Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 1 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 Problema 3 M1 – Tutoria III PROBLEMA 3 – “PISANDO DURO” Oswaldo, masculino, 33 anos, motorista de caminhão, queixa-se de dificuldade para deambular há 1 ano, de caráter insidioso e progressivo. Houve piora da sintomatologia nos últimos 6 meses, agora acompanhada de suores noturnos e incontinência urinária. Nos antecedentes pessoais, nada constava de relevante, inclusive, negava passado de DSTs. Ao exame neurológico, observa-se marcha talonante e perda de sensibilidade vibratória difusamente, predominando em MMII. Nos exames complementares iniciais evidenciou- se hemograma normal, eletrólitos e exame sumário de urina e fezes normais. Reação sorológica para Lues fortemente positiva 1/128. O acadêmico Douglas, após observar o caso, ficou pensando por que o paciente apresentava tanta dificuldade para deambular e como se processa uma marcha normal. TERMOS DESCONHECIDOS: → Incontinência urinária: é a perda involuntária da urina pela uretra. Distúrbio mais frequente no sexo feminino, pode manifestar-se tanto na quinta ou sexta década de vida quanto em mulheres mais jovens. → Marcha talonante: é quando o toque do calcanhar é feito com muita intensidade, produzindo um som típico. Essa marcha é insegura, e os passos são desordenados, o paciente caminha com as pernas afastadas uma da outra, levantando-as em excesso para em seguida projetá-las com energia no solo, tocando-o com o calcanhar. → Perda de sensibilidade vibratória difusamente: Sensibilidade é a capacidade de reconhecer as vibrações de um diapasão aplicado ao osso ou de uma corrente farádica à pele. Ela é usualmente conhecida como sensibilidade vibratória. → Reação sorológica para Lues fortemente positiva 1/128: O exame VDRL, que significa Venereal Disease Research Laboratory, é um exame de sangue que serve para diagnosticar a sífilis, ou Lues, que é uma infecção sexualmente transmissível., causada pela bactéria Treponema pallidum. Pode se manifestar em três estágios e os maiores sintomas ocorrem nas duas primeiras fases, período em que a doença é mais contagiosa. → Insidioso: característica de um fator que começa de repente e não é estimulada por fatores externos. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA: O desconhecimento de marchas patológicas e doenças e relacionadas a elas. CHUVA DE IDEIAS: → Tempo p/ criança começar a deambular, qual o tempo certo? → Marcha fisiológica: a criança está preparada para deambular por volta de 1 ano e meio/ 2 anos; → Uma das hipóteses diagnósticas para o autismo é o tipo de marcha desenvolvido pelo indivíduo; → Marcha parksoniana: passos curtos e base mais espaçada; → Correto da marcha fisiológica: tocar 1º o calcâneo, desliza sob a região plantar e termina no hálux; → Há casos nos quais as pessoas nascem com uma marcha diferenciada e que, ao longo da vida, não é corrigida. REFERÊNCIAS: MERRIT, Tratado de Neurologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis, Ministério da Saúde, Brasília-DF, 2016. CAMPBELL, WW. DeJong O Exame Neurológico. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. FILHO, TEPB. Exame Físico em Ortopedia. 2. ed. São Paulo: Sarvier, 2002. https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala- aula/5daa0b7e132ed4001119e520/5daa0af44340d2001 1fb23ec/documento/5fd1ad86d4e8ba001cdf74ad O4 https://www.youtube.com/playlist?list=PLB3D3067F13CE D7AF O2 RESOLUÇÃO DO PROBLEMA DO1: Citar e compreender as fases da marcha normal (ARTIGO MARCHA AVE; MERRIET- SEÇÃO 2 CAP. 14 PÁG. 201; EXAME ORTOP- SEÇÃO 1 CAP 5 PAG 93) A marcha pode ser definida como “uma ação recíproca constituída de perda e recuperação do equilíbrio, na qual o centro de gravidade do corpo muda constantemente”. A marcha é uma função complexa que https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala-aula/5daa0b7e132ed4001119e520/5daa0af44340d20011fb23ec/documento/5fd1ad86d4e8ba001cdf74ad https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala-aula/5daa0b7e132ed4001119e520/5daa0af44340d20011fb23ec/documento/5fd1ad86d4e8ba001cdf74ad https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala-aula/5daa0b7e132ed4001119e520/5daa0af44340d20011fb23ec/documento/5fd1ad86d4e8ba001cdf74ad