Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1ºAula Fontes do direito notarial Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • observar a qual ramo do Direito pertence o Sistema Notarial; • compreender a atribuição do notário, a partir de levantamento legislativo; • perceber que o Estado Brasileiro regulamenta a atividade desenvolvida pelos notários. Caros(as) alunos(as), A palavra fonte, etimologicamente, do latim, “fons”, significa o nascedouro, origem, causa, sobre a qual repousa algo. Segundo Venosa (2014, p. 115), que conceitua não só a etimologia da palavra, mas seu amplo significado como meio de expressão do Direito, traduz fonte do Direito como a introdução no ordenamento jurídico de novas normas jurídicas, levando-se em consideração fatores históricos, culturais, políticos e sociais de uma dada sociedade. Mas...quais são as fontes do Direito Notarial no ordenamento jurídico brasileiro? Para melhor visualização do tema, a ilustração a seguri representa o objeto de nossa primeira aula: Desta forma, o objetivo desta aula é apresentar as fontes do Direito Notarial, isto é, a partir de quais regramentos estão pautadas as atividades desenvolvidas pelos notários, no exercício de função delegada pelo Estado Brasileiro, que, por sua vez, regulamenta de forma substancial serviço extremamente relevante para levar a efeito muitos atos e fatos capazes de gerar repercussões jurídicas importantes, seja para constituir ou desconstituir, declarar, ou até mesmo para constatar determinados fatos em torno das mais diversas relações interpessoais que cercam a vida social. Em nossa primeira Aula, a abordagem gira em torno da Constituição Federal de 1988 que trata da atribuição delegada aos notários para o exercício da atividade no Brasil, que dependeu de regulamentação específica sobre o assunto, por intermédio da criação de legislação infraconstitucional, prioritariamente, através da Lei 8.935 de 1994; Resolução 35 de 2007 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ); Lei 10.257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e Código Civil de 2002. Para que sua aprendizagem seja satisfatória/excelente, sugerimos que leia sempre a página inicial de cada Aula, bem como seus objetivos para programar e organizar seus estudos. Lembre-se ainda que nos estudos sobre o sistema notarial você precisará fazer da pesquisa uma companheira constante de caminhada. Esperamos que os estudos sobre as atribuições inerentes aos Cartórios Extrajudiciais possam incentivá- los a buscar novos horizontes na carreira jurídica, não só os teóricos, como, principalmente, os que levarão ao trabalho profissional de qualidade e permeado pelo domínio prático sobre o assunto em tela. Ah, você é o protagonista de sua aprendizagem! Portanto, contamos com a sua participação ativa! Boa Aula! Bons estudos! Sistema Notarial 6 1 – Reflexão e Histórico do Sistema Notarial sob a ótica da Fé Pública 2 – A Constituição Federal de 1988 e a regulamentação da atividade notarial 3 – Fontes Infraconstitucionais Neste primeiro encontro considerei importante apresentar a legislação brasileira que regulamenta o instituto do sistema notarial no território nacional. Conduziremos nossa aula baseada em estudo bibliográfico, prioritariamente, da legislação Constitucional e Infraconstitucional, levando-se em consideração a compreensão do texto legal. Antes de iniciar o estudo efetivo de nossa aula, com vistas a ampliar nossos conhecimentos sobre o sistema notarial, é importante refletir sobre conceito e função desenvolvida pelo notário baseando-se nos conceitos de Felipe Leonardo Rodrigues e Paulo Roberto Gaiger Ferreira (2013): O notário é um profissional do direito titular de uma função pública nomeado pelo Estado para conferir autenticidade aos atos e negócios jurídicos integrantes dos documentos que redige, assim como para aconselhar e assessorar as partes que lhe requerem os serviços. A função notarial é uma função pública e, portanto, o notário tem autoridade de Estado. (...) Esta função notarial se estende a todas as atividades não contenciosas, confere ao usuário segurança jurídica, evita possíveis litígios e conflitos, que podem ser resolvidos por meio do exercício da mediação jurídica. É um