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II_Teorico inclusão

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Paradigmas da 
Inclusão
Evolução dos Paradigmas da Deficiência
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Ms. Sueli Yngaunis
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
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Evolução dos Paradigmas da Deficiência
Conhecer os principais paradigmas sobre a deficiência.
Na época primitiva os homens viviam da natureza, dessa tiravam a sua subsistência. Era uma 
vida dura, em que os mais fortes e habilidosos sobreviviam, sendo grande a probabilidade dos 
que tinham algum tipo de deficiência, que dificultasse a sobrevivência, acabassem falecendo, 
“porque não dispunham dos instrumentos necessários para produzir sua existência diante das 
adversidades do meio natural” (ROSS apud BIANCHETTI; FREIRE, 2012, p. 57).
Povos primitivos e nômades abandonavam os indivíduos que não conseguiam acompanhar 
os deslocamentos do grupo em decorrência dos movimentos cíclicos da natureza, pois o que 
estava em jogo era a sobrevivência coletiva. 
Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:
• Beleza, vigor e perfeição
• A deficiência como um fenômeno espiritual
• A visão mecanicista na Era Industrial e o 
conceito de normalidade
• Da reabilitação à inclusão
• Inclusão social
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Unidade: Evolução dos Paradigmas da Deficiência
As diversas formas como as pessoas com limitações físicas, sensoriais ou cognitivas foram 
incorporadas à sociedade estão caracterizadas pelas crenças e valores de cada época da história, 
com as respectivas variações nos diferentes tipos de sociedade.
Assim, a história da deficiência não é um processo linear e contínuo, dado que registros 
históricos que não tinham esta questão como tema central revelam como as pessoas com 
deficiência eram vistas e tratadas pela sociedade em cada época e lugar.
Conhecer um pouco sobre essa história lhe auxiliará a compreender que a evolução dos 
conceitos de integração e inclusão está diretamente vinculada às mudanças na percepção social 
relativas às pessoas com deficiência ao longo do tempo.
Contextualização
7
No período clássico, que se estendeu do século VI a.C. ao ano 322 a.C., a perfeição e a função 
das pessoas para o Estado passaram a ser os critérios que orientaram a forma como essas eram 
avaliadas. Um corpo disforme pouco contribuiria à sobrevivência ou subsistência do povo, seja na 
agricultura ou na guerra. Esse paradigma está ligado à utilidade do homem à sociedade.
Em 400 a.C., na sociedade espartana as crianças a partir dos sete anos de idade eram 
entregues pelos pais ao Estado, a quem cabia a responsabilidade por sua criação. Essas eram 
criadas para se tornarem guerreiras e qualquer limitação que apresentassem era considerado 
motivo justo à sua eliminação, uma vez que não tinham utilidade ao Estado, a quem cabia o 
dever de garantir a sobrevivência da coletividade.
A eliminação dos indivíduos considerados disformes era uma forma de manter a sociedade 
saudável e perfeita, como podemos ler nas palavras de Platão (1972, p. 716) sobre a Medicina e 
jurisprudência, em sua obra intitulada República: “cuidarão apenas dos cidadãos bem formados 
de corpo e alma, deixando morrer os que sejam corporalmente defeituosos [...] é o melhor tanto 
para esses desgraçados como para a cidade em que vivem”.
Essa forma de pensamento voltou no início do século XX com as discussões sobre eugenia, 
linha de pensamento que via a miséria como consequência de corpos inferiores e incapazes de 
se adaptarem às novas condições das espécies, justificando, assim, a eliminação de pessoas que 
não se enquadravam nos valores vigentes da época.
XXXII. Entrementes, depois que a criança nascia, o pai não mais era 
dono dela para educá-la à vontade, mas a levava para certo lugar a 
ele deputado que se chamava Lesche, onde os mais antigos de sua 
linhagem residiam: visitavam eles a criança e, se a achavam bela, 
bem formada de membros e robusta, ordenavam fosse educada, 
destinando-lhe nove mil partes das heranças para sua educação; 
mas, se lhes parecia feia, disforme ou franzina, mandavam atirá-la 
num precipício a que vulgarmente se dava o nome de Apothetes, isto 
é, depositórios, pois tinham a opinião de que não era expediente, 
nem para a criança, nem para a coisa pública, que ela vivesse, visto 
como desde o nascimento não se mostrava bem constituída para 
ser forte, sã e rija durante toda a vida (PLUTARCO, 2007).