https://www.youtube.com/playlist?list=PLB3D3067F13CED7AF https://www.youtube.com/playlist?list=PLB3D3067F13CED7AF 2 2 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 exige a atividade coordenada de vários circuitos cerebrais. Mesmo a deambulação em um ambiente sem obstáculos na velocidade preferida pelo paciente (considerada uma tarefa fácil) induz atividade nas regiões cerebrais mais nobres. É, ainda, afetada por alguns mecanismos corporais, como o balanço do tronco, o balanço dos braços e o movimento da cabeça, e também é dependente de vários reflexos- por exemplo, postural, labiríntico e de endireitamento. A seguir são descritas as participações dos diferentes circuitos no controle da marcha. A fim de iniciar com sucesso e controlar a marcha, o sistema nervoso precisa realizar as seguintes tarefas: → Manutenção do equilíbrio contra a força da gravidade em condições estáticas (p. ex., durante a fase de apoio da marcha) e dinâmicas (p. ex., durante a deambulação). ▪ A manutenção do equilíbrio em condições dinâmicas inclui controle preditivo e reativo de forças desestabilizadoras geradas internamente (p. ex., forças desestabilizadoras geradas pelo movimento dos membros superiores) ou externamente (p. ex., forças desestabilizadoras geradas ao colidir com outra pessoa) → Coordenar os movimentos dos membros inferiores para impulsionar o corpo para frente → Ajudar a se deslocar em ambientes complexos, que incluem obstáculos estacionários (p. ex., mobília) e obstáculos móveis (p. ex., pessoas caminhando) → Desempenhar outras tarefas enquanto a pessoa caminha, como falar, ouvir ou manipular objetos (p. ex., telefone celular) CONCEITOS BÁSICOS: → Ciclo da marcha completo: período entre o momento em que o calcâneo toca o solo e o próximo impacto do calcâneo do mesmo membro → Comprimento da passada: distância percorrida na mesma extensão de tempo que um ciclo da marcha completo, ou seja, a distância compreendida entre o impacto do pé e um novo impacto do mesmo pé → Comprimento do passo: distância que vai do calcâneo de um pé ao calcâneo do pé oposto durante a fase de apoio duplo dos pés, correspondendo, normalmente, à metade do comprimento da passada (Fig. 5.1). → Centro de gravidade de um corpo: ponto no qual pode-se considerar concentrado seu peso → Cadência da marcha: a quantidade de passos por unidade de tempo, geralmente expressa em passos por minuto. → Velocidade da marcha: a progressão do movimento em uma mesma direção em relação ao tempo, normalmente medida em centímetros por segundo. MARCHA NORMAL Fisiologicamente, a deambulação inicia-se na criança entre 12 e 18 meses. Em geral, é uma marcha de base alargada, com quadris e joelhos levemente fletidos, braços em extensão e abdução, além de rotação externa exagerada nos membros inferiores. Existe cadência aumentada e os passos são curtos. O pé apoia-se de forma plantígrada. Gradativamente, com a progressão do crescimento, a cadência vai diminuindo, o comprimento do passo aumentando e o apoio do pé passa progressivamente a iniciar-se pelo calcanhar. A velocidade da caminhada também aumenta com a idade e com o comprimento dos membros. O crescimento do tronco em relação aos membros inferiores no ser humano dá-se de maneira desproporcional. Devido a isso, quanto mais jovem a criança, mais alto está situado seu centro de gravidade e menor será sua estabilidade. Na criança com idade inferior a 3 anos, há inconsistência do padrão de deambulação, que estabilizacom a maturidade neurológica, adquirindo a maioria dos padrões cinemáticos do indivíduo adulto em torno dos 3 a 5 anos. Entretanto, mudanças nos parâmetros de tempo- distância (cadência, velocidade, comprimento do passo) podem ocorrer até os 7 anos, quando o padrão adulto de marcha é completamente alcançado. As mudanças ocorridas com a idade e a similaridade final da marcha entre os indivíduos parece ser 3 3 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 decorrência da necessidade de maior eficiência e economia energética na locomoção. Com o envelhecimento, o organismo sofre degeneração dos sistemas neurológico e musculoesquelético, ocorrendo esforço adaptativo com redução da cadência, diminuição do comprimento do passo e aumento do tempo de duplo apoio. Tem-se, então, que o ciclo da marcha consiste em movimentos sequenciais dos membros que