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1 CURSO: Tecnólogo em Segurança Pública e Social DISCIPLINA: Oficina de Texto em Segurança Pública III CONTEUDISTAS: Ana Paula Sciammarella, Pedro Heitor Barros Geraldo e Carlos Eduardo Brandão AULA 2 COMPREENDENDO OS EDITAIS META Apresentar como funciona o financiamento de projetos das chamadas políticas públicas induzidas realizados pelos organismos governamentais e instituições públicas. Esse tipo de financiamento insere-se em um contexto jurídico administrativo específico. Sua realização está vinculada a divulgação de um edital que apresenta como será realizada a seleção de propostas a serem financiadas. OBJETIVOS Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1. Identificar editais/ chamadas para apresentação de projetos referentes às políticas públicas induzidas. 2. Compreender o que é um edital público para chamada de projetos. 3. Identificar os elementos contidos nos editais que orientam a redação do projeto. CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO http://graduacao.cederj.edu.br/ava/course/view.php?id=1079 2 1. INTRODUÇÃO Como vimos na aula anterior, na tradição institucional brasileira as políticas públicas se relacionam com as formas de organização das instituições do Estado e os diferentes mecanismos de prestações de serviços na relação com a sociedade. As políticas públicas podem ser compreendidas a partir de diferentes abordagens. As políticas públicas “tomam forma” por meio de programas públicos, projetos, leis, campanhas publicitárias, esclarecimentos públicos, inovações tecnológicas e organizacionais, subsídios governamentais, rotinas administrativas, decisões judiciais, gastos públicos, entre outros. O processo de elaboração de política pública, também conhecido como ciclo de políticas públicas consiste em cinco atividades essenciais: definição de agenda, formulação, tomada de decisão, implementação e avaliação. As políticas públicas são atividades interrelacionadas em que os gestores públicos podem se envolver para alcançar os objetivos das políticas da sua sociedade e do seu governo. Esta aula tem com finalidade familiarizar o aluno com a forma pela qual essas políticas são realizadas, também, com a colaboração de projetos que são financiados pelo Estado e desenvolvidos por instituições governamentais e não governamentais. 2. AGENDA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E O FINANCIMENTO DE PROJETOS A definição de agenda diz respeito ao processo pelo qual os governos decidem quais questões precisam de sua atenção. Ela enfoca, entre outras coisas, a determinação e definição do que constitui o “problema”, que ações de políticas públicas subsequentes são destinadas a resolver. A construção da agenda também depende de discussões em diferentes arenas em que os agentes públicos e os cidadãos participam de processos de construção das opções políticas. 3 Os cientistas políticos norte-americanos Stephen Hilgartner e Charles L. Bosk consideram que a atenção pública é um recurso escasso. Por essa razão, eles afirmam que há uma competição entre os problemas colocados aos gestores públicos e à própria sociedade para que um deles seja selecionado dentro das diferentes arenas de discurso público. Os problemas surgem, então, em função da ação de empreendedores de ideais que procuram apoio às suas “causas”. Eles afirmam que há um processo de convencimento das pessoas sobre a pertinência e relevância dos problemas e uma disputa constante por recursos. Esse processo de convencimento não se dá unicamente numa relação direta com os agentes públicos, mas dentro da própria sociedade nos mais variados espaços de sociabilidade (nas universidades, na igreja, na rua, na mídia etc). Os autores definem os problemas sociais como “uma dada condição ou situação que é reputada como um problema nas arenas do discurso e da ação pública.” (HILGARTNER e BOSK, 1988, p. 55) No entanto, o que interessa é a competição pelas diferentes ideias disponíveis no sistema de arenas públicas. Eles explicam que esse modelo é composto de seis elementos: (a) há um processo dinâmico entre as demandas sociais dos membros de uma vasta população; (b) há arenas institucionais que servem de ambiente onde os problemas sociais competem por atenção e apoio; (c) a capacidade que tais arenas têm de atrair atenção, fato que limita o número de problemas que podem receber atenção ao mesmo tempo; (d) os fatores institucionais, políticos e culturais que influenciam a probabilidade de se sobreviver à competição da formulação