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A eliminação de pessoas como prática eugênica voltou a aparecer na Segunda Guerra Mundial. 
Antes mesmo dos nazistas assumirem o poder, já se discutia na Alemanha e em outros países da 
Europa a possibilidade de eliminação de pessoas incapacitadas, com o argumento científico de 
melhoria da raça humana, além de representar redução de custos para o Estado, que passou 
a obrigar, a partir de 1938, que fossem comunicados todos os nascimentos de crianças com 
deformações ou problemas mentais (AGOSTINO apud CARVALHO-FREITAS, 2007).
Eugenia – estudo e aplicação de métodos para melhorar as características próprias 
de uma espécie, favorecendo a aparição de certas características ou a eliminação de 
outras, consideradas ruins, como as doenças hereditárias; eugenismo, melhoramento 
genético – eugenia é termo mais usual para seres humanos (HOUAISS).
Beleza, vigor e perfeição
8
Unidade: Evolução dos Paradigmas da Deficiência
A deficiência como um fenômeno espiritual
Na Idade Média, com a dissolução do Império Romano, o pensamento cristão passou a nortear 
a forma de pensar da sociedade. No âmbito da teologia, as pessoas com deficiência ganharam o 
direito à vida, porém, essa passou a ser entendida como obra do pecado ou do demônio, de modo 
que essas pessoas passaram a ser estigmatizadas (BIANCHETTI; FREIRE, 2012). 
Diversas passagens da Bíblia ilustram e reforçam essa forma de ver a deficiência: “E eis que 
lhe trouxeram um paralítico deitado numa cama. E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: 
‘Filho, tem bom ânimo: perdoados te são os teus pecados’” (Bíblia Sagrada, Mateus, 9:2).
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A rejeição das pessoas com deficiência nessa época também tinha como critério a capacidade 
física humana, imprescindível para uma sociedade de economia agrária, que valorizava o corpo 
e as atividades físicas como a base dos instrumentos para a produção.
Aqueles que não reuniam condições físicas para o trabalho eram acolhidos nos conventos e 
igrejas, onde ganharam o direito à sobrevivência em troca de pequenos serviços. O paradigma do 
fenômeno espiritual motivou o surgimento da visão assistencialista que culminou na segregação 
e estigmatização das pessoas com deficiência. Seus cuidadores passaram a ser vistos como seres 
abnegados, que tinham diante de si a oportunidade da prática da caridade e, consequentemente, 
a salvação de suas almas.
A igreja não apenas estigmatizou pessoas com deficiência, mas também todos os que pensavam 
ou se comportavam de maneira divergente ao status quo da época. O destino dessas era a fogueira, 
consequência vista como uma forma de purificação pela crença de que, queimando o corpo físico, 
a alma seria libertada e salva da possessão demoníaca (BIANCHETTI; FREIRE, 2012).
9
A visão mecanicista na Era Industrial e o conceito de normalidade
Mudanças profundas ocorreram com a transição do feudalismo para o capitalismo, quando 
deu-se a origem da Idade Moderna. Com a ascensão da burguesia, as suas ideias tornaram-se 
dominantes na sociedade, de modo que o século XVI trouxe o desenvolvimento das Ciências 
e de tecnologias que permitiram ao homem maior domínio sobre a natureza, evoluindo da 
produção para a sua subsistência à produção voltada ao mercado, criando a possibilidade da 
acumulação de riquezas.
A visão mecanicista foi incorporada como um modo de ver a realidade, a substituição do 
trabalho humano pelo mecanizado contribuiu para que o corpo passasse a ser comparado a uma 
máquina e qualquer diferença era interpretada como uma disfunção desse equipamento. Apesarde nessa época os princípios da liberdade e da igualdade serem um dos pilares consagrados 
pela Revolução Francesa, esses não foram além da condição de figuras de linguagem em uma 
Era em que ocorreu a substituição da produção artesanal à manufatura. A produção em série 
exigia eficiência dos trabalhadores na realização de uma ou mais tarefas, o que tornava a força 
e habilidades físicas, critérios a serem considerados na avaliação da capacidade laboral do 
trabalhador (BIANCHETTI; FREIRE, 2012).
