Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TUTORIAL 1 – MARCHA JORDANNA M. RODRIGUES – MED UESB – TURMA XV 1 | P á g i n a Marcha fisiologica DETERMINANTES DA MARCHA NORMAL ] Para que a marcha seja considerada normal, alguns aspectos devem estar presentes, são os pré-requisitos da marcha normal: Contato inicial realizado com o retropé (toque do calcâneo ao solo). Estabilidade na fase de apoio. Liberação adequada do pé para a fase de balanço. Comprimento adequado de passo. Conservação de energia. ] A conservação de energia na marcha normal é focada nos seguintes pontos: Redução da oscilação do centro de massa. O centro de massa está habitualmente localizado anterior à segunda vértebra sacral e, durante a marcha normal, desloca-se nos três planos de movimento. ] Existe uma série de mecanismos fisiológicos empregados para que tal deslocamento seja o menor e mais suave possível. Esses mecanismos são chamados de determinantes da marcha: elevação e rotação interna da pelve no início da fase de apoio + primeira onda de flexão dos joelhos na resposta à carga + leve valgo do joelho e adução do quadril na resposta à carga. + mecanismos de rolamento dos tornozelos na fase de apoio UTILIZAÇÃO DE MECANISMOS PASSIVOS DE ESTABILIZAÇÃO ARTICULAR ] A estabilização de uma articulação pode ser feita de forma passiva ou ativa. A estabilização passiva não exige ação muscular e é obtida pela tensão capsular e/ou ligamentar, em conjunto à anatomia intrínseca de cada articulação. A estabilização ativa requer contração muscular para manter a articulação estável AÇÃO DE MÚSCULOS BIARTICULARES ] Os músculos biarticulares são, por definição, estruturas que cruzam ao menos duas articulações. ] Para melhor compreensão da atuação desses músculos, torna-se necessária uma breve revisão dos tipos de contração muscular existentes. ] A contração concêntrica é quando ocorre encurtamento muscular com geração de movimento no sentido esperado anatomicamente (aceleração) e produção de energia e ocorre redução da distância entre a origem e a inserção do músculo ] Na contração excêntrica, ocorre alongamento muscular e desaceleração, o músculo atuante modela um movimento no sentido contrário à ação usual e ocorre absorção de energia, distância entre a origem e a inserção do músculo aumenta. ] Por fim, a contração isométrica ocorre quando o comprimento da estrutura muscular não é alterado e a função é basicamente de estabilização articular. ] A atuação dos músculos biarticulares na conservação de energia ocorre quando uma extremidade contrai de maneira excêntrica e absorve energia, que será transmitida para a outra extremidade muscular, que atuará de maneira concêntrica e fará uso de parte da energia transferida. CONTRAÇÃO MUSCULAR ] Durante o ciclo de marcha, a contração muscular pode ocorrer de três formas diferentes: concêntrica, excêntrica e isométrica ] A isométrica é o tipo menos observado durante a marcha e tem como objetivo estabilizar uma articulação ou um segmento e não há geração e/ou absorção de energia. CICLO DE MARCHA E EVENTOS ] Momento é todo o tipo de força que atua através de um fulcro ou dobradiça. As grandes articulações dos membros inferiores (quadril, joelho e tornozelo) geram movimento através de um fulcro, e as forças atuantes nesses segmentos também são chamadas de momentos ] Os momentos externos são aqueles produzidos pela força de reação ao solo, inércia e gravidade, enquanto os momentos internos são gerados pela ação muscular, capsular e ligamentar ] O momento pode ser calculado através da seguinte fórmula: M (momento) = F × D, Em que: F (força): contração muscular (momento interno), tensão capsuloligamentar (momento interno) e força de reação ao solo (momento externo). D (distância): distância entre o ponto de aplicação da força e o centro da articulação onde ocorrerá o movimento ] Quando o momento gera movimento da articulação com características de aceleração, existe a produção de potência e geração de energia. Por outro lado, se a característica do movimento é de desaceleração, ocorre absorção de energia, e a potência é negativa ] Para que ocorra geração de potência, é fundamental que exista um momento acompanhado de movimento articular, pois: P(potência) = momento × aceleração angular FASES DE APOIO E BALANÇO ] A fase de apoio é caracterizada pelo contato do membro inferior ao solo e corresponde, na deambulação normal, a cerca de 60% do ciclo ] Dentro da fase de apoio, existem períodos de apoio simples (contato de apenas um membro ao solo) e duplo apoio (contato de ambos os membros ao solo). ] Os períodos de duplo apoio ocorrem nos 10% iniciais e finais da fase de apoio, enquanto nos 40% centrais, o apoio é simples TUTORIAL 1 – MARCHA JORDANNA M. RODRIGUES – MED UESB – TURMA XV 2 | P á g i n a ] Na fase de balanço, não existe contato do membro com o solo, e tal fase corresponde a cerca de 40% do ciclo de marcha ] Quanto mais instável e lenta for a deambulação, maior será a fase de apoio e menor será a fase de balanço CONTATO INICIAL ] O ciclo de marcha tem início com o toque do calcâneo ao solo na marcha normal, com o objetivo de proporcionar o primeiro mecanismo de rolamento e a recepção adequada de carga ] O peso do corpo que estava todo no membro contralateral começa a ser transferido para o membro que inicia o ciclo ] Para que esse evento ocorra de maneira adequada, é necessário que, ao final da fase de balanço, o joelho tenha