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DIREITO NOTARIAL

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Consideram-se serviços notariais e de registros os “de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos". Essa definição apresenta as finalidades das serventias notariais e registrais, que são: publicidade, autenticidade, segurança e eficácia.
A Lei n. 8.935 de 1994 mais conhecida como Lei dos Cartórios ou Lei dos Notários e Registradores, em seu artigo 5º, apresenta quais são os tipos de serviços notariais e de registros existentes no ordenamento jurídico brasileiro: tabelionatos de notas; tabelionatos/registros de contratos marítimos; tabelionatos de protestos de títulos; registros de imóveis; registros de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas; registros civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas e registros de distribuição.
Para o desempenho dessas funções, o notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador são, mediante atribuição da própria legislação acima mencionada, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro.
Entende-se por fé pública determinada confiança atribuída pela lei ao titular da serventia notarial e de registro que declare, no exercício da sua função, determinados fatos ou atos com presunção de verdade.
O ingresso na atividade notarial e de registro se dá pode meio de concursos públicos de provas e títulos. Essas serventias são delegadas aos particulares (os que forem aprovados em concurso público) pelo Poder Público para exercer as respectivas funções. A própria Constituição Federal de 1988, em seu artigo 236, estabelece que “os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público”.
Como o serviço é de natureza pública, aplicam-se os Princípios da Administração Pública: Princípio da Legalidade, Princípio da Impessoalidade, Princípio da Moralidade, Princípio da Publicidade e Princípio da Eficiência.
A autora Juliana de Oliveira Xavier Ribeiro explica que “o constituinte de 1988 optou pelo exercício em caráter privado, por delegação do poder público, das atividades extrajudiciais notariais e de registro. Apesar de o serviço ser público, deveria ser exercido em caráter privado pode meio de delegação. Notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, são profissionais do Direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro. Por isso o serviço notarial e registral será regido por normas do Direito Administrativo”.
Muito se tem discutido a respeito da natureza jurídica desses serviços. Entretanto, é relevante destacar que a natureza jurídica é pública e o seu exercício que é privado. Sobre o assunto, sustenta o autor Walter Ceneviva que “a atividade registrária, embora exercida em caráter privado, tem característicos típicos de serviço público.
Desta forma, os titulares que exercem as atividades notariais e de registros são considerados agentes públicos em colaboração com o Poder Público.
Portanto, é evidente que a atividade notarial e de registro, embora exercida em caráter privado, tem natureza pública. Corroborando tal entendimento, cita-se brilhante conclusão do autor Luís Paulo Aliende Ribeiro[05], o qual enfatiza que “são peculiares e exclusivos os contornos da função pública notarial e de registros no Brasil. A atividade apresenta uma face pública, inerente à função pública e por tal razão regrada pelo direito público (administrativo), que convive, sem antagonismo, com uma parcela privada, correspondente ao objeto privado do direito notarial e registral e ao gerenciamento de cada unidade de serviço, face esta regrada pelo direito privado”.
Acrescenta o autor que “o serviço público vai até o reconhecimento de que se trata de função estatal; de que o Estado mantém a titularidade do poder da fé pública cujo exercício delega a particulares, o que abrange a regulação da atividade no âmbito da relação de sujeição especial que liga cada particular titular de delegação ao Estado outorgante, a organização dos serviços, a seleção (mediante concurso de provas e títulos) dos profissionais do direito, a outorga e cessação da delegação, a regulamentação técnica e a fiscalização da prestação dos serviços para assegurar aos usuários sua continuidade, universalidade, uniformidade, modicidade e adequação”.
Oportuno mencionar que a fiscalização das serventias notariais e de registros será desempenhada pelo Poder Judiciário. A fiscalização judiciária dos atos notariais e de registro será exercida pelo juízo competente, assim definido na órbita estadual e do Distrito Federal, sempre que necessário, ou mediante representação de qualquer interessado, quando da inobservância de obrigação legal por parte de notário ou de oficial de registro, ou de seus prepostos. 
Apesar de ser uma função pública, a atividade notarial e de registro será exercida por conta em risco do titular da serventia, uma vez que a lei define que o “gerenciamento administrativo e financeiro dos serviços notariais e de registro é da responsabilidade exclusiva do respectivo titular, inclusive no que diz respeito às despesas de custeio, investimento e pessoal, cabendo-lhe estabelecer normas, condições e obrigações relativas à atribuição de funções e de remuneração de seus prepostos de modo a obter a melhor qualidade na prestação dos serviços”.