de problemas; (e) os padrões de interação entre as diferentes arenas; (f) existem ainda as redes de empreendedores que 4 promovem e tentam controlar problemas particulares. Assim, podemos compreender como os grupos de interesse e os diferentes atores na sociedade se relacionam a fim de promover seus problemas e reivindicar soluções do Estado. Uma agenda é uma lista de questões (ou problemas) aos quais agentes públicos e outros membros na comunidade estão debruçados em certo momento. A definição de agenda implica em determinado governo reconhecer que um problema é uma “questão publica” digna de sua atenção. Ela foca nos processos iniciais de identificação de problemas, na iniciação de políticas e no modo como esses processos afetam as atividades de criação de políticas públicas posteriores de responsabilidade dos governos. Em síntese, a política pública começa quando a agenda é definida. A menos que um problema entre para a agenda do governo, nada será feito a respeito dele. O motivo pelo qual uma questão passa a ser vista como um problema envolve processos sociais e políticos complexos, bem como circunstâncias dinâmicas, tais como o surgimento de uma crise e os complicados papéis dos gestores públicos na definição de agenda. Para minimizar os efeitos desses fatores, os gestores públicos precisam de uma base sólida de conhecimento, forte capacidade analítica e uma estratégia bem elaborada, porém flexível. A inclusão de um problema na agenda de políticas públicas do governo é apenas um começo. O problema precisa passar por mais duas etapas – a de formulação de políticas e a de tomada de decisão. A formulação de políticas públicas se refere ao processo de gerar um conjunto de escolhas de políticas para resolver problemas. Nessa fase do processo, uma gama de potenciais escolhas de políticas é identificada e uma avaliação preliminar da sua viabilidade é oferecida. As ferramentas de políticas públicas - instrumentos de políticas ou instrumentos de governo - são os meios ou dispositivos que os governos usam para implementar políticas. As ferramentas de políticas públicas dividem-se 5 em duas grande categorias: (a) instrumentos privados: envolvem pouca ou nenhuma atividade (ou participação) direta do governo, com base na crença de que atores provados poderão oferecer uma solução melhor; (b) instrumentos públicos: são apoiados pelo Estado, com informações dos governos e são direcionados pelos formuladores de políticas públicas para certos tipos de atividades, ligadas à resolução dos problemas de políticas. A tomada de decisão é a função de política pública em que se decide por uma ação para tratar de um problema, levando em conta uma série de considerações e análises políticas e técnicas. A implementação de políticas públicas é um processo dinâmico e não linear. Analisar o contexto em que se está implementando uma política, por exemplo, é importante para sua eficácia. A descentralização, por exemplo, é um dos focos dos debates, com a maioria dos países implementando, ou pelo menos apoiando, a ideia de passar autoridade e recursos para níveis mais baixos de governo (descentralização territorial) ou para autoridades reconstituídas não tradicionais(descentralização funcional). O grau em que tais tendências afetarão a forma como as decisões relacionadas à adoção de políticas são tomadas, os recursos mobilizados, e os atores administrativos (e não burocráticos) para a implementação. Como vimos na aula anterior, as fontes de recursos para financiamento de projetos são diversas e incluem fontes nacionais, internacionais, governamentais, não governamentais, públicas e privadas. As fontes de recurso podem, também, variar quanto à escala dos projetos apoiados, quanto às formas de concessão dos recursos e quanto aos critérios e processos adotados para a seleção das propostas. Em geral, a forma com se operam as concessões de recursos observam a forma de recursos não-reembolsáveis, ou seja, uma vez transferido para a execução de um projeto, ele deverá ser integralmente utilizado para a implementação do mesmo, sem que o mesmo seja devolvido. 