extensão completa e o músculo tibial anterior mantenha o tornozelo em posição neutra (90°) através de uma contração concêntrica ] O quadríceps está ativado (contração concêntrica), nesse momento, para manter a estabilidade do joelho em extensão, enquanto o quadril, que começa o ciclo de marcha em flexão de 30 a 35°, necessita da estabilização dos extensores dessa articulação ] Com isso, torna-se necessária a contração concêntrica dos extensores de quadril (momento interno extensor) para estabilização articular e para evitar o colapso em flexão RESPOSTA À CARGA ] Nesse evento, ocorrem duas importantes ações com o objetivo de amortecer o impacto e receber de maneira adequada a força peso, que será transferida para o membro na fase de apoio ] O primeiro mecanismo de rolamento dos tornozelos é uma dessas ações ] O ciclo de marcha inicia-se com o toque do calcâneo ao solo e o tornozelo permanece em posição neutra (cerca de 90°) nesse momento ] Com isso, a força de reação ao solo fica localizada posteriormente ao centro articular do tornozelo e gera um momento externo flexor plantar, que irá favorecer o movimento de flexão plantar para que o pé seja acomodado ao solo ] A segunda importante ação na resposta à carga é a primeira onda de flexão dos joelhos, um dos determinantes da marcha normal ] A força de reação ao solo é deslocada posteriormente com relação ao centro articular dos joelhos e produz momento externo flexor ] Com isso, o joelho inicia uma flexão, que será controlada por uma contração excêntrica do quadríceps (momento interno extensor) com o intuito de evitar que a flexão seja excessiva e ultrapasse 20° ] Uma vez controlada a primeira onda de flexão dos joelhos na resposta à carga, o quadríceps passa a realizar uma contração concêntrica e inicia a extensão dessa articulação na fase de apoio ] Os extensores primários (glúteo máximo) e secundários (isquiotibiais) dos quadris (momento interno) realizam, nesse evento, uma contração concêntrica e dão início à extensão da articulação. Com isso, é produzida uma aceleração do membro e, por esse motivo, os extensores de quadril são considerados um dos importantes propulsores da marcha normal, junto com o tríceps sural(gastrocnêmio) e os flexores de quadril MÉDIO APOIO ] O médio apoio é um período de apoio simples, e a estabilidade do membro é um pré- requisito fundamental ] Uma das principais tarefas desse evento é promovero avanço do corpo sobre o pé estacionário ao solo ] No final da resposta à carga, a força de reação ao solo desloca-se anteriormente ao tornozelo e passa a gerar um momento externo dorsiflexor ] No entanto, é necessária uma modulação realizada pelo músculo solear (momento interno flexor plantar), através de uma contração excêntrica, para que a dorsiflexão do tornozelo não seja excessiva e não cause deformidade em calcâneo ] Esse aumento progressivo da dorsiflexão do tornozelo na fase de apoio, modulado pela ação excêntrica do músculo solear, é chamado de segundo mecanismo de rolamento ] A extensão do joelho a partir do médio apoio é realizada de maneira passiva e sem necessidade de ação do quadríceps ] No apoio simples, ocorre elevação da pelve e adução do quadril (inferior a 10°) no plano coronal. Nesse momento, a força de reação ao solo passa medialmente ao centro articular do quadril (momento externo adutor), o que torna necessária a ação dos abdutores (momento interno) para manutenção da estabilidade do segmento e para evitar a queda excessiva da hemipelve contralateral. Como já descrito, o tipo de contração muscular que ocorre nessa situação é a isométrica APOIO TERMINAL ] É caracterizado pelo contato de apenas um membro ao solo. É nesse evento que ocorre a extensão máxima dos joelhos (0-5° de flexão) e dos quadris (por volta de 10° de extensão) ] É no apoio terminal que o tornozelo atinge seu pico de dorsiflexão (cerca de 10°), e a força de reação ao solo continua anterior à articulação, com a produção do momento externo dorsiflexor ] O segundo mecanismo de rolamento do tornozelo termina nessa subfase TUTORIAL 1 – MARCHA JORDANNA M. RODRIGUES – MED UESB – TURMA XV 3 | P á g i n a PRÉ-BALANÇO ] É caracterizado pelo duplo apoio, já que o membro inferior contralateral realiza o contato inicial e a resposta à carga no mesmo momento ] É um evento caracterizado pela produção de potência e propulsão gerada ao nível do quadril e tornozelo ] Nesse último, ocorre o terceiro mecanismo de rolamento, quando, através de uma contração concêntrica do músculo gastrocnêmio, o tornozelo realiza flexão plantar com desprendimento do calcâneo do solo e produção de energia propulsora ] Com isso, a força de reação ao solo é deslocada posteriormente ao centro articular do joelho e gera momento externo flexor ] Esse fato, em conjunto à contração concêntrica que também ocorre nos flexores de quadril, promove o início da segunda onda de flexão do joelho, que atingirá cerca de 40° ao final da fase de apoio BALANÇO INICIAL ] No balanço inicial, a principal tarefa a ser realizada é a adequada liberação do pé, sem a necessidade de utilização de mecanismos compensatórios ] Essa subfase é caracterizada pela aceleração, estando presente a flexão máxima dos joelhos na marcha normal (60°) ] Esse evento tem início com o desprendimento do pé ao final da fase de apoio e dura até o joelho atingir seu pico de flexão, momento também definido pela passagem do membro em balanço pelo contralateral, que