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Fichamento Psicodiagnóstico Interventivo: Evolução de uma prática

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Bibliografia: ANCONA-LOPEZ, Sílvia; MOURA, Rosana F Tchirichian de. Desafios no Psicodiagnóstico Infantil. In: ANCONA-LOPEZ, Sílvia (org). Psicodiagnóstico Interventivo: Evolução de uma prática. São Paulo, Cortez, Ed.2013. 
Fichamento n°6
O psicodiagnóstico infantil, deve sempre se adaptar e de modificar considerando as condições e as demandas de cada criança. Como se trata de um atendimento realizado em grande parte por clínicas escolas, e por isso, um atendimento gratuito, muitas das famílias atendidas têm dificuldades socioeconômicas, gerando condições e carências de aspetos que não são abrangidos pela prática da clínica tradicional. 
O aspecto socioeconômico deve ser tratado como de extrema relevância dentro da queixa apresentada em atendimento, levando em conta o contexto no qual ele se dá. São questões que podem aparecer na linguagem e comunicação, por novas configurações familiares e por aspectos ligados à realidade social, como características socioeconômicas, valores políticos e morais, a situação da educação e a realidade da violência com as quais a criança possa estar convivendo, seja dentro da sua própria casa, com a sua família, ou no social geral, no seu bairro, na sua cidade, na sua escola. 
Uma das queixas mais comuns chegadas nas clinicas escolas, para o processo de psicodiagnóstico, é de queixa escolar e dificuldade de aprendizagem, e a maioria advém de escolas públicas. As escolas encaminham essas crianças para o trabalho psicológico, afim de diagnosticar sintomas e patologias que expliquem o problema apresentado na educação, para disfarçar o grande fracasso escolar no Brasil. Por isso, nas avaliações de crianças encaminhadas pela rede de educação pública, deve se tomar muito cuidado para que não se patologilize uma questão de falta de estrutura escolar, falta de professores, falta de educação de qualidade e falta de adaptação às novas realidades e às novas gerações de estudantes. 
É preciso pensar a dificuldade na escola em conjunto com os pais e com os educadores, diferenciando as possíveis deficiência da criança, das questões sociais e políticas que podem estar afetando o seu desenvolvimento escolar. Para assim, além de possivelmente auxiliar a criança nesse sentido, se possa buscar uma rede de apoio que vise o desenvolvimento de qualidade dessa criança como um todo, buscando uma nova visão sobre a criança e a sua dificuldade, e criando uma nova dinâmica familiar e escolar. 
Por isso a visita na escola é tão importante, para possibilitar uma análise conjunta com a escola sobre o seu papel na dificuldade dos alunos, e em paralelo, discutir com os pais sobre o que é responsabilidade das instituições escolares, para levá-los a se colocar mais criticamente em relação ao problema e se serem cidadãos mais ativos que podem fazer suas reivindicações junto e diretamente às escolas. 
 Outro aspecto muito importante a ser analisado em conjunto com a queixa apresentada, é a configuração da família. Atualmente, grande parte das crianças que chegam para atendimento clínico são criados e educados por mães solteiras, pais separados, avós e casais que criam filhos de relacionamentos anteriores. A configuração familiar é de extremo impacto para a criança, em diversos aspectos, e pode inclusive, impactar na qualidade da aprendizagem da criança, ou causar desvios no seu comportamento. 
Cabe ao psicólogo questionar e analisar de que forma essas mudanças nas configurações das famílias impactam na construção das crianças e no seu desenvolvimento. O psicodiagnóstico interventivo é um momento para esse questionamento, tendo como um dos seus objetivos conhecer os sentidos e os significados que as crianças e seus pais dão às suas vidas e a seus mundos. Cabe também ao psicólogo, nesse momento, não se prender ao viés teórico, que não se mostrará suficiente para atender e compreender fielmente a demanda da criança.
É possível observar que apesar das questões teóricas que o psicólogo venha a enfrentar, o psicodiagnóstico interventivo nos traz a oportunidade de uma reflexão conjunta, junto com os atendimentos e discursos dos pais, das crianças e das escolas. Nos trazendo a possibilidade de enfrentar as lacunas teóricas através de uma compreensão construída a partir do mundo apresentado pelo cliente, e não por aquele que é apresentado por um teólogo. 