6 Quando as entidades envolvidas nesse tipo de operação são de caráter público, o instrumento utilizado para a formalização deste tipo de repasse de recursos financeiros é um convênio. Quando concebemos um projeto ele objetiva solucionar um problema. Essas propostas podem ser estimuladas pelas possibilidades de obtenção de recursos financeiros disponibilizados por entidades financiadores (governamentais ou não governamentais). Esse estímulo pode se dar através da divulgação de financiamento “livres” ou “espontâneos”, caracterizados por convocatórias abertas para o recebimento de projetos, sem que haja uma determinação prévia sobre aspectos específicos dos projetos. Em geral, essas convocatórias limitam-se a delimitar as áreas temáticas que pretendem financiar, indicam os períodos disponíveis para apresentação de propostas. Veja, por exemplo, esta chamada: 7 (Fonte: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single- view/news/project_inscriptions_are_open_for_crianca_esperanca_programme_2015/#.Vi6d1I SpSzw) Figura 1.1: Chamada para projetos da UNESCO Outra forma de chamada de projetos se dá através do que chamamos de políticas públicas induzidas. Neste caso, a solicitação da apresentação de proposta se dá por meio de EDITAIS. Os programas institucionais das secretarias ou ministérios, por exemplo, utilizam este instrumento para execução de suas políticas. Vejamos, um exemplo de edital para uma chamada pública: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single- 8 (FONTE: http://juventude.gov.br/juventude/noticias/edital-chamada-de-projetos-para-o- laboratorio-de-participacao-e-inovacao-para-reducao-de-homicidios#.VjPNSISpSzw) Figura 1.2. Chama para projetos do Ministério da Justiça Nessa aula, pretendemos apresentar os editais que se destinam a implementação dos programas institucionais governamentais em sua http://juventude.gov.br/juventude/noticias/edital-chamada-de-projetos-para-o- 10 dimensão jurídica e política. Além disso, buscaremos apresentar e discutir os elementos dos editais indicando como os mesmos podem nos orientar a redigir um projeto para solicitar financiamento público ou privado. No âmbito da segurança pública, por exemplo, se apresentam chamadas e, consequentemente, propostas para realização de ações de prevenção, que incluem temas de prevenção à exploração sexual infanto-juvenil, violência nas escolas, violência doméstica e de gênero, mediação de conflitos, direitos humanos, promoção da igualdade racial, da livre orientação sexual e para proteção de idosos, crianças e adolescentes. As propostas, muitas vezes, contêm ainda a formação e capacitação de profissionais, para a realização e aprimoramento das práticas educacionais. Esses são temas que podemos observar nos EDITAIS que procuram “induzir” e apoiar a elaboração de projetos, de acordo com as políticas públicas de segurança. A utilização de editais para buscar boas práticas de execução de políticas públicas permite que a administração pública ganhe capilaridade em suas ações, uma vez que permite uma multiplicidade de olhares, conhecimentos e entendimentos mais específicos da sociedade. Quando as propostas apresentadas são elaboradas por profissionais da área de segurança pública, elas ganham como incremento o fato de que esses profissionais sabem identificar os locais, bairros e regiões mais vulneráveis à ocorrência de situações de violência e criminalidade. Por isso, podem indicar e ajudar a desenvolver ações relacionadas as temáticas “induzidas” pelos editais no contexto em que atuam. E o primeiro passo para elaborar uma proposta de projeto é, justamente, identificar as necessidades locais e definição de prioridades. Isso ganha melhor contorno com a delimitação dos critérios de elegibilidade e apoio aos projetos previstos nos editais. BOXE EXPLICATIVO Os editais são o mecanismo utilizado, especialmente para financiamento governamentais, para o apoio à projetos. Essas chamadas pretendem aliar as políticas dos governos às ações que estão sendo financiadas em cada um dos projetos. 10 3. FINANCIAMENTO PÚBLICO DE PROJETOS E ENQUADRAMENTO LEGAL Ao falarmos de financiamentos governamentais de projetos, nos referimos as transferências voluntárias de recursos que são realizadas mediante convênios, contratos de repasse e termos de parceria. Estes instrumentos constituem um sistema de cooperação entre o Estado (União) e outras governamentais (Distrito federal, estados e municípios) ou organizações não- governamentais, para execução de ações de interesse recíproco, a serem financiadas com recursos públicos. Os órgãos e entidades públicas que receberem recursos da União por meio de convênios, contratos de repasse ou termos de parceria são obrigados a observar as disposições da Lei de Licitações e Contratos (Lei 8.666/93) e demais normas federais pertinentes. A Lei 8.666/93, em seu artigo 2º, parágrafo único, define contrato como: “todo e qualquer ajuste entre órgãos ou entidades da Administração Pública e particulares, em