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Aula10 - Política Criminal_ Lei e Ordem e Tolerância Zero

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1
Curso	Ênfase	©	2018
CRIMINOLOGIA	–	DANIELA	PORTUGAL
AULA10	-	POLÍT ICA	CRIMINAL:	LEI	E	ORDEM	E	TOLERÂNCIA	ZERO
1.	CONTROLE	SOCIAL
1.1.		MOVIMENTO	DE	T OLERÂNCIA	ZERO
No	 final	da	década	de	60,	psicólogos	americanos	 resolveram	dar	 início	a	uma	curiosa
experiência.	Deixaram	dois	automóveis	idênticos	abandonados	em	bairros	diferentes	do	Estado
de	 Nova	 York,	 um	 em	 um	 bairro	 nobre	 e	 outro	 na	 periferia	 e	 o	 resultado	 não	 poderia	 ser
diferente.	O	carro	que	estava	na	periferia	foi	rapidamente	depredado,	roubado	e	as	peças	que
não	serviam	para	venda	foram	destruídas.	O	carro	que	estava	na	are	nobre	permaneceu	intacto.
Isto	os	pesquisadores	já	poderiam	prever.	Com	isso,	prosseguiram	quebrando	as	janelas	do	carro
que	estava	abandonado	no	bairro	rico	e	o	resultado	foi	o	mesmo	que	aconteceu	na	periferia:	o
carro	 passou	 a	 ser	 objeto	 de	 furto	 e	 destruição.	 Com	 isso,	 chegaram	 a	 conclusão	 os
pesquisadores,	precipitadamente	(talvez	intencionalmente),	a	concussão	de	que	o	problema	da
criminalidade	 não	 estava	 na	 pobreza,	 e	 sim	 no	 desenvolvimento	 das	 relações	 sociais	 e	 da
natureza	humana.	(MONTINEGRO	2015)
	
