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DESCRIÇÃO Apresentação do jornalismo especializado, com a identificação de suas características, semelhanças e diferenças em relação ao jornalismo geral, e abordagem da segmentação do processo de redação jornalística em editorias. PROPÓSITO Compreender o jornalismo especializado e as editorias dentro de uma redação — problematizando semelhanças e diferenças em relação ao jornalismo em geral e apresentando os conceitos de fragmentação e segmentação do mercado jornalístico — é fundamental para qualquer pessoa que queira atuar no jornalismo ou em outras áreas da comunicação que venham a lidar com esses profissionais. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar a funcionalidade da divisão de uma redação em editorias MÓDULO 2 Definir jornalismo especializado e os passos fundamentais na formação de um jornalista especializado MÓDULO 3 Descrever o processo de segmentação dos veículos jornalísticos INTRODUÇÃO Abordaremos o conceito de jornalismo especializado a partir da divisão das redações em editorias. Vamos compreendê-lo como um trabalho que mobiliza métodos e processos e, dentro desses métodos, conheceremos rotinas que podem ser utilizadas na produção de conteúdos jornalísticos. Discutiremos exemplos a serem seguidos e identificaremos erros a serem evitados, bem como formas de checagem dos dados obtidos. Antes de apresentar conceitos específicos, porém, é imprescindível definir um ponto de partida: o jornalismo especializado, em qualquer setor, é, antes de tudo, jornalismo. Nele, vigoram os mesmos princípios que norteiam o jornalismo de modo em geral. O jornalismo especializado, como o jornalismo de modo geral, pauta-se na realidade, narra fatos reais, tem responsabilidade social e exige independência em relação às fontes. Do mesmo modo, deve ser exercido com espírito crítico, pautado no compromisso com a sociedade. Um jornalista especializado em economia, política, esportes ou cultura precisa seguir as regras da atividade profissional, e os conteúdos produzidos por ele precisam espelhar tais regras, sob pena de perderem a essência. As técnicas na execução de um conteúdo especializado são as técnicas jornalísticas de apuração, redação e edição. Como diferencial, o jornalista especializado tem a oportunidade e a obrigação de trabalhar com a perspectiva de um aprofundamento sistemático de conhecimentos na área em que atua. Mas deve ter como premissa a necessidade de trabalhar um tema sob múltiplos aspectos, a fim de oferecer ao leitor/telespectador/ouvinte uma perspectiva ampla do tema abordado; se houver pessoas acusadas de condutas questionáveis, é preciso ouvi-las e dar a elas o direito de apresentar sua versão dos fatos narrados, oferecendo-lhes a chance do contraditório. A especialização no trabalho jornalístico não exime o jornalista dos rigores da profissão; ao contrário, por conviver com os mesmos temas e fontes com regularidade, o profissional tem o dever de exercitar diante deles o espírito crítico e questionador exigido na profissão, a fim de não se tornar mero divulgador especializado. MÓDULO 1 Identificar a funcionalidade da divisão de uma redação em editorias SOBRE O CAMPO JORNALÍSTICO Redações são tradicionalmente divididas em editorias — palavra que, no jargão profissional, corresponde aproximadamente a áreas ou temas nos quais os conteúdos jornalísticos podem ser classificados, como: Imagem: Shutterstock.com POLÍTICA Imagem: Shutterstock.com ECONOMIA Imagem: Shutterstock.com CIDADES Imagem: Shutterstock.com INTERNACIONAL Imagem: Shutterstock.com ESPORTES Imagem: Shutterstock.com CIÊNCIA Imagem: Shutterstock.com CULTURA Imagem: Shutterstock.com EDUCAÇÃO Imagem: Shutterstock.com SAÚDE Cada veículo, a partir desses temas amplos, define suas próprias divisões e subdivisões, de acordo com suas características e prioridades. Para além das editorias jornalísticas tradicionais, a transformação da sociedade e o interesse por novos assuntos fazem surgir novas editorias, como meio ambiente, tecnologia, mídias digitais e podcasts. Na definição do que chamou de campo jornalístico, Bourdieu (1997) afirma que ele se organiza, da mesma forma que todo campo, como um espaço de luta, a partir: 1) Da disputa por um enjeu, um prêmio, por agentes sociais diversos. 2) Da existência de um grupo especializado que domine as regras de produção daquele meio. ASSIM, NO CAMPO JORNALÍSTICO, PODEMOS DIZER QUE O CAPITAL EM DISPUTA É A OFERTA SIMBÓLICA DE SENTIDO SOBRE OS FATOS DA REALIDADE. Verón (1980) entende o jornalismo como um lugar de produção de sentidos a partir de fatos da realidade. Autores como Tuchman (1999) e Traquina (2004, 2005) refletem sobre de que forma o jornalismo estabelece rotinas e procedimentos. Tuchman destaca que o jornalista trabalha sob a tirania do fator tempo e que, nessa corrida, seguir procedimentos ajuda a impor ordem no espaço e no tempo. Entre esses procedimentos, a autora destaca a divisão do noticiário em editorias; o hábito de ter setoristas, ou seja, repórteres especializados para cobrir determinados assuntos; e o uso de correspondentes em lugares diferentes do país e do mundo. Para impor ordem, o campo jornalístico: CLASSIFICA ORGANIZA DIVIDE SEPARA TIPIFICA Começa tipificando o acontecimento, e definindo o que é notícia, de acordo com parâmetros chamados de “critérios de noticiabilidade”: O que determina que algo deve ser noticiado? Vários autores elencam o que consideram seus valores-notícia, e o objetivo aqui não é tratar deles. O que importa aqui é entender que, a partir da classificação daquele fato com base em determinados critérios, ele é tipificado como “pertencente” a uma seção ou outra. Traquina (2005) lembra que as editorias de polícia foram criadas nos jornais impressos no século XIX, mas desde o século XVII havia, nas “volantes” inglesas, folhetos pré-jornalísticos dedicados a um único tema: o interesse por crimes. Vale conhecer o relato de Traquina: ENTRAMOS NUMA MÁQUINA DO TEMPO PARA O ANO DE 1616, O ANO EM QUE MORRE O DRAMATURGO INGLÊS WILLIAM SHAKESPEARE. NESTA DATA EM QUE AINDA NÃO HÁ JORNAIS DIÁRIOS, NOVIDADE QUE SURGE NAS ÚLTIMAS DÉCADAS DAQUELE SÉCULO, REINA UMA FORMA PRÉ-MODERNA DO JORNAL: AS CHAMADAS “FOLHAS VOLANTES”. AS FOLHAS VOLANTES SÃO DIFERENTES DOS JORNAIS EM PRIMEIRO LUGAR PORQUE SÃO DEDICADAS HABITUALMENTE A UM ÚNICO TEMA, E NÃO A UMA VARIEDADE DE ASSUNTOS COMO OS JORNAIS, E, EM SEGUNDO LUGAR, NÃO SÃO PUBLICAÇÕES REGULARES. (...) FOI PUBLICADO UM TOTAL DE 25 FOLHAS VOLANTES EM 1616. UM TERÇO DELAS FOI DEDICADO A UM TIPO DE ACONTECIMENTO: ASSASSINATOS. (TRAQUINA, 2005, p. 64) Em diálogo com Bourdieu, Verón e Traquina, é possível refletir sobre as práticas e rotinas jornalísticas como resultantes da luta por sentido dentro do campo jornalístico. Em pesquisa sobre a cobertura da violência no Rio de Janeiro, analisei como o jornalismo se propõe como um discurso que organiza e classifica o real a fim de melhor apresentá-lo a um determinado público. Dividir e classificar são rotinas que o discurso jornalístico exerce a fim de organizar o espaço-tempo da realidade diante de seu público (ESCÓSSIA, 1999). DIVISÃO EM EDITORIAS A divisão em editorias é, portanto, uma forma de ordenar o trabalho