instrumento indispensável à administração de uma justiça eficaz. Para entender a regulamentação da prática notarial, é importante considerar que a atividade é exercida por indivíduos revestidos de munus público, já que conferem autenticidade e segurança jurídica aos mais diversos atos e negócios jurídicos, a partir de direitos e obrigações contraídas pelos sujeitos nas suas relações interpessoais, proporcionando, acima de tudo, segurança jurídica aos seus usuários, ao notário é atribuída a fé pública, ou seja, indica confiabilidade sobre atos e fatos constatados e realizados perante ele. O Direito e a Sociedade exigem do Estado, portanto, regulamentar atividade que vai repercutir diretamente na vida social e sobre a certeza na concretização de determinados atos ou fatos. Desde os primórdios da sociedade, o homem busca documentar e conferir autenticidade (verdade) sobre eventos das mais variadas naturezas, como por exemplo, outorgar procuração conferindo poderes para que terceiro realize ato, substituindo aquele que deveria, pessoalmente, praticá-lo. Para melhor compreensão do sistema notarial, vejamos imagem a seguir que ilustra o instrumento de procuração pública: Seções de estudo 1 - Reflexão e Histórico do Sistema Notarial sob a ótica da Fé Pública Minhas anotações Sistema Notarial 8 No Brasil, o ordenamento jurídico pátrio regulamenta e fiscaliza essa atividade exercida pelo notário, conforme vamos estudar nas aulas seguintes. Para saber mais, leia o artigo que trata da atividade notarial e sua regulamentação: Atividade notarial e sua regulamentação 1. Origem e Evolução do Notariado A história do notariado confunde-se com a história do Direito e com a da própria sociedade, residindo aí, a sua beleza e importância. Desde os tempos mais remotos, a sociedade já sentia a necessidade de obter meios para fixar e perpetuar os seus convênios, surgindo daí os encarregados de redigir os contratos, não obstante a pluralidade de denominações e o maior ou menor grau de limitação no desempenho da função. Existia, na civilização egípcia, um personagem de marcantes características, de grande importância, o qual, por sua denominação, possivelmente poderia ter no antepassado longínquo, o entendimento de que o “Notário” era o “escriba”.[1] Era ele quem atendia e anotava todas as atividades privadas do Estado, além de redigir os atos jurídicos para a monarquia. O “escriba” era acima de tudo aquele que sabia exprimir, numa escrita única, a diversidade lingüística da sociedade. Na sociedade moderna, o notário é aquele que traduz, numa linguagem uniforme, as mais variadas formas de vontade manifestadas pelas pessoas sobre os atos e negócios jurídicos que celebram. O “escriba” pertencia às categorias de funcionários mais privilegiados e lhe era atribuída uma preparação cultural especialíssima e, por isso, os cargos recebiam o tratamento de propriedade privada e, por vezes, se transmitiam em linha de sucessão hereditária. Entretanto, não era possuidor de fé pública, o documento por ele redigido; somente alcançava valor como prova quando submetido à homologação de uma autoridade superior.[2] Somente no século XIII aparece o Notário como depositário da Fé Pública, dando com sua intervenção, autenticidade aos documentos. O povo romano, no seu início, dispensava o documento escrito. A lei natural e a boa-fé imperavam soberbas e, assim, a palavra dos cidadãos fazia fé em juízo. Porém, com a expansão do povo e conseqüente multiplicação das relações civis, foram surgindo os vícios, contaminando a boa-fé que reinava, fazendo advir a necessidade de dar vigor aos contratos, registrando-os em documentos escritos, como forma de guardar a palavra. Surgiram, com o advento desse instituto,oficiais dos mais variados, dentre os quais os notarii, os argentarii, os tabularii e os tabelliones.[3] Os notarii costumavam escrever com notas abreviadas, registrando as declarações de seus clientes para reduzi-las a instrumentos. Apesar de terem dado nome ao notário de hoje, suas funções não se confundem, porquanto os notarii sequer eram revestidos de caráter público.