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Resenha - POVO, PODER E LUCRO - Economia - Prof. Luiz Marques

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Faculdade Baiana de Direito 
Ana Beatriz de Souza Soares – T1A
Resenha – Texto 22
 “Povo, Poder e Lucro – Capitalismo progressista para uma era de descontentamento”, de Joseph E. Stiglitz
Salvador
2021
 Em “Povo, Poder e Lucro”, Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, faz duras críticas aos caminhos que os sistemas econômicos e políticos tomaram, fala sobre de onde vem a real riqueza das nações e cita os riscos dos ataques às instituições que são a base da democracia. 
 Após a Queda do Muro de Berlim, a ideia de que a democracia e o capitalismo haviam triunfado permeava a mente da sociedade ocidental capitalista. Na realidade, ainda havia muito para ocorrer, ao ponto que o capitalismo teria seus colapsos, e traria enormes descontentamentos para tantos não privilegiados nesse sistema naturalmente injusto e desigual. 
 É possível traçar um paralelo entre a Crise de 29, conhecida como Grande Depressão, e a Crise de 2008. Apesar das causas das recessões serem diferentes, as consequências foram similares. A Crise de 29 foi a crise da superprodução, a produção extrapolava a capacidade de absorção pelo mercado interno. Enquanto isso, a Crise de 2008 foi a crise imobiliária, a crise da inadimplência e dos bancos. Assim, nesse momento vamos pensar na Crise do Subprime, a Crise de 2008. Nesse contexto, algumas perguntas fazem-se necessárias: Quem ficou para trás no momento pós crise? Quem foi responsabilizado? Quem saiu mais prejudicado? E quem ganhou nesse jogo? O documentário “Inside Job”, “Trabalho Interno” no português, é capaz de responder algumas perguntas. A renda coletiva das famílias norte-americanas teve grande queda, o desemprego subiu, enquanto os bancos mantiveram os grandes lucros que conseguiram nos bons tempos. E, quando o prejuízo veio, foi socializado para o povo. Vergonhosamente, os bancos são salvos. O povo não. 
 É notável que há uma grande relação entre as falhas na economia e as falhas na política. O privilégio que aconteceu no socorro à Crise de 2008, por exemplo, prova isso. Os bancos e banqueiros, pequena porcentagem privilegiada, detêm, também, o poder político, e mantêm relações estreitas com o governo. A concentração econômica e política é nociva ao povo, relegado a ser “o resto” da sociedade. Muita riqueza no topo e quase nenhuma riqueza na base. Não há, nem sequer, espaço para conflitos de classes ou debates, a porcentagem rica já entra ganhando, e a massa de pessoas comuns não tem nem voz. Politicamente falando, a minoria política é responsável por dominar a maioria. Vale citar o exemplo dos Estados Unidos da América e do “gerrymandering”. Esse termo em inglês nada mais é que uma legislatura de Massachusetts que redesenhou os limites dos círculos eleitorais para favorecer os candidatos do partido republicano. Apesar da maioria dos americanos votar em democratas para a Câmara, a legislatura garante o poder aos republicanos. Em 2018, os democratas retornaram ao controle. Senadores democratas foram a opção de voto da maioria dos americanos, mas, como os estados com poucas pessoas contam com os mesmos dois senadores que os estados mais populosos, os republicanos mantiveram o controle do Senado, que é de grande importância por aprovar os juízes da Suprema Corte. Assim, é lamentável que a Suprema Corte tenha deixado de ser um árbitro justo para se tornar um campo de batalha política, no qual a minoria domina. 
 Desse modo, é intrínseca a degradação econômica e política. Com os dois sistemas debilitados, temos indivíduos desequilibrados e egoístas, como o que ocorreu em 2008. Como diria aquela famosa canção protesto, “o de cima sobe e o de baixo desce”. E, de fato, essa é a realidade, afinal os mais vulneráveis sempre pagam o preço, e este é caríssimo. O falso discurso de “valores” estadunidenses, por exemplo, é combatido por Joseph, que cita como é irreal o discurso político da honestidade, moralidade e justiça frente ao ideal de país evoluído. 