que haja um acordo de vontade para a formação de vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas, seja qual for a denominação utilizada”. Já um CONVÊNIO tem como característica marcante o fato de que todos os envolvidos estão juntos para alcançar determinado objetivo comum. Não existem entre os partícipes interesses contrapostos, como acontecem nos contratos muitas vezes. Em um contrato de compra e venda, por exemplo, aquele que vende, pretende receber o valor que foi acordado, e aquele que compra deseja o bem que está sendo vendido, de modo que os objetos 11 almejados por cada dos envolvidos são diversos, razão pela qual os sujeitos da obrigação são denominados de “partes” do contrato. Já nos CONVÊNIOS, a posição dos participantes é idêntica para todos, pois os participantes têm interesses comuns e coincidentes, há COOPERAÇÃO entre eles. Portanto a essência de um convênio está assentada em um tripé: Existem convênios sem repasse de recursos financeiros, com repasse, convênios de cooperação técnica, entre outros, cada qual, submetido a uma legislação própria ou específica, mas atendendo sempre às balizas ao que diz Lei nº 8.666/1993. No âmbito federal o Decreto nº 6.170, de 25 de julho de 2007 (que teve dispositivos alterados pelos Decretos nºs 6.329/2007, 6.428/2008 e 6.619/2008, e acrescidos pelo Decreto nº 6.497/2008), considera CONVÊNIO como o: “acordo, ajuste ou qualquer outro instrumento que discipline a transferência de recursos financeiros de dotações consignadas nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União e tenha como partícipe, de um lado, órgão ou Tem a natureza de um "acordo" CONVÊNIO É celebrado entre pessoas de direito público e/ou particulares Interesses são convergentes, o que afastao intuito de lucro. 12 entidade da administração pública federal, direta ou indireta, e, de outro lado, órgão ou entidade da administração pública estadual, distrital ou municipal, direta ou indireta, ou ainda, entidades privadas sem fins lucrativos, visando a execução de programa de governo, envolvendo a realização de projeto, atividade, serviço, aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua cooperação”. A mesma norma acima referida define também o contrato de repasse e o termo de cooperação, o que é essencial para o estudo de convênios. Além destes, outro instrumento utilizado neste tipo de acordo para repasse de recursos é o termo de parceria, que é definido pela Portaria Interministerial nº 127 (de 29 de maio de 2008). Em resumo, temos: Termo de Cooperação é o instrumento por meio do qual é ajustada a transferência de crédito de órgão da administração pública federal direta, autarquia, fundação pública, ou empresa estatal dependente, para outro órgão ou entidade federal da mesma natureza. Contrato de Repasse é o instrumento administrativo por meio do qual a transferência dos recursos financeiros se processa por intermédio de instituição ou agente financeiro público federal, atuando como mandatário da União. Termo de Parceria é o instrumento jurídico previsto na Lei 9.790, de 23 de março de 1999, para transferência de recursos para organizações sociais de interesse público. 13 Estes tipos de contratos e parcerias sujeitam-se ao algumas regras para concorrer e utilizar recursos públicos, dentre elas as previstas no Decreto nº 5.504, de 05-08-2005 (exigência de licitação pública). Desta forma, as entidades qualificadas como organizações sociais – OS (Lei nº 9.637, de 15- 05-1998) ou organizações da sociedade civil de interesse público - OSCIP (Lei nº 9.760, de 23-03-1999), deverão observá-las para o uso dos recursos oriundos de repasses (União) em face dos respectivos contratos de gestão (instrumento utilizado pelas Organizações Sociais, chamadas “OS”) ou termos de parceria. 4. O QUE SÃO OS EDITAIS? O edital é um “mecanismo administrativo prévio”. Trata-se de um procedimento pelo qual a administração pública seleciona o contrato ou serviço que melhor atende suas necessidades. Tem, obrigatoriamente, caráter público. Isto significa que os editais devem ser amplamente divulgados de modo a ser conhecido por todos, garantindo a igualdade de participação. É o instrumento mais utilizado pelas fontes de financiamento para divulgar a sua intenção de apoiar projetos – e, portanto, também para convocar os possíveis interessados para a apresentação de propostas. Os editais convocatórios estabelecem os requisitos para a apresentação das propostas de projetos mediante a definição de uma série de elementos a serem observados, os quais, usualmente, se