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DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 1 OS: 0093/2/19-Gil CONCURSO: ÍNDICE: 1 – Introdução ao Direito Civil...........................................................................................................01 2 – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.....................................................................02 3 – PARTE GERAL. Da Pessoa natural. Personalidade Jurídica. Capacidade.....................................07 4 – PARTE GERAL. Da Pessoa Natural. Ausência. Término da Personalidade Jurídica. Domicílio. Pessoa Jurídica............................................................................................................14 5 – Bens..............................................................................................................................................25 6 – Fatos e Atos Jurídicos...................................................................................................................40 7 – Negócio Jurídico...........................................................................................................................44 8 – Prescrição e Decadência...............................................................................................................61 9 – Dos Contratos em Geral...............................................................................................................69 9.1 – Contratos em Espécie.....................................................................................................69 9.2 – Compra e Venda.............................................................................................................69 9.3 – Troca ou Permuta (Art. 533 CC).....................................................................................73 9.4 – Contratos Estimatório (Arts. 534 a 537 CC)...................................................................74 9.5 – Doação (Arts. 538 a 564 CC)...........................................................................................74 9.6 – Locação (Arts. 565 a 578, 593 a 626 CC)........................................................................77 9.7 – Prestação de Serviço (Arts. 593 a 609 CC).....................................................................83 9.8 – Empreitada (Arts. 610 a 626 CC)....................................................................................84 9.9 – Empréstimo (Arts. 579 a 592 CC)...................................................................................86 9.10– Depósito (Arts. 627 a 652 CC)........................................................................................88 9.11– Mandato (Arts. 653 a 709 CC)........................................................................................89 9.12 – Fiança (Arts. 818 a 839 CC).............................................................................................94 9.13 – Aval.................................................................................................................................97 10 – Direitos Reais................................................................................................................................97 1 – INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL O conceito de Direito Civil passou por uma evolução histórica. Esse termo foi uma herança do Direito Romano. Os romanos chamavam de Direito Civil – Ius Civile – todo o Direito que regulava a sociedade romana. Direito Civil significava Direito da Cidade de Roma aplicado aos cidadãos romanos. Estes não faziam distinções entre os ramos do Direito. Para eles, o Direito Penal, Processual, Administrativo, Comercial etc., tudo era chamado de Direito Civil, que regia a vida dos cidadãos independentes, abrangendo todo o direito vigente. Podemos concluir assim: Direito Civil, para os romanos, era como o Direito Brasileiro para nós: todo o direito vigente no Brasil. Atualmente o Direito Civil disciplina a atividade dos particulares em geral. Rege as relações familiares, patrimoniais e obrigacionais entre os indivíduos. Tem no Código Civil a sua lei fundamental, que se desdobra numa Parte Geral e numa Parte Especial. Mas há muita legislação especial que também integra o Direito Civil. Ex.: Lei do Inquilinato, de Condomínio, União Estável etc. – são as chamadas leis extravagantes. Como já relatado acima, o atual Código Civil (Lei 10.406/02), contém duas partes. Vamos ver com atenção o conteúdo de cada uma dessas partes: A) GERAL - apresenta normas concernentes às pessoas físicas e jurídicas (arts. 1º a 69), domicílio (arts. 70 a 78), aos bens (arts. 79 a 103), e aos fatos jurídicos: disposições preliminares, negócio jurídico, atos jurídicos lícitos, atos ilícitos, prescrição e decadência e prova (arts. 104 a 232). B) ESPECIAL - Apresenta normas atinentes ao direito das obrigações (poder de constituir relações obrigacionais para a consecução de fins econômicos ou civis-contratos, declaração unilateral de vontade e atos ilícitos - arts. 233 a 965); ao direito de empresa (regendo o empresário, a sociedade, estabelecimento – arts. 966 a 1.195); ao direito das coisas (posse, propriedade, direitos reais sobre coisas alheias, de gozo, de garantia e de aquisição - arts. 1.196 a 1.510); ao direito de família (casamento, relações entre cônjuges, parentesco e proteção aos menores e incapazes - arts. 1.511 a 1.783); e ao direito das sucessões (norma sobre a transferência de bens por força de herança e sobre inventário e partilha - arts. 1.784 a 2.027 Contém ainda um Livro Complementar (disposições finas e transitórias – arts. 2.028 a 2.046). Baseado, portanto, em tudo que foi dito, podemos definir Direito Civil como sendo o ramo do Direito Privado destinado a reger as relações familiares, patrimoniais e obrigacionais que se formam entre indivíduos encarados como tais, ou seja, enquanto membros da sociedade. DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 2 OS: 0093/2/19-Gil 2 – LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO É sabido por todos que desde 2.003 entrou em vigor o novo Código Civil. É a Lei 10.406/02. Ela foi publicada em 2.002, mas só entrou em vigor no ano seguinte. Vamos ver isso melhor logo adiante, porque esse fenômeno tem um nome - vacatio legis. Mas antes disso já vigorava também uma lei conhecida como Lei de Introdução ao Código Civil, ou, simplesmente, L.I.C.C. que é o Decreto Lei 4.657/42. As perguntas que poderiam ser feitas agora, são: o novo Código Civil revogou a antiga LICC? Ou ele incorporou a LICC em seu texto? Ou a LICC continua a vigorar normalmente? A resposta é essa última alternativa, ou seja, a antiga LICC continua a vigorar normalmente. Conclusão: o novo Código Civil não revogou a LICC. O Decreto-lei nº 4.657/42, também chamado de Lei de Introdução ao Código Civil, é um conjunto de normas sobre normas, isto porque disciplina as próprias normas jurídicas, prescrevendo-lhes a maneira de aplicação e entendimento, predeterminando as fontes e indicando-lhes as dimensões espaço-temporais. Logo, esta “lei” ultrapassa o âmbito do Direito Civil, atingindo tanto o direito privado quanto o público. Contém, portanto, normas de sobredireito. É, na verdade, um código de normas. É considerada uma lei de introdução às leis por conter princípios gerais sobre as normas sem qualquer discriminação, indicando como aplicá-las, determinando vigência, eficácia, interpretação e integração. Traça, ainda, regras de direito internacionalprivado, conforme tratados e convenções assinados pelo Brasil. Continua em vigor, a despeito do novo Código Civil, em toda a sua plenitude. A LICC se aplica ao Direito Comercial? E ao Direito Administrativo? E ao Tributário? Sim, ela se aplica a todo o ordenamento jurídico. Porém cada ramo do direito tem suas próprias peculiaridades, que devem ser respeitadas. Aponto, como exemplo, que a LICC se aplica ao Direito Penal, respeitando-se, no entanto, as suas regras próprias. Veremos logo adiante que pela LICC, uma lei somente poderá retroagir se não prejudicar o Direito Adquirido, o Ato Jurídico Perfeito e a Coisa Julgada. Isto também se aplica ao Direito Penal. Porém esta matéria tem mais um dispositivo peculiar: a lei somente retroage no Direito Penal para favorecer o réu e nunca para prejudicá-lo. Portanto, a LICC é básica para todas as matérias. Mas, se cada matéria deverá respeitar a LICC, deverá, também, observar suas próprias regras, distinguindo-as, portanto, das outras matérias. Exatamente devido a esta aplicação da LICC a todo e qualquer ramo do direito infraconstitucional é que havia várias críticas a denominação LICC, devido o seu sentido restritivo. Assim, a Lei nº 12.376/2010 passou a denominá- la Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB). A partir daqui, tudo que irá ser falado se aplicará integralmente ao Direito Civil. Nosso objetivo é o Direito Civil. Até porque a LINDB se refere