jornalístico, da pauta à edição. Cada editoria é uma unidade organizacional encarregada da produção e da edição de conteúdos que podem ser enquadrados em determinada área temática. E cada seção é coordenada pelo editor responsável, com a ajuda de sua equipe, repórteres, chefes de reportagem e editores-assistentes. Foto: Omeireles / Wikimedia Commons / CC 4.0 Redação de um portal de notícias online Os jornalistas que trabalham naquele veículo são também distribuídos de acordo com essas editorias. Essa divisão não obedece, como se poderia pensar, apenas ao desejo do profissional de integrar um ou outro time, de acordo com suas afinidades por um ou outro assunto — para jovens repórteres, as “editorias dos sonhos”costumam ser política, cultura e esportes. Contudo, para felicidade do leitor, há também quem goste de cobrir a área de cidades ou os assuntos econômicos. A distribuição dos profissionais pelas editorias considera, claro, essas afinidades, mas também as necessidades e prioridades de cada veículo. Cada veículo adota, a partir dessa necessária divisão de trabalho e das linhas gerais em que os assuntos jornalísticos costumam ser divididos, nomes e temas diversos. Os veículos também podem criar editorias para cobrir assuntos muito específicos, como carros ou agricultura. Ou podem, dentro da mesma editoria, ter subdivisões. No jornalismo impresso, essa divisão por editorias se repete nas páginas, que são organizadas e divididas de acordo com as seções em que a pauta do jornal foi seccionada. A editoria pode se organizar como páginas dentro do primeiro caderno do jornal ou vir em outros cadernos. Vale lembrar que o termo caderno designa, tipograficamente, o conjunto de páginas encartadas juntas. No passado, os jornais tinham um caderno único, aglutinando temas diversos do noticiário, separados ou não por seções. O noticiário de esportes, por exemplo, ocupava “uma pagininha só” no Jornal do Brasil, relatou o jornalista Janio de Freitas em entrevista a Carla Siqueira e Caio Barretto Briso para o projeto do Centro de Cultura e Memória do Jornalismo (FREITAS, 2008). Foto: Shutterstock.com COMENTÁRIO Como parênteses histórico, foi na seção de esportes que Janio de Freitas introduziu modificações gráficas como a retirada dos fios das páginas e o aumento das fotos, mudanças que marcariam a profunda transformação realizada por ele no JB em 1959. FIOS Fios são linhas impressas, vertical ou horizontalmente. Os fios na diagramação antiga separavam diferentes reportagens e, às vezes, simplesmente separavam as colunas do jornal, mesmo dentro de uma mesma reportagem. Na histórica reforma gráfica do Jornal do Brasil, uma das medidas tomadas foi a retirada dos fios excessivos, que mais atrapalhavam a comunicação visual do que a ajudavam. Conforme dissemos, “cadernizar” é uma estratégia para classificar e organizar o noticiário tanto na produção como na publicação. É também uma estratégia de mercado, pois oferece a um público específico conteúdos de seu interesse. Permite ainda a busca por anúncios publicitários setorizados, voltados para um público específico. E é, por fim, uma exigência industrial, facilitando a impressão dos cadernos em horários e dias distintos e evitando a sobrecarga dos parques gráficos — problema típico de um tempo de pujança do impresso, tempo que não existe mais. A partir da divisão tradicional dos conteúdos jornalísticos — política, economia, internacional, geral, esportes, cultura —, o veículo tem liberdade para criar formas de organizar seu noticiário, na ordem que considerar mais adequada a seu público e a seus critérios de relevância. Um jornal regional costuma abrir o noticiário com assuntos locais, de maior interesse de seu público. Cada veículo, assim, vai dividindo e organizando os processos de produção e veiculação de seus conteúdos de acordo com o que Verón (1980) chama de contrato de leitura — o conjunto de práticas e procedimentos sobre os quais se organiza a relação do veículo com seu público. O contrato de leitura, um acordo tácito, não escrito, inclui os títulos, os temas e a disposição do noticiário. É um conjunto de características a partir do qual o veículo se constrói como um “sujeito” que produz sentido e sobre o qual se organiza a relação entre um veículo e seu público. A divisão do noticiário integra esse contrato. O público espera encontrar determinado conteúdo em uma seção específica, e estranhará se vir em esportes uma notícia relacionada ao setor de cultura. javascript:void(0) Imagem: Shutterstock.com O jornal carioca O Globo, por exemplo, divide-se em: Opinião, País, Rio, Economia, Mundo, Sociedade, Esportes e Segundo Caderno. Veja as peculiaridades de algumas dessas editorias e cadernos: Imagem: Shutterstock.com / adaptada por Pedro Tamburro OPINIÃO PAÍS RIO SOCIEDADE SEGUNDO CADERNO OPINIÃO É ela que abre o jornal apresentando os editoriais (que trazem a opinião do veículo) e os textos opinativos assinados por colunistas. PAÍS Concentra a cobertura de política e de assuntos variados (segurança pública, noticiário geral) ocorridos fora do Rio de Janeiro. Nessa editoria, é possível ler sobre as decisões do Planalto e as votações no Congresso, mas também sobre um acidente de avião em São Paulo ou uma rebelião de presos em Rondônia. RIO A editoria Rio apresenta os assuntos referentes ao Rio de Janeiro, desde questões de segurança pública até assuntos da administração municipal. Num veículo como O Globo, marcado pela forte relação com a cidade que lhe serve de sede, o critério geográfico (onde os fatos ocorreram) é decisivo para que a notícia seja distribuída para uma ou outra editoria. O que acontece no Rio costuma sair na Rio. A seguir, vêm as editorias de Economia, Mundo, Sociedade e Esportes. SOCIEDADE Editoria criada em 2014, passando a concentrar temas até então dispersos em outras editorias e divididos, pelo critério geográfico, principalmente entre País e Rio. A nova editoria, assim, passou a cobrir assuntos relacionados a comportamento, saúde, educação, ciência e tecnologia. A depender do tema principal daquele dia, pode inclusive mudar de lugar dentro do jornal, vindo na sequência de País ou de Mundo. SEGUNDO CADERNO Editoria de Cultura. VOCÊ SABIA A depender do volume do noticiário, uma editoria pode ganhar um caderno próprio, como acontece, por exemplo, com Esportes em dias de decisão de campeonato ou época de grandes competições esportivas, como Copas do Mundo e Olimpíadas. A FOLHA DE S.PAULO ADOTA OUTRA DIVISÃO. O jornal tem início com artigos e editoriais. Na página 4, começa a editoria Poder, que concentra os assuntos de política nacional. A seguir, Mundo é a editoria do noticiário internacional. A editoria de Dinheiro é a seguinte, com temas de economia e negócios. Cotidiano, após os assuntos de economia, é a editoria que concentra temas da cidade de São Paulo e a cobertura nacional em assuntos como saúde, educação e segurança pública. Depois vem a editoria de Esporte, com o noticiário esportivo. Por fim, o noticiário de cultura, artes e entretenimento está na Ilustrada, com um caderno próprio. Nos anos 1990, a Folha foi um jornal marcado pela multiplicação de cadernos, editados em dias diferentes e voltados para temas e públicos específicos, como a Folhinha (para