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A RECUPERAÇÃO DO PREJUÍZO DE ACIONISTAS: O CRESCIMENTO DO ATIVISMO SOCIETÁRIO BRASILEIRO Eduardo Silva da Silva 1ª edição Copyright © 2019 por Eduardo Silva da Silva Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida, sob quaisquer formas ou meios, sem prévia autorização por escrito. Simplíssimo Livros Ltda. CNPJ 11.761.380/0001-01 Praça Conde de Porto Alegre, 37/11 90020-130 - Porto Alegre - RS - Brasil simplissimo.com.br Nota da editora: as opiniões expressas nesta obra são de responsabilidade do autor e não expressam necessariamente a opinião da Simplíssimo Livros Ltda. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE Silva, Eduardo Silva da A recuperação do prejuízo de acionistas: o crescimento do ativismo societário brasileiro / Eduardo Silva da Silva. – 1. ed. – Porto Alegre : PLUS / Simplíssimo, 2019 ISBN 9786580461318 1. Acionistas. 2. Bolsa de Valores. 3. Ativismo societário I. Título. CDD: 220 Sumário Apresentação 5 O mercado de capitais já mudou 13 Onde está o dinheiro? 21 Fundos de Pensão 31 Startup Style: a mudança na organização das empresas 39 Confiança e reputação em tempos de Uber 45 Terrorismo e sua conta do Paypal 53 Ativismo societário: 59 A recuperação dos prejuízos dos acionistas minoritários 67 Sobre o autor 73 Apresentação Fala-se em economia 4.0. Vivemos em uma época marcada pelo que se convencionou denominar de Nova Economia Digital. Contudo, nem todas as mudanças que se operam na tecnologia, na internet das coisas e no blockchain se processam, simultaneamente, por todos os setores da economia e do direito. Um exemplo, no Brasil, é o cenário das Empresas e da sua organização societária. Explica-se. As empresas brasileiras sempre foram de um perfil muito familiar. Arredias, em geral, ao mercado de capitais e à cultura corporativa. A concentração do capital é um dado relevante para a compreensão das nossas organizações empresárias, mesmo para aquelas listadas em bolsa. É um passo, portanto, para que o excesso de poder gerasse toda a sorte de desmandos, em detrimento do pequeno acionista. Pode-se atribuir a diversas causas o fato de tão poucos brasileiros investirem em renda variável. Uma delas, possivelmente, seja a inseguranças sentida pelo investidor diante daqueles que detém o controle da empresa e podem, portanto, a qualquer momento, promover guinadas na gestão da corporação. O discurso bonito e empolado de governança não fez muita diferença para casos, por exemplo, como da Petrobras ou do Grupo OGX, do empresário Eike Batista. Vislumbramos mudança. O cenário de juros baixos e o de aposentadoria com regras menos generosas, demandará nova atitude do investidor. Sua futura dependência do sucesso de suas aplicações deve determinar comportamento compatível com esta condição. Espera-se, em outras palavras, uma mudança do perfil do investidor: de um mero poupador passivo – e até distraído – surgirá um acionista atento e participativo com o que se processa com seu dinheiro. É neste contexto que já podemos falar de um Societário 2.0. Uma nova fase do desenvolvimento das empresas de capital aberto no Brasil. O capital não poderá dormir mais nos bancos. Aliás, teremos menos bancos. A empresa familiar cederá lugar a estruturas efetivamente corporativas. Não que o queira fazer. Mas porque a captação e o investimento de recursos serão mais seletivos. E, numa aldeia global, Fundos Chineses ou Americanos, exigirão mais e efetiva governança. As empresas que queiram sobreviver à Nova Economia Digital (internet das coisas, emprego do blockchain, desmaterialização do comércio físico...) deverão deixar de ser centradas no patriarca fundador e submeterem-se às regras claras e reais de governança. Neste quadro, assumir-se como acionista, na acepção mais rica da expressão significa: acompanhar, fiscalizar, fazer-se representar. Juntar-se a outros. Exigir o cumprimento das regras da própria Companhia. Trata-se de comparecer nas Assembleias Gerais, votar, escolher representantes e fazer questionamentos sobre as políticas da Empresa. Nos Estados Unidos tais práticas são conhecidas como ativismo societário (Shareholder Activism). A expressão ativismo não é feliz. Remonta a ideias como criatividade judicial (decisão para além dos parâmetros legais) ou para uma nuance de agitação social. No Brasil, porém, os acionistas dormitaram durante anos. Não há mal que haja um pouco de ativismo, compreendida a acepção no contexto de maior participação e ação dos investidores. A recente discussão sobre o artigo 115 da Lei da Sociedade por Ações, ocorrido no bojo da então Medida Provisória n. 881 é emblemática. Nela se pretendia permitir a que o controlador mantivesse direito de votação mesmo nas situações em que seu interesse particular confrontasse (formalmente) ao da companhia. Em boa hora os acionistas minoritários – devidamente articulados – conseguiram reverter a proposta. Outros sinais apontam na perspectiva do ativismo ou da articulação societária. Arrole-se, apenas para exemplificar, as arbitragens iniciadas na Câmara do Mercado da B3 em defesa de acionistas minoritários prejudicados por grandes empresas. Igualmente, o artigo 246 da Lei da Sociedades Anônimas que premia a iniciativa de acionistas por demandas que deveriam ter sido ajuizadas por empresas controladas em relação das controladoras, também foram promovidas. Ainda estamos longe do que se processa em termos de companhias com capital aberto no resto do mundo e do que acontece com a economia digital. Mas não há como deixar de reconhecer que fazemos uma importante transição. O Societário 2.0 já é uma realidade. Já não é mais o clã familiar que organizará a empresa; e o acionista, por sua vez, passa a assumir o seu devido protagonismo. Essas são algumas ideias que serão discutidas neste pequeno trabalho. Não é, como se notará, um livro com aspirações acadêmicas. Antes, é uma leitura bastante prática da realidade e das perspectivas que se impõem. Os temas podem parecer, a uma primeira vista, muito independentes. Mas, de fato, dizem com o feixe de mudanças que se processam na empresa e na economia brasileiras. E se sustentam na ideia de que o acionista minoritário, neste novo quadro, deve figurar como um personagem relevante no desenvolvimento das corporações. Sendo, inclusive, protegido e indenizado por certos prejuízos discrepantes ao risco do mercado, quando necessário. Ainda que já se discuta que as empresas não possam mais se preocupar precipuamente com a satisfação dos interesses dos acionistas, mas com valores outros, maiores e superiores, não é o que se processa na prática. Menos ainda no Brasil, onde apenas agora corremos o risco de nos aproximar de um capitalismo minimamente verdadeiro: de oportunidades iguais, de investimento e de governança. Agradeço, antecipadamente, críticas, sugestões e comentários. Atenciosamente, Eduardo Silva da Silva eduardo@disputeresolutionoffice.com mailto:eduardo@disputeresolutionoffice.com O mercado de capitais já mudou Direito Societário 2.0 O Brasil é ainda um país de empresas familiares. Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cerca de 80% das empresas brasileiras teriam este perfil. É natural, portanto, que o Direito Societário reproduza este quadro. As disputas societárias corresponderiam, assim, em grande parte, a divergências próprias de relacionamentos familiares que se confundem com o empresarial: crises pelo comando da empresa, desinteligências pontuais entre sócios, atritos relacionados às decisões e temas congêneres. Outro aspecto seria o que determina o trato da empresa como uma extensão da casa, numa dimensão curiosa do patrimonialismo que ocorre na esfera estatal. Nos últimos anos, contudo, conforma-se um novo modelo Societário. Nele, ressalta-se o caráter público das empresas. Por público, esclareça-se, não se quer dizer estatal. Mas, ao contrário, se reforça o interesse do público nos assuntosde tais companhias. São investidores, pessoas físicas ou jurídicas, gente anônima, dispersa pelo globo, mas que, em número sempre crescente, aportam seus recursos na organização empresarial ou em Fundo específico, esperando resultados e contando com a boa gestão de terceiros. Parte destes investimentos são voltados à capitalização das empresas. A busca de capital de giro ou de meios para crescer e inovar encontra na economia popular uma promissora alternativa aos empréstimos bancários. Numa efetiva economia de mercado, um dos seus aspectos mais vibrantes diz justamente com os mecanismos pelos quais as empresas podem obter recursos para seus investimentos. Com efeito, a capitalização das empresas numa economia sadia deriva, em grande parte, do investimento dos cidadãos. As ofertas públicas de ações e a compra de papeis em bolsa tornam-se corriqueiras. O Brasil alcançou em 2019, um marco importante. Pela primeira vez, cerca de 1 milhão de pessoas físicas se qualificaram como investidoras na Bolsa brasileira. Em razão do cenário macroeconômico, de baixa contínua dos juros, a bolsa se apresenta como uma boa saída para investidores com disposição para esperar resultados mais expressivos, ainda que num contexto mais arriscado. Anuncia-se para o corrente ano ofertas públicas de ações que ultrapassariam 35 bilhões de reais, valor bem superior aos cerca de 9 milhões do ano de 2018. Do ponto de vista institucional, o mesmo se processa, por meio de Fundos de Investimentos e dos Fundos de Pensão. A recessão econômica, o baixo crescimento do PIB e o endividamento das empresas, oferecem grandes oportunidades aos participantes de Fundos como os de private equity. Os Fundos de Pensão já exercem no mercado de capitais um papel muito relevante. O reconhecimento, por meio da reforma promovida pelo Congresso Nacional, de que as aposentadorias não poderão ser providas preponderantemente pelo Estado, tende a reforçá-los. Este engendrado mercado, exige organização e patamares mínimos de segurança. Renova-se: trata-se de dinheiro do público. Pode-se dizer que estamos tratando de algo superior ao conceito tradicional de dinheiro público (leia-se: dinheiro privado administrado pelo Estado, oriundo geralmente dos tributos). O dinheiro do público é aquele que sobrevive ao o pagamento dos impostos e dos gastos de subsistência. E alça a graça de ser investido. É resultado do esforço de disciplina, de contingenciamento e de boa administração financeira, seja de empresas ou de pessoas físicas. Por isso, é protegido por uma série de agentes e de normas: a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Bolsa, Brasil, Mercado (B 3) e a Câmara de Arbitragem do Mercado (Câmara), regulam, previnem incidentes e resolvem disputas deste delicado mecanismo financeiro. Os que participam deste arcabouço são normalmente chamados de “Participantes do Mercado”. São os sujeitos – pessoas físicas e jurídicas – que ocupam alguma das tantas posições possíveis no mercado de capitais. Diretores das Companhias, Conselheiros de Administração, Conselheiros Fiscais, Diretores de Relacionamento com Investidores (DRI), Auditores Independentes, Agentes de Investimentos e tantos outros são normativamente considerados como protagonistas deste enredo. Em razão disso, estão todos sujeitos à regulação. E, em alguns casos, a sanções. Essas decorrem do descumprimento de regras objetivas ou de deveres que são inerentes aos compromissos fiduciários assumidos. Afinal, sublinhe-se, lidam com o dinheiro do público. Com a edição da Lei n. 13.506, em 2017, o último aspecto da regulação – o de natureza sancionatória – foi reforçado. Já naquele ano, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determinou a aplicação de 165 milhões de Reais em multas. Em 2018, o montante alcançou o total de R$ 350 milhões. Em 2019, apenas um dos já condenados recebeu sanção superior a 500 milhões. Setembro de 2019 marca a vigência da Instrução CVM n. 607, que é a última engrenagem deste artefato de correção e supervisão do mercado quanto a práticas ilícitas. Para além e em paralelo, a Câmara de Arbitragem do Mercado passou a julgar pleitos relacionados às perdas dos acionistas minoritários, inclusas às empresas envolvidas em escândalos bilionários. Tal atuação tem sido rica e criativa, ampliando as dimensões da arbitragem brasileira, inclusive com uma espécie de class action tropical. Ressarcir minoritários prejudicados sempre foi uma pedra de toque do sistema de proteção aos investidores. Faltavam meios que agora se fazem presentes também via da CVM. O que se vê, portanto, é uma mutação no DNA das disputas empresariais. Elas migram do Judiciário para a arbitragem. Deixam os temas familiares para debater níveis de observância ao compliance e aspectos importantes da governança corporativa. Passam do conflito intrafamiliar para temáticas como os códigos de conduta, normas da CVM e da B 3. Os participantes do mercado, antes mencionados, vivem intensa interação. Ora são demandantes, ora demandados. A dinâmica permite que um acionista minoritário possa tecer indagações ao Conselho de Administração. Diretores e Conselheiros devem prestar boas informações aos Auditores independentes. O looping de interações é vasto e complexo. E o de responsabilizações também. Caso, portanto, a economia brasileira seja capaz de agregar o que de melhor acontece e se processa no mundo, assumindo as suas empresas uma nova conformação, é razoável que o Direito Societário também avance, em suas bases e em suas práticas. É este conjunto de mudanças que permite sugerir que estamos assistindo a constituição do Direito Societário 2.0. Da modelagem familiar ao modelo contemporâneo, caracterizado por uma intensa e múltipla produção normativa de matriz regulatória, contemplando melhoria do ambiente negocial e a implantação de práticas que privilegiam a governança corporativa, o compliance e o respeito ao capital disperso, com ênfase no papel desempenhado por instituições como a CVM, a PREVIC, a SUSEP e a Câmara do Mercado. Aliás, é corrente falar-se na nova economia digital ou em economia 4.0. Pela expressão, quer se referir a fenômenos como a internet das coisas, o blockchain, o mundo dos aplicativos e o universo das startups. O Direito Societário é parte de tudo isso como instrumento jurídico de tradução dos fenômenos econômicos e financeiros. Não é apartado do mundo em que está inserido. Alguns poderiam dizer que somente se consubstanciaria um Direito Societário mais arrojado quando houver menos controladores e mais capital disperso. Quando mais de 0,5% da população brasileira estiver na bolsa (ao passo que, nos Estados Unidos, o número se aproxima ao 65 %). Quando as Assembleias Gerais forem transmitidas ao vivo e online, com efetiva possibilidade de participação presencial ou virtual dos investidores, pessoalmente ou por representantes outorgados, sem burocracias extenuantes. Tal linha de pensamento, contudo, não o aproximaria, o afastaria. Fato é que as grandes questões da sociedade empresária já não são mais resolvidas aos domingos, nos almoços ao entorno do patriarca fundador. A gestão, a estratégia e os resultados são do interesse do público investidor. Formidável, neste aspecto, o papel desenvolvido pelas redes sociais. Elas recriam a figura do acionista e lhes dão conhecimento, articulação e poder para garantir avanços. O que os americanos chamam de ativismo societário já se processa entre nós. Esta, aliás, a principal faceta do Direito Societário 2.0: a ampliação da participação, incluindo-se um maior número de atores e de mecanismos, como o voto à distância, as demandas arbitrais dos minoritários e o ativismo dos acionistas junto aos órgãos da empresa e os de regulação. Onde está o dinheiro? Ofertas públicas, private equity e crowdfunding O agir empreendedor comporta, muitas vezes, um elemento de transformação. Produtos, bens e serviços são gerados a partir de certos insumos. Este processo gera custos que precisam ser suportados. Só é possível construir uma estrada se houver equipamentos,mão de obra e concreto. E, ao empresário–investidor, caberá garantir, por seus esforços, a disponibilidade de tais recursos. A tomada de valores no sistema financeiro, notadamente em períodos de inflação expressiva e de juros distorcidos, poderia ser apresentada como uma das principais causas de insucesso empresarial. Ao lado desses fatores, convivem outras razões, geralmente relacionadas à própria gestão. O tema, portanto, é do maior interesse aos prestadores de serviços diversos – jurídico, contábil, de auditoria, de gestão – que circundam as empresas. Trata-se, em verdade, de um daqueles assuntos que dizem respeito a todos: é na empresa que se gera receita para os cofres públicos. Somente por meio da atividade econômica e mediante o emprego e a aferição de políticas públicas adequadas, é que se pode realizar qualquer movimento de justiça social. As ocupações remuneradas, aliás, são a maior e mais perfeita máquina de inclusão e de viabilização de acesso às situações de bem-estar social para a maior parte da população. Numa economia estabilizada e na qual os juros remuneram apenas o efetivo custo do dinheiro, ausentes, assim, discrepâncias de ordem macroeconômica, a capitalização das empresas se dá preponderantemente pela captação da economia popular. Tal mecanismo enseja que a renda acumulada gere mais dinheiro, empregos e oportunidades. Recursos não acabam estacionados no mercado financeiro, a espera de juros generosos, mas se convertem em prosperidade econômica em benefício do conjunto da sociedade. As Ofertas Públicas de Ação (conhecidas como OPA) são o mecanismo mais conhecido de captação de recursos do público e de investimento nas empresas de capital aberto. Por elas, a empresa emissora abre seu capital e o distribui em parcelas (ações). Qualquer pessoa do povo pode, desta forma, ser acionista de uma empresa, grande ou pequena. O Brasil, em 2019, segundo anuncia a imprensa, tem chance de realizar OPAs em ordem superior a 35 bilhões de reais, valor que não se compara aos patamares alcançados no ano anterior. Para um exemplo simples, no imaginário de um cidadão americano, a correspondente IPO (Initial Public Offering) é cercada de festa e de circunstância. É comum crianças receberem stocks (ações) de presente já no nascimento ou em outras comemorações. Poupa-se e se investe por meio de ações para garantir os gastos com a formação futura. Empregados tem entre os benefícios oferecidos pela empresa programas de recebimento de ações (stock option). Este fenômeno cultural reconhece no poder transformador da empresa um dos mais significativos caminhos para o desenvolvimento social. Para além das OPAs que ocorrem em momentos mais ou menos restritos da vida de uma empresa, pessoas e instituições podem se reunir na formação de fundos. Esses agrupamentos de caráter econômico, são geridos por pessoal especializado, que discerne entre empresas que apresentem potencial de crescimento. Trata-se dos private equity. Eles adquirem parcela de negócios já em curso, atuando para melhorar sua performance, qualificar sua gestão e fomentar resultados. A intenção, desde sempre, é o lucro com a comercialização valorizada do quinhão anteriormente adquirido. Os fundos de private equity são assim, uma excelente oportunidade: para a empresa, porquanto significam a chegada de recursos novos que serão usados em áreas estratégicas de manutenção de sua operação e de inovação, além do aporte de conhecimento e expertise; para os investidores, porque a baixo custo e a risco selecionado, podem obter resultados muito acima da média permitida pelo mercado financeiro. O cenário da capitalização das empresas, seja por Ofertas Públicas, seja pelo private equity não se completaria sem que mencionassem os Fundos de Pensão. Por eles, certos segmentos do setor público e do setor privado, em cooperação com um patrocinador, juntam recursos durante períodos estendidos de tempo para, enfim, prover a aposentadoria dos seus beneficiários. Os Fundos de Pensão já desenvolvem um papel importantíssimo na economia brasileira. Em regra, possuem fôlego para aguardar que seus investimentos amadureçam com o fruir do tempo. Tal disposição é especialmente importante para certos empreendimentos que demandam prazo mais amplo para retorno, como concessões de serviços públicos e outras obras estruturais, muitas vezes ligadas à infraestrutura. Daí se vê a relevância de tais Fundos. Há, assim, uma dimensão pública significativa em cada Fundo de Pensão. Ainda que seu escopo principal seja prover a aposentadoria futura de seus beneficiados, o próprio perfil de seus investimentos sugere apetite a investimentos que se alonguem no tempo e que são especialmente caros à sociedade. Há, ainda, hipótese de capitalização das iniciativas empreendedoras via os chamados “contratos de investimento coletivo” (CIC). Trata-se de modalidade na qual, por uma chamada pública, investidores são convidados a agregar-se a determinado projeto por meio do aporte de valores, aguardando dele obter retornos ou remuneração. A CVM, por muitos de seus julgados, tem se pronunciado no sentido de que, mais que a denominação jurídica emprestada à determinada atividade, prepondera a conformação fática dele. Significa dizer que, eventualmente, um anúncio despretensioso, uma oferta por meio de um canal ou rede social, pode vir a se caracterizada como “oferta pública”, sobretudo se agregar a promessa de remuneração posterior por meio de investimento prévio a determinado empreendedor. Uma vez caracterizada, ela estará submetida a todas as normas correspondentes as quais, caso descumpridas, ensejam sanções. Há normas a se observar para o registro prévio deste financiamento e para a realização dos procedimentos posteriores. Assim, mesmo que se supondo o agir em boa-fé, prepondera a conformação fática e a diretriz de proteção ao investidor. As sanções são graves e atingem a empresa, o empresário e a eventuais gestores. É preciso ter cuidado e devido assessoramento, portanto. Entre as tantas que ainda se poderiam mencionar, a mais recente forma de capitalização da atividade empreendedora é o crowdfunding. Certamente também é uma hipótese de financiamento coletivo, muito próximo ao que se convencionou chamar popularmente de “vaquinha”. Há, contudo, especificidades. A captação de recursos do público também se dá por um chamamento – uma oferta pública. Os investidores também recebem equitys, o que significa que seu aporte se converterá em valores mobiliários que deverão retornar, ao tempo e ao modo estabelecido, quando do resultado daquele investimento. Ao contrário do private equity, contudo, não há transferência de gerência ou de administração do negócio. E, diversamente ao contrato de investimento coletivo e do próprio private equity, os valores para aplicação, por pessoas físicas, são bastante reduzidos. Outra distinção do crowdfunding e das outras formas já mencionadas de capitalização das empresas refere-se ao registro prévio junto à CVM: obrigatório para as demais, dispensado, nos termos da Instrução CVM n. 588, para esta espécie. É que as aplicações por esta modalidade se darão por meio de plataformas eletrônicas – em maio de 2019 são apenas 19 – exclusivas para os produtos que lá estejam dispostos. Faz-se, assim um filtro prévio ao se credenciar a plataforma, não, especificamente, os investimentos específicos. A Bolsa é, enfim, um Balcão de ativos. O mercado secundário é aquele no qual as empresas têm comercializadas suas ações e outros papeis – como as Debêntures – para obter financiamento. O que se vê é que a atividade empreendedora é, tradicionalmente, de transformação de insumos em bens, produtos e serviços. Transformar é, assim, o chamado natural da empresa. Uma virada na forma de seu financiamento pode significar, igualmente, uma das mais importantes transformações da sociedade brasileira. Ao diminuir sua dependência do sistema bancário, melhora sua performance geral e se evitam os juros altos. Em não se valendo de recursos públicos, via bancos de fomento como o BancoNacional de Desenvolvimento Nacional (BNDES), inibe-se um capitalismo “entre amigos”, no qual a legítima competição cede lugar aos arranjos por interesses políticos ou de corrupção, como seu viu recentemente. Buscar dinheiro no mercado é legítimo. E necessário. E é empreendedor. Quando uma empresa se torna financiada pelo público ela deve adotar práticas de conformidade e de acompanhamento. A governança deixa de ser uma opção e passa a ser uma regra objetiva a ser fiscalizada pela CVM, pela própria Bolsa e por outros órgãos, uma vez que alcançada a economia popular. O ativismo societário coopera com a governança. Na medida em que acionistas participam das Assembleias Gerais e