mais ao Direito Civil do que às outras matérias. No entanto o que estou a dizer pode se aplicar a outras matérias também, respeitadas as suas peculiaridades, que serão melhor explicadas pelos professores de cada matéria. Quais são as fontes de Direito para a nossa matéria? “Fontes do Direito” é uma expressão figurada. Em sentido comum, fonte é o ponto em que surge um veio d’água. Em sentido técnico é o meio pelo qual se estabelecem as normas jurídicas. As mais importantes são: Fontes Diretas (formais ou imediatas) - formadas pela lei, pela analogia, pelos costumes e pelos princípios gerais de direito. Todos esses itens, por si só, são capazes de gerar a regra jurídica. A lei é a principal fonte de direito. As demais são acessórias. Mas nem por isso são menos importantes, especialmente para fins de concurso Fontes Indiretas (não formais ou mediatas) - formadas pela doutrina e jurisprudência. Não geram, por si só, a regra jurídica, mas contribuem para que seja elaborada. Para começar, vamos falar das Indiretas. Doutrina é a interpretação da lei feita pelos estudiosos da matéria. Forma-se doutrina por meio dos pareceres dos jurisconsultos, dos ensinamentos dos professores, das opiniões dos tratadistas e dos trabalhos forenses. Jurisprudência é a interpretação da lei feita pelos juízes em suas decisões. Como fonte do direito podemos dizer que a jurisprudência é o conjunto uniforme e constante das decisões judiciais sobre casos semelhantes. “Uma andorinha não faz verão” e, da mesma maneira, uma decisão solitária não constitui jurisprudência; é necessário que as decisões se repitam e sem variações de fundo. Falaremos, agora sobre as Diretas, que são mais complexas e exigem um estudo mais aprofundado: 1 – Costume - No direito antigo, o costume desfrutava de larga projeção, devido à escassa função legislativa e ao número limitado de leis escritas. Ainda hoje, nos países de direito costumeiro (ou direito consuetudinário), como na Inglaterra, ele exerce papel importante como fonte do direito. No direito moderno, de um modo geral, o costume foi perdendo paulatinamente sua importância. Costume é a reiteração constante de uma conduta, na convicção de ser a mesma obrigatória. Apesar de ter pouca aplicabilidade prática, o costume tem caído em concursos, daí a sua importância. Em relação à lei, o costume pode ser classificado: a) Segundo a lei (secundum legem) - quando a lei se reporta expressamente aos costumes e reconhece a sua obrigatoriedade (ex.: artigo 569, II, do C.C.: “O locatário é obrigado: a pagar pontualmente o aluguel nos prazos DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 3 OS: 0093/2/19-Gil ajustados e, em falta do ajuste, segundo o costume do lugar”). Observe que a própria lei é que determina a aplicação do costume. b) Na falta da lei (praeter legem) - tem caráter supletivo; a lei deixa lacunas que são preenchidas pelo costume. Não há lei regendo determinado assunto! O que faço? Deixo de fazer algo por falta de previsão legal? Não! Aplico o costume. Lembre-se que também o Juiz não pode deixar de decidir uma causa com o argumento de que não há previsão legal. Nesse caso deve ao menos tentar aplicar o costume na falta da lei. Mas depois veremos que também há outras formas de se integrar a norma jurídica. c) Contra a lei (contra legem) - quando contraria o que dispõe a lei. Pode ocorrer em dois casos: no desuso da lei (esta passa a ser letra morta); ou quando o costume cria nova regra contrária à lei. Os costumes segundo a lei e na falta da lei são aceitos pacificamente por todos. Já o costume contra a lei tem gerado inúmeras discussões, sendo que a corrente majoritária não o aceita. 2 – Lei – A lei pode ser definida de vários modos. Como vocês estão observando, nosso material é objetivo, direcionado para concursos públicos. Por isso evitam-se longas citações de autores e intermináveis discussões doutrinárias. O importante para todos nós é o que tem caído ultimamente nos concursos. No entanto em algumas raras ocasiões precisamos citar alguns doutrinadores. Nesse caso, para conceituar lei adotamos o conceito da Professora Maria Helena Diniz: “a norma imposta pelo Estado e tornada obrigatória na sua observância, assumindo forma coativa”. “A norma jurídica é um imperativo autorizante”. Nas sociedades modernas, a lei é indiscutivelmente a mais importante das fontes da ordem jurídica. Vejam o diz nossa Constituição Federal: “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (artigo 5º, inciso II). E o artigo 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro determina que somente quando a lei for omissa é que se aplicarão as demais formas de expressão de direito. Elaborou-se uma classificação das leis, baseada na melhor e mais atualizada doutrina. A classificação que daremos a seguir ajuda o aluno a entender diversas palavras que têm caído nos concursos. Já vi cair em alguns testes, logo no enunciado da questão, o seguinte: “Nossa lei adjetiva prescreve ......” O que é uma lei adjetiva? E substantiva? A resposta está adiante. A) Quanto à Obrigatoriedade: Cogentes - de ordem pública, impositivas, de aplicação obrigatória; não podem ser ignoradas pela vontade dos interessados. Dispositivas - de ordem particular; permitem às partes estipular o que quiserem. B) Quanto à Natureza: Substantivas (ou materiais) - tratam do direito material (ex.: Código Civil, Código Penal, Código Comercial, etc.). Adjetivas (ou formais, ou processuais) - traçam os meios para a realização do direito. (ex.: Código de Processo Civil, Código de Processo Penal, etc.). C) Quanto à Hierarquia (nesse ponto aconselhamos o aluno a ler a Constituição Federal no tópico “espécies normativas”; nosso objetivo agora é apenas relembrar as espécies de lei, em sentido amplo): Constitucionais - constantes na Constituição; é a lei máxima de nosso País. Emendas à Constituição - nossa Constituição permite sua reforma por meio de emendas, que são leis que modificam parcialmente a Constituição. A proposta deve ser discutida e votada em cada Casa do Congresso, em dois turnos cada. Considera-se aprovada se obtiver em todas as votações três quintos dos votos dos respectivos membros. Complementares -matérias especiais, estipuladas na própria Constituição, para melhor regulamentar determinado assunto; possui quorum especial para aprovação (maioria absoluta - metade mais um dos votos das duas Casas do Congresso). Ordinárias - leis comuns, elaboradas pelo Poder Legislativo (Congresso Nacional - Federal; Assembleia Legislativa - Estadual; Câmara dos Vereadores - Municipal). A aprovação se dá por maioria simples ou relativa, abrangendo apenas os presentes à votação. Delegadas - elaboradas com autorização expressa do Legislativo. Podem ser internas (o encargo é atribuído a uma comissão do próprio Poder Legislativo) ou externas (atribui-se ao chefe do Executivo a elaboração da lei). Medidas Provisórias – também têm a mesma posição hierárquica das leis ordinárias. São normas com força de lei, baixadas pelo Presidente da República, em caso de relevância e urgência. Devem ser submetidas de imediato ao Congresso Nacional. Decretos Legislativos - são normas promulgadas pelo Poder Legislativo sobre assuntos de sua competência (ex.: autorização de referendo ou convocação de plebiscito). Resoluções - são normas expedidas pelo Poder Legislativo, destinadas a regular matéria de sua competência, de caráter administrativo ou político. Toda norma jurídica tem um âmbito temporal, espacial, material e pessoal, dentro dos quais ela tem vigência ou validade. É o que se chama de “limites ao campo de aplicação das normas jurídicas”. Quanto à vigência, vamos analisar as leis sob duas óticas: Temporal e Territorial. DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 4 OS: 0093/2/19-Gil I - VIGÊNCIA DAS LEIS NO TEMPO As leis nascem, modificam-se e morrem. A lei é levada ao conhecimento de todos por meio de sua publicação no Diário Oficial. Orientando a aplicação das leis, temos dois princípios informadores da eficácia: Princípio da Obrigatoriedade das Leis – uma vez em vigor a lei é obrigatória para todos os seus destinatários, sem qualquer distinção. Publicada a lei, ninguém se escusa de cumpri-la alegando que não a conhece (art. 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – L.I.N.D.B). Tal dispositivo visa garantir a eficácia da ordem jurídica que ficaria comprometida se fosse admitida a alegação de ignorância de lei em vigor. O erro de direito (alegação de desconhecimento da lei) só pode ser invocado em raríssimas ocasiões e quando não houver o objetivo de furtar-se o agente ao cumprimento da lei. Princípio da Continuidade das Leis – a partir da vigência a lei tem eficácia contínua, até que outra a revogue. O desuso não faz com que a lei perca sua eficácia. Início da Obrigatoriedade das Leis - as leis, de uma forma geral, passam por cinco fases: iniciativa, discussão e aprovação, sanção ou veto, promulgação e publicação. A força obrigatória de uma lei está condicionada a sua vigência, ou seja, ao dia em que realmente começa a vigorar. Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar, em todo o país, quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada (artigo 1º da LINDB) Esse princípio não é absoluto porque quase todas as leis contêm em seu texto disposição prescrevendo sua entrada em vigor na data da respectiva publicação. Quando não houver disposição da data em que a lei entrará em vigor (omissão proposital da lei), aí, sim, ela entrará em vigor em quarenta e cinco dias após a publicação. O espaço compreendido entre a publicação da lei e sua entrada em vigor denomina-se vacatio legis. Geralmente este prazo é estabelecido para melhor divulgação dos textos legais. Enquanto não transcorrido esse período, a lei nova não tem força obrigatória, mesmo já publicada. Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada (artigo 1º, § 1º da LINDB). Em geral, quando cuida de atribuição de embaixadores, cônsules etc. Cuidado: no estrangeiro 3 meses (e não 90 dias como às vezes eu vejo cair em concursos, como uma forma de “pegadinha”). Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto destinada à correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação (artigo 1º, § 3º). As correções a texto de lei em vigor consideram-se lei nova (artigo 1º, §4º), sujeita, naturalmente, aos prazos normais das demais leis. O prazo de vacatio legis conta-se incluindo-se o dia do começo – o dia da publicação - e também do último dia do prazo - dia do vencimento (art. 8º, §1º da Lei Complementar nº 95/98, modificado pela L.C. nº 107/01). Fim da obrigatoriedade das leis - não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou a revogue. De fato, algumas leis são expedidas com prazo de duração (ex.: racionamento de combustível durante uma guerra). Contudo, não se fixando um prazo, prolonga-se a obrigatoriedade até que a lei seja modificada ou revogada por outra. Revogar é tornar sem efeito uma lei ou qualquer outra norma jurídica. A revogação pode ser: • total (ou ab-rogação) – consiste em tornar sem efeito toda a lei ou norma anterior. • parcial (ou derrogação) - quando torna sem efeito uma parte da lei ou norma. Lógico que o aluno sabe o que é uma revogação total ou parcial. Mas o examinador prefere usar as expressões ab-rogação e derrogação, pois estas não são do nosso cotidiano. Os examinadores de concursos públicos gostam muito de pedir sinônimos nas provas. Portanto, sempre que possível irei mencionar sinônimos de uma palavra. Mesmo correndo o risco de ser repetitivo. Mas é melhor ser repetitivo e fazer com que o aluno grave a matéria e fornecer o máximo de conceitos possível, do que omitir determinado ponto. Já caiu em um concurso, de forma resumida: o que o novo Código Civil fez em relação ao Código Comercial? Derrogou ou Ab-rogou? Resposta. O Código Civil derrogou, isto porque o artigo 2045 diz que foi revogada a Parte Primeira do C. Comercial. Em que pese o C. Comercial estar todo ultrapassado, o C. Civil apenas revogou sua parte primeira. Portanto derrogação. A revogação ainda pode ser: • expressa - quando a lei nova taxativamente declara revogada a lei anterior; ela diz expressamente o que está revogando. • tácita - quando a lei posterior é incompatível com a anterior e não há disposição expressa no texto novo indicando a lei que foi revogada ou quando a lei posterior tratar integralmente da matéria tratada na lei anterior. Observação - quando uma lei se torna incompatível com a mudança havida na Constituição, chamamos de “não-recepção da lei pela nova ordem constitucional”. Repristinação – Essa “palavrinha” é muito importante nos concursos. Tem caído bastante. Tanto no D. DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 5 OS: 0093/2/19-Gil Civil como no Constitucional. Repristinar significa restituir ao valor, caráter ou estado primitivo. Na ordem jurídica repristinação é o restabelecimento da eficácia de uma lei anteriormente revogada. Preceitua o artigo 2º, §3º da Lei de Introdução ao Código Civil que a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência, salvo disposição em contrário. Ex.: Se a lei “A” é revogada pela lei “B” e posteriormente a lei “B” é revogada pela lei “C”, não se restabelece a vigência da lei “A”. No Brasil não há repristinação ou restauração automática da lei velha, se uma lei mais nova for revogada. Só haverá repristinação se a nova lei ressalvar expressamente que a lei velha retomaráeficácia. Conflito das Normas no Tempo – Esse tema é muito importante. Está em quase todos os editais que exigem a LINDB. Podem surgir conflitos quando uma norma é modificada por outra e já se haviam formado relações jurídicas na vigência da lei anterior. Qual norma deve ser aplicada? Para solucionar o conflito são usados dois critérios: a) disposições transitórias e b) princípio da irretroatividade das leis. Disposições Transitórias (ou direito intertemporal) - A lei, para evitar eventuais e futuros conflitos, em seu próprio corpo, geralmente ao final, pode estabelecer regras temporárias, destinadas a dirimir conflitos entre a nova lei e a antiga. Irretroatividade das Leis - Irretroativa é a lei que não se aplica às situações constituídas anteriormente. Etimologicamente retroatividade quer dizer atividade para trás. Juridicamente, podemos dizer que uma norma retroage quando ela vigora, não somente a partir de sua publicação, mas, ainda, regula certas situações jurídicas que vêm do passado. A lei é expedida para disciplinar fatos futuros, a partir de sua vigência. O passado escapa ao seu império. Sua vigência estende-se, como já se acentuou, desde o início de sua obrigatoriedade até o início da obrigatoriedade de outra lei que a derrogue. Há casos, porém, em que a lei nova retroage no passado, alcançando consequências jurídicas de fatos efetuados sob a égide de lei anterior. Em regra, deve prevalecer o princípio da irretroatividade; as leis não têm efeitos pretéritos; elas só valem para o futuro. O principal argumento favorável à irretroatividade da lei é a garantia dos direitos individuais e a segurança das relações jurídicas, diante da incerteza e dos riscos de alterações futuras. O artigo 5º, inciso XXXVI da Constituição Federal determina que “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Por via de consequência, a retroatividade das leis é exceção (ex.: a própria Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XL, assim dispõe: “A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”). Assim, uma lei que estabelece que determinada conduta não seja mais tipificada como crime, beneficiará todos os que por isso estiverem sendo processados. Entrando uma norma em vigor, tem ela efeito imediato e geral, respeitando: Ato Jurídico Perfeito - é o que já se consumou, segundo a norma vigente no tempo em que se efetuou (ex.: o contrato de locação celebrado durante a vigência de uma lei não pode ser alterado somente porque a lei mudou; é necessário que seu prazo termine). Direito Adquirido - é o que já se incorporou ao patrimônio e à personalidade de seu titular (ex.: pessoa que se aposenta e a lei modifica posteriormente o prazo de aposentadoria); o direito já foi conquistado, embora possa não ter sido ainda exercido. Coisa Julgada - é a decisão judicial de que já não caiba mais recurso (transitou em julgado). II - VIGÊNCIA DAS LEIS NO ESPAÇO Toda lei, em princípio, tem seu campo de aplicação limitado no espaço pelas fronteiras do Estado que a promulgou. Chama-se isso territorialidade da Lei. Esse espaço ou território, em sentido amplo, inclui as terras ou o território propriamente dito, as águas e a atmosfera territoriais. Os Estados modernos, contudo, admitem a aplicação, em determinadas circunstâncias, de leis estrangeiras, em seu território, no intuito de facilitar as relações internacionais. É essa uma consequência do crescente relacionamento entre homens da comunidade internacional. O Brasil adotou a teoria da Territorialidade, mas de forma moderada, também chamada de Territorialidade Temperada. Leis e sentenças estrangeiras podem ser aplicadas no Brasil, observadas as regras: • Não se aplicam leis, sentenças ou atos estrangeiros no Brasil quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. • Não se cumprirá sentença estrangeira no Brasil sem exequatur (“cumpra-se”), ou seja, a permissão dada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) para que a sentença tenha efeitos. Território é a extensão geográfica ocupada por uma nação e sobre a qual o Estado exerce sua soberania. Fala-se em território real e ficto. O território real compreende: todo o solo ocupado pela nação, inclusive de ilhas que lhe pertencem, os rios, os lagos e os mares interiores, os golfos, as baías e os portos, a faixa de mar exterior que banha as suas costas, o espaço aéreo correspondente, etc. Já como exemplo de território ficto (ficção jurídica) citamos as embaixadas, que estando em países estrangeiros, são considerados