crianças), a Folhateen (público jovem) e a Agrofolha (temas do agronegócio). No entanto, devido à crise da plataforma impressa, muitos foram extintos ou anexados a outras editorias. UM PERCURSO PARA A LEITURA Editorias podem ser criadas e desfeitas de modo temporário, de acordo com os acontecimentos, deslocando profissionais entre elas. Na cobertura da pandemia da Covid-19, por exemplo, muitas redações criaram uma editoria específica para publicar o noticiário referente ao tema. Na Copa de 2014, realizada no Brasil, O Globo dividiu o noticiário em duas editorias: enquanto os conteúdos referentes ao futebol eram publicados em Esportes, todo o restante da cobertura, dos protestos às questões de trânsito, dos negócios aos feriados escolares, foi agrupado na editoria A Copa no Brasil. E profissionais de outras editorias foram deslocados para o projeto. É possível também que os veículos mantenham núcleos especiais de reportagens, com profissionais que não são alocados numa editoria em particular e produzem conteúdos para seções variadas. Foto: Shutterstock.com Em 16 de agosto de 2017, o jornal carioca Extra causou polêmica ao anunciar a criação da editoria Guerra do Rio, destinada a abordar conteúdos relacionados à violência extrema na capital fluminense. Os crimes comuns continuariam sendo publicados nas páginas policiais. A nova editoriadestinava-se, explicou o jornal: A TUDO AQUILO QUE FOGE AO PADRÃO DA NORMALIDADE CIVILIZATÓRIA, E QUE SÓ VEMOS NO RIO. [...] UM FETO BALEADO NA BARRIGA DA MÃE NÃO É SÓ UM CASO DE POLÍCIA. É SINTOMA DE QUE ALGO MUITO GRAVE OCORRE NA SOCIEDADE. A UTILIZAÇÃO DE FUZIS NUM ASSALTO A UMA FARMÁCIA NÃO PODE SER REGISTRADA COMO UMA OCORRÊNCIA BANAL. A MORTE DE UMA CRIANÇA DENTRO DA ESCOLA OU A EXECUÇÃO DE UM POLICIAL SÃO NOTÍCIAS QUE NÃO CABEM MAIS NAS PÁGINAS QUE TRATAM DE CRIMES DO DIA A DIA. (JORNAL EXTRA, 2017) ATENÇÃO A criação da editoria Guerra do Rio foi uma forma que o jornal encontrou para, mais do que apenas separar e classificar conteúdos, expressar sua posição a respeito daqueles conteúdos. Foi uma decisão muito polêmica. Para alguns, foi uma forma de expressar perplexidade diante de situações de violência extrema; para outros, ao classificar tais conteúdos como “de guerra”, o veículo legitimou ações policiais de extrema violência nas comunidades, já que numa guerra abre-se espaço para práticas e procedimentos excepcionais — e que podem incluir violação de direitos da população não diretamente associada aos conflitos. De todo modo, vale relembrar, esse caso exemplifica que a criação de editorias não é apenas pura classificação — é também uma forma de produzir sentido. Os exemplos deste módulo foram propositalmente concentrados nos jornais impressos, pela tradição de uso de editorias e pela facilidade de visualização da divisão em seções fixas. No entanto, para facilitar o entendimento, é válido destacar alguns pontos. Como já dito, a divisão por editorias costuma se espelhar nas páginas dos veículos impressos — mas não é obrigatória. Foto: Shutterstock.com É possível que uma editoria produza seu noticiário diariamente, publique na versão digital do veículo ou em outra seção do veículo, e que produza apenas uma página ou suplemento semanal. É possível que uma pequena editoria publique seus conteúdos dentro do espaço de outra editoria, com um marcador específico. É possível que um caderno — como o H, do jornal O Estado de S. Paulo, concentre conteúdos sobre vários temas. Imagem: Shutterstock.com Imagem: Shutterstock.com No rádio e na televisão, as divisões por editoria costumam ser mais fluidas. A especialização existe, mas é mais comum a figura do repórter generalista, que cobre assuntos variados. A experiência dos jornalistas, suas fontes e suas afinidades com determinados assuntos acabam fazendo com que alguns profissionais trabalhem com frequência nos mesmos temas. Na redação de uma emissora carioca de televisão, por exemplo, os jornalistas são divididos em grandes áreas, como Rio, Política, Economia e Internacional. A editoria de assuntos esportivos, no rádio e na televisão, tem equipes e conteúdos próprios, e funciona como uma equipe especializada. Em qualquer redação, é comum que, em emergências ou grandes coberturas, jornalistas sejam deslocados de uma editoria para outra, de acordo com as necessidades. Foto: Shutterstock.com Foto: Shutterstock.com Nos sites dos veículos tradicionais, a divisão em editorias se repete, mas vale observar que os nomes das seções podem ou não ser os mesmos das versões impressas. O encolhimento das edições impressas, com o enxugamento do corpo de profissionais dessa plataforma, foi acompanhado da multiplicação de conteúdos digitais que exigem novas formas de organização. EXEMPLO O Globo usa em seu site o nome Brasil para assuntos que, no jornal impresso, saem na editoria País, e agrupa sob a aba Cultura os assuntos publicados no Segundo Caderno. Já assuntos que, no jornal impresso, estão na editoria de Sociedade aparecem, no site, subdivididos nas abas Sociedade, Ciência, Educação, Tecnologia e Saúde. Um portal como o Uol, exclusivamente digital, criou editorias que não necessariamente repetem a divisão temática tradicional no jornalismo, aglutinando assuntos a partir de eixos específicos. No jornalismo digital, a divisão em editorias permanece e ao mesmo tempo se transforma — com o intuito de agilizar e organizar o processo de trabalho, da apuração à edição. Muitos assuntos poderiam, tranquilamente, ser publicados em mais de uma editoria — o jornalismo, como a vida, é multidisciplinar. Por fim, mas não menos importante, a divisão por editorias deve atender ao principal interessado no resultado do trabalho jornalístico — o leitor, que atualmente se multiplica em ouvinte, telespectador e audiência. Onde o leitor deve buscar conteúdos sobre determinado assunto? A divisão por editorias deve ajudá-lo nesse percurso, jamais dificultar. Funciona como um caminho que indica onde ler determinados assuntos. Quer saber mais sobre a cadernização e o contrato de leitura? Assista ao vídeo da jornalista e professora Fernanda da Escóssia! VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ASSINALE A OPÇÃO CORRETA SOBRE O CONCEITO DE EDITORIA: A) São os princípios editoriais do veículo. B) É o roteiro que deve ser seguido na apuração de uma reportagem, também conhecido como pauta editorial. C) É a listagem do que foi publicado no veículo em determinado período, geralmente em cadernos setorizados. D) É uma unidade de organização dentro da redação, responsável pela produção e publicação de conteúdos associados a determinada temática. E) É a imposição do fator espaço na produção de materiais jornalísticos, gerando necessidade de edição em veículos impressos, sonoros ou audiovisuais. 2. ASSINALE A OPÇÃO QUE LISTA UM MOTIVO CORRETO PARA A DIVISÃO DE UMA REDAÇÃO EM EDITORIAS: A) Garantir salários iguais para os repórteres. B) Organizar o processo de produção e publicação de conteúdos. C) Expressar a opinião ou a linha editorial do veículo. D) Fazer com que todos os veículos organizem as notícias do mesmo modo. E) Permitir um rodízio entre jornalistas para que todos atuem em todos os temas. GABARITO 1. Assinale a opção correta sobre o conceito de editoria: A alternativa "D " está correta. A editoria é uma divisão tradicional nas redações jornalísticas, como forma dividir por área os assuntos a serem cobertos. Cada editoria tem sua equipe e produz conteúdos sobre determinados assuntos. 