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A recuperao do prejuzo de acionistas

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A RECUPERAÇÃO DO PREJUÍZO DE
ACIONISTAS:
O CRESCIMENTO DO ATIVISMO 
SOCIETÁRIO BRASILEIRO
Eduardo Silva da Silva
1ª edição
Copyright © 2019 por Eduardo Silva da Silva
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou
transmitida, sob quaisquer formas ou meios, sem prévia autorização por escrito.
Simplíssimo Livros Ltda.
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Nota da editora: as opiniões expressas nesta obra são de responsabilidade do autor e não expressam
necessariamente a opinião da Simplíssimo Livros Ltda.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
Silva, Eduardo Silva da
A recuperação do prejuízo de acionistas: o crescimento do ativismo societário brasileiro /
Eduardo Silva da Silva. – 1. ed. – Porto Alegre : PLUS / Simplíssimo, 2019
ISBN 9786580461318
1. Acionistas. 2. Bolsa de Valores. 3. Ativismo societário I. Título.
CDD: 220
Sumário
Apresentação 5
O mercado de capitais já mudou 13
Onde está o dinheiro? 21
Fundos de Pensão 31
Startup Style: a mudança na organização das empresas 39
Confiança e reputação em tempos de Uber 45
Terrorismo e sua conta do Paypal 53
Ativismo societário: 59
A recuperação dos prejuízos dos acionistas minoritários 67
Sobre o autor 73
Apresentação
Fala-se em economia 4.0. Vivemos em uma época marcada pelo que se
convencionou denominar de Nova Economia Digital. Contudo, nem todas
as mudanças que se operam na tecnologia, na internet das coisas e no
blockchain se processam, simultaneamente, por todos os setores da
economia e do direito. Um exemplo, no Brasil, é o cenário das Empresas e
da sua organização societária.
Explica-se.
As empresas brasileiras sempre foram de um perfil muito familiar.
Arredias, em geral, ao mercado de capitais e à cultura corporativa. A
concentração do capital é um dado relevante para a compreensão das nossas
organizações empresárias, mesmo para aquelas listadas em bolsa. É um
passo, portanto, para que o excesso de poder gerasse toda a sorte de
desmandos, em detrimento do pequeno acionista.
Pode-se atribuir a diversas causas o fato de tão poucos brasileiros
investirem em renda variável. Uma delas, possivelmente, seja a
inseguranças sentida pelo investidor diante daqueles que detém o controle
da empresa e podem, portanto, a qualquer momento, promover guinadas na
gestão da corporação. O discurso bonito e empolado de governança não fez
muita diferença para casos, por exemplo, como da Petrobras ou do Grupo
OGX, do empresário Eike Batista.
Vislumbramos mudança.
O cenário de juros baixos e o de aposentadoria com regras menos
generosas, demandará nova atitude do investidor. Sua futura dependência
do sucesso de suas aplicações deve determinar comportamento compatível
com esta condição. Espera-se, em outras palavras, uma mudança do perfil
do investidor: de um mero poupador passivo – e até distraído – surgirá um
acionista atento e participativo com o que se processa com seu dinheiro.
É neste contexto que já podemos falar de um Societário 2.0. Uma nova
fase do desenvolvimento das empresas de capital aberto no Brasil.
O capital não poderá dormir mais nos bancos. Aliás, teremos menos
bancos. A empresa familiar cederá lugar a estruturas efetivamente
corporativas. Não que o queira fazer. Mas porque a captação e o
investimento de recursos serão mais seletivos. E, numa aldeia global,
Fundos Chineses ou Americanos, exigirão mais e efetiva governança.
As empresas que queiram sobreviver à Nova Economia Digital (internet
das coisas, emprego do blockchain, desmaterialização do comércio físico...)
deverão deixar de ser centradas no patriarca fundador e submeterem-se às
regras claras e reais de governança.
Neste quadro, assumir-se como acionista, na acepção mais rica da
expressão significa: acompanhar, fiscalizar, fazer-se representar. Juntar-se a
outros. Exigir o cumprimento das regras da própria Companhia. Trata-se de
comparecer nas Assembleias Gerais, votar, escolher representantes e fazer
questionamentos sobre as políticas da Empresa. Nos Estados Unidos tais
práticas são conhecidas como ativismo societário (Shareholder Activism).
A expressão ativismo não é feliz. Remonta a ideias como criatividade
judicial (decisão para além dos parâmetros legais) ou para uma nuance de
agitação social. No Brasil, porém, os acionistas dormitaram durante anos.
Não há mal que haja um pouco de ativismo, compreendida a acepção no
contexto de maior participação e ação dos investidores.
A recente discussão sobre o artigo 115 da Lei da Sociedade por Ações,
ocorrido no bojo da então Medida Provisória n. 881 é emblemática. Nela se
pretendia permitir a que o controlador mantivesse direito de votação mesmo
nas situações em que seu interesse particular confrontasse (formalmente) ao
da companhia. Em boa hora os acionistas minoritários – devidamente
articulados – conseguiram reverter a proposta.
Outros sinais apontam na perspectiva do ativismo ou da articulação
societária. Arrole-se, apenas para exemplificar, as arbitragens iniciadas na
Câmara do Mercado da B3 em defesa de acionistas minoritários
prejudicados por grandes empresas.
Igualmente, o artigo 246 da Lei da Sociedades Anônimas que premia a
iniciativa de acionistas por demandas que deveriam ter sido ajuizadas por
empresas controladas em relação das controladoras, também foram
promovidas.
Ainda estamos longe do que se processa em termos de companhias com
capital aberto no resto do mundo e do que acontece com a economia digital.
Mas não há como deixar de reconhecer que fazemos uma importante
transição. O Societário 2.0 já é uma realidade.
Já não é mais o clã familiar que organizará a empresa; e o acionista, por
sua vez, passa a assumir o seu devido protagonismo.
Essas são algumas ideias que serão discutidas neste pequeno trabalho.
Não é, como se notará, um livro com aspirações acadêmicas. Antes, é uma
leitura bastante prática da realidade e das perspectivas que se impõem. Os
temas podem parecer, a uma primeira vista, muito independentes. Mas, de
fato, dizem com o feixe de mudanças que se processam na empresa e na
economia brasileiras. E se sustentam na ideia de que o acionista minoritário,
neste novo quadro, deve figurar como um personagem relevante no
desenvolvimento das corporações. Sendo, inclusive, protegido e indenizado
por certos prejuízos discrepantes ao risco do mercado, quando necessário.
Ainda que já se discuta que as empresas não possam mais se preocupar
precipuamente com a satisfação dos interesses dos acionistas, mas com
valores outros, maiores e superiores, não é o que se processa na prática.
Menos ainda no Brasil, onde apenas agora corremos o risco de nos
aproximar de um capitalismo minimamente verdadeiro: de oportunidades
iguais, de investimento e de governança.
Agradeço, antecipadamente, críticas, sugestões e comentários.
Atenciosamente,
Eduardo Silva da Silva
eduardo@disputeresolutionoffice.com
mailto:eduardo@disputeresolutionoffice.com
O mercado de capitais 
já mudou
Direito Societário 2.0
O Brasil é ainda um país de empresas familiares. Segundo dados do
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cerca de 80% das
empresas brasileiras teriam este perfil. É natural, portanto, que o Direito
Societário reproduza este quadro.
As disputas societárias corresponderiam, assim, em grande parte, a
divergências próprias de relacionamentos familiares que se confundem com
o empresarial: crises pelo comando da empresa, desinteligências pontuais
entre sócios, atritos relacionados às decisões e temas congêneres. Outro
aspecto seria o que determina o trato da empresa como uma extensão da
casa, numa dimensão curiosa do patrimonialismo que ocorre na esfera
estatal.
Nos últimos anos, contudo, conforma-se um novo modelo Societário.
Nele, ressalta-se o caráter público das empresas. Por público, esclareça-se,
não se quer dizer estatal. Mas, ao contrário, se reforça o interesse do
público nos assuntosde tais companhias. São investidores, pessoas físicas
ou jurídicas, gente anônima, dispersa pelo globo, mas que, em número
sempre crescente, aportam seus recursos na organização empresarial ou em
Fundo específico, esperando resultados e contando com a boa gestão de
terceiros.