está no médio apoio ] A partir do instante em que o pé desprende-se do solo e inicia a fase de balanço, o músculo gastrocnêmio cessa sua ação, e o tibialanterior sofre contração concêntrica com o objetivo de promover dorsiflexão dos tornozelos facilitando, assim, a transição de fases ] Em virtude da ausência de contato com chão, a força de reação ao solo não está presente na fase de balanço BALANÇO MÉDIO ] Começa logo após os joelhos atingirem a flexão máxima e tem como característica principal o início da extensão dos joelhos preparando para o contato inicial ] Os quadris atingem flexão máxima no balanço médio (flexão de cerca de 35°), e o segmento da perna trabalha como um pêndulo nessa subfase por meio na inércia ] O balanço médio termina quando a perna atinge posição vertical com relação ao solo e, nesse evento, o tornozelo atinge a posição neutra (90°), em virtude da manutenção da contração concêntrica do músculo tibial anterior ] BALANÇO TERMINAL ] A principal função é a preparação do membro que está em balanço para receber carga no contato inicial ] A divisão entre balanço médio e terminal é dada a partir do ponto em que a perna atinge a posição vertical ] O músculo tibial anterior também se mantém contraído concentricamente para que o tornozelo permaneça a 90° e o contato inicial possa ser realizado com o retropé ] Os quadris, que atingiram sua flexão máxima no balanço médio (35°), permanecem fletidos e são estabilizados pelos extensores dessa articulação em preparação para o contato inicial ] O quadríceps também trabalha de maneira concêntrica no final da fase de balanço para que o ciclo de marcha possa ser iniciado com os joelhos estáveis e em extensão CINEMÁTICA DO TORNOZELO ] A cinemática dos tornozelos no plano sagital é baseada nos três mecanismos de rolamento ] O primeiro mecanismo tem seu fulcro no calcâneo. No contato inicial, com o toque do calcanhar, o tornozelo está em posição neutra. Durante a resposta à carga, ocorre um movimento de flexão plantar do tornozelo até cerca de 7° ] O segundo mecanismo de rolamento tem o fulcro na articulação do tornozelo. A partir do momento em que o pé se encontra totalmente apoiado no solo, a tíbia passa a ser o segmento que avança sobre esse pé e garante a continuidade da progressão anterior. ] O terceiro mecanismo de rolamento tem seu fulcro na cabeça dos metatarsos com a elevação do calcanhar do solo na segunda metade do apoio terminal CINEMÁTICA DO JOELHO ] A cinemática do joelho na marcha normal apresenta um padrão de dupla onda de flexão no plano sagital. A primeira onda de flexão ocorre na resposta à carga, tem início a partir de uma posição em extensão neutra no contato inicial, seguida de uma flexão de 15 a 20°, com o objetivo de absorção do choque e limitação da excursão vertical do centro de massa ] A segunda onda de flexão do joelho tem início no final do apoio terminal e, ao final do pré- balanço, o joelho já atinge cerca de 40° de flexão CINEMÁTICA DO QUADRIL ] O quadril apresenta flexão de 35° no contato inicial e, durante a resposta à carga, a posição do quadril permanece relativamente estável ] A partir do apoio simples, ocorre uma extensão contínua do quadril até um máximo de 10 a 20° de extensão, atingidos no final do apoio terminal ] No pré-balanço, o quadril inicia a flexão até atingir um pico de 35° no médio balanço, que é mantido durante o balanço terminal até o novo contato inicial TUTORIAL 1 – MARCHA JORDANNA M. RODRIGUES – MED UESB – TURMA XV 4 | P á g i n a CINEMÁTICA DA PELVE ] A pelve apresenta uma inclinação anterior (anteversão) média de 10° e atinge pico de 13° no apoio simples, que equivale ao balanço médio contralateral CINEMÁTICA DOS PÉS ] O pé mostra uma rotação externa média de cerca de 10° do contato inicial até o final do médio apoio ] Com o terceiro mecanismo de rolamento, ocorre discreta inversão e, por isso, uma diminuição da rotação externa de até 3° no pré-balanço ] Durante os balanços inicial e médio, ocorre nova rotação externa de cerca de 15°, associada à eversão para auxiliar na liberação do pé do solo CINEMÁTICA DOS TORNOZELOS ] No contato inicial, a ação concêntrica dos músculos dorsiflexores (tibial anterior, extensor longo dos dedos e extensor longo do hálux) mantém o tornozelo a 90° CINÉTICA DOS JOELHOS ] No início do ciclo, o joelho está em extensão total pela contração concêntrica do quadríceps, que teve início no balanço terminal ] Na resposta à carga, inicia-se a primeira onda de flexão do joelho, o que leva a força de reação ao solo progredir posteriormente ao seu centro articular e, desse modo, produzir um momento externo flexor ] A flexão do joelho no balanço inicial ocorre em um movimento pendular, através da flexão ativa do quadril CINÉTICA DOS QUADRIS ] A extensãodo quadril no início do ciclo é acelerada através da contração concêntrica dos extensores mono e biarticulares (glúteo máximo e isquiotibiais) do quadril ] A atividade concêntrica dos extensores do quadril se faz necessária apenas até o médio apoio, pois a progressão do peso corporal desloca posteriormente a força de reação do solo ] No final do apoio terminal e do pré-balanço, a diminuição da extensão do quadril ocorre devido à presença de um momento interno flexor e da ação concêntrica distal do gastrocnêmio no terceiro mecanismo de rolamento, que acarreta a flexão do joelho e, automaticamente, produz uma flexão do quadril, pela propulsão anterior