território nacional. DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 6 OS: 0093/2/19-Gil III - INTERPRETAÇÃO DAS LEIS Uma lei, mesmo sendo presumivelmente clara, deve ser interpretada a fim de que o intérprete, a pesquisar o verdadeiro sentido que o legislador realmente quis dar ou estatuir. Trata-se da mens legis (ou intenção da lei). Daí surge a hermenêutica, que é a teoria científica da arte de interpretar, descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica. O art. 5º da LINDB comanda que, ao aplicar a lei, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências impostas pelo bem comum. Cuida-se de regra que trabalha o problema da interpretação da lei, isto é, o processo pelo qual a norma jurídica – geral e abstrata – é traduzida para o caso concreto. Quanto ao método, há grande número de critérios, referindo-se, exemplificativamente: a interpretação literal, isto é, a que se prende, acima de qualquer outro fator, ao conteúdo literal dos vocábulos legais; a interpretação teleológica (buscando o sentido da norma a partir da finalidade da lei e necessidade da organização social e econômica); a histórica, que confronta a regra legal com a sua trajetória etc. IV - INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA A lei procura prever e disciplinar todas as situações importantes às relações individuais e sociais. Mas, muitas vezes, o legislador não consegue prever todas as situações que uma norma pode criar. E um Juiz não pode eximir-se de julgar um caso alegando lacuna ou obscuridade da lei. Esgotados, sem resultados, os critérios interpretativos, cumpre ao aplicador da lei suprir a lacuna encontrada, recorrendo à analogia, aos costumes (já visto), e aos princípios gerais do direito. Há uma hierarquia na utilização desses critérios. A analogia figura em primeiro lugar. Analogia consiste em aplicar, a hipótese não prevista especialmente em lei, dispositivo relativo a caso semelhante: • Caso “X” - Aplica-se a regra jurídica Y • Caso “Z” (parecido com o caso X) - Como a lei é omissa, é permitida a aplicação da regra Y por analogia. Princípios Gerais de Direito - Na verdade são regras que se encontram na consciência dos povos e universalmente aceitas, mesmo que não sejam escritas. Possuem caráter genérico e orientam a compreensão do sistema jurídico (ex.: dar a César o que é de César; não se pode lesar o próximo; ninguém pode valer-se de sua própria torpeza etc.). A equidade, pela LINDB, não é um meio de suprir a lacuna da lei, mas auxilia nesta missão. Trata-se do uso de “bom senso”, isto é, adaptação razoável da lei ao caso concreto. O Direito Romano definia o direito como ars boni et aequi, isto é, como a arte do bom e do justo, demonstrando a antigüidade do princípio da equidade. O Direito Processual Civil prevê a aplicação da equidade para o Juiz decidir. Mas repito: a LINDB não prevê a equidade como forma de integração da norma jurídica. _______________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 7 OS: 0093/2/19-Gil 3 – PARTE GERAL. DA PESSOA NATURAL. PERSONALIDADE JURÍDICA. CAPACIDADE 3.1. A PERSONALIDADE JURÍDICA. O primeiro capítulo do Código Civil se refere às Pessoas. Todo concurso que exige Direito Civil coloca este ponto no Edital. É fundamental saber bem esta matéria. Vamos então iniciar. Podemos conceituar pessoa como sendo todo ente físico ou jurídico, suscetível de direitos e obrigações. É espécie de sujeito de direito. Nesta aula vamos nos ater à Pessoa Natural, deixando a Pessoa Jurídica para a próxima. Nesta aula vamos falar sobre a personalidade (início, individualização e fim) capacidade e emancipação. Comecemos pela Personalidade. O artigo 1º do Código Civil prevê: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Assim, o conceito de Pessoa inclui homens, mulheres e crianças; qualquer ser humano sem distinção de idade, saúde mental, sexo, cor, raça, credo, nacionalidade etc. Por outro lado o conceito exclui os animais, que gozam de proteção legal, mas não são sujeitos de direito, os seres inanimados etc. Como já dito, os examinadores de concursos públicos gostam muito de pedir sinônimos nas provas. Falo isso porque há pouco tempo vi uma questão cair em uma prova indagando “qual a diferença, para os efeitos de gozo de direitos na ordem civil, entre o autóctone e o ádvena”. A questão era simples, mas se o aluno não soubesse o significado de tais palavras, não acertaria a questão. Autóctone (ou aborígine) é o que nasceu no País. E ádvena é o estrangeiro. Assim a questão queria saber qual a diferença entre o brasileiro e o estrangeiro quanto ao gozo de direitos. Resposta: no Direito Civil nenhuma, pois ambos são considerados sujeitos de direitos e obrigações. Além disso, o Direito (especialmente o Civil) usa muitas expressões em latim. Estas expressões não estão nas leis. É doutrina. Mas costuma cair. Por isso irei fornecendo as expressões em latim, com sua tradução e real significado. Da mesma forma explicarei as posições doutrinárias que são adotadas pelos examinadores, orientações jurisprudenciais, súmulas etc. Voltemos... No Brasil, tradicionalmente, adota-se o posicionamento segundo o qual a personalidade jurídica inicia-se com o nascimento com vida, ainda que por poucos momentos (Teoria da Natalidade). Preste atenção nisto: se a criança nascer com vida, ainda que por um instante, adquire a personalidade. Para se saber se nasceu viva e em seguida morreu, ou se nasceu morta, é realizado um exame chamado de docimasia hidrostática de Galeno, que consiste em colocar o pulmão da criança morta em uma solução líquida; se boiar é sinal de que a criança chegou a dar pelo menos uma inspirada e, portanto, nasceu com vida; se afundar é sinal de que não chegou a respirar e, portanto, nasceu morta. Atualmente a medicina dispõe de técnicas mais modernas e eficazes para tal constatação. Não caiam em “pegadinhas”. Esta questão, apesar de simples tem caído muito em concurso. Sempre é colocada uma alternativa dizendo que a personalidade se inicia com a concepção (gravidez) da mulher, ou que a criança tem de ter viabilidade (possibilidade de vida), ou que deva ter “forma humana” e até que ela se inicia com o “corte do cordão umbilical”. E aí professor, o que devo fazer? Nascer com vida é ter respirado. Respirou... então nasceu com vida e a personalidade se iniciou. Nascituro é o que está por nascer. É o ente que foi gerado ou concebido, mas ainda não nasceu. Não tem personalidade jurídica, pois ainda não é pessoa sob o ponto de vista jurídico. Apesar de não ter personalidade jurídica, a lei põe a salvo os direitos do nascituro desde a concepção. Exemplo: pai morre deixando mulher grávida: o nascituro tem direito ao resguardo à herança. Os direitos assegurados ao nascituro estão em estado potencial, sob condição suspensiva: só terão eficácia se nascer com vida. E qual a situação jurídica do nascituro? Existem 3 teorias explicativas do nascituro: 1) Teoria Natalista: para esta primeira teoria o nascituro é apenas um ente concebido ainda não nascido, desprovido de personalidade. Vale dizer, o nascituro não é pessoa gozando apenas expectativa de direitos. (Vicente Ráo, Silvio Rodrigues, Eduardo Spínola, a maioria da doutrina clássica ainda defende a teoria natalista no Direito brasileiro – interpretação literal do Código Civil em que o nascituro ainda não é pessoa. Para essa teoria, personalidade civil só surgiria com o nascimento com vida, ele não seria sujeito de direito, só tem expectativa de direitos). Enfatizando a 1ª parte do art. 2º, CC, sustenta que a personalidade só é adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que o nascituro não é considerado pessoa, gozando de mera expectativa de direito. 