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METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA Professora Me. Adélia Cristina Tortoreli Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; TORTORELI, Adélia Cristina; PAIXÃO, Priscilla Campiolo Manesco. Metodologia do Ensino de Geografia. Adélia Cristina Tortoreli; Priscilla Campiolo Manesco Paixão. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. Reimpresso em 2020. 248 p. “Graduação - EaD”. 1. Metodologia. 2. Ensino. 3. Geografia. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0865-4 CDD - 22 ed. 372 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Pós-graduação Bruno do Val Jorge Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas Gerência de de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel Coordenador de Conteúdo Marcia Maria Previato de Souza Designer Educacional Nayara Valenciano Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Ilustração Capa Bruno Pardinho Editoração Luís Ricardo P. Almeida Prado de Oliveira Qualidade Textual Hellyery Agda Ivy Mariel Valsecchi Ilustração Bruno Cesar Pardinho Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO R A S Professora Me. Adélia Cristina Tortorelli Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2011) na linha de pesquisa Formação de Professores – Departamento de Teoria e Prática. Especialização em Docência no Ensino Superior pelo Centro Universitário Maringá (Unicesumar/2008). Graduação em Pedagogia pela UEM (2007). Atualmente é docente em cursos de Educação de pós-graduação lato-sensu; coordenadora da pós-graduação lato-sensu em Docência no Ensino Superior na Unicesumar; professora dos cursos de Artes Visuais, Música e Pedagogia na Unicesumar; professora dos anos iniciais da Prefeitura de Maringá; e tutora na Graduação em Pedagogia do Núcleo de Educação a Distância (NEaD), da UEM. Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir: <http://lattes.cnpq.br/4161937567859827>. Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão Mestrado em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2008), Especialização em Metodologia do Ensino da Arte pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER/2012). Especialização em História Econômica pela UEM (2004). Graduação em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mandaguari (FAFIMAN/2000). Graduação em Pedagogia/ Licenciatura, pelo Centro Universitário Maringá (Unicesumar/2013). Atualmente é docente na pós-graduação lato-sensu em cursos de Educação; integrante da Comissão de Elaboração e Revisão de Itens/ENADE do Banco Nacional de Itens (BNI), pelo Instituto Anísio Teixeira (INEP/MEC); integrante do Comitê de Pesquisa na Unicesumar; e coordenadora de cursos de graduação do Núcleo de Educação a Distância (NEaD), da Unicesumar. Tem experiência na área educacional como coordenadora (Ensino Fundamental e Superior), como Professora da Educação Básica e em Cursos de Graduação e Pós-graduação lato-sensu. Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir: <http://lattes.cnpq.br/7502281268919774>. SEJA BEM-VINDO(A)! Olá, caro (a) aluno (a)! É com grande satisfação que apresentamos a você a disciplina Me- todologia do Ensino de Geografia, voltada à compreensão dessa ciência na sociedade e na escola. Uma expressiva parcela da população desconhece a relação intrínseca entre o homem e a Geografia, isso quando não ignora a existência dessa área como ciência. Para uns, a Geografia é confundida ou percebida comosimples relato de viajantes. Para outros, uma lembrança da infância. Seu nome nos remete às listas de nomes de lugares ou dados numéricos, lições que deveriam ser memorizadas como se fossem fotografias faladas de determinados lugares do nosso espaço natural. O fato é que a Geografia pas- sa sim por essa apropriação, mas, enquanto ciência expande essa visão. Em face do exposto e, em linhas gerais, na Unidade I, intitulada “O desenvolvimento da ciência geográfica e o histórico do ensino de Geografia no Brasil”, estudaremos as ori- gens do pensamento geográfico na Antiguidade Clássica, e a substituição desse pensa- mento em função das mudanças históricas e do próprio desenvolvimento da Geografia enquanto ciência humana. Verificaremos que a Geografia foi marcada pela explicação objetiva e quantitativa da realidade – o que imprimiu ao pensamento geográfico o mito da ciência asséptica, não politizada, com o argumento da neutralidade do discurso científico. A meta era abordar as relações do homem com a natureza de forma objetiva, buscando a formulação de leis gerais de interpretação. É desse contexto, o da tradição, que herdamos uma Geografia memorística. Na sequência, abordaremos a Geografia enquanto ciência humana, dando ênfase para a história da Geografia no Brasil e notando, assim, seu impacto na metodologia e no ensi- no. Notadamente, no século XXI, percebemos o efeito das transformações tecnológicas no ensino de Geografia e o papel ressignificado da escola, assim como a abordagem didática-pedagógica do ensino da Geografia. Na Unidade II, “O ensino de geografia para os anos iniciais do Ensino Fundamental”, ve- remos que os Parâmetros Curriculares de Geografia constituem o documento criado para auxiliar o professor no tratamento das informações e conhecimentos pertinentes aos alunos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Dessa forma, notamos a respon- sabilidade social da escola enquanto microssistema inserido no macro – a sociedade. Cabe à instituição escolar oportunizar conteúdos que estejam em consonância com as exigências contemporâneas. Também, comentaremos o papel do professor enquanto mediador do conhecimento sistematizado, ou seja, aquele que deve estimular a curio- sidade do aluno, apresentar caminhos que o conduzam ao conhecimento por meio da problematização, do questionamento e da autonomia, incentivando-o, assim, a ser um cidadão crítico. Por fim, apresentaremos o novo perfil do aluno, que necessita de uma formação relacional e cidadã. APRESENTAÇÃO METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA Na Unidade III, “Conceitos geográficos, a criança e as relações espaciais”, abordare- mos a transformação da natureza ocasionada pelo homem, no intuito de atender as suas necessidades de sobrevivência no início da evolução humana. Essas modifica- ções foram alteradas na medida em que o homem criava novas necessidades. Na se- quência, apresentaremos alguns conceitos geográficos e as relações espaciais. Será exposto o trabalho que deve ser desenvolvido referente à orientação e à localização espacial das crianças do 1° ao 5° ano do Ensino Fundamental. Com base em Piaget, analisaremos as etapas de desenvolvimento e a apreensão da noção de espaço pela criança: do espaço vivido ao concebido. Por fim, elencaremos algumas atividades que levarão o aluno a agir e refletir sobre esse espaço. Na Unidade IV, “Representações cartográficas: mapas, escalas e maquetes”, compre- enderemos o espaço por meio do entendimento do mundo real. Veremos que a observação, a percepção, a análise e a síntese da linguagem cartográfica, bem como as representações cartográficas, possibilitam pensar significativamente o conheci- mento do espaço geográfico. O estudo das representações cartográficas contribui não apenas para que os alunos compreendam os mapas, mas também para que desenvolvam capacidades relati- vas à representação do espaço. Tendo isso em vista, os estudantes precisam ser pre- parados para construir as noções conceituais sobre essa linguagem, como pessoas que representem, codifiquem o espaço, e sejam leitoras das informações expressas. Por fim, na Unidade V, denominada “Linguagens no ensino de geografia e suas tec- nologias”, discutiremos de que forma os recursos didáticos e os avanços tecnológi- cos favorecem a aprendizagem dos alunos. Apresentaremos a fotografia, o cinema e a música enquanto recursos didáticos para o trabalho pedagógico do professor e para a formação do cidadão crítico diante dos problemas da sociedade. Finalizare- mos a unidade destacando sobre a utilização dos jogos e ao estímulo às brincadei- ras como forma de apreensão do espaço vivido. Diante desse estudo, esperamos contribuir com a sua formação. Bons estudos! APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL 15 Introdução 16 A História do Pensamento Geográfico 33 A Geografia Como Ciência Humana 39 A História da Geografia No Brasil 47 A Geografia no Século XXI 53 Considerações Finais 59 Referências 62 Gabarito UNIDADE II O ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 65 Introdução 66 Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia 71 A Metodologia e o Ensino de Geografia 73 Diretrizes Curriculares da Educação Básica Para o Ensino de Geografia 77 Conteúdos Para o Ensino de Geografia: Uma Visão Relacional e Cidadã 83 A Escola no Século XXI: O Ensino de Geografia 87 O Perfil do Professor Para o Ensino