ajudam a impelir o corpo para frente ao longo de uma linha de avanço predeterminada. O ciclo da marcha é definido pelo contato do pé com o chão e vai desde o impacto do calcanhar de um membro inferior até o impacto subsequente do calcanhar do mesmo membro (Figura 14.1). Cada ciclo (no adulto) divide-se em duas fases: uma fase de apoio, que constitui aproximadamente 60% do ciclo, e uma fase de balanço. Obs.: Padronizou-se o contato do calcanhar de um pé como o evento inicial, cujo ciclo se encerra pela ocorrência desse mesmo fato. FASE DE APOIO Inicia-se com o contato do calcanhar no solo, com o pé dorsifletido, joelho em total extensão e o quadril em cerca de 25º de flexão. A seguir, o peso corporal vai sendo transmitido para a frente, seguindo pela borda externa do pé, sendo esse também um período de resposta à carga, que termina quando o pé se torna plano e corresponde a 15% do ciclo da marcha. Começa com o contato do calcanhar e termina com o levantamento dos dedos do pé, e consiste em três eventos: pé apoiado, apoio médio e apoio terminal. Função: aceitar o peso do corpo no membro de apoio (ou suporte). No início da fase de apoio (desde o contato inicial do calcanhar até o apoio médio do lado direito) e no final da fase de apoio (desde o levantamento do calcanhar até o levantamento dos dedos do pé direito), os dois pés estão no chão ao mesmo tempo. Período de apoio duplo: representa aproximadamente 20% do ciclo da marcha. Durante o apoio médio o peso do corpo é sustentado por um membro (apoio simples). Durante um ciclo de marcha típico, os membros inferiores exibem movimento alternado simétrico com uma defasagem (lag) de 0,5 (indicando que quando um membro inicia a fase de balanço, o membro oposto está no meio da fase de apoio). Há, ainda, literaturas que divide ela em cinco subfases: apoio do calcanhar (15%), aplanamento do pé (15%), médio apoio ou acomodação intermediária (25%), desprendimento do calcanhar (25%) e desprendimento dos dedos (5%), sendo que os dois últimos períodos juntos formam a fase de impulso (Figura 5.2). FASE DE BALANÇO 4 4 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 Começa com a elevação dos dedos do pé e termina com o contato do calcanhar com o chão. Os eventos durante a fase de balanço (levantamento do pé e balanço médio) possibilitam que o pé saia do chão enquanto o corpo é propelido para frente em preparação para o passo subsequente. Os eventos do ciclo da marcha descritos anteriormente são pertinentes à caminhada em uma velocidade confortável para o indivíduo. À medida que a velocidade aumenta, a porcentagem de tempo gasto em apoio duplo diminui. Durante a corrida, não existe a fase de apoio duplo. A marcha pode ser descrita quantitativamente no tocante às suas caraterísticas espaciais e temporais. As medidas da marcha que podem ser avaliadas na prática clínica são descritas na Tabela 14.1 e na Figura 14.2. A fase de balanço compreende 40% do ciclo da marcha e subdivide-se em três períodos: aceleração (ou balanço inicial), oscilação intermediária (ou balanço médio) e desaceleração (ou balanço final) (Figura 5.3). 5 5 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 DO2: Reconhecer as principais marchas patológicas (MERRIET- SEÇÃO 2 CAP 14 PÁG. 205 TABELA 14.3; EXAME ORTOP- SEÇÃO 1 CAP 5 PAG 105; EXAME NEUROLÓGICO- SEÇÃO E CAP 44 PAG 973 A busca das alterações na marcha deve iniciar-se desde a entrada do paciente na sala de exames, procurando-se por claudicação e deformidades óbvias dos membros inferiores e da coluna que possam comprometer a deambulação, tentando-se ainda determinar em que componente de que fase o problema se torna manifesto. Para uma avaliação global da marcha, pede-se que o paciente ande normalmente, ande sobre a ponta dos pés, sobre os calcanhares, que corra e que suba escadas. Para a pesquisa dos transtornos neuromusculares, pode-se solicitar ao paciente que caminhe com um pé atrás do outro, isto é, que coloque um calcâneo diretamente em frente aos dedos do outro pé; que ande sobre uma linha no chão; que simule a marcha sobre um trilho para a frente e para trás, com os olhos abertos e depois fechados; que caminhe de lado e ao redor de uma cadeira; que caminhe rapidamente e pare subitamente. Nas doenças neurológicas, pode-se também obter alguma informação