderado pelo 
Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos e liberou na internet um compila-
do de cerca de 11 milhões de documentos de um escritório de advocacia panamenho 
especializado em tratar de empresas em paraísos fiscais. 
Todavia, a utilização de dados por si só não são elementos inéditos dentro do jornalis-
mo, caracteres e números reunidos em uma planilha ou pilhas de documentos desconec-
tados até então sempre fizeram parte da rotina de jornalistas que apuram conteúdo, em 
especial aqueles denominados investigativos. Um exemplo de notícia construída a partir 
da investigação e análise de bases de dados vem do jornal britânico The Guardian, que 
já exibia em sua primeira edição, de 5 de Maio de 1821, utilizou tabela mostrando a lista 
das escolas de Manchester e Salford, na Inglaterra, com o número de alunos e o gasto 
 
 
 
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médio anual do governo com cada uma, revelando pela primeira vez quantos recebiam 
educação gratuita do estado. (GRANDIN, 2014). Mas o que diferencia o jornalismo de 
dados como conhecemos hoje, do jornalismo investigativo praticado desde outras épo-
cas? 
Até pelo menos a metade do século XX, conseguir acesso a dados de interesse público 
exigia enorme esforço dos jornalistas. Era preciso convencer autoridades e instituições a 
liberar documentos, e a análise pelos jornalistas muitas vezes demandava muito tempo. 
O cenário começou a mudar em 1952, como mostra Grandin: 
Em 1952 a rede de TV norte-americana CBS usou pela primeira vez 
um computador para projetar o resultado da disputa eleitoral nos Esta-
dos Unidos, entre o futuro presidente Dwight Eisenhower e Adlai Ste-
venson. Era criada a Reportagem com Auxílio de Computador (RAC), 
conceito abrangente que abarca qualquer prática que envolva o uso de 
computadores para auxiliar o processo de obtenção de informações 
jornalísticas (COX, 2000 in GRANDIN, 2014, p.2). 
 
No início da década de 1960, Philip Meyer foi o primeiro jornalista a adotar o conceito 
de “Jornalismo de Precisão” que se fundava no uso do computador para produzir repor-
tagens com menores chances de erro (MANCINI, 2016): 
O estudo de Meyer acabou por incentivar o surgimento, nos anos 
1990, do termo Reportagem com Auxílio de Computador (RAC), ain-
da hoje utilizado em fóruns especializados, como o Investigative Re-
porters e Editors (IRE) e a Abraji. Esses novos procedimentos ajuda-
ram os jornalistas a aprimorar o seu próprio conhecimento acerca da 
realidade social e política, reduzindo a dependência de fontes externas 
ao processo de produção e de análise da informação. (MANCINI, 
2016.p. 72) 
Paralelo ao avanço das tecnologias de informação e a informatização das redações fo-
ram surgindo mobilizações políticas afins de facilitar a divulgação de informações de 
interesse público, que fizeram com que governos e instituições disponibilizassem bases 
de dados na internet. A disseminação desses dados então começou a ocorrer de forma 
mais global a partir dos anos 90 com a adoção de movimentos de dados abertos, e da 
pressão social por transparência governamental, resultando na “Freedom of InformationAct” (FOI), legislação norte-americana, que entrou em vigor em Julho de 1966. No 
Brasil esse processo chegou mais tarde, com a Lei de Acesso à Informação (LAI) pro-
mulgada em novembro de 2011. Com a disponibilidade de dados nas redes, surgiu a 
necessidade de tratamento dessas informações de modo que pudessem ser aplicadas na 
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fiscalização do poder público, empresas ou outras instituições. Concomitante à essa 
demanda foi surgindo softwares e ferramentas de visualização e extração de dados que 
foram incorporados nas atividades jornalísticas possibilitando seu tratamento. 
Para Lima Júnior (2011) o conceito de JD passa pelo uso das Tecnologias de Informa-
ção e Comunicação (TIC), bem como pela popularização das RAC (Reportagem com 
Auxílio de Computador) dentro das redações. Segundo o autor, esse 'Jornalismo Com-
putacional' se valoriza dentro do contexto tecnológico pois exige dos jornalistas novas 
habilidades, classificada por ele como “hacking jornalism”, ou seja, a capacidade explo-
rar tecnologias filtrando informações e colocando-as de forma visual". No Brasil, já há 
algumas instituições e jornalistas empenhados em capacitar profissionais para as habili-
dades que o JD exige. Um deles é o jornalista Sergio Spagnuolo, criador e responsável 
pela agência de notícias baseada em dados Volt Data Lab. Para Spagnuolo, o dado em si 
não possui valor de notícia, isso acontece a partir da aplicação deles numa narrativa 
jornalística: 
Dados são pedaços de informação (bits) que sozinhos não significam 
nada, mas agregados (datasets), delimitados (metadata) e contextuali-
zados (value added), constituem um conjunto inteiro de informações. 
O dado sozinho, não diz nada, ou muito pouco. Há todo um processo 
para aplicação deles numa reportagem. 
Já o jornalismo de dados, mais do que utilizar informações numéricas, 
é quando: a) o jornalista extrai conhecimento de bits (informações 
brutas) que, sozinhos pouco tem a mostrar; b) o jornalista consegue 
processar um volume de dados que, antes, simplesmente não era pos-
sível; c) quando a fonte principal de uma reportagem é um conjunto de 
dados brutos. (SPAGNUOLO, 2017) 
 
