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Sumário 6 |Capa Controle e Redução de Perdas Várzea do Ribeirão Parelheiros 28| Programa de reabilitação de redes de água 33| ENTREVISTA Ernani Ciríaco de Miranda: “Os níveis de perdas no Brasil ainda são elevados” PONTO DE VISTA A situação atual das perdas no Japão por Masahiro Shimomura PERDAS DE ÁGUA E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL Reduzir perdas - o meio ambiente e a sociedade agradecem por Sônia Nogueira ARTIGOS TÉCNICOS BIODIVERSIDADE Mecanismos de desenvolvimento limpo e créditos de carbonos 17| 23| 26| 39| MEIO AMBIENTE Desenvolvimento sustentável para o país RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL O TEMPO DO RIO TIETÊ Um rio de contrastes e múltiplos usos CYBER CAFÉ Site Domínio Público RESENHA Livro: Big Bang HOMENAGEM Um profi ssional realizado que nunca esqueceu a Sabesp 38| 46| 48| 49| 50| Associação dos Engenheiros da Sabesp AESABESP REVISTA Ano IX - nº27 - Setembro/Outubro 2007 Ao contrário do que se acreditava num passado não muito distante, o mundo está aos poucos tomando conhecimento de que a água é um recurso limitado. É fundamental que o homem amplie as medidas estratégicas no sentido de preservá-la, garantindo para as gerações futu- ras o acesso a esse bem tão precioso. As deci- sões devem ocorrer em caráter de urgência, para evitar que as medidas corretivas no futuro não sejam ainda mais radicais. O desperdício generalizado parte das residências, com a torneira pingando, até as cidades, independente do porte, com vazamentos em adutoras, encanamentos, empresas e fraudes na captação de água. Cada setor do governo e da sociedade têm sua parcela de responsabilidade. Aparentes ou reais, os níveis de perda de água no Brasil ainda são altíssimos e representam um grande desafi o para o setor de sanea- mento, principalmente devido a dimensão continental do País. Nos- sa reportagem especial de capa discute a necessidade da redução imediata das perdas de água, através de equipamentos e sistemas, e mostra as medidas que já estão sendo tomadas no sentido de re- duzir os limites atuais para padrões cada vez menores, a exemplo do que aconteceu em países como o Japão, situação também retratada nessa edição da Revista Saneas. O assunto ganha especial importância no momento em que o Go- verno divulgou, no dia 14 de setembro, os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2005/2006 (PNAD/IBGE), que aponta o crescimento da rede de água, de 82,3% em 2005 para 83,2% em 2006. O percentual de domicílios com rede de esgoto também aumentou, de 69,7% para 70,6%, no mesmo período. E os números devem continuar a subir, sinalizando a necessidade de au- mentar também os cuidados com a preservação da água para que ela chegue, com qualidade e em quantidade sufi ciente aos lares de todo Brasil. Você vai saber mais sobre o assunto na matéria sobre Controle de Perdas, em entrevista com Ernani Ciríaco de Miranda, Coordenador do Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS), além dos Pontos de Vista de Masahiro Shimomura e Sônia Nogueira. Tam- bém conhecerá temas como o Programa de Reabilitação de Redes de Água, conduzido pela Unidade de Negócio Centro da Sabesp; os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo e Créditos de Carbono; o trabalho para redução da concentração de constituintes típicos de efl uentes sanitários na várzea do Ribeirão Parelheiros; a importância e os avanços na despoluição do Rio Tietê, entre outros assuntos de interesse. E assim cumprimos a missão de sempre proporcionar aos nossos leitores, as principais novidades e atualizações tecnológicas em saneamento e meio ambiente. Por isso, você já sabe: pensou em saneamento, pensou na Revista Saneas. Boa leitura! Walter Antonio Orsatti Presidente A ÁGUA DO AMANHÃ Editorial Saneas é uma publicação técnica bimestral da Associação dos Engenheiros da Sabesp DIRETORIA EXECUTIVA Presidente - Walter Antonio Orsatti Vice-Presidente - Gilberto Alves Martins 1º Secretário - Ivan Norberto Borghi 2ª Secretária - Cecília Takahashi Votta 1º Tesoureiro - Hiroshi Letsugu 2º Tesoureiro - Emiliano Stanislau de Mendonça DIRETORIA ADJUNTA Diretor de Marketing - Carlos Alberto de Carvalho Diretor Cultural - Olavo Alberto Prates Sachs Diretor de Esportes- Zito José Cardoso Diretor de Pólos - José Carlos Vilela Diretora Social - Magali Scarpelini Diretor Técnico - Reynaldo Eduardo Young Ribeiro CONSELHO DELIBERATIVO Amauri Pollachi, Carlos Alberto de Carvalho, José Carlos Vilela, José Márcio Carioca, Júlio César Villagra, Luciomar dos Santos Werneck, Luis Américo Magri, Luiz Henrique Peres, Nélson César