ouvindo o paciente caminhar. O som chapado da marcha de uma pessoa tem um pé caído, o andar arrastado ou esfregado, característico do espástico, e o pisar da ataxia são bem conhecidos. A inspeção dos sapatos do paciente, notando os locais de desgaste na sola e avaliando as dobras dorsais, é de grande valor. Quando o paciente tem aparelhos, como muletas ou órteses, ele deve ser observado caminhando com eles e, se possível, sem eles. As anormalidades da marcha podem ser produzidas por debilidade muscular, deformidades ósseas ou articulares e distúrbios neurológicos. Várias classificações já foram propostas para os transtornos da marcha, inclusive anatômicos, hierárquicos (níveis baixo, médio e alto), etiológicos (ex.: degenerativo) ou fenomenológicos (ex.: marcha antálgica). A classificação anatômica descreve os transtornos de marcha com base na patologia cerebral (ex.: marcha cerebelar). Já a classificação hierárquica diferencia os transtornos de marcha em três categorias com base no nível da patologia (ex.: níveis alto, médio e baixo). Os transtornos da marcha consequentes a transtornos motores (pex.: atrofia muscular espinal) ou sensitivos periféricos (ex.: atáxico sensitivo) são classificados como transtornos de nível baixo. Os transtornos consequentes a uma patologia no sistema motor, inclusive áreas corticais motoras, núcleos da base e cerebelo, são classificados como de nível médio. Por fim, os transtornos de marcha que resultam da interação de sistemas cognitivo (córtex frontal) e motor (p. ex., doença de Alzheimer) são classificados como transtornos de nível alto. 6 6 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 7 7 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 8 8 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 9 9 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 10 10 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 ATAXIA CEREBELAR A marcha da doença cerebelar é causada por acometimento dos mecanismos de coordenação no cerebelo e de seus sistemas de conexão. A incapacidade de caminhar em tandem pode ser o único sinal de ataxia leve. A parada ou a virada súbita podem revelar marcha cambaleante. Na doença mais grave, a marcha é desajeitada, cambaleante, instável, irregular, vacilante, titubeante e de base larga, e o paciente pode oscilar para o lado, para trás ou para a frente. Os movimentos das pernas são irregulares e há variação imprevisível docomprimento do passo. Para compensar, o paciente pode evitar períodos de apoio unipodal e apresentar marcha de passos arrastados. O paciente é incapaz de caminhar em tandem ou sobre uma linha reta no chão. Pode haver tremor e movimentos oscilantes de todo o corpo. Em geral, a ataxia dos membros inferiores, quando avaliados separadamente, acompanha a ataxia da marcha cerebelar, exceto quando a doença é limitada ao verme. Na lesão do verme do cerebelo a marcha é vacilante e cambaleante, mas não há lateralidade; a ataxia será tão acentuada em direção a um lado quanto ao outro. https://www.youtube.com/watch?v=1C3hvOyPB9A ATAXIA SENSORIAL A ataxia sensorial ocorre quando o sistema nervoso é privado das informações sensoriais, principalmente proprioceptivas, necessárias para coordenar a marcha. O paciente não tem consciência da posição dos membros inferiores no espaço, ou mesmo do corpo inteiro, exceto a propiciada pelo sistema visual, e torna- se extremamente dependente de estímulos visuais para a coordenação. Quando privado de informações visuais, como ao fechar os olhos ou ficar no escuro, a deterioração da marcha é acentuada. A diferença na capacidade de caminhar com e sem estímulos visuais é a principal característica da ataxia sensorial. Se o distúrbio for leve, a locomoção poderá parecer normal quando o paciente caminha de olhos abertos; na maioria das vezes, tem base larga e é mal coordenada. O termo “marcha escarvante” designa a marcha de passos muito altos. A ataxia sensorial é uma das causas de marcha escarvante. O paciente dá um passo alto e arremessa o pé para a frente, batendo-o com força no chão para aumentar o feedback proprioceptivo. O calcanhar pode tocar o solo antes dos dedos, o que produz uma “batida dupla” audível. O uso de uma bengala pode produzir mais um som, que cria um ritmo “tam, tam, toc”. Os efeitos sonoros podem