monitoram, pessoalmente ou por representantes, o desempenho da empresa, contribuem com a saúde da organização e com a garantia de seus resultados. Onde está o dinheiro? Está à disposição de quem queira empreender. Juros muito baixos no Brasil e negativos no exterior, além de muitos outros fatores, determinam que há recursos para investimentos no mercado. Basta saber alocá-los ao seu negócio. Fundos de Pensão Ativos para a economia Somos cerca de 240 milhões de brasileiros. Apenas algo em torno de 10% deste universo estão cobertos, total ou parcialmente, por alguma forma de Previdência, que não seja a pública. Alguns, nos últimos anos, adquiriam produtos de previdência junto a bancos e outras instituições financeiras. Mas, um número ainda menor, é detentor do que se pode chamar, realmente, de Previdência Complementar. Assim, antes que se avance, é primeiro criar esta legenda. Na Previdência Complementar deve-se distinguir entre Fundos Fechados e Produtos abertos. Os Fundos fechados de Previdência são compostos por esforços comuns de um instituidor (órgão público ou privado) e de contribuintes (empregados ou vinculados àquela entidade) que, no futuro, serão beneficiários dos resultados desse Fundo. Não se confundem com os Fundos abertos – produtos financeiros que podem ser adquiridos no mercado e que consistem em aplicações geridas por terceiros com o aporte exclusivo do próprio investidor. Esses fundos são conhecidos como previdência privada e recebem, eventualmente, alguma isenção de impostos, mas, nada mais. De toda a sorte, os dados revelam que, em verdade, a grande maioria dos brasileiros detém a expectativa que o Estado irá garantir sua subsistência quando não for mais possível persistir no mercado de trabalho. Ou, por outra via, quando simplesmente achar que não deve mais trabalhar, seja por transcurso da idade ou do tempo de serviço. Aposta-se, portanto, que o sistema previdenciário público conseguirá subsidiar a vida de tantos milhões de aposentados e também daqueles afastados, a qualquer título, da força de trabalho ativa. E o fazemos contra a estatística, afrontando cálculos atuariais simples e agredindo fenômenos culturais. Há menos crianças e, portanto, menos jovens. A medicina e as condições de saneamento, felizmente, melhoraram. Vivemos e viveremos mais. Seremos uma sociedade de avôs. São fatos. Poupar, prevenir-se e investir são verbos ainda poucos usados. O fossem, o mercado de crédito para o consumo imediato não seria a mina de ouro dos bancos de varejo. Empréstimos sob consignação, limites de cartão de crédito e o famoso cheque especial são os combustíveis da pronta entrega da satisfação instantânea. Vive-se o presente, espera-se o futuro. Em ambas as perspectivas – viver o presente e esperar o futuro – os Fundos de Pensão mostram-se como uma força admirável, que não pode seguir sendo desprezada. Eles estão no presente. Mesmo com tão poucos investindo, possuem uma enorme força na economia. Bastaria consultar a composição das grandes empresas de capital aberto brasileiras para constatar esta pujança. Significativa parte do capital pulverizado está em mãos de Fundos de Pensão. O que importa dizer que eles, em verdade, são acionistas minoritários das maiores empresas do Brasil. Há outra dimensão importante na natureza dos investimentos realizados pelos Fundos de Pensão. A meta principal é gerar receita para sustentar as futuras aposentadorias de seus beneficiados. Em regra, isso pode demorar vinte ou trinta anos. Assim, há menos ansiedade por resultados imediatos. Processa-se, desta forma, em sentido diverso ao de um private equity que busca retornos em espaço de tempo mais curto e no qual o desinvestimento é aguardado e faz parte da própria lógica do negócio. São os Fundos de Pensão, portanto, os grandes vocacionados a investimentos que precisem se lançar no tempo e dizem, muitas vezes, com obras de infraestrutura. Essas intervenções – seria dispensável dizer –, são as que um país em desenvolvimento como o Brasil mais demanda. Obras de infraestrutura comumente empregam muitos trabalhadores. Pense-se, por exemplo, em tudo que diz respeito ao saneamento básico. O aporte de recursos oriundos de Fundos é capaz de, em um primeiro instante, financiar estes grandes e dispendiosos investimentos. E, numa segunda fase, colocar à disposição do público, melhorias que qualificam a logística de transportes, as condições de comercialização e de competitividade comercial, beneficiando, em um círculo virtuoso, a toda a economia. Assim, é fácil entender a razão de eles exercerem um papel decisivo não só no futuro das pessoas, mas no seu presente. Os Fundos de Pensão preparam o futuro. Inexoravelmente eles tendem a crescer no Brasil: após as necessárias reformas ou pelo simples colapso do sistema previdenciário. É, portanto, razoável antever que sua expressão na economia brasileira será mais significativa nos próximos anos. Em perspectiva de futuro, os Fundos de Pensão precisarão ser blindados contra o seu próprio sucesso. Como previdência complementar, o patrocinador é a empresa ou a instituição a qual se vincula determinado grupo de pessoas. Ele faz aportes no Fundo e pode, igualmente, opinar sobre sua gestão. Em um exemplo, o PREVI, dos Funcionários do Banco do Brasil, tem como patrocinador, com assento para decisões, a União Federal. No contexto da Operação Lava-Jato, logo após o protagonismo das empresas estatais, são os Fundos de Pensão os principais alvos de ações policiais e de processos criminais. E o são justamente porque, em algum momento de sua história recente, confundiram-se os legítimos interesses dos beneficiários com outros, menos nobres, dos representantes dos patrocinadores, muitas vezes indicados por critérios não técnicos e de feição político-partidária. A distância que se estabelece entre o tempo do investimento e o do resgate facilita a que se promova toda a sorte de má gestão. Desde o investimento em moedas podres, até o tão simples desvio de recursos que são coletivos. Mas, há um problema ainda maior que o tempo: a distância. Muitas pessoas investem por anos no seu Fundo de Pensão. O fazem com exercício de contenção e por esforço de renúncia de satisfações imediatas. Mas mantém-se, eventualmente, muito distantes do que acontece na gestão daquele Fundo. A distância dos beneficiários, pode-se dizer, é o a maior risco para a saúde do investimento realizado. Mesmo nos países nos quais eventos de corrupção sejam mais raros (ou mais punidos), revela-se como mais bem- sucedido o Fundo que conta com maior adesão, participação e monitoramento dos seus integrantes. Hoje, inclusive, há empresas especializadas em acompanhar a desenvoltura dos Fundos, de seus investimentos e o comportamento de seus gestores. Não me refiro às Auditorias, mas as empresas realmente independentes que orientam posicionamentos e recolhem procurações para representar investidores. O tempo e a distância fazem com que, enfim, viva-se o presente, e apenas se espere o futuro. Parece ser possível, contudo, antever uma grande mudança nos próximos anos. É que ficará mais evidente a dependência da aposentadoria complementar. Assim, o que se antecipa é o reforço das regras de governança corporativa. Não só internamente, mas, também, de dentro para fora. A PREVIC – Autarquia Federal atualmente responsávelpela supervisão deste mercado – criou regras específicas para que pessoas se qualifiquem como candidatas ao exercício da gestão. É o reforço da Governança Corporativa interna. E os participantes dos Fundos deverão monitorar estes processos seletivos, para seu próprio bem-estar futuro. Mas, externamente, talvez, resida uma dimensão de igual importância. Os Fundos de Pensão brasileiros não perderam valor nos últimos anos apenas em razão dos prejuízos e eventos danosos internos. Foram igualmente prejudicadas com eventos externos, por sua condição de acionistas minoritários de grandes companhias que também não observaram regras de governança. Este quadro – de prejuízos com investimento acionários em companhias de capital aberto – atinge a praticamente todos os Fundos de Pensão Brasileiros. E ainda perduram, merecendo providências para reparação. O que se espera é que os futuros beneficiários, ao