Assim como Spagnuolo, o pesquisador brasileiro Marcelo Trasel (2013) define essa 
modalidade jornalística por um viés menos tecnicista, considerando o conhecimento 
gerado pela tecnologia aplicada, com termo Jornalismo Guiado por Dados, focando nos 
resultados: 
 “O jornalismo guiado por dados é a aplicação da computação e dos 
saberes das ciências sociais na interpretação de dados, com o objetivo 
de ampliar a função da imprensa como defensora do interesse público” 
(TRÄSEL, 2013, p.3). 
 
Discurso do JD como método específico 
Em “O jornalismo é uma forma de conhecimento” pesquisador o Eduardo Meditsch 
(1997) é guiado por três abordagens teóricas para conduzir a reflexão sobre o jornalismo 
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como conhecimento. A primeira, o pensamento pautado pelo método científico, classifi-
ca o jornalismo de maneira negativa, já que na era moderna, a visão da ciência é vista 
como única fonte de conhecimento digna de crédito. A segunda abordagem observada 
por ele situa o jornalismo como ciência menor, porém mais flexível e esse tensionamen-
to do que é mais e menos eficiente nessas áreas de produção de conhecimento, costuma 
ser corroborada também pelos próprios jornalistas. A terceira abordagem toca na ques-
tão da diferenciação do jornalismo quanto à sua maneira de transmitir conhecimento. O 
pressuposto nesse âmbito é que o jornalismo não revela mal nem revela menos sobre a 
realidade que a ciência, ele revela de forma diferente (MEDITSCH, 1997). 
O JD por sua vez, apresenta-se como uma modalidade de jornalismo que possui méto-
dos específicos e mais relacionado à ciência estatística. O pesquisador Stray (2014), 
usando como exemplo um gráfico da série temporal de desemprego nos Estados Unidos, 
classifica os procedimentos de apuração e apresentação das informações no JD que, 
segundo ele, configuram a diferença entre uma apuração típica do jornalismo tradicional 
daquela classificada como JD. 
Essa técnica envolve o uso de ferramentas das ciências como forma de 
verificação de hipóteses ou apresentação de previsões, bem diferente 
do modelo de inferência praticado pelo jornalismo tradicional, que 
parte de um conhecimento não estatístico, mas intuitivo. (STRAY, 
2014.p.54) 
 
É importante nos atentarmos a esse tipo de discurso do jornalismo de dados como mé-
todo específico de trabalho que se diferencia do método conhecido até então ao se apro-
ximar mais da ciência, possuindo mais precisão nas análises e apresentações, e observar 
se esse discurso não funciona como estratégia de legitimação do campo jornalístico2. 
Um exemplo disso são os resultados obtidos nas pesquisas de Marcelo Trasel, que indi-
cam o JD como resposta de um grupo profissionais à crise estrutural e identitária do 
jornalismo contemporâneo. Trasel conclui em seus estudos que a cultura profissional 
jornalística dos profissionais que lidam com dados se assemelha a cibercultura, e que o 
ponto em comum que mais opera entre ambas é o ethos romântico. 
Trasel conclui que este ethos apresenta uma combinação de elementos da cibercultura, e 
da cultura profissional jornalística, que se manifestam como uma crença na capacidade 
 
2 Aqui tomamos a noção de campo de Bourdieu, como um lugar de disputas, estratégias de legitimação e 
práticas específicas. 
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da técnica de oferecer caminhos para a manutenção do jornalismo informativo num ce-
nário de crise, mediante a superação da noção de objetividade como ritual estratégico. 
Nas entrevistas realizadas pelo autor, os jornalistas indicaram que a objetividade no JD 
passou a ser entendida como aplicação de técnicas da informática e das ciências sociais 
nas rotinas produtivas. 
(..) no intuito de substituir o jornalismo declaratório, baseado em fon-
tes humanas, por reportagens cujos fatos são derivados de bases de 
dados. Essa noção renovada de objetividade também se assenta sobre 
procedimentos de transparência e difusão do conhecimento sobre as 
técnicas de JD nas redações e para o público em geral, a partir de um 
espírito de cooperativismo cujas raízes remetem ao movimento do 
Software Livre e Open Source (F/OSS). (TRASEL, 2014, p.12) 
 