Nos	 termos	 da	 narrativa	 acima,	 esta	 é	 a	 linha	 pensamento	 que	 se	 coloca	 na
teoria	das	janelas	quebradas:	a	criminalidade	não	está	relacionada	à	pobreza,	mas	sim
à	 desordem.	 Por	 isso,	 a	 criminalidade	 poderia	 ser	 percebida	 e	 observada	 tanto	 no
bairro	 da	 periferia	 como	 no	 bairro	 de	 classe	 alta,	 desde	 que	 as	 janelas	 do	 veículo
estivessem	 quebradas.	 Este	 fato	 encorajaria	 a	 prática	 de	 uma	 criminalidade	 mais
gravosa.
As	 bases	 teóricas	 dessa	 contestação	 vieram	 com	 a	 Teoria	 das	 Janelas	 Quebradas,
desenvolvida	na	escola	de	Chicago	por	James	Q.	Wilson	e	George	Kelling.	Explica	que	se	uma
janela	de	um	edifício	for	quebrada	e	não	for	reparada,	a	tendência	é	que	os	vândalos	passem	a
arremessar	pedras	nas	outras	janelas	e	posteriormente	passem	a	ocupar	o	edifício	e	destruí-lo,
o	que	quer	dizer	que	a	desordem	gera	desordem,	que	um	comportamento	antissocial	pode	dar
origem	 a	 vários	 delitos.	 Por	 isso,	 qualquer	 ato	 desordeiro,	 por	 mais	 insignificante,	 deve	 ser
reprimido.”	(MONTINEGRO,	2015).
Conforme	 visto,	 este	 pensamento	 exarado	 acima	 será	 utilizado	 como	 política
pública	na	década	de	90	nos	Estados	Unidos,	mais	especificamente	no	Estado	de	Nova
York:
Crim inologia	–	Daniela	Portugal
Aula10	-	Polít ica	Crim inal:	Lei	e	Ordem	e	Tolerância	Zero
2
Curso	Ênfase	©	2018
Em	julho	de	1994,	o	prefeito	recém-eleito	de	Nova	York,	Rudolf	Giuliani,	e	seu	chefe	de
polícia,	William	Bratton,	começaram	a	 implantar	uma	estratégia	de	policiamento	baseada	na
manutenção	 da	 ordem,	 enfatizando	 o	 combate	 ativo	 e	 agressivo	 de	 pequenas	 infrações	 –	 a
grande	maioria,	quanto	muito,	meros	atos	desviantes,	como	estudado	na	criminologia	–	contra
a	 qualidade	 de	 vida,	 como	 pichação,	 urinar	 nas	 ruas,	 beber	 em	 público,	 catar	 papel,
mendicância	e	prostituição,	política	que	ficou	conhecida	como	a	iniciativa	de	qualidade	de	vida
(quality	of	 life	 iniciative),	 foi	baseada	nos	escritos	e	estudos	de	 James	Q.	Wilson	e	George	L.
Kelling”	(COUTINHO;	CARVALHO,	2015).
Vale	destacar	que	teremos	aqui	uma	nova	política	criminal	pautada	justamente
na	 repressão	 severa,	 tanto	 de	 condutas	 menos	 nocivas,	 quanto	 de	 condutas	 mais
gravosas.
Tal	 política,	 quando	 passa	 a	 ser	 implementada	 nos	 Estados	 Unidos,	 em	 um
primeiro	momento	 gera	 como	 impacto	 uma	 redução	 dos	 índices	 de	 criminalidade	 e
por	consequência,	forte	aceitação	social.	Esta	redução	dos	índices	de	criminalidade	é
muito	 explorada	 midiaticamente	 no	 sentido	 de	 fortalecer	 a	 adesão	 social	 a	 esta
política	criminal.
Segundo	a	análise	crítica	de	Wacquant,	dentro	deste	mesmo	processo	existe	um
investimento	 financeiro	 muito	 grande	 com	 policiamento	 ostensivo	 nas	 ruas	 e	 com
iluminação	pública.	Esta,	sim,	seria	a	ação	responsável,	por	exemplo,	pela	redução	do
número	de	roubos,	e	não	a	criminalização	em	si	destas	infrações	menos	gravosas.
Outro	ponto	que	será	observado	por	este	autor	é	que	esta	redução	do	número
de	 roubos	 e	 de	 crimes	 mais	 gravosos	 se	 dá	 apenas	 em	 um	 primeiro	 momento.	 O
sistema	 entra	 facilmente	 em	 colapso,	 uma	 vez	 que	 se	 passa	 a	 ter	 uma	 inflação	 do
sistema	 prisional,	 gerando	 uma	 nova	 elevação	 das	 estatísticas	 relacionadas	 a	 esta
criminalidade.
Por	fim,	vamos	analisar	o	que	teria	sido	agregado,	em	termos	de	conhecimento,
esta	teoria	das	janelas	quebradas	e	a	implementação	da	política	de	tolerância	zero:
Assim,	 a	 base	 de	 tal	 política	 é	 o	 policiamento	 comunitário,	 que	 vem	 acrescido	 de
fiscalização	ativa	e	 Tolerância	Zero;	 todas	 idéias	que	 têm	como	mentor	 intelectual	 a	 Escola
(Princípio	Ecológico	da	Sucessão),	formada	por	Guido	Calabresi,	Ronald	Coase,	Richard	Posner	e
outros,	nas	décadas	de	60	e	70,	a	qual	se	 fundamenta	nas	normas	sociais,	muito	próximo	do
pensamento	 de	 Emile	 Durkheim	 (Teoria	 da	 Anomia),	 em	 especial	 nas	 significações	 sociais
capazes	de	alterar	a	sociedade	em	si.”	(COUTINO;	CARVALHO,	2015)
Crim inologia	–	Daniela	Portugal
Aula10	-	Polít ica	Crim inal:	Lei	e	Ordem	e	Tolerância	Zero
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Curso	Ênfase	©	2018
A	antiga	Escola	de	Chicago	associava	a	criminalidade	à	pobreza,	preceituando
pela	teoria	ecológica	e	pelo	princípio	da	sucessão,	que	a	criminalidade	se	concentrava
nos	 bairros	 mais	 pobres,	 tendo	 sua	 origem,	 de	 alguma	 maneira,	 relacionada	 à
condição	social	da	pessoa.
Neste	 sentido,	 a	 antiga	 Escola	 de	 Chicago	 é	 substituída	 pela	 nova	 Escola	 de
Chicago	que,	 por	 sua	 vez,	 é	 influenciada	pela	 teoria	 das	 janelas	 quebradas,	 visando
desassociar	crime	de	pobreza,	uma	vez	que	ele	estaria	associado	à	desordem.
Assim	 sendo,	 fechamos	 a	 análise	 das	 políticas	 de	 direito	 penal	 máximo,
abordando	 a	 Lei	 e	 Ordem	 e	 a	 Tolerância	 Zero,	 bem	 como	 da	 implementação	 nos
Estados	Unidos.
No	Brasil,	podemos	observar	a	aplicação	de	tal	vertente	de	controle	social	na	Lei
de	 Contravenções	 Penais,	 que	 se	 relaciona	 intimamente	 com	 a	 mentalidade	 de
repressão	 criminal	 de	 condutas	 de	 baixa	 lesividade,	 bem	 como	 podemos	 identificar,
como	uma	expressão	de	lei	e	ordem,	a	lei	de	crimes	hediondos,	a	lei	de	drogas,	além
de	outras	normas	que	carregam	a	ideia	de	direito	penal	máximo.

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