de Geografia SUMÁRIO 10 92 O Aluno: Um Sujeito Sociocultural 97 Considerações Finais 104 Referências 106 Gabarito UNIDADE III CONCEITOS GEOGRÁFICOS, A CRIANÇA E AS RELAÇÕES ESPACIAIS 109 Introdução 110 A Transformação do Espaço Geográfico: O Homem e a Natureza 114 Os Conceitos Geográficos 123 Orientação e Localização 125 Identificação do Espaço Escolar 136 A Evolução da Noção de Espaço 146 As Atividades Lúdico-Pedagógicas na Ampliação do Domínio de Espaço 155 Considerações Finais 160 Referências 162 Gabarito UNIDADE IV REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS: MAPAS, ESCALAS E MAQUETES 165 Introdução 166 A Cartografia SUMÁRIO 11 175 A Leitura de Mapas 181 As Escalas: Entendendo as Reduções 183 Os Mapas Mentais 189 As Maquetes 199 Considerações Finais 206 Referências 208 Gabarito UNIDADE V LINGUAGENS NO ENSINO DE GEOGRAFIA E AS TECNOLOGIAS 211 Introdução 212 A Tecnologia e as Linguagens Para o Ensino de Geografia 216 A Fotografia Como Recurso Didático no Ensino de Geografia 223 O Cinema como Conhecimento Geográfico e Educacional 226 A Música Enriquecendo as Aulas de Geografia 232 Os Jogos: Desenvolvendo Noções Espaciais nas Crianças 238 Considerações Finais 244 Referências 245 Gabarito 247 CONCLUSÃO 248 ANEXO U N ID A D E I Professora Me. Adélia Cristina Tortoreli Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Objetivos de Aprendizagem ■ Compreender a história do pensamento Geográfico. ■ Reconhecer a Geografia como ciência da natureza e da sociedade. ■ Conhecer a história da Geografia no Brasil. ■ Refletir sobre a Geografia no século XXI. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ A História do pensamento geográfico ■ A Geografia como ciência humana ■ A história da Geografia no Brasil ■ A Geografia no século XXI INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Apresentamos a você nossa primeira unidade, que traz como tema: “O desenvolvimento da ciência geográfica e o histórico do ensino de Geografia no Brasil”. O objetivo é apresentar a história do pensamento geo- gráfico como forma de contribuir para o entendimento de que a Geografia, que é uma ciência desenvolvida na antiguidade Clássica, foi transformada de acordo com as necessidades humanas. Essa evolução de pensamento se intensi- ficou na Idade Moderna e evoluiu atéa sociedade contemporânea, nas chamadas Ciências Humanas. Quando falamos em Ciências Humanas, é preciso saber que elas decorrem de uma vasta área do conhecimento humano que são oriundas do saber de outras ciências. A Geografia busca, por um lado, privilegiar o homem e compreender as características do espaço natural e físico. Por outro lado, procura perceber como os homens se relacionam com esse espaço por meio das interações que estabe- lecem entre si, é dessas interações que a Geografia se ocupa. Na sequência, apresentaremos que a história da Geografia no Brasil passou por diferentes momentos de ensino, produzindo não só a sua própria história, mas também gerando reflexões sobre a sua metodologia. Nesse momento, nos debruçaremos sobre o ensino propriamente dito de Geografia: da tradicional à crítica. Veremos que, até pouco tempo, esta área era concebida como um retrato fidedigno de seus aspectos físicos, e acreditava-se que, ao dominá-los (relevo, clima e vegetação, entre outros) estaríamos estudando Geografia. Por fim, em relação ao século XXI, faremos algumas reflexões sobre o papel das tecnologias no avanço do ensino da disciplina, e o quanto isso impacta sobre o perfil que se espera do professor e do aluno em sala de aula, bem como na con- tribuição que esse aluno pode dar à sociedade. Bons estudos! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO Caro(a) aluno(a), o objetivo do tema “A História do Pensamento Geográfico”, é partilhar com você de forma breve, mas não menos importante, as correntes do pensamento geográfico que, a partir das necessidades criadas pelos próprios homens em determinado período histórico, utilizavam (e ainda utilizam) de for- mas para dar tratamento ao pensamento e à aplicação da ciência geográfica. Então, como podemos entender o pensamento geográfico ao longo do século XX? Percebendo a explicação de diversos fenômenos e comportamentos humanos. A Geografia utilizou as correntes do pensamento geográfico que abordaremos na sequência: Geografia na Antiguidade Clássica; Geografia Clássica Moderna; Nova Geografia; Geografia Radical; Geografia Humanística; Geografia Idealista; Geografia Ambiental; Geografia Têmporo-Espacial; e o Método Regional. A GEOGRAFIA NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA A Geografia Clássica é resultante das concepções descritivas e da matemática que foi construída por gregos e romanos desde a Antiguidade Clássica. Erastóstenes, Tales de Mileto, Anaximandro, Heródoto, Hipócrates, Hiparco, além de outros, produziram os conhecimentos alicerçados do que mais tarde seria a Geografia Científica. Teceremos algumas contribuições com base no Artigo “Geografia Clássica- uma Contribuição para História da Ciência Geográfica”, de autoria de Enylton Odilon Rêgo da Rocha. Começaremos, então, por Erastóstenes (matemático, astrônomo e geógrafo grego). Conforme Rocha (1997, p. 3), uma de suas maiores preocupações foi com a medição da superfície do nosso planeta. Para calcular de forma mais exata as dimensões, ele se baseou nos métodos astronômicos e geométricos, além de adotar, como princípio, a ideia de que a forma real da Terra era esférica. Erastóstenos se destacou no campo da cartografia, sendo responsável pela con- fecção de um mapa mundi com sete paralelos e sete meridianos, cada qual denominado pelo nome do lugar por onde passava e, dessa forma, “desenvolviam-se A História do Pensamento Geográfico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 com ele os sistemas de coordenadas tão presentes hoje em nossos mapas”. De acordo com Rocha (1997, p. 3), Tales de Mileto e Anaximandro, por sua vez, contribuíram com o destaque para a medição do espaço e a discussão de forma da Terra (assunto hoje próprio da Geodésia). “São eles verdadeiramente, os fundadores da Geografia Moderna, que mais tarde seria melhor sistematiza da por Cláudio Ptolomeu”. Já sobre Heródoto de Helicarnado, o autor pontua: Heródoto de Helicarnado, conhecido como “pai da História”, acumu- lou grandes conhecimentos graças as suas viagens que o levaram desde o Sudão até a Europa Central e da Índia até a Península Ibérica, ou seja, todo o mundo até então conhecido pelos gregos. Suas descrições históricas são ricas em informações geográficas, que grandes utilidades tiveram para os governantes gregos, desejosos de obterem informações sobre os chamados bárbaros e seus territórios (ROCHA, 1997, p. 3). Outro importante geógrafo, cujas produções foram contemporâneas às de Heródoto, foi Hipócrates. Suas preocupações, segundo Sodré (1989 apud ROCHA, 1997), eram mais com o homem do que com o meio, embora aceitasse a ideia de que o meio fosse mais importante. Geodésia é a ciência que se ocupa da determinação da forma, das dimen- sões e do campo de gravidade da Terra. Na prática, a atuação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), instituição responsável no País por essas atividades, caracteriza-se pela implantação e manutenção do Sis- tema Geodésico Brasileiro (SGB), formado pelo conjunto de estações, mate- rializadas no terreno, cuja posição serve como referência precisa aos diver- sos projetos de engenharia - construção de estradas, pontes, barragens, etc., mapeamento, geofísica, pesquisas científicas, entre outros. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ([2017], on-line) 2. O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 Em relação à Hiparco, Rocha (1997), pontua que foi o grande continuador da obra de Erastótenes, sendo o primeiro a dividir o círculo terrestre em 360 graus. Apesar da grandiosa contribuição dos autores supracitados, foram Estrabão e Cláudio Ptolomeu os grandes responsáveis pela sistematização dos conheci- mentos geográficos na Antiguidade Clássica. Suas obras serviram de modelo para a retomada da produção dos conhecimentos geográficos a partir do século XV. Começaremos então por Estrabão e a sua geografia descritiva, que não con- templava a interpretação nem a análise dos fatos observados a partir de suas viagens. Esse grego não valorizou a matemática e a astronomia para os estudos da Geografia, consideradas até então fundamentais para os estudos da área. De acordo com Rocha (1997), Estrabão foi um grande viajante, historiador e geó- grafo, tendo percorrido quase todas as partes do mundo que eram conhecidas em sua época. Em suas viagens, ele pôde produzir uma Geografia marcadamente descritiva, a exemplo de Heródoto. Os fatos observados pelo grego, como as terras percorridas e os povos que nela habitavam, foram objetos de detalhada descri- ção, porém, sem análise nem interpretações. Ptolomeu, por sua vez, foi astrônomo, matemático e geógrafo, tendo como mais importante obra a Geographike Synyaxis. De caráter puramente astronômico, esta obra trouxe à luz a concepção ptolomeica do universo, na qual se considerava “la Tierra en el centro dei Universo y al Sol, Ia luna y los astros dei firmamento girando alrede- dor de ella.”