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DESCRIÇÃO Introdução à história do Movimento Psicanalítico; a Psicologia Analítica de Jung; a perspectiva ferencziana; a teoria winnicottiana; a Escola Lacaniana. PROPÓSITO Compreender os principais conceitos de importantes autores herdeiros do pensamento psicanalítico, desde sua fundação até a contemporaneidade, observando suas variações e divergências capazes de gerar novas proposições teórico-clínicas no campo psicanalítico, enquanto elemento fundamental para a sua futura atuação como psicólogo. PREPARAÇÃO Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha à mão alguns dicionários de Psicanálise, tais como: Vocabulário de Psicanálise, de Laplanche e Pontalis, publicado pela Martins Fontes Dicionário de Psicanálise, de Elizabeth Roudinesco e Michel Plon, publicado pela Zahar Editor OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar os conceitos junguianos e as divergências em relação à teoria freudiana MÓDULO 2 Reconhecer os principais conceitos de Ferenczi colaborativos no aprofundamento da Psicanálise MÓDULO 3 Identificar a relevância dos estudos psicanalíticos na matriz de desenvolvimento humano mãe- bebê a partir dos conceitos winnicottianos MÓDULO 4 Descrever os principais conceitos lacanianos como a releitura da obra freudiana INTRODUÇÃO A criação da Psicanálise por Sigmund Freud aconteceu há mais de um século. Durante o período de 1896-1902, Freud trabalhou árdua e predominantemente sozinho, observando seus pacientes atentamente, com intuito de entender e tratar a doença mental apresentada por eles. A descoberta original e fundamental – o inconsciente e a concepção da sexualidade infantil – tornaram-se os pilares da teoria psicanalítica e foram difundidos entre os médicos e pesquisadores da época que passaram a se reunir ao seu redor, colaborando e discutindo suas ideias. Entretanto, a aceitação de suas teorias não tardou em experimentar divergências e antagonismos vindos de alguns discípulos, o que acabaria por levar ao rompimento com tais pressupostos, inclusive, com o próprio Freud. Vale pontuar que a fundação, a propagação e o desenvolvimento da Psicanálise enquanto corpo teórico-clínico deveu-se a reflexões efetivadas em encontros e desencontros, correspondências, entre a série de estudiosos apreciadores da enigmática mente humana. Agora, se pudermos voltar no tempo, talvez consigamos entender os caminhos trilhados por alguns dos sucessivos discípulos de Freud, na ampliação e alteração de seus conceitos, referente ao desenvolvimento do comportamento e da psique humana. Fonte: Wellcomeimages/Wikimedia commons/licença (CC BY 4.0) Da esquerda para direita: Sigmund Freud, Stanley Hall, Carl Gustav Jung, Abraham Arden Brill, Ernest Jones e Sándor Ferenczi. Fotografia, 1909. MÓDULO 1 Identificar os conceitos junguianos e as divergências em relação à teoria freudiana CONHECENDO CARL GUSTAV JUNG Carl Gustav Jung foi um dos preferidos de Freud. Desde o primeiro encontro, que aconteceu após interesse de Jung nas ideias sobre os sonhos, decorrente da leitura do texto freudiano A Interpretação dos Sonhos (1900), o fundador da Psicanálise reconheceu Jung como aquele que poderia ser o herdeiro oficial do Movimento Psicanalítico. No entanto, esse olhar sobre Jung também refletia algumas preocupações e motivações políticas que se referiam às garantias do reconhecimento da Psicanálise. Fonte: Autor desconhecido/ wikipediacommons/Domínio público. Carl Gustav Jung. Existia em Freud um receio de considerarem a Psicanálise uma teoria judaica e, com a participação obstinada e mesmo passional de Jung (cristão, psiquiatra suíço, respeitado no meio científico), este temor poderia vir a se dissipar. Esse grande encontro, constituído de amizade e discussões teóricas durou um longo tempo, de 1907 até 1913, aproximadamente. Após muito trabalho realizado, muitas cartas trocadas, os antagonismos acabaram por surgir, tão fundamentais, até que um rompimento, um tanto violento, tornou-se inevitável. Observando a história, fica claro que a questão essencial de tal ruptura pode ser achada no entendimento do valor da sexualidade e da energia libidinal (sexual) como fundamento dos processos da psique humana, ponto essencial para Freud. Iniciava-se a construção da Psicologia Analítica de Jung, que se tornou uma das mais importantes teorias e linhas de psicoterapias da atualidade. A PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG Antes de estudarmos os conceitos mais destacados de Jung, é importante mencionar que ele entendia o ser humano como um ser único, indivisível, uma unidade, resultado de uma conjugação entre aspectos psicológicos e biológicos, funcionando dinamicamente. Veremos agora as principais proposições da Psicologia Analítica defendida por Jung. O CARÁTER DA LIBIDO O conceito de LIBIDO para Jung encontrou-se no cerne de sua divergência com Freud. A publicação de seu livro Metamorfoses e Símbolos da Libido (1912) apresenta sua visão, reconhecendo a libido como a totalidade da energia psíquica, ultrapassando a concepção puramente sexual. Não se tratava de excluir a disposição sexual da libido, mas incluí-la em uma nova perspectiva, mais ampla, da dinâmica da psique. Essa concepção monista da libido se contrapunha à de Freud, dualista. METAMORFOSES E SÍMBOLOS DA LIBIDO A obra ganhou uma revisão e passou a ser chamada de Símbolos da Transformação. A SEXUALIDADE ERA VISTA POR JUNG COMO UM ASPECTO DA VIDA E A ENERGIA PSÍQUICA, UMA MANIFESTAÇÃO VITAL TOTAL. NESTE SENTIDO, A LIBIDO PODE SER DIRIGIDA A UM AMPLO ESPECTRO DE INTERESSES: SEXUALIDADE – FOME – SONO – AFETOS – ESTADOS EMOCIONAIS, EM UM CONSTANTE IR E VIR, EM UM CONTÍNUO DE SUBSTITUIÇÕES. javascript:void(0) Fonte: Shutterstock.com Libido é movimento! Encontramos progressão e regressão, termos indicadores da direção da libido, responsáveis pelo ajuste às condições da vida, externa e interna. Na progressão, encontramos o avanço da libido, fluindo na direção do exterior e se adaptando ao mundo externo. Já na regressão, podemos perceber uma paralisação, um represamento devido à ativação de conteúdos e fantasias infantis que provocaram um fracasso adaptativo. Na regressão, veremos um encontro com alguma imagem arquetípica e a possibilidade de transpor um determinado obstáculo, ou seja, um complexo. Para tal, muito trabalho mental é necessário. PERSONALIDADE Para Jung, personalidade e/ou psique é a dinâmica de forças que vem do interior e avança para o exterior e vice-versa, sendo considerada como uma entidade total. Um dos processos importantes de desenvolvimento da personalidade é a individuação. Encontramos aí uma busca pelo singular e pela diferença em relação ao grupal. O processo de individuação é complexo, difícil, com etapas e pressupõe conflitos para se atingir uma integração e plenitude. Pressupõe a integração dos aspectos, consciente e inconsciente, através do autoconhecimento e do encontro com o funcionamento arquetípico, principalmente, com os arquétipos anima/animus, persona/sombra. javascript:void(0) INDIVIDUAÇÃO Significa tornar-se um ser único, incomparável, significando também que nos tornamos o nosso próprio si mesmo. Pode ser também traduzida como “tornar-se si mesmo” ou “o realizar-se do si mesmo” (JUNG, 1978). Fonte: Shutterstock.com O CONCEITO DE INCONSCIENTE COLETIVO E ARQUÉTIPOS Para falar do conceito de inconsciente coletivo, faz-se necessário estabelecer comparação com os conceitos de consciência e inconsciente individual. CONSCIÊNCIA Pode ser definida como a possibilidade de acesso a uma série de elementos psíquicos, um fluxo contínuo que se alterna indefinidamente; presença e ausência, interior e exterior, pelo qual teremos a possibilidade de conhecer nossa essência e de nos tornarmos cientes de nossa personalidade. Nosso eu/ego e consciência encontram-se intimamente associados. INCONSCIENTE INDIVIDUAL OU PESSOAL É entendido como o extrato mais básico e aparente, próximo à superfície, ou seja, o que já foi acessado pela consciência.Refere-se à sorte de experiências pessoais adquiridas na interação com o mundo durante sua existência. Nesse sentido, ele é único. É nesse inconsciente que podemos encontrar o fato gerador do conflito, o que um dia quisemos esquecer, o que foi rejeitado/recalcado, experiências consideradas traumáticas. Tudo aquilo que foi consciente e que da consciência foi subtraído – memórias, emoções, dores, imagens – e que, portanto, não se tornou conciliável com meu eu, pertence ao inconsciente pessoal e gera o que chamamos de complexos. Estes complexos têm uma energia psíquica e podem ser acionados por situações do cotidiano. São agrupamentos de sensações, pensamentos e afetos que, ao serem ativados, reagem de forma vigorosa e tendem a controlar o comportamento, a personalidade. Um complexo despertado domina pensamentos, ações e comportamentos, e pode produzir sintomas. Muitas vezes, encontramos arquétipos associados aos complexos. Chegamos ao inconsciente coletivo, um conceito essencial da Psicologia Analítica. Caracteriza-se como uma parte que se distingue do inconsciente individual, pois nunca fora consciente. Para entendê-lo, será necessário conhecer alguns aspectos da Mitologia e Antropologia. Define-se pelo herdado, inerente, pelo que há de mais primitivo e profundo na psique. É um depósito de experiências universais, atemporal, de temas vividos em diferentes culturas e espaços por todos os indivíduos. É, portanto, um conjunto de experiências de caráter repetitivo que recebemos de nossos ancestrais e que moldam nossa forma de reagir e entender o mundo, geração após geração. Iremos perceber essas imagens - registros simbólicos comuns - em cada um dos