Deontologia Notarial: Da conjunção dos vocábulos gregos deontas (aquilo que é preciso fazer; conveniente; dever) e logos (conhecimento metódico constituído sob argumentos e provas; ciência ou estudo), o termo deontologia exsurge no sentido de designar o sistema de normas e princípios voltados à boa conduta ou atuação profissional. Carlo Lega, a seu modo, recepciona-o como o “conjunto de regras e princípio que regulam determinadas condutas do profissional, condutas de caráter não técnico, exercidas ou vinculadas, de qualquer modo, ao exercício da profissão e atinentes ao grupo profissional. É, na substância, uma espécie de urbanidade do profissional”. (LEGA, Carlo. Deontologia de La profesión de abogado. 2ª ed. Madrid: Editorial Civitas, 1983, p. 23). O conceito foi empregado, pela primeira vez, pelo filósofo e economista inglês Jeremy Bentham, por ocasião de sua Deontology or the Science of Morality, obra póstuma publicada em 1834.
Tida como espécie do gênero moral - e, também, da ética -, a deontologia é uma atividade que se ocupa não do ser como é (ontologia), mas do ser como deve ser (deontologia). Seu objeto (material e formal) descansa na imperiosidade da existência de regras morais e/ou jurídicas a reger determinada atuação funcional. Sobre a segmentação epistemológica do conceito, Costa enfatiza que “O seu objeto material não é, pois, nem o direito substantivo, nem o direito adjetivo, nem a técnica forense, mas tão só a conduta do homem que tem por profissão lidar com o Direito, seja advogado, magistrado, promotor de justiça, serventuário da justiça ou notário”; (COSTA, Elcias Ferreira da. Deontologia jurídica – ética das profissões jurídicas. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 3); tendo, portanto, o objeto formal, a finalidade de “oferecer princípios e noções capazes de informar a conduta moralmente boa, digna e perfeita do profissional do Direito”. (COSTA, Elcias Ferreira da. Op. cit., mesma página). Nesse sentido reside a idéia de moral dos deveres (ou deontologia – Bentham) e moral dos direitos (ou diceologia – Dechambre).
Sobre os deveres éticos dos notários e registradores – profissionais do direito cuja missão está em imprimir publicidade, autenticidade, eficácia e segurança jurídica sobre negócios e atos que lhes cabem por dever de exercício – repousam um sem número de responsabilidades e obrigações, deveres estes de conteúdo nem sempre identificável: “[...] concernentes à forma dos atos a autenticar e às relações que eles devem ter com seus colegas ou com sua clientela [...]. Dentre as obrigações gerais que pesam sobre eles, encontram-se a prova da dignidade, educação, integridade moral indiscutível e competênciatécnica (teórica e prática) ”. A Lei nº 8.935/94 (conhecida como a Lei dos Notários e Registradores) traz consigo, na dicção dos arts. 30 a 34, respectivamente, as infrações disciplinares que sujeitam os notários e os oficiais de registro às penalidades expressamente previstas; as apenações em si; bem como a forma exata de sua aplicação e efetividade.
Investidos, pois, da qualidade de particulares em colaboração com o Poder Público, esteiam-se os notários e registradores no atributo da fé pública, compreendido como o campo magnético centrado a estabilizar as relações humanas por meio da chamada Segurança Jurídica preventiva. A contornar o atributo vicejam as cores mais expressivas da imperatividade, expressas estas por meio de normas – regras e princípios – insculpidas ora sob as vestes do direito positivo, ora sob as dos fins preexistentes na chamada ordem ético-deontológica. Ambas, como se pode denotar, reclamam estrita observância, sob pena de prejuízos tão certos quanto às responsabilidades daí oriundas. Em outras palavras, “a prática profissional não faz mais que aplicar a casos particulares os princípios de uma moral admitida por todos. Ela refere-se aos vários campos de ação do registrador e do notário, seu espírito ético, inspirado na afirmação de valores que devem ser observados”. (COSTA, Elcias Ferreira da. Op. cit., mesma página). A função extrajudicial, nesse sentido, há de ser recepcionada não como sinônimo de atividade, mas de verdadeira missão jurídico-axiológica.
No mês de outubro de 2004, na Cidade do México, deliberando com maturidade acerca de inúmeros temas, entre eles a questão da principiologia (um claro norte rumo à sistematização do Direito Notarial como segmento independente, dotado de cientificidade autônoma), o Conselho Permanente da UINL, reunido em Assembleia, extraiu a essência de alguns cânones de atuação tabelional, assim denominados PRINCÍPIOS DE DEONTOLOGIA NOTARIAL (1. Preparação profissional; 2. Função notarial; 3. Relacionamento profissional; 4. Concorrência; 5. Vedação do uso de publicidade; 6. Escolha do notário; 7. Caráter pessoal da intervenção notarial; 8. Segredo profissional; 9. Imparcialidade e independência; 10 Diligência e responsabilidade). 