(CAPEL & URTEAGA, 1984:07). Podemos também encon- trar, nesta obra, quadros com a latitude e a longitude, além de cálculos referentes à variação do dia de acordo com a distância do Equador. Graças aos árabes, que a traduziram, dando-lhe o título de Almagesto, o pensamento de Ptolomeu se tornou conhecido na Europa medieval, o que lhe assegurou duradouro prestígio (ROCHA, 1997, p. 7). Com essa breve apresentação da Geografia Clássica na Antiguidade, queremos destacara importância desse conhecimento para os desdobramentos da Geografia enquanto ciência nos séculos vindouros. A História do Pensamento Geográfico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 A GEOGRAFIA CLÁSSICA MODERNA Na Alemanha e na França (século XIX), tendo como precursores Alexandre Von Humboldt e Carl Ritter surgiram as primeiras definições de como seria a Geografia e o seu objeto de estudo, que, até então, não tinha uma clareza defi- nida. Até esse período histórico, a geografia era tida como a ciência do “tudo ou da superfície terrestre” (SOUZA et al., 2009, on-line)3. A Geografia Clássica ou tradicional, a partir de 1950, começa a receber seve- ras críticas de geógrafos. Um dos maiores expoentes dessas críticas é Yves Lacoste, que, insatisfeito com a ciência geográfica existente, alega que os geógrafos são inúteis perante os problemas que a sociedade apresenta. Diante da necessidade imposta, surge a Nova Geografia. A Geografia Tradicional também conhecida como Geografia Clássica surgiu no século XIX, inicialmente na Alemanha e na França, difundin- do-se aos demais países, tendo como precursores Alexandre Von Hum- boldt e Carl Ritter. Nesta corrente surgem as primeiras definições do que seria a Geografia e qual seria seu objeto de análise, já que no momento de sua sistematização não havia clareza quanto ao objeto de estudo, a Geografia era tida como a ciência “do tudo” ou a ciência “da superfície terrestre” (SOUZA et al., 2009, p. 3). Immanuel Kant (1724-1804), professor e filósofo, defendia o empirismo geográ- fico, alegando que o conhecimento necessitava da experiência e do raciocínio para se formular. Kant realizava viagens a diferentes partes do mundo com o objetivo de construir uma taxonomia, ou seja, classificar e categorizar o mundo físico. Moreira (2008, p. 14), explica a taxonomia do mundo físico é traduzida na forma das grandes paisagens da superfície terrestre, re- cortando-a em pedaços de espaço que fazem dela uma ampla coreogra- fia. De modo que são seus atributos a relação de apreensão do sensível dos dados do mundo circundante e o olhar corográfico sobre a super- fície terrestre. O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 De acordo com Andrade (2004, p. 104), alguns geógrafos consideravam a Geografia como uma ciência natural e não como uma Ciência Social: [...] mesmo Vidal de la Blache, historiador de formação e muito ligado ao pensamento da escola de historiadores, liderada por Marc Bloch, admitia que a Geografia era uma ciência dos lugares e não do homem. O autor ainda afirma que só posteriormente, com os estudos de Pierre George e Paul Claval, é que se generalizou a opinião de que a Geografia é uma ciência social, do homem, e não uma ciência da natureza. Distinção que tem grande importância epistemológica, pois, se a Geografia fosse uma ciência na- tural, dos Lugares, ela não poderia procurar explicar como e por que a sociedade produz e reproduz permanentemente o espaço social, apenas estudaria os resultados deste trabalho. Como ciência social, humana, a Geografia tem a responsabilidade de analisar a própria sociedade, as relações que influem no tipo de espaço produzido e explicar a razão de ser da ação da sociedade sobre esse espaço. Assunto da maior impor- tância nos dias de hoje (ANDRADE, 2004, p. 104). Muitos pensadores contribuíram para a formação da ciência geográfica, como Karl Ritter, Freidrich Ratzel, Jean Brunhes, Pierre George, Elisée Reclus, Alfred Hettener, Alexander Von Humboldt, Vidal de La Blache, G. Johstohn, Richard Hartshorne, Max Sorre, Piort Kropotkin e Jean Tricart, entre outros. Alexander Von Humbold (1769-1859), naturalista e explorador, considerado, por sua obra, o pai da Geografia, participou de inúmeras expedições pela Europa, Ásia, América Latina e América do Sul, inclusive no Brasil. Seus es- tudos estavam focados na influência dos fatores naturais sobre a vida das sociedades vivas: vegetais, animais ou humanos. Dentre outras obras, desta- ca-se “Quadros da natureza e cosmos”. Para saber mais, acesse o link, dispo- nível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexander_von_Humboldt>. Fonte: adaptado de Wikipedia ([2017], on-line)4. A História do Pensamento Geográfico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 A NOVA GEOGRAFIA A Nova Geografia pode ser considerada como um conjunto de ideias que ganha- ram força durante a década de 1950. As novas perspectivas de abordagem surgem em decorrência da Segunda Guerra Mundial, nos setores econômicos, sociais, tecnológicos e científicos. Um dos objetivos era superar as dicotomias existentes nos procedimentos metodológicos científicos. Tendo como base os fundamentos de Christofoletti (1982), explicitaremos algumas metas básicas da Nova Geografia: a) Rigor maior na aplicação da metodologia científica – a metodologia científica representa o conjunto dos procedimentos aplicáveis à execu- ção da pesquisa científica. Pressupondo que haja a unidade da ciência, todos os seus ramos devem-se pautar conforme os mesmos procedi- mentos. Não há metodologia específica para uma ciência, mas para o conjunto das ciências. b) Desenvolvimento de teorias – a falta de teorias explicitamente expos- tas na Geografia Tradicional foi veementemente criticada por inúmeros geógrafos. Por isso, a Nova Geografia procurou estimular o desenvolvi- mento de teorias relacionadas com as características da distribuição e arranjo espaciais dos fenômenos. Os geógrafos passaram a usar e a tra- balhar com as teorias disponíveis em outras ciências, como as teorias econômicas, mormente as relacionadas com a distribuição; localização e hierarquia de eventos. c) O uso de técnicas estatísticas e matemáticas – para analisar os dados coletados e as distribuições espaciais dos fenômenos foi uma das primei- ras características destacadas na Nova Geografia. E o seu carisma foi tão grande que se refletiu, na adjetivação empregada por muitos trabalhos, a denominação de “Geografia Quantitativa”. d) A abordagem sistêmica – que serve ao geógrafo como instrumento con- ceitual que facilita tratar os conjuntos complexos, como os da organização espacial. A preocupação em focalizar as questões geográficas sob a pers- pectiva sistêmica representou característica que favoreceu e dinamizou o desenvolvimento da Nova Geografia. O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 e) O uso de modelos – intimamente relacionado com a verificação das teo- rias, com a quantificação e com a abordagem sistêmica. O modelo permite estruturar o funcionamento do sistema, a fim de torná-lo compreensível e expressar as relações entre os seus diversos componentes. A partir de 1960, o método matemático da Nova Geografia passa a ser criticado por vários geógrafos, pois explicava alguns fenômenos, mas não justificava o intervalo entre os mesmos. Com o declínio da Nova Geografia, a vertente Crítica toma o seu lugar. A GEOGRAFIA CRÍTICA Em meados da década de 1960, nasce a Geografia Crítica, que também recebe o nome de Geografia Marxista ou Radical, com bases metodológicas fundamentadas no materialismo histórico e dialético. Os geógrafos e professores de Universidades passaram a utilizar esse método por meio das obras de Marx e Engels. O materialismo dialético é a concepção filosófica do Partido marxista-leni- nista. Chama-se materialismo dialético, porque o seu modo de abordar os fenômenos da natureza, seu método de estudar esses fenômenos e de con- cebê-los, é dialético, e sua interpretaçãodos fenômenos da natureza, seu modo de focalizá-los e sua teoria, é materialista. O materialismo histórico é a aplicação dos princípios do materialismo dialé- tico ao estudo da vida social, aos fenômenos da vida da sociedade, bem como ao estudo e história da sociedade. Para saber mais, acesse o link dis- ponível em: <https://www.marxists.org/portugues/stalin/1938/09/mat-dia- -hist.htm>. Fonte: Stálin (1938, on-line)5. https://www.marxists.org/portugues/stalin/1938/09/mat-dia-hist.htm https://www.marxists.org/portugues/stalin/1938/09/mat-dia-hist.htm A História do Pensamento