 Além disso, quando o atendimento a pais e crianças acontece em conjunto, o psicodiagnóstico interventivo se enriquece ao possibilitar a identificação e a troca entre os pais e a criança, colocando os dois discursos e os dois mundos em contato, a partir da interferência neutra do psicólogo, ajudando na compreensão da própria família, contribuindo para diminuir a sensação de isolamento que possa estar sentindo a criança ou seus familiares.
A violência doméstica, incluindo o abuso sexual e psicológico, não é uma ocorrência apenas atual, se trata de um tema estudado desde sempre, e é de extrema importância a sua abordagem pela área da psicologia infantil. A violência sexual é um problema complexo e delicado, e o sofrimento trazido por ela é incalculável, e essa demanda nem sempre chega clara ao consultório, necessitando que o profissional esteja sempre atento aos indícios e aos fatos e falas trazidos pela criança nos momentos lúdicos. Se trata de outra situação que não pode ser vista fora do seu contexto social e cultural. 
Outra forma de violência muitas vezes presentes dentro da clínica psicológica é a violência social, que apesar de todos os avanços que vivemos, não tem se tornado menos frequente ou menos assustadora, principalmente no contexto infantil. O aumento da violência nas ruas e dentro das famílias, o uso de drogas, conflitos e separações familiares, alienação social e política, e doenças psicossomáticas não tratadas e enfrentadas com tal, vem cada vez mais dia a dia, se enraizando e se fazendo presente na realidade social que estamos vivendo, e se incorporando na realidade das crianças, as maiores vítimas de tais acontecimentos, especialmente no cotidiano de crianças e famílias que vivem em regiões com alto índice de criminalidade e de vulnerabilidade social.
A proposta do psicodiagnóstico interventivo é de que o psicólogo não atue apenas como um examinador ou avaliador ou que mantenha a neutralidade, mas que, durante o processo, analise frontalmente, ativamente e criticamente esses temas, considerando-os não apenas fontes de sofrimento psíquico ou emocional para as crianças, mas também questões sociais que devem ser discutidas com os pais e também com as crianças. 
Faz parte do papel do psicólogo sugerir, apoiar e incentivar os pais ou responsáveis a serem cidadãos e genitores ativos, se organizando para defender seus direitos e dos seus filhos, assim como lutar politicamente por melhorias, seja elas no município, no bairro ou na rua ande moram. Lutar ativamente pela qualidade de vida dos seus filhos, atacando a causa do seu sofrimento, afim de que após o fim do trabalho psicológico, a criança tenha a possibilidade de maior qualidade de vida e não desenvolva mais novas demandas a serem tratadas em consultórios. 
Quando um profissional da psicologia chega a um momento que não sabe mais o que se pode fazer, o que se deve fazer ou qual rumo tomar, ele deve sempre priorizar seu senso crítico, não se rendendo a um estado de um estado de paralisação, sempre há um espaço para nossa atuação, que é o espaço da crítica, da reflexão, criação e, especialmente, do acolhimento e do respeito. Se as teorias psicológicas parecem ter chegado aos seus limites, possivelmente não encontraremos uma saída para essas questões pelo nosso saber teórico e prático da psicologia, mas podemos talvez, através da interlocução com outros saberes, pela ética pessoal e pelo respeito ao outro e suas diferenças, encontrar sempre um novo caminho a ser trilhado em conjunto com o paciente. 
Isso significa que o psicólogo não deve se prender apenas ao espaço clínico, mas sim conhecer os ambientes em que a criança convive e se desenvolve, como o ambiente escolar, suas condições de moradiae seu meio social. O psicodiagnóstico interventivo é um procedimento para a compreensão dos pacientes que chegam à clínica em busca de auxílio psicológico, e também para a criação de um espaço diferenciado que permita àqueles que estão envolvidos no processo compartilhar seu sofrimento e encontrar um novo modo de lidar com sua realidade, encontrando nova dinâmica de vida, familiar, escolar e compreendendo que há outras formas de ver a si mesmo e ao mundo.

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