materializam em: critérios de elegibilidade dos proponentes; prazos dos procedimentos da convocatória; área temática; escopo, tipo e abrangência dos projetos; itens e limites financiáveis; critérios de pontuação e seleção das propostas; documentação a ser apresentada pelos proponentes. O edital é, justamente, um ato convocatório de uma licitação, que é um procedimento administrativo vinculado mediante o qual a administração 14 pública seleciona propostas que oferece mais vantagens para a celebração do contrato de seu interesse. Esse procedimento tem seus fundamentos em alguns princípios do direito, relacionados à moralidade administrativa (art. 37 da Constituição Federal dede 1988) e na igualdade de oportunidades. As modalidades de licitação previstas nesta legislação são as seguintes: concorrência, tomada de preços, convite, concurso, leilão e pregão. Cada uma possui suas características e se destinam a determinados tipos de contratação. Desta forma, os editais, nosso foco nesta aula, são do ponto de vista jurídico, os instrumentos de organização das relações entre os diferentes atores (suas etapas e regras). Além disso, os editais transmitem, também, os discursos institucionais. Por isso, os editais expressam, em certa medida, alguma “ideologia”. (Fonte:http://www.obscriancaeadolescente.gov.br/index.php?option=com_content&view=cate gory&layout=blog&id=41&Itemid=85) Figura 1.3.: Exemplos de chamadas e editais http://www.obscriancaeadolescente.gov.br/index.php?option=com_content&view=cate 15 4.1. Como ler um edital ? Na leitura de um edital, os primeiros elementos a considerar são, sem dúvida, a área temática para a qual são aceitas proposições, os critérios de elegibilidade dos proponentes e o prazo estipulado para a entrega da proposta. Logo de início, uma vez enquadrado na condição de proponente elegível, é preciso ponderar se a área temática comporta proposições para a solução de problemas que a organização/ órgão/ instituição postulante considere relevantes e para os quais detenha expertise para atuar. Obviamente, como uma proposta de projeto obrigatoriamente se vincula a um problema real, é necessário que o prazo estipulado para a sua entrega seja compatível com as necessidades de tempo para reunir e organizar as informações técnicas indispensáveis à concepção do projeto, bem como para cumprir as exigências documentais e processuais demandadas pelo edital. Destacamos alguns pontos que merecem uma atenção especial na hora de ler um edital. Objetivo do edital Ou seja, aquilo que o financiador está disposto a apoiar. Só leia o restante do edital e monte a sua proposta se ela estiver adequado com os interesses do financiador, tal como disposto no edital. Critérios de elegibilidade A pergunta que se precisa fazer aqui é: “sua organização/ órgão/ instituição se enquadra nos critérios solicitados?” Ou seja, possui a personalidade jurídica adequada, atua na área para a qual o edital pretende investir os recursos, poderá contribuir para a solução do problema concreto que o edital que “atacar”, atua na região indicada pelo 16 edital para a realização do projeto ? Critérios de avaliação São aspectos que contribuem para a avaliação do seu projeto. Portanto, identificando estes critérios, você poderá se preocupar em contemplá-los em sua proposta. Aqui incluímos, também, uma atenção especial que deve ser atribuída à documentação necessária para comprovação dos critérios exigidos. Você deverá observar quais são estes documentos e se sua instituição dispões dos mesmo dentro do período de validade. Itens financiáveis e não financiáveis Aqui o olhar deve estar atento para o que o edital irá financiar. Qual o tipo de despesa poderá ser coberta pelos recursos que serão por ele disponibilizados? Ou seja, o que pode entrar no orçamento do projeto e o que não pode. O orçamento do projeto deve ser elaborado a partir desta orientação. Valor mínimo e máximo financiável Outro aspecto a ser observado no orçamento do projeto são os valores mínimo e máximo de financiamento Contrapartida Em alguns casos é exigido um percentual a ser oferecido pela instituição que apresenta o projeto para compor o orçamento da proposta. É o que chamamos de contrapartida. Muitas vezes essa contrapartida pode ser oferecida através de recursos humanos da instituição ou mesmo de material do qual a mesma já disponha como mobiliário e / ou espaço físico. Observe esta exigência e indique qual será o “valor” da contra partida no orçamento do projeto. 