2. Assinale a opção que lista um motivo correto para a divisão de uma redação em editorias: A alternativa "B " está correta. Dividir a equipe organiza melhor a pauta, permitindo que cada repórter seja designado para cobrir determinados assuntos com mais frequência. Os conteúdos produzidos por aquela editoria são publicados, nas edições impressas, em páginas específicas. MÓDULO 2 Definir jornalismo especializado e os passos fundamentais na formação de um jornalista especializado JORNALISMO ESPECIALIZADO A divisão em editorias é uma das maneiras que o jornalismo encontra para cumprir sua tarefa de organizar o tempo e o espaço, apresentando conteúdos de forma clara e compreensível. Outra é ter jornalistas capazes de, mais rapidamente que outros, atuar na tradução de informações e saberes próprios de determinado campo, seja a política, a medicina ou a tecnologia — e daí surge a ideia de um jornalista especializado. Veja a avaliação de dois importantes teóricos sobre a história da especialização no jornalismo: JUAREZ BAHIA (2009) Para Bahia, o jornalismo especializado é quase tão antigo quanto a própria imprensa, especialmente devido ao jornalismo político. Os pioneiros do jornalismo escreviam sobre assuntos que dominavam — muitos eram escritores do ramo da ficção ou profissionais de outras áreas, como políticos e cientistas. NILSON LAGE (2001) javascript:void(0) javascript:void(0) Lage ensina que, por muitas décadas, os jornais publicavam fatos de interesse comercial e político, mas eram atrações secundárias diante da visão política expressada pelo editor do periódico. Muitos jornalistas foram essencialmente publicistas, voltados para a orientação e interpretação política. Nesse sentido, lembra Lage, figuras das revoluções dos séculos XVII e XVIII foram publicistasque usavam os jornais para difundir ideias políticas. Juarez Bahia associa a especialização jornalística também ao processo de produção de conhecimento na sociedade industrial, com a busca por informações cada vez mais detalhadas. E, se a notícia, de modo geral, considera ângulos de interesse por meio de uma fórmula de alcance comum: A ESPECIALIZAÇÃO ACRESCENTA A ESSA CONCEPÇÃO O CARÁTER SELETIVO, QUE RESTRINGE O ÂMBITO, MAS AMPLIA A CONCEPÇÃO À MEDIDA QUE SE ESGOTA NELE. O JORNALISMO ESPECIALIZADO É UMA NECESSIDADE SOCIAL PORQUE RESULTA DO PRÓPRIO DESENVOLVIMENTO DAS RELAÇÕES EM SOCIEDADE. É UMA TÉCNICA DE TRATAMENTO DA NOTÍCIA QUE SE APERFEIÇOA PARALELAMENTE À EVOLUÇÃO DOS MEIOS DE PRODUÇÃO, DAS TECNOLOGIAS INDUSTRIAIS E COMERCIAIS, DAS AQUISIÇÕES CULTURAIS, DAS PESQUISAS E EXPERIÊNCIAS CIENTÍFICAS. (BAHIA, 2009, p. 235) Ora, se o jornalista especializado deve dominar saberes próprios de áreas particulares, questiona Lage, por que não transformar especialistas (médicos, advogados etc.) em jornalistas? Qual a diferença entre ter um jornalista especializado em ciência e um médico cobrindo, por exemplo, a pandemia da Covid-19? Dentro do campo jornalístico, já existe um saber próprio dominado pelos profissionais do ramo — que inclui técnicas de apuração, redação, edição, procedimentos e rotinas. O jornalista especializado precisa dominar inicialmente esses saberes e aprofundar-se em conteúdos e temas próprios de sua área. A colaboração dos especialistas é bem-vinda, como analistas, articulistas e experts. Mas o trabalho do jornalista especializado, antes de ser especializado, é jornalístico. Pressupõe domínio de códigos éticos e técnicos próprios da profissão jornalística. O trabalho do jornalista especializado tem, mais que semelhanças com o jornalismo em geral, exigências intrínsecas ao fazer jornalístico — em política, economia, esportes ou cultura. O jornalista, em qualquer área, tem obrigação de pautar seu trabalho pelos fatos da realidade. Exige-se também o emprego das técnicas de apuração jornalística, com o uso das ferramentas comuns à reportagem, quais sejam: Pesquisa extensiva sobre o tema abordado. Observação atenta dos fatos, permitindo ao repórter fazer uma narração fiel dos acontecimentos. Recurso às entrevistas, como forma de tornar sua reportagem polifônica, ou seja, apresentando pontos de vista distintos sobre os fatos narrados. Uso de documentos e dados oficiais, se houver, inclusive com recurso à Lei de Acesso à Informação. Busca de indicadores estatísticos. Vamos aprofundar aqui a discussão sobre os especialistas e o jornalista especializado. O jornalista especializado não está isento de, em seu trabalho cotidiano, cumprir os procedimentos para o chamado “outro lado” — jargão jornalístico que designa a rotina de procurar a parte potencialmente afetada pela reportagem e ouvir seus esclarecimentos. Se a reportagem vai acusar uma ou mais pessoas, é preciso que elas sejam procuradas, avisadas da publicação e ouvidas, com chance para que apresentem sua versão dos acontecimentos. SAIBA MAIS O outro lado não pode ser entendido nem executado de forma protocolar: pelo contrário, constitui parte da apuração. Mais ainda, pode ajudar o repórter a notar incongruências ou falhas em sua apuração, levando-o inclusive a “derrubar” a matéria, caso necessário. No jornalismo — e no especializado não será diferente — é fundamental garantir que o outro lado mereça espaço digno dentro da reportagem, permitindo que o leitor conheça a versão da pessoa em questão. Caso a pessoa afetada pela reportagem tenha optado por não se pronunciar, o repórter deve indicar isso com clareza, informando durante qual período e em que termos a pessoa foi procurada. ÉTICA O JORNALISTA ESPECIALIZADO EM CIÊNCIA, POLÍTICA E ECONOMIA TEM UMA ÉTICA PRÓPRIA? É comum que muitos se façam esta pergunta. A resposta segue o mesmo raciocínio: se o jornalismo especializado é, antes de mais nada, jornalismo, deve seguir os mesmos padrões éticos da profissão. E O QUE DIZ A ÉTICA JORNALÍSTICA? EXISTE UMA ÉTICA JORNALÍSTICA PRÓPRIA? A resposta clássica é a de Cláudio Abramo, em A Regra do Jogo. Segundo o autor, muito lhe perguntavam sobre a ética do jornalista. Ao que ele respondia que, além de jornalista, era também marceneiro. E que não via diferença entre a ética de um e de outro. SOU JORNALISTA, MAS GOSTO MESMO É DE MARCENARIA. GOSTO DE FAZER MÓVEIS, CADEIRAS, E MINHA ÉTICA COMO MARCENEIRO É IGUAL À MINHA ÉTICA COMO JORNALISTA — NÃO TENHO DUAS. NÃO EXISTE UMA ÉTICA ESPECÍFICA DO JORNALISTA: SUA ÉTICA É A MESMA DO CIDADÃO. SUPONHO QUE NÃO SE VAI ESPERAR QUE, PELO FATO DE SER JORNALISTA, O SUJEITO POSSA BATER CARTEIRAS E NÃO IR PARA A CADEIA. (ABRAMO, 1988, p. 9) O axioma cunhado por Abramo — a ética do jornalista é igual à do marceneiro — ajuda-nos a refletir também sobre os princípios éticos que norteiam o jornalismo especializado: são os mesmos que norteiam o jornalismo. A partir desse axioma, podemos refletir sobre as particularidades no trabalho do jornalista especializado, sabendo que a ele se aplicam os mesmos princípios do jornalismo. Como qualquer jornalista, o especializado precisa de fontes — não só documentais, mas também humanas (e aqui estamos nos