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As relações sociais substituem as interações naturais, surgindo leis e normas como instrumentos 
para garantir ao homem seu direito à liberdade individual e à igualdade. “A educação e o direito 
se institucionalizam e a sociedade passa a ser regulada por instituições. Estes são os germes 
da criação de uma nova estrutura organizacional da sociedade” (ROSS apud BIANCHETTI; 
FREIRE, 2012, p. 59).
Essas mudanças não foram tranquilas, a igreja católica e a nobreza não abriram mão de 
seus poderes de forma fácil, a burguesia precisou impor seu projeto social, sendo a Revolução 
Francesa um marco desse processo.
Época da razão, a conquista do direito à liberdade exigia que os indivíduos fossem livres em 
suas decisões e se orientassem apenas por sua razão. Mas é preciso desenvolver a razão por 
meio da educação, que se institucionalizou na escola para dar ao indivíduo as condições de 
tomar decisões com autonomia.
10
Unidade: Evolução dos Paradigmas da Deficiência
Francis Bacon dizia que a natureza, quando pesquisada e conhecida, poderia ser dominada 
e colocada a serviço dos homens e que a igualdade poderia ser conquistada com o uso de 
instrumentos e aparelhos:
Um coxo (segundo se diz) no caminho certo chega antes que um corredor 
extraviado, e o mais hábil e veloz, correndo fora do caminho, afasta-se de sua 
meta. O nosso método de descobrir a verdadeira Ciência é de tal sorte que 
pouco deixa à agudeza e à robustez dos engenhos; mas, ao contrário, pode-
se dizer que estabelece equivalência entre engenhos e intelectos, Assim como 
para traçar uma linha reta ou um círculo perfeito, perfazendo-os a mão, muito 
importam a firmeza e o desempenho, mas pouco ou nada importam usando a 
régua e o compasso (BACON, 1973, p. 36).
Francis Bacon (1561-1626), filósofo, político e 
ensaísta inglês é considerado o “pai do método 
experimental”, dado que suas teorias fundamentaram 
a Ciência moderna.
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Outro filósofo, Descartes, rompeu com a hegemonia da igreja quando afirmou que o 
mundo segue leis simples e matematizáveis, negando que exista qualquer força oculta que 
exerça influência sobre os corpos. Assim, as explicações sobrenaturais deixaram de ter lugar 
no pensamento humano da época, fortalecendo, então, o desenvolvimento da técnica, da 
manufatura e da Medicina, quando então a deficiência passou a ser uma manifestação de 
doença, cabendo aos médicos e especialistas a tarefa de diagnosticar, explicar e tratar.
René Descartes (1596-1650) é conhecido como o 
fundador da Filosofia moderna e considerado um 
dos pensadores mais importantes e influentes do 
pensamento ocidental.
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Considerada como doença ou disfunção de uma das peças de um corpo visto como uma 
máquina, nessa época a deficiência foi entendida como um desvio da norma, o que justificava 
que pessoas com deficiência fossem encaminhadas às instituições hospitalares ou psiquiátricas. A 
segregação foi uma solução possível da racionalidade. Marcadas por determinada “imperfeição”, 
tais pessoas eram assistidas em suas necessidades, mas sem perspectivas de melhorias das suas 
condições pessoais de vida.
11
Para Carvalho-Freitas (2007) o paradigma da sobrevivência dominante na Grécia Antiga voltou 
a aparecer no período pós-Segunda Guerra Mundial. Quando os países europeus começaram a 
receber seus heróis de guerra mutilados, a sociedade se viu em uma situação delicada: como 
negar o direito ao trabalho e ao convívio social aqueles homens que quase perderam suas vidas 
pela pátria? Como recusar a força laboral desses soldados em um momento da história em que 
a mão de obra em si era escassa? Tornava-se preciso buscar a manutenção da sociedade com a 
força de trabalho disponível. Porém, o ônus de provar que se podia contribuir à sociedade recaia 
sobre a pessoa com deficiência, devendo essa se adaptar às condições ambientais da época. 