Geográfico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 Enquanto a Nova Geografia analisava os padrões espaciais, a Crítica tinha como foco os processos sociais, e postulava que o comportamento social poderia ser explicado pelos meios de produção. O interesse dos geógrafos estava concentrado na análise da relação entre o modo de produção e as formações socioeconômicas. A Geografia Crítica incen- tiva as discussões em torno das desigualdades sociais, da pobreza, das injustiças, das lutas de classes e da deterioração dos recursos ambientais. A filosofia Marxista, oriunda dos postulados de Karl Marx, foi utilizada pelos geógrafos que analisavam a relação entre os modos de produção e as formações socioeconômicas. A Geografia Crítica incentivava a discussão de temas como a desi- gualdade social, problemas com relação ao meio ambiente, pobreza e luta de classe. Garcia (1978 apud CHRISTOFOLETTI, 1982) apresenta quatro linhas de orientação para os estudos na Geografia Radical, a saber: Figura 1- Linhas de orientação para os estudos de Geografia Radical Fonte: adaptada de Garcia (1978 apud CHRISTOFOLETTI, 1982). LI N H A S D E O RI EN TA Çà O P A RA O S ES TU D O S D E G EO G RA FI A R A D IC A L 1 2 3 4 LINHA DE ORIENTAÇÃO ANARQUISTA Centralizada na Universidade de Simon Fraser e na de Clark. LINHA DE ORIENTAÇÃO POPULAR-RADICAL Que se caracteriza pelo contato direto dos geógrafos com as populações das áreas e dos bairros a serem investigados. O geógrafo participa e orienta a população para solucionar seus problemas e traçar as suas reivindicações. LINHA COM ORIENTAÇÃO PARA O TERCEIRO MUNDO Destinada a propor análises sobre o desenvolvimento e o imperialismo, entre outros temas. LINHA DE ORIENTAÇÃO MARXISTA Se baseia no estudo das obras de Marx e Engels, na procura de fundamentos teóricos e na sua aplicação aos problemas socioeconômicos de expressão espacial. O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 No Brasil, como a Geografia Crítica passa a ganhar força? Com eventos como a organização de greve dos operários e o retorno dos exilados ao Brasil. No âmbito Universitário, esse pensamento ganhou força. Em síntese, a Geografia tem um compromisso com a sociedade e com causas e injustiças sociais. No entanto, ao longo da década de 1980, a Geografia Crítica começa a sofrer os primeiros sinais de esgotamento. Agora, vamos conhecer as novas maneiras de formar o pensamento ou as cor- rentes alternativas de Geografia? As novas vertentes são: Geografia Humanística; Geografia Idealista; Geografia Ambiental; Geografia Têmporo Espacial; e Geografia Regional. A partir de 1989, a Geografia Crítica começou a apresentar seus primeiros sinais de esgotamento diante da realidade em transformação, expondo seus limites teórico-metodológicos. A queda do muro de Berlim, o fim da URSS, aliados à crise do marxismo e à falência dos paradigmas da modernidade na explicação da nova realidade em mudança, inclusive o da teoria social crítica, revolucionam o pensamento e a produção geográfica em todos os sentidos e direções. Para saber mais, acesse o link disponível em: <http:// www.feth.ggf.br/geografiacr%C3%ADtica.htm>. Fonte: Oliveira (1997 apud EVANGELISTA, 2000, on-line)6. http://www.feth.ggf.br/geografiacr%C3%ADtica.htm http://www.feth.ggf.br/geografiacr%C3%ADtica.htm A História do Pensamento Geográfico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 GEOGRAFIA HUMANÍSTICA A Geografia Humanística surgiu por volta de 1960, defendendo aspectos huma- nos relacionados aos valores, percepções, propósitos e comportamentos, entre outros. A área considera que, para cada grupo humano, existe uma visão de mundo. As maiores contribuições para essa Geografia vieram, principalmente, de Yi-Fu Tuan, Anne Buttimer, Edward Relph e Mercer e Powell. Esses estudio- sos estavam apoiados na “Fenomenologia”, que trata-se de um método que consiste em descrever o fenômeno, isto é, aquilo que se dá imediatamente e, em segundo lugar, trata-se da valoriza- ção da observação destituída de mediações. Esse método possibilita que se penetre no contexto do mundo vivido, a partir do qual a experiência é construída e percebida (BRAGA; ALVES, 2008, p. 10). Para Corrêa (2001, p. 30), a Geografia Humanística está assentada na subjetividade, na intuição, nos sentimentos, na ex- periência, no simbolismo e na contingência, privilegiando o singular e não o particular ou o universal e, ao invés da explicação, tem na com- preensão a base de inteligibilidade do mundo real. Nesse contexto, o ser humano passa a ser valorizado nos espaços geográficos, essa valorização está voltada para como o homem se enxerga no próprio espaço no qual está inserido. Os conceitos de “espaço” e “lugar” passam a ser valoriza- dos. Na fenomenologia, o espaço, de acordo com Lencioni (2003, p. 152), é vivido e percebido de maneira diferente pelos indivíduos, uma das questões decisivas da análise geográfica que se coloca diz respeito às representações que os indivíduos fazem do espaço. Essa Geografia pro- curou demonstrar que para o estudo geográfico é importante conhecer a mente dos homens para saber o modo como se comportam em rela- ção ao espaço. O espaço passa a ser observado como o lugar de convivência e reconhecimento de que o homem faz parte desse local enquanto pessoa, o qual se apropria das sensa- ções e situações do ambiente. Dizer que o espaço é apenas um lugar de passagem do homem não é mais suficiente para essa Geografia. Sensações, emoções e vivên- cias são algumas das questões subjetivas que conecta o homem a esse espaço. O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 O conceito de Geografia Humanística foi trabalhado por Yi-Fun, que enten- dia que a Geografia poderia ser analisada pelos sentidos de localização e de artefato único. De acordo com Tuan (1982), o espaço é uma referência emocional para as pessoas. Existe uma ligação emocional entre as pessoas e os objetos na criação da identidade de lugar. Esses estudos comprovaram o que nós já sabemos há algum tempo: os lugares têm vida e memória nos nossos sentimentos. [...] o lugar é o espaço que se torna familiar às pessoas, consiste no es- paço vivido da experiência. Como um mero espaço se torna um lugar intensamente humano é uma tarefa para o geógrafo humanista “sic”, para tanto, ele apela aos interesses distintamente humanísticos como a natureza da experiência, a qualidade de ligação emocional dos objetos físicos as funções dos conceitos e símbolos na criação de identidade do lugar (TUAN, 1982 apud HOLZER, 1999, p. 70). GEOGRAFIA IDEALISTA A abordagem idealista distingue a explicação de fatos humanos e fatos naturais. O idealismo é uma corrente filosófica que surgiu na modernidade e cuja linha de pensamento é oposta ao materialismo. O objetivo da Geografia Idealista é valorizar e representar as ações envolvidas nos fenômenos. Conforme afirmaChristofoletti (1982, p. 15), [...] a Geografia Idealista representa tendência para valorizar a compreensão das ações envolvidas nos fenômenos, procurando fo- calizar o seu aspecto interior, que é o pensamento subjacente às atividades humanas. Ainda, a autora acrescenta que: [...] o exterior compreende todos os aspectos de uma ação passíveis de descrição em função de corpos e de seus movimentos, enquanto a parte interior das ações é o pensamento subjacente aos seus aspectos obser- váveis a sua parte exterior (CHRISTOFOLETTI, 1982, p. 15). A História do Pensamento Geográfico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 Além disso, segundo Christofoletti (1982, p. 15), em artigo de 1974, Guelke observa que o geógrafo humano está interessado principalmente na forma pela qual uma ação possa se desenrolar, em “compreender a resposta racional para o fenômeno, mas não na explicação do fenômeno em si”. As formas de atividades humanas, em níveis individual e social, modificaram e transformaram a superfície terrestre. Assim, “o objetivo do geógrafo humano idealista é compreender o desen- volvimento da paisagem cultural da Terra ao revelar o pensamento que jaz atrás dele”. Cada pessoa tem a sua própria visão de mundo e toma decisões com base em seus conhecimentos. O papel do geógrafo é tentar reconstruir o pensamento que sustenta as ações realizadas. Para Christofoletti (1982, p. 15), “ao considerar a elaboração de relatos ver- dadeiros e sua explicação, a Geografia Idealista assume posição ideográfica em vez da nomotética”. As ‘ciências nomotéticas’ são baseadas no coletivismo metodológico, e se preocupam em estabelecer leis gerais para fenômenos suscetíveis de serem reproduzidos, com o objetivo final de se conhecer o universo. Fazem par- te destas ciências a Física e a Biologia, e também algumas Ciências Sociais como a Economia, a Psicologia ou mesmo a Sociologia. As ‘ciências ideográficas’ são baseadas no individualismo metodológico, e se preocupam em estudar o singular, o único, as coisas