17 Prazos Fique atento ao prazo estipulado. Não envie propostas fora da data limite, ao menos que o financiador tenha prorrogado o prazo. Lembre que no momento do envio da proposta você deverá, em muitos casos, anexar os documentos exigidos no edital. Formatação do projeto (número de páginas, linhas ou palavras) Observe o edital ou formulário. Respeite a formataçãosolicitada e os limites nele exigidos. Documentação Observe a documentação de habilitação jurídica. Verifique se você dispõe de toda a documentação dentro da validade e se será necessário juntar documento de algum parceiro que irá atuar no projeto. Uma vez observados os aspectos mencionados, é fundamental apreciar atentamente os critérios irão orientar a análise e o julgamento das propostas. Tais exigências têm o intuito de verificar preliminarmente se a organização proponente detém, em função de sua experiência e da qualificação de sua equipe técnica, condições objetivas de realizar o projeto. Os critérios de avaliação e pontuação de projetos poderão variar significativamente em conformidade com as características de cada edital. Contudo, podemos destacar aqui dois aspectos que são, em geral, prestigiados na avaliação de uma proposta: a qualificação técnica da equipe que atuará no projeto e a qualidade técnica da proposta apresentada. Por isso, a tarefa de montagem da equipe que atuará no projeto, com o intuito de promover uma adequada alocação dos recursos humanos que desenvolverão os trabalhos, é importante. É preciso observar atentamente qual o tipo de formação e experiência profissional que os formuladores do 18 edital mais valorizam, de acordo com as funções e atividades a serem desempenhadas por cada profissional. No que se refere à qualidade técnica da proposta, devem ser levados em consideração os itens que o edital especifica como indicativos de aspectos relevantes que devem ser observados e incorporados na proposta do projeto. Estes aspectos deverão merecer atenção especial quando da redação final do texto da proposta como uma estratégia de valorização da proposta de projeto que está sendo apresentada. A apreciação da qualidade técnica da proposta pode ser analisada através fornece das indicações sobre a abordagem que irá ser adotada para trabalhar o problema (enfoque de trabalho) e, também, nos indicativos sobre os resultados que se pretende produzir através dos objetivos específicos do projeto. Por fim, é preciso alertar que, antes de encaminhar a proposta de projeto à apreciação da entidade financiadora, deve-se observar rigorosamente se o edital discriminou exigências administrativas específicas que porventura indiquem os procedimentos a adotar para o encaminhamento formal das propostas e para o acompanhamento da divulgação dos resultados Veja aqui mais um exemplo de edital: 19 (Fonte: http://www.spm.gov.br/sobre/editais/editais-2013/edital-de-chamada-publica-no-03- 2013/view) Figura 1.4.: Exemplo de edital de financiamento de projetos http://www.spm.gov.br/sobre/editais/editais-2013/edital-de-chamada-publica-no-03- 20 GLOSSÁRIO Convênio é o instrumento utilizado na descentralização da execução de programa, projeto ou evento, com duração certa. Consiste no compromisso firmado por um órgão ou entidade da Administração Pública Federal de repassar determinado montante de recursos a uma instituição pública que se compromete a realizar ações constantes nas cláusulas conveniadas em conformidade com o respectivo Plano de Trabalho. Proponente É a instituição que propõe a celebração de Convênio. Após a análise do projeto básico, plano de trabalho e demais documentações e a sua aprovação, quando for assinado o Convênio, o proponente passa a figurar no respectivo termo na situação de Convenente. Convenente É quem recebe os recursos, cabendo-lhe a responsabilidade de executar e prestar contas da utilização dos recursos recebidos. Executor É o responsável direto pela execução do Convênio, podendo ser ou não o Convenente, devendo ser indicado, no instrumento de Convênio, as suas obrigações. Interveniente É uma figura que, embora não obrigatória, em alguns casos pode intervir no Convênio ou instrumento similar para manifestar o 21 seu consentimento na participação de outros órgãos no Convênio ou para assumir obrigações em nome próprio. Contrapartida É a parcela da participação do Convenente na consecução do objeto do Convênio, que poderá ser concretizada mediante o aporte de recursos financeiros ou alocação de bens, materiais e serviços que possam ser mensuráveis. ATIVIDADE 01 Nesse módulo nossa proposta de atividades possui como objetivo final, que