Menetti, Osvaldo Ribeiro Júnior, Ovanir Marchenta Filho, Renato Hochgreb Frazão, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, Sérgio Eduardo Nadur, Yazid Naked CONSELHO FISCAL Ivo Nicolielo Antunes Junior, Nelson Luiz Stábile e Nizar Qbar Pólos da Região Metropolitana de São Paulo Coordenador - Nélson César Menetti Costa Carvalho e Centro - Célia Maria Machado Ambrósio Leste - Luciomar dos Santos Werneck Norte - Oswaldo de Oliveira Vieira Oeste - Evandro Nunes de Oliveira Ponte Pequena - Aram Kemechian Pólos AESABESP Regionais Baixada Santista - Ovanir Marchenta Filho Botucatu - Osvaldo Ribeiro Júnior Franca - Helieder Rosa Zanelli Itapetininga - Valter Katsume Hiraichi Lins - Marco Aurélio Saraiva Chakur Presidente Prudente - Robinson José de Oliveira Patricio Vale do Paraíba - José Galvão F. Rangel de Carvalho CONSELHO EDITORIAL Luiz Henrique Peres (Coordenador) Viviana Marli de Aquino Borges Carlos Alberto de Carvalho José Marcio Carioca Célia Maria Machado Ambrósio FUNDO EDITORIAL Jairo Tardelli, Antonio Pereto, José Antonio de Oliveira, Milton Tsutiya, Sonia M. Nogueira e Silva, Eliana Kitahara e Franscisca Adalgisa da Silva JORNALISTA RESPONSÁVEL João B. Moura - MTB 38741 PROJETO VISUAL GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO E PRODUÇÃO GRÁFICA L3ppm - publicidade, propaganda e marketing Ltda criacao@L3ppm.com.br www.L3ppm.com.br IMPRESSÃO E ACABAMENTO Gráfi ca IPSIS www.ipsis.com.br Associação dos Engenheiros da Sabesp Rua 13 de maio, 1642 - casa 1 - Bela Vista 01327-002 - São Paulo - SP Fone (11) 3284 6420 - 3263 0484 Fax (11) 3141 90 41 aesabesp@aesabesp.com.br www.aesabesp.com.br Associação dos Engenheiros da Sabesp AESABESP REVISTA * Impresso em papel reciclado Ano IX - nº27 - Setembro/Outubro 2007 Saneas Setembro/Outubro de 2007 VICENTE DE AQUINO CAPA 05 As perdas de água (diferença entre os volumes produzidos ou entregues aos sistemas e os volumes consumidos de forma autorizada) ocorrem em todos os sistemas de abastecimento e refl etem a efi ciência operacional e as condições da infra-estrutura. Classifi cam-se em perdas reais (físi- cas), quando a água é perdida antes de chegar aos consumidores, principalmente devido a vazamentos nos diversos componentes dos sistemas de abaste- cimento, e em perdas aparentes (comerciais), quan- do a água é consumida de forma “não-autorizada”, principalmente devido à submedição causada pela imprecisão nos hidrômetros dos clientes, irregulari- dades (fraudes) e furto de água em hidrantes. As proporções entre esses dois tipos de perdas e suas causas variam de sistema para sistema, exigin- do ensaios de campo e a adoção de várias hipóteses para se chegar a uma partição entre os dois tipos de perdas. As avaliações mais recentes têm levado a uma porcentagem maior de perdas reais em relação às perdas aparentes. A IWA - International Water Association, propôs uma Matriz de Balanço Hídrico para os sistemas de abastecimento de água, que procura uniformizar os conceitos e os entendimentos sobre perdas de água em todo o mundo, conforme mostrado na tabela na próxima página. Há ainda uma grande discussão acerca dos indica- dores de perdas, especialmente no que diz respeito à comparabilidade entre sistemas de abastecimento de água distintos. O indicador clássico (percentual em relação ao volume produzido ou disponibiliza- do) tem sido preterido em favor de outros que pos- sam retratar melhor a situação existente,tais como o indicador de perdas “litros por ligação de água por dia” ou o “índice de vazamentos da infra-estrutura”, adimensional, que leva em conta fatores relativos às condições das tubulações e às pressões reinantes no sistema (este último indicador é para perdas reais). Não existe “perda zero” em sistemas de abasteci- mento de água. Podem ser defi nidos dois limites referenciais para as perdas: • Limite Técnico: aquele possível de se chegar utili- zando todas as técnicas, tecnologias e recursos dis- poníveis no momento (perdas inevitáveis); • Limite Econômico: nível de perdas em que o cus- to para recuperar um determinado volume supera o custo de produção e distribuição desse volume; geralmente este limite é atingido antes do limite técnico. A LUTA PARA COMBATER AS PERDAS DE ÁGUA Crédito: Odair M. Faria CAPA Saneas Setembro/Outubro de 2007 Tais limites são conceituais e de difícil determinação prática, e va- riam, especialmente o econômi- co, de local para local. As principais ações para redução das perdas reais são o gerencia- mento de pressões (quanto me- nores e mais estáveis, melhor), o controle ativo de vazamentos (localizar rapidamente os novos vazamentos não-visíveis, atra- vés do