que não são recor- rentes. Quer seja um fato ou uma série de fatos, a vida ou a natureza de um ser humano, ou de um povo, a natureza e o desenvolvimento de uma língua, de uma religião, de uma ordem jurídica ou de qualquer produção literária, artística ou científica. Para saber mais, acesse o link disponível em: <http:// cienciaeconhecimento.forumeiros.com/t10-ciencias-nomoteticas-e-ideo- graficas>. Fonte: Ciência & Conhecimento ([2017], on-line)7. http://cienciaeconhecimento.forumeiros.com/t10-ciencias-nomoteticas-e-ideograficas http://cienciaeconhecimento.forumeiros.com/t10-ciencias-nomoteticas-e-ideograficas http://cienciaeconhecimento.forumeiros.com/t10-ciencias-nomoteticas-e-ideograficas O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 Por outro lado, o foco maior é na tendência histórica do que na espacial. Entretanto, Leonard Guelke, ao sugerir o princípio de verificação e adotar o empirismo epistemológico e a objetividade na ciência, está se encaixando nos moldes do positivismo lógico, sem realmente propor uma perspectiva substi- tuta para a Nova Geografia. Guelke procura, principalmente, reformular os aspectos da geografia prati- cada sob os princípios do positivismo, apontando a necessidade e a importância de que também sejam incluídas as preocupações com os pensamentos humanos para efetiva compreensão das organizações espaciais. GEOGRAFIA AMBIENTAL Há muito tempo, a questão ambiental tem sido uma preocupação na vida dos países e das cidades. Independente do local, seja no centro no mundo, nos paí- ses periféricos, nas grandes ou pequenas cidades, a consciência de que o meio ambiente precisa ser respeitado e preservado invade as reflexões e ações das pessoas. As causas ambientais têm sido colocadas em pauta nas discussões governa- mentais e educacionais. Foram os geógrafos naturalistas que se interessaram em detalhar as características físicas dos lugares, de tal modo a catalogar e mensu- rar os fenômenos da superfície da terra. O ambiente envolve tanto os seres vivos como os não vivos que afetam o ecossistema e a vida dos seres humanos. Esse ambiente humano pode ser divi- dido em meio natural e social: [...] mesmo que o homem tenha hoje uma maior consciência sobre sua intervenção no mundo natural, o que podemos até considerar um avanço, mediante as grandes degradações que já ocorreram até agora, ainda não há coerência suficiente. Ou seja, muitas ações deveriam ser colocadas em prática para a preservação do meio ambiente como um todo (MENDONÇA, 1993, p. 5). A História do Pensamento Geográfico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 Em consonância com a matéria supracitada, segue a continuação do pensamento de Medeiros (1993, p. 5): [...] o que vemos atualmente é que os índices de degradação aumen- taram, enquanto de um lado existem muitos lutando por um mundo melhor para todos, de outro lado, a grande maioria busca seu próprio crescimento econômico, com o objetivo de consumir cada vez mais, e como consequência, consumir mais recursos naturais, ocasionando a degradação, sem se preocupar e muitas vezes sem saber, que esses recursos muitos são renováveis e não são infinitos. Para corroborar com a citação acima, veja no Saiba Mais a seguir o trecho de uma reportagem sobre o assunto. Para exemplificar a preocupação de Mendonça, segue o trecho da matéria publicada no dia 22 de Fevereiro de 2017: [...] um grupo de ambientalistas encabeçados pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) lançaram essa semana um manifesto contra a edição de um possível projeto de lei (ou medida provisória) que recorta Uni- dades de Conservação localizadas no sul do Amazonas. Essas áreas protegi- das, criadas pela ex-presidente Dilma Rousseff um dia antes do Congresso afastá-la da presidência, são alvos de discordâncias de políticos do estado, que pediram diretamente ao ministro da casa civil, Eliseu Padilha, para redu- zi-las em 35%. Se o governo ceder ao apelo, cerca de um milhão de hectares deixarão de ser protegidos. Para ler a matéria na íntegra, acesse o link disponível em: <http://www.oeco. org.br/noticias/ambientalistas-se-manifestam-contra-a-reducao-de-areas- -protegidas-na-amazonia/>. Fonte: Rodrigues ([2017], on-line)8. http://www.oeco.org.br/noticias/no-apagar-das-luzes-governo-dilma-cria-5-unidades-de-conservacao/ http://www.oeco.org.br/noticias/no-apagar-das-luzes-governo-dilma-cria-5-unidades-de-conservacao/ http://www.oeco.org.br/noticias/ambientalistas-se-manifestam-contra-a-reducao-de-areas-protegidas-na-amazonia/ http://www.oeco.org.br/noticias/ambientalistas-se-manifestam-contra-a-reducao-de-areas-protegidas-na-amazonia/ http://www.oeco.org.br/noticias/ambientalistas-se-manifestam-contra-a-reducao-de-areas-protegidas-na-amazonia/ O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 Na atualidade, a abordagem da questão ambiental precisa ser encarada com cons- ciência crítica e coletiva. Se não podemos retroceder aos danos causados e que não poderão mais ser recuperados, é necessário que as gerações atuais repassem para as gerações futuras, que a continuidade da vida na terra, na forma como a conhecemos hoje, precisa ser repensada. A educação geográfica desempenha a importante contribuição nessa tarefa diária. GEOGRAFIA TÊMPORO-ESPACIAL Essa corrente do pensamento geográfico tem o objetivo de analisar as ativida- des individuais e das sociedades em função das variáveis de tempo e espaço. A sua especificidade é traçaro ritmo de vida dos grupos humanos, com destaque para o tempo gasto nas atividades e nos lugares frequentados, [...] as questões relacionadas ao uso do tempo são fundamentais para a perspectiva têmporo-espacial da Geografia, tanto em relação ao indi- víduo como em relação aos grupos. As atividades desenvolvidas pelos indivíduos, na família, nos grupos sociais, nos locais de trabalho e nas horas de lazer exigem meios de transporte, construções arquitetônicas adequadas e organização dos horários (CHRISTOFOLETTI, 1982, p. 9). O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estima que quase metade da população mundial vai sofrer com a escassez de água a partir de 2030. Reservas subterrâneas estão ficando cada vez mais escassas e estão cada vez mais contaminadas. O nível de poluição nos rios, lagos e outros reservatórios de água provocado pela agricultura e emissão de esgoto é tão alto que a água não é própria nem mesmo para o consumo animal. Para saber mais, acesse o link disponível em: https://noticias.terra.com.br/hu- manidade-esgota-recursos-da-terra-em-2016,80ea87f29e0fe2104d6784c- d1937037avf3sleq1.html. Fonte: TERRA ([2017], on-line)9. https://noticias.terra.com.br/humanidade-esgota-recursos-da-terra-em-2016,80ea87f29e0fe2104d6784cd1937037avf3sleq1.html https://noticias.terra.com.br/humanidade-esgota-recursos-da-terra-em-2016,80ea87f29e0fe2104d6784cd1937037avf3sleq1.html https://noticias.terra.com.br/humanidade-esgota-recursos-da-terra-em-2016,80ea87f29e0fe2104d6784cd1937037avf3sleq1.html A História do Pensamento Geográfico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 Para que os indivíduos possam usufruir dos lazeres e divertimentos, é preciso que essas atividades sejam oferecidas fora dos seus horários de trabalho, e numa localização próxima da sua residência, que permita o deslocamento conveniente e acessível de ida e volta (CHRISTOFOLETTI, 1982). Nas sociedades industriais, o desenvolvimento tecnológico intensifica a pro- dutividade e promove a diminuição das horas de trabalho. O indivíduo passa a dispor de mais “horas livres”, que podem ser gastas em atividades culturais, recreativas, esportivas e sociais, entre outras (CHRISTOFOLETTI, 1982). Há, assim, a necessidade de organizar a distribuição espacial dos locais que permi- tam essas atividades, assim como dispor o seu horário de funcionamento para atingir o maior número possível de usuários. Considerando o ritmo das ativi- dades diárias, os programas de televisão, por exemplo, procuram atingir faixas distintas da população em suas transmissões matinais, vespertinas e noturnas (CHRISTOFOLETTI, 1982). As atividades produtivas e as características das classes socioeconômicas são importantes na análise têmporo-espacial. São significativas, por exemplo, as diferenças no uso do tempo entre as populações urbanas e as rurais. Outro aspecto está relacionado ao valor do tempo gasto. As pessoas de baixo nível social e cultural executam tarefas de baixo rendimento, pois o seu tempo é barato (CHRISTOFOLETTI, 1982). As pessoas de alto nível social e cultural apresentam valor do tempo muito mais elevado, cujo gasto não é destinado à execução de tarefas simples e rotinei- ras. Delegar as tarefas domésticas e de limpeza às empregadas é procedimento usual nas famílias abastadas, assim como os subalternos executam muitas tare- fas delegadas pelos patrões e dirigentes (CHRISTOFOLETTI, 1982). Não é interessante saber