referindo às fontes humanas). Se esse jornalista é setorista de determinado assunto, ou seja, acompanha aquele tema diariamente ou com frequência, precisa manter contatos seguidos com suas fontes. Colunistas de política costumam ligar diariamente para certas fontes. Imagem: Shutterstock.com javascript:void(0) FONTES Fonte é, no jargão jornalístico, a origem de uma informação. Pode ser humana, documental ou estatística, por exemplo. MAS QUE DISTÂNCIA É PRECISO TER EM RELAÇÃO À FONTE? Para o jornalista político Franklin Martins (2005), “não tão distante que se perca a informação, nem tão perto que se perca a independência”. Fontes têm interesses, por mais nobres que possam ser. Quem passa uma informação a um jornalista tem algum interesse em vê-la circular, mas muitas vezes não tem noção do impacto que causará. E se assusta diante da repercussão alcançada. O jornalista deve estar atento para isso — se a independência em relação à fonte se perde, ele deixará de publicar a informação, a fim de não prejudicar seu informante? No caso do jornalista especializado, é bem possível que ele volte a falar com aquela fonte nos próximos dias. Assim, publicará uma informação que pode prejudicar uma boa fonte? São questões cotidianas que o jornalismo enfrenta. O QUE FAZ DE UM JORNALISTA UM ESPECIALISTA Já detalhamos até aqui de que forma o jornalismo especializado segue métodos profissionais e os princípios éticos do jornalismo em geral. À parte de tais exigências, o jornalismo especializado tem características particulares, que discutiremos a seguir: ACOMPANHAMENTO DE FONTES É fundamental que o jornalista especializado desenvolva um acompanhamento intenso e sistemático de todas as fontes em sua área de cobertura. Isso inclui livros, publicações especializadas, reportagens de outros veículos, entrevistas, documentos, estatísticas, diários oficiais, periódicos científicos: tudo o que lhe possa trazer informação sobre o assunto em questão. CONVERSAS COM PROFISSIONAIS E ESPECIALISTAS Conversas regulares com profissionais e especialistas da área, em busca de informações inéditas e análises originais, podem ajudar o jornalista especializado a ampliar seus conhecimentos. Tais conversas nem sempre resultarão em conteúdos a serem publicados, mas ajudam o jornalista a construir um background que lhe será útil em outras reportagens. LISTA DE FONTES Aos iniciantes, a recomendação é criar uma lista de fontes e pôr em prática o hábito de entrar em contato com elas com frequência — construindo, assim, uma relação de confiança e independência com as fontes. Uma colunista de política famosa no Rio distribuía a seus jovens auxiliares uma lista de fontes para as quais deveriam ligar todosos dias, houvesse ou não algo a dizer. No dia em que houvesse notícia, a fonte contaria. ENTENDER OS CONCEITOS DA ÁREA É importante que o jornalista que cobre determinada área compreenda bem os principais conceitos do setor. Para quem está começando numa área específica, pode ser útil criar um glossário com termos mais usados e, a título de exercício, tentar escrever uma definição de cada um deles. CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO Cursos de aperfeiçoamento profissional são muito úteis. Instituições como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e o Ministério Público costumam oferecer cursos voltados para jornalistas que cobrem assuntos relacionados aos dois setores. Também costumam publicar manuais rápidos sintetizando conceitos e apresentando dados básicos sobre determinado assunto. O Centro Knight para Jornalismo nas Américas, ligado à Universidade do Texas, também oferece vários cursos de aperfeiçoamento, como o realizado em 2020 para capacitar jornalistas na cobertura da pandemia da Covid-19. Outro centro importante de formação de jornalistas é o Poynter Institute, na Flórida. NOVOS IDIOMAS O domínio de idiomas, importante para jornalistas de modo geral, torna-se obrigatório em áreas como internacional, ciência e tecnologia. Os despachos de agências internacionais mais usadas pelos veículos brasileiros são majoritariamente em inglês e espanhol. Os periódicos científicos utilizam o inglês. A leitura dos textos no original reduz a possibilidade de versões desencontradas, e o inglês também facilita o contato com as fontes. CONHECER O SEU PÚBLICO É fundamental que o jornalista especializado entenda com clareza a que público se destina o conteúdo que está sendo produzido, pois isso vai influenciar a abordagem, o grau de aprofundamento e a apresentação final do conteúdo, em termos de texto e edição. Uma reportagem sobre déficit habitacional num portal de notícias voltado a um público amplo usará termos e construções distintos dos que podem ser empregados, por exemplo, numa revista especializada em arquitetura. Compreender o público é importante para evitar duas armadilhas: 1 Traduzir de modo desnecessário determinado termo técnico a um leitor também especialista, o que corre o risco de tornar a reportagem ingênua ou até risível. 2 Empurrar para um público leigo um jargão de difícil compreensão, fazendo com que ele se afaste do tema. SE NO PRIMEIRO CASO O JORNALISMO TORNA-SE DISPENSÁVEL, NO SEGUNDO TORNA-SE OBSCURO. O jargão, se utilizado diante do público leigo, acaba desinformando. Tais riscos, se não podem ser eliminados, podem ser pelo menos reduzidos caso o jornalista especializado tenha em mente a quem ele está querendo informar. A especialização do jornalista é ferramenta importante para fazer com que o conteúdo produzido seja: INFORMATIVO CRÍTICO PLURAL O jornalista especializado está, em princípio, mais apto a questionar sua fonte e a traduzir as informações para o público leigo. Também é mais capacitado para aprofundar o tema diante de um assunto especializado. O jornalista Marcelo Beraba, ex-ombudsman da Folha de S.Paulo, apontou em entrevista recente ao jornal a falta de jornalistas especializados, não só na Folha, mas nos veículos de modo geral. Na avaliação de Beraba, é preciso recuperar fontes de receita que permitam aos veículos manter jornalistas com o maior grau possível de especialização em sua área. OMBUDSMAN O cargo de ombudsman é uma posição de grande prestígio no jornalismo. A palavra ombudsman tem origem sueca e significa ouvidor, um representante dos cidadãos junto ao poder público. No jornalismo, designa o profissional que atua como representante dos leitores, seja no recebimento e avaliação de críticas e sugestões, seja antecipando-se a elas e avaliando o conteúdo do próprio veículo. O ombudsman trabalha sem interferência da redação e não pode exercer, neste período, qualquer outra função que não a crítica do noticiário e o acompanhamento das demandas dos leitores. EMBORA TENHAMOS MUITOS JORNALISTAS ESPECIALIZADOS EM EDUCAÇÃO, ELES NÃO ESTÃO NECESSARIAMENTE NOS MEIOS. NÃO SIGNIFICA QUE OS QUE FICARAM NÃO SEJAM MUITO BONS, MAS HOUVE UMA PERDA REAL E ISSO TEM CONSEQUÊNCIA. OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SE javascript:void(0) SUPERAM PORQUE PARTE DO NOSSO DNA DE JORNALISTA É DE SUPERAÇÃO. [...] A SOCIEDADE VEM EXIGINDO CADA VEZ MAIS QUE A COBERTURA NÃO SEJA SUPERFICIAL EM TEMAS QUE SÃO COMPLEXOS. (BRAGON, 2021) Atualmente, o jornalismo oferece cada vez mais temas nos quais se especializar. Além das editorias tradicionais de política, economia, internacional, cultura e esportes, surgem outros ramos, como tecnologia e sustentabilidade. Foto: Jakkrit Orrasri / Shutterstock.com Uma atividade que tem atraído a atenção de jovens repórteres é o jornalismo de dados, com o uso de grandes bancos de informação. Nesse caso, além do domínio de ferramentas como Excel, o recomendável é fazer alguns cursos introdutórios, como os oferecidos pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). Projetos inovadores e cada vez mais especializados têm surgido na área do jornalismo de dados, e dentre eles pode-se destacar a newsletter Fiquem Sabendo, que publica semanalmente dados obtidos por intermédio da Lei de Acesso à Informação no Brasil. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A ROTINA DE APURAÇÃO DO JORNALISTA ESPECIALIZADO INCLUI: A) Apenas informações exclusivas. B) Fontes exclusivas em sua área de atuação, descartando entrevistas coletivas. C) Acompanhamento sistemático das informações em sua área de atuação. D) Relação íntima com as fontes. E) Parâmetros éticos diferentes do jornalismo em geral. 2. O JORNALISMO ESPECIALIZADO TEM ROTINAS PRÓPRIAS E POR ISSO: A) Tem procedimentos éticos e técnicos diferentes dos demais jornalistas. B) Só pode ser exercido por profissionais que tenham feito curso superior na área a ser coberta. C) Não precisa ouvir pontos de vista diferentes, já que o jornalista conhece o assunto em profundidade. D) Tem condições de aprofundar e oferecer novas abordagens sobre o assunto em questão. E) Precisa de um registro específico junto ao sindicato dos jornalistas. GABARITO 1. A rotina de apuração do jornalista especializado inclui: A alternativa "C " está correta. O jornalista especializado tem a obrigação de acompanhar os assuntos em sua área de atuação. Isso permite que ele tenha mais fontes no setor, acumule mais informações e possa fazer um trabalho mais crítico e aprofundado que um “generalista”, que escreve sobre vários assuntos. 2. O jornalismo especializado tem rotinas próprias e por isso: A alternativa "D " está correta. Ao se especializar, o jornalista conhece o assunto em profundidade e se torna capaz de oferecer e buscar novos ângulos na cobertura de um tema. MÓDULO 3 Descrever o processo de segmentação dos veículos jornalísticos SEGMENTAÇÃO JORNALÍSTICA A segmentação jornalística é o processo de multiplicação de conteúdos específicos sobre determinados assuntos, como estratégia mercadológica para oferecer ao público temas de seu interesse. A segmentação atende a uma dupla operação: Alimentar determinada audiência com a oferta de material que ela não verá nos veículos voltados para o público em geral. Apostar num modelo de negócio estruturado a partir da busca por um mercado publicitário interessado naquele determinado nicho de público. Tal segmentação pode acontecer dentro ou fora dos veículos tradicionais. Nos grandes veículos brasileiros, a publicação eventual de suplementos temáticos foi prática frequente. A divisão em cadernos começou a ser adotada pelos jornais brasileiros nos anos 1950 e é marca de uma extinta época de vigor econômico dos veículos impressos. Janio de Freitas, mais uma vez, foi pioneiro ao criar o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil (SDJB), que mais tarde viraria o Caderno B do Jornal do Brasil e influenciaria não apenas gerações de jornalistas, mas levaria os demais veículos a criarem seuscadernos de cultura também. O jornal carioca O Globo tem o Segundo Caderno, e a Folha de S.Paulo, a Ilustrada. A partir do SDJB, a cadernização se fortaleceu na imprensa brasileira. Freitas já relatou que sua ideia no Jornal do Brasil era criar cadernos identificados pela letra — teria o C, de Classificados, o D, de Domingo, o E, de Esportes etc. A cadernização se consolidou na imprensa brasileira nas décadas seguintes. A divisão em cadernos começou a ser adotada pelos jornais brasileiros nos anos 1950 e é marca de uma extinta época de vigor econômico dos veículos impressos. Janio de Freitas, mais uma vez, foi pioneiro ao criar o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil (SDJB), que mais tarde viraria o Caderno B do Jornal do Brasil e influenciaria não apenas gerações de jornalistas, mas levaria os demais veículos a criarem seus cadernos de cultura também. O jornal carioca O Globo tem o Segundo Caderno, e a Folha de S.Paulo, a Ilustrada. A partir do SDJB, a cadernização se fortaleceu na imprensa brasileira. Freitas já relatou que sua ideia no Jornal do Brasil era criar cadernos identificados pela letra — teria o C, de Classificados, o D, de Domingo, o E, de Esportes etc. A cadernização se consolidou na imprensa brasileira nas décadas seguintes. Para além dos cadernos usados por veículos tradicionais, a segmentação também é pilar do surgimento de publicações variadas, dentro ou fora dos grandes grupos de comunicação. A oferta de conteúdo específico e a busca por um público próprio são a razão de existir de uma miríade de publicações, de suplementos literários de vida brilhante, porém fugaz, às longevas publicações sobre fofocas da televisão, passando por periódicos voltados apenas para temas como economia (caso do Valor Econômico e da extinta Gazeta Mercantil). Tudo isso é jornalismo especializado. As Editoras Abril e Globo, para citar apenas duas das maiores, investiram no setor de revistas segmentadas, e a busca por um lugar ao sol no disputado mercado jornalístico assistiu à multiplicação de veículos voltados para os mais diversos temas. Numa banca de esquina, é possível encontrar revistas sobre máquinas agrícolas, ou voltadas para a rotina de celebridades, almanaques especializados em vestibulares e publicações culturais destinadas apenas a livros e filmes. Fonte: Luis War / Shutterstock.com O jornalismo tradicional sempre soube tirar proveito da segmentação para amplificar mercados e conquistar públicos e anunciantes. Nos últimos anos, a crise da plataforma impressa se impôs, e o jornalismo especializado não passou incólume a ela, com o encerramento de várias publicações. Em um mundo em transformação, cada vez mais mediado pelas plataformas digitais, o jornalismo não passou ileso: fala-se atualmente em jornalismo pós-industrial, termo usado pela primeira vez em 2001 e que cada vez mais se consolida como um conceito para definir o jornalismo que “não está mais organizado em torno das normas de proximidade com a máquina de produção” (ANDERSON, BELL e SHIRKY, 2014, p. 37), como define o alentado dossiê sobre o tema publicado em 2014 pelo Tow Center Digital Journalism, ligado à Escola de Jornalismo da Columbia University, em Nova York. Foto: Shutterstock.com Para os autores do dossiê, no jornalismo pós-industrial, as instituições jornalísticas tradicionais perderão relevância, e terão que se reestruturar de acordo com novos métodos e processos de trabalho proporcionados pelos meios digitais. O que implica repensar vários aspectos da produção de notícias. No mundo do jornalismo pós-industrial, a audiência torna-se cada vez mais fragmentada — e conhecer essa audiência em detalhes torna-se questão de sobrevivência. A IGNORÂNCIA GERAL DE COMO AS PESSOAS CONSOMEM INFORMAÇÕES NÃO ERA UM PROBLEMA QUANDO O MODELO