O paradigma vigente era o da normalidade, pautando os esforços da sociedade na busca da 
minimização dos desvios por meio da reabilitação e a adequação das pessoas com deficiência ao 
sistema social em que viviam, alimentando a perspectiva da integração (CARVALHO-FREITAS, 
2007). O peso da normalidade ganhou expressividade à época da produção em série, quando 
a exigência pela especialização e eficiência no desempenho de uma ou mais tarefas tornaram-se 
os critérios da valoração do ser humano. As contribuições de Frederick W. Taylor (1856-1915) e 
Henry Ford (1863-1947) estabeleceram o gerenciamento científico do trabalho, com o objetivo 
de aumentar a produtividade por meio da busca por um tipo ideal de trabalhador.
Leia o seguinte trecho retirado a biografia de Henry Ford:
Pela época que Henry Ford começou a fabricar o Modelo T, 
em 1908, não eram necessárias 18 operações diferentes para 
completar uma unidade, mas 7.882. Em sua autobiografia, Ford 
registrou que destas 7.882 tarefas especializadas, 949 exigiam 
“homens fortes, fisicamente hábeis e praticamente homens 
perfeitos”; 3.338 tarefas precisavam de homens de força física 
apenas “comum”, a maioria do resto podia ser realizada por 
“mulheres ou crianças crescidas” e, continuava friamente, 
“verificamos que 670 tarefas podiam ser preenchidas por homens 
sem pernas, 2.637 por homens com um perna só, duas por 
homens sem braços, 715 por homens com um braço só e 10 por 
homens cegos”. Em suma, a tarefa especializada não exigia um 
homem inteiro, mas apenas uma parte. Nunca foi apresentada 
uma prova mais vívida do quanto a superespecialização pode 
ser brutalizante (TOFFLER, 1980, p. 62).
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Pode-se perceber que os critérios de classificação dos indivíduos estão intimamente ligados 
às características mais valorizadas nas diferentes épocas da história. Passando pela beleza, que 
valoriza a raça humana, até a força, que habilita o homem ao trabalho, o pano de fundo é a 
utilidade do indivíduo à coletividade.
Os esforços à normalização da condição “desviante” das pessoas com deficiência ainda 
representavam um caminho de mão única, pois ainda eram consideradas como as únicas 
responsáveis por suas condições. Em outras palavras, as oportunidades estavam colocadas, 
mas eram as suas limitações que as impediam de desfrutá-las.
A esse sentimento de impotência e aos diversos movimentos por melhores condições de 
trabalho, como os sindicais, junto da luta pela garantia dos direitos humanos e civis das minorias 
foram os fatos que marcaram os primórdios da inclusão social no século XX.
12
Unidade: Evolução dos Paradigmas da Deficiência
Da reabilitação à inclusão
A integração e a flexibilidade dos sistemas produtivos permitiram a criação de condições 
para que todos desfrutassem “igualmente dos avanços e conquistas da Ciência e da tecnologia” 
(BIANCHETTI; FREIRE, 2012, p. 39), de modo que diferenças sociais e físicas puderam ser 
superadas. Porém, era ainda forte a visão médica da deficiência, interpretando-a como doença 
ou “defeito a ser reparado”. A classe médica e especialista eram os porta-vozes das pessoas com 
deficiência, embora essa situação começara a mudar a partir da década de 1970. 
Em 1975, no Reino Unido, uma associação denominada Union of the Physically Impaired 
Against Segregation (Upias) afirmou que a sociedade é que incapacitava as pessoas com deficiência 
física, sendo a deficiência algo imposto pela coletividade quando as pessoas com deficiência eram 
desnecessariamente isoladas e excluídas da plena participaçãosocial. Segundo essa associação, 
eram necessárias providências e acordos que incluíssem o apoio financeiro, médico, técnico e 
educacional para que as pessoas com deficiência pudessem desenvolver autonomia e ter controle 
sobre suas vidas e escolhas. Nascia então o paradigma do modelo social de deficiência.