ser tão característicos que o observador treinado é capaz de fazer o diagnóstico ouvindo o ruído dos passos. O paciente com ataxia sensorial olha para os pés e observa o assoalho enquanto caminha. Com os olhos fechados, os pés parecem ser projetados, há aumento do cambaleio e da instabilidade e o paciente pode ser incapaz de caminhar. A dificuldade é ainda maior ao andar para trás, já que o paciente não vê para onde está indo. MARCHA ESCARVANTE https://www.youtube.com/watch?v=1C3hvOyPB9A 11 11 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 Significa que o paciente levanta muito uma das pernas ou as duas durante as fases da passada, como se estivesse subindo degraus, embora a superfície seja plana. Os pacientes com pé em gota podem fazer isso para ajudar a retirar o pé do chão e evitar tropeços. Também há esse termo na ataxia sensorial (acima), mas as causas e os mecanismos das duas são muito diferentes. Um paciente com pé em gota apresenta fraqueza dos dorsiflexores do pé e dos dedos. Esse distúrbio, quando leve, pode se manifestar apenas como diminuição da distância entre os dedos e o chão durante a passada. No pé em gota mais acentuado, há risco de tropeçar e o paciente pode arrastar os dedos ao caminhar, o que causa desgaste característico da área dos dedos nos calçados. Na forma intensa, o pé pende sem controle durante a fase de balanço e, para compensar, o paciente levanta o pé o mais alto possível, balançando o quadril e flexionando o quadril e o joelho. O pé é arremessado e volta ao chão, tocando o solo primeiro com os dedos. O toque dos dedos, seguido pelo toque do calcanhar, cria uma “batida dupla” que tem um som diferente da batida dupla da ataxia sensorial, na qual o calcanhar toca primeiro o solo. O paciente é incapaz de ficar de pé sobre o calcanhar e, ao ficar de pé com o pé projetado sobre a borda de um degrau, há queda do antepé. O pé em gota e a marcha escarvante podem ser uni ou bilaterais. https://www.youtube.com/watch?v=Zw5BxeXov3Y MARCHA DA HEMIPARESIA ESPÁSTICA Pode ser causada por uma lesão que interrompa as vias corticospinais para metade do corpo, na maioria das vezes por AVE. O paciente tem uma postura hemiparética, com o braço flexionado, aduzido e rodado medialmente e a perna estendida (Figura 25.6). Há flexão plantar do pé e dos dedos, causada por fraqueza da dorsiflexão do pé ou por encurtamento do tendão do calcâneo; dessa maneira, o membro inferior no lado acometido torna-se funcionalmente um pouco mais longo do que no lado normal, o que é conhecido como deformidade equina. (A pata do cavalo é digitígrada; os cavalos apoiam-se nas pontas dos dedos. O pé humano normal é plantígrado, e toda a superfície plantar fica em contato com o chão. O pé em gota ou com encurtamento do tendão do calcâneo assemelha-se à pata do cavalo, daí o termo.) Ao caminhar, o paciente mantém o braço bem junto ao corpo, rígido e flexionado; estende-o com dificuldade e não o balança da maneira normal. Ele mantém a perna rígida em extensão e flexiona-a com dificuldade. Consequentemente, o paciente puxa ou arrasta o pé e arranha os dedos. A cada passo, ele pode inclinar a pelve para cima no lado acometido para auxiliar a levantar os dedos do chão (elevação do quadril) e balançar todo o membro em um semicírculo ao redor do quadril (circundução). A fase de apoio é encurtada em vista de fraqueza, e a fase de balanço encurtada por causa da espasticidade e alentecimento do movimento. O som produzido quando os dedos arrastam no chão e o desgaste do sapato nos dedos podem ser bastante característicos. O paciente tem mais facilidade de virar para o lado paralisado do que para o lado normal. A perda do balanço normal do braço e a circundução leve da perna podem ser as únicas anormalidades da marcha na hemiparesia muito leve. MARCHA EM TESOURA Esse padrão de marcha ocorre em pacientes com espasticidade grave das pernas. É observado em pacientes com diplegia espástica congênita (doença de Little, paralisia cerebral) e distúrbios relacionados e nas mielopatias crônicas causadas por distúrbios como esclerose múltipla e espondilose cervical. É basicamente a marcha hemiplégica bilateral que afeta as pernas. Há tensão característica dos adutores do quadril, o que causa adução das coxas, de maneira que os joelhos podem se cruzar, um