2) Teoria Concepcionista (teoria da doutrina moderna): para esta teoria o nascituro seria considerado pessoa para efeitos patrimoniais ou extra patrimoniais, desde a concepção (Teixeira de Freitas, Clóvis Beviláqua, Silmara Chinelato – a tutela civil do nascituro). O nascituro, portanto, é sujeito de direito. Significa que com o nascimento com vida os efeitos na personalidade jurídica têm efeitos ex tunc, ele apenas confirma os direitos já existentes desde a concepção. Para essa teoria o nascituro é pessoa. Para essa teoria justifica “alimentos ao nascituro” - direitos patrimoniais. Atenção!!! A maioria da jurisprudência NÃO utiliza essa teoria. DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 8 OS: 0093/2/19-Gil Obs.: Existe ainda uma teoria intermediária: 3) Teoria da Personalidade Formal ou Condicional: para esta teoria, o nascituro, ao ser concebido, teria uma simples personalidade formal permitindo-lhe gozar de direitos personalíssimos; no entanto, só viria a adquirir direitos patrimoniais sob a condição de nascer com vida (Serpa Lopes). Para o direito civil, o nascituro só seria titular dos direitos patrimoniais se nascesse com vida. O nascituro seria consideradopessoa apenas em relação a direitos personalíssimos, embora, para efeitos patrimoniais, somente seria considerado pessoa ao nascer com vida. Existem inúmeras situações, presentes no ordenamento jurídico brasileiro, em que o nascituro é considerado sujeito de direitos materiais e imateriais. (ver quadro esquemático). O nascituro pode receber doação, herança etc. Ele é considerado sujeito de direitos, reforçando que a melhor teoria é a concepcionista. Com base na teoria concepcionista, inúmeros direitos podem ser reconhecidos ao nascituro, inclusive o direito aos alimentos. O nascituro, a luz da teoria concepcionista, tem direitos e não simplesmente expectativa de direitos. Inclusive direito a alimentos. Com base na teoria concepcionista, vale lembrar que o STJ já admitiu, inclusive, no RESP 399.028/SP dano moral ao nascituro. O STJ reconheceu nesse caso a teoria concepcionista. O Código Civil brasileiro adotou qual teoria? O art. 2º, na sua 1ª parte adotou a teoria natalista e a 2ª parte adotou a concepcionista. Então como responder? Para Clóvis Beviláqua, que fez o CC 16, o CC adotou a teoria natalista. Entretanto ele se contradiz ao afirmar que apesar da natalista ser adotada por ser mais prática, o Código traz vários direitos. “Seguindo o ensinamento de Clóvis Beviláqua na obra clássica ‘Código Civil dos Estados Unidos do Brasil’ (Ed. Rio, 1975, p. 178), aparentemente o codificador pretendeu adotar a teoria natalista, “por ser mais prática”. Todavia, sofre inequívoca influencia concepcionista ao tratar o nascituro como pessoa, reconhecendo-lhe diversos direitos. Qual das 3 teorias é adotada pelo Código Brasileiro? Aparentemente, seguindo a linha de Clóvis Beviláqua (Código Civil dos Estados Unidos do Brasil, edição de 1975) o codificador ao afirmar que a personalidade da pessoa começa com o nascimento com vida pretendeu abraçar a teoria Natalista, mas em inúmeros pontos do próprio código sofre inequívoca influência da teoria Concepcionista. Sobre isso o antigo CC é muito similar com o novo CC. Vide art. 2º, 1ª parte (teoria natalista) e a 2ª parte (teoria concepcionista). No entanto, a questão é polêmica. O que se entende por natimorto? É aquele que nasceu morto. Ele não é uma pessoa. Entretanto, ainda assim ele goza de proteção, existe tutela jurídica. O enunciado n. 1 da 1ª jornada de Direito Civil protege o natimorto, em caráter especial, a luz da teoria dos direitos da personalidade. É uma situação peculiar de tutela. Não se pode confundir: NASCITURO, EMBRIÃO e NATIMORTO NASCITURO EMBRIÃO NATIMORTO Ente concebido no ventre materno. O nascituro é um embrião com vida intra- uterina (o embrião preservado em laboratório não se fala em nascituro). O natimorto é o nascido morto. Feto expelido já morto. Enunciado nº 1, da 1ª jornada de direito civil, afirma que o natimorto goza de tutela jurídica no que tange ao nome, à imagem e à sepultura. Esse enunciado é um entendimento da doutrina. Adquirindo a personalidade (que consiste no conjunto de caracteres próprios da pessoa, sendo a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações), o ser humano adquire o direito de defender o que lhe é próprio, como sua integridade física (vida, alimentos, etc.), intelectual (liberdade de pensamento, autoria científica, artística e intelectual), moral (honra, segredo pessoal ou profissional, opção religiosa, sexual, etc.). Lembre-se: a dignidade é um direito fundamental, previsto em nossa Constituição, que também prevê que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente dessa violação. Os direitos da personalidade (leia o art. 11 do CC) são absolutos, intransmissíveis, indisponíveis, irrenunciáveis e imprescritíveis. Acompanhe os próximos artigos: O artigo 12 prevê a possibilidade de exigir que cesse lesão a direito da personalidade, por meio de ação própria, sem prejuízo da reparação de eventuais danos materiais e morais suportados pela pessoa. A nova lei prevê também a possibilidade de defesa do direito do morto, por meio de ação promovida por seus sucessores. O artigo 13 e seu parágrafo único prevê o direito de disposição de partes, separadas do próprio corpo em vida para fins de transplante, ao prescrever que, “salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. O ato DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 9 OS: 0093/2/19-Gil previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial”. É possível, também, com objetivo científico ou altruístico a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte, podendo essa disposição ser revogada a qualquer momento. Note agora que os artigos 16 a 19 do Código Civil tutelam o direito ao nome contra atentado de terceiros, expondo-o ao desprezo público, ao ridículo, acarretando dano moral ou patrimonial. O artigo 20 tutela o direito à imagem e os direitos a ele conexos (também artigo 5º, XXVIII, “a” da Constituição Federal), que se refere ao direito de ninguém ver seu rosto estampado em público ou mercantilizado sem seu consenso e o de não ter sua personalidade alterada material ou intelectualmente, causando dano à sua reputação. Há certas limitações do direito de imagem, com dispensa da anuência para sua divulgação (ex.: pessoa notória – desde que não haja abusos, pois sua vida íntima deve ser preservada; exercício de cargo público etc.). Tutela, também, o Código Civil em seu artigo 21 o direito à intimidade prescrevendo que a vida privada da pessoa natural é inviolável (ex.: violação de domicílio, correspondência, conversas telefônicas etc.). É de se esclarecer finalmente, que o Código Civil não exauriu a matéria. A enumeração exposta é exemplificativa, deixando ao Juiz margem para que estenda a proteção a situações não previstas expressamente. Ficou bem claro até aqui que a personalidade tem início com o nascimento com vida, mas a lei põe a salvo os direitos do nascituro. Falemos agora sobre a individualização da pessoa natural. Esta se dá pelo: a) nome – reconhecimento da pessoa na sociedade; b) estado – posição na sociedade política; c) domicílio – lugar da atividade social. Vamos comentar um a um desses temas. A) Nome é o sinal exterior pelo qual se designa e se reconhece a pessoa na família e na sociedade. Trata-se de direito inalienável e imprescritível, essencial para o exercício de direitos e cumprimento das obrigações. Também é conferido às pessoas jurídicas. É protegido pela lei. São elementos constitutivos do nome: • Prenome - próprio da pessoa, pode ser simples (ex.: João, José, Rodrigo, Laura, Aparecida, etc.) ou composto (ex.: José Carlos, Antônio Pedro, Ana Maria etc.). • Patronímico - ou nome de família, ou apelido de família, ou sobrenome - identifica a procedência da pessoa, indicando sua filiação ou estirpe, podendo ser simples (ex.: Silva, Souza, Lobo, etc.) ou composto (ex.: Alcântara Machado; Lins e Silva etc.). • Agnome - sinal distintivo entre pessoas da mesma família, que se acrescenta ao nome completo (ex.: Júnior, Filho, Neto, Sobrinho). Há outros elementos facultativos como o cognome (apelido ou epíteto), pseudônimo ou codinome (para o exercício de uma atividade específica – cantor, ator, autor, etc) e axiônimo (que representam os títulos de nobreza, eclesiásticos ou acadêmicos – Duque, Visconde, Bispo, Mestre, Doutor etc), mas não tenho visto estas expressões caírem em concursos. Em princípio o nome é imutável.No entanto o princípio da inalterabilidade do nome sofre exceções em casos justificados. A lei e a jurisprudência admitem a retificação ou alteração de qualquer dos elementos. Vamos examinar alguns exemplos que vêm caindo em concursos: - expuser seu portador ao ridículo ou situações vexatórias - artigo 55, parágrafo único da Lei de Registros Públicos - em princípio os nomes exóticos ou ridículos não podem ser registrados, o oficial do Registro Público pode se recusar a registrar; mas se o forem podem ser alterados. - houver erro gráfico evidente (ex.: Nerson, Osvardo etc.) - artigo 58, parágrafo único da Lei de Registros Públicos. - causar embaraços comerciais - homônimo - adição de mais um prenome ou do patronímico materno. - uso prolongado e constante de um nome diverso do que figura no registro - inclusive adicionando apelido ou alcunha (ex.: Luiz Inácio Lula da Silva, Maria da Graça Xuxa Meneghel etc.). - primeiro ano após a maioridade - a lei permite a alteração, independentemente de justificação, desde que não prejudique o patronímico (art. 56 da L.R.P.). - casamento – cuidado com esse item. Atualmente o art. 1.565, §1º CC permite que qualquer dos nubentes acrescente ao seu o sobrenome do outro. - união estável - a lei permite que a companheira adote o patronímico do companheiro, se houver concordância deste. Outros exemplos: adoção, reconhecimento de filho, legitimação, divórcio, separação judicial, serviço de proteção de vítimas etc. B) Estado Civil - é definido como sendo o modo particular de existir. Pode ser encarado sob 3 (três) aspectos: • Individual ou físico - idade (maior ou menor), sexo, saúde mental, física etc. • Familiar - indica a situação na família: - quanto ao matrimônio: solteiro, casado, viúvo, separado ou divorciado. DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 10 OS: 0093/2/19-Gil - quanto ao parentesco consanguíneo: pai, mãe, filho, avô, irmão, primo etc. - quanto à afinidade: sogro, sogra, genro, nora, cunhado, etc. • Político - posição da pessoa dentro de um País: nacional (nato ou naturalizado), estrangeiro, apátrida. Como disse acima, os examinadores gostam de sinônimos. Já vi cair em um concurso a palavra heimatlos como sinônimo de apátrida. O estado civil é a soma de qualificações da pessoa. É uno e indivisível, pois ninguém pode ser simultaneamente casado e solteiro; maior e menor, etc. Regula-se por normas de ordem pública. Por ser um reflexo da personalidade, não pode ser objeto de comércio; é um direito indisponível, imprescritível e irrenunciável. As ações tendentes a afirmar, obter ou negar determinado estado são chamadas ações de estado (ex.: investigação de paternidade, divórcio etc.), também personalíssimas. 