Trecho do documento da Upias com os princípios fundamentais da deficiência:
Em nossa opinião, é a sociedade que incapacita as pessoas com deficiência 
física. A deficiência é algo imposto em cima das nossas deficiências pela 
forma como somos, desnecessariamente, isolados e excluídos da plena 
participação na sociedade. As pessoas com deficiência são, portanto, 
um grupo oprimido na sociedade. Para entender isso, é necessário 
compreender a distinção entre a deficiência física e a situação social, 
chamada de “deficiência”, das pessoas com essa disfunção. 
Assim podemos definir deficiência como a falta da totalidade ou parte 
de um membro, ou uma parte do corpo ou mecanismo com defeito, e 
deficiência como a desvantagem ou restrição de atividade provocada 
por uma organização social contemporânea que não leva em conta as 
pessoas que têm deficiências físicas e, assim, exclui-as da participação 
no conjunto das atividades sociais.
(fonte: adaptado de <http://disability-studies.leeds.ac.uk/files/library/Shakespeare-social-model-of-disability.pdf>)
O modelo social rejeita o modelo individual da deficiência, que foca na sua medicalização e 
a enxerga como decorrente de limitações funcionais ou prejuízos psicológicos.
Para o modelo social a deficiência é um estado social e não uma condição médica, pois foca 
no fracasso da sociedade em prestar serviços adequados e que assegurem que as necessidades 
das pessoas com deficiência sejam consideradas na organização social.
A ideologia que orienta a prática médica é a restauração da pessoa com deficiência a um 
estado mais próximo possível da normalidade. Para o modelo médico é a sociedade que deve 
mudar e não as pessoas com deficiência, de modo que para a Upias isso seria possível a partir 
do empoderamento político das pessoas com deficiência como um grupo.
Esse movimento trouxe importantes contribuições à questão da deficiência: a primeira foi a 
constatação da necessidade de mudanças por parte da sociedade, para que as barreiras impostas 
pela forma como essa está estruturada sejam eliminadas. A segunda foi que as pessoas com 
deficiência perceberam que não são culpadas por a terem, uma vez que era a negação social 
que gerava tal incapacidade, de modo que passaram a se organizar e lutar pela equiparação de 
oportunidades e seus direitos à cidadania.
13
Inclusão social
De acordo com Carvalho-Freitas (2007, p. 55), a inclusão social como matriz de interpretação 
da deficiência teve origem no século XX, considerada herdeira da Revolução Industrial iniciada 
no século XVIII:
É um século marcado pela produção industrial, pelo desenvolvimento da 
tecnologia e da informação, pela acumulação de capital, pelo apogeu e queda dos 
movimentos sindicais em prol de melhores condições de trabalho, pelo movimento 
das minorias em busca de garantir seus direitos civis e por crises e mudanças.
Foi no século XX que surgiram os institutos especializados em reabilitação e programas de apoio 
à equiparação de oportunidades para pessoas com deficiência, esses propostos por organizações 
intergovernamentais como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial 
da Saúde e a Organização Internacional do Trabalho. O movimento pela garantia dos direitos 
humanos e civis das minorias ganhou expressividade nas décadas de 1960 e 1970.
No Brasil não foi diferente, dado que diversos fatores contribuíram para que políticas públicas 
fossem pensadas em prol da inclusão de pessoas com deficiência, entre as quais:
• A crescente pressão das organizações mundiais;
• O crescimento do movimento em prol das garantias dos direitos humanos e civis das 
pessoas com deficiência;
• A necessidade do Estado reduzir seus gastos com o seguro social de pessoas com deficiência;
• A evolução da Ciência que, por meio do desenvolvimento de novos recursos de tecnologia 
assistida, permitiu maior qualidade de vida e autonomia às pessoas com deficiência.
No Brasil, um importante passo para o processo de inclusão das pessoas com deficiência foi 
a aprovação da Lei n.º 8.213/91 que, em seu artigo 93, prevê que empresas com mais de cem 
funcionários destinem parte de suas vagas à contratação de pessoas com deficiência, levando a 
questão da diversidade para o campo organizacional.
Saiba mais:
Quadro de contratação de pessoas com deficiência prevista na Lei n.º 8.213/91.