indivíduos. SEGUNDO O DICIONÁRIO MICHAELIS, VERSÃO ON- LINE, ARQUÉTIPO É UM “TIPO PRIMITIVO OU IDEAL; ORIGINAL QUE SERVE DE MODELO; MODELO, O EXEMPLAR OU O ORIGINAL DE UMA SÉRIE QUALQUER”. Fonte: Shutterstock.com NO DICIONÁRIO AURÉLIO, VERSÃO ON-LINE, “MODELO OU PADRÃO PASSÍVEL DE SER REPRODUZIDO EM SIMULACROS OU OBJETOS SEMELHANTES”. Desde o nascimento, já se encontram impressas experiências significativas da humanidade que, servindo de modelo, inclinam o indivíduo a pensar, pressupor e agir de forma semelhante, ou seja, um padrão pré-formado de comportamento, independentemente do tempo e cultura. A estas predisposições inatas, Jung deu o nome de arquétipos - uma série de símbolos e imagens universais representativas observadas no comportamento. Os arquétipos podem ser encontrados em sonhos, fantasias, mitos. Existem diferentes arquétipos na mente humana, todos relacionados ao cotidiano da experiência e existência do ser humano. Vamos exemplificar alguns deles, tais como self; animus e anima; a persona e a sombra; a mãe e o herói. SELF Representa a integração, a totalidade da psique, o que inclui o consciente-inconsciente e os arquétipos. Executa um trabalho de mediador e organizador das temáticas psíquicas. É o centro da totalidade. Fonte: Shutterstock.com ANIMUS E ANIMA Essas duas imagens são, para Jung, “imagens da alma”. Consideradas representações inconscientes, imagens psíquicas do que reconhecemos nas manifestações do masculino e feminino respectivamente. Cada ser humano possui representações de ambos os arquétipos na sua psique, integrados em uma constituição bissexual, andrógina. De acordo com o extrato biológico e o contexto cultural, observamos uma diferenciação maior ou um predomínio de manifestações do masculino ou do feminino, no homem e na mulher. Interessante lembrar que, nos relacionamentos afetivos, estas representações arquetípicas cruzadas estarão presentes na construção do ideal de parceria para cada um dos envolvidos. Observe a importância deste aspecto nas psicoterapias de casal. Fonte: Lauren Raine/Wikimedia commons/CC 3.0. Fonte: Shutterstock.com PERSONA E SOMBRA São dois arquétipos que não se confrontam, mas são polos facilmente observáveis nas relações do dia a dia. Persona é um conceito que apresenta interfaces do eu com a cultura. Mais precisamente, uma negociação do eu/ego com as exigências da cultura no cumprimento de papéis sociais, sejam eles familiares, pessoais e/ou sociais. É comum ser descrito como “a máscara social”, já que revela um sentido de adaptação ao esperado socialmente. Portanto, persona é o que encenamos socialmente, como nos mostramos nos diferentes espaços que frequentamos por meio dos diferentes papéis sociais – filho, aluno, professor, profissional. Pertencer ao grupo social, se inter-relacionar, ser aceito, acarreta, muitas vezes, submissão ao desejado socialmente. Essa perspectiva indica a direção do próximo conceito. Sombra é um conceito que se refere a conteúdos inconscientes, nosso lado obscuro, recusado por nós – o abominável, logo, temido. Organiza-se durante todo o desenvolvimento do indivíduo, pelos sucessivos “nãos” recebidos na tentativa de obtenção de aprovação social e pessoal. Trata-se de um aglomerado de frustrações, atitudes, afetos e concepções que reconhecemos como inaceitáveis e que encaramos como um “limbo” da psique, na esperança de mantê-los afastados, inclusive, de nós mesmos. A sombra nos revela a existência de um outro dentro de nós, ameaçando-nos de dentro, arriscando a perda do amor e lugar ocupados na sociedade. Contudo, quanto mais nos ocupamos em deixá-la fora de cena, por meio de diferentes mecanismos de defesa, em busca de uma imagem idealizada, mais a sombra crescerá e mais ameaçará nossa existência. A integração entre o que realmente somos e o que podemos atender ao outro é o caminho da individuação e da saúde mental. Fonte: Shutterstock.com GRANDE MÃE Ligada à representação da maternidade, com seus aspectos positivos e negativos. A energia da maternagem é o que encontramos associado ao arquétipo. Você já visitou uma família com um recém-nascido? Se sim, já deve ter experimentado esse fluxo energético no qual todos parecem envolvidos. Todos que se aproximam deste bebê conectam-se com tal energia. O nascimento de uma criança coloca em jogo este arquétipo; na verdade, a relação mãe-bebê faz emergir esta energia psíquica. Desde o nascimento, construímos internamente essa imagem primordial a partir das vivências e relações travadas com essa que nos gerou e com todos que se aproximam, a partir desta perspectiva energética. A grande mãe pode ser caracterizada como aquela que dá a vida, nutre e cuida. Vários são os traços essenciais definidos por Jung deste arquétipo. Seus atributos são o maternal: simplesmente, a mágica autoridade do feminino; a sabedoria e a elevação espiritual além da razão; o bondoso, o que cuida, o que sustenta, o que proporciona as condições de crescimento, fertilidade e alimento; o lugar da transformação mágica, do renascimento; o instinto e o impulso favoráveis; o secreto, o oculto, o obscuro, o abissal, o mundo dos mortos, o devorador, sedutor e venenoso, o apavorante e fatal (JUNG, 2002). Encontramos nesta descrição dois lados desta grande mãe: Fonte: Shutterstock.com POSITIVO A vida e a proteção Fonte: Shutterstock.com NEGATIVO O engolfamento e a alienação. Através de Jung, podemos perceber que aquela que protege e acolhe pode também apresentar seu lado castrador e aprisionante. Vida e morte! Com o amadurecimento, esta imagem arquetípica será a base da forma como vivemos nossa autoestima, nosso autocuidado, nossa capacidade de amar e cuidar do outro. Fonte: Shutterstock.com HERÓI Tem como representação a imagem daquele que está disposto a lutar, defender e proteger o outro e o mundo. Disponibiliza-se a desafios, enfrentamentos e missões que concedem sentido à sua vida. De acordo com as experiências familiares e sociais, positivas ou negativas relativas a esse panorama, o indivíduo poderá apresentar potencial e capacidade plena de conquistar mudanças e buscar seus objetivos, ou encontraremos comportamentos negativos de insegurança, evitações e paralisações diante de desafios. TIPOS PSICOLÓGICOS Os tipos psicológicos,de maneira geral, podem ser descritos como introvertido e extrovertido, que são absolutamente díspares e se distribuem sem distinção de classe, cor ou credo, o que demonstra sua característica inconsciente. Desde o início do desenvolvimento infantil, já podemos observar a construção e a dominância de um dos tipos. Para comentar os tipos psicológicos, sempre é necessário destacar qual a sua conexão em relação ao objeto, mundo externo, ou à própria subjetividade. Nesse sentido, veremos a direção da energia para o exterior ou interior. Podemos identificar a existência de uma alternância entre os tipos em um mesmo indivíduo, mas encontraremos uma atitude prevalente. Ninguém se manifesta exclusivamente a partir de um dos tipos. Fonte: Shutterstock.com EXTROVERTIDO O tipo extrovertido tem sua ênfase no objetivado, no exterior, que assume vital importância. A sua força determinante encontra-se no exterior, mais do que, no subjetivo, mais do que na sua própria ótica. Para Jung, este tipo pensa, sente e atua diretamente em acordo com as relações objetivas e suas premissas. Fonte: Shutterstock.com INTROVERTIDO O tipo introvertido direciona sua atenção para seu mundo interno, sua subjetividade, priorizando seus pensamentos e sentimentos, seus processos internos. Apesar de examinar o exterior, ocupando-se das impressões que o objeto lhe causou, sua referência máxima encontra-se nas suas disposições subjetivas. A partir destes tipos gerais, Jung formulou oito tipos ditos especiais, mais singulares, devido às tentativas de adaptação a partir de seu funcionamento psicológico essencial. Duas atitudes - extroversão e introversão - e quatro funções: pensamento, sentimento, sensação e intuição. Cada uma destas funções, se conjugará com as atitudes. Desta forma, veremos, por exemplo, tipos como: intuitivo extrovertido, pensativo introvertido, pensativo extrovertido, sentimental introvertido etc. A ATITUDE RELIGIOSA Um outro ponto bastante importante da Psicologia Analítica refere-se ao pensamento sobre a religiosidade, que não está atrelada à participação em algum tipo de religião. Desde sempre, Jung encontrava-se conectado a este tema, pois era filho de um pastor protestante. Jung aborda que todos os seres humanos possuem uma atitude religiosa que é fundamental para o desenvolvimento da personalidade. Fonte: Shutterstock.com MAS, EFETIVAMENTE, DO QUE SE TRATA ESTA ATITUDE RELIGIOSA? Encontra-se associada a uma observação (consciente) zelosa de experiências vividas no mundo que, entretanto, ultrapassam a objetividade. Estaríamos falando de situações que podem ser sentidas e interpretadas como atravessamentos da materialidade, do real experimentado, tais como, sensações espirituais, ideias e contatos com o divino e com o inominável etc. Talvez, venha daí a imagem de que Jung era místico, pelo seu interesse no religioso. Contudo, a intenção de Jung era definir a atitude religiosa como uma atitude mental, pertencente ao mundo da psique de todos os indivíduos. Mais do que isso, entendia a atitude religiosa como uma possibilidade de reconciliação entre os elementos conscientes e inconscientes da psique (Jung, 1977). RESPOSTA Poderíamos vislumbrar no horizonte a ideia de um arquétipo? Sim, claro! A imagem simbólica do divino e do sagrado encontra-se presente em todos os seres humanos. Aquilo que é da ordem do implacável, do arrebatador, que excede qualquer compreensão consciente, com morada no inconsciente, no desconhecido. O LUGAR DOS SONHOS PRA JUNG Fonte: Shutterstock.com Falar em sonhos é falar em inconsciente. Foi a partir da leitura do trabalho de Freud A Interpretação dos Sonhos (1900), que Jung se interessou pela Psicanálise. Apesar de seu interesse, observamos uma grande divergência no método de interpretação adotado por cada um deles. A ideia de Freud de que todo sonho encerraria a satisfação de um desejo infantil recalcado foi abolida por Jung, que apresentou uma nova forma de entender os conteúdos oníricos. Segundo Jung, para interpretar um sonho não será buscada a causa (como acontece com Freud), que aparece encoberta, e sim uma finalidade, uma prospecção, um “para quê”. O sonho é um indicador, uma mensagem a quem sonha. Falar em sonhos é estabelecer uma conexão com o mundo inconsciente. Segundo Jung, encontramos nos sonhos toda uma simbologia bastante individual, espontânea e sem disfarces ou defesas, uma expressão clara do inconsciente pessoal e coletivo. A interpretação dos sonhos ocupa um lugar fundamental na terapia junguiana. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ESTÁ INCORRETO QUANTO À PSICOLOGIA ANALÍTICA: A) Representa o conjunto de conhecimentos propostos por Jung. B) O inconsciente coletivo é o lugar dos arquétipos. C) Os sonhos não costumam ter lugar na Psicoterapia Analítica. D) Estabelece dicotomia conciliável entre consciente e inconsciente. E) Os tipos psicológicos revelam a relação que o indivíduo trava com o mundo externo e interno. 2. (FCC - 2013 - TRT - 5ª REGIÃO (BA) - ANALISTA JUDICIÁRIO - PSICOLOGIA) A ABORDAGEM JUNGUIANA PROPÕE QUE NASCEMOS COM UMA HERANÇA PSICOLÓGICA, QUE SE SOMA À HERANÇA BIOLÓGICA, SENDO AMBAS DETERMINANTES ESSENCIAIS DO COMPORTAMENTO E DA EXPERIÊNCIA. NESTE CONTEXTO, O INCONSCIENTE COLETIVO INCLUI MATERIAIS PSÍQUICOS QUE: A) Não provêm da experiência pessoal. B) Provêm, predominantemente, de aquisições individuais. C) Provêm, totalmente, da experiência pessoal. D) Não provêm dos arquétipos. E) Não provêm de imagens primordiais. GABARITO 1. Está INCORRETO quanto à Psicologia Analítica: A alternativa "C " está correta. Os sonhos para Jung representam o acesso ao inconsciente e através dele podemos encontrar toda uma simbologia individual e coletiva. 2. (FCC - 2013 - TRT - 5ª Região (BA) - Analista Judiciário - Psicologia) A abordagem junguiana propõe que nascemos com uma herança psicológica, que se soma à herança biológica, sendo ambas determinantes essenciais do comportamento e da experiência. Neste contexto, o inconsciente coletivo inclui materiais psíquicos que: A alternativa "A " está correta. O inconsciente coletivo define-se pelo material herdado e mais primitivo, nunca tendo passado pelo consciente e, portanto, por experiências no mundo externo. MÓDULO 2 Reconhecer os principais conceitos de Ferenczi colaborativos no aprofundamento da Psicanálise CONHECENDO SÁNDOR FERENCZI Nascido na Hungria, Sándor Ferenczi (1873-1933) foi contemporâneo de Freud. Médico formado pela Universidade de Viena (1894), especializou-se mais tarde em Neurologia. Da primeira geração de psicanalistas, foi um dos principais seguidores de Freud, muito interessado em divulgar a Psicanálise nos meios médicos. Entrou em contato com o texto freudiano a partir de A Interpretação dos Sonhos (1900), mas não demonstrou grande entusiasmo. Somente em 1908, fez seu primeiro contato direto com Freud, que perdurou por muitas décadas, inclusive, com longa troca de correspondências, em uma relação que exercia o papel de discípulo, fiel escudeiro e amigo. Após apresentação da conferência Psicanálise e Pedagogia no I Congresso Internacional de Psicanálise em Salzburg (1908), escreveu um de seus primeiros trabalhos mais importantes - Transferência e Introjeção (1909), que inspiraria os escritos da posterior chamada Escola Kleiniana de Psicanálise. Fonte: Aladár Székely/Commons.wikimedia/Domínio público Sándor Ferenczi Participou ativamente do início do movimento psicanalítico com a produção de muitos trabalhos, com originalidade e criatividade ímpares. APESAR DE ESCREVER E CONTRIBUIR COM QUESTÕES TEÓRICAS, SUA PREOCUPAÇÃO MAIOR EVIDENCIOU-SE NA DIREÇÃO DA CLÍNICA, NA CONDUÇÃO DO PROCESSO TERAPÊUTICO. OCUPADO EM ATENUAR O SOFRIMENTO DOS SEUS PACIENTES BUSCOU ALTERNATIVAS CLÍNICAS, FEZ NOVAS OBSERVAÇÕES NA PRÁTICA, SEMPRE COM O OBJETIVO DE CUIDAR E CURAR. Seus estudos e proposições encontravam respaldos em sua clínica, caracterizada por um olhar bastante humano. Seuinteresse teórico-clínico abarcava temas e atendimento relacionados a grupos marginalizados pela sociedade, tais como pobres, prostitutas e homossexuais, além de casos como psicose, transtornos limítrofes e outros considerados de difícil acesso ou de maior complexidade. Vale mencionar que suas ideias ainda ficaram veladas por um longo período, mesmo admiradas por Freud e com toda sua participação e criatividade em diferentes aspectos teórico- clínicos. Somente após sua morte seus escritos passaram a ser mais amplamente propagados. Atualmente, Ferenczi é bastante estudado e sua obra é profundamente explorada, sua influência é percebida em toda a prática analítica contemporânea. PRINCIPAIS CONCEITOS Apresentaremos agora alguns dos principais conceitos de Ferenczi: interação mente-corpo, mecanismo de introjeção, transferência, trauma, empatia e técnica ativa. Desde o início de seus trabalhos, havia o interesse em estabelecer uma observação da manifestação do corpo, das doenças orgânicas como componente psíquico simbólico sobreposto. Em 1917, Ferenczi publica As Patoneuroses que, em essência, aponta a estreita interação mente-corpo. Diante da existência de doenças orgânicas, poderia ser observado um investimento libidinal dirigido a este órgão que acabaria por gerar um distúrbio psíquico. FERENCZI PRESSUPÕE QUE A ENFERMIDADE FÍSICA, AO RECEBER ESSE INVESTIMENTO LIBIDINAL, EROTIZARIA A PARTE DO CORPO ACOMETIDA E TERMINARIA POR SE TRANSFORMAR EM UM LUGAR DE PRAZER SEXUAL. ASSIM, O ADOECIMENTO FÍSICO DESENCADEARIA EM UM ADOECIMENTO PSÍQUICO – A ORGANIZAÇÃO PSICOSSOMÁTICA. Entretanto, Ferenczi, já em 1926, em sua obra Neuroses de Órgão e seu Tratamento, nomeia como neurose de órgão a ideia de influência direta do psiquismo, via erotização sobre o corpo. O que ele propõe, apoiado em algumas ideias freudianas, é que uma região do corpo poderia assumir um papel sexual, tornando-se uma zona erógena e comprometendo sua função original. A conclusão é que esta condição acontece devido a alterações psíquicas da sexualidade. Todo seu empenho em discutir esta relação mente-corpo foi fundamental para as pesquisas da Medicina no campo da Psicossomática. Outro conceito muito importante é o de introjeção, introduzido na Psicanálise por Ferenczi que, como outros conceitos, passou por aprimoramentos e acréscimos. O profícuo artigo Transferência e Introjeção (1909) concebeu o conceito de introjeção referindo-o a uma inclusão no ego e uma posterior representação de objetos exteriores. Podemos entender este conceito como um mecanismo típico da neurose, uma tendência a introjetar objetos de interesse. Posteriormente, em 1912, ampliou esse conceito e o colocou como característico de todo ser humano na construção das relações objetais e, nesse sentido, como um movimento normal de desenvolvimento do ego e organizador da personalidade. Desta forma, passou da posição autoerótica para aloerótica de relação com os objetos externos. Dois aspectos atuam nesse mecanismo: posse amorosa de um objeto e a identificação narcísica com ele. O investimento libidinal sobre os objetos para introjeção e construção do mundo interno a partir da identificação com ele, agora, tornando-o si próprio. ATENÇÃO Ferenczi fala de introjeção de um modo distinto da teoria kleiniana. Para ele, introjeção constitui-se em um movimento de dentro para fora, em um lançamento da energia e captura de objetos. Ferenczi começou a descrever o desenvolvimento do ego associado ao modelo de projeção. Desde seu nascimento, o bebê é capaz de experimentar, mesmo que de forma rudimentar, sensações advindas do mundo exterior e do mundo interior, entretanto, sem conseguir diferenciá-las. Gradualmente, ele atinge uma percepção de que nem sempre seus desejos poderão ser imediatamente satisfeitos. Ferenczi fala de um período inicial de onipotência do bebê, onde, através de seus gritos, agitação corporal e aparente desespero, obtém, de acordo com a tradução que o adulto conseguir realizar, satisfação e prazer. Parece mágica! Ele obteve satisfação através de si mesmo, mas o mundo se impõe, nem sempre conseguindo atendê-lo. As sensações desagradáveis de desprazer tenderão a ser expulsas do mundo perceptivo do bebê, para manter o agradável, o prazeroso. Nesses primeiros momentos, verificamos a vivência primária de um dentro e um fora, um eu e um não-eu, mundo interno e mundo externo. Encontra-se inaugurada a compreensão de uma realidade externa a ele. A partir daí, cada vez mais se torna claro o objetivo (real) e o subjetivo (o que é do ego). Para o desenvolvimento desse ego e sentido de realidade, é necessário um acolhimento por parte do outro, adulto. A NOÇÃO DO TRAUMÁTICO Nesse percurso, encontraremos sofrimentos muito primários associados ao que Ferenczi denominou trauma. Ele desenvolve mais completamente este tema em seu artigo Confusão de língua entre os adultos e a criança (1933). Apresenta uma distinção importante na linguagem infantil e na adulta capaz de gerar um trauma. A criança se utiliza da linguagem da ternura e o adulto a linguagem da paixão para se relacionar com o outro. Fonte: Shutterstock.com A criança vivencia o mundo do brincar, do jogo e do faz de conta fantasioso, enquanto o adulto já se encontra