contrário da distância e da indiferença com o que assistiram tais danos serem perpetrados, atuem decisivamente para evitá-los (via CVM, B3 e PREVIC) e para repará-los (mediante Câmara de Arbitragem do Mercado). A presença dos participantes em Assembleias, o exercício ativo do voto, o acompanhamento por si ou por escritórios especializados dos atos de gestão poderão significar que passamos a viver o presente, não apenas esperando pelo futuro, mas, definitivamente, o garantindo. Startup Style: a mudança na organização das empresas Lembro de um colega que sempre desconfiou. Desconfiava de tudo e de todos. Desconfiava quando podia confiar e desconfiava ainda mais quando, de fato, não tinha fundamentos para acreditar. Era lógico, portanto, que ele não confiasse em internet banking quando estes sistemas ainda eram uma grande novidade. Anotava em caderninhos, quase que diariamente, seus saldos bancários e de investimentos (por investimentos, leia-se, por óbvio, a boa e velha poupança). Não fizera cadastro no banco digital e jamais descera qualquer aplicativo e, por isso, sentia-se seguro. Hackers, vírus e fraudes eletrônicas não o alcançariam. Ocorre que – belo dia –, foi ao banco conferir saldos. E, para sua surpresa, constatou saques: na Bahia. Gaúcho, não havia saído do Rio Grande do Sul naqueles últimos meses. O banco demorou algumas semanas para validar a clonagem de seu cartão e assumir a própria responsabilidade, recompondo os valores subtraídos. Mas, restou a lição que o fato de ignorar a tecnologia não o livrou de seus problemas ou de suas vantagens. Afinal, o banco acabou por reconhecer que seus registros eletrônicos de consumo em Porto Alegre eram incompatíveis com aqueles ocorridos simultaneamente em Salvador. Algo muito próximo parece acontecer com o modelo de negócios e de organização empresarial advindo das startups. Muitas empresas de perfil tradicional querem desconhecê-lo ou enclausurá-lo a um setor da economia. “Isso é coisa de nerds e do pessoal da TI (tecnologia da informação)” podem dizer alguns. Mas não é. Nos alcança a todos. O esquema startup já chegou até nós massiva e indistintamente pelos transportes (Uber, Cabify), na alimentação (Rappi, Ifood) e mesmo no setor financeiro (Nubank, Inter). O modelo de organização destes negócios, é, em alguma medida, tão inevitável quanto o uso do internet banking. E, queiramos ou não, sofreremos seus efeitos. As startups são, essencialmente, abertas ao desafio de inovar e de fazê-lo de forma disruptiva. Rompem, portanto, com fluxos mais ou menos esperados de desenvolvimento de produtos e de serviços. Ignoram as lógicas até então definidas pela prática ou pelas escolas acadêmicas. Agem, geralmente, sem medo ou pudor. E, como, em alguma dose, inovação rima com transgressão, sempre possuem um componente um tanto quanto rebelde. Ao menos quando comparando-se com os padrões negociais e com a normas que possuem uma inspiração normativa, bastante antiga como o Código Civil. Há muito sendo escrito sobre as startups. E também sobre a influência delas na sociedade. Mas, no limite do presente texto, quer se ressaltar que a nova empresa e, portanto, o Societário 2.0, não poderá desconhecer deste movimento. Primeiro, queiramos ou não, inovar parece obrigatório para quem queira subsistir no mercado. A identificação de formas mais práticas, baratas e funcionais de prestar serviços, fornecer bens, além de produtos, é o grande motor das startups. Note-se, assim, a contemporaneidade da atuação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A iniciativa da Instrução CVM n. 588/17, de fomento do crowdfunding espelha bastante esta direção. Trata-se de captar, na economia popular, recursos para viabilizar e ampliar pequenas startups. Convém ressaltar que, por exceção, estes investimentos não precisam estar previamente cadastrados junto à CVM, desde que operados pelas plataformas que se submeteram a este crivo. O valor de captação, para segurança dos investidores, também é limitado. Em um segundo ponto, há que se olhar para o DNA das startups. Se o resultado é inovação, o processo é o de simplificação. As estruturas se mostram mais enxutas e dinâmicas. Do ponto de vista da governança, as decisões são tomadas, em regra, de forma mais rápida, garantindo atualidade das novas posições negociais. Um outro aspecto convém ser ressaltado. De uma maneira bastante ampla, as startups possuem uma vocação para o mundo. Internacionalizar-se é quase um chamado natural. E há acerto nesta perspectiva, quando se vê que o gigante chinês, por exemplo, não possui limites territoriais para o seu mercado. Queira-se ou não o mercado e a concorrência já são mesmo globais. Sem dúvida, as startups, mesmo as que chegaram à categoria de unicórnios, são ainda muito novas. Há muito a se testar e a se provar. Mas, também, a aprender com elas. Apetite para inovação, tolerância ao risco, além de capacidade de simplificar processos e adotar mecanismos adequados de governança são algumas das lições. Não será suficiente evitá- las e ignorá-las para que desapareçam ou para que não engulam as estruturas tradicionais. Elas estão mudando tudo. O modelo tradicional das empresas também está sendo afetado. E isso a interessa a todos. Confiança e reputação em tempos de Uber A confiança é a base de todos os negócios jurídicos e da própria economia. Desde o início da nossa vida, confiar e merecer a confiança é uma das questões mais importantes dos relacionamentos. Pode ser fácil confiar em que está perto e em quem conhecemos. Mesmo assim, há necessidade de que as transações e os compromissos assumidos sejam registrados. Na realidade do dia a dia, contudo, somos obrigados a confiar em pessoas com as quais estamos tendo o primeiro e – talvez – o único contato em toda a nossa existência. Para viabilizar este tráfego de confiança, além de normas legais que protegem a legítima expectativa da parte adversa e contemplam deveres não pretendidos diretamente pelas partes, mas decorrentes da boa-fé que deve permear os negócios, existem terceiros que asseguram a confiança. Se João vai comprar uma casa de Maria, é preciso confiar que, de fato, a casa pertence ao vendedor. E que, sobre ela, não incidam gravames ou outras situações que comprometam a disponibilidade desta propriedade. O tabelião e o cartório de imóveis são os terceiros que cumprem este papel de constituição da confiança: garantem a cadeia de propriedade e atestam a inexistência de restrições sobre o patrimônio do vendedor que poderiam tornar impossível a transmissão pretendida. A sociedade está organizada de forma a que um terceiro – detentor de certos registros e de algumas informações – ateste para um interessado que ele pode ter confiança em determinado fato, permitindo que o fluxo negocial siga seu destino. A posse e a conservação destes registros são vitais para a sociedade e para o mundo dos negócios. No exemplo do cartório, nota-se que eles costumam estar armazenados num local centralizado, sob guarda de uma única instituição; não são acessíveis a todo o tempo e podem, eventualmente, sofrer fraudes e incorreções. Mas são a elesque recorrem os que transacionam a fim de que sejam certificados fatos, como, inclusive, a propriedade de um bem imóvel (registro imobiliário). Depender permanentemente de um terceiro para atribuir confiança enseja processos morosos e burocráticos. O fato de certas informações serem centralizadas e de a confiança advir de um único ente – o cartório de registro de imóveis, para persistir no mesmo exemplo – o encarece. O custo de transações sobe e a eficiência diminui. Ampliar e garantir a confiança é fundamental para o desenvolvimento econômico. A confiança equivale para a relação entre particulares à estabilidade político-econômica de um país. A tecnologia blockchain, com acerto, já foi chamada de a “máquina da confiança”. Com efeito, ela permite que a confiança se disperse por toda a rede, de forma descentralizada, sem dono ou tutor, por parâmetros de registros imutáveis e a baixo custo, acelerando trocas e negócios em escala global. Este texto não é um relato de tecnologia. É só uma ligeira descrição do seu impacto em nossas vidas e em nossos negócios. Mesmo assim, pede-se licença para uma rápida