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CITOLOGIA CERVICO-VAGINAL: MICROBIOTA MAGNUS SÉRGIO Farmacêutico Prof. de Farmacologia, Química medicianal, Famacognoisia e Citologia Clínica MICROBIOTA Objetivos de aprendizagem: – Analisar as alterações citológicas, citoplasma e núcleo, do processo inflamatório induzidas pela microflora. – Determinar o agente causador do processo inflamatório. – Determinar as características do agente causador 14/10/2020 2 MICROBIOTA • Infecções bacterianas • Lactobacillus vaginalis (bacilos de Döderlein) – Correspondem a bacilos gram-positivos que fazem parte da flora vaginal normal. – As enzimas desses micro-organismos induzem à destruição proteolítica (citólise) das células epiteliais escamosas intermediárias que contêm glicogênio. – O glicogênio citoplasmático é então metabolizado em ácido lático, que mantém o pH vaginal entre 3 a 4.2, o qual atua como um mecanismo de defesa contra a proliferação de micro-organismos patógenos. – A citólise é reconhecida nos esfregaços pela presença de restos citoplasmáticos e núcleos desnudos de células intermediárias tendo na vizinhança numerosos bacilos. – Quando a citólise é intensa, pode dificultar ou mesmo impedir a graduação das lesões pré-cancerosas, uma vez que é necessária a manutenção do citoplasma íntegro para calcular a relação núcleo citoplasma, um critério importante para a classificação dessas lesões. – O predomínio de lactobacilos acontece na fase luteínica do ciclo menstrual, na gravidez, na menopausa precoce e durante a administração de hormônios, especialmente progestágenos. 14/10/2020 3 MICROBIOTA • Infecções bacterianas • Lactobacillus vaginalis (bacilos de Döderlein) 14/10/2020 4 MICROBIOTA • Infecções bacterianas • Lactobacillus vaginalis (bacilos de Döderlein) 14/10/2020 5 MICROBIOTA • Bactérias mistas – Compreendem uma mistura de bacilos e cocos, que só podem ser identificados pela cultura microbiológica. Em mulheres adultas assintomáticas, essas bactérias são consideradas um achado normal. • a; b - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. A mistura de bacilos e cocos é conhecida como flora mista e pode ser ou não associada à inflamação. 14/10/2020 6 MICROBIOTA • Bactérias mistas • Gardnerella vaginalis – Correspondem a cocobacilos gram-negativos ou gram-variáveis. – 40 a 50% das mulheres que apresentam esse micro-organismo são assintomáticas quando o pH vaginal é maior que 4.5, – a Gardnerella pode se associar a várias outras bactérias aeróbicas e anaeróbicas, especialmente Mobiluncus, bacteroides e Mycoplasma hominis. Essa infecção por múltiplas bactérias é definida como vaginose bacteriana. – Clinicamente a condição é associada a corrimento vaginal branco- acinzentado ou amarelado, fluido, homogêneo, com odor de peixe estragado, às vezes com aspecto bolhoso. – O odor característico da secreção se intensifica por ocasião da menstruação e após relações sexuais, devido ao aumento do pH e consequente liberação pelos micro-organismos de aminas responsáveis pelo cheiro. 14/10/2020 7 MICROBIOTA • Bactérias mistas • Gardnerella vaginalis – A Gardnerella vaginalis tem a propriedade de aderir ao citoplasma das células escamosas superficiais e intermediárias conferindo-lhes uma aparência granular (células guia). – É também característico o aspecto nublado, turvo, do fundo, especialmente na proximidade das células, devido a uma maior concentração de bactérias. – Habitualmente há discretas alterações celulares degenerativas, e os neutrófilos são raros. – OBS: • Em raras ocasiões, bacilos ou cocos se sobrepõem às células escamosas, dando a falsa impressão de células-guia. Porém nesse caso, o fundo não tem a aparência turva associada à infecção por Gardnerella. 14/10/2020 8 MICROBIOTA • Bactérias mistas • Gardnerella vaginalis • a - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 100x. Observar o fundo de aspecto turvo, devido aos depósitos de micro-organismos. Há raros leucócitos. • b - “Células-guias”. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Correspondem a células superficiais ou intermediárias com cocobacilos aderidos ao citoplasma, dando-lhes um aspecto granular. 14/10/2020 9 MICROBIOTA • Bactérias mistas • Gardnerella vaginalis • d - Falsa “célula-guia”. Amostra cervical, citologia de meio líquido, Papanicolaou, 400x. Presença de bacilos recobrindo o citoplasma das células escamosas simulando as células-guia associadas à Gardnerella vaginalis. 14/10/2020 10 MICROBIOTA • Cocos – As bactérias cocoides presentes nos esfregaços podem ser gram- positivas ou diplococos gram--negativos. – Os estreptococos representam mais de 30% das bactérias cocoides encontradas, desenvolvem-se em pH alcalino e frequentemente se associam a Trichomonas vaginalis. – Em esfregaços atróficos, como na infância e na menopausa, as bactérias cocoides são mais comuns. – Nos esfregaços citológicos não é possível a sua classificação, sendo necessária a cultura microbiológica para esse fim. 14/10/2020 11 MICROBIOTA • Cocos • a - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Nesta figura, os cocos se dispõem em cadeias (seta). • b - Amostra cervical, citologia de meio líquido, Papanicolaou, 400x. Cocos se sobrepõem às células escamosas. Não há alterações inflamatórias. 