Buscar

Terapia lacaniana_ você é o que você escolhe _ Super

Prévia do material em texto

Clique e Assine a partir de R$ 7,90/mês
Ciência
Terapia lacaniana: você é o que você escolhe


S
Lacan começou defendendo um “retorno a Freud” e acabou sugerindo uma nova terapia, que explora o
inconsciente não para escavar o passado, mas para propor novas formas de viver o futuro.
Texto: Agência de Conteúdo | Edição de Arte: Verúcio Ferraz | Design: Andy Faria
eguidor de Sigmund Freud, o francês Jacques Lacan desenvolveu uma abordagem que trazia
nova ideias para a psicanálise, mas, ao mesmo tempo, propunha o que os lacanianos chamam de
“retorno a Freud”. No início da carreira, Freud estava intrigado com coisas que fazemos
aparentemente de maneira aleatória, mas que podem revelar uma intenção ou compreensão escondida
fora da consciência. É o que se chama de ato falho – como quando você não quer voltar da viagem de férias
e percebe que esqueceu o documento de identidade no hotel só quando está na frente do balcão da
companhia aérea.

https://www.assine.abril.com.br/portal/assinar/revista-superinteressante?origem=sr_si_topo_mobile&utm_source=sites&utm_medium=sr&utm_campaign=sr_si_topo_mobile
https://super.abril.com.br/
https://www.facebook.com/Superinteressante
https://www.twitter.com/revistasuper
https://youtube.com/superinteressanteweb
https://www.instagram.com/revistasuper
https://open.spotify.com/user/superinteressante
Lacan focou seus estudos na manifestação do inconsciente, que Freud abordou em textos como A
Interpretação dos Sonhos, Sobre a PsicoPatologia da Vida Cotidiana e Os Chistes e sua Relação com o
Inconsciente, publicados entre o �m do século 19 e o começo do século 20. Para Lacan, o jeito de o
inconsciente se mostrar é pregando peças – como trocando o nome do marido pelo do ex-namorado. E a
culpa não é sua: os lacanianos dizem que as pessoas não têm noção de tudo que fazem ou sentem em
função da existência do inconsciente.
Os lacanianos acreditam que o inconsciente se forma de rupturas traumáticas do curso normal das ações.
Isso costuma ocorrer quando alguém não entende, racionalmente, algum acontecimento de sua vida. Um
exemplo são as primeiras sensações de excitação sexual que acontecem na infância. O bebê experimenta o
prazer, mas a mente não compreende exatamente o que se passa no corpo.
Os cuidados de mãe que podem causar essa excitação – amamentar, embalar, trocar fralda levam a criança
inconscientemente a se imaginar como objeto de desejo daquela mulher. Quando o bebê enxerga o pai, o
coloca como um limite ao desejo da mãe – e com o tempo encontrando o caminho da mediação entre o
desejo e as leis sociais, que servem para todo mundo.
Esse é o primeiro sinal de que, nessa vida, não dá para fazer tudo que dá na telha. A vontade de ser o objeto
de desejo da mãe sucumbe à compreensão de que, no mundo, existem regras e autoridades. E tudo que é
julgado como fora das regras vai para o inconsciente.
Profundezas – O emaranhado do inconsciente se revela com sonhos e atos falhos. Photus/Shutterstock
É aí que nos dividimos em dois: uma metade movida a desejo, incitada pelo inconsciente, e outra que
administra as barreiras a esses impulsos primordiais. Essa cisão também é fundamental para a formação
da subjetividade e da personalidade de cada um de nós. Essa divisão entre o que se quer e o que se pode
querer é que instala os problemas que levam o sujeito a procurar uma terapia como a psicanálise
lacaniana, que se volta à exploração do inconsciente para tentar destravar essa relação angustiante.
O SIMBÓLICO, O REAL E O IMAGINÁRIO
Como o id, o ego e o superego de Freud, Lacan também cunhou seu três conceitos sobre o que forma nossa
parte psicológica. O simbólico é a realidade externa, com os valores de o que é certo e o que é errado que
recebemos de fora e que temos que processar. O imaginário é como gostamos de de�nir as pessoas e
situações que cercam nosso convívio, é o que guarda nossa ideia de mãe ideal ou mulher bonita, por
exemplo. Já o real de Lacan é o impulso que dá vida aos nossos desejos submetidos à censura do simbólico.
O psicanalista lacaniano inicia o processo com um conjunto de entrevistas com o objetivo de avaliar se a
pessoa tem, de fato, um problema que pode ser tratado pela psicanálise. Segundo a psicanalista Claudia
Riol�, diretora do Instituto da Psicanálise Lacaniana (Ipla), não há uma frequência padrão para as sessões.