 
Considerações 
Expressivas transformações sociais, produtivas e organizacionais a nível global e avan-
ços tecnológicos que possibilitam outras formas de produção e circulação de informação 
colocam em cena novas práticas e atores no cenário informacional. Assim como outros 
campos, o jornalismo é fortemente impactado em diferentes níveis: vemos o modelo de 
negócio das empresas jornalísticas se reorganizandoe com isso: tentando entender e se 
adaptar a massificação das mídias digitais, diminuição de estruturas, redações fragili-
zando potencialidades dos seus profissionais, refuncionalização do jornalista e o surgi-
mento de modalidades de jornalismo que vão além do que conhecíamos até então nas 
redações tradicionais. Paralelo a isso, movimentos de transparência e divulgação de 
informações ganham força fazendo com que instituições públicas e privadas disponibili-
ze informações em grande escala. 
A ascensão dos veículos de mídia independentes nos meios digitais também exerce pa-
pel importante na disseminação dessa modalidade de jornalismo, pois muitas das inicia-
tivas de JD não estão ligadas a empresas jornalísticas tradicionais. O surgimento do Jor-
nalismo de Dados está, portanto, relacionado a esse panorama contemporâneo pois pres-
supõe a utilização de dados públicos disponibilizados na rede e ferramentas informacio-
nais e tecnológicas para interpretação, tratamento e divulgação desses dados. Destaca-
mos, porém, que mesmo dentro deste contexto essa noção de jornalismo não pode en-
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tendida como fenômeno novo na história do jornalismo, pois a prática carrega em si 
especificidades semelhantes à de práticas anteriores. 
E como se caracteriza o JD? A utilização de dados em si é dispensável para caracterizar 
o que é o JD, na medida em que a utilização de dados não são uma novidade no proces-
so produtivo da notícia. Entendemos a partir dos conceitos expostos neste estudo que o 
JD se constitui pela associação de procedimentos jornalísticos, disponibilidade e utiliza-
ção de dados públicos e uso de novas tecnologias que permitem hoje que o jornalista 
possa automatizar os processos, e trabalhar com montantes complexos de milhares de 
documentos. 
Nos estudos de Trasel, o autor indica que o JD se manifesta na cultura profissional co-
mo um caminho para manutenção do jornalismo informativo a partir da utilização de 
uma técnica que se aproxima das ciências exatas, mas ao retomarmos os estudos de Ad-
ghirni vemos que as mudanças estruturais do jornalismo deslocam as características de 
suas práticas. Portanto, ao emergir num contexto de convergência, multifuncionalidade, 
e novas formas de organização de trabalho, o Jornalismo de Dados se apresenta mais 
como uma prática consequência deste cenário, do que como uma modalidade inovadora 
(considerando que a utilização de dados em si não é algo inédito no jornalismo) e que a 
ideia do JD como método específico que se assemelha às ciências exatas pode ser con-
siderados estratégias de legitimação do discurso daqueles que o praticam. 
 
 
Referências Bbliográficas: 
 
ANDERSON, C.W. PostIndustrial Journalism: Adapting to the Present. Columbia 
Journalism School, 2013. Disponível em: http://towcenter.org/wp-
content/uploads/2012/11/TOWCenter-Post_Industrial_Journalism.pdf. Acesso em: 
11/01/2018. 
BARBOSA, S. Jornalismo Digital em Base de Dados (JDBD): um paradigma para 
produtos jornalísticos digitais dinâmicos. Salvador, BA. Tese de Doutorado. Universi-
dade Federal da Bahia, 2007. 
http://towcenter.org/wp-content/uploads/2012/11/TOWCenter-Post_Industrial_Journalism.pdf
http://towcenter.org/wp-content/uploads/2012/11/TOWCenter-Post_Industrial_Journalism.pdf
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BRADSHAW, P. 2014. O que é Jornalismo de Dados. Manual de Jornalismo de Da-
dos. Disponível em: http://datajournalismhandbook.org/pt/introducao_0.html. Acesso 
em: 10/01/2018 
Bruns, Axel. "Gatekeeping, gatewatching, realimentação em tempo real: novos de-
safios para o jornalismo." Brazilian Journalism Research 10.2 (2014): 224-247. 
DEUZE, Mark. O jornalismo e os novos meios de comunicação social. In: Comunica-
ção e Sociedade, vol. 9-10, 2006, pp. 15-37. 
GRANDIN, F. R. Jornalismo guiado por dados como forma contemporânea de 
produção de sentido. 2016 
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mailto:sergio.volt@data.info
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