monitoramento da vazão mínima noturna e de métodos acústicos de pesquisa), a agilida- de e a qualidade do reparo dos vazamentos e o gerenciamento da infra-estrutura (priorização de trechos para renovação das tubulações, principalmente dos ramais de água, onde ocorre a maioria dos vazamentos). Já para a redução das perdas apa- rentes, as principais ações são o gerenciamento da hidrometria (otimização das trocas e dimen- sionamento dos hidrômetros, principalmente dos maiores consumidores) e o combate a irregularidades (como fraudes e ligações clandestinas). O desenvolvimento de medi- das de natureza preventiva de controle de perdas nas fases de projeto e construção do sistema envolve a necessidade de passos iniciais de organização anterio- res à operação. As medidas de- vem contemplar, dentre outras: a boa concepção do sistema de abastecimento de água, conside- rando os dispositivos de controle operacional do processo, a qua- lidade adequada dos materiais e da instalação das tubulações, equipamentos e demais dispo- sitivos utilizados, a implantação dos mecanismos de controle operacional (medidores e ou- tros), a elaboração de cadastros e a execução de testes pré-ope- racionais de ajuste do sistema. A macromedição, ou seja, a me- dição dos grandes volumes de água que entram no sistema (ou mesmo aqueles que saem), deve ser bem estudada, implantada e acompanhada, pois os números dela resultantes serão as referên- cias para todas as análises poste- riores, não só para a questão das avaliações de perdas, mas tam- bém para a defi nição de vários parâmetros de projeto e opera- ção dos sistemas de água. PESQUISA INTERNACIONAL Para o consultor Julian Thornton, inglês, formado em Engenharia Mecânica e Civil, e desde 1996 residindo no Brasil, o trabalho de campo é o principal: “Eu sempre me considerei uma pessoa mais prática. Que gosta de trabalhar e resolver os problemas cotidia- nos”, afi rma. Julian faz parte das forças-tarefa da IWA e da AWWA (American Water Works Associa- tion): “Eu sou o líder da equipe do controle de pressão”. Julian fala sobre a contribuição da IWA no tocante a um enten- dimento global uniforme sobre as questões ligadas às perdas reais: “A IWA propôs uma padro- nização para avaliar perdas reais e também aparentes. Antes ha- via vários indicadores, não eram padronizados, eram variáveis, soltos, as pessoas queriam com- parar maçã com laranja e não ti- nha como comparar. A IWA trou- xe um indicador que padronizou a medição em vários países. Eu particularmente não conheço países que não tenham aceito os indicadores da IWA. Existem pa- íses que ainda estão estudando, mas eu não sei de nenhum que disse ‘eu não vou usar’. Posso ci- tar alguns países que utilizam a metodologia da IWA: Estados Unidos, Canadá, Malta, Austrá- lia, Nova Zelândia, África do Sul, Alemanha, Itália e Brasil, entre outros”, afi rmou. Sobre a questão de as perdas 06 Divulgação Divulgação Julian Thornton, das forças-tarefa da IWA e da AWWA (American Water Works Association) Saneas Setembro/Outubro de 2007 aparentes não terem avançado tanto quanto as perdas reais na IWA, Julian diz que o assunto tem mais de uma resposta: “Primeiro precisamos dizer que a IWA tem uma equipe para tratar das per- das aparentes. Tem muita gente que pensa que IWA não se preo- cupa com isso, mas nós estamos estudando e pesquisando o as- sunto. Acontece que o processo de desagregar as perdas aparen- tes é bem mais complexo. Nós podemos ter falhas de cadastro, fraudes ou mesmo submedição. Já as análises dos componentes das perdas reais são mais visíveis. Podemos ter uma precisão muito grande no sistema nesse campo. Mas as coisas estão mudando. Malta e Chipre, por exemplo, es- tão muito adiantados em relação às perdas aparentes”, explica. O consultor não tem nenhuma dúvida em afi rmar que é muito importante fazer um diagnóstico de todos os componentes e de- sagregar o que é perda aparente do que é perda real: “Temos que achar as peças que criam proble- mas e depois atacar de forma efi - ciente. Quando se está tentando reduzir perdas, é necessária uma gestão contínua. Ela é mais im- portante do que a técnica em si. Se você não faz uma gestão con- tinuada, você não vai conseguir diminuir as perdas de forma sus- tentável. A gente pode aplicar uma ferramenta nova, que dê re- sultados naquele momento, mas se não houver gestão, as perdas voltam a aparecer”, esclarece. SISTEMAS COMPLEXOS E DE GRANDES DIMENSÕES Um dos maiores desafi os em um sistema grande, segundo Julian, é a compartimentação do siste- ma: “O segredo para conseguir medir com precisão é desagregar a rede de distribuição de água, gerenciar um sistema