O número semanal de encontros é estipulado em entrevistas preliminares, que vão indicar o nível de
angústia do cliente e a necessidade de fazer um tratamento mais acelerado ou mais lento.
Cumprindo essas etapas, o analista evita iniciar o tratamento com quem não tem indicação para esse tipo
de terapia. Freud dizia que a psicanálise não era indicada para pessoas não inteligentes, psicóticos ou
quem vivia situações de urgência, inaugurando uma lista que até hoje passa por modi�cações. Lacan
chegou a dizer que a sua terapia não era adequada para católicos praticantes, pessoas que nunca se
sentiam culpadas, milionários, canalhas e quem não tivesse desejo.
Como o objetivo de explorar o inconsciente, a abordagem funciona de um jeito parecido com a psicanálise
de Freud, por livre associação: o paciente deve falar abertamente, sem amarras, de tudo que lhe passar
pela cabeça durante as sessões. Os consultórios lacanianos normalmente também têm o divã para, do
mesmo jeito que os freudianos, permitir que o cliente relaxe e �que de costas para o analista.
Há casos em que os pacientes preferem �car sentados em uma poltrona lateral e outros em que o
psicanalista avalia que é melhor �car frente a frente com ele. Também é a análise individual que pode levar
à conclusão sobre a necessidade de sessões de 45 a 50 minutos ou sessões mais curtas ou mais demoradas,
que podem ultrapassar duas horas de duração.
Ao ouvir os relatos do cliente, o terapeuta busca identi�car as manifestações do inconsciente nas narrativas
de sonhos, detalhamento dos sintomas, chistes e atos falhos. Depois de pescar essas expressões no mar de
conteúdo gerado pelas sessões, o desa�o do analista e do paciente é escarafunchar cada uma delas e
analisá-las para descobrir o que signi�cam e, assim, livrar a pessoa de seu sofrimento psicológico.
AULA DE PORTUGUÊS
A presença de conceitos da linguística são constantes na terapia lacaniana. Na mesma época que Lacan
investigava o ato falho de Freud, o linguista russo Roman Jakobson a�rmava que a linguagem era uma
fonte com grande potencial criativo. Fazendo pequenas trocas de fonemas em uma palavra, é possível
mudar todo o sentido de uma frase. Imagine que você trabalha em um escritório onde cada dia alguém leva
um lanche para os demais matarem a fome.
Certo dia, você pega um café e vai ver o que trouxeram. Veio bolo de milho, que você detesta. Querendo
saber quem é o responsável, pensa em perguntar “quem trouxe esse lanche?”, mas o que sai é “quem trouxe
esse lixo?” Alterar tanto o sentido com uma pequena mudança acontece por causa da estrutura da
linguagem estudada pelo russo. E Lacan entendia que o inconsciente se organiza da mesma maneira.
Os lacanianos tomaram emprestados outros conceitos de Jakobson. Para eles, os elementos que estão no
inconsciente não aparecem de forma literal, e sim por meio de �guras de linguagem como a metáfora e
metonímia. Na metáfora, um elemento entra no lugar do outro.
Assim, um personagem de um sonho pode ser a representação de outra pessoa do passado ou do presente
do paciente: sonhar com o chefe exigente pode ser, na verdade, um encontro com o pai. Já na metonímia,
um elemento é colocado do lado de outro para ganhar um novo sentido: se você passar o sonho todo em
busca de um batom, ele pode representar uma mulher por quem você é apaixonado, por exemplo.
“Os elementos do sonho nunca vêm como uma leitura prévia, como se fossem uma carta de tarô. Eles
precisam ser lidos, considerando que, por ser estruturado como uma linguagem, o inconsciente de cada
pessoa tem sua chave de leitura diferente”, diz a psicanalista Claudia Riol�. No desenrolar do tratamento, o
terapeuta pode ir ajudando o clientena direção de um insight, de uma nova elaboração de seus problemas
que o permita reencontrar o equilíbrio.
O objetivo é que o sujeito reconheça onde as coisas vão mal com base na própria fala, assumindo um novo
jeito de se comportar e também a responsabilidade do que ocorreu até então. Ou seja, nada de culpar os
outros ou o seu próprio inconsciente: para Lacan, temos de admitir nosso papel na geração dos nossos
sofrimentos.
AS CLÍNICAS
Lacan passou por duas fases em seus estudos sobre a psicanálise, chamadas de clínicas. Na primeira delas,
entre as décadas de 1950 e 1960, a análise lacaniana era mais voltada aos conceitos de imaginário e
simbólico. A partir dos anos 1970 e até o �m da vida, em 1981, ele direcionou seus estudos para a segunda
clínica, voltada ao real. É uma característica dessa segunda fase a meta de levar o paciente a eliminar seus
problemas sem a necessidade de anos de terapia.