[4] Os argentarii eram espécies de banqueiros que conseguiam dinheiro por empréstimo para particulares, elaborando o contrato de mútuo e registrando em livro próprio o nome e cognome do devedor. Existiam também os tabularii, que eram empregados fiscais, tendo por incumbência a direção do censo, a escrituração e guarda de registros hipotecários, o registro das declarações de nascimento, a contadoria da administração pública, a feitura de inventários das coisas públicas e particulares, dentre outras. Aos tabelliones, porém, remonta o verdadeiro precursor do notário moderno. Eram eles encarregados de lavrar, a pedido das partes, os contratos, testamentos e convênios entre particulares, com notável aptidão como redator, assessorando as partes embora fossem imperitos no direito, além do que, propiciava uma eficaz conservação dos documentos. JUSTINIANO I, imperador bizantino e unificador do império romano cristão, foi o responsável pela transformação da rudimentar atividade tabelioa em profissão regulamentada.[5] Notabilizando-se no plano legislativo, a JUSTINIANO devemos o “Corpus Juris Civilis”, obra que emprestou ao direito romano suas dimensões elevadas, ainda hoje repercutindo no mundo civilizado.[6] As principais disposições da legislação Justiniana, no âmbito notarial, consistiram na instituição do protocolo; na valorização do pacto pela intervenção do notário; na obrigação quanto ao local em que o Tabelião e seus auxiliares deveriam permanecer à disposição dos clientes; na disciplina rigorosa a que aquele e estes ficavam submetidos no exercício da profissão, inclusive quanto a substituições e na obrigação de redigir uma minuta do ato, perante testemunhas, dela extraindo cópia imediata.[7] O protocolo determinava que os tabeliães não lavrassem instrumentos senão em papel que tivesse a sua marca e nome, bem como a época de sua fabricação, era uma folha pregada a certos documentos, contendo, em acréscimo, o resumo ou as indicações do conteúdo do ato. O protocolo era um meio apto para tornar mais difíceis as falsificações, como transparece claramente dos motivos pelos quais foi determinado o seu uso. Surgiu, sem dúvida, o ato mais significativo do ponto de vista da lisura em que a atividade do oficial público se deveria desenvolver, empregou a denominação no sentido de ementa ou anotação autenticante, que deveria encimar as folhas em que fossem exarados os atos do tabelião, para resguardo da veracidade do documento. O sentido moderno de protocolo longe está do que lhe deu origem, eis que hoje é o arquivo permanente da serventia, composto pelos livros em que são inscritos os atos notariais, para posteriormente serem trasladados, e pelos documentos referentes aos atos contidos nos livros.[8] Através dos tempos, os notários têm relatado, por seus atos documentados, a evolução do direito e da humanidade, registrando na história os grandes acontecimentos. Mais tarde, no século XIII na Itália, mais precisamente na Universidade de Bolonha, com a instituição de um curso especial, a arte notarial tomou um incremento tal a ponto de os autores considerarem-na a pedra angular do ofício de notas do tipo latino, tendo acrescentado uma notável base científica ao notariado, passando, assim, a aprimorar- se cada vez mais, até tomar as feições exatas que vemos hoje.[9] Porém, no Brasil, levou muito tempo para se projetar. Como nosso país era colônia de Portugal, simplesmente teve nosso notariado regulamentado por simples transplante da legislação portuguesa, trazendo para cá os mesmos defeitos de uma instituição jurídica já ultrapassada, pois, ao tempo do Brasil colônia, o direito português emanava quase todo de ordenações editadas pelo rei e as Ordenações Filipinas, que vigoravam em Portugal e passaram a vigorar aqui também, transformando-se na principal fonte do direito no Brasil, onde tiveram vigência por longo período, sendo aplicadas até o início do século XX.[10] 9 2. O Notariado no Brasil. O notariado brasileiro possui grande influência portuguesa, pois, no período histórico do descobrimento da América e do Brasil, o tabelião acompanhava as navegações, fazendo parte da armada das naves, tendo papel extremamente relevante no registro dos acontecimentos e, inclusive, do registro das formalidades oficiais de posse das terras descobertas. O primeiro tabelião a pisar em solo brasileiro foi Pero Vaz de Caminha, português, que narrou e documentou minuciosamente a descoberta e a posse da terra, com todos os seus atos oficiais.