que existe um pensamento geográfico que pensa e arquiteta o espaço do qual usufruímos? O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 GEOGRAFIA REGIONAL Essa corrente de pensamento não se deu de forma isolada, mas no processo histó- rico, no século XVIII expandindo-se para o século XIX. É uma corrente contrária ao Positivismo e ao Naturalismo. Foi desenvolvida por Richard Hartshorne, que se baseou nos estudos de Alfred Hettner. Para Christofoletti (1982), a Geografia Regional procurou estudar as unidades componentes das diversas áreas da super- fície terrestre. Em cada lugar, área ou região, a combinação e a interação das diversas categorias de fenômenos refletiam-se na elaboração de uma paisagem distinta que surgia de modo objetivo e concreto. A Geografia Como Ciência Humana Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA HUMANA Lembro-me de quando ainda era uma menina e a primeira aula de Geografia sempre começava assim: a professora escrevia no quadro a palavra Geo/grafia e então separava GEO de GRAFIA e dizia que Geo significava Terra e GRAFIA estudo. Portanto, essa disciplina se comprometeria a estudar a Terra. Que Terra era essa que a professora mencionava? Ficávamos muitas vezes limitados a entender que a disciplina estudava o mundo, e assim permaneciamos com um conhecimento abrangente, mas de pouca complexidade. Penso que nada melhor para começarmos nossa discussão reavivando a memória para que possa- mos entender que essa ciência vai muito além do estudo da Terra. Para avançarmos nas nossas discussões sobre Geografia e Ciência Humana, vamos conhecer algumas noções da Geografia Humana? A Geografia Humana consiste em entender a relação entre o homem e o meio. Essa relação é recíproca, uma vez que está mediada pela tecnologia que altera o ambiente natural, pois recriamos o meio e estamos submetidos a ele constantemente. Alguns ramos da Geografia Humana nos ensinam muito sobre a relação com os outros. Alguns desses ramos são: a Geografia Física, a Geografia Humana, acrescidos de um terceito elemento, que é o fator econômico, comentados por Kozel e Filizola (1996): O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 Figura 2- Ramos da Geografia Humana Fonte: Kozel e Filizola (1996). Contudo, para Lacoste (1982), é importante que não se perca a visão global da Geografia, pois ela traria mais subsídios para a análise de determinados proble- mas. É importante perceber que o princípio da Geografia global é ao mesmo tempo físico e humano e [...] embora haja dificuldade, parece necessário manter o princípio da geografia global, ao mesmo tempo física e humana, encarregada de dar conta da complexidade das interações na superfície do globo entre os fe- nômenos que dependem das ciências da matéria, da vida e da sociedade (LACOSTE, 1982, p. 65). Ainda, o autor complementa: [...] é indispensável, porém, que uns e outros guardem contatos suficientes entre si, tenham preocupações epistemológicas comuns e que aqueles que são engajados na ação ocupem-se do emaranhado nesta ou naquela por- ção do espaço dos diversos fenômenos humanos (LACOSTE, 1982, p. 65). Hidrogra�a: rios, bacias hidrográ�cas, redes �uviais; Relevo: planícies, planaltos, serras. Clima: calor, frio, geada, neve. Vegetação: �orestas, campo, cerrado, caatinga e a distribuição das espécies vegetais. O “encaixe” do homem e a sua ocupação na geogra�a física com todos os seus recursos: solo, água, animais, vegetais, minerais. Tenta demonstrar como o homem explora e transfor- ma o ambiente por meio das atividades econômicas: agricultura, pecuária, indústria, serviços, comércio e meios de transporte. Geogra�a Física Geogra�a Humana Fator Econômico A Geografia Como Ciência Humana Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 Em síntese, a visão global da geografia culminaria na visão geral dos problemas e das necessidades da sociedade como um todo. Seria a capacidade de relacio-nar os problemas demonstrando uma preocupação em conjunto. A geografia não pode ser pensada de forma compartimentada. Quando a Geografia ocupa-se do estudo do meio natural, do homem e suas relações, o seu campo de atuação necessita do conhecimento que são produzidos por outras ciências do conhecimento, tais como: a Sociologia, a Antropologia e a História. Quadro 1 - Sociologia, Antropologia e História Sociologia: Focaliza as relações dos homens entre si, travadas no seu espaço e no seu tempo. Busca compreender as relações familiares,de trabalho, religiosas, de poder, de lazer e as relações existentes na organização e seus funcionamen- tos simultâneos. Decorre daí conhecimentos de outras áreas das Ciências Humanas, como por exemplo, a Economia (que tem como objeto de estudos relação de produção, assim como a distribuição dos bens necessários à sobrevivência) e à subordina- ção Política (relações de subordinação e resistência, relações de dominação que são desenvolvidas pelos humanos na sua convivência). Antropologia: O objeto de estudo tem como foco o homem e o que suas ações produzem. A antropologia se divide em adquirir connhecimentos sobre o ser humano enquanto espécie animal (campo da antropologia Física). Antropologia Cultural (campo das criações e ações humanas). Na antropologia ocorre, também, a interdisciplinaridade, pois essa necessita de- conhecimentos produzidos por outras Ciências Humanas tais como a Sociologia, História, Economia, assim como conhecimentos produzidos pelas Ciências da natureza ou Ciências Físicas, a química e as biológicas. História: Estuda-se o homem em seu contexto de espaço e tempo, assim como suas ações em diferentes lugares. Preocupa-se em compreender as permanên- cias e, ao mesmo tempo, as mudanças ou transformações no modo de vida do homem. Essa compreensão só é possível pela interdisciplinas de outras ciências Humanas, tais como a sociologia, a Economia, a antropologia, a política, etc. Fonte: Significados – Sociologia ([2017], on-line)10; Significados – Antropologia ([2017], on-line)11; Wikipédia ([2017], (on-line)12. O conhecimento produzido pelas diversas áreas das Ciências Humanas não é apenas um aglomerado de ciências estanques que foram geradas ao longo da Humanidade pelas necessidades dos homens em determinado período histó- rico. Ao contrário, essas ciências constituem um todo maior e indivisível, o que O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 nos leva a concluir, a priori, que o estudo da Geografia não pode ser entendido e compreendido apenas como a construção de um espaço, mas na constante rela- ção e produção do homem com esse espaço. Encontramos respaldo dessa indivisibilidade e interdisciplinaridade nas pala- vras de Penteado (1994, p. 19), o qual afima que [...] a produção do conhecimento compreende, pois, um processo de trabalho, atualmente organizado por uma “divisão do trabalho” entre cientistas de diferentes especialidades. No presente momento da his- tória das ciências, essa divisão tem a função de viabilizar a ação hu- mana de produção do conhecimento científico. Não impede, contudo, e chega mesmo a requerer, o recurso a saberes produzidos em outros campos, ou à construção de equipes interdisciplinares de trabalho. Isso porque a própria indivisibilidade da realidade exige sempre a volta ao todo, à compreensão abrangente. O estudo da Geografia com base na interdisciplinaridade deve privilegiar o encontro e a recursividade de outras ciências, a fim de não fragmentar o conhe- cimento e não limitá-lo ao estudo temporal e espacial. É preciso que haja a compreensão das ações do homem sobre si e os demais, assim como a ocupação desses espaços e os registros que o homem deixa ao longo de sua trajetória. A Geografia como ciência constitui um ramo de conhecimento indispensável para a formação de professores, que terão a responsabilidade de compreendê- -la como um espaço natural, mas que sofreu modificações de acordo com as necessidades do homem. Além disso, os professores deverão entender todas as contradições dessa área e as relações estabelecidas entre os grupos sociais em espaços e tempos históricos distintos. A Geografia Humana está vinculada às atividades do ser humano e o resul- tado dessas atividades no espaço geográfico. O encontro dos fenômenos que ocorrem no planeta Terra em função das ações dos homens denominou-se “Geografia Humana”. Conforme Demangeon (1952, on-line)13: [...] de início, a Geografia Humana aparece-nos como o estudo das re- lações dos homens com o meio físico. Esta noção nos vem, sobretudo da Geografia Botânica, por intermédio de Humboldt e de Berghans e, particularmente, dessa ciência botânica chamada Ecologia, que estu- da até que ponto os fatores do clima e do solo determinam a vida das A Geografia Como Ciência Humana Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 plantas [...]