Parte destes investimentos são voltados à capitalização das empresas. A
busca de capital de giro ou de meios para crescer e inovar encontra na
economia popular uma promissora alternativa aos empréstimos bancários.
Numa efetiva economia de mercado, um dos seus aspectos mais vibrantes
diz justamente com os mecanismos pelos quais as empresas podem obter
recursos para seus investimentos.
Com efeito, a capitalização das empresas numa economia sadia deriva, em
grande parte, do investimento dos cidadãos. As ofertas públicas de ações e a
compra de papeis em bolsa tornam-se corriqueiras. O Brasil alcançou em
2019, um marco importante. Pela primeira vez, cerca de 1 milhão de
pessoas físicas se qualificaram como investidoras na Bolsa brasileira. Em
razão do cenário macroeconômico, de baixa contínua dos juros, a bolsa se
apresenta como uma boa saída para investidores com disposição para
esperar resultados mais expressivos, ainda que num contexto mais
arriscado. Anuncia-se para o corrente ano ofertas públicas de ações que
ultrapassariam 35 bilhões de reais, valor bem superior aos cerca de 9
milhões do ano de 2018.
Do ponto de vista institucional, o mesmo se processa, por meio de Fundos
de Investimentos e dos Fundos de Pensão. A recessão econômica, o baixo
crescimento do PIB e o endividamento das empresas, oferecem grandes
oportunidades aos participantes de Fundos como os de private equity. Os
Fundos de Pensão já exercem no mercado de capitais um papel muito
relevante. O reconhecimento, por meio da reforma promovida pelo
Congresso Nacional, de que as aposentadorias não poderão ser providas
preponderantemente pelo Estado, tende a reforçá-los.
Este engendrado mercado, exige organização e patamares mínimos de
segurança. Renova-se: trata-se de dinheiro do público. Pode-se dizer que
estamos tratando de algo superior ao conceito tradicional de dinheiro
público (leia-se: dinheiro privado administrado pelo Estado, oriundo
geralmente dos tributos). O dinheiro do público é aquele que sobrevive ao o
pagamento dos impostos e dos gastos de subsistência. E alça a graça de ser
investido. É resultado do esforço de disciplina, de contingenciamento e de
boa administração financeira, seja de empresas ou de pessoas físicas. Por
isso, é protegido por uma série de agentes e de normas: a Comissão de
Valores Mobiliários (CVM), a Bolsa, Brasil, Mercado (B 3) e a Câmara de
Arbitragem do Mercado (Câmara), regulam, previnem incidentes e
resolvem disputas deste delicado mecanismo financeiro.
Os que participam deste arcabouço são normalmente chamados de
“Participantes do Mercado”. São os sujeitos – pessoas físicas e jurídicas –
que ocupam alguma das tantas posições possíveis no mercado de capitais.
Diretores das Companhias, Conselheiros de Administração, Conselheiros
Fiscais, Diretores de Relacionamento com Investidores (DRI), Auditores
Independentes, Agentes de Investimentos e tantos outros são
normativamente considerados como protagonistas deste enredo. Em razão
disso, estão todos sujeitos à regulação. E, em alguns casos, a sanções. Essas
decorrem do descumprimento de regras objetivas ou de deveres que são
inerentes aos compromissos fiduciários assumidos. Afinal, sublinhe-se,
lidam com o dinheiro do público.
Com a edição da Lei n. 13.506, em 2017, o último aspecto da regulação –
o de natureza sancionatória – foi reforçado. Já naquele ano, a Comissão de
Valores Mobiliários (CVM) determinou a aplicação de 165 milhões de
Reais em multas. Em 2018, o montante alcançou o total de R$ 350 milhões.
Em 2019, apenas um dos já condenados recebeu sanção superior a 500
milhões. Setembro de 2019 marca a vigência da Instrução CVM n. 607, que
é a última engrenagem deste artefato de correção e supervisão do mercado
quanto a práticas ilícitas.
Para além e em paralelo, a Câmara de Arbitragem do Mercado passou a
julgar pleitos relacionados às perdas dos acionistas minoritários, inclusas às
empresas envolvidas em escândalos bilionários. Tal atuação tem sido rica e
criativa, ampliando as dimensões da arbitragem brasileira, inclusive com
uma espécie de class action tropical. Ressarcir minoritários prejudicados
sempre foi uma pedra de toque do sistema de proteção aos investidores.
Faltavam meios que agora se fazem presentes também via da CVM.
O que se vê, portanto, é uma mutação no DNA das disputas empresariais.
Elas migram do Judiciário para a arbitragem. Deixam os temas familiares
para debater níveis de observância ao compliance e aspectos importantes da
governança corporativa. Passam do conflito intrafamiliar para temáticas
como os códigos de conduta, normas da CVM e da B 3.
Os participantes do mercado, antes mencionados, vivem intensa interação.
Ora são demandantes, ora demandados. A dinâmica permite que um
acionista minoritário possa tecer indagações ao Conselho de Administração.
Diretores e Conselheiros devem prestar boas informações aos Auditores
independentes. O looping de interações é vasto e complexo. E o de
responsabilizações também.
Caso, portanto, a economia brasileira seja capaz de agregar o que de
melhor acontece e se processa no mundo, assumindo as suas empresas uma
nova conformação, é razoável que o Direito Societário também avance, em
suas bases e em suas práticas.
É este conjunto de mudanças que permite sugerir que estamos assistindo a
constituição do Direito Societário 2.0. Da modelagem familiar ao modelo
contemporâneo, caracterizado por uma intensa e múltipla produção
normativa de matriz regulatória, contemplando melhoria do ambiente
negocial e a implantação de práticas que privilegiam a governança
corporativa, o compliance e o respeito ao capital disperso, com ênfase no
papel desempenhado por instituições como a CVM, a PREVIC, a SUSEP e
a Câmara do Mercado.
Aliás, é corrente falar-se na nova economia digital ou em economia 4.0.
Pela expressão, quer se referir a fenômenos como a internet das coisas, o
blockchain, o mundo dos aplicativos e o universo das startups. O Direito
Societário é parte de tudo isso como instrumento jurídico de tradução dos
fenômenos econômicos e financeiros. Não é apartado do mundo em que
está inserido.
Alguns poderiam dizer que somente se consubstanciaria um Direito
Societário mais arrojado quando houver menos controladores e mais capital
disperso. Quando mais de 0,5% da população brasileira estiver na bolsa (ao
passo que, nos Estados Unidos, o número se aproxima ao 65 %). Quando as
Assembleias Gerais forem transmitidas ao vivo e online, com efetiva
possibilidade de participação presencial ou virtual dos investidores,
pessoalmente ou por representantes outorgados, sem burocracias
extenuantes. Tal linha de pensamento, contudo, não o aproximaria, o
afastaria.
Fato é que as grandes questões da sociedade empresária já não são mais
resolvidas aos domingos, nos almoços ao entorno do patriarca fundador. A
gestão, a estratégia e os resultados são do interesse do público investidor.
Formidável, neste aspecto, o papel desenvolvido pelas redes sociais. Elas
recriam a figura do acionista e lhes dão conhecimento, articulação e poder
para garantir avanços. O que os americanos chamam de ativismo societário
já se processa entre nós.
Esta, aliás, a principal faceta do Direito Societário 2.0: a ampliação da
participação, incluindo-se um maior número de atores e de mecanismos,
como o voto à distância, as demandas arbitrais dos minoritários e o ativismo
dos acionistas junto aos órgãos da empresa e os de regulação.
Onde está o dinheiro?
Ofertas públicas, private equity e crowdfunding
O agir empreendedor comporta, muitas vezes, um elemento de
transformação. Produtos, bens e serviços são gerados a partir de certos
insumos. Este processo gera custos que precisam ser suportados. Só é
possível construir uma estrada se houver equipamentos,mão de obra e
concreto. E, ao empresário–investidor, caberá garantir, por seus esforços, a
disponibilidade de tais recursos.
A tomada de valores no sistema financeiro, notadamente em períodos de
inflação expressiva e de juros distorcidos, poderia ser apresentada como
uma das principais causas de insucesso empresarial. Ao lado desses fatores,
convivem outras razões, geralmente relacionadas à própria gestão.