[11] Assim, o direito português foi simplesmente trasladado para o Brasil, sendo aqui aplicado tal qual era em Portugal e, da mesma forma se deu a regulamentação do notariado brasileiro. O provimento dos cargos de Tabelião se dava por meio de nomeação real, sendo o beneficiado investido de um direito vitalício. Dessa forma, por óbvio, não havia como exigir-se o preparo e aptidão tão necessários para o exercício da função. Muitos dos cargos podiam ser comprados, ou adquiridos como recompensa oferecida pela Coroa.[12] Nesse mesmo período, o notariado europeu e o da América espanhola sofreu rígidas mudanças, o que lhe dá, até os dias atuais, o título de mais desenvolvido do mundo, porém, no Brasil, tais modificações não se fizeram sentir, pois, foi mantido o notariado ultrapassado herdado de Portugal.[13] Em 11 de outubro de 1827, foi editada, em nosso país, uma lei regulando o provimento dos ofícios da Justiça e da Fazenda. Dita lei passou a proibir que tais ofícios fossem transmitidos a título de propriedade, mas que fossem conferidos a título de serventia vitalícia a pessoas dotadas de idoneidade para tanto e que servissem pessoalmente aos ofícios. Porém, a dita lei pecou por não exigir formação jurídica dos aspirantes aos ofícios ou, sequer determinado tempo de prática na função, bem como por não instituir uma organização profissional corporativa. A introdução dessa lei teve pouca influência no tratamento jurídico do notariado, pois, até anos recentes, persistiu, embora de modo dissimulado, o regime de sucessão, a transmissão do cargo de pai para filho.[14] Assim, a legislação brasileira, por muito tempo, manteve-se estática, regida pelas Ordenações importadas de Portugal, alheia às transformações e avanços mundiais, situação essa, totalmente contrária à política peculiar ao direito notarial, que deve seguir os fatores sócio-políticos reinantes no Estado em cujo território se aplica. Durante longo período, a política brasileira foi de profundo descaso para com a instituição notarial, que, em uma sociedade evoluída e bem organizada, tem vital importância. Desse descaso resultou na dependência imposta pelos portugueses e ineficiência na formação e prestação dos serviços. Sua evolução foi atrofiada e prejudicada ao ponto de ser classificada por eminentes autores estrangeiros na especialidade como Notariado de evolução frustada ou atrasada.[15] O mais grave e prejudicial – para a instituição notarial como para o serviço público – é o desprestígio em que caiu o notário, no Brasil, a ponto de até hoje, parte da sociedade, considerá-lo como mero parasita, que, portanto, deve desaparecer. Ainda hoje, como fruto dessa política notarial encravada, reina obscuridade a respeito da instituição notarial e de sua função, levando a devaneios, desprovidos de fundamento jurídico, que visam reduzir o alcance de sua função, ou até mesmo, estatizar os seus serviços, o que não prospera, porque é inviável para os cofres públicos, bem como acarretaria na diminuição da qualidade dos serviços, o que prejudicaria o público usuário.[16]Essa situação, congelada em relação aos notariados evoluídos de outros países, fez com que renomados juristas, inclusive pertencentes à classe notarial, clamassem por uma legislação orgânica que elevasse o notariado brasileiro ao seu papel de relevo na sociedade, desvinculando-o do quadro de servidores da Justiça e exigindo a preparação jurídica adequada ao exercício da função notarial. 3. O Artigo 236 da Constituição Federal Depois de tanto descaso e muita pressão, finalmente a Constituição Federal de 1988, no seu Art. 236, trouxe profundas e essenciais mudanças para os notários e registradores pátrios. O simples fato da inserção desse artigo na nossa Carta Magna, teve o efeito arrebatador de principiar a retirada da instituição notarial do obscurantismo que a envolvia, tornando-a mais conhecida, inclusive pelos juristas e dando notícia do seu relevo social e jurídico. 