nota de rodapé técnica. Alguém poderia indagar que não confia em criptomoedas e, logo, não pode se fiar do Blockchain. É corrente a confusão entre a ferramenta para registros (blockchain) e um de seus empregos (as criptomoedas). O Blockchain é como um enorme livro aberto, de acesso amplo, formado por uma sequência de blocos, gerando uma cadeia de dados. Cada bloco novo repete as informações dos blocos anteriores. São milhares de blocos encadeados com registro (hash) que, para sofrerem fraude, exigiriam o desmanche de toda a sequência, deixando vestígios evidentes. Os blocos, contudo, são permanentemente auditados pelos próprios usuários, numa atividade conhecida como “mineração” que os valida. O registro, portanto, de um crédito, de um negócio, de um empréstimo, de uma transação é imutável e público. Nenhum terceiro à relação precisa atestar ou certificar aquele fato. É que a convergência do blockchain, com códigos programados de certas funções (contratos inteligentes) e a internet das coisas (sistemas que permitam a “comunicação” entre aparelhos e a observância de determinados códigos previamente programados) são uma das mais formidáveis expressões do que se convencionou chamar pelo nome de “Nova Economia Digital”. A “Nova Economia Digital” só foi possível pela massificação dos meios de comunicação e das redes de informação. Seu efeito é a ampliação dos novos mecanismos de confiança, que reforçam a partilha e o compartilhamento de bens entre desconhecidos. Assim, as pessoas usam o aplicativo instalado no celular, para convocar carros que serão compartilhados com outras dezenas de pessoas por dia (uber), confiando-se a um desconhecido a responsabilidade por conduzir sua família a determinado destino. Curiosamente, o destino também pode ser um endereço compartilhado (airbnb) e o anfitrião, jamais visto ou conhecido, foi eleito por um ranking elaborado por hóspedes anteriores, igualmente ilustres desconhecidos. Há confiança, desta forma, sem se confiar em alguém, a não ser num sistema de reputação e de compartilhamento. No mercado de capitais, substancialmente, também se confia em desconhecidos. Ainda que não se confundam com os casos de economia compartilhada, também opera um sistema fiduciário que se funda em balanços, pareceres e outros instrumentos emitidos por terceiros. Há, sempre e necessariamente, uma delegação de poderes: confia-se, por exemplo, num administrador eleito por um Conselho. Confiar é fundamental para fazer negócios. Blockchain e sistemas de reputação tornam mais possível confiar em estranhos. E, portanto, aceleram as oportunidades de novos e criativos arranjos negociais. Terrorismo e sua conta do Paypal Entrou em vigor, no dia 06.06.19, a Lei n. 13.810, de 08.03.19. Seu escopo principal é estabelecer que o Brasil terá como plenamente eficaz e sujeitas à imediato cumprimento em território nacional, as disposições emanadas pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CSNU) e por seus Comitês. Em meio a grampos ilegais, debates políticos sobre reformas estruturais e outros enredos da política e da economia brasileiras, a lei passou completamente desapercebida. De fato, deliberações relacionadas à ONU costumam, quando muito, interessar a um grupo relativamente restrito de interessados em questões de geopolítica internacional. Afinal, no que as empresas poderão, em seu cotidiano, ser afetadas por deliberações do Conselho de Segurança da ONU ? O que o seu PayPal tem com isso ? A norma em comento articula-se fortemente com a Lei n. 9.613, de 1998, que definiu crimes e certos procedimentos relacionados às condutas ilícitas por lavagem de dinheiro ou branqueamento de capitais. Aquele texto definia como responsáveis por informar e mesmo bloquear ativos a praticamente todas as empresas do país. Se um único inciso pudesse representar as 18 hipóteses de pessoas – físicas e jurídicas – diretamente consideradas responsáveis pelas obrigações de vigilância e de comunicação, seria o de número IV do art. 9º da Lei n. 9.613/98, elencando empresas que se utilizem de cartão ou qualquer outro meio eletrônico, magnético ou equivalente, que permita a transferência de fundos. O exemplo revela que, praticamente todos os setores da economia, receberam obrigações e responsabilidades relacionadas à lavagem de dinheiro. A nova norma, contudo, agrava a anterior, na medida na qual traz para o rol já amplo de obrigações e responsabilidades, o cumprimento não só de medidas do Plenário do Conselho de Segurança da ONU, mas, igualmente de seus órgãos fracionários, os Comitês. Pode-se dizer, portanto, que às empresas, aos Diretores, aos Membros de Conselhos, entre tantos outros, recai agora a obrigação legal de bloquear ativos que possam estar, por exemplo, de alguma maneira ligados ao financiamento de ações e movimentos terroristas em qualquer canto do globo. O Brasil adotou, assim, a política de intolerância ao “menor risco”. Em havendo mínima suspeita, a orientação da legislação brasileira é de, imediatamente, indisponibilizar os valores em questão. Renova-se ainda, um “dever geral” de monitorar pagamentos e transações econômicas que possam ser consideradas suspeitas. Entre as sanções previstas para os que descuidem destes encargos, agora fiscalizados por órgãos específicos da Administração Pública, consta a inabilitação para o exercício da atividade de administrador de pessoa jurídica pelo prazo de até 10 anos. As multas podem chegar ao dobro do valor da operação viciada ou – o que pode ser ainda pior –, ao dobro do lucro real auferido pelo infrator. Casos extremos podem levar até mesmo à cassação ou suspensão da autorização para o exercício de atividade, operação ou funcionamento da empresa. Parece importante, desta forma, frisar o espírito destas obrigações: há uma distribuição de responsabilidades por todo o meio empresarial. Os órgãos públicos de monitoramento e de fiscalização passaram a dedicar sua atenção precípua às empresas, multiplicando a sua força de acompanhamento do mercado. Contam, assim, que cada empresa, na sua órbita de atuação, seja um comunicante de atos suspeitos e, ao mesmo tempo, tenha a primeira e mais imediata reação a eles. O principal ponto a ser ressaltado diz com a obrigação de que, também quanto a este novo aspecto, as empresas criem políticas, procedimentos e controles internos que coíbam, previnam ou alertem, no interior da própria organização, para condutas ilícitas. A regra é respaldada pela Instrução Normativa n. 301 da Comissão de Valores Mobiliários. É urgente, portanto, que as empresas se adequem, sob pena inclusive de exporem seus Diretores e Membros de Conselhos a situações de constrangimento. O Decreto n. 9.825, de 05.06.19, regulamentou a matéria que se encontra, assim, em pleno vigor. A exigir mais das empresas. E a se ter cuidado de quem recebe e do que se recebe, inclusive pelo inofensivo PayPal. Ativismo societário:Você ainda vai fazer parte Guhan Subramanian. Talvez você nunca tenha ouvido falar dele. Mas ele foi a primeira pessoa na história a conseguir um feito: ser admitido como docente, simultaneamente, em duas das escolas mais prestigiosas da Universidade de Harvard: a de Direito (HLS) e a de Administração (HBS). Ele também é um dos grandes nomes mundiais, atualmente, sobre o tema do “ativismo societário” (Shareholder Activism). E, se você tem ações, investe no mercado de capitais ou possui expectativa de receber benefícios oriundos de algum Fundo de Pensão, este assunto lhe interessa e muito. A própria expressão “ativismo societário” precisa ser bem compreendida. Ela, no contexto dos Estados Unidos, quer se reportar a uma especial disposição dos investidores, notadamente em companhias abertas ou Fundos de Pensão, para o interesse, a articulação e o movimento em relação à determinadas atitudes das companhias. Trata-se, sobretudo, de uma supervisão ativa que os investidores exercem quanto à observância de normas de governança corporativa. Sabe-se da enorme assimetria de informações que separam o controlador do acionista minoritário. Ainda que o último deposite suas economias na empresa – por meio de investimentos diversos –, não exerce sobre ela qualquer domínio e nem sobre os atos de seus administradores. O