na frente do outro, a cada passo (marcha em tesoura). A marcha tem uma base estreita demais, com passos rígidos e arrastados, puxando as duas pernas e arrastando os dedos. Os passos são curtos e lentos; os pés parecem aderir ao chão. Pode haver oscilação https://www.youtube.com/watch?v=Zw5BxeXov3Y 12 12 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 compensatória acentuada do tronco para o lado oposto ao da perna que avança. A oscilação e o cambaleio podem sugerir um elemento de ataxia, mas geralmente não há perda real da coordenação. O som dos pés arrastados – associado ao desgaste da área dos dedos nos sapatos – é característico. A posição equina dos pés e o encurtamento do tendão do calcâneo costumam fazer com que o paciente ande nas pontas dos pés. MARCHA PARKINSONIANA A marcha, na maioria das síndromes parkinsonianas acinético-rígidas, é caracterizada por rigidez, bradicinesia e perda de movimentos associados. O paciente tem postura curva, com a cabeça e o pescoço para a frente e os joelhos flexionados; os membros superiores são flexionados nos ombros, cotovelos e carpos, mas os dedos geralmente são estendidos (Figura 30.1). A marcha é lenta, rígida e arrastada; o paciente caminha com passos miúdos. Outras características são aceleração involuntária (festinação), diminuição da oscilação dos braços, rotação do corpo em bloco, hesitação inicial e congelamento ao encontrar obstáculos como portas. https://www.youtube.com/watch?v=Pv5VwI5GGMw MARCHA DE PEQUENOS PASSOS A marche à petitpas (marcha de pequenos passos) é semelhante à do parkinsonismo, porém sem a rigidez e a bradicinesia. A locomoção é lenta, e o paciente caminha com passos muito curtos, delicados, arrastados e um tanto irregulares. O comprimento do passo pode ser menor do que o comprimento do pé. Com frequência, há perda dos movimentos associados. Esse tipo de marcha pode ser observado em pessoas idosas normais, mas também ocorre em pacientes com disfunção hemisférica cerebral difusa, sobretudo com acometimento dos lobos frontais. Também pode ocorrer como parte da síndrome de HPN e em outros tipos de hidrocefalia. O mesmo distúrbio da marcha é típico da demência por infartos múltiplos ou do estado lacunar. Alguns pacientes com marcha de pequenos passos apresentam movimentos bizarros, como dançar ou saltar. Pode haver fraqueza generalizada dos membros inferiores ou de todo o corpo, com fadiga fácil. MARCHA CAUTELOSA A marcha cautelosa (senil) é observada em pacientes idosos que não têm doença neurológica, mas estão inseguros quanto ao equilíbrio e aos reflexos posturais. A marcha assume as características observadas quando uma pessoa saudável caminha sobre uma superfície gelada: diminuição da velocidade, encurtamento dos passos e alargamento da base. A distância pé–solo não diminui e o paciente não arrasta os pés. Não há dificuldade para iniciar a marcha nem congelamento. MARCHA CLAUDICANTE Ao caminhar, o paciente manca para um dos lados, quando apoia o membro inferior acometido. Ocorre na insuficiência arterial periférica e em lesões do aparelho locomotor. https://www.youtube.com/watch?v=3N8ucxwt7_c MARCHA HELICÓPODE, CEIFANTE OU HEMIPLÉGICA Ao andar, o paciente mantém o membro superior fletido em 90°C no cotovelo e em adução, e a mão fechada em leve pronação. O membro inferior do mesmo lado é espástico, e o joelho não flexiona. Devido a isso, a perna tem de se arrastar pelo chão, descrevendo um semicírculo quando o paciente troca o Figura 30.1 Paciente com doença de Parkinson apresenta rigidez, fácies em máscara e postura típica. https://www.youtube.com/watch?v=Pv5VwI5GGMw https://www.youtube.com/watch?v=3N8ucxwt7_c 13 13 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 passo. Esse modo de caminhar lembra o movimento de uma foice em ação. Aparece nos pacientes que apresentam hemiplegia, cuja causa mais comum é acidente vascular cerebral (AVC). https://www.youtube.com/watch?v=ggGquuVlFTE MARCHA MIOPÁTICA A marcha miopática (anserina) ocorre quando há fraqueza dos músculos do cíngulo do membro inferior, na maioria das vezes causada por miopatia e mais caracteristicamente por distrofia muscular. O paciente caminha com base larga e rotação exagerada da pelve, rolando ou arremessando os quadris de um lado para o outro a cada passo para desviar o