Mais tarde, por força da Assembleia de Notariados membros, realizadas na cidade de Lima-Peru, na data de 08 de outubro de 2013, sobreditos princípios experimentaram uma considerável carga de atualização. Tais sustentáculos revestem-se como nortes que visam à preservação da paz privada diante dos mais variados interesses da vida, da dignidade humana e da segurança jurídica preventiva.
No Brasil, pode-se dizer que a atividade notarial e registral surgiu efetivamente a partir do chamado registro do vigário (Lei n. 601/1850 e Dec. 1318/1854), com o que a Igreja Católica passou a obrigar a legitimação da aquisição pela posse, através do registro em livro próprio, passando a diferençar as terras públicas das terras privadas. A aludida transmissão, com o tempo, passou a ser realizada através de contrato e, não raras vezes, necessitava de instrumento público, confeccionado por um tabelião. Finalmente, com a amplicação do atos registráveis, passaram a se submeter ao Registro Geral (Lei n. 1237/1864) todos os direitos reais sobre bens imóveis.
Atualmente, ambos (notário e registrador) são profissionais que desempenham função pública, através de delegação obtida mediante aprovação em concurso público de provas e títulos.
Notário ou tabelião é um profissional do Direito, dotado de fé pública, ao qual compete, por delegação do Poder Público, formalizar juridicamente a vontade das partes, intervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma legal ou autenticidade, autorizando a redação ou redigindo os instrumentos adequados, conservando os originais e expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo e autenticar fatos. Os serviços de registros públicos, cartorários e notariais são exercidos em caráter privado por delegação do Poder Público – serviço público não privativo. Os notários e os registradores exercem atividade estatal, entretanto não são titulares de cargo público efetivo, tampouco ocupam cargo público.
O notário é o autor e responsável pelo documento, uma vez que este contém declarações dele e das partes.
Esse princípio supõe um dever de colaboração técnico-jurídica do notário para com os particulares e a obrigação de assessorar e aconselhar os meios jurídicos mais adequados para lograr fins lícitos, pois sua função é garantir a publicidade, conferir autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos, inerentes à confiança depositada tanto pelo Poder Público, como pelos particulares que confiam nos seus serviços.
A consequência da violação desses deveres é a responsabilização civil do notário, por danos e prejuízos causados por atuação em que exista dolo, culpa ou ignorância. A ignorância, aqui, trata-se de desconhecimento dos preceitos legais necessários à elaboração do instrumento notarial.
Logo, o ato notarial, quando praticado irregularmente pode acarretar dano a alguém. Essa irregularidade pode ser do próprio titular da serventia ou de um de seus prepostos.
A responsabilidade por esse dano, desde que resulte de ato próprio da serventia, independentemente de praticado pelo titular ou por qualquer um de seus prepostos, acarreta na responsabilização exclusiva do notário. Tal responsabilização advém do disposto no Artigo 22, da Lei 8.935/94.
Não há supedâneo jurídico para responsabilizar o notário que age rigorosamente dentro do estrito dever legal, mesmo que seu ato tenha causado prejuízo a outrem.
 Referências Bibliográficas
BRASIL. Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6015.htm (acesso em fevereiro de 2010).
BRASIL. Lei n. 8.935, de 18 de novembro de 1994. Regulamenta o art. 236 da Constituição Federal, dispondo sobre serviços notariais e de registro. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L8935.htm (acesso em fevereiro de 2010).
BRASIL. Constituição Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%E7ao.htm (acesso em fevereiro  de 2010).
CENEVIVA, Walter. Lei dos Notários e dos Registradores Comentada. 6. ed., São Paulo: Saraiva, 2007.
RIBEIRO, Luís Paulo Aliende. Regulação da função pública notarial e de registro. São Paulo: Saraiva, 2009.
RIBEIRO, Juliana de Oliveira Xavier. Direito Notarial e Registral. Rio de janeiro: Elsevier, 2008.
Chaves, Carlos Fernando Brasil; Tabelionato de Notas e o Notário Perfeito - 7ª Ed. 2013 - Saraiva
Notas
1.      Artigo 1º da Lei 8.935/94, conhecida como Lei de Notários e Registradores (LNR).
2.      RIBEIRO, Juliana de Oliveira Xavier. Direito Notarial e Registral. Rio de janeiro: Elsevier, 2008, p. 04.
3.      CENEVIVA, Walter. Lei dos Registros Públicos Comentada. 18. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 06-07.
4.      www.stf.gov.br.
5.      RIBEIRO, Luís Paulo Aliende. Regulação da função pública notarial e de registro. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 181.
6.      Art. 37, LNR.
7.      Art, 21, LNR.

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