grande em partes pequenas. A Inglater- ra conseguiu diminuir as perdas reais em cinco anos. Mas lá são 50 milhões de pessoas, toda In- glaterra signifi ca três cidades de São Paulo. É importante fazer um diagnóstico fi nanceiro para saber em quanto tempo nós conseguiremos chegar naquilo que pretendemos. Mas um sis- tema grande é complexo, pois se o dinheiro acaba no meio desse prazo, a gente acaba perdendo o que já ganhou. Então é necessá- rio saber se vai haver um investi- mento continuado para se deter- minar prazos”. “Eu gosto de citar bons exemplos da metodologia IWA. Em perdas aparentes, um grande exemplo disso é a cidade da Filadélfi a, nos Estados Unidos. Eles trocaram todos os hidrômetros e fi zeram uma grande campanha contra as fraudes. Como resultado, con- seguiram reduzir bastante o vo- lume das perdas aparentes. Hali- fax, no Canadá, também é outro grande exemplo. Isso é o sucesso de uma gestão de um grande sis- tema dividido em vários peque- nos. Chipre, um pequeno país, mas que tem muitos problemas de recursos hídricos, conseguiu reduzir muito as perdas reais e aparentes”, diz Julian. Sobre as referências mundiais no controle das perdas de água, Ju- lian diz que a Inglaterra e o Japão são exemplos bem acabados: “Eles controlam bem os dois tipos de perda. Se uma empresa está com controle de fl uxo de caixa e precisa fazer dinheiro, controlar a perda aparente é mais importan- te. Por outro lado, a empresa que vende água precisa ter o produ- to. Se ela está com pouca oferta, controlar a perda real é mais im- portante. Sem água ela deixa de ser uma empresa”, afi rma. Ele diz que tanto os ingleses quanto os japoneses trabalham muito com o controle de pres- são: “Ao diminuir a pressão em determinados horários, você acaba diminuindo também os vazamentos”, conclui Julian. PERDAS OCORREM EM TODOS OS SISTEMAS Para o engenheiro Eric Cerquei- ra Carozzi, Superintendente de Desenvolvimento Operacional da Diretoria de Tecnologia, Em- preendimentos e Meio Ambien- te da Sabesp,as perdas ocorrem em todos os sistemas de abas- tecimento. “Para um efi ciente combate às perdas, é necessário conhecer o tipo de perda predo- minante em cada sistema e as respectivas causas. A partir desse diagnóstico é possível priorizar e investir em ações de modo a se otimizar a aplicação dos recur- sos. Nos sistemas de maior porte, que demandam maior esforço para reduzir as perdas, é funda- mental sua divisão em setores de abastecimento menores, que via- bilizem uma gestão efi caz da sua operação. Outro aspecto funda- mental do combate às perdas é a necessidade de conscientização e comprometimento de todos os envolvidos, além de estratégias de longo prazo, com continuida- de de recursos, associados a cui- dados especiais quanto à quali- dade dos materiais aplicados e ao treinamento das equipes de manutenção e de instalação da infra-estrutura”, explica. Eric ressalta que o Programa de Redução de Perdas é um progra- ma estratégico na Sabesp, com metas ambiciosas e que exigirá recursos para a sua implementa- ção: “Realmente o programa de redução de perdas é fundamen- 07 Divulgação Eric Cerqueira Carozzi, Superinten- dente de Desenvolvimento Opera- cional da Diretoria de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp CAPA Saneas Setembro/Outubro de 2007 tal para a Sabesp, pois além de possibilitar a redução de custos operacionais e de manutenção, permite adiar investimentos na ampliação da produção, que têm custos cada vez mais elevados, principalmente em municípios com pouca disponibilidade hí- drica”. Quanto ao programa de per- das da Sabesp, diz Eric que “já estamos trabalhando na ela- boração do programa corpo- rativo, através da uniformização de critérios e ações nas duas di- retorias operacionais (Diretoria Metropolitana e Diretoria de Sis- temas Regionais) e da consolida- ção dos seus planos existentes. A partir desse plano, buscaremos viabilizar os recursos necessários para atingir as metas defi nidas. Também acompanharemos a evolução e os resultados obtidos no Contrato de Performance (no qual a contratada tem compro- misso e é remunerada em função da redução de perda obtida), em andamento num projeto-piloto na Região Metropolitana de São Paulo, para avaliar esse novo mo- delo de contratação. Mas não basta elaborar planos e viabilizar recursos. É preciso acompanhar a realização das ações e os resultados obtidos, e para isso desenvolveremos um sistema que integre as informa- ções das duas diretorias, o que é um grande desafi o devido às muitas diferenças de característi- cas e de sistemas de informações utilizadas em cada uma delas”, diz. Sobre as difi culdades de