marcado pela sexualidade genital adulta e pelo recalque sexual. No encontro dos dois, não há como a criança não ser mal interpretada, já que as linguagens e compreensão são diferentes. Ferenczi reconhece a existência de um trauma nesta relação e o entende também como organizador e estruturante da psique infantil. Submeter-se às regras do mundo adulto, que vão desde higiene a rotinas estabelecidas, traz sofrimento à criança, que precisa se submeter. No entanto, o adulto pode invadir a criança, ou profanar seu psiquismo, respondendo às suas demandas de uma forma passional, sedutora e abusadora, levando-a a experiência de um evento sexual abusivo, em uma relação de poder, ou a experiência de um abandono, sem que a criança consiga oferecer algum tipo de resistência. Este pode ser considerado um trauma desestruturante. Ferenczi fala de dois tempos do trauma. O primeiro é o choque pela invasão vivida, onde a criança atônita busca alguém que possa ampará-la e ajudá-la a dar sentido ao vivido. O adulto envolvido (e o ambiente adulto ao redor), ao não reconhecer ou ignorar o choque, na insistência de enxergar como fantasia infantil ou de silenciar diante do fato, coloca a criança diante de um desmentido. Este deslegitima sua alegação e seu sofrimento. Sensações de desamparo e vazio passarão a ser vividos por esta criança, a partir daí, totalmente silenciada, submetida ao que o outro lhe impõe. Diante de tal situação, o que vemos ocorrer é um trauma patogênico e, posteriormente, a clivagem do ego, para tornar o fato traumático, apartado da memória, sem possibilidade de entendimento. O trabalho analítico tentará alcançar as marcas deixadas por eventos deste tipo, reorganizando conexões e novos ciclos. CLIVAGEM DO EGO “Processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da relação analítica (...) Trata-se aqui de uma repetição de protótipos infantis vivida com um sentimento de atualidade acentuada.” Fonte: Dicionário de Psicanálise Laplanche e Pontalis. MANEJO DA TRANSFERÊNCIA Importante retornar ao artigo de 1909, onde Ferenczi estabelece uma relação entre os dois conceitos de introjeção e transferência. Na relação terapêutica, o analista serviria como conexão para os despertados impulsos e afetos infantis anteriormente introjetados – transferência. Esta só será possível a partir da introjeção, em um redirecionamento da pulsão. Será a partir desse fenômeno que o analista trabalhará, tentando alcançar a cura na identificação dos aspectos infantis relacionados. javascript:void(0) javascript:void(0) PULSÃO Conceito limite entre o psíquico e o somático,como representante psíquico dos estímulos que provêm do interior do corpo e alcançam a psique, como medida da exigência de trabalho imposta ao psíquico em consequência de sua relação com o corpo. Fonte: Netto e Cardoso, 2012. O manejo da transferência pelo analista poderia levar à elaboração destes diferentes complexos infantis inconscientes. Contudo, é necessário que o analista saiba dosar a tensão da interpretação dos conteúdos, de acordo com a avaliação prévia do que o paciente é capaz de suportar. Nesse sentido, encontraremos os aspectos de “sentir com” e do tato psicológico descritos em um dos textos mais importantes de Ferenczi, A Elasticidade da Técnica (1928). Fonte: Shutterstock.com Devemos chamar atenção ao fato de as concepções de transferência negativa e positiva terem sido trazidas por Ferenczi e, depois, trabalhadas por Freud, ambos dirigidos para a figura do analista. Este precisaria ser capaz de suportar tais afetos transferenciais em sua direção. Essas polaridades fariam parte de toda relação terapêutica e ambas, positiva e negativa, deveriam ser levadas em consideração durante o trabalho analítico no deciframento e entendimento destas forças inconscientes. javascript:void(0) javascript:void(0) A noção de contratransferência mostra-se diferente da elaborada por Freud. Esta é definida não só como os próprios sentimentos inconscientes do analista, mas como todo um conjunto de respostas emocionais mobilizadas no analista, na relação com o paciente. Mas, se, para Freud, era vista como um obstáculo, evidenciando a proposta de uma assepsia, de um controle em relação aos sentimentos e afetos do analista; em Ferenczi, vemos a possibilidade do uso da sensibilidade da contratransferência como uma ferramenta no trabalho clínico. Manter contato com o material do paciente, mas não se esquivar de realizá-lo com seus sentimentos e afetos despertados nessa relação com o paciente. Ferenczi queria deixar claro que o analista também seria capaz de trazer à tona sensações e emoções a partir da forma como acontecia esse encontro analítico. TRANSFERÊNCIA NEGATIVA O aparecimento de afetos da ordem da raiva, ódio e hostilidade. TRANSFERÊNCIA POSITIVA O aparecimento de afetos da ordem do amor e da ternura. Fonte: Shutterstock.com Em toda sessão analítica, podemos evidenciar um fluxo de afetos em todas as direções que poderão se prestar ao fazer analítico. ATENÇÃO É importante lembrar que a possibilidade de fazer uso de seus aspectos contratransferenciais pressupõe que o analista tenha passado por uma boa análise, reconhecida por Ferenczi como a segunda regra fundamental da Psicanálise, ao passo que a primeira seria a associação livre. A utilização dessa percepção e conhecimento no contexto da análise precisa ser cuidadosa e empática no que diz respeito ao momento transferencial vivido pelo paciente. Esta habilidade retoma o que apontamos acima: o “sentir com” e o tato psicológico. Segundo Ferenczi, esses aspectos são fundamentais para um adequado manejo clínico do material durante as sessões. O “sentir com” pode ser relacionado a uma capacidade empática, fator importante em qualquer trabalho terapêutico. A empatia pressupõe mais que uma identificação com o outro, pressupõe uma sensação de estar tomado pelo outro. Somente assim, é possível supor, de forma um pouco mais segura, algumas respostas emocionais do paciente ao que venhamos comunicá-lo, agindo de forma mais responsável e ética. O tato psicológico, intimamente relacionado “ao sentir com”, muitas vezes, é descrito como o que deve ser escolhido para ser dito, como será dito e em que momento. Importante entender que esta perspectiva se impõe a cada interpretação. No encontro analítico, todo momento é único e todo paciente também. UMA CLÍNICA PARA PACIENTES DIFÍCEIS Precisamos lembrar que Ferenczi se dedicava a atender pacientes reconhecidos como mais difíceis e que, devido a isto, com aspectos regressivos que demandavam mais cuidado ainda. Alterações da posição do analista foram pensadas e suas ideias nos trouxeram a necessidade da flexibilização da técnica, através do sentir com e do tato psicológico. Essas alterações parecem ter sido pensadas a partir das necessidades de seus pacientes. Cada vez mais, o aspecto relacional do encontro analítico era visto como importante e, de acordo com o paciente, mudanças técnicas eram implementadas e aceitas com o objetivo de melhor alcançar processos inconscientes e ajudar os pacientes. UMA CLÍNICA PARA PACIENTES DIFÍCEIS VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A FALTA DA ATENÇÃO DOS PAIS, POR EXEMPLO, PARA FERIDAS NO CORPO DE UMA CRIANÇA OU PARA UMA SITUAÇÃO DE BULLYING, ENTENDIDA COMO DRAMA, OU QUANDO OS PAIS TRATAM COM INDIFERENÇA, FRIEZA OU SEM IMPORTÂNCIA UM ACONTECIMENTO QUE AFETOU MUITO A CRIANÇA, PODEMOS DIZER, EM ACORDO COM FERENCZI, QUE ESTAMOS DIANTE DE: A) Uma criança com uma patoneurose. B) Uma tentativa de produzir na criança uma capacidade de enfrentamento dos obstáculos. C) Dinâmica do desmentido. D) Pais com reações contratransferenciais referentes ao seu inconsciente coletivo. E) O exercício do tato psicológico no entendimento do traumático. 2. SEGUNDO FERENCZI, A ELASTICIDADE DA TÉCNICA PRESSUPÕE HABILIDADES. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) São duas as habilidades da elasticidade – associar e “sentir com”. B) A capacidade de escutar e analisar revela as partes conscientes desta técnica. C) O método catártico é aquele que produz elasticidade. D) Através do sentir com e do tato, pode-se conseguir recobrar a dinâmica dos processos psíquicos. E) A elasticidade refere-se à ampliação do tempo de trabalho para atingir a cura do paciente. GABARITO 1. A falta da atenção dos pais, por exemplo, para feridas no corpo de uma criança ou para uma situação de bullying, entendida como drama, ou quando os pais tratam com indiferença, frieza ou sem importância um acontecimento que afetou muito a criança, podemos dizer, em acordo com Ferenczi, que estamos diante de: A alternativa "C " está correta. O desmentido refere-se ao momento de não escuta e validação do desespero e tentativa de entendimento do vivido pela criança. 