 É relevante citar as verdadeiras fontes de riqueza de uma nação: produtividade, criatividade e vitalidade do seu povo. Os avanços, que são promovidos pelo povo, fornecem bases para a elevação do padrão de vida que ocorreu nos dois últimos séculos, ou seja, é um crescimento partilhado. No entanto, nas últimas quatro décadas, o crescimento desacelerou e a renda de grandes parcelas da população estagnou ou entrou em declínio, ou seja, houve um enorme abismo entre o topo e os demais.
 Fato é, a economia e a política fugiram do caminho ideal. Quais ideias e interesses as desviaram? Por que esses interesses atraem as pessoas e são tão problemáticos? As agendas econômicas e políticas estabelecidas pelos interesses corporativos vêm estabelecendo maior concentração de poder, o que é preocupante. Reformas existem, e, pelo menos economicamente, são fáceis. É urgente que haja uma economia que seja mais humana, que forneça dignidade aos cidadãos.
 Em “A Riqueza das Nações”, de 1776, obra de Adam Smith, há uma análise de como as nações prosperam. No entanto, o liberal clássico foi incapaz de compreender a real riqueza das nações, que é a capacidade de garantir bons padrões para todos e, ainda, de modo sustentável. É preciso aumentar a produtividade, não há relação com acumulação financeira ou ouro, como diziam Smith e os mercantilistas, nessa ordem. 
 Houve Malthus, quem disse que o crescimento da população manteria os salários no nível de subsistência. Ele disse que a população se expandiria se os salários subissem, reduzindo-os novamente ao nível de subsistência, ou seja, não haveria perspectiva de melhora nos padrões de vida. Porém, Malthus errou. 
 No fim do século XVIII, construído sobre o desenvolvimento dos séculos anteriores, o Iluminismo foi construído. Há a valorização da razão, e nasce a epistemologia da ciência, um objeto verificável. Através de pesquisas, progressos e avanços, temos um bem mutável, a ciência. Oportunamente há, também, cada vez mais universidades e instituições de pesquisa. A Reforma de Lutero, prévia ao Iluminismo, havia tirado o poder do monarca e da Igreja, e dado à sociedade o direito de encontrar respostas. Com o sistema de processo legal e o sistema de freios e contrapesos temos, por exemplo, a mídia, fundamental nas investigações, garantindo justiça e liberdade. Unindo tecnologia, ciência, mudanças sociais, políticas e econômicas, e o Iluminismo, temos o aumento da produção mais rápido que o aumento da população. Assim, a renda per capita começou a subir, os padrões de vida subiram e as famílias foram diminuindo. A Maldição Malthusiana falhou. Houve uma imensa elevação dos padrões de vida nos últimos 250 anos, junto com o aumento da longevidade, fatos que mudaram bastante o destino da humanidade. 
 Chegando ao século XIX, há os frutos dos progressos partilhados de modo desigual e, desastrosamente, a vida vai ficando pior para muitos. A verdade é que a Revolução Industrial foi trágica para boa parte do povo. 
 Os EUA, ao fim do século XIX, na Era Dourada e nos Loucos Anos 1920 há novos picos de desigualdade. Felizmente, o governo responde com o New Deal e a legislação da Era Progressista. Roosevelt aprovou a pensão para idosos e Johnson a assistência médica aos idosos e a guerra contra a pobreza.
 O Reino Unido, e boa parte da Europa, têm um Estado que garante a assistência médica, direito humano básico. É, também, o caso do Brasil, com o SUS. No entanto, os EUA não garantem a assistência médica.
 Em meados do século passado, havia uma “sociedade de classe média” nos países desenvolvidos, ou seja, cidadãos com vidas mais longas e saudáveis, com as devidas garantias. No entanto, houve uma virada negativa no fim da década de 1970. A renda dos grupos da base estagnou ou declinou, e a renda dos outros grupos disparou. Assim, a expectativa de vida dos não ricos cai bastante. 