plane- jar as ações de perdas, Eric res- salta que “ainda não possuímos um modelo preciso que permita projetar as metas de perdas em função das ações e recursos pre- vistos nos planos. É preciso me- lhorar a qualidade destas infor- mações e registrar os históricos das ações e seus resultados, a fi m de aperfeiçoar continuamente esse modelo, de modo a apri- morar os planejamentos futuros. De qualquer forma, para oti- mizar a aplicação dos recursos, que são escassos, é fundamental ter o diagnóstico dos tipos e cau- sas das perdas em cada sistema, a partir do qual se possam prio- rizar as ações mais efi cientes e efi cazes”. PROGRAMAS DE COOPERAÇÃO Eric acredita que elaborar pro- gramas de cooperação é uma forma efi caz de capacitação e troca de experiências para a ges- tão das perdas: “No trato com o problema das perdas de água, a Sabesp segue a linha de ação proposta pela IWA. Dessa forma, as unidades de controle de per- das da Sabesp, principalmente na Diretoria Metropolitana, têm mantido um contato muito pró- ximo com os especialistas liga- dos à IWA. Quanto aos acordos de cooperação técnica, a Sabesp assinou, no início deste ano, um acordo com o governo do Japão, através da sua Agência de Coo- peração Internacional (JICA), que tem como objetivo a transferên- cia de conhecimento e de tecno- logia, adquiridos pelos técnicos japoneses durante mais de 50 anos. O Japão é uma referência mundial em controle de perdas e possui sistemas tão grandes e complexos como os da Sabesp, com índices de perdas excepcio- nais, abaixo de 8%, principalmen- te quando considerados índices acima de 30%, como ocorre em 08 Japão Tóquio Kobe Nagoya M Viena 1954 1 22 15,92 1955 2 20 18,96 1956 3 20 20,46 1957 4 20 14,99 1958 5 30 20 18,91 1959 6 30 22 18,29 1960 7 30 22 21,66 1961 8 29,6 22 13,56 1962 9 28,3 21 14,86 1963 10 29,6 20,5 14,48 1964 11 28,9 19,5 14,18 1965 12 31,2 19 14,81 1966 13 29,4 18,5 14,27 1967 14 27,9 18 14,14 1968 15 27,8 17,8 14,04 1969 16 27,7 17,6 13,96 1970 17 27,1 17,4 13,93 25 1971 18 26,8 17,2 13,59 1972 19 26,5 17 12,9 1973 20 26,4 16,8 12,7 1974 21 26,4 16,6 12,42 1975 22 24,9 15,8 12,33 23 1976 23 24,3 15,7 12,48 1977 24 20,8 15,6 12,01 18,5 1978 25 20,2 15,5 11,90 17,5 1979 26 20,5 15,4 11,82 16,5 1980 27 19 15,3 11,48 16 15 1981 28 17,2 15,2 11,15 15,5 1982 29 15,5 15,1 10,83 14 1983 30 13,4 14,8 10,50 13 1984 31 12,7 14,5 14,7 9,55 13,75 1985 32 14,5 14 14,7 9,27 13 17,5 1986 33 14,7 13,5 13,3 8,48 13,25 1987 34 13,3 13 12,8 8,08 14,5 1988 35 12,9 12,5 12 7,77 14,75 1989 36 11,7 12 11,5 7,49 15 1990 37 10,9 11,5 11,1 6,88 16,5 9,9 1991 38 10,3 11 10,7 6,70 16 1992 39 10 10,5 10,1 6,49 18,75 1993 40 9,9 10 9,8 6,23 21 1994 41 8,1 9,6 15,8 5,42 22 1995 42 7,3 9,3 12,3 5,36 21,75 9,5 1996 43 5,8 8,9 10 5,19 16,1 1997 44 6 8,4 9,6 5,13 14,9 8 1998 45 5 8 9,1 5,02 15,25 1999 46 4,5 7,6 8,9 4,80 15,55 2000 47 4,3 7,1 8,7 4,54 15,4 2001 48 5,5 6,4 8,3 4,50 15,4 2002 49 6,6 5,4 8 15,55 2003 50 6,9 4,7 8 16,1 2004 51 6,8 4,4 7,9 17,45 2005 52 17,4 2006 53 16,25 2007 54 15,8 20 25 30 35 R ea is 0 5 10 15 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 % P er da s R Japão Tóquio Kobe Nagoya Viena Divulgação Redução de perdas ao redor do mundo Saneas Setembro/Outubro de 2007 Saneas Setembro/Outubro de 2007 alguns sistemas operados pela Sabesp” (Leia mais no Ponto de Vista, a partir da página 23). ATUALIZAÇÃO TECNOLÓGICA Outro assunto do qual Eric gosta de falar diz respeito às inovações tecnológicas disponíveis no mer- cado e que possuem aplicação imediata na redução de perdas: “Como eu já disse, a Sabesp mantém estreita relação com os especialistas da IWA que, à parte do trabalho realizado no Japão, é a entidade de ponta, em âmbito mundial, quando se fala em con- trole de perdas. Desse modo, em termos tecnológicos, a Sabesp tem se mantido atualizada e em um bom patamar, quando com- parada às empresas de abasteci- mento de água dos países mais desenvolvidos”. Como inovações tecnológicas que teriam aplicação imediata, Eric cita o sistema de detecção de vazamentos em tubulações de grande porte (adutoras e anéis primários), conhecido como Sis- tema SAHARA. Esse sistema foi desenvolvido na Inglaterra pelo Water Research Center (WRC) e “é o único sistema conhe- cido que se demonstrou extremamente efi caz para a detecção desse tipo de vazamento. A Sabesp já mante- ve contato com o representante do sistema para as Américas, mas, no momento, seus altos custos inviabilizam tes- tes de campo em algum de nos- sos sistemas de abastecimento, que seria o primeiro passo para adoção dessa nova tecnologia”. Um grande desafi o tecnológico para a Sabesp, segundo Eric, é “a redução da submedição dos hidrômetros dos clientes, efeito potencializado pela existência, especialmente no Brasil, de cai- xas d’água nos imóveis, o que reduz as vazões nas ligações e amplia a submedição nos hidrô- metros”. Outra questão importante é a qualidade dos materiais das tu- bulações enterradas. A Sabesp já utiliza como padrão, há vários anos, tubos de polietileno para a execução dos ramais de água. Quanto à utilização do polietile- no em redes de distribuição de água, Eric diz que “observamosuma tendência de sua aplicação em diversos países europeus. No Brasil, algumas operadoras como o DMAE - Departamento Muni- cipal de Água e Esgoto de Porto Alegre e a empresa Águas de Li- meira já adotam o polietileno nas novas redes. A Sabesp aplicou o polietileno nas redes de alguns poucos sistemas, mas, por falta de certos cuidados, acabou ten- do más experiências. O polietile- no apresenta diversas vantagens em relação às tubulações em fer- ro ou PVC, tais como a redução do número de juntas (soldagem por fusão), que são potenciais pontos de vazamentos, a facili- dade na execução das redes e a exigência de uma menor lar- gura de escavação. Além disso, onde há necessidade de reno- vação das redes e praticamente é inviável a sua instalação com abertura de vala (região central de São Paulo, por exemplo), o polietileno tem a vantagem adi- cional de possibilitar a execução através de método não-destruti- vo. Por outro lado, o polietileno Divulgação Crédito: Odair M. Faria Vazamento Adutoras podem conter vazamentos CAPA Saneas Setembro/Outubro de 2007 exige cuidados com o contro- le de qualidade dos materiais, equipamentos mais sofi sticados e estruturação da manutenção e mão-de-obra treinada e previsão de peças de reposição. Mas es- ses cuidados também devem ser observados para os demais ma- teriais. Além disto, para se garan- tir bons resultados, pela falta de normas brasileiras, foram desen- volvidas NTS – Normas Técnicas Sabesp, que especifi cam desde os materiais até sua aplicação e manutenção. Assim, já estamos em condição de iniciar uma apli- cação em maior escala. Como em toda mudança, há resistência em utilizar um novo material, mas acho que o polietileno é uma boa solução para aplicação nas redes de água, desde que toma- dos os devidos cuidados, e sua aplicação deve ser avaliada e tes- tada em maior escala na Sabesp”, fi naliza. BAIXA RENDA O engenheiro civil Dante Ragazzi Pauli, atual Superintendente da Unidade de Negócio Leste da Sa- besp (UN-ML), acredita que um dos seus maiores desafi os é o de combater perdas em uma região vasta, complexa e de baixa ren- da como é essa área da Região Metropolitana de São Paulo: “A UN-ML atende oito municípios (Salesópolis, Biritiba-Mirim, Arujá, Suzano, Poá, Ferraz de Vasconce- los, Itaquaquecetuba e parte da Zona Leste do Município de São Paulo), com mais de 752 mil liga- ções de água e mais de 3 milhões de pessoas. A incansável preocu- pação com o uso sustentável da água, fator essencial para garan- tir a disponibilidade para as futu- ras gerações e a sustentabilidade do negócio, vêm aprimorando o Programa de Controle de Per- das”, diz. Ele explica que um dos pontos- chave para que esse controle atinja um grau de excelência está justamente no planejamen- to: “O ponto de partida é a rea- lização de nosso planejamento plurianual, em que avaliamos quais as principais ações e con- seqüentes recursos necessários para curto, médio e longo pra- zo. Assim, a redução de perdas tem sido realizada de forma mais efi caz e com retornos mais efetivos. Podemos citar algumas práticas: em 2004 foram imple- mentadas as Ações Integradas de Combate às Perdas nos seto- res de abastecimento, voltadas ao combate de perdas reais e aparentes, envolvendo todos os departamentos da UN-ML. Todos focados num só objetivo. Vale ci- tar também a postura inovadora da UN-ML, que implementou o Método de Análise e Soluções de Problemas para Perdas – MASPP”, afi rma. Esse novo método, segundo Dante, possibilitou a mudança de conceitos: “O de Volume Dis- ponibilizado (VD = compra de água da área de produção) e o de Volume Utilizado (VU = venda de água aos clientes). Atualmente todos os empregados da Sabesp falam em redução das perdas e sabem o signifi cado do VD e VU. Hoje, a cultura está tão bem dis- seminada que o problema de re- dução das perdas de água é res- ponsabilidade de todas as áreas da UN-ML, e não mais apenas da Divisão de Controle de Perdas. A gestão de controle de perdas enquadra-se totalmente na me- lhoria da qualidade da operação dos sistemas de abastecimento de água, na conseqüente melho- ria dos serviços prestados e na busca