4. A Lei 8.935/94 e o Notariado Brasileiro E, nesse novo contexto, finalmente em 18 de novembro de 1994, erigiu do Poder Legislativo Federal a Lei nº 8.935, a Lei Orgânica dos Notários e Registradores que, com os defeitos que possa ter, com a amplitude que talvez lhe tenha faltado, inaugurou, sem dúvida, uma nova fase para o notariado brasileiro, que paulatinamente tomará o lugar de relevo que lhe é devido no meio jurídico. A mencionada lei regulamenta o art. 236 da Constituição Federal, dispondo sobre serviços notariais e de registro, sendo que os parágrafos 1o e 2o do citado dispositivo Constitucional, já previam a necessidade de ser elaborada uma lei para regulamentar as atividades, disciplinar a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, definir a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário e estabelecer normas gerais para a fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro. Essa lei, que fora editada depois de mais de seis anos da promulgação da Constituição Federal de 1988, sendo de há muito aguardada, regulamentou uma situação jurídica que já existia há muito tempo, antes mesmo da Constituição Federal. Por força do seu art. 54, entrou em vigor no dia 21 de novembro de 1994, data em que fora publicada no DOU, tendo eficácia imediata a partir de então. Tal como estabelece o Art. 1º da Lei nº 8. 935, de 18 de novembro de 1994, “serviços notariais e de registro são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”. O dispositivo em apreço, no contexto legal, conceituou o que são serviços notariais e de registro. A citada lei orgânica trouxe profundas e importantíssimas inovações para a classe notarial. Um ponto atacado pela Lei no 8.935/94 e que consistia em antiga reivindicação, foi a questão da capacitação jurídica adequada para exercer a função de notário, passando a exigir o bacharelado em Direito, além do que, por óbvio, a aprovação em concurso público, este último item, já previsto no texto constitucional, no parágrafo 3o, do artigo 236.[17] Uma vez tendo a Carta Maior de 1988 determinado a obrigatoriedade de concurso público para o ingresso na atividade notarial e de registro, as serventias que vagassem a partir da sua promulgação, não mais incidiriam no privilégio previsto no artigo 208 da constituição de 1969, eis que instituída uma nova ordem. Sistema Notarial 10 De acordo com o artigo 236, caput, da Constituição Federal e pela Lei no 8.935/94, notários passaram a ser agentes delegados do Poder Público. Poder Público, que é formado pelos três poderes do Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário. Todavia, é ao Poder Executivo que cabe a incumbência de delegar os serviços notariais e registrais. A Lei dos Notários constitui um verdadeiro marco na história do notariado brasileiro e, se por si só não servir para acabar com os problemas que permeiam a instituição notarial, como de fato não servirá, será o instrumento que, aliado aos próprios notários, levará o notariado brasileiro, tão enfraquecido pelos erros até então cometidos, ao lugar de reconhecimento social e jurídico. Disponível em: <https://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto. asp?id=683>. Acesso em: 10 mar. 2018. 1.1 - O Ordenamento Jurídico Brasileiro sobre Direito Notarial O sistema notarial é regido, em nosso ordenamento jurídico pátrio, precipuamente, pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Importante um questionamento, para que não se faça nenhuma confusão entre Serventia Extrajudicial e Poder Judiciário. As serventias notariais fazem parte do Poder Judiciário? A resposta é NÃO! O Poder Judiciário visa resolver conflitos e administrar interesses por intermédio da figura do juiz togado, que por sua vez, é revestido no Poder-Dever de dizer o direito e aplicá-lo ao caso concreto. O notário, apesar de se submeter a concurso público para exercer a atividade, ao contrário do juiz, não decide sobre a vida e as relações sociais. Sua função, que fora delegada pelo Estado, é destinada à conservação, reconhecimento e à garantia do direito em estado normal. Exemplo de ato praticado pelo notário é o reconhecimento (por fé pública) de firma (assinatura) de determinada pessoa física. A seguir, para melhor compreensão da diferença entre Poder Judiciário e Serventias Extrajudiciais foi traçado um paralelo entre NORMALIDADE X CONFLITO: Fonte: <http://slideplayer.com.br/ slide/2374633/>. Acessado em 