ativismo, portanto, reequilibraria estas forças, pela presença de representantes dos minoritários nas assembleias, nos Conselhos e até mesmo na Administração das Empresas. Eles exercem um monitoramento atento ao que se passa na companhia por meio de análise de balanços, fatos relevantes e resultados. Não é uma postura de observação, mas de ação. Com efeito, no 2018 Review of Shareholder Activism, publicado pela Harvard Law School Forum on Corporate Governance and Financial Regulation, nota-se que se trata de uma verdadeira indústria com força e impacto crescente sobre as empresas americanas. O número de companhias que foram atingidas, em 2018, por movimentos do ativismo chega a 226 e os montantes envolvidos a 65 bilhões de dólares. Por primeiro, é preciso lembrar que, naquele país, as empresas de capital aberto são conhecidas como “companhias públicas”. Elas, enfim, captam a economia popular e, portanto, precisam corresponder, em termos de transparência e de boa gestão, à confiança da população. Um segundo fato a se ressaltar é que também naquele mesmo exemplo, cerca de 65% da população é investidora na Bolsa. No Brasil, este número alcançou recentemente o seu recorde, aproximando-se a cerca de 1.000.000 (um milhão) de pessoas físicas. Tal representa apenas 0,5% do universo de brasileiros. A grandeza, portanto, da Bolsa de Valores como opção de investimento é enorme na América. Em verdade, uma verdadeira indústria se organiza em prol dos acionistas minoritários e de sua influência na administração das empresas. Uma figura pouco conhecida e que possui um papel bastante importante é das Proxy Advisory Firms. Não são firmas de auditoria e nem de advocacia. Constituem-se em empresas especializadas em orientar os acionistas em tomadas de posição sobre as companhias, orientando votos, indicando representantes para a Assembleia e mesmo para os Conselhos de Administração. Seu papel é, desta forma, acompanhar detidamente o desempenho e a performance das organizações. Um papel preponderante é exercido pelos próprios acionistas. Eles atuam em prol da coletividade e da regularidade do mercado, denunciando práticas ilícitas, recolhendo procurações e representando a “grande maioria dos minoritários” e de seus interesses. Não se trata, claro, de trabalho gratuito. Aliá, qualquer pessoa, cumprido certos requisitos, pode passar a representar coletividades de acionistas. Mas ele é, certamente, meritório, porquanto ainda que cuide de seus próprios interesses gera benefícios a todo o mercado, atribuindo a ele mais transparência, equidade e justiça. Um detalhe importante é que o minoritário nem sempre – ou no mais das vezes – é uma pessoa física. Fundos de Pensão poderosos, grandes fundos de investimento e corretoras costumam diversificar seu patrimônio. Detendo várias fatias de empresas, nelas serão minoritárias e, portanto, capazes de exercer o ativismo. É exatamente este tipo de ativismo que o Relatório de Harvard revela quando se refere ao Brasil no ano de 2018. Os casos, apontam a “campanhas” processadas em relação à Stone, à Oi e à Petrobras. Não se poderia deixar de comentar anteriormente o que ocorreu com o Grupo Saraiva e, em seguida, as arbitragens iniciadas em relação à Companhia Vale. Os valores, por óbvios, são vultosos na ordem dos bilhões de dólares. Em termos de ativismo societário no Brasil, um caso que merece ser examinado separadamente é o que se funda no artigo 246 da Lei das Sociedades por ação (Lei n.6.404/76). Tramita atualmente no Rio de Janeiro uma ação judicial na qual um único acionista – por ter tomado a iniciativa – se habilita a receber muitos milhões da Companhia Braskem. Algo parecido, já se anunciou igualmente tendo como demandada a CCR Rodovias. No Brasil, contudo, o termo “ativismo” é um pouco contaminado. Ele parece apontar para algo exagerado ou além da medida. Costuma-se empregar com uma conotação vinculada a atividades político-partidárias de caráter de movimento social (sem terra, sem teto, estudantes...). Ou, por outro viés, refere-se a uma tendência judicial que se entende capaz de constituir normas para situações concretas (não apenas interpretá-las ou aplicá-las) e que tem sido objeto de frequente crítica por agravar a insegurança jurídica. Nenhuma destas acepções, contudo, é justa quando se anexa o vocábulo “societário”. Vimos, perplexos e sonolentos, o patrimônio de milhares de pessoas esfarelar-se em Companhias que eram regulares e supervisionadas pelos órgãos próprios do Estado. O nosso “ativismo societário”, desta forma, está muito longe de ser extremista. Mesmo assim, em terras tupiniquins, talvez fosse mais sonoro falarmos em “articulação societária”. Com o cenário econômico de juros baixos e de um novo modelo previdenciário em vista, somado a uma tração política de liberalização da economia e de privatizações, parece que o país ruma, enfim, ao capitalismo. Se tal se confirmar, precisaremos de pessoas e de instituições capazes de ativar os acionistas, retirando-os do marasmo que permitiram toda a sorte de abusos, danos e prejuízos aos investidores por décadas. Guhan Subramanian – o professor da Escola de Direito e da Escola de Negócios de Harvard – ensina que a governança corporativa ainda merece ser melhor definida. Mas, sem dúvida, ela passa pelo papel ativo dos acionistas. Ele fez mais: cruzou a ponte – às vezes tão distante e até inexistente – entre os interesses protegidos dos acionistas minoritários (direito) e as prerrogativas negociais dos controladores da companhia (negócio). Se bem sintonizados, ambos, melhoram performances, resultados e dividendos, inclusive para o conjunto da sociedade. O chamado “ativismo societário” ou, como preferirmos, a “articulação societária” é uma nova e instigante fonte de ação para garantir que o mercado seja mais regular e saudável para todos. Não há governança corporativa sem a participação ativa dos principais interessados. Você, talvez, não tenha ouvido ou lido nada do Prof. Subramanian e nem, tampouco, conhecido o ativismo. Mas, se vive num país de juros baixos, você ainda conhecerá a “articulação societária’. A recuperação dos prejuízos dos acionistas minoritários A Lei das Sociedades Anônimas, uma arrojada obra jurídica dos anos 70, reconhece e estabelece importantes distinções entre a figura dos acionistas controladores e dos acionistas minoritários. Propõe-se, assim, em consonância com as melhores tendências, a proteger o detentor de ações que não possua poder de controle. Não raro os interesses do controlador podem, materialmente, divergir aos do conjunto de acionistas ou mesmo da companhia. A ideia é simples: a captação da economia popular, por meio do mercado de ações, via sistema deBolsa, demanda cuidado e rigor. E proteção do investidor. Assim, a legislação estabelece uma série de mecanismos defensivos do acionista minoritário. Um exemplo mais recente desta tendência é prevista na Instrução n. 607, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), vigente desde 01.09.19. A norma, ao estabelecer o rito dos procedimentos para aplicação de sanção pela autarquia federal, fixou atenuantes que devem ser consideradas quando da aplicação de multas e outras sanções. Uma delas, a que nos parece mais importante, é a da reparação da infração. Até pouco, eventual condenação por dano causado por gestores ou controladores, redundava no estabelecimento de multa em benefício exclusivo da União. Os lesados – muitas vezes os minoritários – nem sempre eram devidamente compensados. Em boa hora, portanto, a reparação passou a figurar como uma das principais atenuantes no arbitramento de multas pela CVM. Os minoritários também podem adquirir melhores condições de expressão e representação na Companhia por meio da sua articulação em blocos. Os chamados blockholders são formados, justamente, por associações entre os acionistas de maior peso ou pela presença ativa de um único acionista. Em geral, a lei e a doutrina os classificam a partir da detenção de pelo 5% do valor das ações da Companhia. São fundos de pensão, fundos de hedge, fundações, instituições financeiras, famílias ou entes estatais. Manifestam- se pelo exercício da voz – declarações, protestos, ponderações em Assembleias – ou pela ameaça de saída. Sim, uma