Isso porque o foco está na correção de rota, e não na compreensão prévia das causas. Nesses casos, o
paciente até pode discutir com o terapeuta a possibilidade de encaminhar o �m do tratamento ou de
manter as sessões, aí, sim, com objetivo de ir além da cura, buscando autoconhecimento e a explicação
para os sintomas que tinha antes de procurar a psicoterapia.
CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
Quem aplica a segunda clínica crê em um tratamento cuja prioridade não seja remexer no passado. O alvo
é o que o presidente do Ipla, Jorge Forbes, chama de invenção do futuro. A nova elaboração alcançada na
terapia é voltada para a retomada de uma vida sem sofrimentos psíquicos desnecessários ou tomados de
empréstimo.
Os lacanianos consideram os preceitos da segunda clínica mais adequados para os problemas psíquicos
típicos do mundo contemporâneo. É que, na época em que Freud idealizou teorias ligadas ao complexo de
Édipo (aquele dos desejos infantis ligados aos pais) e o complexo de castração (a sensação de ameaça
quando as crianças percebem as diferenças entre os sexos), que também inspiraram as clínicas de Lacan,
vivia-se em uma sociedade vertical – pobres seriam pobres sempre, mulheres teriam papéis determinados
na sociedade etc.
Também era um período de regras sociais rígidas e claras, com a �gura do líder paterno reproduzida no
trabalho (chefe) e no país (Estado). Os padrões de comportamento também eram estáveis, o que facilitava a
interpretação dos símbolos articulados pelo inconsciente. O repertório de sonhos era muito menor.
Os elementos que estão no inconsciente não aparecem de forma literal, e sim por meio de �guras de linguagem como a metáfora e metonímia.
(/)/Superinteressante
Agora vive-se sob os efeitos da chamada revolução do laço social, com a consolidação de relações
horizontais, em rede, diferentes das anteriores, verticais e hierárquicas. Mudaram as relações de trabalho,
multiplicaram-se os modelos de família e, baseado nisso, mudaram também as fontes dos sintomas que
levam as pessoas a buscar terapia.
A ANGÚSTIA DAS ESCOLHAS
As queixas resultantes das tais castrações dos desejos que eram comuns no passado aos poucos vão
perdendo espaço para outro tipo de reclamação, tão conhecida entre os nossos pares: o não ter vontade de
fazer nada, não conseguir dar grande valor a coisa alguma.
Essa mudança está ligada a uma nova organização social, que é cheia de opções de futuro. Em vez de um
caminho natural, as pessoas têm muito mais opções para se organizar como família, para conduzir a vida
pro�ssional e para manter seus relacionamentos. Mas esse leque de opções, que é bom, também gera
sofrimento.
A�nal, ao escolher uma entre dez opções se está renunciando aos benefícios das outras nove, o que gera
um sentimento de desorientação. “A angústia predominante é pelo futuro, razão pela qual não enfatizamos
mais a psicanálise do passado. Ele já não nos amarra tanto. O futuro assusta as pessoas”, diz o psiquiatra e
psicanalista Jorge Forbes, presidente da Ipla, no livro Psicanálise, a Clínica do Real, que reúne uma série de
textos sobre a análise lacaniana.
É na tentativa de domesticar esse futuro aparentemente indomável que os lacanianos de hoje preconizam a
troca do surrado clichê “Freud explica” pelo “Freud implica”, ou melhor, causa. É que na psicanálise
freudiana, e também na primeira clínica de Lacan, tudo que se buscava era a explicação dos sintomas por
meio do resgate de informações do consciente.
Mas a proposta da segunda clínica é usar os sinais do inconsciente para direcionar os novos rumos
psicológicos do indivíduo. Ou seja, as decisões da vida devem levar em conta o inconsciente para que o
rumo escolhido leve seja adequado ao sujeito. Mas isso deve ser feito sem deixar de se responsabilizar
pelas suas opções. A�nal, você é o resultado das suas escolhas.
CONCEITOS-CHAVE
• Inconsciente estruturado como linguagem 
Os dados do inconsciente têm estrutura semelhante à da linguagem. Por isso, as memórias e sentidos
retidos por lá se expressam combinadas como �guras de linguagem por meio de piadas, sonhos e atos
falhos.
• Real 
É o tipo de registro que não pode ser expresso em palavras e imagens. Corresponde ao do desejo sexual em
si.
• Simbólico 
Registro que guarda os valores absorvidos com base na vida social, como os conceitos de belo, certo e
errado.
• Imaginário 
É o campo das imagens idealizadas que servem de base para as relações com o ambiente e a formação da
personalidade. É no imaginário que está a ideia da mãe ideal, a mulher bonita, do velho sábio.