INDUSTRIAL PREVALECIA, MAS NO MUNDO FRAGMENTADO E DESGASTADO DE HOJE, TORNA-SE CRÍTICO O CONHECIMENTO DE COMO O PÚBLICO CONSOME INFORMAÇÕES E SE O QUE VOCÊ ESCREVE, GRAVA OU PRODUZ ATINGE AS PESSOAS QUE VOCÊ DESEJA ALCANÇAR. (ANDERSON, BELL e SHIRKY, 2014, p.38) Diante de uma audiência fragmentada, a necessária segmentação de conteúdos se aprofunda como estratégia mercadológica. Nesse contexto, o jornalismo especializado torna-se indispensável. O JORNALISMO ESPECIALIZADO REPRESENTA A CONSOLIDAÇÃO DE UM PROCESSO VERTIGINOSO DE SEGMENTAÇÃO, QUE ARTICULA CONTEÚDOS E AUDIÊNCIAS, MEDIADO PELA PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO DE DISCURSOS INTRINSECAMENTE ASSOCIADOS A JARGÕES, TERMOS TÉCNICO- CIENTÍFICOS, NEOLOGISMOS E CONCEITOS COMPARTILHADOS PELOS DIVERSOS CAMPOS DE CONHECIMENTO. (BUENO, 2015, p.280) A segmentação de conteúdos, prática conhecida dos veículos tradicionais, ganha força como estratégia de sobrevivência e diferenciação no contexto do jornalismo pós-industrial. Segmentação e jornalismo especializado caminham juntos, e o jovem profissional deve estar atento a essa condição. Na plataforma digital, a segmentação permanece como parte importante do negócio, dentro ou fora dos grandes grupos de comunicação. Os grandes portais têm investido em conteúdos voltados para públicos específicos, interessados na audiência de determinados nichos de público. A audiência é fragmentada, e é preciso oferecer conteúdos variados para buscar leitores e disputar sua atenção. EXEMPLO No portal de notícias Uol, a plataforma Universa publica conteúdos que valorizem as questões de gênero, sejam elas na área da política, sejam da saúde, sejam do comportamento. O jornal O Globo, da mesma forma, agrupa na plataforma Celina as questões de gênero. Foto: Sharaf Maksumov / Shutterstock.com Mais uma vez, é uma forma de os veículos, mais do que apenas separarem conteúdos, produzirem sentido sobre eles. É também uma estratégia de mercado para atrair público e anunciantes específicos. No mercado digital contemporâneo, têm surgido vários pequenos veículos voltados para nichos específicos de mercado, como meio ambiente e saúde. Esse mercado segmentado busca jornalistas especializados, que conheçam a área e possam oferecer ao público conteúdos distintos dos que ele encontra na imprensa de modo geral. Que tal analisar mais a fundo a importante questão das demandas do público e como jornalismo se enquadra nelas? Com a palavra, a jornalista e professora Fernanda da Escóssia. SEGMENTAÇÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS Dentro da segmentação jornalística, é válido fazer um pequeno recorte histórico e, a título de exemplo, destacar duas áreas que têm sido alvo da segmentação, dentro e fora dos grandes grupos de comunicação, tanto na plataforma impressa como na digital. A primeira delas é o jornalismo voltado para o público feminino, com a chamada temática feminina. A extensa pesquisa de Lima Duarte (2016) listou, apenas no século XIX, 147 títulos voltados ao público feminino. O primeiro de que se tem notícia, segundo a autora, foi O Espelho Diamantino, “periódico de política, literatura, belas artes, teatro e moda, dedicado às senhoras brasileiras”. Ele foi fundado por um homem, Pierre Plancher, e circulou no Rio de Janeiro de 1827 a 1828. Em sua primeira edição, posiciona-se sobre a questão feminina e afirma que conservar as mulheres “em estado de estupidez, pouco acima dos animais domésticos, é uma empresa tão injusta quanto prejudicial ao bem da humanidade”. (LIMA DUARTE, 2016, p. 99). A mesma autora alerta para um ponto a respeito das publicações voltadas ao público feminino: Foto: Shutterstock.com É INTERESSANTE OBSERVAR COMO OS TÍTULOS DOS PRIMEIROS JORNAIS E REVISTAS SE RELACIONAM AO CAMPO SEMÂNTICO DA EDUCAÇÃO, REVELANDO A IDEOLOGIA PATRIARCAL QUE OS DOMINAVA. AO SE APRESENTAREM COMO MENTOR, FAROL, MANUAL, DESPERTADOR OU ESPELHO, ELES SE COLOCAM ACIMA DAS MULHERES E COMO GUIAS RESPONSÁVEIS PELA MUDANÇA DE SEU STATUS QUO. NAQUELA ÉPOCA, JORNAL E REVISTA, OBSERVO, TINHAM A MESMA APARÊNCIA, DISTINGUINDO-SE APENAS NA DIVERSIDADE DE GÊNEROS LITERÁRIOS E NAS MATÉRIAS DE ENTRETENIMENTO, QUE COSTUMAVAM SER MAIORES NAS DENOMINADAS REVISTAS.(LIMA DUARTE, 2016, p.21) Ao longo do século XX, as publicações voltadas para mulheres se multiplicaram, seja como suplementos dentro de grandes veículos, os chamados cadernos femininos, seja na forma de revistas especializadas e voltadas para o público feminino. Vale notar que, dentro dos conteúdos dedicados ao grande “público feminino”, é possível verificar várias subdivisões. Há publicações para garotas adolescentes, mulheres adultas, público de luxo, mulheres mais interessadas em saúde — a segmentação é infinita. Nos tempos digitais, como já visto, a segmentação torna-se, para pequenos veículos, estratégia de sobrevivência a fim de se diferenciar dos grandes. É traço da segmentação da atividade jornalística em tempos digitais, por exemplo, o surgimento de veículos voltados para conteúdos específicos e propostas de trabalho peculiares. EXEMPLO O site Gênero&Número, com redação baseada no Rio de Janeiro, é voltado para a produção de conteúdos na área de gênero, usando a linguagem do jornalismo de dados. Aborda temas de política, saúde, economia e justiça numa perspectiva de gênero, mostrando em números o impacto de determinado assunto na vida das mulheres. Também trata de temas como racismo, preconceito e população LGBTQI+, sempre valorizando a visualização de dados e inovando na linguagem, seja num vídeo sobre o total de ruas com nomes de mulheres, seja em infográficos sobre o assassinato de pessoas trans. Outra área em que a segmentação e a especialização têm sido marcantes ao longo dos anos, exigindo cada vez mais a especialização profissional, é o jornalismo voltado para a cobertura de temas científicos. Antes restritos a uma página ou seção nos jornais impressos, tais temas ganharam relevância, espalharam-se pelo noticiário e deram origem a especializações que mantêm profundo diálogo: o jornalismo científico e o jornalismo ambiental. São áreas em que a especialização se torna quase obrigatória, pela complexidade dos assuntos e pela necessidade de acompanhamento sistemático de publicações especializadas. Segundo Belmonte (2015), o jornalismo ambiental (na condição de especialização no jornalismo) começou a surgir e se formar na Europa na década de 1960. No Brasil, afirma o autor, houve iniciativas isoladas de coberturas de temas ambientais nos anos 1960 e 1970 — e destacam-se nessa área as reportagens de José Hamilton Ribeiro para a revista Realidade, da editora Abril. A realização no Brasil da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a Rio 92, foi um marco para a consolidação do jornalismo ambiental no país, com a criação de editorias próprias nos jornais e possibilitando o surgimento de publicações segmentadas nessa área. Foto: Shutterstock.com O jornalista Washington Novaes é considerado o pioneiro do jornalismo ambiental no Brasil: durante seis décadas de trabalho, atuou em vários veículos, como Veja, Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e Rede Globo, acumulando reportagens, análises, livros e prêmios sobre o tema. Em entrevista a Paulina