peso do corpo. Nas formas extremas, esse padrão de marcha tem aparência bizarra. O paciente caminha com balanço acentuado dos quadris, ombros para trás e impulsão da pelve para a frente. Esse tipo de marcha é especialmente comum na distrofia muscular fascioescapuloumeral. MARCHA VESTIBULAR O paciente com lesão vestibular (labirinto) apresenta lateropulsão quando anda; é como se fosse empurrado para o lado ao tentar mover-se em linha reta. Se o paciente for colocado em um ambiente amplo e lhe for solicitado ir de frente e voltar de costas, com os olhos fechados, ele descreverá uma figura semelhante a uma estrela, daí ser denominada também marcha em estrela. https://www.youtube.com/watch?v=vPmUFWxh_YM DO3: Diferenciar os tipos de déficits motores Quando existe ausência absoluta de movimentos voluntários utiliza-se o termo de plegia, enquanto o déficit é parcial é denominado paresia. PLEGIA Refere à perda da capacidade de contração muscular voluntária, por interrupção funcional ou orgânica em um ponto qualquer da via motora, que pode ir do córtex cerebral até o próprio músculo. Conforme a distribuição: → Monoplegia: apenas um segmento é afetado; → Paraplegia: membros simétricos são afetados, podendo ser braquial ou crural (coxa); → Tetraplegia: ao menos quatro membros estão paralisados; → Hemiplegia: um hemicorpo é acometido; e → Diplegia: os dois hemicorpos são acometidos. PARESIA Refere-se quando o movimento está apenas limitado ou fraco. O termo paresia vem do grego “Paresis” e significa relaxação, debilidade. Nos casos de paresias a motilidade se apresenta apenas um padrão abaixo do normal, no que se refere à força muscular, precisão de movimento, amplitude de movimento e a resistência muscular localizada, ou seja, refere-se a um comprometimento parcial, a uma semi paralisia. → Monoparesia: perda parcial das funções motoras de um só membro (inferior ou posterior); → Hemiparesia: perda parcial das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo); → Tetraparesia: perda parcial das funções motoras dos membros inferiores e superiores; Observar tabela 14.3 do O2 -> nível baixo; acometimento motor. DO4: Discutir a fisiopatologia da neurossífilis e sua influência na marcha História natural da neurossíflis: Existem muitas formas de sífilis do SNC, como as formas precoces (sífilis precoce) e tardias (sífilis terciária), podendo ocorrer até 25 anos após a infecção inicial. Existem cepas específicas de T. pallidum que podem ter maior probabilidade de causar neurossífilis. Esse acometimento começa com a invasão do líquido https://www.youtube.com/watch?v=ggGquuVlFTE https://www.youtube.com/watch?v=vPmUFWxh_YM 14 14 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 cefalorraquidiano (LCR) pelos organismos causadores em 25% dos pacientes com sífilis não tratada. A meningite persistente é resultado da falha de remoção do organismo no LCR, sendo que esses pacientes possuem “neurossífilis assintomática”, podendo evoluir para neurossífilis sintomática posteriormente. Dividida em: → Precoce: podendo ser assintomática, por meningite sintomática, meningovascular, sífilis ocular e otossífilis; ou → Tardia: podendo levar a paresia geral e tabes dorsalis. Neurossífilis precoce Ocorre por acometimento do LCR, meninges e vasculatura. Seus tipos são: ❖ Neurossífilis assintomática: → Não apresentam sinais e sintomas do SNC, mas podem apresentar manifestações de sífilis primária ou secundária concomitantemente. → Pode surgir de semanas a meses após infecção inicial, raramente ocorre posterior a 2 anos de infecção. → O diagnóstico é feito desta forma: Existem duas ressalvas para esse diagnóstico: 1. Pacientes com neurossífilis assintomática e COM infecção pelo HIV, que não é reativo ao LCR-VDRL, mas apresenta-se com pleiocitose leve e/ou proteína elevada no LCR, o diagnóstico torna-se difícil porque a presença desses critérios pode ocorrer devido ao próprio HIV. 2. Pacientes com neurossífilis assintomática, independentemente da reatividade do LCR-VDRL, devem ser tratados com neurossífilis para evitar a progressão para doença sintomática. ❖ Meningite sintomática: → Geralmente ocorre no primeiro ano após a infecção, mas pode ocorrer também anos depois. → Os achados de sífilis precoce podem ocorrer também simultaneamente, principalmente as