2. Segundo Ferenczi, a elasticidade da técnica pressupõe habilidades. Assinale a alternativa correta: A alternativa "D " está correta. A elasticidade da técnica encontra-se associada à empatia necessária no atendimento de casos mais difíceis, possibilitando acessar os processos inconscientes. MÓDULO 3 Identificar a relevância dos estudos psicanalíticos na matriz de desenvolvimento humano mãe-bebê a partir dos conceitos winnicottianos CONHECENDO DONALD WOODS WINNICOTT Donald Woods Winnicott nasceu na Grã-Bretanha em 1896 e faleceu em 1971. Iniciou seu curso de Medicina próximo ao início da Primeira Guerra Mundial, colaborando em um Hospital Militar. Alistou-se à Marinha e seguiu para o campo de batalha. Completou seu curso em 1920, na especialidade de Pediatria, depois, especializou-se em Psiquiatria Infantil e Psicanálise. Atuou ativamente também na Segunda Guerra Mundial através de programas para acolhimento de crianças separadas de seus pais pelo conflito. Fonte: Autor desconhecido/ commons.wikimedia /CC 2.0. Ilustração Winnicott. É importante entender que essas experiências foram fundamentais na criação da teoria de Winnicott, pois lhe permitiram experienciar situações de traumas, sofrimento e abandono, que influenciaram suas ideias profundamente e seu lado humano. Podemos considerar que Winnicott foi um dos principais e mais ricos autores da contemporaneidade. Além disso, sofreu influências do pensamento de Ferenczi e sua teoria demonstra grande preocupação com o desenvolvimento emocional precoce. SAIBA MAIS Cabe destacar que seu encontro com a Psicanálise aconteceu após algumas leituras de textos freudianos e kleinianos que o encantaram e determinaram sua disponibilidade para ser analisado e iniciar sua formação analítica em 1927. Winnicott não pode ser consideradonem seguidor nem dissidente da Psicanálise. Tornou-se parte de um grupo inglês chamado Independente, que se afastava da concepção de pulsão e estrutura edipiana, priorizando a ideia de relações objetais. Winnicott, bem como seu grupo, não entendia o complexo edipiano como o centro dos distúrbios psicopatológicos. Alguns autores costumam dizer que sua obra foi uma redescrição, uma reformulação de vários conceitos propondo uma visão particular e original do psiquismo. Uma das suas principais contribuições foi pensar as relações da díade mãe-bebê, o papel do cuidado materno deste bebê, como essencial ao desenvolvimento mental e emocional humano. Outro aspecto relevante foi o lugar destinado ao ambiente como facilitador ou complicador do desenvolvimento saudável, podendo originar patologias e adoecimento. Winnicott entendia que todo ser humano traz consigo, desde seu nascimento, possibilidades de amadurecimento e integração. Entretanto, só atingirá seus objetivos a partir do investimento pleno da figura materna sobre ele. Fonte: Shutterstock.com Winnicott sempre se preocupou com a saúde psíquica das pessoas e considerava importante partilhar suas ideias sobre a importância da relação mãe-bebê em seus primórdios. Além de escrever compulsivamente, participou de vários programas de rádio, conferências, sempre com o objetivo de informar e disseminar os conhecimentos e colaborar na construção de uma família e sociedade mais saudáveis. CONCEITOS BÁSICOS DA TEORIA DE WINNICOTT Prosseguiremos agora trabalhando alguns dos conceitos mais importantes da teoria winnicottiana. São eles: maternagem; preocupação materna primária; mãe suficientemente boa; estágios de amadurecimento; objeto transicional; verdadeiro e falso self. Uma das falas mais famosas e enfaticamente repetidas por Winicott e presentes na obra Da Pediatria à Psicanálise é: “NÃO EXISTE ESSA COISA CHAMADA BEBÊ (...) NÃO EXISTE BEBÊ SEM MÃE NEM MÃE SEM BEBÊ” (WINICOTT, 2000). Reflete-se, portanto, sua ideia de que a existência do bebê se encontra atrelada aos investimentos amorosos da mãe. Para que o bebê possa existir física e psicologicamente, faz- se necessário que alguém exerça a função materna. Segundo o autor, a mãe seria a mais capacitada para tal. A ATITUDE DE CUIDADO E ATENÇÃO PODE SER CHAMADA DE MATERNAGEM. TODO BEBÊ AO NASCER APRESENTA UM AGLOMERADO DE AFETOS, PULSÕES, IMAGENS E SENSAÇÕES CORPORAIS QUE DESCONHECE E QUE SE ENCONTRAM SEM UMA ORGANIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO. POR MEIO DOS CUIDADOS E DO OLHAR MATERNO, A CRIANÇA IRÁ SE INTEGRAR E DESENVOLVER. Ser mãe é se oferecer, com toda a disponibilidade do seu ser, para cuidar de modo empático, participando enquanto unidade com seu bebê, e colaborando para o seu crescimento. Será a partir desta sensação de unidade, com características simbióticas, que ela será capaz de se colocar no lugar dele, identificando-se, e perceber quais são as suas necessidades, dia após dia. Reconhecerá as sutilezas de suas solicitações, as necessidades mais singulares em uma posição ativa de satisfação e acolhimento, sejam estas necessidades de colo, acalanto, atenção, alimentação, toque, entre outras. Podemos perceber a primitividade desta relação. Um bebê necessita da presença e cuidados maternos para sua sobrevivência emocional, alguém (a mãe) que desenvolveu internamente uma condição psicológica que Winnicott chamou de preocupação materna primária, desde os momentos iniciais da sua gravidez e, continuamente, após os primeiros tempos do nascimento. A experiência deste estado é fundamental, pois, através da mãe, como um espelho seu, sendo atendido nas suas necessidades, o bebê vivencia um contexto favorável para o seu desenvolvimento. No cotidiano, a mãe renuncia às suas motivações e se debruça ativamente sobre a existência do seu bebê, dando a ele a possibilidade de viver, existir e se integrar. Tudo isso no ritmo próprio do bebê. Percebam a importância deste vínculo! Disponibiliza-se, torna-se unidade com seu bebê, troca carícias e cuidados, percebe e atende suas faltas, reflete o que experimenta dele empaticamente, colabora na sensação de sua existência e na conexão com suas sensações corporais e representações psíquicas de si-mesmo, integrando-as. Nos primeiros meses, esta interação é estruturante do psiquismo. É o momento do eu sou. FUNÇÕES DA MATERNAGEM E DESENVOLVIMENTO DO SELF Dentro deste contexto, Winnicott apresenta sua ideia de uma mãe suficientemente boa. Aquela capaz de, por meio de sua sintonia, identificar e atender às necessidades do bebê na medida em que fluam e a partir do ponto de vista dele. O bebê, inicialmente, não se reconhece e não reconhece essa mãe. Gradativamente, nesta relação tão delicada, através de contatos corporais e de todos os sentidos (cheiros, olhares, mamadas, contornos do corpo), ele passará a se integrar, perceber a si mesmo, reconhecê-la e a conhecer o ambiente no qual está inserido. Neste caminho, irá se diferenciar da mãe e alcançar o reconhecimento do seu eu. Durante este processo de maternagem efetuado, podemos distinguir, basicamente, três funções: holding, handling e apresentação dos objetos. A essas três funções, podemos juntar, respectivamente, as tarefas de integração do eu, personalização e relação com objetos e com o mundo. HOLDING (DO INGLÊS, “SEGURANDO”) Refere-se, portanto, à possibilidade desta mãe de manter este bebê de forma adequada no seu colo. Repare que, nesse sentido, estamos falando de um duplo aspecto – físico e psicológico. O segurar, a pegada materna que o leva a viver a segurança, confiar, sentir-se amparado. A partir daí, inicia-se sua integração, sentir-se unidade, sentir-se uno através do tempo, a continuidade do ser. Fonte: Shutterstock.com HANDLING (DO INGLÊS, “MANIPULAÇÃO”) Consiste na execução dos cuidados diários. Enquanto realiza esses cuidados, de limpeza, banho, vestir, cantarolar, acomodar no berço, envolver nos braços, a mãe manuseia seu bebê, desliza as mãos por seu corpo proporcionando-o as sensações de limites e de contornos desse corpo. Em uma verdadeira experiência psicossomática, este bebê consegue ser capaz de reconhecer seu espaço corporal, o mundo interno e externo. Essa percepção do seu corpo nomeamos de personalização, o desvelamento do self. Fonte: Shutterstock.com APRESENTAÇÃO DOS OBJETOS Seguindo o movimento de amadurecimento, a mãe agora inicia o processo de apresentação dos objetos, do mundo externo, da realidade ao bebê. Tal processo é fundamental para sua capacidade de relacionar com os objetos durante toda a sua vida. A cada sucessiva apresentação de objetos da realidade, a mãe vai se mostrando substituível. Em acordo com as necessidades de seu bebê, percebidas por ela, os objetos se presentificam. Interessante notar que o próprio bebê está pronto para receber o que é apresentado, essencialmente, por sua mãe encontrar-se em consonância com suas necessidades. Sob o ponto de vista do bebê, ele mesmo foi capaz de engendrar ou criar o objeto. Estamos diante da relação entre criação e experiência de onipotência, viabilizada pela figura materna e vivida pelo bebê. A ilusão de ser responsável pela criação dos objetos e do mundo se torna presente. É claro que, com sucessivas falhas (empáticas) da mãe e do mundo, o bebê passará a perceber que existe algo para além dele e que tem vida própria – e se desilude. A desilusão é fundamental, pois dará a esse bebê a percepção de que suas satisfações poderão acontecer, mas não na imediatez do seu desejo. Aqui, estamos diante da aprendizagem primária das relações entre o princípio do prazer e da realidade, dois modos de funcionamento descritos por Freud. Fonte: Shutterstock.com Todas estas funções estão acontecendo nos primeiros momentos da maturação do bebê. Podemos dizer que falhas graves nestes processos podem ser geradoras de patologia. Encontraremos algumas etapas descritas deste processo de amadurecimento: Fonte: Shutterstock.com DEPENDÊNCIA ABSOLUTA Primeiroestágio do desenvolvimento e acontece aproximadamente de 0 aos 4/6 meses de idade. É um estágio de indiferenciação do bebê em relação ao mundo e à sua mãe. Nos meses iniciais de seu nascimento, encontra-se em situação de simbiose e unidade com a figura materna, dependendo, de modo vital, de que o outro atenda às suas necessidades. O estado de preocupação materna primária da mãe e as funções encontradas e executadas asseguram as condições do bebê de seguir maturando. Fonte: Shutterstock.com DEPENDÊNCIA RELATIVA Estágio é vivido em torno de 6 meses a 2 anos. Por meio da experiência anterior de um ambiente (mãe) confiável, o bebê agora já conseguiu um self incipiente, ou seja, distinguir entre o eu-não-eu e reconhecer mentalmente a existência desta mãe como aquela de quem depende. Agora, sim, um “eu” bebê inicia a manifestação de suas necessidades como próprias. Paralelo