Chamorro e Mônica C. Ribeiro, disse: "Eu sempre tento esclarecer que não sou ambientalista. Eu sou jornalista, e se trato muito dessas questões é porque não há como isolar o meio ambiente do restante. O meio ambiente está em tudo que a gente faz, na nossa vida toda. Não pensar nas chamadas questões ambientais significa deixar os problemas crescerem, e esses problemas são cada vez maiores." (TRIGUEIRO, 2020) Inspiradas por Novaes, gerações seguidas de jornalistas têm se dedicado ao jornalismo ambiental. Como acontece na temática de gênero, também na área ambiental a segmentação tem sido opção para criar de veículos voltados para esse tipo de cobertura, por exemplo a revista Plurale, surgida em 2007 no Rio de Janeiro Assim como em outros setores, e no jornalismo especializado em meio ambiente, o inexorável processo de crise da plataforma impressa fez do ambiente digital o palco para o lançamento de novos projetos, com propostas distintas e voltadas para todo tipo de público. EXEMPLO Entre tantos veículos nativos digitais, vale destacar pelo menos dois. Um deles é o InfoAmazonia, site independente que usa o jornalismo de dados, com visualização de infográficos, em reportagens sobre a região. Outro é a agência Amazônia Real, criada em 2013 em Manaus e que cobre assuntos variados referentes à região. Os dois projetos recorrem ao financiamento de doadores e parceiros nacionais e internacionais. São exemplos de veículos jornalísticos digitais e segmentados, voltados para temática específica e com público próprio. O jornalismo pós-industrial também tem visto o nascimento de novas editorias e especializações, por exemplo, as editorias de mídias sociais, que são voltadas para o monitoramento de redes e divulgação dos conteúdos jornalísticos em plataformas como Twitter e Facebook. Hoje não há veículo, grande ou pequeno, que não tenha um especialista em mídias sociais Outro tipo de segmentação recente, e de extrema importância, são os sites de checagem e verificação. A checagem concentra-se na verificação de afirmações de pessoas públicas ou de conteúdos que circulam nas redes. Plataformas como Agência Lupa e Aos Fatos, ambas nativas digitais, são exemplos desse tipo de iniciativa. O Projeto Comprova, que reúne 28 organizações de mídia de todo o Brasil, é coordenado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e, em 2020, produziu amplo material de combate à desinformação durante a pandemia da Covid-19. Na mídia tradicional, há também diversas iniciativas de checagem, como o Fato ou Fake, que reúne todos os veículos das Organizações Globo, e o Estadão Verifica. ATENÇÃO É importante lembrar que jornalisticamente se deve evitar falar em fake news. Se o pressuposto de uma notícia é o relato dos acontecimentos, uma “notícia falsa” é uma contradição em termos. O termo mais apropriado é desinformação. Destacamos ainda o surgimento dos podcasts, conteúdos jornalísticos em áudio que ficam disponíveis na internet e oferecem os exemplos mais recentes de segmentação jornalística. A produção de podcasts tem ocorrido tanto dentro das grandes redações — com a criação de núcleos específicos para esses conteúdos — quanto fora, com a oferta de podcasts sobre temas variados, de ciência a política, passando por questões de gênero e até o caçula Vida de Jornalista, podcast que conta histórias vividas por jornalistas, essas pessoas estranhas que escolheram a profissão que García Márquez um dia chamou de “a melhor do mundo”. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O CONCEITO DE SEGMENTAÇÃO DO MERCADO JORNALÍSTICO ABRANGE: A) Produção de conteúdos voltados para audiências específicas. B) Necessidade de manter a objetividade jornalística. C) Necessidade de tomar posicionamento sobre os temas cobertos. D) Relação próxima com as fontes. E) Declaração da linha editorial do jornal. 2. SOBRE O PROCESSO DE SEGMENTAÇÃO DE CONTEÚDOS JORNALÍSTICOS, É CORRETO DIZER: A) Acontece apenas com os grandes veículos de comunicação. B) É peculiaridade exclusiva dos veículos independentes. C) É uma estratégia de mercado e definição da marca. D) Exige uma ética própria. E) Mantém a dinâmica tradicional do jornalismo técnico. GABARITO 1. O conceito de segmentação do mercado jornalístico abrange: A alternativa "A " está correta. A segmentação jornalística é o processo de surgimento de conteúdos específicos sobre determinados assuntos como estratégia mercadológica para oferecer ao público conteúdos de seu interesse e buscar mercado publicitário interessado naquele determinado nicho de público. 2. Sobre o processo de segmentação de conteúdos jornalísticos, é correto dizer: A alternativa "C " está correta. Num mercado jornalístico em transformação, a segmentação de conteúdos, prática conhecida dos veículos tradicionais, ganha força como estratégia de sobrevivência e diferenciação no contexto do jornalismo pós-industrial. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudamoso conceito de jornalismo por editorias e detalhamos como as redações costumam dividir suas equipes por área de cobertura. Tal divisão começa na produção dos conteúdos e se repete também na publicação, com a oferta desses conteúdos em seções específicas, que possam ser mais facilmente identificadas pelo leitor. O jornalismo exerce cotidianamente sua função de “organizador” da realidade, classificando o espaço, o tempo e os assuntos; e oferecendo ao leitor um caminho mais claro e compreensível para a apreensão desses conteúdos. A divisão em editorias nos fez refletir sobre o conceito de jornalismo especializado, uma prática profissional estruturada a partir da cobertura de temas próprios, mas seguindo os parâmetros éticos e técnicos característicos do jornalismo de modo geral. Apresentamos dicas sobre como se tornar um jornalista especializado e detalhamos alguns procedimentos necessários nessa formação. Discutimos como o jornalismo especializado se insere num processo de segmentação que sempre existiu no mercado jornalístico, mas que se aprofunda na era do chamado jornalismo pós-industrial. Por fim, pudemos conhecer exemplos de veículos nativos digitais marcados pela especialização. REFERÊNCIAS ABRAMO, C. A regra do jogo: o jornalismo e a ética do marceneiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. ANDERSON, C. W.; BELL, E. J.; SHIRKY, C. Post industrial journalism: adapting to the present. Columbia Journalism School, 2014. BAHIA, J. Jornal, história e técnica: as técnicas do jornalismo, v. 2. Rio de Janeiro: Mauad X, 2009. BELMONTE, R. V. A construção do discurso da economia verde na revista Página 22. Mestrado em Comunicação e Informação. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 2015. BRAGON, R. Ex-ombudsmans dizem o que veem de ruim na Folha e o que pode ser feito para melhorar. Folha de S.Paulo, publicado em 21 fev. 2021. BOURDIEU, P. Sobre a televisão. 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Ainda dentro do campo do jornalismo de dados, vale conhecer o portal Gênero&Número, voltado para questões de gênero e jornalismo de dados. Indicamos, por exemplo, o vídeo “Rua: substantivo (ainda) masculino”. CONTEUDISTA Fernanda da Escóssia CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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