da tíbia e do fêmur Marcha patologica ] Os distúrbios da marcha podem ser atribuídos a fragilidade, fadiga, artrite e deformidade ortopédica, mas as causas neurológicas são incapacitantes e sempre devem ser avaliadas ] Ao exame clínico, o distúrbio da marcha observado tem de ser encarado como o resultado de um déficit neurológico e uma adaptação funcional ] Fatores singulares da marcha deficiente geralmente são sobrepujados pela resposta adaptativa EPIDEMIOLOGIA ] São descritos distúrbios da marcha em 15% dos indivíduos com mais de 65 anos de idade ] A partir dos 85, a prevalência de anormalidades da marcha aproxima-se de 40% MARCHA CAUTELOSA ] Usa-se essa expressão para descrever o paciente que deambula com passos curtos e abaixando o centro de massa, como se caminhasse sobre uma superfície escorregadia ] Tal distúrbio é comum e inespecífico. É uma adaptação a uma ameaça postural percebida ] Esse distúrbio pode ser observado em mais de um terço dos casos de pacientes idosos com prejuízo da marcha MARCHA COM PERNAS RÍGIDAS ] Caracteriza-se por rigidez nas pernas e desequilíbrio do tônus muscular, bem como tendência à circundução e a arrastar os pés ] O distúrbio reflete o comprometimento do comando corticospinal e hiperatividade dos reflexos medulares ] O paciente pode caminhar sobre os dedos dos pés. Em circunstâncias extremas, as pernas se cruzam devido à hipertonia dos adutores ] O distúrbio pode ser de origem cerebral ou espinal. A mielopatia por espondilose cervical é uma causa comum de marcha espástica ou espástica-atáxica em idosos ] Deve-se excluir uma lesão estrutural, como um tumor ou malformação vascular espinal, com os exames apropriados ] Com espasticidade cerebral, a assimetria é comum, em geral se observa acometimento dos membros superiores e a disartria costuma ser uma manifestação associada TUTORIAL 1 – MARCHA JORDANNA M. RODRIGUES – MED UESB – TURMA XV 5 | P á g i n a PARKINSONISMO E MARCHA CONGELADA ] A postura encurvada e a marcha arrastada são manifestações típicas e distintivas ] Os pacientes algumas vezes aceleram (festinação) na caminhada, mostram retropulsão ou exibem tendência a virar em bloco ] O congelamento da marcha é definido como “ausência episódica e breve de progressão dos pés para frente apesar da intenção de caminhar" ] Ocorre instabilidade postural e queda à medida que a doença progride; algumas quedas são precipitadas pelo congelamento da marcha DISTÚRBIO FRONTAL DA MARCHA/APRAXIA DA MARCHA ] Tipo de marcha arrastada, congelada, com desequilíbrio e outros sinais de disfunção cerebral alta ] Os aspectos típicos consistem em base ampla de sustentação, passos curtos, pés que arrastam no chão e dificuldade com partidas e voltas ] Muitos pacientes apresentam dificuldade para iniciar a marcha, o que se caracteriza de forma descritiva como síndrome da “embreagem deslizante” ou marcha da “falha de ignição” ] A força em geral fica preservada, e os pacientes conseguem fazer os movimentos das passadas, quando não estão parados, e manter o equilíbrio ao mesmo tempo ] Tal distúrbio é mais bem considerado uma alteração do controle motor de nível superior, diferentemente de uma apraxia ] A causa mais comum do distúrbio frontal da marcha é doença vascular, em particular dos pequenos vasos subcorticais MARCHA DA ATAXIA CEREBELAR ] A marcha da ataxia cerebelar caracteriza-se por base ampla de sustentação, instabilidade lateral do tronco, colocação errática dos pés e descompensação do equilíbrio ao tentar deambular sobre uma base estreita ] A dificuldade para manter o equilíbrio ao virar-se frequentemente é um dos primeiros sinais ] Os pacientes não conseguem deambular pé ante pé e exibem oscilação do tronco em posição parada estreita ou pé ante pé ] As causas de ataxia cerebelar em idosos incluem AVE, traumatismo, tumor e doenças neurodegenerativas ] A degeneração cerebelar alcoólica pode ser apurada durante a anamnese e muitas vezes confirmada pela RM ATAXIA SENSORIAL ] O equilíbrio depende de informações aferentes de alta qualidade, provenientes dos sistemas visual e vestibular, bem como da propriocepção. Quando essas informações se perdem ou sofrem degradação, o equilíbrio durante a locomoção fica comprometido, resultando em instabilidade ] As sensações proprioceptivas e vibratórias estão diminuídas nos membros inferiores. A postura ortostática em tais pacientes se desestabiliza quando fecham os olhos; em geral, ao deambular, olham para baixo, na direção dos pés, e a dificuldade aumenta no escuro DOENÇA NEUROMUSCULAR ] Nos casos de fraqueza distal (neuropatia periférica), a altura do passo aumenta para compensar a queda do pé, cuja planta pode bater no solo durante o apoio do peso ] Os pacientes com miopatia ou distrofia muscular exibem fraqueza proximal mais frequentemente. A fraqueza da cintura pélvica pode resultar em alguma inclinação excessiva do quadril durante a locomoção DISTÚRBIOS TÓXICOS E METABÓLICOS ] A intoxicação alcoólica é a causa mais comum da dificuldade à deambulação ] A toxicidade crônica decorrente de fármacos e distúrbios metabólicos pode prejudicar a função motora e a marcha ] Pode haver alterações no estado mental e o exame físico pode revelar asterixe ou mioclonia. O equilíbrio estático mostra-se alterado, e tais pacientes perdem o equilíbrio com facilidade DISTÚRBIO PSICOGÊNICO DA MARCHA ] Alguns pacientes com ansiedade extrema ou alguma fobia deambulam com excesso de cautela