a isso, sua mãe “suficiente” começa a restabelecer suas relações com o mundo e as falhas se inauguram de forma mais perceptiva. A equação frustração-separação-existência pessoal vai sendo vivida mais claramente pelo bebê, que rumará para a independência. Aqui, veremos o aparecimento dos objetos transicionais, que falaremos mais adiante. Fonte: Shutterstock.com RUMO À INDEPENDÊNCIA Em um contínuo de explorações de si mesmo e do ambiente, de frustrações e percepções da realidade, aprendizagens acontecem e o desenvolvimento da capacidade de se relacionar com os objetos pode ser aprimorado. Cada vez mais se ampliam seus relacionamentos, cada vez mais complexos, durante todo o restante da vida. IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA TEORIA DE WINNICOTT VERDADEIRO E FALSO SELF Na exposição anterior, deixamos claro que, durante o processo de amadurecimento do bebê, o ambiente e a mãe possuem papel fundamental para colocar em andamento a estruturação da psique. A mãe suficientemente boa adapta-se às necessidades da criança, promovendo sua satisfação. Esta mãe faz a leitura das manifestações do bebê e viabiliza nesse encontro a manifestação deste self verdadeiro, do ser e de suas peculiaridades. Além disso, cumpre a função de evitar que o bebê seja invadido por pressões ou excessos vindos do meio ambiente. E se a mãe não constrói essa capacidade de se preocupar, de ser empática e falha na sua função de cuidado e proteção? Um recém-nascido encontra-se ainda não integrado, fragilizado e impotente diante do mundo. Apesar de possuir uma tendência ao crescimento, precisa de um outro que o ajude a se organizar internamente. WINNICOTT (1983) AFIRMA QUE, DIANTE DE TAL FALHA, O BEBÊ, AO INVÉS DE ALCANÇAR “SER”, REAGE E SE MANIFESTA ATRAVÉS DE UM FALSO SELF. ISTO É, AO INVÉS DA MÃE SE ACOMODAR ÀS NECESSIDADES DO SEU BEBÊ, SERÁ ELE QUEM SE SUBMETERÁ ÀS INCAPACIDADES E NECESSIDADES DELA. A falha materna é passível de ocorrer. Nesse sentido, a ideia de um falso self aparecerá ao lado de um self verdadeiro, ligados e se alternando. Esta perspectiva é facilmente exemplificada no mundo adulto e nas diversas demandas de adaptação social pelas quais passamos. Uma falha grave da adaptação ativa por parte da mãe poderia levar a um quadro patológico. No início da vida, o trauma vivido pelos sucessivos ataques ao eu rudimentar levaria a uma prevalência do falso self e um encobrimento do verdadeiro self. Aparentemente, é um mecanismo defensivo para salvaguardar o próprio self verdadeiro para posterior aparecimento. No trabalho clínico, verificamos diferentes manifestações desse tipo de falha, em graus variados, originando adoecimentos, tais como depressões e personalidades borderline. Vale ressaltar que Winnicott não esqueceu a importância da figura paterna no percurso de amadurecimento do bebê. Principalmente no início desta relação, o pai precisa dar apoio e condições para que esta mãe cumpra sua função. Será necessário proteger esta díade, oferecendo segurança e impedindo qualquer tipo de invasão ou violência à dupla. javascript:void(0) BORDERLINE Personalidade borderline ou personalidade limítrofe: Apesar de não haver consenso sobre suas causas, envolve sintomas como instabilidade emocional, sensação de inutilidade, insegurança, impulsividade e relações sociais prejudicadas. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. MUITOS FORAM OS AUTORES EM PSICOLOGIA E PSICANÁLISE QUE SE DEDICARAM A ESTUDAR OS CUIDADOS MATERNOS E SUAS REPERCUSSÕES PARA O DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL, TENDO O PSICANALISTA D. W. WINNICOTT SE NOTABILIZADO POR SUA VASTA CONTRIBUIÇÃO NESSA ÁREA. (FGV - 2017 - MPE-BA - ANALISTA TÉCNICO - PSICOLOGIA) SÃO CONCEITOS DESENVOLVIDOS POR ESSE AUTOR: A) A mãe suficientemente boa e a teoria do apego. B) O estágio do espelho e a síndrome de hospitalismo. C) A posição esquizoparanoide e o objeto transicional. D) Falso e verdadeiro self e o holding. E) O fenômeno transicional e a inveja primária. 2. OBSERVAMOS ALGUMAS FUNÇÕES DURANTE A MATERNAGEM. COMO VOCÊ ENTENDERIA A FUNÇÃO HANDLING? A) A) Liga-se ao funcionamento da figura paterna na díade mãe-bebê. B) Trata-se da importância da sustentação corporal do bebê para a estruturação do ser. C) Refere-se ao momento de desejar um filho incluindo fantasias de amamentação. D) Associado ao segurar-manejar no momento dos cuidados diários com o bebê. E) Fala-se da invasão da família nos cuidados do bebê. GABARITO 1. Muitos foram os autores em Psicologia e Psicanálise que se dedicaram a estudar os cuidados maternos e suas repercussões para o desenvolvimento emocional, tendo o psicanalista D. W. Winnicott se notabilizado por sua vasta contribuição nessa área. (FGV - 2017 - MPE-BA - Analista Técnico - Psicologia) São conceitos desenvolvidos por esse autor: A alternativa "D " está correta. A mãe suficientemente boa cumpre suas funções possibilitando a integração do bebê e sendo capaz de, empaticamente, responder às necessidades do seu bebê, possibilitando que ele experimente seu self. 2. Observamos algumas funções durante a maternagem. Como você entenderia a função handling? A alternativa "D " está correta. Três são as funções principais da maternagem, fundamental desde o nascimento do bebê. Handling é a que se refere ao manejo do bebê nos momentos da intensa relação mãe-bebê, do pegar e manusear diário. MÓDULO 4 Descrever os principais conceitos lacanianos como a releitura da obra freudiana CONHECENDO JACQUES LACAN Jacques Lacan nasceu em Paris, em 1901 e faleceu em 1981. Cursou Medicina na década de 20, especializando-se posteriormente em Neurologia e Psiquiatria. Durante a década de 30 também realizou estudos na área de Filosofia e clinicou em Psiquiatria no Hospital Psiquiátrico. Fonte: Blatterhin/commos.wikipedia/CC 3.0 Somente após iniciar sua análise pessoal, em 1932, teve contato com a Psicanálise, com os psicanalistas e com a IPA (Associação Internacional de Psicanálise - 1910). Este contato ocorreu em um momento em que o Movimento Psicanalítico já havia alcançado um longo percurso (década de 20). Várias discussões já vinham sendo travadas, desde as questões teóricas e práticas até a importância do ensino da Psicanálise e da formação do analista. Freud encontrava-se empenhado em discutir, junto aos seus discípulos e instituições, sobre os requisitos mínimos, importantes para a formação do analista – análise pessoal, ensino teórico e supervisão clínica. A análise pessoal deveria ser feita com um analista didata. Estava definido o tripé da formação analítica que orientaria toda a comunidade psicanalítica. No entanto, no decorrer do tempo, este modelo foi se tornando mais rígido e autoritário, com maiores exigências e controle excessivo. Durante seu processo analítico, Lacan iniciou (1934) sua participação na Sociedade Psicanalítica de Paris (SPP), da qual se tornou membro em 1938. Sua formação aconteceu dentro do modelo tradicional. Havia terminado sua tese de doutorado sobre a paranoia em 1932, obtendo grande repercussão pelas suas ideias. Em 1936, apresentou o trabalho Estádio do Espelho, no XIV CongressoInternacional de Psicanálise, em Marienbad, inspirado em ideias de Wallon sobre representação do esquema corporal na criança. Este trabalho se mostrou revolucionário e posteriormente foi aprofundado. Desde sua filiação à SSP, trabalhava seriamente, tanto na produção de novos textos, divulgando e discutindo a Psicanálise, como também no ensino e formação dos futuros analistas. Por outro lado, desde que integrou o quadro da SSP, passou a apontar uma série de divergências quanto à rigidez das Instituições Psicanalíticas e sua forma de condução do processo formativo de um analista. Em 1953, rompeu com a SSP e abraçou uma nova escola, a Sociedade Francesa de Psicanálise, fundada por dissidência de diferentes psicanalistas. Em 1964, Lacan, após romper com a IPA (Associação Internacional de Psicanálise) e com todos os regulamentos institucionais, criou um modelo de transmissão e formação analítica com a fundação da Escola Francesa de Psicanálise. Lacan pode ser considerado um grande renovador, um progressista da Psicanálise. Retornou à obra de Freud, repleto de contribuições e singularidades. O inconsciente assumiu um lugar privilegiado em sua obra. SEGUIDOR OU DISSIDENTE? O que realmente importa é sua contribuição, um tanto original, de imenso valor e que possui um lugar primordial na Psicanálise contemporânea. Selecionamos um conjunto de novas ideias lacanianas que levarão você a uma introdução à obra. Das ideias originais, nos encontraremos com: o estágio do espelho; o entendimento do inconsciente estruturado como linguagem; e as categorias conceituais real, simbólico e imaginário. Quanto aos aspectos técnicos e clínicos: sujeito suposto saber; desejo do psicanalista; tempo variável de sessão; corte de sessão com o tempo lógico. ESTÁGIO DO ESPELHO E A FORMAÇÃO DO EU Fonte: Shutterstock.com Esse período fundamental do desenvolvimento mental infantil tem sua ocorrência entre 6 e 18 meses, aproximadamente. Conforme apontado acima, o conceito surgiu em uma conferência em 1936 e passou por alguns desdobramentos até 1949. A elaboração inicial baseou-se, principalmente, nas descrições feitas por Wallon sobre o comportamento infantil diante da percepção de sua própria imagem no espelho. Diferentemente da direção investigada por Wallon, Lacan ocupou- se do percurso que a criança irá fazer, a partir da relação de identificação estabelecida com a imagem e o significado deste aspecto na estruturação de seu eu. A partir de seu reconhecimento na imagem do espelho, e do prazer e contentamento esboçados através da identificação de seu corpo em