da excelência a cada ano. Em 2006, como parte das ações de melhoria do Programa de Perdas, as atividades de Pesqui- sa Acústica de Vazamento foram descentralizadas para os Pólos de Manutenção, bem como a leitura e acompanhamento do funcionamento das Válvulas Re- dutoras de Pressão (VRP) dentro de sua área de atuação. Em 2007 foram criadas metas de VD e VU, com responsáveis pelo setor de abastecimento, o que melhora o acompanhamento e a análise, tendo como foco principal os re- sultados planejados. No mesmo ano foi expandido o trabalho em alças de controle/distritos pito- métricos, que visam diminuir as vastas extensões de rede nos setores de abastecimento, propi- ciando uma melhor atuação de nossas equipes”, explica de for- ma direta. Fazer com que uma população carente e sem acesso à cultu- ra entenda a atual realidade do problema das perdas de água é também um fator determinante para ele: “A população na área de nossa atuação é formada por grandes núcleos carentes, con- domínios populares, ocupações desordenadas e irregulares, in- clusive em áreas de proteção de mananciais. A UN-ML possui o Programa de Participação Co- munitária - PPC, em que técnicos comunitários lotados nos nossos Escritórios Regionais asseguram maior proximidade e agilidade na identifi cação e atendimen- to às demandas e necessidades das comunidades. Para as áre- as de favela e caráter social, os técnicos comunitários verifi cam, visitam e acompanham as ne- cessidades dos clientes, realizam levantamento socioeconômico propondo uma tarifa diferencia- da ou condição de parcelamento 10 D iv ul ga çã o O engenheiro civil Dante Ragazzi Pauli, Superintendente da Unidade de Negócio Leste da Sabesp (UN-ML) Saneas Setembro/Outubro de 2007 dentro de seu nível econômico. Fortalecem a dis- seminação do Programa do Uso Racional da Água, mostrando para a comunidade o uso adequado, a fi m de evitar o desperdício e, conseqüentemente, pagamento pelo consumo utilizado incorretamente. O programa “Eu vi um vazamento”, iniciado em 2004, é um sucesso e tornou-se prática com o envolvimen- to e comprometimento de todos. Cada funcionário é um fi scal de perdas, apontando vazamentos nos locais onde atua, reside e trafega, abrangendo assim toda a área da UN-ML. O programa “Ligação Irregu- lar: isso não é legal” foi uma campanha de incentivo criada em 2006, cujo objetivo também é incentivar os empregados a informar sobre possíveis fraudes na região, bem como contribuir para a redução das perdas de água. A criação do Time de Desenvolvi- mento Tecnológico tem ajudado na busca de tecno- logias modernas, sempre levando em conta a apli- cabilidade pela mão-de-obra própria e contratada. Enfrentar esse desafi o, junto com os funcionários de nossa unidade, tem sido muito gratifi cante, pois sabemos que nossa área é vasta e de baixa renda. Entretanto, a garra e a dedicação dos colaboradores têm nos levado a resultados muito animadores. O melhor exemplo é o envolvimento e participação do chamado “chão de fábrica”. Afi nal de contas, são eles que vão a campo diariamente e resolvem a maioria dos problemas, além de serem o elo com nossos clientes”, diz. Dante explica as ações realizadas que resultaram na excelente redução das perdas ocorrida em Salesópolis: “O Município de Salesópolis tem po- pulação de cerca de 16.500 habitantes, e é o muni- cípio onde nasce o Rio Tietê. A redução de perdas para menos de 100 litros/ligação/dia foi o grande desafi o colocado para todas as equipes envolvidas no projeto. O ponto de partida para o resultado de Salesópolis (76 litros/ligação/dia) foi a adoção de um coordenador de projeto que, juntamente com os colaboradores envolvidos, planejou, direcionou e acompanhou as seguintes ações: substituição de todosos hidrômetros que estavam com validade vencida; localização de vazamentos com métodos de pesquisa acústica; conserto de vazamento com equipes de mão-de-obra própria; otimização das VRPs; testes de FCI (fator de condição da infra-es- trutura); participação, em 100% do município, dos técnicos em atendimento comercial externo (TACE), que ajudaram na identifi cação de fraudes e na ca- racterização da área. A aplicação dos conhecimen- tos obtidos com o MASPP foi de grande importân- cia”, explica. PEQUENOS SETORES Para Dante, a criação de microssetores em Salesópolis possibilitou identifi car as vazões notur- nas de cada área, para acompanhar qualquer desvio e direcionar as ações de forma mais rápida e proati- va: ”Para evitar que as perdas voltem a índices altos, as equipes de engenharia e de manutenção acom- panham diariamente as vazões mínimas noturnas e a produção diária para que, observado