O tema, portanto, é do maior interesse aos prestadores de serviços
diversos – jurídico, contábil, de auditoria, de gestão – que circundam as
empresas. Trata-se, em verdade, de um daqueles assuntos que dizem
respeito a todos: é na empresa que se gera receita para os cofres públicos.
Somente por meio da atividade econômica e mediante o emprego e a
aferição de políticas públicas adequadas, é que se pode realizar qualquer
movimento de justiça social. As ocupações remuneradas, aliás, são a maior
e mais perfeita máquina de inclusão e de viabilização de acesso às situações
de bem-estar social para a maior parte da população.
Numa economia estabilizada e na qual os juros remuneram apenas o
efetivo custo do dinheiro, ausentes, assim, discrepâncias de ordem
macroeconômica, a capitalização das empresas se dá preponderantemente
pela captação da economia popular.
Tal mecanismo enseja que a renda acumulada gere mais dinheiro,
empregos e oportunidades. Recursos não acabam estacionados no mercado
financeiro, a espera de juros generosos, mas se convertem em prosperidade
econômica em benefício do conjunto da sociedade.
As Ofertas Públicas de Ação (conhecidas como OPA) são o mecanismo
mais conhecido de captação de recursos do público e de investimento nas
empresas de capital aberto. Por elas, a empresa emissora abre seu capital e o
distribui em parcelas (ações). Qualquer pessoa do povo pode, desta forma,
ser acionista de uma empresa, grande ou pequena. O Brasil, em 2019,
segundo anuncia a imprensa, tem chance de realizar OPAs em ordem
superior a 35 bilhões de reais, valor que não se compara aos patamares
alcançados no ano anterior.
Para um exemplo simples, no imaginário de um cidadão americano, a
correspondente IPO (Initial Public Offering) é cercada de festa e de
circunstância. É comum crianças receberem stocks (ações) de presente já no
nascimento ou em outras comemorações. Poupa-se e se investe por meio de
ações para garantir os gastos com a formação futura. Empregados tem entre
os benefícios oferecidos pela empresa programas de recebimento de ações
(stock option). Este fenômeno cultural reconhece no poder transformador da
empresa um dos mais significativos caminhos para o desenvolvimento
social.
Para além das OPAs que ocorrem em momentos mais ou menos restritos
da vida de uma empresa, pessoas e instituições podem se reunir na
formação de fundos. Esses agrupamentos de caráter econômico, são geridos
por pessoal especializado, que discerne entre empresas que apresentem
potencial de crescimento. Trata-se dos private equity. Eles adquirem parcela
de negócios já em curso, atuando para melhorar sua performance, qualificar
sua gestão e fomentar resultados. A intenção, desde sempre, é o lucro com a
comercialização valorizada do quinhão anteriormente adquirido.
Os fundos de private equity são assim, uma excelente oportunidade: para a
empresa, porquanto significam a chegada de recursos novos que serão
usados em áreas estratégicas de manutenção de sua operação e de inovação,
além do aporte de conhecimento e expertise; para os investidores, porque a
baixo custo e a risco selecionado, podem obter resultados muito acima da
média permitida pelo mercado financeiro.
O cenário da capitalização das empresas, seja por Ofertas Públicas, seja
pelo private equity não se completaria sem que mencionassem os Fundos de
Pensão. Por eles, certos segmentos do setor público e do setor privado, em
cooperação com um patrocinador, juntam recursos durante períodos
estendidos de tempo para, enfim, prover a aposentadoria dos seus
beneficiários. Os Fundos de Pensão já desenvolvem um papel
importantíssimo na economia brasileira. Em regra, possuem fôlego para
aguardar que seus investimentos amadureçam com o fruir do tempo. Tal
disposição é especialmente importante para certos empreendimentos que
demandam prazo mais amplo para retorno, como concessões de serviços
públicos e outras obras estruturais, muitas vezes ligadas à infraestrutura.
Daí se vê a relevância de tais Fundos. Há, assim, uma dimensão pública
significativa em cada Fundo de Pensão. Ainda que seu escopo principal seja
prover a aposentadoria futura de seus beneficiados, o próprio perfil de seus
investimentos sugere apetite a investimentos que se alonguem no tempo e
que são especialmente caros à sociedade.
Há, ainda, hipótese de capitalização das iniciativas empreendedoras via os
chamados “contratos de investimento coletivo” (CIC). Trata-se de
modalidade na qual, por uma chamada pública, investidores são convidados
a agregar-se a determinado projeto por meio do aporte de valores,
aguardando dele obter retornos ou remuneração. A CVM, por muitos de
seus julgados, tem se pronunciado no sentido de que, mais que a
denominação jurídica emprestada à determinada atividade, prepondera a
conformação fática dele. Significa dizer que, eventualmente, um anúncio
despretensioso, uma oferta por meio de um canal ou rede social, pode vir a
se caracterizada como “oferta pública”, sobretudo se agregar a promessa de
remuneração posterior por meio de investimento prévio a determinado
empreendedor. Uma vez caracterizada, ela estará submetida a todas as
normas correspondentes as quais, caso descumpridas, ensejam sanções. Há
normas a se observar para o registro prévio deste financiamento e para a
realização dos procedimentos posteriores. Assim, mesmo que se supondo o
agir em boa-fé, prepondera a conformação fática e a diretriz de proteção ao
investidor. As sanções são graves e atingem a empresa, o empresário e a
eventuais gestores. É preciso ter cuidado e devido assessoramento, portanto.
Entre as tantas que ainda se poderiam mencionar, a mais recente forma de
capitalização da atividade empreendedora é o crowdfunding. Certamente
também é uma hipótese de financiamento coletivo, muito próximo ao que
se convencionou chamar popularmente de “vaquinha”. Há, contudo,
especificidades. A captação de recursos do público também se dá por um
chamamento – uma oferta pública. Os investidores também recebem
equitys, o que significa que seu aporte se converterá em valores mobiliários
que deverão retornar, ao tempo e ao modo estabelecido, quando do
resultado daquele investimento. Ao contrário do private equity, contudo,
não há transferência de gerência ou de administração do negócio. E,
diversamente ao contrato de investimento coletivo e do próprio private
equity, os valores para aplicação, por pessoas físicas, são bastante
reduzidos.
Outra distinção do crowdfunding e das outras formas já mencionadas de
capitalização das empresas refere-se ao registro prévio junto à CVM:
obrigatório para as demais, dispensado, nos termos da Instrução CVM n.
588, para esta espécie. É que as aplicações por esta modalidade se darão por
meio de plataformas eletrônicas – em maio de 2019 são apenas 19 –
exclusivas para os produtos que lá estejam dispostos. Faz-se, assim um
filtro prévio ao se credenciar a plataforma, não, especificamente, os
investimentos específicos.
A Bolsa é, enfim, um Balcão de ativos. O mercado secundário é aquele no
qual as empresas têm comercializadas suas ações e outros papeis – como as
Debêntures – para obter financiamento.
O que se vê é que a atividade empreendedora é, tradicionalmente, de
transformação de insumos em bens, produtos e serviços. Transformar é,
assim, o chamado natural da empresa. Uma virada na forma de seu
financiamento pode significar, igualmente, uma das mais importantes
transformações da sociedade brasileira. Ao diminuir sua dependência do
sistema bancário, melhora sua performance geral e se evitam os juros altos.
Em não se valendo de recursos públicos, via bancos de fomento como o
BancoNacional de Desenvolvimento Nacional (BNDES), inibe-se um
capitalismo “entre amigos”, no qual a legítima competição cede lugar aos
arranjos por interesses políticos ou de corrupção, como seu viu
recentemente.
Buscar dinheiro no mercado é legítimo. E necessário. E é empreendedor.
Quando uma empresa se torna financiada pelo público ela deve adotar
práticas de conformidade e de acompanhamento. A governança deixa de ser
uma opção e passa a ser uma regra objetiva a ser fiscalizada pela CVM,
pela própria Bolsa e por outros órgãos, uma vez que alcançada a economia
popular.
O ativismo societário coopera com a governança. Na medida em que
acionistas participam das Assembleias Gerais e monitoram, pessoalmente
ou por representantes, o desempenho da empresa, contribuem com a saúde
da organização e com a garantia de seus resultados.
Onde está o dinheiro? Está à disposição de quem queira empreender. Juros
muito baixos no Brasil e negativos no exterior, além de muitos outros
fatores, determinam que há recursos para investimentos no mercado. Basta
saber alocá-los ao seu negócio.