e abdução dos braços, como se caminhassem sobre o gelo ] Pacientes deprimidos exibem principalmente lentidão ao deambular, uma das manifestações de retardo psicomotor, e falta de objetivo ao dar os passos ] Os distúrbios histéricos da marcha estão entre os mais notáveis encontrados. É possível observar giros aleatórios da postura com desperdício de energia muscular (abasia-astasia), movimentos lentos extremos e flutuações marcantes ao longo do tempo em pacientes com distúrbios somatoformes e reações de conversão MARCHAS NOS DEFEITOS DE FECHAMENTO DO TUBO NEURAL ] Os pacientes com defeitos de fechamento do tubo neural (DFTN) podem ser divididos em quatro grandes grupos funcionais: grupo torácico/lombar alto, lombar baixo, sacral alto e sacral baixo TUTORIAL 1 – MARCHA JORDANNA M. RODRIGUES – MED UESB – TURMA XV 6 | P á g i n a ] Grupo torácico/lombar alto: a principal característica desse grupo é a ausência de ação dos quadríceps ] Grupo lombar baixo: os pacientes desse grupo têm função preservada do quadríceps e dos isquiotibiais mediais, porém, os glúteos médio e máximo não são efetivos. [ Plano Coronal: Uma das principais características da marcha é a inclinação lateral do tronco durante a fase de apoio em virtude da deficiência dos abdutores de quadril. O objetivo dessa compensação é deslocar a força de reação ao solo lateralmente ao quadril, com o propósito de reduzir a demanda sobre os abdutores. No entanto, a força de reação ao solo também é deslocada lateralmente ao joelho, o que gera estresse em valgo nesse nível. Durante a fase de apoio, passa a ocorrer rebaixamento da pelve e abdução do quadril ipsilateral, enquanto, no balanço, a pelve fica mais elevadae o quadril aduzido. [ Plano Sagital: A deficiência do glúteo máximo gera aumento da anteversão da pelve e limitação para a extensão dos quadris na fase de apoio. Os tornozelos exibem aumento da dorsiflexão na fase de apoio em virtude da deficiência do tríceps sural, principalmente de seu componente solear. No pré-balanço, a geração de potência do tornozelo é pobre pela falta de ação do gastrocnêmio. Na fase de balanço, a deficiência do tibial anterior provoca flexão plantar inadequada, com consequente prejuízo na liberação do pé para o balanço. A força de reação ao solo permanece posteriormente ao centro articular dos joelhos, favorecendo o aumento da flexão dessa articulação durante essa mesma fase do ciclo de marcha [ Plano Transverso: Na fase de apoio, a pelve exibe aumento da rotação interna; no balanço, há aumento da rotação externa. O desvio externo dos pés é comum e tem como causas frequentes a deformidade em plano valgo dos pés, o aumento da torção tibial externa e o aumento da rotação externa dos quadris desenvolvimento dos membros inferiores ] O desenvolvimento dos membros se inicia com a ativação de um grupo de células mesenquimais no mesoderma lateral. Os brotos dos membros se formam profundamente abaixo de uma espessa faixa de ectoderma; aparecem inicialmente como elevações das paredes ventrolaterais do corpo no final da quarta semana. Os brotos dos membros superiores são visíveis por volta do 26º dia, e os dos membros inferiores aparecem 1-2 dias mais tarde. Cada broto consiste em uma massa de mesênquima coberta por ectoderma. Os brotos se alongam pela proliferação do mesênquima. ] Nos estágios iniciais, o desenvolvimento é igual para os membros superiores e inferiores. Os brotos inferiores desenvolvem-se no nível dos segmentos sacrais superiores. No ápice de cada broto do membro, o ectoderma se espessa para formar uma crista ectodérmica apical (CEA). A extremidade distal dos brotos dos membros, semelhante a nadadeira, se achata originando as placas das mãos e dos pés, em forma de remo. Estudos experimentais também mostraram que o ácido retinóico endógeno está envolvido no desenvolvimento e na formação do membro. Durante a sétima semana, condensações mesenquimais semelhantes formam raios digitais e brotos dos artelhos nas placas dos pés. Na extremidade de cada raio digital, uma parte da crista ectodérmica apical induz o desenvolvimento do mesênquima para a formação dos primórdios mesenquimais dos ossos (falanges) nos dedos. Os intervalos entre os raios digitais são ocupados por mesênquima frouxo. Cedo as regiões de mesênquima (interpostas) se desfazem formando entalhes entre os raios digitais. À medida que a destruição do tecido progride, ocorre separação dos raios e os dedos são, assim, formados no final da oitava semana. A apoptose é responsável pela rotura tissular nas regiões interdigitais, e é provavelmente mediada por proteínasmorfogenéticas ósseas. ESTÁGIOS FINAIS DO DESENVOLVIMENTO DOS MEMBROS ] À medida que os membros crescem os moldes cartilaginosos dos ossos são formados por agregados celulares. Os centros de condrificação aparecem na quinta semana. No final da sexta semana, todo o esqueleto do membro é cartilaginoso. A osteogênese dos ossos longos se inicia na sétima semana nos centros primários de ossificação na região central dos moldes cartilaginosos. Os centros de ossificação estão presentes em todos os ossos longos durante a décima segunda semana. ] Das regiões do dermomiótomo dos somitos, células miogênicas precursoras também migram para o broto do membro e, mais tarde, diferenciam-se em mioblastos, precursores das células musculares. A medida que os ossos longos se formam, os mioblastos se agregam e formam uma grande massa muscular em