14/10/2020 12 MICROBIOTA • Actinomyces – É habitante comum da cavidade oral e do trato gastrointestinal. É uma bactéria gram-positiva, anaeróbica, que ocorre sob a forma filamentosa. – No trato genital feminino, o Actinomyces é relacionado frequentemente ao uso de dispositivo intrauterino (DIU), especialmente por tempo prolongado. – Em raros casos a bactéria pode ascender e se disseminar, ocasionando abscesso tubo-ovariano e até mesmo doença inflamatória pélvica. – Nos esfregaços citológicos, Actinomyces aparecem como estruturas filamentosas não septadas, em forma de aranha ou ouriço-do-mar. Os filamentos se irradiam a partir de um centro denso e escuro. Esses micro-organismos são às vezes envolvidos por células inflamatórias. – Em algumas ocasiões as bactérias cocoides podem se apresentar em acúmulos simulando Actinomyces, mas falta o aspecto filamentoso próprio deste último. – É tão rara a ocorrência de complicações associadas ao Actinomyces que a sua identificação no esfregaço citológico não é indicação de remoção do DIU ou de tratamento da paciente se a mesma for assintomática. 14/10/2020 13 MICROBIOTA • Actinomyces • a - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. As bactérias se irradiam a partir de um centro escuro. • b - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Nesta figura, uma coroa de neutrófilos circunda a colônia de bactérias (Actinomyces). 14/10/2020 14 MICROBIOTA • Leptothrix vaginalis • Correspondem a bactérias anaeróbicas. Elas são comuns na cavidade oral, no intestino e ocasionalmente na vagina. Aparecem como estruturas filamentosas, em forma de “S”, “U”, “C” ou enoveladas. Há associação desse micro-organismo com Trichomonas vaginalis em 75 a 80% dos casos. • a e b - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Bactérias cocoides associadas a Leptothrix vaginalis. • São filamentos que se coram em cinza ou negro e apresentam entrelaçados • Nesta infecção o muco é denso e os critérios estão presente nas células escamosas. Grande infiltrado leucocitário 14/10/2020 15 MICROBIOTA • Infecções micóticas - Candida sp. – No esfregaço vaginal se identificam hifas, pseudo-hifas e esporos redondos ou ovais com 3 a 7 micrômetros de diâmetro. – Coram-se habitualmente em vermelho ou marrom. Nas hifasverdadeiras o protoplasma é contínuo entre o eixo principal e as ramificações. – A Candida se reproduz por brotamento. Os brotos se alongam formando as pseudo-hifas. Alguns esporos podem invadir o citoplasma das células epiteliais escamosas aparentemente intactas. • Em um grande número de amostras citológicas evidenciam-se: – halos perinucleares, – vacuolização citoplasmática – cromatina agrupada. – É frequente o encontro de neutrófilos degenerados. – Em algumas ocasiões o aumento nuclear é significativo e, quando associado à pseudoeosinofilia e halos perinucleares, pode ser difícil a diferenciação com alterações citopáticas pelo HPV. 14/10/2020 16 MICROBIOTA • Infecções micóticas - Candida sp. • É um fungo leveduriforme, e é o mais encontrado na vagina, apresenta-se em forma de hifas ou esporos, com uma coloração vermelha ou cinza. • A mulher pode albergar na sua flora vaginal a cândida na forma esporulada. • A presença de hifas características deste fungo, deve sempre ser relatada no laudo, já que a penetração na mucosa é dada por esta forma. • É um dos mais irritantes corrimentos. Provoca corrimento espesso tipo nata de leite e geralmente é acompanhado de coceira ou irritação intensa. Candida ou Monília é um fungo e a candidíase é, portanto, uma micose. • A candida aparece quando a resistência do organismo cai ou quando a resistência vaginal está diminuída. Alguns fatores são causadores desta micose: – gravidez – diabetes – infecções ( HIV) – deficiência imunológica – medicamentos como anticoncepcionais e corticóides. • Eventualmente o parceiro sexual aparece com pequenas manchas vermelhas no pênis. 14/10/2020 17 MICROBIOTA • Infecções micóticas - Candida sp. 14/10/2020 18 MICROBIOTA • Infecções micóticas - Candida sp. • a; b - Esfregaços cervicovaginais, Papanicoloau, 400x. • a. as pseudohifas. apresentam aspecto segmentado lembrando bambu, às vezes com brotamento (seta). • b., são vistos esporos ovalados (seta). b - Esporos. Os esporo 14/10/2020 19 MICROBIOTA • Infecções micóticas - Candida sp. • c - Esporos. Amostra cervical, citologia de meio líquido, Papanicolaou, 400x. Os esporos são muito pequenos e agrupados (setas). Segundo algumas referências, tal aspecto é associado a Candida glabrata. • d - Pseudo-hifas de Candida sp. Amostra cervical, citologia de meio líquido, Papanicolaou. Há numerosas pseudo-hifas. 