integração com seu eu, encontramos o início da formação de uma identidade. O bebê, logo quando do seu nascimento, não possui a experiência de um corpo em unidade, mas um amontoado de partes, sem reconhecer um mundo externo. Posteriormente, já é capaz de se perceber ao olhar para o espelho; o reflexo lhe oferece uma imagem do corpo para que ele, integrando-se, viva como sendo seu eu. Uma imagem que “fala” dele, um reflexo do eu. Reparem que a experiência de um corpo integrado, um eu, é apreendida a partir de uma imagem refletida. Nesse sentido, Lacan aponta a ideia de um eu-ego-imaginário, e do momento inaugural da constituição da subjetividade. Este eu mesmo identificado é anunciado por Lacan como desvirtuado por, ao menos, dois motivos: a inversão da imagem e a identificação com algo que vem de fora. Reconheço-me a partir de uma imagem que entendo como sendo eu mesmo, mas que vem de fora, por um outro (o espelho), que confirma minha existência. Ou seja, a constituição do eu é processada por um engano, liberto da não integração, mas aprisionado ao outro. SAIBA MAIS O outro não diz respeito somente à imagem do espelho, pode ser entendido também como o olhar da mãe, a fala da mãe, etc. Lacan nos leva a pensar em uma alienação do eu ao olhar do outro que me constitui. Durante o crescimento e amadurecimento do bebê, o outro (mãe, pai, etc.) representa seu bebê ao lhe falar sobre o seu sentir, sobre como ele é e o que perceber, inserindo-o em um discurso projetado por este adulto-outro. Um conjunto de sentidos lhe é atribuído e, imaturo e desamparado, cede a esse outro. Percebemos a fazedura de um sujeito a partir do olhar e da fala do outro. Esse outro é o próprio espelho. Prosseguirão assim bebê e mãe, formando uma dupla inseparável e, essencialmente, o bebê estará amalgamado e colado a essa mãe. Se este bebê é o que a mãe interpreta e projeta, ele é o próprio desejo desta mãe. Um longo caminho ainda será trilhado por esse bebê, que precisará se separar dessa mãe (ou de um outro que cumpra tal função) em busca de seu próprio desejo, desalienando-se, tornando-se sujeito desejante, como diria Lacan. O momento da vivência edipiana possibilitará a chance da conclusão do estádio do espelho. A figura paterna será crucial neste processo, pois agirá como interditora desta relação. Indicará para a criança a impossibilidade de continuar vivendo a ilusão de uma completude com a figura materna. O pai frustrará esta criança na satisfação de seu desejo, levando-o a viver um vazio, a falta. Primeiro, a completude (imaginária) e depois, a falta (simbólica). Estamos falando da experiência edipiana e da vivência da castração, momento estruturante do sujeito. Somente a partir desta experiência ela poderá iniciar um movimento desejante e ocupar um lugar no mundo social. Fonte: Shutterstock.com REGISTROS IMAGINÁRIO, SIMBÓLICO E REAL A apresentação desses conceitos de forma separada tem fins puramente didáticos, pois os três funcionam absolutamente interligados e articulados. Um trânsito intenso ocorre entre estas três categorias. Fonte: Shutterstock.com Segundo o Dicionário de Psicanálise de Roudinesco e Plon (1988), imaginário é: TERMO DERIVADO DO LATIM IMAGO (IMAGEM)... AQUILO QUE SE RELACIONA COM A IMAGINAÇÃO, ISTO É, COM A FACULDADE DE REPRESENTAR COISAS EM PENSAMENTO, INDEPENDENTEMENTE DA REALIDADE. UTILIZADO POR JACQUES LACAN A PARTIR DE 1936, O TERMO É CORRELATO DA EXPRESSÃO ESTÁDIO DO ESPELHO E DESIGNA UMA RELAÇÃO DUAL COM A IMAGEM DO SEMELHANTE. ASSOCIADO AO REAL E AO SIMBÓLICO NO ÂMBITO DE UMA TÓPICA, A PARTIR DE 1953, O IMAGINÁRIO SE DEFINE, NO SENTIDO LACANIANO, COMO O LUGAR DO EU POR EXCELÊNCIA, COM SEUS FENÔMENOS DE ILUSÃO, CAPTAÇÃO E CILADA. (P. 371). A associação direta deste registro imaginário com o eu/ego foi claramente indicada acima pela descrição das relações de projeção, de identificação e reconhecimento do outro sobre mim. A forma como eu entendo o mundo encontra-se associada ao imaginário. Ele pode ser entendido como aquilo que eu interpreto sobre o outro e sobre o mundo, como se o eu tivesse total conhecimento desse outro, como se fossemos um só, não percebendo a existência de possíveis diferenças – projeção e identificação. No Dicionário de Psicanálise, Roudinesco e Plon (1988), o simbólico é: TERMO EXTRAÍDO DA ANTROPOLOGIA PARA DESIGNAR UM SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO BASEADO NA LINGUAGEM, ISTO É, EM SIGNOS E SIGNIFICAÇÕES QUE DETERMINAM O SUJEITO À SUA REVELIA, PERMITINDO-LHE REFERIR-SE A ELE, CONSCIENTE E INCONSCIENTEMENTE, AO EXERCER SUA FACULDADE DE SIMBOLIZAÇÃO. (P. 714). Lacan faz uma associação direta do simbólico com a linguagem, como a possibilidade de organização de tudo que ocorre com o sujeito, em particular, e com o mundo. Falar no registro do simbólico é acessar o que é da ordem da representação, ou seja, representa, mas não é. Existe uma coisa colocada no lugar de outra. Vamos novamente a um exemplo: quando, em um sonho, relato meu encontro com um amigo, mas a fisionomia que aparece é de minha tia, podemos perguntar qual sentido faz isso para aquele que sonha. Na verdade, o sistema simbólico não tem uma significação por si mesmo, mas pelas relações que apresenta com o conjunto. O SIMBÓLICO NÃO É LINEAR, ELE É MÚLTIPLO! E O REAL? Antes de mais nada, cabe dizer que o real de Lacan não tem correlação com o que chamamos de realidade, ou aquiloque experienciamos e no senso comum assim chamamos. Roudinesco (1988) o trata como uma realidade fenomênica que é imanente à representação e impossível de simbolizar. O real é aquilo que não tem unidade, é o imprevisível, tudo aquilo que não tem lugar. A impossibilidade de simbolização é a marca do real. Ele não se encaixa no simbólico e nem no imaginário; é o impensável, o impossível de representar, o traumático, o que não consegue ser dito, o típico “sem palavras” e que, de repente, se impõe. Atravessando o ser em um momento de angústia, aparece e não se faz choro, grito ou fala. É o inexpressivo, uma angústia que paralisa, sem sentido. Aquelas situações que costumamos traduzir como “não tenho palavras para dizer”, “não consigo dar um sentido”, “nem parece real”, aproximam-se do que Lacan denomina de real. REGISTROS SIMBÓLICO, IMAGINÁRIO E REAL INCONSCIENTE ESTRUTURADO COMO UMA LINGUAGEM Em 1953, Lacan faz uma proposta bastante diferenciada de Freud em relação ao que entende por inconsciente. Essa ideia foi baseada nas proposições de Lévi-Strauss e outros, tais como Saussure, com seu estruturalismo, que enfatizava a função simbólica como reguladora de todos os fatos e relações sociais. Claro que a linguagem, o discurso, sempre foi importante para Freud, - basta lembrar que a psicanálise tinha como método a talking cure, cura pela fala. Também basta recorrer a alguns textos famosos, tais como Psicopatologia da vida cotidiana (1966) e A Interpretação dos sonhos (1900) para entender a multiplicidade de sentidos de uma única palavra, ou imagem, ou lembrança. No entanto, Lacan, influenciado pelos estruturalistas e linguistas, produz uma entorse na relação entre significado e significante, introduzindo uma nova perspectiva do inconsciente. Estes conceitos podem ser assim entendidos na linguística de Saussure: significado de maior valor é o que se refere ao conceito, à ideia em si; significante alude a uma representação da imagem psíquica do som, do nome atribuído ao conceito. Encontram-se em íntima relação de interdependência, onde, para cada significado, existe um significante que o representa, o que remete à ideia de imobilidade ou automatismo de sentido. Fonte: Ensine.Me O deslocamento apresentado por Lacan refere-se à importância na organização da vida psíquica. A relação entre os dois elementos deixa de ser natural e passa a ser entendida como engendrada pelo grupo social. Quando falamos algo, o significado só consegue ser dado no depois, após a finalização do expressado e captura das correlações entre os significantes. Vale insistir que um significante por si mesmo não tem significado, mas será na relação em cadeia que se chegará a um sentido. Nesse sentido, os significantes se apresentam para, em seguida, o significado ser apreendido. O significante é capaz de produzir significado. O significante ganha, na leitura lacaniana, o lugar central. Será buscando por ele, nas articulações e encadeamentos da fala, em uma palavra entreposta ou colocada no lugar de outra, em um neologismo, que chegaremos o mais próximo do desejo. A utilização de metáforas (condensação) e metonímias (deslocamento) no discurso, ou ainda o aparecimento de sonhos e lapsos, revela o inconsciente. Podemos dizer que o inconsciente estrutura-se seguindo as mesmas leis da linguagem. Lacan entendia que através da regra fundamental da associação livre seria possível se deparar com as manifestações do inconsciente e perceber as substituições sucessivas. As contribuições inovadoras de Lacan também tiveram efeito na prática do psicanalista. Indagações foram realizadas sobre a posição que o analista deveria assumir durante um processo analítico. UMA DAS PRINCIPAIS QUESTÕES REFERE-SE AO DESEJO DO ANALISTA EM RELAÇÃO AO ANALISANDO. LACAN É MUITO CLARO AO AFIRMAR QUE O ÚNICO DESEJO DO ANALISTA DEVE SER O DE ANÁLISE. O ANALISTA NÃO DEVE DESEJAR NADA PARA SEU ANALISANDO, TAL COMO QUE ELE CONSIGA SER FELIZ OU QUE ENCONTRE UM CAMINHO MELHOR, POR EXEMPLO, E MUITO MENOS IMAGINAR QUE ELE SABE O QUE É MELHOR PARA SEU ANALISANDO. Claro que o analisando, ao procurar um analista, em um momento inicial de transferência, acredita que este saberá o que se passa com ele, saberá sobre o seu sofrimento e como extirpá-lo, curá-lo. Só se inicia um tratamento se o futuro analisando transfere