De 100 a 200 2%
De 201 a 500 3%
De 501 a 1000 4%
De 1001 em diante 5%
14
Unidade: Evolução dos Paradigmas da Deficiência
Porém, no campo da educação a preocupação pelo atendimento às pessoas com deficiência 
remonta à época imperial, quando em 1854 D. Pedro II criou o Imperial Instituto dos Meninos 
Cegos, que a partir de 1891 recebeu o nome de Instituto Benjamin Constant, em homenagem 
ao seu terceiro diretor. 
A eficácia da educação especial sempre foi um tema controverso, pois embora alguns 
acreditassem na sua eficácia, outros a consideravam extremamente segregadora. A Declaração 
de Salamanca, assinada em 1994 em uma assembleia que reuniu 88 governos e 25 organizações 
internacionais, reconheceu a urgência de providências e políticas públicas que promovessem a 
educação de crianças e jovens com deficiência no sistema regular de ensino.
Assim, a inclusão ainda é um processo em construção, que apresenta desafios operacionais 
e, sobretudo, conceituais e atitudinais. A busca pela equiparação de oportunidades passa pela 
busca do reconhecimento, que segundo Axel Honneth (2003) percorre três esferas: dos afetos e 
autoconfiança; das leis, direitos e autorrespeito; da solidariedade social e autoestima.
Compreendida a evolução do significado da deficiência ao longo da história, assim como 
quais razões e justificativas estavam embasadas nos valores predominantes de cada época, 
é importante que você compreenda que em todos esses momentos cada sociedade acreditar 
agir corretamente. A evolução das práticas sociais levou à reconfiguração desses valores e à 
proposição de novas formas de valoração das diferenças, aceitando-as. Aceitar as diferenças 
“significa, sobretudo, incorporar a diversidade humana como um fato inerente à própria 
realidade” (YNGAUNIS, 2011, p. 102).
15
Material Complementar
BIANCHETTI, Lucídio. Aspectos históricos da educação especial. Rev. Bras. Educ. 
Espec., v. 2, n. 3, p. 7-19, 1995. Disponível em: <http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_
pdf&pid=S1413-65381995000100002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 24 set. 2014.
GARCIA, Vinicius Gaspar. As pessoas com deficiência na história do Brasil. 2 out. 
2011. Disponível em: <http://www.bengalalegal.com/pcd-brasil>. Acesso em: 24 set. 2014.
O EXTERMÍNIO dos deficientes. [20--]. Disponível em: <http://www.ushmm.org/
outreach/ptbr/article.php?ModuleId=10007683>. Acesso em: 24 set. 2014.
ROSS, Paulo Ricardo. Educação e trabalho: a conquista da diversidade ante as políticas 
neoliberais. In: BIANCHETTI, Lucídio; FREIRE, Ida Mara (Org.). Um olhar sobre a diferença: 
interação, trabalho e cidadania. 12. ed. Campinas, SP: Papirus, 2012. p. 53-110.
16
Unidade: Evolução dos Paradigmas da Deficiência
Referências
BACON, Francis. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
BIANCHETTI, Lucídio; FREIRE, Ida Mara (Org.). Um olhar sobre a diferença: interação, 
trabalho e cidadania. 12. ed. Campinas, SP: Papirus, 2012. (Série Educação Especial).
CARVALHO-FREITAS, Maria Nivalda. A inserção de pessoas com deficiência em 
empresas brasileiras – um estudo sobre as relações entre concepções de deficiência, condições 
de trabalho e qualidade de vida no trabalho. 2007. Tese (Dourado) - Centro de Pós-Graduação 
e Pesquisas em Administração da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal 
de Minas Gerais, Belo Horizonte,MG, 2007.
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. 2. ed. 
São Paulo: 34, 2003.
PLUTARCO. A vida de Licurgo. 31 out. 2007. Disponível em: <http://www.consciencia.org/
plutarco_licurgo.shtml/3>. Acesso em: 7 set. 2014.
TOFFLER, Alvin. A terceira onda. São Paulo: Record, 1980.
YNGAUNIS, Sueli. O reconhecimento social e a abordagem da temática da deficiência nas 
telenovelas brasileiras. In: MARQUES, Ângela; MATOS, Heloíza (Org.). Comunicação e 
política: capital social, reconhecimento e deliberação pública. São Paulo: Summus, 2011.
17
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