Fundos de Pensão
Ativos para a economia
Somos cerca de 240 milhões de brasileiros. Apenas algo em torno de 10%
deste universo estão cobertos, total ou parcialmente, por alguma forma de
Previdência, que não seja a pública. Alguns, nos últimos anos, adquiriam
produtos de previdência junto a bancos e outras instituições financeiras.
Mas, um número ainda menor, é detentor do que se pode chamar, realmente,
de Previdência Complementar.
Assim, antes que se avance, é primeiro criar esta legenda. Na Previdência
Complementar deve-se distinguir entre Fundos Fechados e Produtos
abertos. Os Fundos fechados de Previdência são compostos por esforços
comuns de um instituidor (órgão público ou privado) e de contribuintes
(empregados ou vinculados àquela entidade) que, no futuro, serão
beneficiários dos resultados desse Fundo. Não se confundem com os
Fundos abertos – produtos financeiros que podem ser adquiridos no
mercado e que consistem em aplicações geridas por terceiros com o aporte
exclusivo do próprio investidor. Esses fundos são conhecidos como
previdência privada e recebem, eventualmente, alguma isenção de
impostos, mas, nada mais.
De toda a sorte, os dados revelam que, em verdade, a grande maioria dos
brasileiros detém a expectativa que o Estado irá garantir sua subsistência
quando não for mais possível persistir no mercado de trabalho. Ou, por
outra via, quando simplesmente achar que não deve mais trabalhar, seja por
transcurso da idade ou do tempo de serviço.
Aposta-se, portanto, que o sistema previdenciário público conseguirá
subsidiar a vida de tantos milhões de aposentados e também daqueles
afastados, a qualquer título, da força de trabalho ativa. E o fazemos contra a
estatística, afrontando cálculos atuariais simples e agredindo fenômenos
culturais. Há menos crianças e, portanto, menos jovens. A medicina e as
condições de saneamento, felizmente, melhoraram. Vivemos e viveremos
mais. Seremos uma sociedade de avôs. São fatos.
Poupar, prevenir-se e investir são verbos ainda poucos usados. O fossem,
o mercado de crédito para o consumo imediato não seria a mina de ouro dos
bancos de varejo. Empréstimos sob consignação, limites de cartão de
crédito e o famoso cheque especial são os combustíveis da pronta entrega
da satisfação instantânea. Vive-se o presente, espera-se o futuro.
Em ambas as perspectivas – viver o presente e esperar o futuro – os
Fundos de Pensão mostram-se como uma força admirável, que não pode
seguir sendo desprezada.
Eles estão no presente. Mesmo com tão poucos investindo, possuem uma
enorme força na economia. Bastaria consultar a composição das grandes
empresas de capital aberto brasileiras para constatar esta pujança.
Significativa parte do capital pulverizado está em mãos de Fundos de
Pensão. O que importa dizer que eles, em verdade, são acionistas
minoritários das maiores empresas do Brasil.
Há outra dimensão importante na natureza dos investimentos realizados
pelos Fundos de Pensão. A meta principal é gerar receita para sustentar as
futuras aposentadorias de seus beneficiados. Em regra, isso pode demorar
vinte ou trinta anos. Assim, há menos ansiedade por resultados imediatos.
Processa-se, desta forma, em sentido diverso ao de um private equity que
busca retornos em espaço de tempo mais curto e no qual o desinvestimento
é aguardado e faz parte da própria lógica do negócio.
São os Fundos de Pensão, portanto, os grandes vocacionados a
investimentos que precisem se lançar no tempo e dizem, muitas vezes, com
obras de infraestrutura. Essas intervenções – seria dispensável dizer –, são
as que um país em desenvolvimento como o Brasil mais demanda.
Obras de infraestrutura comumente empregam muitos trabalhadores.
Pense-se, por exemplo, em tudo que diz respeito ao saneamento básico. O
aporte de recursos oriundos de Fundos é capaz de, em um primeiro instante,
financiar estes grandes e dispendiosos investimentos. E, numa segunda fase,
colocar à disposição do público, melhorias que qualificam a logística de
transportes, as condições de comercialização e de competitividade
comercial, beneficiando, em um círculo virtuoso, a toda a economia.
Assim, é fácil entender a razão de eles exercerem um papel decisivo não
só no futuro das pessoas, mas no seu presente.
Os Fundos de Pensão preparam o futuro. Inexoravelmente eles tendem a
crescer no Brasil: após as necessárias reformas ou pelo simples colapso do
sistema previdenciário. É, portanto, razoável antever que sua expressão na
economia brasileira será mais significativa nos próximos anos.
Em perspectiva de futuro, os Fundos de Pensão precisarão ser blindados
contra o seu próprio sucesso. Como previdência complementar, o
patrocinador é a empresa ou a instituição a qual se vincula determinado
grupo de pessoas. Ele faz aportes no Fundo e pode, igualmente, opinar
sobre sua gestão. Em um exemplo, o PREVI, dos Funcionários do Banco do
Brasil, tem como patrocinador, com assento para decisões, a União Federal.
No contexto da Operação Lava-Jato, logo após o protagonismo das
empresas estatais, são os Fundos de Pensão os principais alvos de ações
policiais e de processos criminais. E o são justamente porque, em algum
momento de sua história recente, confundiram-se os legítimos interesses
dos beneficiários com outros, menos nobres, dos representantes dos
patrocinadores, muitas vezes indicados por critérios não técnicos e de feição
político-partidária.
A distância que se estabelece entre o tempo do investimento e o do resgate
facilita a que se promova toda a sorte de má gestão. Desde o investimento
em moedas podres, até o tão simples desvio de recursos que são coletivos.
Mas, há um problema ainda maior que o tempo: a distância.
Muitas pessoas investem por anos no seu Fundo de Pensão. O fazem com
exercício de contenção e por esforço de renúncia de satisfações imediatas.
Mas mantém-se, eventualmente, muito distantes do que acontece na gestão
daquele Fundo.
A distância dos beneficiários, pode-se dizer, é o a maior risco para a saúde
do investimento realizado. Mesmo nos países nos quais eventos de
corrupção sejam mais raros (ou mais punidos), revela-se como mais bem-
sucedido o Fundo que conta com maior adesão, participação e
monitoramento dos seus integrantes.
Hoje, inclusive, há empresas especializadas em acompanhar a
desenvoltura dos Fundos, de seus investimentos e o comportamento de seus
gestores. Não me refiro às Auditorias, mas as empresas realmente
independentes que orientam posicionamentos e recolhem procurações para
representar investidores.
O tempo e a distância fazem com que, enfim, viva-se o presente, e apenas
se espere o futuro.
Parece ser possível, contudo, antever uma grande mudança nos próximos
anos. É que ficará mais evidente a dependência da aposentadoria
complementar.
Assim, o que se antecipa é o reforço das regras de governança corporativa.
Não só internamente, mas, também, de dentro para fora.
A PREVIC – Autarquia Federal atualmente responsávelpela supervisão
deste mercado – criou regras específicas para que pessoas se qualifiquem
como candidatas ao exercício da gestão. É o reforço da Governança
Corporativa interna. E os participantes dos Fundos deverão monitorar estes
processos seletivos, para seu próprio bem-estar futuro.
Mas, externamente, talvez, resida uma dimensão de igual importância. Os
Fundos de Pensão brasileiros não perderam valor nos últimos anos apenas
em razão dos prejuízos e eventos danosos internos. Foram igualmente
prejudicadas com eventos externos, por sua condição de acionistas
minoritários de grandes companhias que também não observaram regras de
governança.
Este quadro – de prejuízos com investimento acionários em companhias
de capital aberto – atinge a praticamente todos os Fundos de Pensão
Brasileiros. E ainda perduram, merecendo providências para reparação.
O que se espera é que os futuros beneficiários, ao contrário da distância e
da indiferença com o que assistiram tais danos serem perpetrados, atuem
decisivamente para evitá-los (via CVM, B3 e PREVIC) e para repará-los
(mediante Câmara de Arbitragem do Mercado).
A presença dos participantes em Assembleias, o exercício ativo do voto, o
acompanhamento por si ou por escritórios especializados dos atos de gestão
poderão significar que passamos a viver o presente, não apenas esperando
pelo futuro, mas, definitivamente, o garantindo.