 O apoio da comunidade empresarial é cada vez mais necessário, mas, para ajudar, eles querem duas coisas: desregulamentação e redução de impostos. Assim, nos Estados Unidos, surge Donald Trump como presidente.Preconceituoso, misógino, nativista e protecionista. Mas, aparentemente, um ambiente melhor para os negócios. A ganância sempre fala mais alto. Trump ataca as universidades, a comunidade científica e o judiciário. Ele dissemina fake news e rotula a mídia, instrumento de democracia, como mentirosa. Nesse contexto, infelizmente, a democracia e a economia são minadas. Mas essa realidade de ascensão da extrema direita não é exclusividade dos Estados Unidos, sendo possível fazer, inclusive, um paralelo com o Brasil de Jair Messias Bolsonaro. 
 Nesse contexto, é preciso culpabilizar a comunidade empresarial pelo sucesso de Trump. É preciso atenção, os fascistas também chegaram no poder assim, com a aliança conservadora e empresarial. 
 Os EUA, país respeitado por ser líder em inovação nas universidades, elegeu Trump, que tentou cortar o financiamento governamental para a pesquisa básica no orçamento de 2018. Paralelamente, há países, como Canadá e Austrália, que tiram vantagem da posição de Trump contra a imigração e a ciência.
 Donald Trump ataca, insistentemente, o judiciário. Vale citar sua disposição em indicar juízes desqualificados.
 O não mais presidente dos Estados Unidos tenta se defender atacando quem trabalha para revelar a verdade. Ele insiste em vender ideias ruins e perigosas. Foi lamentável assistir à democracia americana em jogo. Os avanços dos últimos 250 anos também estavam em jogo, mas houve quem apoiasse e reproduzisse as ideias de Trump. 
 É, também, complicado encontrar uma justificativa plausível para a tolerância à desigualdade. Ao ponto que, com menos riqueza na base, o topo também “sofre”. Países com grande desigualdade apresentam desempenhos piores. No entanto, até as crenças foram contaminadas pelo dinheiro.
 Os mais ricos parecem ter convencido grande parte dos americanos a irem contra si mesmos. De fato, a ideologia sucumbiu a ciência, a racionalidade e a argumentação. A cultura tem ido contar a razão científica. Por fim, a liberalização e a globalização enriqueceram poucos, e estagnara, trouxeram instabilidade e insegurança para o restante. Resumindo, as elites focaram no PIB e não lembraram das pessoas. 
 Muitas vezes os mercados não funcionam por haver pouca competição e poder demais em poucas mãos. Nos EUA, há tantas casas vazias quantas pessoas sem ter onde morar. Nas crises, mesmo que as políticas governamentais não funcionem perfeitamente, podem melhorar as coisas.
 A dura realidade é que os mercados não cumprem seus objetivos. Assim, o governo precisa fazer o que os mercados não fazem e garantir que ajam como deveriam agir. 
 Deve-se buscar inspiração nos bons exemplos, portanto, vale citar a Suécia. Os suecos sabem que precisam de investimento público e que o governo deve sustentar essas despesas de modo sustentável. Muitas dessas despesas públicas complementam despesas privadas. Assim, conclui-se que é preciso mais que impostos baixos e pouca regulamentação para um bom desempenho econômico.
 O problema dos EUA é não investir nas pessoas. E essa questão é mais enraizada e vai além de Trump. Devemos lembrar que política e economia estão interligadas. No caso da eleição de Trump, os super-ricos apostaram na fraude, privação de direitos e desempoderamento para defender seus interesses. 
 O ponto é que se deve mudar de rumo, ou haverá, continuamente, uma economia, uma política e uma sociedade cada vez mais disfuncionais. O sistema econômico americano não venceu a Guerra Fria, o comunismo que fracassou mesmo. Após o fim da URSS, o sistema perdeu o incentivo de funcionar, não vale o mérito. É preciso ter humildade e abandonar a arrogância, seguindo exemplos como o da Suécia. Deve-se buscar uma forma de organização mais cooperativa e uma política que garanta a coesão nacional. É preciso uma maneira alternativa de seguir. Um contrato social decente. Salvar o capitalismo de si mesmo.

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