para esse analista a posição de saber de si e de sua verdade. Fazendo parte desta relação, na direção do analista, encontramos movimentos transferenciais e de idealização. No entanto, o analista deve estar analisado o suficiente para não ceder a esta tentação imaginária. Precisa permitir que o analisando assim o veja, mas não assumirá tal posição, não cometerá o engano de se sentir possuidor de tal saber. Ao contrário, ciente de que nada sabe, não responderá ao desígnio que lhe foi dado, e irá ocupar um lugar de vazio, impulsionando o analisando, através desse encontro com a falta, para a busca de seu próprio desejo. Irá trabalhar constituindo-se como “sujeito suposto saber”, diria Lacan. Nesse sentido, caminha com o analisando, aprendendo com ele, no compasso dado por ele, atravessando seu sofrimento e seguindo na direção da cura. A prática analítica se caracteriza pela construção de um saber junto com o analisando que associa livremente. Outra consideração importante a ser feita remete-se à duração do tratamento e o tempo da sessão. Podemos lembrar facilmente das inúmeras vezes que um analista recebe a pergunta: Quanto tempo vai demorar para ficar bom? Quanto tempo vai durar o tratamento? Questões com uma única resposta – associe livremente. Durante esse associar, o analisando vai se encontrando com suas questões e com a dureza desse caminhar, sem tempo previamente determinado. Cada um é cada um e o analista sabe disso. Portanto, não existe uma única jornada, existem jornadas singulares. Freud mencionava a existência de uma atemporalidade do inconsciente, revelando que a passagem do tempo não ocorre no inconsciente, onde as representações não se importam com passado, presente e futuro, ligando-se e se misturando ao seu livre arbítrio. Na análise, seria necessário, pela via da transferência, indagar um tempo de antes vivido no agora. Vivemos mais diretamente o tempo cronológico, o desenrolar dos fatos e acontecimentos, os dias, as estações do ano, horário do recreio na escola e assim sucessivamente. É o tempo da realidade e da história. O tempo psicológico tem um aspecto mais subjetivo, individual, referindo-se a como é sentida a passagem do tempo, como o evento é vivido pelo sujeito. Se quisermos exemplificar, podemos imaginar que a Segunda Guerra Mundial terminou em 1945, um fato histórico, mas a descrição dada por um ex-combatente é a de que a Guerra parecia nunca terminar. PRÁTICA DO ANALISTA E TEMPO LÓGICO Fonte: Shutterstock.com O tempo lógico é descrito por Lacan como um recurso no trabalho com o discurso do analisando, já que é preciso estar atento ao funcionar do inconsciente. O tempo da análise é o tempo do inconsciente. A Psicanálise trabalha com a fala do paciente, mais precisamente, com o desenrolar desta fala. Ou seja, como o sujeito encadeia suas palavras, como organiza sua história contada, como ordena os fatos relatados, ou como o sujeito desenrola a cadeia de significantes e as infinitas possibilidades de sentido. O analista precisa escutar esta cadeia, esta organização, qual lógica está se evidenciando e será capaz de intervir, interrompendo e sinalizando um significante repleto de novos caminhos, muito adiante de um sentido convencional e social. Para realizar tal façanha, será necessário se desligar do tempo cronológico, das historinhas contadas e, em atenção flutuante, encontrar o que precisa ser entendido e associado. Fonte: Shutterstock.com O tempo lógico que pode ser associado à intervenção que interrompe a sessão revela uma escuta do analista de algo que, possivelmente, o analisando não escutou. Será que ele escutou o que disse?Afinal, o que está sendo dito? ATENÇÃO Cumpre-se a função de analista, interferindo em um discurso para realizar uma abertura à reflexão. Interrogar sobre as histórias contadas, criando uma dúvida no sentido apresentado como óbvio e levando um sujeito a refletir sobre qual verdade ele fala. Interromper (o corte) a sessão sob os auspícios da escuta do tempo lógico, produz uma tarefa, um “dever de casa”. Quando se interrompe a sessão, incita-se ao sujeito a ir trabalhar para além da sessão analítica. Aliás, já sabemos que o inconsciente não para e o trabalho psíquico está sempre a acontecer em todos os cantos do mundo pessoal e particular. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SEGUNDO A PSICANÁLISE, PODEMOS CONCEBER A CONSTITUIÇÃO DO EU (MOI) COMO UNIDADE PSÍQUICA, CORRELATIVAMENTE À CONSTITUIÇÃO DO ESQUEMA CORPORAL NA QUAL A CRIANÇA SE IDENTIFICA COM A IMAGEM DO SEMELHANTE. J. LACAN RELACIONOU ESSE PRIMEIRO MOMENTO DA FORMAÇÃO DO EU COM A EXPERIÊNCIA NARCÍSICA FUNDAMENTAL DESIGNADA COMO (FGV - 2014 - TJ-GO - ANALISTA JUDICIÁRIO - PSICÓLOGO): A) Complexo fraterno B) Estádio do espelho C) Metáfora paterna D) Complexo do desmame E) Dialética fálica 2. A QUESTÃO DO TEMPO SEMPRE FOI TEMA DE DISCUSSÃO ENTRE FILÓSOFOS. NOS ENSINAMENTOS DA PSICANÁLISE E, ESPECIALMENTE, EM LACAN, ESTE CONCEITO ASSUME IMPORTÂNCIA PARA O TRATAMENTO. DE ACORDO COM ESTA PERSPECTIVA, ASSINALE A AFIRMATIVA CORRETA: A) Existem três tempos no inconsciente: cronológico, psicológico e lógico. B) O trabalho do analista consiste em interromper a sessão do paciente quando o tempo cronológico marcado estiver se aproximando. C) Lacan entende o tempo lógico como aquilo que coloca o consciente em jogo. D) O conceito de tempo lógico para a Psicanálise se associa com o inconsciente. E) Freud e Lacan discordam da relação existente entre a interrupção da sessão e o pensamento pré-consciente. GABARITO 1. Segundo a Psicanálise, podemos conceber a constituição do eu (moi) como unidade psíquica, correlativamente à constituição do esquema corporal na qual a criança se identifica com a imagem do semelhante. J. Lacan relacionou esse primeiro momento da formação do eu com a experiência narcísica fundamental designada como (FGV - 2014 - TJ-GO - Analista Judiciário - Psicólogo): A alternativa "B " está correta. A possibilidade de iniciar a integração do eu se dá através da percepção de uma imagem fora de mim, por espelhamento, que reconheço como minha. O desenvolvimento do eu necessita de um outro. 2. A questão do tempo sempre foi tema de discussão entre filósofos. Nos ensinamentos da Psicanálise e, especialmente, em Lacan, este conceito assume importância para o tratamento. De acordo com esta perspectiva, assinale a afirmativa correta: A alternativa "D " está correta. O tempo lógico é um recurso para interrupção da sessão de análise. Quando aparece na associação livre, aparece um sentido novo a ser investigado. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Percorremos um pouco da história do Movimento Psicanalítico a partir de alguns importantes autores da Psicanálise, tais como Jung, Ferenczi, Winnicott e Lacan. Conhecemos os principais conceitos que aprofundaram ou se distanciaram daqueles criados pelo pai da Psicanálise - Freud - e assim, conseguimos perceber os seguidores e dissidentes. Através da apresentação de seus conceitos, indicamos os caminhos teórico-clínicos tomados pela Psicanálise até a contemporaneidade. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS FERENCZI, S. A técnica psicanalítica. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. FERENCZI, S. As neuroses de órgão e seu tratamento. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. FERENCZI, S. As patoneuroses. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. FERENCZI, S. Elasticidade da técnica psicanalítica. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. FERENCZI, S. Psicanálise II. São Paulo: Martins Fontes, 2011. FERENCZI, S. Psicanálise III. São Paulo: Martins Fontes, 2011. FERENCZI, S. Psicanálise IV. São Paulo: Martins Fontes, 2011. FERENCZI, S. Transferência e introjeção. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. HILLMAN, J. Psicologia arquetípica. São Paulo: Cultrix, 1992. JUNG, C. G. O Eu e o Inconsciente. Petrópolis: Vozes, 1978. JUNG, C. G. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977. JUNG, C. G. Os Arquétipos e o inconsciente coletivo. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. KAHTUNI, H. C.; SANCHES, G. P. Dicionário do pensamento de Sandór Ferenczi. São Paulo: FAPESP, 2009. LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. LACAN, J. O Seminário - Livro 1: Os Escritos Técnicos de Freud. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1983. LACAN, J. Seminário 11 - Os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2008. WINNICOTT, D. W. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes, 2011. WINNICOTT, D. W. O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983. WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975. WINNICOTT, D. W. Preocupação materna primária. In: Da pediatria à Psicanálise. Obras escolhidas. Rio de Janeiro: Imago, 2000. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos explorados neste tema, leia: Freud, Jung e o Homem dos Lobos: percalços da psicanálise aplicada, publicado por Paulo Endo, na Revista Ágora em 2001, e saiba mais sobre as concepções de Jung e Freud. O lugar do analista e do analisando em Ferenczi, publicado em 2015, no Jornal da Psicanálise, e entenda os papéis, funções, fraquezas e potências do analisando e do analista sob a perspectiva da obra ferencziana. De Freud a Winnicott: aspectos de uma mudança paradigmática, de Zeljko Loparic, publicado pela Revista Winnicott e-prints, e conheça mais sobre os resultados das pesquisas de Winnicott e como elas contribuíram para o desenvolvimento do conhecimento psicanalítico. CONTEUDISTA Teresinha Maria Nicolini da Fonseca Anciães CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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