Startup Style: a mudança na
organização das empresas
Lembro de um colega que sempre desconfiou. Desconfiava de tudo e de
todos. Desconfiava quando podia confiar e desconfiava ainda mais quando,
de fato, não tinha fundamentos para acreditar. Era lógico, portanto, que ele
não confiasse em internet banking quando estes sistemas ainda eram uma
grande novidade.
Anotava em caderninhos, quase que diariamente, seus saldos bancários e
de investimentos (por investimentos, leia-se, por óbvio, a boa e velha
poupança). Não fizera cadastro no banco digital e jamais descera qualquer
aplicativo e, por isso, sentia-se seguro. Hackers, vírus e fraudes eletrônicas
não o alcançariam.
Ocorre que – belo dia –, foi ao banco conferir saldos. E, para sua surpresa,
constatou saques: na Bahia. Gaúcho, não havia saído do Rio Grande do Sul
naqueles últimos meses.
O banco demorou algumas semanas para validar a clonagem de seu cartão
e assumir a própria responsabilidade, recompondo os valores subtraídos.
Mas, restou a lição que o fato de ignorar a tecnologia não o livrou de seus
problemas ou de suas vantagens. Afinal, o banco acabou por reconhecer que
seus registros eletrônicos de consumo em Porto Alegre eram incompatíveis
com aqueles ocorridos simultaneamente em Salvador.
Algo muito próximo parece acontecer com o modelo de negócios e de
organização empresarial advindo das startups. Muitas empresas de perfil
tradicional querem desconhecê-lo ou enclausurá-lo a um setor da economia.
“Isso é coisa de nerds e do pessoal da TI (tecnologia da informação)”
podem dizer alguns. Mas não é. Nos alcança a todos.
O esquema startup já chegou até nós massiva e indistintamente pelos
transportes (Uber, Cabify), na alimentação (Rappi, Ifood) e mesmo no setor
financeiro (Nubank, Inter). O modelo de organização destes negócios, é, em
alguma medida, tão inevitável quanto o uso do internet banking. E,
queiramos ou não, sofreremos seus efeitos.
As startups são, essencialmente, abertas ao desafio de inovar e de fazê-lo
de forma disruptiva. Rompem, portanto, com fluxos mais ou menos
esperados de desenvolvimento de produtos e de serviços. Ignoram as
lógicas até então definidas pela prática ou pelas escolas acadêmicas. Agem,
geralmente, sem medo ou pudor. E, como, em alguma dose, inovação rima
com transgressão, sempre possuem um componente um tanto quanto
rebelde. Ao menos quando comparando-se com os padrões negociais e com
a normas que possuem uma inspiração normativa, bastante antiga como o
Código Civil.
Há muito sendo escrito sobre as startups. E também sobre a influência
delas na sociedade. Mas, no limite do presente texto, quer se ressaltar que a
nova empresa e, portanto, o Societário 2.0, não poderá desconhecer deste
movimento.
Primeiro, queiramos ou não, inovar parece obrigatório para quem queira
subsistir no mercado. A identificação de formas mais práticas, baratas e
funcionais de prestar serviços, fornecer bens, além de produtos, é o grande
motor das startups. Note-se, assim, a contemporaneidade da atuação da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A iniciativa da Instrução CVM n.
588/17, de fomento do crowdfunding espelha bastante esta direção. Trata-se
de captar, na economia popular, recursos para viabilizar e ampliar pequenas
startups. Convém ressaltar que, por exceção, estes investimentos não
precisam estar previamente cadastrados junto à CVM, desde que operados
pelas plataformas que se submeteram a este crivo. O valor de captação, para
segurança dos investidores, também é limitado.
Em um segundo ponto, há que se olhar para o DNA das startups. Se o
resultado é inovação, o processo é o de simplificação. As estruturas se
mostram mais enxutas e dinâmicas. Do ponto de vista da governança, as
decisões são tomadas, em regra, de forma mais rápida, garantindo
atualidade das novas posições negociais.
Um outro aspecto convém ser ressaltado. De uma maneira bastante ampla,
as startups possuem uma vocação para o mundo. Internacionalizar-se é
quase um chamado natural. E há acerto nesta perspectiva, quando se vê que
o gigante chinês, por exemplo, não possui limites territoriais para o seu
mercado. Queira-se ou não o mercado e a concorrência já são mesmo
globais.
Sem dúvida, as startups, mesmo as que chegaram à categoria de
unicórnios, são ainda muito novas. Há muito a se testar e a se provar. Mas,
também, a aprender com elas. Apetite para inovação, tolerância ao risco,
além de capacidade de simplificar processos e adotar mecanismos
adequados de governança são algumas das lições. Não será suficiente evitá-
las e ignorá-las para que desapareçam ou para que não engulam as
estruturas tradicionais. Elas estão mudando tudo. O modelo tradicional das
empresas também está sendo afetado. E isso a interessa a todos.
Confiança e reputação em tempos
de Uber
A confiança é a base de todos os negócios jurídicos e da própria
economia. Desde o início da nossa vida, confiar e merecer a confiança é
uma das questões mais importantes dos relacionamentos.
Pode ser fácil confiar em que está perto e em quem conhecemos. Mesmo
assim, há necessidade de que as transações e os compromissos assumidos
sejam registrados. Na realidade do dia a dia, contudo, somos obrigados a
confiar em pessoas com as quais estamos tendo o primeiro e – talvez – o
único contato em toda a nossa existência.
Para viabilizar este tráfego de confiança, além de normas legais que
protegem a legítima expectativa da parte adversa e contemplam deveres não
pretendidos diretamente pelas partes, mas decorrentes da boa-fé que deve
permear os negócios, existem terceiros que asseguram a confiança.
Se João vai comprar uma casa de Maria, é preciso confiar que, de fato, a
casa pertence ao vendedor. E que, sobre ela, não incidam gravames ou
outras situações que comprometam a disponibilidade desta propriedade. O
tabelião e o cartório de imóveis são os terceiros que cumprem este papel de
constituição da confiança: garantem a cadeia de propriedade e atestam a
inexistência de restrições sobre o patrimônio do vendedor que poderiam
tornar impossível a transmissão pretendida.
A sociedade está organizada de forma a que um terceiro – detentor de
certos registros e de algumas informações – ateste para um interessado que
ele pode ter confiança em determinado fato, permitindo que o fluxo
negocial siga seu destino.
A posse e a conservação destes registros são vitais para a sociedade e para
o mundo dos negócios. No exemplo do cartório, nota-se que eles costumam
estar armazenados num local centralizado, sob guarda de uma única
instituição; não são acessíveis a todo o tempo e podem, eventualmente,
sofrer fraudes e incorreções. Mas são a elesque recorrem os que
transacionam a fim de que sejam certificados fatos, como, inclusive, a
propriedade de um bem imóvel (registro imobiliário).
Depender permanentemente de um terceiro para atribuir confiança enseja
processos morosos e burocráticos. O fato de certas informações serem
centralizadas e de a confiança advir de um único ente – o cartório de
registro de imóveis, para persistir no mesmo exemplo – o encarece. O custo
de transações sobe e a eficiência diminui.
Ampliar e garantir a confiança é fundamental para o desenvolvimento
econômico. A confiança equivale para a relação entre particulares à
estabilidade político-econômica de um país.
A tecnologia blockchain, com acerto, já foi chamada de a “máquina da
confiança”. Com efeito, ela permite que a confiança se disperse por toda a
rede, de forma descentralizada, sem dono ou tutor, por parâmetros de
registros imutáveis e a baixo custo, acelerando trocas e negócios em escala
global.
Este texto não é um relato de tecnologia. É só uma ligeira descrição do
seu impacto em nossas vidas e em nossos negócios. Mesmo assim, pede-se
licença para uma rápida nota de rodapé técnica.