cada broto do membro. Geralmente, essa massa celular se separa em componentes dorsal (extensor) e ventral (flexor). O mesênquima do membro origina os ossos, ligamentos e vasos sanguíneos. Os miótomoslombossacrais contribuem para a formação dos músculos da cintura pélvica. ] “Toda criança nasce com as chamadas pernas arqueadas - genu varo - e a medida que vão crescendo esta deformidade vai diminuindo. Quando a criança inicia a marcha de forma precoce ou apresenta uma obesidade, a deformidade pode se tornar um pouco mais acentuada. De forma natural e espontânea esta deformidade irá se corrigir nos próximos TUTORIAL 1 – MARCHA JORDANNA M. RODRIGUES – MED UESB – TURMA XV 7 | P á g i n a meses, se tornando normal por volta dos dois anos em média. A parir dos dois anos existe uma tendência da deformidade se inverter, e se tornar o chamado joelho em tesoura - genu valgo - que também ocorre de forma fisiológica, e também se corrigi de forma natural e progressiva. O período de maior intensidade ocorre entre os dois anos e meio até os quatro anos, em média. - Após os 8 anos existe uma tendência que o menino tenha as pernas neutras ou retas a um ligeiro varo ou levemente arqueadas. As meninas tendem a ter os joelhos em leve valgo, que é normal até os 7 a 8 graus. Deformidades em valgo acima dos 10 graus são consideradas patológicas e devem ser tratadas. Esta deformidade a longo prazo além de ser anti-estética vai levar a uma sobrecarga ao nível do chamado compartimento lateral do joelho, podendo levar futuramente a uma osteoartrose.” Geno valgo, mielomeningocele e paralisia cerebral GENO VALGO ] Queixa muito comum no consultório, o genu valgo é normal em crianças entre 2 a 8 anos. O valgo fisiológico máximo ocorre em torno dos 3 anos, reduzindo aos poucos até a idade aproximada de 7 anos, quando mantém um valgo sutil, que não muda até a maturidade ] Em algumas situações, uma investigação com exames de imagem pode ser necessária, sobretudo quando o valgo é acentuado ou quando há assimetria ] Pode ser preciso também em crianças abaixo de 10% na curva de crescimento, história prévia de fraturas, infecções e doenças renais ou metabólicas ] O valgo aparente pode ser resultado de um aumento na anteversão do colo femoral. Os quadris devem ser avaliados em conjunto aos joelhos. ] O genu valgo fisiológico acentuado após os 8 anos de vida pode ser corrigido quando há algum distúrbio da marcha, dor no joelho, mal alinhamento patelar ou instabilidade ligamenta ] Se a necessidade de correção do valgo ocorrer durante a fase de crescimento da criança, pode ser planejado o tratamento com a hemiepifisiodese medial, temporária ou permanente, com correção gradual da deformidade, sendo necessário o seguimento do pós-operatório para evitar a inversão da deformidade ] Se identificado próximo ou após a maturidade esquelética, o genu valgo idiopático excessivo pode ser corrigido com osteotomia do fêmur distal ] No geno valgo secundário à fratura tíbia proximal ocorre uma deformidade em valgo progressiva da tíbia após fratura metafisária proximal sem fratura da fíbula associada ] A intervenção cirúrgica no genu valgo só é recomendada quando o valgo é sintomático e extremo, podendo ser realizada a hemiepisiodese da tíbia proximal medial após três anos do trauma na criança em crescimento ] A partir desse período, a deformidade migra para a diáfise, e qualquer correção posterior pode criar uma deformidade tipo baioneta na tíbia ] Os diagnósticos diferenciais do genu valgo idiopático e pós-traumático podem ser raquitismo, displasias espondiloepifisária e metafisária, lesões ósseas e osteocondromatose múltipla hereditária ] Basicamente, há dois métodos de hemiepifisiodese. No temporário, faz-se uso de algum material de síntese que “prende” a fise até a correção da deformidade, e, depois de sua correção, o material é retirado e o crescimento retorna ] É comum serem usados parafusos canulados, grampos ou placas ] Outro método usado é o definitivo, que pode ser aberto ou percutâneo, em que há destruição da fise, não havendo possibilidade de o dano serrevertido, havendo necessidade do cálculo preciso do correto momento da epifisiodese MIELOMENINGOCELE (ESPINHA BÍFIDA) ] A mielomeningocele, também chamada de espinha bífida, é o defeito mais comum do tubo neural e o que incapacita de forma mais grave, mas é compatível com a sobrevivência ] A mielomeningocele é um edema cístico, cheio de líquido, formado pela dura e pela aracnoide. A mielodisplasia dos elementos neurais manifesta-se nas vértebras como um defeito dos elementos posteriores. O saco salienta-se através desse defeito da coluna e contém em seu interior as raízes dos nervos. A displasia da medula espinal e das raízes nervosas causa paralisia motora e sensorial, dos intestinos e da bexiga, aquém do nível da lesão ] A maior parte dos pacientes com mielomeningocele apresenta disfunção neurogênica da bexiga, podendo desenvolver deterioração progressiva do trato urinário superior e doença renal crônica ] Os nervos do intestino e do ânus são afetados na maior parte dos pacientes com mielomeningocele, causando dismotilidade, controle insatisfatório do esfíncter e, com frequência, incontinência fecal Etiologia ] Acredita-se que a mielomeningocele seja consequência de falha da fusão das dobras neurais durante a neurulação, que ocorre entre os 26º e 28º dias de gestação TUTORIAL 1 – MARCHA JORDANNA M. RODRIGUES – MED UESB – TURMA XV 8 | P á g i n a ] As condições que resultam de anormalidades durante a fase de fechamento do tubo neural, como mielomeningocele e anencefalia, são chamadas de defeitos de neurulação ] Condições ] como meningocele, lipomeningocele e diastematomielia decorrem de anormalidades que ocorrem durante a fase de canalização, em torno do 28o dia de gestação, e são conhecidas como defeitos pós-neurulação Diagnóstico ] O diagnóstico pré-natal da mielomeningocele e de outros defeitos do tubo neural envolve exames bioquímicos do sangue materno para alfafetoproteína ou uso de avaliação com o ultrassom ] A alfafetoproteína sérica da mãe – uma glicoproteína secretada pelo saco vitelino fetal e pelo fígado – é utilizada como exame para sondagem de defeitos abertos no tubo neural há mais de 30 anos Prognóstico para deambulação ] A maioria das pessoas estudadas com nível de envolvimento em L4 eram deambuladoras funcionais, em casa e na comunidade, comparadas àquelas com envolvimento na L3, quase que unanimemente deambuladoras não funcionais ] Pacientes com nível alto de envolvimento, há uma incidência elevada de deformidade na coluna que demanda tratamento cirúrgico Classificação Funcional ] A classificação mais conhecida da mielomeningocele e de uso mais comum baseia-se no nível neurológico da lesão ] Nível de envolvimento torácico/lombar alto: esse grupo é definido pela ausência de atividade funcional do quadríceps, tendo um nível neurológico de L3 ou acima. Para conseguirem deambular na infância, os sujeitos inseridos nesse grupo precisam ser aparelhados no nível da pelve, com uma órtese de reciprocidade na marcha (RGO) ou uma órtese quadril-joelho-tornozelo-pé (HKAFO) ] Nível de envolvimento lombar baixo: os pacientes funcionais no grupo têm atividade voluntária do quadríceps e dos isquiotibiais mediais (grau 3 ou acima), mas carecem de atividade voluntária (abaixo do grau 2) dos músculos glúteo médio, glúteo máximo e gastrossóleo. Sendo assim, os sujeitos precisam de órteses para controlar a posição dos pés e tornozelos, além de muletas ou andador para que deambulem ] Nível de envolvimento sacral alto: sujeitos nesse grupo têm atividade funcional no quadríceps e no glúteo médio (grau 2 ou acima), mas não têm atividade funcional no gastrocnêmio-sóleo. Pacientes com nível sacral alto caminham sem dispositivo auxiliar, embora precisem de órtese tornozelo-pé (AFO). Essas crianças apresentam marcha gluteal característica, insegura, com obliquidade pélvica e rotação excessivas durante a marcha ] Nível de envolvimento sacral baixo: são pacientes com função do quadríceps e glúteo médio, que se distinguem daqueles com envolvimento na região superior do sacro, com base na presença de atividade funcional do gastrocnêmio-sóleo. Pacientes com nível de envolvimento na região sacral inferior andam sem aparelhos ou dispositivos auxiliares e apresentam um padrão de marcha que se aproxima da marcha normal, pois têm função normal dos glúteos médio e máximo Escala de Mobilidade Funcional ] A FMS foi criada, inicialmente, para descrever a mobilidade funcional em crianças com paralisia cerebral, mas os autores também relataram o sucesso de seu uso para a avaliação de crianças com mielomeningocele ] Possibilita a atribuição de pontos de forma rápida e prática à mobilidade, por meio de três distâncias distintas, que representam a mobilidade em casa (5 metros), na escola (50 metros) e na comunidade (500 metros) ] O escore 1 é usado quando a criança usa cadeira de rodas; 2 quando usa um andador; 3 quando usa duas muletas; 4 quando usa uma muleta ou dois bastões de apoio; 5 quando é independente em superfícies niveladas e 6 quando é independente em todas as superfícies ] Duas outras classificações são C para uma criança que engatinha para movimentar-se em casa e N para aquela que não percorre toda a distância solicitada PARALISIA CEREBRAL ] Paralisia cerebral (PC) é o termo utilizado para designar um grupo de desordens motoras e posturais resultantes de uma anomalia ou lesão não progressiva do cérebro imaturo ] Podem ocorrer alterações sensoriais, cognitivas e da percepção, assim como crises convulsivas ] A definição cronológica de cérebro imaturo não é consensual, mas a tendência é considerar PC os casos em que a lesão neurológica aconteceu até os 2 anos de vida Epidemiologia e Etiologia ] A incidência de PC varia de 0,6 a 5,9 pacientes em cada mil nascidos vivos ou de uma a sete crianças em mil, incidência que deve ser mais comum em regiões com cuidados maternoinfantis mais deficientes ] Causas pré-natais: infecções intrauterinas (rubéola, toxoplasmose e citomegalovírus), além das malformações que acometem o SNC ] Causas perinatais: trabalho de parto prolongado com anoxia, incompatibilidade do sistema Rh e fatores relacionados à prematuridade são elementos considerados causas perinatais TUTORIAL 1 – MARCHA JORDANNA M. RODRIGUES – MED UESB – TURMA XV 9 | P á g i n a ] Causas pós-natais: infecções, como a meningite e a meningoencefalite, além dos traumatismos ] Quando o peso ao nascimento é menor que 1.500 gramas, a incidência de PC é de 90 por mil nascidos vivos. Em contrapartida, em crianças com peso maior que 2.500 gramas ao nascimento, a incidência cai para três em mil ] Na gestação gemelar há chance 12 vezes maior de ocorrer PC em comparação com uma gestação única e relaciona essa incidência ao baixo peso ao nascimento Classificação Topográfica ] Disparesia: comprometimento predominante dos membros inferiores e, geralmente, simétrico. O prognóstico de marcha depende da idade de aquisição do controle postural do tronco; é provável que crianças que conseguem sentar antes dos 3 anos sejam deambuladoras ] Hemiparesia: comprometimento de um hemicorpo, sendo a assimetria uma importante característica. Ótimo prognóstico para a marcha, quaisquer que sejam as deformidades presentes ] Tetraparesia ou envolvimento global: grave comprometimento, muitas vezes sem prognóstico para a marcha. A ocorrência de crises convulsivas, problemas respiratórios e digestivos é frequente. Os quatro membros são comprometidos, assim como o tronco ] Outras formas menos frequentes: dupla hemiparesia (os quatro membros são comprometidos, mas de forma assimétrica) Pode ocorrer também triparesia – quando três membros são acometidos, sendo mais comum os dois membros inferiores e um membro superior – e monoparesia, quando apenas um membro é acometido, o qual costuma ser um inferior Classificaçãode Acordo com o Tipo Clínico ] Tem como base a alteração do movimento que o paciente apresenta ] Espástico: é caracterizada por hiper-resposta ao reflexo do estiramento muscular, sendo velocidadedependente. A presença de deformidades musculoesqueléticas é comum nesse grupo de pacientes, e a lesão no cerebral é localizada no sistema piramidal ] Extrapiramidal: tem como característica principal a presença de movimentos involuntários, e a topografia da lesão são os gânglios da base. [ Atetose: forma mais comum dentre os distúrbios extrapiramidais. Tem como característica a presença de movimentos lentos e serpenteantes nas extremidades, que parasitam o movimento voluntário. [ Coreia: movimentos involuntários e rápidos nas raízes dos membros, que muitas vezes impossibilitam o movimento voluntário, são as principais características. [ Distonia: definida por movimentos atetoides mantidos em posturas fixas, que se modificam com o tempo. ] Atáxico: tem como principal característica a falta de coordenação dos movimentos. A topografia da lesão é o cerebelo e existe frequente associação com o tipo espástico ] Misto: a forma espástica, em geral, é combinada com a forma extrapiramidal ou atáxica ] Hipotônico: forma rara e que costuma tornar-se espástica com o crescimento Classificação através do Sistema Gross Motor Function Classification System (GMFCS) ] Classifica através do desempenho motor habitual praticado no domicílio, na escola e na comunidade ] Nível I: marcha comunitária sem restrições e sem uso de órteses. As dificuldades aparecem em atividades motoras mais elaboradas e amplas, como a prática esportiva, subir escadas e rampas e andar em terrenos irregulares ] Nível II: marcha sem meios auxiliares, mas com limitação para andar na comunidade e fora de casa. Pode necessitar de auxílio para subir escadas e rampas. O uso das órteses suropodálicas é mais frequente nesse grupo ] Nível III: marcha com assistência de meios auxiliares (muletas ou andador). Apresenta limitação para andar na comunidade e fora de casa. Pode necessitar de cadeira de rodas para longas distâncias, mas a marcha ainda é o meio preferencial de locomoção ] Nível IV: uso de cadeira de rodas para o deslocamento na comunidade e fora de casa. Ortostatismo e marcha restritos ao domicílio e a ambientes fechados, com limitações. Apresenta controle cervical e de tronco Alterações Motoras na PC ] Todos os distúrbios resultantes diretamente da lesão cerebral são ditos como alterações primárias, como espasticidade, alterações do equilíbrio, movimentos involuntários, fraqueza muscular e perda da seletividade ] As alterações secundárias são o produto da presença da espasticidade sobre o esqueleto em crescimento, com o surgimento de deformidades musculoesqueléticas ] Em um primeiro momento e de forma básica, as alterações secundárias são caracterizadas por encurtamentos musculares, que aos poucos podem evoluir para contraturas articulares e deformidades ósseas, com o surgimento das disfunções de braço de alavanca ] Por definição, as disfunções de braço de alavanca ocorrem quando um músculo já acometido pelas alterações primárias da PC (fraqueza, falta de seletividade e espasticidade) passa a ter alinhamento ósseo anormal e desfavorável para atuar ] O problema pode ocorrer nos tornozelos, quando o aumento da torção tibial externa e os pés planos valgos causam prejuízo na ação do tríceps sural na fase de apoio TUTORIAL 1 – MARCHA JORDANNA M. RODRIGUES – MED UESB – TURMA XV 10 | P á g i n a ] As alterações terciárias são chamadas de mecanismos compensatórios, que ocorrem em consequência ou em resposta às alterações primárias e secundárias ] MARCHA NA PARALISIA CEREBRAL ] As alterações da marcha na paralisia cerebral podem ter como causas problemas primários do sistema nervoso central, como espasticidade, controle motor seletivo deficiente e falta de equilíbrio ] As deformidades musculoesqueléticas dos membros inferiores são, geralmente, consequências das alterações primárias do sistema nervoso central em um esqueleto em crescimento e também podem participar da gênese da marcha patológica nesse tipo de paralisia ] Mas mesmo com sistemas de classificação disponíveis e amplamente conhecidos, a disfunção da marcha na paralisia cerebral é complexa e, muitas vezes, a variabilidade de apresentações pode tornar impossível o enquadramento em um padrão previamente descrito
Compartilhar