04/03/2018. O ordenamento jurídico brasileiro, como será visto a partir da seção 2, alicerçou a atividade na Constituição Federal <https://www.google.com.br/ search?q=normalidade+x+conflito&- source=lnms&tbm=isch&sa=X&ve- d=0ahUKEwi7q62g_fjZAhVCfpAKH- cRXD24Q_AUICygC&biw=1024&- bih=662#imgrc=kn60DldO40uTdM:>. Acessado em 19/03/2018. de 1988, que dependeu de regulamentação própria prevista em legislações infraconstitucionais esparsas sobre o sistema notarial. Nota-se, destarte, que não há um Código ou Lei específica sobre o assunto, que é tratado sob forma de Leis e Resoluções diversas sobre a regulamentação sistêmica do serviço notarial no Brasil. 2.1 – Fonte Constitucional do direito notarial O direito notarial é sub-ramo do Direito Civil. O Direito civil é ramo do direito privado que regulamenta relações entre pessoas e coisas, como por exemplo, direitos e obrigações inerentes a um negócio jurídico entabulado entre indivíduos (compra e venda). Regulamenta o Código Civil, ainda, a título de exemplo, sobre o casamento, união estável, entre outras relações corriqueiras da vida humana e social. Partindo do Direito Civil, pergunta-se: Quem celebra o casamento civil, reconhece união estável ou, ainda, lavra escritura pública de compra e venda? A resposta é o notário, detentor de fé pública para constituir, autenticar, declarar e reconhecer um ato ou fato jurídico. Mas... Quem legisla sobre essa atribuição? A competência para legislar é privativa da União (Estado Brasileiro), conforme prevê o artigo 22, inciso I da Constituição Federal de 1988, in verbis: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I- direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (grifos nossos) A Lei infraconstitucional regulamenta a atividade notarial, atividade essa delega pelo Poder Público, através de concurso público, conforme estabelece a CF/88 em seu artigo 236: Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. (Regulamento) § 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário. § 2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro. (Regulamento) § 3º O ingresso na atividade notarial ede registro depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses. 2 - A Constituição Federal de 1988 e a regulamentação da atividade notarial 11 Por se tratar de atividade DELEGADA pelo Estado, o notário está sujeito aos princípios que norteiam a administração pública, conforme preceitua o caput do artigo 37 da Carta Maior: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998). Destaca-se, portanto, que apesar de a atividade ser desempenhada por particular, o notário exerce função pública, sujeito às sanções administrativas, cíveis e criminais, caso haja qualquer transgressão aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. A legalidade representa dizer que o agente público ou particular que exerce função pública (notário) está limitado pelo que a Lei estabelece sobre o exercício de sua atividade, não podendo ir além nem aquém da norma. Significa dizer que o tabelião, dentro de suas competências previstas em norma infraconstitucional, mesmo vinculado à legalidade, poderá instrumentalizar, discricionariamente, atos e negócios jurídicos além daqueles tipificados no Código Civil, desde que admitidos em direito (RODRIGUES, 2013, p. 40-41). O princípio da impessoalidade representa dizer que o tabelião não pode praticar atos que digam respeito ao seu próprio interesse, estendendo essa vedação ao cônjuge, aos parentes em linha reta ou colateral até o terceiro grau, conforme disciplina o artigo 27 da Lei 8.935/94 (RODRIGUES, 2013, p. 42). Pelo princípio da moralidade, nas palavras de Rodrigues, entende-se que (2013, p.43) “os agentes públicos devem buscar, além da própria lei, fundamentos morais e éticos para a sua atuação. O tabelião deve agir e demonstrar boa-fé de sua conduta em relação aos próprios atos”. Sobre o princípio da publicidade, como os atos praticados pelo tabelião constituem delegação atribuída pelo Poder Público, até para fins de fiscalização do ato, devem a eles, via de regra, ser dada amplo conhecimento geral e irrestrito, reservado o direito à intimidade e à vida privada, em relação a determinados atos, como por exemplo, o testamento. Por último, mas não menos importante, o princípio da eficiência, nas palavras de Rodrigues (2013, p.46) significa dizer que deve o notário “buscar a via mais econômica, seja para a administração da serventia, para consecução do ato notarial, ou, ainda, para os usuários que buscam o seu serviço”. As Leis infraconstitucionais que tratam sobre o assunto serão abordadas na próxima seção. Na próxima seção, convidamos você a continuar os estudos sobre serviço notarial! Não se esqueçam de fazer uma leitura pormenorizada dos dispositivos constitucionais mencionados durante esta seção! 