Alguém poderia indagar que não confia em criptomoedas e, logo, não
pode se fiar do Blockchain. É corrente a confusão entre a ferramenta para
registros (blockchain) e um de seus empregos (as criptomoedas). O
Blockchain é como um enorme livro aberto, de acesso amplo, formado por
uma sequência de blocos, gerando uma cadeia de dados. Cada bloco novo
repete as informações dos blocos anteriores. São milhares de blocos
encadeados com registro (hash) que, para sofrerem fraude, exigiriam o
desmanche de toda a sequência, deixando vestígios evidentes. Os blocos,
contudo, são permanentemente auditados pelos próprios usuários, numa
atividade conhecida como “mineração” que os valida. O registro, portanto,
de um crédito, de um negócio, de um empréstimo, de uma transação é
imutável e público. Nenhum terceiro à relação precisa atestar ou certificar
aquele fato.
É que a convergência do blockchain, com códigos programados de certas
funções (contratos inteligentes) e a internet das coisas (sistemas que
permitam a “comunicação” entre aparelhos e a observância de determinados
códigos previamente programados) são uma das mais formidáveis
expressões do que se convencionou chamar pelo nome de “Nova Economia
Digital”.
A “Nova Economia Digital” só foi possível pela massificação dos meios
de comunicação e das redes de informação. Seu efeito é a ampliação dos
novos mecanismos de confiança, que reforçam a partilha e o
compartilhamento de bens entre desconhecidos. Assim, as pessoas usam o
aplicativo instalado no celular, para convocar carros que serão
compartilhados com outras dezenas de pessoas por dia (uber), confiando-se
a um desconhecido a responsabilidade por conduzir sua família a
determinado destino. Curiosamente, o destino também pode ser um
endereço compartilhado (airbnb) e o anfitrião, jamais visto ou conhecido,
foi eleito por um ranking elaborado por hóspedes anteriores, igualmente
ilustres desconhecidos. Há confiança, desta forma, sem se confiar em
alguém, a não ser num sistema de reputação e de compartilhamento.
No mercado de capitais, substancialmente, também se confia em
desconhecidos. Ainda que não se confundam com os casos de economia
compartilhada, também opera um sistema fiduciário que se funda em
balanços, pareceres e outros instrumentos emitidos por terceiros. Há,
sempre e necessariamente, uma delegação de poderes: confia-se, por
exemplo, num administrador eleito por um Conselho.
Confiar é fundamental para fazer negócios. Blockchain e sistemas de
reputação tornam mais possível confiar em estranhos. E, portanto, aceleram
as oportunidades de novos e criativos arranjos negociais.
Terrorismo e sua 
conta do Paypal
Entrou em vigor, no dia 06.06.19, a Lei n. 13.810, de 08.03.19. Seu
escopo principal é estabelecer que o Brasil terá como plenamente eficaz e
sujeitas à imediato cumprimento em território nacional, as disposições
emanadas pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas
(CSNU) e por seus Comitês.
Em meio a grampos ilegais, debates políticos sobre reformas estruturais e
outros enredos da política e da economia brasileiras, a lei passou
completamente desapercebida.
De fato, deliberações relacionadas à ONU costumam, quando muito,
interessar a um grupo relativamente restrito de interessados em questões de
geopolítica internacional. Afinal, no que as empresas poderão, em seu
cotidiano, ser afetadas por deliberações do Conselho de Segurança da ONU
? O que o seu PayPal tem com isso ?
A norma em comento articula-se fortemente com a Lei n. 9.613, de 1998,
que definiu crimes e certos procedimentos relacionados às condutas ilícitas
por lavagem de dinheiro ou branqueamento de capitais. Aquele texto
definia como responsáveis por informar e mesmo bloquear ativos a
praticamente todas as empresas do país.
Se um único inciso pudesse representar as 18 hipóteses de pessoas –
físicas e jurídicas – diretamente consideradas responsáveis pelas obrigações
de vigilância e de comunicação, seria o de número IV do art. 9º da Lei n.
9.613/98, elencando empresas que se utilizem de cartão ou qualquer outro
meio eletrônico, magnético ou equivalente, que permita a transferência de
fundos. O exemplo revela que, praticamente todos os setores da economia,
receberam obrigações e responsabilidades relacionadas à lavagem de
dinheiro.
A nova norma, contudo, agrava a anterior, na medida na qual traz para o
rol já amplo de obrigações e responsabilidades, o cumprimento não só de
medidas do Plenário do Conselho de Segurança da ONU, mas, igualmente
de seus órgãos fracionários, os Comitês.
Pode-se dizer, portanto, que às empresas, aos Diretores, aos Membros de
Conselhos, entre tantos outros, recai agora a obrigação legal de bloquear
ativos que possam estar, por exemplo, de alguma maneira ligados ao
financiamento de ações e movimentos terroristas em qualquer canto do
globo.
O Brasil adotou, assim, a política de intolerância ao “menor risco”. Em
havendo mínima suspeita, a orientação da legislação brasileira é de,
imediatamente, indisponibilizar os valores em questão. Renova-se ainda,
um “dever geral” de monitorar pagamentos e transações econômicas que
possam ser consideradas suspeitas.
Entre as sanções previstas para os que descuidem destes encargos, agora
fiscalizados por órgãos específicos da Administração Pública, consta a
inabilitação para o exercício da atividade de administrador de pessoa
jurídica pelo prazo de até 10 anos. As multas podem chegar ao dobro do
valor da operação viciada ou – o que pode ser ainda pior –, ao dobro do
lucro real auferido pelo infrator. Casos extremos podem levar até mesmo à
cassação ou suspensão da autorização para o exercício de atividade,
operação ou funcionamento da empresa.
Parece importante, desta forma, frisar o espírito destas obrigações: há uma
distribuição de responsabilidades por todo o meio empresarial. Os órgãos
públicos de monitoramento e de fiscalização passaram a dedicar sua
atenção precípua às empresas, multiplicando a sua força de
acompanhamento do mercado. Contam, assim, que cada empresa, na sua
órbita de atuação, seja um comunicante de atos suspeitos e, ao mesmo
tempo, tenha a primeira e mais imediata reação a eles.
O principal ponto a ser ressaltado diz com a obrigação de que, também
quanto a este novo aspecto, as empresas criem políticas, procedimentos e
controles internos que coíbam, previnam ou alertem, no interior da própria
organização, para condutas ilícitas. A regra é respaldada pela Instrução
Normativa n. 301 da Comissão de Valores Mobiliários. É urgente, portanto,
que as empresas se adequem, sob pena inclusive de exporem seus Diretores
e Membros de Conselhos a situações de constrangimento.
O Decreto n. 9.825, de 05.06.19, regulamentou a matéria que se encontra,
assim, em pleno vigor. A exigir mais das empresas. E a se ter cuidado de
quem recebe e do que se recebe, inclusive pelo inofensivo PayPal.
Ativismo societário:Você ainda vai fazer parte
Guhan Subramanian. Talvez você nunca tenha ouvido falar dele. Mas ele
foi a primeira pessoa na história a conseguir um feito: ser admitido como
docente, simultaneamente, em duas das escolas mais prestigiosas da
Universidade de Harvard: a de Direito (HLS) e a de Administração (HBS).
Ele também é um dos grandes nomes mundiais, atualmente, sobre o tema
do “ativismo societário” (Shareholder Activism). E, se você tem ações,
investe no mercado de capitais ou possui expectativa de receber benefícios
oriundos de algum Fundo de Pensão, este assunto lhe interessa e muito.
A própria expressão “ativismo societário” precisa ser bem compreendida.
Ela, no contexto dos Estados Unidos, quer se reportar a uma especial
disposição dos investidores, notadamente em companhias abertas ou
Fundos de Pensão, para o interesse, a articulação e o movimento em relação
à determinadas atitudes das companhias. Trata-se, sobretudo, de uma
supervisão ativa que os investidores exercem quanto à observância de
normas de governança corporativa. Sabe-se da enorme assimetria de
informações que separam o controlador do acionista minoritário. Ainda que
o último deposite suas economias na empresa – por meio de investimentos
diversos –, não exerce sobre ela qualquer domínio e nem sobre os atos de
seus administradores. O ativismo, portanto, reequilibraria estas forças, pela
presença de representantes dos minoritários nas assembleias, nos Conselhos
e até mesmo na Administração das Empresas. Eles exercem um
monitoramento atento ao que se passa na companhia por meio de análise de
balanços, fatos relevantes e resultados. Não é uma postura de observação,
mas de ação.