. Uma das primeiras preocupações do geógrafo é colocar os fatos humanos em relação com a série de causas naturais que podem explicá-los e recolocá-los, desta maneira, no encadeamento do qual faz parte (s.p). O objeto de estudo dessa ciência privilegia as relações entre os homens, no espaço em que esses estão situados. A relação entre as causas naturais e as ações dos homens são essenciais para se compreender esse espaço como parte integrante da vida dos seres humanos. Os fundamentos da Geografia Humana contribuíram para que os homens per- cebessem a relação entre eles e o meio assim como os elementos culturais, ambientais, sociais, físicos, biológicos e humanos. Uma interação não harmônica poderia atrapalhar o desenvolvimento da vida humana, além de diminuir a pro- dutividade e comprometer o desenvolvimento econômico (RODRIGUES, 1972). Diante do exposto, qual é a posição que a Geografia assume hoje? A geografia ocupa hoje uma posição de destaque no grupo das chama- das Ciências da Terra. Durante muitos anos sua aplicação era limitada ao fornecimento de informação de fatos nem sempre importantes. Nos últimos 20 anos, a geografia abandonou esta fase, ingressando na aná- lise e diagnóstico da problemática do desenvolvimento das nações [...] (RODRIGUES, 1972, p. 12). Considerando que a afirmação é de meados do século XX, o que podemos anali- sar em termos históricos é que as preocupações do autor estão ainda atualizadas. O desenvolvimento das nações está atrelado aos estudos e aos problemas da Geografia. A das questões mais debatidas no século XXI é o meio ambiente e a interação do homem com esse ambiente: Não basta saber como vivem os homens, mas sim conhecer as relações que eles estabelecem com o espaço que habitam. O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 [...] a Geografia Ambiental surge como mais uma corrente do pensa- mento geográfico, sendo que os seus adeptos pertenciam às escolas li- gadas às Geociências ou Ciências da Natureza, sendo desenvolvidas em países de língua inglesa (Estados Unidos, Inglaterra e Austrália), onde os pesquisadores defendiam uma abordagem sistêmica e o homem sen- do encarado como um ser integrante e interagente do meio, do ecossis- tema (SOUZA; MARIANO, p. 83, 2008, on-line)14. A abordagem sistêmica prevê a interação do homem em outros contextos sociais. Nessa situação, os contextos e o homem se entrelaçam e formam um sistema de relação. [...] a tendência ao estudar os sistemas como uma entidade e não como um aglomerado de partes está de acordo com a tendência da ciência contemporânea que não isola mais os fenômenos em contextos estrei- tamente confinados, mas abre-se ao exame das interações e investiga setoresda natureza cada vez maiores (ACKOFF, 1959, apud BERTA- LANFFY, 1975, p. 25). Diante da complexidade da vida contemporânea com todos os seus problemas e desafios, não é mais sustentável do ponto de vista humano e da natureza analisar os fatos que ocorrem de forma isolada. A consciência de que homem e natu- reza são indissociáveis abrem um leque de possibilidades para estudar o impacto dessa relação na saúde e na manutenção do meio ambiente. A Geografia humana utiliza-se dessa abordagem para compreender a ação do homem na natureza. Os ataques terroristas de setembro de 2001 prejudicaram, pelo menos du- rante uns oito anos, a causa ambientalista na escala mundial, pois desviaram atenções e recursos para o combate ao terrorismo, que se tornou a principal prioridade dos Estados Unidos – e, por extensão, de quase todo o resto do mundo desenvolvido. Para saber mais, acesse o link disponível em: <http://www.geocritica.com. br/Arquivos%20PDF/Repensando%20a%20Geografia%20escolar.pdf>. Fonte: Vesentini (2009). http://www.geocritica.com.br/Arquivos%20PDF/Repensando%20a%20Geografia%20escolar.pdf http://www.geocritica.com.br/Arquivos%20PDF/Repensando%20a%20Geografia%20escolar.pdf A História da Geografia No Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 A HISTÓRIA DA GEOGRAFIA NO BRASIL A Geografia passou por diferentes momentos no Brasil, produzindo não só a sua própria história, mas gerando reflexões sobre a sua metodologia. Faremos uma breve retrospectiva histórica, a fim de refletir sobre as práticas do fazer geográfico. No entanto, para a melhor compreensão da Geografia, cabem ao menos três perguntas: o que significa a palavra Geografia? Quem foram os pri- meiros a fazer esses registros? Quais eram os interesses que promoveram seu desenvolvimento? Kozel e Filizola (1996, p. 11) afirma que: [...] os gregos foram os primeiros a fazer registros sistemáticos de geografia, pois sua intensa atividade comercial permitia-lhes explo- rar e conhecer diferentes povos e lugares ao longo da costa do mar Mediterrâneo. A própria origem da palavra geografia é grega (“geo = terra; “grafia” = escrita, descrição), embora esses conhecimentos ini- ciais pouco se assemelhassem ao que hoje consideramos geografia. A síntese dos autores nos dá a compreensão de que a origem da palavra Geografia está diretamente ligada aos registros de uma atividade marítima com fins comerciais. Os escritores gregos foram significativos para os dados e informações com relação aos espaços e formas da Terra, para as relações dos homens nesse meio, e para o desenvolvimento geográfico que seria produzido posteriormente. O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E40 Até o final do século XVIII, esses dados e informações ficaram registrados em obras de estudos históricos e filosóficos. Nessas obras, eram encontrados relatos de viagens, relatórios estatísticos, catálogos sobre continentes e países. A união entre os interesses comerciais e o desejo da expansão religiosa impulsionou as navegações entre os italianos, árabes e portugueses. No entanto, devido às limitações técnicas do mesmo, e ao pensamento predominante da Igreja Católica, essas navegações tinham caráter quantitativo e descritivo das viagens. Ao longo do processo de constituição do capitalismo que foi iniciado na Europa, surgiram condições para a sistematização dos conhecimentos geográficos, que deixaram de ser apenas relatos e dados, para se estabelecerem enquanto estudo científico das questões geográficas. No início do século XIX, essas questões já estavam desenvolvidas a ponto de termos as seguintes sistematizações: A viagem de Cristóvão Colombo insere-se no cenário da expansão ultrama- rina liderada por Portugal e Espanha entre os séculos XV e XVI, constituin- do-se em um dos principais acontecimentos na passagem da Idade Média para a Idade Moderna. Assim, para compreendê-la, é necessário inseri-la no quadro das transformações por que passou a Europa na Baixa Idade Média (século XII ao XV), durante transição do feudalismo para o capitalismo co- mercial. O desenvolvimento do comércio monetário associado à projeção da bur- guesia, que aliada ao rei, irá promover a formação dos Estados Nacionais, são as principais transformações estruturais para consolidação do Antigo Regime europeu. Nesse contexto a expansão marítima europeia visava atin- gir as Índias (terra das valiosas especiarias), para atender as necessidades de ampliação dos mercados europeus afetados pela crise do século XIV (“guer- ra, peste e fome”), bem como, para eliminar o monopólio comercial italiano no Oriente. Para saber mais, acesse o link, disponível em: <http://www.his- torianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=298>. Fonte: História Net ([2017], on-line)15. http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=298 http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=298 A História da Geografia No Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 41 ■ o conhecimento do planeta para dominar a dimensão e a forma dos continentes; ■ informações sobre a superfície terrestre, a fim de estudar e comparar os diferentes lugares; ■ aprimoramento de técnicas cartográficas, que eram fundamentais para a representação dos fenômenos, dos elementos observados e a localiza- ção dos lugares. Até aqui, respondemos, ainda que de forma sintetizada, as três perguntas iniciais. Cabe a você, caro(a) aluno(a), pesquisar mais sobre o assunto, a fim de ampliar os seus conhecimentos pertinentes ao assunto e que serão essenciais para o tra- balho pedagógico. A compreensão de que as mudanças ocorridas na Geografia se deram em decorrência do processo histórico e dos conhecimentos acumulados pelas gera- ções anteriores são essenciais para o pensamento geográfico. Ao tomarmos consciência de que a história da Geografia teve início na Grécia, que a sua expansão foi impulsionada por motivos comerciais e religiosos, e que no século XIX as técnicas para a produção de uma Geografia sistematizada e científica estavam desenvolvidas, cabe-nos, agora, responder a seguinte pergunta: como ocorreu a história da Geografia no Brasil? A Geografia no Brasil também passou por diferentes momentos, gerando reflexões acerca da metodologia do fazer geográfico. Refletir sobre o modo como se ensinava é fundamental para uma melhor compreensão de como foi implan- tada a Geografia no país em diferentes momentos históricos. Sendo assim, convidamos você para essa retrospectiva histórica. Mas, antes disso: Que lembranças você guarda de seus tempos de estudante dos anos iniciais do Ensino Fundamental, como hoje denominamos? Recorda-se dos conte- údos que eram desenvolvidos? Como eram as aulas? E como eram os livros didáticos e os recursos que os professores utilizavam? O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E42 Ampliar a concepção tradicional de ensino nos leva a compreender que a prática didático-pedagógica estava alicerçada na transmissão dos conteúdos de forma estanque e sem a proposta de uma percepção crítica dessa Geografia e dos alu- nos. Pelo contrário, eram exigidas apenas a memorização de nomes e números, sem, contudo estabelecer relações, analogias ou generalizações. Com a fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), em 1934, a Geografia no Brasil passou a ser ensinada por professores licenciados, sob influência da escola Francesa de Vidal de La Blanche. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), [...]essa geografia era marcada pela explicação objetiva e quantitativa da realidade que fundamentava a escola francesa de então. Foi essa escola que imprimiu ao pensamento geográfico o mito da ciência [...] não-politizada, como argumento da neutralidade do discurso científico. Tinha como meta abordar as relações do homem com a natureza de forma objetiva, buscan- do a formulação de leis gerais de intrepretação (BRASIL, 2000, p. 103). Os parâmetros indicam que a apropriação da Geografia adotada da escola Francesa e os seus desdobramentos deram início à chamada Geografia Tradicional, e con- firmam a valorização do homem como sujeito histórico. No entanto, ao estudar o espaço geográfico e a relação homem-natureza, as relações sociais não eram priorizadas, imprimindo uma ciência e um pensamento geográfico não politi- zado, ou seja, sem a pretensão de uma análise crítica da realidade social. Até as primeiras décadas do século XIX, o ensino de Geografia se limitava a uma concepção tradicional. Os livros didáticos se limitavam a uma Geogra- fia descritiva e enumerativa como se fossem um simples catálago. Os textos eram verdadeiros relatos que mais se assemelhavam a fotografias faladas, tal a riqueza de detalhes utilizados na descrição das diversas paisagens. Fonte: adaptado de Kozel e Filizola (1996). A História da Geografia No Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 43 Ao se estudar, por exemplo, a população, excluia-se a sociedade e as relações sociais; estudavam-se as técnicas e os instrumentos de trabalho, mas excluia- -se o processo de produção. Em síntese, as relações socias não eram discutidas, retirando o homem de seu caráter social, articulando o ensino de Geografia de forma fragmentada e com viés naturalizante. Cabe lembrar ainda que a perspectiva de uma Geografia neutra dissociada do espaço vivido pela sociedade e das relações contraditórias de produção e organi- zação desse espaço marcou a produção de livros didáticos até meados da década de 1970. Além disso, ainda hoje, alguns desses livros apresentam ideias e inter- pretações defendidas pela Geografia Tradicional. A partir dos anos 1950, com o término da segunda Guerra Mundial, a realidade tornou-se mais complexa em função do desenvolvimento do capitalismo e da hegemonia dos Estados Unidos. A reelaboração das condições de dependência do Brasil diante desse novo cenário levaram as classes sociais brasileiras a participarem dos debates sobre os problemas nacionais: a urbanização foi acentuada e o espaço agrágrio sofreu modificações estruturais comandadas pela Revolução Verde em função da indus- trialização e da mecanização das atividades agrícolas em várias partes do mundo. É nesse momento de transição que a Geografia Tradicional torna-se insu- ficiente para dar conta de toda essa complexidade e, sobretudo, explicá-la, uma vez que as realidades locais passaram a ter dependência externas e de escala mundial. Encontramos respaldo nas palavras de Pontuschka; Paganelli; Cacete (2007, p. 51), quando afirmam que [...] o espaço geográfico, mundializado pelo capitalismo, tornou-se complexo e as metodologias propostas pelas várias tendências da Geo- gráfica Tradicional não eram capazes de apreender essa complexidade. Novas metolodigas deveriam surgir para empreender tal tarefa [...]. A complexidade comentada pelos autores está alicerçada por uma nova ordem mundial que privilegiava as relações mundiais e análises de ordem econômica, social, política e ideológica. Por outro lado, com o desenvolvimento dos meios técnicos e científicos, impulsionaram o estudo do espaço geográfico globalizado. Os geógrafos passaram a utilizar, de modo mais expressivo, a leitura de imagens de satélites, sobretudo na metereologia e na climatologia. O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E44 A crítica à Geografia Tradicional surge a partir da década de 1960, sob a influência das teorias marxistas, cujo eixo de preocupação está nas relações entre a sociedade, o trabalho e a produção do espaço geográfico. A partir desse momento, os geógrafos passam a estudar a sociedade por meio das relações de trabalho e da apropriação humana para produção e distribuição dos bens necessários. “Surge a crítica ao Estado e às classes sociais dominantes tendo como proposta uma Geografia que atendesse aos interesses coletivos, pro- pondo, assim, uma luta de classes” (BRASIL, 2000, p.105). Nessa perspectiva teórica, explicar o mundo não é mais suficiente, mas é pre- ciso transformá-lo. “[...] Marx e seus seguidores afirmavam que só a perspectiva de transformar o mundo permitiria sua compreensão, só a visão crítica permitia apreender a essência e o movimento dos processos sociais” (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE; 2007, p. 54). A Geografia deixa de ser neutra e ganha contornos e conteúdos políticos que são significativos na formação do cidadão. A implicação dessa transformação teórica e metodológica marxista influenciou a produção da Geografia no Brasil, sobretudo, nas décadas de 80 e 90 do século passado, inspirando, também, a nova geração de pesquisadores. Essa nova proposta teórica levou inovações para o pensamento geográfico nacional, mas também promoveu graves distorções em relação à dominação quantitativista, predominantemente após a democratiza- ção do país (ANDRADE, 2004). Tanto a Geografia Tradicional quanto a Geografia Marxista não atenderam à complexidade do momento histórico, pois não contemplaram a relação do homem com a natureza, deixando uma lacuna ao não contemplarem a dimen- são da sensibilidade de percepção do mundo. Por um lado, a Geografia Tradicional negligenciou um conhecimento que passasse pela subjetividade, uma vez que sua proposta estava alicerçada na visão positivista de mensurar, quantificar e ordenar. E, por outro lado, a Geografia Marxista considerava alienante qualquer explicação subjetiva (BRASIL, 2000). Cabe lembrar que, por um lado, enquanto nas universidades, na década de 1970, os debates acalourados se detinham à busca de novos paradigmas teóri- cos para o ensino de Geografia, o mesmo não acontecia com a escola pública de primeiro e segundo graus (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007). A História da Geografia No Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 45 Caro aluno, agora pense: qual é o impacto da Lei 5692/71 para o ensino de Geografia? Para responder a esta pergunta, precisamos lembrar que essa medida legal foi tomada em plena Ditadura Militar, o que significava que a discussão dos problemas do país era praticamente ausente e restrito a um círculo fechado, o que eliminava qualquer possibilidade de diálogo com a sociedade. Com a promul- gação da Lei 5.692/71, foi extinto o antigo ginásio e houve a fusão deste com o primário (antigo grupo escolar), ficando, então, constituída a escola de primeiro grau de oito anos. Por meio de um olhar atento sobre essa fusão, observa-se o retrocesso em relação às verbas educacionais que se mostravam insuficientes diante do número de alunos a ser escolarizado. Inevitavelmente, as mudanças chegaram ao currículo e à grade curricular, com a criação dos Estudos Sociais e Educação Moral e Cívica. O que signifi- cou essas mudanças no ensino de Geografia e na formação dos alunos? Tais mudanças oriundas da Lei já citada transformou o ensino de Geografia em uma disciplina inexpressiva no interior do currículo, resultando na fragmentação do conhecimento e, por consequência, a má formação de uma geração de alunos. As repercussões da Lei influenciaram também a formação docente, pois não havia a reflexão profunda sobre os fundamentos epistemológicos e metodológicos das disciplinas,
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