retirada de acionistas deste porte impacta mediatamente a confiança na empresa e imediatamente o seu valor de mercado. O que importa aqui ressaltar, contudo, é a distinção entre as espécies distintas de “minoritários” e, logo, aferir os distintos níveis de proteção que recebem da lei. É natural que grandes fundos de pensão, empresas de significativa expressão ou fundos de investimento sejam minoritários em outras Companhias. É, por exemplo, o caso recém anunciado, da Delta Airlines que será minoritária na composição acionária da LATAM. Mas, será uma minoritária, que já inicia na condição de blockholder. Mas, ao lado destes minoritários, há uma outra multidão. Tome-se o exemplo de Companhias como a Petrobrás e a Vale. Elas exerceram, durante anos, grande atração sobre os poupadores e investidores. Nos anos de 2003 e 2004 eram tidas e recomendadas como as blue chips, ou seja, as empresas nas quais qualquer investidor poderia confiar e apostar. Em relação à Vale, este nível de pretensa confiança chegou ao ponto de o próprio Governo incentivar a conversão de créditos no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) em ações. Não havia dúvida que, do ponto de vista da rentabilidade, o negócio era bastante recomendável. O que o exemplo denota é que, na prática, há grupos distintos de acionistas minoritários. Existem os acionistas institucionais (empresas, fundos...) e os blockholders (os que, sozinhos ou em grupo, detém pelo menos 5% do número de ações). Mas, há um terceiro tipo, composto por uma vastidão de investidores. Eles poderiam ser chamados de “micro minoritários”. Petrobras e Vale, para manter o exemplo, são apenas dois casos de companhias que possuem, juntas, atualmente, segundo dados da B 3 de setembro de 2019, quase 500 mil investidores que fizeram aportes na condição de pessoas físicas. O contingente não para de crescer: já são mais de um milhão e trezentos mil cidadãos brasileiros que investem na B3. Ainda que se qualifiquem tecnicamente no universo dos “minoritários” não podem, na prática, se valer dos direitos e garantias que a condição lhes asseguraria. Assim, os Fundos de Pensão e de Investimentos que tenham perdido parcela do valor investido em tais companhias em razão de corrupção ou de má-gestão podem – e devem – buscar ressarcimento junto à Câmara de Arbitragem do Mercado. Os minoritários, enfim, confiaram nestas empresas e foram lesados não por flutuações normais do mercado, mas por quebra objetiva dos deveres fiduciários de administradores escolhidos pelos Conselhos destas Companhias. Não é, contudo, o que se processa com os “micro minoritários”. Falta-lhes articulação, recursos e, sobretudo, informação quanto ao fato de que danos estranhos ao desempenho natural do mercado podem e devem ser ressarcidos. São milhares, portanto, os investidores que tiveram sua poupança captada pelo mercado acionário e que, de fato, não foram e nem estão protegidos. São justamente os mais frágeis. Trata-se de uma espiral contínua e sem fim, a qual, potencialmente, se inscreve entre as causas da ainda baixa adesão dos brasileiros ao mercado de capitais. Por força dos Estatutos Sociais de muitas empresas, a arbitragem é impositiva. E assim o deve ser dada a tecnicidade das questões e a necessidade de uma solução adequada em razoável prazo de tempo. Desta forma, ao contrário de experiências como a dos Estados Unidos, descabem ações na esfera judicial. Mas os custos de um processo arbitral, ainda são altos para aqueles que detenham uma pequena carteira de ações. Montante, contudo, que pode significar muito no patrimônio pessoal do investidor. Um novo design de solução de conflitos deve ser disponibilizado para atender a esta parcela significativa da população. Esses “micros minoritários” são os investidores anônimos que ousaram acreditar na Bolsa de Valores. Contiveram o próprio consumo e dirigiram suas economias à capitalização de empresas. Merecem, mais do que todos, resguardo e proteção. A solução passa por articulação e participação daqueles que chamei aqui de micro minoritários. Se isoladamente não conseguem a justiça própria do mercado, consubstanciada na Câmara de Arbitragem vinculada à B 3, em grupos, vinculados a um escritório, poderão fazê-lo com mais facilidade. A internet e as redes sociais, talvez, permitam a democratização dos meios de reparação. Pequenos investidores, podem se reunir e, devidamente articulados, conseguir superar estas barreiras. Tal medida poderia, inclusive, contribuir decisivamente na desejada popularização do mercado de capitais e, com isso, na melhora geral da economia brasileira. A equação é simples: mais confiança e mais integridade resultam em maiores investimentos. Decorrem desta soma, a melhoria no nível de empregos e toda a espiral positiva que, em cadeia, é gerada na economia e na vida da população. Sobre o autor Eduardo Silva da Silva é Sócio do Dispute Resolution Office, escritório especializado na solução de disputas por meio de Arbitragem. A empresa atua ainda na solução de controvérsias relacionadas ao mercado financeiro, representando seus clientes junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à Bolsa de Valores (B 3). De forma especial, o escritório concentra-se na recuperação de ativos de acionistas que tenham sofrido perdas em razão da inobservância de regras societárias, oriundas de normas legais, códigos de conduta ou inobservância de princípios de governança corporativa. Doutor em Direito Privado e Direito Processual (2006) e Mestre em Direito dos Negócios (2000), na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Visiting Scholar na University of Victoria, British Columbia, Canadá (2016). É membro do Chartered Institute of Arbitrators. Do Comitê Brasileiro de Arbitragem (CBAR) e da Comissão de Arbitragem da Ordem dos Advogados do Brasil, Sub-Seção Rio Grande do Sul, entre muitas outras organizações. Tem experiência em arbitragens societárias, na construção civil e na energia. Presente na lista de árbitros de diversas instituições nacionais e estrangeiras. É membro da Commision on Arbitration & ADR da Câmara de Comércio Internacional de Paris (ICC). 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Compre agora e leia http://www.mynextread.de/redirect/Amazon+%28BR%29/3036000/9786580461301/9788562069499/777fa1d3b6221dc36b59c34c7e70793d Fazendo um projeto dar certo de Tarso, Paulo 9781942159070 50 páginas Compre agora e leia http://www.mynextread.de/redirect/Amazon+%28BR%29/3036000/9786580461301/9781942159070/4d02bf593e2cb14e33b396fadfbe7902 O livro apresenta mais de 1000 dicas sobre Gerenciamento de Projetos e Desenvolvimento de Sistemas, moldadas ao longo de uma década criando software ao lado de pessoas talentosas. O livro é um guia, um catálogo de problemas analisados. O título busca destacar o seu enfoque prático. O objetivo deste trabalho é analisar alguns dos problemas mais recorrentes em projetos de software. A motivação é que alguns problemas ocorrem na maioria dos projetos em menor ou maior grau, mais cedo ou mais tarde e o objetivo aqui é analisá-los de alguma forma. Compre agora e leia http://www.mynextread.de/redirect/Amazon+%28BR%29/3036000/9786580461301/9781942159070/4d02bf593e2cb14e33b396fadfbe7902 Memórias Póstumas De Brás Cubas Assis, Machado de 9788562069475 301 páginas Compre agora e leia http://www.mynextread.de/redirect/Amazon+%28BR%29/3036000/9786580461301/9788562069475/08c24415dae18e00be966b49f525887a É narrada pelo defunto Brás Cubas, que escreve a própria biografia a partir do túmulo (sendo, portanto, segundo o próprio, não um autor-defunto, mas o primeiro defunto-autor da história, que é caracterizado por ter morrido e depois escrito, diferente do outro que foi escritor depois morreu). Compre agora e leia http://www.mynextread.de/redirect/Amazon+%28BR%29/3036000/9786580461301/9788562069475/08c24415dae18e00be966b49f525887a Apresentação O mercado de capitais já mudou Onde está o dinheiro? Fundos de Pensão Startup Style: a mudança na organização das empresas Confiança e reputação em tempos de Uber Terrorismo e sua conta do Paypal Ativismo societário: A recuperação dos prejuízos dos acionistas minoritários Sobre o autor
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