você seja capaz de construir um projeto. Por isso, ao longo das atividades gostaríamos de estimular sua capacidade de refletir sobre a sua realidade e sobre as demandas que nela se apresentam. Além disso, nosso objetivo é que você seja capaz de identificar quais questões relativas às políticas públicas relacionam-se com as demandas que você identificou na realidade onde está inserido (comunidade, instituição, corporação). Pesquise editais - em vigência ou finalizados - que tenham a ver com sua área de atuação e desenvolva o que solicitamos a seguir: Identifique seu objetivo, critérios de elegibilidade e avaliação e o cronograma estipulado para todo o processo de elaboração, procedimento e prazos para envio e aprovação das propostas. Em seguida, elabore, em até dez linhas, um argumento que justifique seu ingresso no certame (por que posso participar?) e qual seu objetivo principal (o que espero alcançar?). RESPOSTA COMENTADA Nesta atividade o aluno poderá aproveitar os links disponibilizados nas figuras acima para localizar editais de financiamento de projetos. Encontrados estes editais ele deverá apresentar um breve texto que justifique a possibilidade de apresentação de um projeto que ele pretende realizar, de acordo com o edital. 22 A seguir, apresento um exemplo de um projeto resumido que poderá orientar a escrita e os pontos a serem identificados nos editais pesquisados: Exemplo de resumo de projeto apresentado para União Européia que dispunha de um edital de financiamento disponível para projetos sobre violência contra mulher: Designação da ação: Mulheres e UPPs: Violência Doméstica e Familiar contra as Mulheres em Comunidades com Unidades de Polícia Pacificadora/UPP. Localização da ação- indicar as região(ões), zona(s), cidade(s) que irão beneficiar da ação Rio de Janeiro, município do Rio de Janeiro nas 19 comunidades onde encontram-se instaladas as unidades de polícia pacificadora. Duração total da ação (meses): 36 meses Montante da contribuição UE solicitada 400 mil euros Objetivos da ação Promover a inserção das mulheres nos debate sobre o modelo das Unidades de Polícia Pacificadora/UPP na cidade do Rio de Janeiro. Capacitá-las em pesquisadoras sociais. Realizar um diagnóstico que retrate a realidade da violência doméstica e familiar contra as mulheres nestas comunidades. Avaliar e contribuir para a atuação qualificada dos/as policiais nestas ocorrências. Grupo(s)-alvo Mulheres moradoras e mulheres lideranças comunitárias das 19 comunidades em que o modelo de policiamento encontra- se instalado. Beneficiários finais Toda a população destas comunidades, em especial as mulheres que nelas vivem. Resultados esperados Construção de uma politica de segurança pública com perspectiva de gênero, empoderamento das mulheres, formação das mulheres e melhoria de sua condição de vida nas comunidades. Atividades principais Promoção de espaços de diálogos entre as mulheres e os profissionais da segurança pública, capacitação das mulheres em pesquisadoras, realização de diagnóstico, contribuição para a formação de policiais. 23 ATIVIDADE 02 Nos textos a seguir você encontra pequenas contextualizações sobre dois tipos de violência: relacionada à juventude e as mulheres (a chamada violência de gênero). Faça a leitura dos dois textos e escolha um deles para realização desta atividade. Contexto 1: Juventude e Segurança Sem dúvida, os jovens representam o grupo socialmais vulnerável tanto em termos de dificuldades de acesso ao emprego e à cidadania, quanto em termos de vitimização à violência. Os jovens têm uma presença significativa nas estatísticas de mortalidade por causas externas, particularmente morte provocada pela violência. Eles compõem um grupo muito vulnerável em relação ao contato prematuro com organizações criminosas, com o cigarro, a bebida alcoólica e as drogas. Os jovens também têm uma importante participação em situação que envolvem acidentes de trânsito e parcela importante deles está fora do ensino público. Não bastasse esse quadro, os jovens, sobretudo os moradores das periferias das nossas cidades, são eleitos como alvo preferencial para a ação policial, sendo assim, vítimas da violência policial e de maus-tratos dentro do sistema socioeducativo. Nesse sentido, é urgente que as políticas de segurança pública concebam projetos e ações voltados para a inclusão dos jovens. Essa inclusão pode ser contemplada através de inúmeras iniciativas, muitas das quais já estão sendo colocadas em prática. (Fonte: http://observatoriodeseguranca.org/seguranca/juventude) Contexto 