3 - Fontes infraconstitucionais Observem que falamos na seção anterior sobre a fonte constitucional da atividade notarial no Brasil. A Constituição Federal trata das diretrizes sobre a implantação do Sistema Notarial que dependeu de legislação federal para regulamentar a atividade. Passamos a falar, agora, da legislação infraconstitucional sobre os Cartórios Extrajudiciais: • Lei 7.433/85 e seu regulamento, o Decreto n. 93.240/86, legislações que regulamentam sobre as escrituras públicas; • Lei 8.935/94 que regulamenta o artigo 236 da CF/88, dispondo sobre os serviços notariais e de registro; • Resolução 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ); • Lei n. 10.257/2001, Estatuto das Cidades que exige, para realização de determinados atos, a escritura pública; • Lei 10.406/2002 que instituiu o Código Civil. Serão abordadas, no decorrer da disciplina, sobre as peculiaridades mais relevantes da legislação infraconstitucional sobre a atividade notarial. Iniciamos a nossa primeira aula da disciplina de Sistema Notarial. Neste primeiro encontro considerei importante apresentar a legislação brasileira que regulamenta o instituto do sistema notarial no território nacional. Conduziremos nossa aula baseada em estudo bibliográfico, prioritariamente, da legislação Constitucional e Infraconstitucional, levando-se em consideração a compreensão do texto legal. 1 – Reflexão e Histórico do Sistema Notarial sob a ótica da Fé Pública Na primeira seção, tivemos a oportunidade de iniciar nossas reflexões sobre o sistema notarial, cujos pensamentos nos prepararam para iniciar o estudo efetivo nas demais seções. Nessa etapa, adentramos na relação que o ordenamento jurídico pátrio mantém com o sistema notarial, já que se trata Nossa! Fizemos uma caminhada interessante nesta aula, não acham? Adquirimos conhecimentos interessantes e essenciais para a nossa formação enquanto profissionais e pessoas. Para fundamentar e melhorar ainda mais a nossa aquisição de saberes, iremos, a seguir, dar sugestões de leituras, sites e vídeos que vocês podem acessar para otimizar as informações dadas nesta Aula. Retomando a aula Parece que estamos indo bem. Então, para encerrar nossa primeira aula, vamos recordar: Sistema Notarial 12 de prática regulamentada pelo Estado. 2 – A Constituição Federal de 1988 e a regulamentação da atividade notarial Na segunda seção mencionamos e refletimos sobre os artigos da Constituição Federal que tratam da atividade notarial. Importante manter estudo direito a partir da análise legislativa dos artigos 22, 37 e 236 da Carta Maior haja vista serem vetores básicos do instituto. 3 – Fontes Infraconstitucionais Na última seção, tratamos das principais legislações infraconstitucionais que regem o sistema notarial. Lembre-se que tais Leis serão estudadas de forma aprofundada a partir da segunda aula. Vale a pena ANTUNES, Luciana Rodrigues. Introdução ao Direito Notarial e Registral. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 10, n. 691, 27 maio 2005. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/6765>. Acesso em: 11 mar. 2018. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2004. RODRIGUES, Felipe Leonardo, GAIGER FERREIRA, Paulo Roberto, Tabelionato de Notas, São Paulo, Saraiva, 2013. SANDER, Tatiana. A Atividade Notarial E Sua Regulamentação. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 3, no 132. Disponível em: <https://www.boletimjuridico.com.br/ doutrina/texto.asp?id=683>. Acesso em: 11 mar. 2018. VENOSA, Sílvio de Salvo. Introdução ao estudo do direito: primeiras linhas. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2014. Vale a pena ler Minhas anotações
Compartilhar