Com efeito, no 2018 Review of Shareholder Activism, publicado pela
Harvard Law School Forum on Corporate Governance and Financial
Regulation, nota-se que se trata de uma verdadeira indústria com força e
impacto crescente sobre as empresas americanas. O número de companhias
que foram atingidas, em 2018, por movimentos do ativismo chega a 226 e
os montantes envolvidos a 65 bilhões de dólares.
Por primeiro, é preciso lembrar que, naquele país, as empresas de capital
aberto são conhecidas como “companhias públicas”. Elas, enfim, captam a
economia popular e, portanto, precisam corresponder, em termos de
transparência e de boa gestão, à confiança da população.
Um segundo fato a se ressaltar é que também naquele mesmo exemplo,
cerca de 65% da população é investidora na Bolsa. No Brasil, este número
alcançou recentemente o seu recorde, aproximando-se a cerca de 1.000.000
(um milhão) de pessoas físicas. Tal representa apenas 0,5% do universo de
brasileiros. A grandeza, portanto, da Bolsa de Valores como opção de
investimento é enorme na América.
Em verdade, uma verdadeira indústria se organiza em prol dos acionistas
minoritários e de sua influência na administração das empresas. Uma figura
pouco conhecida e que possui um papel bastante importante é das Proxy
Advisory Firms. Não são firmas de auditoria e nem de advocacia.
Constituem-se em empresas especializadas em orientar os acionistas em
tomadas de posição sobre as companhias, orientando votos, indicando
representantes para a Assembleia e mesmo para os Conselhos de
Administração. Seu papel é, desta forma, acompanhar detidamente o
desempenho e a performance das organizações.
Um papel preponderante é exercido pelos próprios acionistas. Eles atuam
em prol da coletividade e da regularidade do mercado, denunciando práticas
ilícitas, recolhendo procurações e representando a “grande maioria dos
minoritários” e de seus interesses. Não se trata, claro, de trabalho gratuito.
Aliá, qualquer pessoa, cumprido certos requisitos, pode passar a representar
coletividades de acionistas. Mas ele é, certamente, meritório, porquanto
ainda que cuide de seus próprios interesses gera benefícios a todo o
mercado, atribuindo a ele mais transparência, equidade e justiça.
Um detalhe importante é que o minoritário nem sempre – ou no mais das
vezes – é uma pessoa física. Fundos de Pensão poderosos, grandes fundos
de investimento e corretoras costumam diversificar seu patrimônio.
Detendo várias fatias de empresas, nelas serão minoritárias e, portanto,
capazes de exercer o ativismo.
É exatamente este tipo de ativismo que o Relatório de Harvard revela
quando se refere ao Brasil no ano de 2018. Os casos, apontam a
“campanhas” processadas em relação à Stone, à Oi e à Petrobras. Não se
poderia deixar de comentar anteriormente o que ocorreu com o Grupo
Saraiva e, em seguida, as arbitragens iniciadas em relação à Companhia
Vale. Os valores, por óbvios, são vultosos na ordem dos bilhões de dólares.
Em termos de ativismo societário no Brasil, um caso que merece ser
examinado separadamente é o que se funda no artigo 246 da Lei das
Sociedades por ação (Lei n.6.404/76). Tramita atualmente no Rio de Janeiro
uma ação judicial na qual um único acionista – por ter tomado a iniciativa –
se habilita a receber muitos milhões da Companhia Braskem. Algo
parecido, já se anunciou igualmente tendo como demandada a CCR
Rodovias.
No Brasil, contudo, o termo “ativismo” é um pouco contaminado. Ele
parece apontar para algo exagerado ou além da medida. Costuma-se
empregar com uma conotação vinculada a atividades político-partidárias de
caráter de movimento social (sem terra, sem teto, estudantes...). Ou, por
outro viés, refere-se a uma tendência judicial que se entende capaz de
constituir normas para situações concretas (não apenas interpretá-las ou
aplicá-las) e que tem sido objeto de frequente crítica por agravar a
insegurança jurídica. Nenhuma destas acepções, contudo, é justa quando se
anexa o vocábulo “societário”. Vimos, perplexos e sonolentos, o patrimônio
de milhares de pessoas esfarelar-se em Companhias que eram regulares e
supervisionadas pelos órgãos próprios do Estado. O nosso “ativismo
societário”, desta forma, está muito longe de ser extremista. Mesmo assim,
em terras tupiniquins, talvez fosse mais sonoro falarmos em “articulação
societária”.
Com o cenário econômico de juros baixos e de um novo modelo
previdenciário em vista, somado a uma tração política de liberalização da
economia e de privatizações, parece que o país ruma, enfim, ao capitalismo.
Se tal se confirmar, precisaremos de pessoas e de instituições capazes de
ativar os acionistas, retirando-os do marasmo que permitiram toda a sorte
de abusos, danos e prejuízos aos investidores por décadas.
Guhan Subramanian – o professor da Escola de Direito e da Escola de
Negócios de Harvard – ensina que a governança corporativa ainda merece
ser melhor definida. Mas, sem dúvida, ela passa pelo papel ativo dos
acionistas. Ele fez mais: cruzou a ponte – às vezes tão distante e até
inexistente – entre os interesses protegidos dos acionistas minoritários
(direito) e as prerrogativas negociais dos controladores da companhia
(negócio). Se bem sintonizados, ambos, melhoram performances, resultados
e dividendos, inclusive para o conjunto da sociedade.
O chamado “ativismo societário” ou, como preferirmos, a “articulação
societária” é uma nova e instigante fonte de ação para garantir que o
mercado seja mais regular e saudável para todos. Não há governança
corporativa sem a participação ativa dos principais interessados.
Você, talvez, não tenha ouvido ou lido nada do Prof. Subramanian e nem,
tampouco, conhecido o ativismo. Mas, se vive num país de juros baixos,
você ainda conhecerá a “articulação societária’.
A recuperação dos prejuízos dos
acionistas minoritários
A Lei das Sociedades Anônimas, uma arrojada obra jurídica dos anos 70,
reconhece e estabelece importantes distinções entre a figura dos acionistas
controladores e dos acionistas minoritários. Propõe-se, assim, em
consonância com as melhores tendências, a proteger o detentor de ações
que não possua poder de controle. Não raro os interesses do controlador
podem, materialmente, divergir aos do conjunto de acionistas ou mesmo da
companhia.
A ideia é simples: a captação da economia popular, por meio do mercado
de ações, via sistema deBolsa, demanda cuidado e rigor. E proteção do
investidor.
Assim, a legislação estabelece uma série de mecanismos defensivos do
acionista minoritário. Um exemplo mais recente desta tendência é prevista
na Instrução n. 607, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), vigente
desde 01.09.19. A norma, ao estabelecer o rito dos procedimentos para
aplicação de sanção pela autarquia federal, fixou atenuantes que devem ser
consideradas quando da aplicação de multas e outras sanções. Uma delas, a
que nos parece mais importante, é a da reparação da infração. Até pouco,
eventual condenação por dano causado por gestores ou controladores,
redundava no estabelecimento de multa em benefício exclusivo da União.
Os lesados – muitas vezes os minoritários – nem sempre eram devidamente
compensados. Em boa hora, portanto, a reparação passou a figurar como
uma das principais atenuantes no arbitramento de multas pela CVM.
Os minoritários também podem adquirir melhores condições de expressão
e representação na Companhia por meio da sua articulação em blocos. Os
chamados blockholders são formados, justamente, por associações entre os
acionistas de maior peso ou pela presença ativa de um único acionista. Em
geral, a lei e a doutrina os classificam a partir da detenção de pelo 5% do
valor das ações da Companhia. São fundos de pensão, fundos de hedge,
fundações, instituições financeiras, famílias ou entes estatais. Manifestam-
se pelo exercício da voz – declarações, protestos, ponderações em
Assembleias – ou pela ameaça de saída. Sim, uma retirada de acionistas
deste porte impacta mediatamente a confiança na empresa e imediatamente
o seu valor de mercado.
O que importa aqui ressaltar, contudo, é a distinção entre as espécies
distintas de “minoritários” e, logo, aferir os distintos níveis de proteção que
recebem da lei.
É natural que grandes fundos de pensão, empresas de significativa
expressão ou fundos de investimento sejam minoritários em outras
Companhias. É, por exemplo, o caso recém anunciado, da Delta Airlines
que será minoritária na composição acionária da LATAM. Mas, será uma
minoritária, que já inicia na condição de blockholder.