2.2. CAPACIDADE DE DIREITO E DE FATO Passemos agora ao estudo da Capacidade que é aptidão da pessoa para exercer direitos e assumir obrigações, ou seja, de atuar sozinha perante o complexo das relações jurídicas. Embora baste nascer com vida para se adquirir a personalidade, nem sempre se terá capacidade. A capacidade, que é elemento da personalidade, pode ser classificada em: • de direito ou de gozo - própria de todo ser humano, inerente à personalidade e que só perde com a morte. É a capacidade para adquirir direitos e contrair obrigações. "Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil" (artigo 1º do Código Civil). • de fato ou de exercício da capacidade de direito - isto é, de exercitar por si os atos da vida civil. Toda pessoa tem capacidade de direito, mas pode não ter a capacidade de fato, pois pode lhe faltar a plenitude da consciência e da vontade. A capacidade de direito não pode ser negada ao indivíduo, mas pode sofrer restrições quanto ao seu exercício (ex.: o “louco”, por ser pessoa, tem capacidade de direito, podendo receber uma doação; porém não tem capacidade de fato, não podendo vender o bem que ganhou). Quem tem as duas espécies de capacidade tem a capacidade plena. Quem só tem a de direito tem capacidade limitada. 2.3. INCAPACIDADE Incapacidade é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil. Pode ser absoluta ou relativa. Obs.: Não confunda capacidade e legitimidade: a falta de legitimidade significa que, mesmo sendo capaz, a pessoa está impedida por lei de praticar determinado ato (vg. Art. 1.521, IV – “Não podem casar: as pessoas casadas”). Uma pessoa pode ter capacidade plena, mas estar circunstancialmente impedida de praticar determinado ato. Neste caso, falta-lhe legitimidade. (Exemplos no CC: art. 1749, I e art. 1521, IV). Toda vez que houver impedimento específico. Assim, como visto, a falta da capacidade de FATO gera a incapacidade civil que pode ser: absoluta ou relativa. 1) ABSOLUTAMENTE INCAPAZES Quando houver proibição total do exercício do direito do incapaz, acarretando, em caso de violação, a nulidade do ato jurídico (art. 166, I do CC). Os absolutamente incapazes possuem direitos, porém não podem exercê-los pessoalmente. Há uma restrição legal ao poder de agir por si. Devem ser representados. São absolutamente incapazes (art. 3º do CC): Com a vigência da lei nº 13.146/2015, no início de janeiro de 2016, a única hipótese de incapacidade absoluta, prevista no Código Civil, passou a ser a do critério etário. Os menores de 16 (dezesseis) anos - critério etário - devem ser representados por seus pais ou, na falta deles, por tutores. São chamados também de menores impúberes. O legislador entende que, devido a essa idade, a pessoa ainda não atingiu o discernimento para distinguir o que pode ou não fazer. Dado o seu desenvolvimento intelectual incompleto, pode ser facilmente influenciável por outrem. É muito importante notar que o Código Civil não estende a incapacidade: a) ao cego (que somente terá restrição aos atos que dependem da visão, como testemunha ocular, testemunha em testamentos etc.; além disso não poderá fazer testamento por outra forma que não seja a pública); b) ao analfabeto; e c) à pessoa com idade avançada. 2) RELATIVAMENTE INCAPAZES A incapacidade relativa diz respeito àqueles que podem praticar por si os atos da vida civil, desde que assistidos. O efeito da violação desta norma é gerar a anulabilidade do ato jurídico, dependendo da iniciativa do lesado. Há hipóteses em que, mesmo sendo praticado sem assistência, pode o ato ser ratificado ou convalidado pelo representante legal, posteriormente. São relativamente incapazes (art. 4º do CC): Com a vigência da lei nº 13.146/2015, no início de janeiro de 2016, as hipóteses de incapacidade relativa, DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 11 OS: 0093/2/19-Gil previstas no Código Civil, passaram a considerar critério etário, o alcoolismo e o vício em drogas, a impossibilidade de exteriorizar vontade válida e a prodigalidade. a) Maiores de 16 anos e menores de 18 anos - sua pouca experiência e insuficiente desenvolvimento intelectual não possibilitam a plena participação na vida civil. São também chamados de menores púberes. Os menores, entre 16 e 18 anos, somente poderão praticar certos atos mediante assistência de seus representantes, sob pena de anulação. No entanto há atos que o relativamente incapaz pode praticar mesmo sem assistência: casar, necessitando apenas de autorização; fazer testamento; servir como testemunha em atos jurídicos, inclusive em testamento; requerer registro de seu nascimento, ser mandatário etc. É muito comum cair nos concursosa seguinte afirmação: o menor, entre 16 e 18 anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, espontaneamente se declarou maior. Isto é previsto no artigo 180 do CC. b) Ébrios habituais e os viciados em tóxicos – alarga-se os casos de incapacidade relativa decorrente de causa permanente ou transitória. Deve haver processo de interdição. Neste processo, averiguando-se que a pessoa encontra-se em situação tal que o impede de exprimir totalmente a sua vontade, pode-se declarar a incapacidade absoluta. c) aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade – abrange os surdos portadores de afasia, as pessoas em coma etc. d) Pródigos - são os que dilapidam, dissipam os seus bens ou seu patrimônio, fazendo gastos excessivos e anormais. Trata-se de um desvio de personalidade e não de alienação mental. Devem ser interditados e, em seguida, nomeia-se um curador para cuidar de seus bens. Ficam privados, exclusivamente, dos atos que possam comprometer seu patrimônio. O pródigo interditado não pode (sem assistência): emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, agir em juízo etc. Todavia, pode: exercer atos de mera administração, casar-se (no entanto se houver necessidade de pacto antenupcial haverá assistência do curador, pois o ato nupcial pode envolver disposição de bens), exercer profissão etc. Cuidado com questões referentes aos indígenas (antigamente denominados de silvícolas - silva – selva; íncola – habitante - os que moram nas selvas e não estão adaptados à nossa sociedade e depois de índios), a finalidade da lei é protegê-los, bem como os seus bens. O atual Código Civil não os considerou como incapazes, devendo a questão ser regida por lei especial (art. 4º, parágrafo único do CC). A Lei 6.001/73 (Estatuto do Índio) coloca o índio e sua comunidade, enquanto não integrado à comunhão nacional, sob o regime tutelar. O órgão que deve assisti-los é a FUNAI. A lei estabelece que os negócios praticados entre um índio e uma pessoa estranha à comunidade, sem a assistência da FUNAI é nulo (e não anulável). No entanto prevê que o negócio pode ser considerado válido se o silvícola revelar consciência do ato praticado e o mesmo não for prejudicial. Para a emancipação do índio exige-se: idade mínima de 21 anos, conhecimento da língua portuguesa, habilitação para o exercício de atividade útil, razoável conhecimento dos usos e costumes da comunhão nacional e liberação por decisão judicial. Observações importantes!!! OBS 1: Uma pessoa que se intoxica para cometer um ato ilícito fica isenta da responsabilidade civil? Lembrem-se da teoria da ACTIO LIBERA IN CAUSA, do doutrinador Alvinho Lima, adotada como em países como a Bélgica, Alemanha e Suíça, que, apesar de possuir maior aplicação no direito penal, também pode ser aplicada ao direito civil, de maneira que a pessoa que voluntariamente se intoxica não está isenta de responsabilidade civil sob a alegação de incapacidade. OBS 2: o curador do pródigo não irá representá-lo em todos os atos, mas apenas assisti-lo em atos de repercussão patrimonial. OBS 3: Porque existe o interesse do Estado em impedir que o pródigo seja reduzido à miséria? Para evitar a necessidade de no futuro ter que prestar assistência para o indivíduo. Questão do MP de Minas: O que se entende por estatuto jurídico do patrimônio mínimo? Tese desenvolvida por Luiz Edson Fachin, publicada pela editora renovar, segundo a qual, em uma perspectiva constitucional, a luz do princípio da dignidade da pessoa humana, as normas civis devem resguardar a cada indivíduo um mínimo de patrimônio para que tenha vida digna. DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 12 OS: 0093/2/19-Gil OBS 4: no campo da proteção do incapaz, é aplicável o benefício de restituição (RESTITUTIO IN INTREGUM)? Trata-se, segundo Clóvis Beviláqua, do benefício reconhecido ao incapaz para permitir que ele possa anular qualquer ato que lhe seja prejudicial. O código de 1916 dizia que o benefício de restituição era proibido. No código civil de 2002 esse benefício continua proibido em respeito à boa-fé e a segurança jurídica dos negócios. Caso exista conflitos de interesses entre o representante e o incapaz pode-se invocar o art. 119 do CC/02 Art. 119. “É anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou. Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste artigo”. TUTELA E CURATELA Embora esse tema se refira ao Direito de Família, gosto de falar sobre ele aqui. Nem todos os editais exigem o Direito de Família. Mas tutela e curatela são pontos que podem cair tanto na Parte Geral do Direito Civil, como no Direito de Família. Assim, é melhor falar sobre o tema duas vezes (se o edital pedir também o Direito de Família) do que não falar sobre o tema. A tutela é um instituto de caráter assistencial que tem por finalidade substituir o poder familiar. Protege o menor (impúbere ou púbere) não emancipado e seus bens, se seus pais falecerem ou forem suspensos ou destituídos do poder familiar, dando-lhes representação ou assistência no plano jurídico. Pode ser oriunda de provimento voluntário, de forma testamentária, ou em decorrência da lei. A curatela é um encargo (munus) público previsto em lei que é dado para pessoas maiores, mas que por si sós não estão em condições de realizar os atos da vida civil pessoalmente, geralmente em razão de enfermidade ou deficiência mental. O curador deve reger e defender a pessoa e administrar seus bens. Decorre de nomeação pelo Juiz em decisão prolatada em processo de interdição. Costuma-se dizer que a natureza da decisão é constitutiva com eficácia declaratória. Os atos praticados depois da decisão são nulos ou anuláveis conforme o interdito seja absoluta ou relativamente incapaz. É possível invalidar ato negocial antes da interdição desde que se comprove a existência da insanidade por ocasião da efetivação daquele ato, posto que a causa da incapacidade é a anomalia psíquica e não a sentença de interdição. REPRESENTAÇÃO E ASSISTÊNCIA O instituto da incapacidade visa proteger os que são portadores de uma deficiência jurídica apreciável. Essa forma de proteção é graduada: Representação - para os absolutamente incapazes. Estas pessoas estão privadas de agir juridicamente e serão representadas. Ex.: um rapaz, com 15 anos, não pode vender um apartamento de sua propriedade. Mas este imóvel pode ser vendido através de seus pais que irão representar o menor. No ato da compra e venda este nem precisa comparecer. Assistência - para os relativamente incapazes. Estas pessoas já podem atuar na vida civil. Alguns atos podem praticar sozinhos; outros necessitam de autorização. Ex.: um rapaz, com 17 anos, já pode vender seu apartamento. Mas não poderá fazê-lo sozinho. Necessita de autorização de seus pais. No ato de compra e venda ele comparece e assina os documentos, juntamente com seus pais. Atenção Pessoal - por meio da representação e assistência, supre-se eventual incapacidade, e os negócios jurídicos realizam-se regularmente. Curador Especial - se houver conflito de interesses entre o incapaz e seu representante legal o Juiz deve nomear um curador especial para proteger o incapaz. 3) CAPACIDADE PLENA A incapacidade termina, via de regra, ao desaparecerem as causas que a determinaram. Assim,nos casos de loucura, da toxicomania etc., cessando a enfermidade que a determinou, cessa também a incapacidade (segundo Clóvis Beviláqua – Comentários ao Código Civil). Em relação à menoridade, a incapacidade cessa quando o menor completar 18 anos. Dessa forma, torna-se apto a exercer pessoalmente todos os atos da vida civil sem necessidade de ser assistido por seus pais. Não se deve confundir a capacidade civil, com a imputabilidade (responsabilidade) penal, que também se dá aos 18 anos. Falamos sobre a Personalidade e a Capacidade. Falta agora, para terminar esta aula, falar sobre a Emancipação. Emancipação ou antecipação dos efeitos da maioridade é a aquisição da capacidade plena antes dos 18 anos, habilitando o indivíduo para todos os atos da vida civil. A emancipação é irrevogável e definitiva. Adquire-se a emancipação (leia agora o artigo 5º do Código Civil): • por concessão dos pais ou de um deles na falta do outro (emancipação parental ou voluntária) - neste caso não é necessária a homologação do Juiz. Deve ser concedida por instrumento público e registrada no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais. O menor deve ter, no DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 13 OS: 0093/2/19-Gil mínimo, 16 anos completos. Admite-se a emancipação unilateral (um dos pais) se um deles já faleceu, foi destituído do poder familiar etc. • por sentença do Juiz - em duas hipóteses: a) quando um dos pais não concordar com a emancipação, contrariando a vontade do outro; há um conflito de vontade entre os pais quanto à emancipação do filho; b) quando o menor estiver sob tutela. O tutor não pode emancipar o menor. Evita-se a emancipação destinada para livrar o tutor do encargo. A emancipação é feita pelo Juiz, se o menor tiver 16 anos, ouvido o tutor, depois de verificada a conveniência para o bem do menor. • pelo casamento - a idade nupcial do homem e da mulher é de 16 anos (art. 1.511 CC, exigindo-se autorização de ambos os pais, enquanto não atingida a maioridade). Não é plausível que continue incapaz, depois de casado. O divórcio, a viuvez e a anulação do casamento não implicam o retorno à incapacidade. No entanto o casamento nulo faz com que se retorne à situação de incapaz (se o ato foi nulo, a pessoa nunca foi emancipada, posto que não produz efeitos e é retroativo), salvo se contraído de boa-fé (nesse caso a pessoa é considerada emancipada). • por exercício de emprego público - deve ser efetivo; excluem-se, portanto, os diaristas, contratados e os nomeados para cargos em comissão. Há pouca aplicação prática, pois os concursos, como regra, exigem idade mínima de 18 anos. • por colação de grau em curso de ensino superior - também há pouca aplicação prática devido a nosso sistema de ensino. • por estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego com economias próprias - é necessário ter ao menos 16 anos, pois revela suficiente amadurecimento e experiência desenvolvida. No entanto, na prática, há dificuldade para se provar "economia própria". Obs. - serviço militar - hipótese prevista em lei especial - faz com que cesse para o menor de dezessete anos a incapacidade civil, apenas para efeito do alistamento e sorteio militar. Veja uma questão interessante que já caiu em diversos concursos, misturando conceitos de Direito Penal e Civil. Uma pessoa se casa com 16 anos. Um ano depois, acaba matando seu cônjuge. Ela vai responder criminalmente? Resposta – a emancipação só diz respeito aos efeitos civis. Portanto, para o Direito Penal essa pessoa continua menor (e, portanto, considerada inimputável), ficando sujeita não ao Código Penal, mas ao Estatuto da Criança e Adolescente. Outra questão: uma pessoa menor se casou. Tornou-se, portanto, capaz. Logo a seguir se divorcia. O divórcio faz com que a pessoa retorne ao estado de incapaz? Resposta – pela nossa Lei, não! Isto é, uma vez alcançada a emancipação, esta não pode ser mais revogada, a não ser em casos especialíssimos, como vimos acima. TEMAS POLÊMICOS EM TORNO DA EMANCIPAÇÃO A sentença que declara a nulidade DO CASAMENTO tem efeito retroativo? Assim, volta o menor emancipado ao estado de incapacidade? Trata-se de questão polêmica a mantença ou não dos efeitos da emancipação em um casamento invalidado. Respeitável parcela da doutrina (Flávio Tartuce, Fernando Simão, Zeno Veloso) sustenta a retroatividade dos efeitos da sentença, de maneira que, nessa linha, a emancipação perderia efeitos, ressalvada a hipótese do casamento putativo. O que se entende por economia própria para efeito de emancipação? Trata-se de um conceito aberto a ser preenchido pelo juiz no caso concreto a luz do princípio da operabilidade ou concretude. Vale acrescentar que a luz do princípio da segurança jurídica, caso o menor emancipado seja demitido ele não deve retornar a situação de incapacidade * Sistema aberto do Direito Civil – nosso sistema jurídico civil é um sistema aberto, ou seja, permeado de conceitos abertos e cláusulas gerais, denominados poros axiológicos. Ex: economia