14/10/2020 20 MICROBIOTA • Infecções micóticas - Candida sp. • Hifas de Candida sp. Amostra cervical, citologia de meio líquido, Papanicolaou. 14/10/2020 21 MICROBIOTA • Protozoários - Trichomonas vaginalis – Corresponde a um protozoário flagelado, transmitido sexualmente. – Quase 50% das mulheres com Trichomonas são assintomáticas. Contudo, podem se associar a corrimento vaginal abundante de cor verde-amarelada e odor desagradável. – Nos esfregaços citológicos, devido à degeneração, raramente se identificam os flagelos do parasita. – Trichomonas variam de tamanho, entre 5 e 20 micrômetros, e são piriformes, com limites mal definidos, às vezes contendo grânulos intracitoplasmáticos castanho- avermelhados indicando uma leve capacidade fagocitária. – O seu núcleo é pequeno, excêntrico, redondo ou oval, levemente basofílico, de difícil identificação. Para a diferenciação com restos citoplasmáticos, a visualização do núcleo do parasita é essencial. – Na infecção por Trichomonas vaginalis, o fundo dos esfregaços geralmente é purulento, às vezes sob a forma de acúmulos focais de neutrófilos, que são conhecidos como balas de canhão. Há pseudoeosinofilia citoplasmática pronunciada, e são comuns os halos perinucleares. Os núcleos podem ser volumosos, e pode haver cariólise e cariorrexe. É frequente a associação de Trichomonas com Leptothrix vaginalis. 14/10/2020 22 MICROBIOTA • Protozoários - Trichomonas vaginalis • Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Uma das células escamosas exibe halo perinuclear. Observar numerosos Trichomonas vaginalis, distinguindo-se o seu pequeno núcleo excêntrico (SETA). 14/10/2020 23 MICROBIOTA • Protozoários - Trichomonas vaginalis • Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Observar numerosos Trichomonas vaginalis, distinguindo-se o seu pequeno núcleo excêntrico. 14/10/2020 24 MICROBIOTA • Protozoários - Trichomonas vaginalis e Leptothrix. • Apenas o núcleo e, raramente, o axostilo são vistos no esfregaço cervicovaginal corado pela técnica de Papanicolaou. • a - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Uma das células escamosas exibe halo perinuclear (seta). Observar numerosos Trichomonas vaginalis, distinguindo-se o seu pequeno núcleo excêntrico. • b - Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. A figura exibe Leptothrix, uma bactéria filamentosa associada frequentemente a Trichomonas. Estes últimos apresentam núcleos pequenos, excêntricos. 14/10/2020 25 MICROBIOTA • Infecções virais – herpes-vírus – O herpes genital é uma doença sexualmente transmissível causada pelos vírus Herpes simplex tipo 1 (HSV-1) e tipo 2 (HSC-2), este mais comum. Corresponde a um DNA-vírus. – A infecção se manifesta clinicamente por febre, indisposição, mialgia e vesículas na pele ou mucosas da região genital. Essas lesões se rompem na sua evolução com o aparecimento de úlceras rasas que curam espontaneamente dentro de duas a quatro semanas. – É comum a recorrência da infecção depois de um período de latência onde o vírus permanece inativo nas raízes dos nervos dorsais da medula espinhal. – Os fatores responsáveis pela reativação do vírus são pouco conhecidos, atribuindo-se o estresse e a consequente queda do estado imunitário, um papel importante. 14/10/2020 26 MICROBIOTA • Infecções virais – herpes-vírus – Características citológicas: as alterações desencadeadas pelo vírus afetam as células escamosas parabasais, metaplásicas imaturas e endocervicais. – Inicialmente se evidenciam citomegalia e cariomegalia. – Devido à degeneração, a cromatina se torna rarefeita e os núcleos assumem um aspecto fosco, homogêneo. Simultaneamente, restos persistentes de cromatina se depositam contra o folheto interno da membrana nuclear, resultando na aparência de borda nuclear espessada. – É frequente a multinucleação onde os núcleos se amoldam uns aos outros. Em alguns casos, inclusões intranucleares grandes podem ser observadas, não devendo ser confundidas com nucléolos, estes últimos geralmente menores e esféricos. – O citoplasma das células acometidas é denso, opaco, devido a alterações da estrutura do citoesqueleto e à necrose por coagulação das proteínas. 14/10/2020 27 MICROBIOTA • Infecções virais – herpes-vírus • a; b - Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 400x. Na figura a, célula multinucleada, com amoldamento nuclear, rarefação da cromatina e marginação periférica da cromatina, conferindo espessamento às bordas nucleares. Em b, células multinucleadas, com amoldamento nuclear, rarefação da cromatina e algumas inclusões (setas). 14/10/2020 28 MICROBIOTA • Infecções virais – herpes-vírus 14/10/2020 29 MICROBIOTA Como podemos identificar o processo inflamatório na citologia cérvico vaginal ? Como podemos identificar o processo infeccioso na citologia cérvico vaginal ? 14/10/2020 30 Pela sua atenção, muito obrigado.
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