erupções cutâneas da doença secundária. ▪ Esses pacientes apresentam cefaleia, confusão, náuseas, vômitos e rigidez de nuca. → Os sinais que podem estar presentes são os de neuropatias cranianas, particularmente de nervo óptico (sífilis ocular), facial e auditivo (otossífilis). → Pode causar ainda hidrocefalia e arterite de vasos pequenos, levando a isquemia do cérebro ou da medula espinhal (meningovascular). → A inflamação da meninge pode levar a presença de gomas sifilíticas, se apresentando como lesões de massas contíguas àsleptomeninges (aracnoide e pia- máter), característica da sífilis secundária. Figura 12. Goma sifilítica em RM cerebral de paciente infectado pelo HIV com sífilis secundária. Em A, RM em sequência T1 com contraste, em corte coronal, mostrando realce meníngeo focal no lobo frontal esquerdo com edema circundante. Em B, RM FLAIR, em corte axial mostrando edema significativo no lobo frontal posterior esquerdo. * FLAIR: recuperação de inversão atenuada por fluido 15 15 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 O diagnóstico é feito também com base nos valores linfocíticos e proteicos, sendo que o LCR-VDRL é quase sempre reativo. A neuroimagem de gummas cerebrais mostram áreas focais de realce adjacentes às meninges, geralmente com uma “cauda dural” e edema circundante. ❖ Meningovascular A meningite sifilítica pode causar uma arterite infecciosa que pode afetar qualquer vaso no espaço subaracnoide ao redor do cérebro ou da medula espinhal, levando a trombose, isquemia ou infarto. Apresentam queixas de cefaleia, tontura ou alterações de personalidade, por dias ou semanas antes do início da isquemia ou do AVC. Esses sintomas são provavelmente devido a meningite concomitante. A artéria cerebral média (ACM) e seus ramos são os mais comumente afetados. O diagnóstico é muito parecido com a de meningite aguda, porém menos grave. A angiografia cerebral é um método de diagnóstico útil para diferenciar a isquemia por acidente vascular cerebral da isquemia provocada por sífilis cerebrovascular, a qual tem manifestações clínicas semelhantes. Na neurossífilis ocorre, habitualmente, envolvimento multifocal de ramos arteriais de menor calibre, observando-se na angiografia um acometimento difuso e irregular de artérias e arteríolas intra-cerebrais. ❖ Sífilis ocular A uveíte e panuveíte posteriores são as mais comuns e apresentam-se com diminuição da acuidade visual. Ocorre frequentemente acompanhada de meningite sifilítica. ❖ Otosífilis A perda auditiva, com ou sem zumbidos, é considerado como parte dos sintomas neurológicos e como sinais de neurossífilis. Pode ou não ser acompanhada de meningite sifilítica. NEUROSSÍFILIS TARDIA → Afeta parênquima cerebral e medula espinhal. → São as consideradas formas terciárias de sífilis. ❖ Paresia geral: → É uma demência progressiva, também chamada de paralisia geral dos loucos ou neurossífilis parética. → Geralmente surge após 10 a 25 anos após infecção. → Embora o exame neurológico possa parecer normal em alguns pacientes, os achados anormais comuns são disartria, hipotonia facial e dos membros, tremores de intenção de face, língua e mãos e anormalidades reflexas. ▪ Os achados pupilares são mais comuns de tabes dorsalis. → O diagnóstico: 16 16 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 → A neuroimagem geralmente revela atrofia cerebral. ❖ Tabes dorsalis: → Também chamado de ataxia locomotora. → É uma doença das colunas posteriores da medula espinhal e raízes dorsais. → Possui período latente mais longo entre a infecção primária e o início de todas as formas de neurossífilis, com intervalo médio de 20 anos. → É o acometimento de SNC menos comum. → Os sintomas frequentemente associados são ataxia sensorial, dores lancinantes (dores súbitas, breve e intensas, em pontada que podem afetar membros, costas ou face) e alterações pupilares (pupila de Argyll-Robertson). ▪ Disfunção da bexiga, como retenção urinária ou incontinência podem ocorrer no início do curso da doença. Alterações clínicas da neurossíflis: Tratamento → Penicilina benzatina não atravessa a membrana hematoencefálica com eficácia igual a penicilina cristalina, por isso essa ultima é a de escolha p/ neurossífilis. 17 17 Tutoria III | Débora Sousa | 3º semestre | 10/03/2021 MAPA CONCEITUAL:
Compartilhar