própria, justa causa, família, atividade de risco (são conceitos abertos) ou Clausulas gerais: boa-fé objetiva. Atenção!!! O menor emancipado não comete crime, mas sim ato infracional na forma do ECA. Todavia, admite-se a sua prisão civil, que não é sanção penal. Entretanto, deve-se respeitar o lugar onde será recluso. _______________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 14 OS: 0093/2/19-Gil 4 – PARTE GERAL. DA PESSOA NATURAL: AUSÊNCIA. TÉRMINO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. DOMICÍLIO. PESSOA JURÍDICA. AUSÊNCIA A ausência só pode ser reconhecida por meio de um processo judicial composto de três fases: a) curadoria dos bens do ausente (ou de administração provisória); b) sucessão provisória; c) sucessão definitiva. Ausente uma pessoa, qualquer interessado na sua sucessão (e até mesmo o Ministério Público) poderá requerer ao Juiz a declaração de ausência e a nomeação de um curador. Durante um ano deve-se expedir editais convocando o ausente para retomar a posse de seus haveres. Com a sua volta opera-se a cessação da curatela, o mesmo ocorrendo se houver notícia de seu óbito comprovado. Se o ausente não comparecer no prazo, poderá ser requerida e aberta a sucessão provisória e o início do processo de inventário e partilha dos bens. Nesta ocasião a ausência passa a ser presumida. Feita a partilha seus herdeiros (provisórios e condicionais) irão administrar os bens, prestando caução, (ou seja, dando garantia que os bens serão restituídos no caso do ausente aparecer). Nesta fase os herdeiros ainda não têm a propriedade; exercem apenas a posse dos bens do ausente. Após10 (dez) anos do trânsito em julgado da sentença de abertura da sucessão provisória, sem que o ausente apareça (ou cinco anos depois das últimas notícias do ausente que conta com mais de 80 anos), será declarada a morte presumida. Nesta ocasião converte-se a sucessão provisória em definitiva. Os sucessores deixam de ser provisórios, adquirindo o domínio e a disposição dos bens recebidos, porém a sua propriedade será resolúvel. Se o ausente retornar em até 10 (dez) anos seguintes à abertura da sucessão definitiva terá os bens no estado em que se encontrarem e direito ao preço que os herdeiros houverem recebido com sua venda. Se regressar após esse prazo (portanto após 21 anos de processo), não terá direito a nada. TÉRMINO DA PERSONALIDADE Já falamos sobre o início e individualização da personalidade. Vamos agora nos ater ao fim da personalidade. A personalidade da pessoa natural acaba com a morte. Verificada a morte de uma pessoa, desaparecem, como regra, os direitos e as obrigações de natureza personalíssima, sejam patrimoniais ou não. Os direitos não personalíssimos (em especial os de natureza patrimonial) são transmitidos aos seus sucessores. Vamos falar sobre as “espécies de morte”: Morte Real - A personalidade termina com a morte física (real), deixando de ser sujeito de direitos e obrigações (mors onmia solvit – a morte tudo resolve). A morte real se dá com o óbito comprovado da pessoa natural, com ou sem o corpo. A prova da morte se faz com o atestado de óbito ou pela justificação em caso de catástrofe e não encontro do corpo. Se um avião explode matando todos os passageiros, há o óbito comprovado de todos; entretanto, provavelmente não teremos os corpos de todos. Mesmo assim houve a morte real (ex.: Ulisses Guimarães foi declarado morto na Comarca de Ubatuba - Lei de Registros Públicos - 6.015/73 - Art. 88 - “Poderão os juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame”). Atenção!!! A morte deve ser declarada por profissional da medicina, admitindo-se, na ausência deste, nos termos da lei 6.015/73 (lei de registros públicos) a declaração de óbito possa ser feita por 2 testemunhas. Em regra: médico faz a declaração médica, leva-se ao cartório de registro de pessoa natural e, então, é confeccionado a certidão de óbito. Morte Presumida - Além da morte real, existe também em nosso Direito a morte presumida, que ocorre quando a pessoa for declarada ausente. Ausência é o desaparecimento de uma pessoa do seu domicílio, que deixa de dar notícias por longo período de tempo e sem deixar procurador para administrar seus bens (art. 22 CC). Os efeitos da morte presumida são patrimoniais e alguns pessoais. O art. 1.571, §1º do CC prevê que a presunção de morte por ausência pode por fim ao vínculo conjugal, liberando o outro cônjuge para convolar novas núpcias. Em casos excepcionais pode haver a morte presumida sem declaração de ausência (art. 7º do CC): • extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida. • desaparecido em campanha ou feito prisioneiro e não foi encontrado até dois anos após a guerra. Comoriência - esta é uma “palavrinha” que vem caindo muito em concursos, pois ela não faz parte de nosso DIREITO CIVIL PARA CONCURSOS | Apostila 2019 – Prof. Nilmar de Aquino CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 15 OS: 0093/2/19-Gil dia a dia. É o instituto pelo qual se considera que duas ou mais pessoas morreram simultaneamente, sempre que não se puder averiguar qual delas pré-morreu. Leia agora o art. 8º do Código Civil: “Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”. Resumindo, comoriência é presunção de morte de duas ou mais pessoas (ex.: avião que cai matando todos os passageiros). Também é chamada de morte simultânea. Ou seja, um comoriente não transfere, não herda do outro, abre-se cadeias sucessórias autônomas e distintas. Em tese, os comorientes podem morrer em lugares distintos. * A regra da comoriência não é aplicada se existir a ordem cronológica dos óbitos. * Nos termos do art. 8º, do CC, aplica-se a regra da comoriência, quando não se puder definir a ordem cronológica dos óbitos. Nesse caso, consideram-se os comorientes mortos ao mesmo tempo abrindo-se cadeias cronológicas autônomas e distintas. Aplica-se o efeito jurídico deste instituto sempre que entre os mortos houver relação de sucessão hereditária. Se os comorientes forem herdeiros um dos outros, não haverá transferência de direitos entre eles; um não sucederá o outro. Suponha-se o caso de mortes simultâneas de cônjuges, sem descendentes e sem ascendentes, mas com irmãos. Pelo instituto da comoriência, a herança de ambos é dividida à razão de 50% para os herdeiros de cada cônjuge, se o regime de bens do casamento for o da comunhão universal. São efeitos do fim da personalidade: dissolução do vínculo conjugal e matrimonial; extinção do poder familiar; extinção da obrigação de alimentos com o falecimento do credor (no caso de morte do devedor, os herdeiros deste assumirão a obrigação até as forças da herança); extinção dos contratos personalíssimos etc. Observe que a morte não aniquila com toda a vontade do de cujus (falecido). Sua vontade pode sobreviver por meio de um testamento. Ao cadáver, é devido respeito; militares e servidores podem ser promovidos post mortem; permanece o direito à imagem, à honra, aos direitos autorais etc. DOMICÍLIO Domicílio – Este é o item que requer muito cuidado do aluno. Dos três elementos da individualização da personalidade, o Domicílio é o mais importante e que tem maior incidência nas provas. Principalmente em relação ao domicílio necessário como veremos logo a seguir. O conceito de domicílio surge da necessidade legal que se tem de ficar as pessoas em determinado ponto do território nacional. É, como regra, no foro de seu domicílio que o réu é procurado para ser citado. Exemplo: se eu ingresso com uma ação, onde essa ação deve ser proposta? Resposta – no domicílio do réu. Se uma pessoa morre, onde deve ser proposta a ação de inventário? No último domicílio do “de cujos” (falecido). E assim por diante... O conceito de domicílio está sempre presente em nosso dia-a-dia, mesmo que não percebamos. Cumpre, inicialmente, fazer a seguinte distinção: • residência - é o lugar em que o indivíduo habita com a intenção de permanecer, mesmo que dele se ausente temporariamente; é uma situação de fato. • domicílio - é a sede da pessoa, tanto física como jurídica, onde se presume a presença para efeitos de direito e onde exerce ou pratica, habitualmente, seus atos e negócios jurídicos. É o lugar onde a pessoa estabelece sua residência com ânimo definitivo de permanecer; é um conceito jurídico. Regra básica - O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece residência com ânimo definitivo (art. 70 do Código Civil). É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida (art. 72 do CC). Outras regras: Pessoa com várias residências, onde alternativamente viva - domicílio é qualquer delas - pluralidade domiciliar. Pessoa sem residência habitual, sem ponto central de negócios (ex.: circenses, ciganos) - domicílio é o lugar onde for encontrado. É importante saber as espécies de domicílio. É comum cair algo dessa classificação em concursos. Para não confundir veja os seguintes conceitos de domicílio com atenção: 1 -
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