OS PASSOS DA TERAPIA
Até a roupa e os gestos do cliente são analisados pelo terapeuta em busca de atalhos para o
inconsciente.
1 • Livre 
A base da sessão é semelhante à pratica da psicanálise de Freud. Cliente no divã, de costas para o analista.
Mas, conforme o caso, o analisado pode �car sentado e até de frente para o pro�ssional. A sessão segue o
método da associação livre. Pede-se que o cliente fale do que lhe vem à cabeça, sem limites e temas
prévios.
2 • Roupas 
O terapeuta presta atenção às manifestações do inconsciente: sonhos, detalhamento dos sintomas e atos
falhos. Também leva em conta aspectos como mudanças no vestuário, alterações no gestual e ocorrência
de um rubor, que também são in�uenciados pelo inconsciente.
3 • Senhas 
A partir da ideia de que o inconsciente é estruturado como a linguagem, o analista interpreta as senhas do
MAIS LIDAS
inconsciente e contribui para que o cliente chegue a uma nova compreensão dos seus sintomas e
reconheça sua implicação em seus sofrimentos.
4 • Vida nova 
Na segunda clínica desenvolvida por Lacan, na última década de vida, não se trata de buscar as causas do
sofrimento, mas de gerar um novo posicionamento que permita inventar um modo de vida agradável para
a pessoa.
O que são a primeira e a segunda clínica de Lacan? 
Ao longo de sua carreira, Lacan desenvolveu duas clínicas, que se diferenciam pela natureza dos objetivos
do tratamento. A primeira, moldada entre 1953 e 1970, perseguia o resgate das razões do passado para o
sofrimento do presente.
A segunda, idealizada entre 1970 e 1981 e lapidada por seguidores de Lacan, busca uma nova elaboração
dos sentimentos buscando novas atitudes e uma nova compreensão da vida, sem, necessariamente, buscar
justi�cativas na historia do cliente.
Comportamento
O ser humano é o único mamífero que dorme em uma tacada só
Mundo Estranho
27 perguntas absurdas – e nossas respostas para elas
História
Quais são os 10 Mandamentos para cada religião?
História
Gin, o inimigo público número um
CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
https://super.abril.com.br/comportamento/o-homem-e-o-unico-animal-a-dormir-de-uma-tirada-so/
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/27-perguntas-absurdas-e-nossas-respostas-para-elas/
https://super.abril.com.br/historia/quais-os-10-mandamentos-para-cada-religiao/
https://super.abril.com.br/historia/gin-o-inimigo-publico-numero-um/
PODCAST TERAPIA PSICANÁLISE PSICOLOGIA
SIGA 
BEBÊ.COM
BOA FORMA
CAPRICHO
CASACOR
CLAUDIA
ELÁSTICA
ESPECIALLISTAS
GUIA DO ESTUDANTE
PLACAR
QUATRO RODAS
VEJA
VEJA RIO
VEJASÃO PAULO
VEJA SAÚDE
VIAGEM E TURISMO
VOCÊ S/A
Grupo Abril
Política de Privacidade
Como desativar o AdBlock
Abril SAC
Anuncie
QUEM SOMOS FALE CONOSCO TERMOS E CONDIÇÕES TRABALHE CONOSCO
Copyright © Abril Mídia S A. Todos os direitos reservados.
https://super.abril.com.br/tudo-sobre/podcast-terapia
https://super.abril.com.br/tudo-sobre/psicanalise
https://super.abril.com.br/tudo-sobre/psicologia
https://www.facebook.com/Superinteressante
https://www.twitter.com/revistasuper
https://youtube.com/superinteressanteweb
https://www.instagram.com/revistasuper
https://open.spotify.com/user/superinteressante
https://bebe.abril.com.br/
https://boaforma.abril.com.br/
https://capricho.abril.com.br/
https://casacor.abril.com.br/
https://claudia.abril.com.br/
https://elasticaoficial.com.br/
https://especiallistas.abril.com.br/
https://guiadoestudante.abril.com.br/
https://veja.abril.com.br/placar/
https://quatrorodas.abril.com.br/
https://veja.abril.com.br/
https://vejario.abril.com.br/
https://vejasp.abril.com.br/
https://saude.abril.com.br/
https://viagemeturismo.abril.com.br/
https://vocesa.abril.com.br/
https://grupoabril.com.br/
https://super.abril.com.br/politica-de-privacidade/
https://super.abril.com.br/como-desativar-adblock/
https://www.sac.abril.com.br/
http://publiabril.abril.com.br/?utm_source=abril.Com&utm_medium=referral&utm_campaign=abril.com
https://grupoabril.com.br/#quem-somos
https://super.abril.com.br/fale-conosco/
https://super.abril.com.br/termos-de-uso/
https://www.vagas.com.br/empregos/abril-digital

Continue navegando