Mas, ao lado destes minoritários, há uma outra multidão.
Tome-se o exemplo de Companhias como a Petrobrás e a Vale. Elas
exerceram, durante anos, grande atração sobre os poupadores e
investidores. Nos anos de 2003 e 2004 eram tidas e recomendadas como as
blue chips, ou seja, as empresas nas quais qualquer investidor poderia
confiar e apostar.
Em relação à Vale, este nível de pretensa confiança chegou ao ponto de o
próprio Governo incentivar a conversão de créditos no Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço (FGTS) em ações. Não havia dúvida que, do ponto
de vista da rentabilidade, o negócio era bastante recomendável.
O que o exemplo denota é que, na prática, há grupos distintos de
acionistas minoritários. Existem os acionistas institucionais (empresas,
fundos...) e os blockholders (os que, sozinhos ou em grupo, detém pelo
menos 5% do número de ações). Mas, há um terceiro tipo, composto por
uma vastidão de investidores. Eles poderiam ser chamados de “micro
minoritários”.
Petrobras e Vale, para manter o exemplo, são apenas dois casos de
companhias que possuem, juntas, atualmente, segundo dados da B 3 de
setembro de 2019, quase 500 mil investidores que fizeram aportes na
condição de pessoas físicas. O contingente não para de crescer: já são mais
de um milhão e trezentos mil cidadãos brasileiros que investem na B3.
Ainda que se qualifiquem tecnicamente no universo dos “minoritários” não
podem, na prática, se valer dos direitos e garantias que a condição lhes
asseguraria.
Assim, os Fundos de Pensão e de Investimentos que tenham perdido
parcela do valor investido em tais companhias em razão de corrupção ou de
má-gestão podem – e devem – buscar ressarcimento junto à Câmara de
Arbitragem do Mercado. Os minoritários, enfim, confiaram nestas empresas
e foram lesados não por flutuações normais do mercado, mas por quebra
objetiva dos deveres fiduciários de administradores escolhidos pelos
Conselhos destas Companhias.
Não é, contudo, o que se processa com os “micro minoritários”. Falta-lhes
articulação, recursos e, sobretudo, informação quanto ao fato de que danos
estranhos ao desempenho natural do mercado podem e devem ser
ressarcidos.
São milhares, portanto, os investidores que tiveram sua poupança captada
pelo mercado acionário e que, de fato, não foram e nem estão protegidos.
São justamente os mais frágeis. Trata-se de uma espiral contínua e sem fim,
a qual, potencialmente, se inscreve entre as causas da ainda baixa adesão
dos brasileiros ao mercado de capitais.
Por força dos Estatutos Sociais de muitas empresas, a arbitragem é
impositiva. E assim o deve ser dada a tecnicidade das questões e a
necessidade de uma solução adequada em razoável prazo de tempo. Desta
forma, ao contrário de experiências como a dos Estados Unidos, descabem
ações na esfera judicial. Mas os custos de um processo arbitral, ainda são
altos para aqueles que detenham uma pequena carteira de ações. Montante,
contudo, que pode significar muito no patrimônio pessoal do investidor.
Um novo design de solução de conflitos deve ser disponibilizado para
atender a esta parcela significativa da população. Esses “micros
minoritários” são os investidores anônimos que ousaram acreditar na Bolsa
de Valores. Contiveram o próprio consumo e dirigiram suas economias à
capitalização de empresas. Merecem, mais do que todos, resguardo e
proteção.
A solução passa por articulação e participação daqueles que chamei aqui
de micro minoritários. Se isoladamente não conseguem a justiça própria do
mercado, consubstanciada na Câmara de Arbitragem vinculada à B 3, em
grupos, vinculados a um escritório, poderão fazê-lo com mais facilidade.
A internet e as redes sociais, talvez, permitam a democratização dos meios
de reparação. Pequenos investidores, podem se reunir e, devidamente
articulados, conseguir superar estas barreiras. Tal medida poderia, inclusive,
contribuir decisivamente na desejada popularização do mercado de capitais
e, com isso, na melhora geral da economia brasileira. A equação é simples:
mais confiança e mais integridade resultam em maiores investimentos.
Decorrem desta soma, a melhoria no nível de empregos e toda a espiral
positiva que, em cadeia, é gerada na economia e na vida da população.
Sobre o autor
Eduardo Silva da Silva é Sócio do Dispute Resolution Office, escritório
especializado na solução de disputas por meio de Arbitragem. A empresa
atua ainda na solução de controvérsias relacionadas ao mercado financeiro,
representando seus clientes junto à Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) e à Bolsa de Valores (B 3). De forma especial, o escritório
concentra-se na recuperação de ativos de acionistas que tenham sofrido
perdas em razão da inobservância de regras societárias, oriundas de normas
legais, códigos de conduta ou inobservância de princípios de governança
corporativa.
Doutor em Direito Privado e Direito Processual (2006) e Mestre em
Direito dos Negócios (2000), na Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS). Visiting Scholar na University of Victoria, British Columbia,
Canadá (2016). É membro do Chartered Institute of Arbitrators. Do Comitê
Brasileiro de Arbitragem (CBAR) e da Comissão de Arbitragem da Ordem
dos Advogados do Brasil, Sub-Seção Rio Grande do Sul, entre muitas
outras organizações. Tem experiência em arbitragens societárias, na
construção civil e na energia. Presente na lista de árbitros de diversas
instituições nacionais e estrangeiras.
É membro da Commision on Arbitration & ADR da Câmara de Comércio
Internacional de Paris (ICC).
Consulte mais em:
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Oxz e o clã
Henckel, Fabio
9788582452844
405 páginas
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hiperativos e gaste sua reserva de adrenalina, teste o
volume das suas risadas e descubra que a vida é mais
surpreendente que podemos imaginar. JÁ FOI DITO: - O
livro é uma das obras mais criativas que já li! Com muita,
muita ação! - BLOG GAROTA IT - Eu realmente amei OXZ.
É o tipo de livro que não cansa em página alguma - BLOG
UM LIVRO SECRETO - ...ouso até dizer que é um dos
melhores livros que já li. - BLOG SOBRE LIVROS
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Soluções em Engenharia Mecânica
Edição 2018
Bernardelli, Euclides Alexandre
9788562069321
290 páginas
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Livro contendo os melhores trabalhos de conclusão de curso
do ano de 2017 do curso de Engenharia Mecânica do
Campus Curitiba da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná.
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Dom Casmurro
Assis, Machado de
9788562069499
174 páginas
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A história se passa no Rio de Janeiro do Segundo Império, e
conta a trajetória de Bentinho e Capitu. É um romance
psicológico, narrado em primeira pessoa por Bentinho, o que
permite manter questões sem elucidação até o final, já que a
história conta apenas com a perspectiva subjetiva de
Bentinho.
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Fazendo um projeto dar certo
de Tarso, Paulo
9781942159070
50 páginas
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O livro apresenta mais de 1000 dicas sobre Gerenciamento
de Projetos e Desenvolvimento de Sistemas, moldadas ao
longo de uma década criando software ao lado de pessoas
talentosas. O livro é um guia, um catálogo de problemas
analisados. O título busca destacar o seu enfoque prático. O
objetivo deste trabalho é analisar alguns dos problemas mais
recorrentes em projetos de software. A motivação é que
alguns problemas ocorrem na maioria dos projetos em
menor ou maior grau, mais cedo ou mais tarde e o objetivo
aqui é analisá-los de alguma forma.
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Memórias Póstumas De Brás Cubas
Assis, Machado de
9788562069475
301 páginas
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É narrada pelo defunto Brás Cubas, que escreve a própria
biografia a partir do túmulo (sendo, portanto, segundo o
próprio, não um autor-defunto, mas o primeiro defunto-autor
da história, que é caracterizado por ter morrido e depois
escrito, diferente do outro que foi escritor depois morreu).
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	Apresentação
	O mercado de capitais já mudou
	Onde está o dinheiro?
	Fundos de Pensão
	Startup Style: a mudança na organização das empresas
	Confiança e reputação em tempos de Uber
	Terrorismo e sua conta do Paypal
	Ativismo societário:
	A recuperação dos prejuízos dos acionistas minoritários
	Sobre o autor

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