2: Gênero e Segurança (...) Três em cinco jovens brasileiras já sofreram violência em relacionamentos, aponta pesquisa realizada pelo Instituto Avon em parceria com o Data Popular. A situação é ainda mais preocupante quando se leva em conta que 91% dos entrevistados em 2013 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) concordam com a frase “Homem que bate na esposa tem que ir para a cadeia”. Além disso, o país tem uma das leis mais avançadas do mundo contra a violência de gênero, a Maria da Penha, em vigor há oito anos e meio. E esta http://observatoriodeseguranca.org/seguranca/juventude) 24 semana aprovou uma lei que transforma o feminicídio em crime hediondo, com penas de até 30 anos de cadeia. Aproximar o discurso da prática, no entanto, dá trabalho. E requer iniciativas que permitam às mulheres reconhecer que estão sofrendo violência e perder a vergonha de procurar ajuda. (...) (Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/03/16/politica/1426518283_927652.html) Após a escolha de um dos temas, responda os itens a seguir: Pesquisando financiadores Você deverá buscar chamadas (EDITAIS) públicos ou privados dispostos a financiar projetos relacionados a temática por você escolhida. Você deverá indicar aqui o link para o edital ou anexar o arquivo relativo ao mesmo. Encontrou um edital ? Que ótimo !! Agora gostaríamos que você localizasse no edital e desenvolvesse aqui neste espaço, de acordo com as exigências do edital qual seria o objetivo geral e específico do seu projeto, bem como, as ações e produtos que você pretende desenvolver. Neste exercício, gostaríamos que você exercitasse sua capacidade de busca por fontes de financiamento e, também, correlação entre as exigências dos editais e os elementos constitutivos de um projeto. RESPOSTA COMENTADA As respostas aqui serão distintas, de acordo com os editais pesquisados. Os alunos poderão utilizar com referencia os links indicados acima como exemplos de editais. http://brasil.elpais.com/brasil/2015/03/16/politica/1426518283_927652.html) 25 5. CONCLUSÃO Por tudo que vimos aqui, a orientação prática que devemos observar para realizar uma leitura produtiva de um edital bem estruturado. Essa leitura poderá fornecer informações valiosas para a formulação do projeto e a consequente redação de sua proposta. Por isso, a leitura deverá reconhecer as relações existentes entre os elemento do edital e os que estruturam um projeto assenta- se em reconhecer as relações existentes entre os elementos constitutivos do edital e os elementos básicos de concepção de um projeto. Ao analisar um edital você não poderá deixar de observar: • O objeto do edital, que guarda relação de correspondência com o objetivo superior para o qual o projeto a ser proposto deve contribuir. • A definição dos projetos que se enquadram no edital, que informa sobre quais os possíveis objetivos específicos a serem formulados e trabalhados pelo projeto a ser proposto. • A explicitação de produtos esperados, que indica quais resultados devem ser obtidos com a implementação do projeto, e ajuda na construção dos objetivos específicos do projeto, já que a estes devem podem ser associados os resultados que foram indicados como produtos esperados. • Prazo máximo para a realização do projeto, que fornece um parâmetro geral a ser adotado para a elaboração do cronograma de execução do projeto. • Valor total financiável, que indica a exigência de contrapartidas e a definição de itens de despesa financiáveis e não-financiáveis, fornecendo subsídios a serem para a elaboração do orçamento do projeto. 26 RESUMO Uma das formas de obtenção de financiamento para projetos se dá através dos financiamentos que são concedidos para as políticas públicas induzidas. Ou seja, através do apoio governamental. A leitura do edital deverá os elementos e aspectos que orientam a construção de um bom projeto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Cartilha sobre convênios e outros instrumentos: aplicação a lei de inovação (Elaborada com base no Parecer 004/2010/JCB/CJU- SJC/CGU/AGU). Rocha Furtado. Curso de Direito Administrativo. Belo Horizonte: Editora Fórum. Ano 2007, p. 348-351). O EDITAL é um mecanismo através do qual a administração pública anuncia e cria critérios para a seleção de um contrato ou serviço para atender suas necessidades. É o mecanismo usado, também, para selecionar projetos de interesse governamental para implementação do que chamamos aqui das políticas públicas induzidas.
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