qualquer valor fora das faixas de controle estabelecidas, providên- cias sejam tomadas imediatamente. Com todas as ações realizadas, há alguns meses concluímos que a produção de água pode parar seis horas por dia sem comprometer a qualidade e o abastecimento da água do município. Aumentar o número de áreas de controle é uma forma de estender os conhecimen- tos obtidos em Salesópolis e em outros projetos que também são desenvolvidos na UN Leste. Gostaria de citar, novamente, que o envolvimento das pessoas é fator de fundamental importância no combate às perdas”, enfatiza. Nesse sentido, Dante fala que a aplicação da ferra- menta MASPP na UN-ML foi o foco de conscientiza- ção para o controle de perdas. “O MASPP permitiu conhecer a fundo alguns dos principais processos da UN-ML, ou seja, operação e manutenção do sis- tema de água e comercialização. Seu êxito só foi possível graças à formação de times multidepar- tamentais compostos por pessoas das áreas ope- racional, de manutenção, fi nanceira, de recursos humanos, qualidade e comunicação, além da equi- pe da Divisão de Perdas.” Foram essas equipes que planejaram, desenvolveram e executaram os pa- drões: “Tais equipes tiveram direcionamento para o planejamento, desenvolvimento e execução de padrões de trabalho e instruções de todos os servi- ços que envolvessem as perdas de água. Durante o período de desenvolvimento da metodologia e sua aplicação, foram adotados três setores de abaste- cimento como pilotos (Itaquera, Jardim Popular e Salesópolis), antes da completa implantação na UN- ML. Nesse período foram propostas ações de melho- ria nos setores e controle dos processos, através de ferramentas da Qualidade que pudessem interferir diretamente nos indicadores da unidade. O foco do trabalho foi voltado a reduzir o Volume Distribuído – VD - e aumentar o Volume Utilizado – VU, com me- 11 Crédito: Odair M. Faria Desperdício de água e consumo incorreto intensificam as perdas CAPA Saneas Setembro/Outubro de 2007 tas correspondendo a cada pro- cesso. A metodologia propiciou melhorias nos controles dos processos principais do negócio, gerando benefícios diretos a to- dos os níveis da organização, do profi ssional que executa sua ati- vidade com o procedimento cor- reto, otimizado e padronizado, passando pelos níveis gerenciais que podem otimizar equipes de trabalho com absoluto domínio das características do seu negó- cio ou mercado, até a alta admi- nistração, para a tomada de de- cisão baseada em fatos e melhor detalhamento dos planejamen- tos empresariais”, explicou. “A continuidade se dá sempre atra- vés da utilização da ferramenta PDCA (Plan, Do, Check, Action) e de auditorias regularmente exe- cutadas. Benchmarkings e o en- volvimento de um número cada vez maior de colaboradores, fa- zem com que, freqüentemente, novas ferramentas e tecnolo- gias sejam inseridas na execu- ção das atividades. Os sistemas SCORPION, SAMA, controle de VRPs e vazões mínimas noturnas, acompanhamento dos serviços de geofonamento, estabeleci- mento de metas e responsáveis por setor de abastecimento são alguns exemplos. Além disso, os controles têm sido aprimorados constantemente pelas equipes operacionais e gerenciais, de for- ma a analisar as ações de causa e efeito e os ganhos que cada uma teve. Hoje temos metas de VD e VU, acompanhadas diaria- mente, que possibilitam direcio- namento de recursos e decisões para evitar eventuais acrésci- mos nos volumes de perdas. Os treinamentos efetuados com a participação de nossa área de Recursos Humanos, juntamente com nossas equipes de Comuni- cação e Qualidade, empenhadas na disseminação das boas práti- cas, garantem a continuidade e aprimoramento do aprendizado obtido na época de aplicação da ferramenta MASPP, assim como a otimização das tarefas a serem executadas”, fala com segurança de quem domina o assunto. A rotina diária do trabalho é um dos principais fatores que de- monstram a continuidade das ações e dos aprimoramentos dos trabalhos desenvolvidos para a redução contínua de perdas da unidade: ”Resumindo: a busca constante de novas tecnologias, trabalho por processos e forte envolvimento e participação de nossos colaboradores garantirão a continuidade dos trabalhos ini- ciados quando da implementa- ção do MASPP”, fi nalizou Dante. MOTIVAÇÃO, ENVOLVIMENTO E TECNOLOGIA O Engenheiro Civil Luiz Paulo de Almeida Neto, Superintendente da Unidade de Negócio Baixo Tietê e Grande (UN-RT), que tem sede na cidade de Lins e opera 83 municípios, acredita que a motivação e o envolvimento das pessoas nos trabalhos operacio- nais dos sistemas de distribuição de água são fundamentais para resultar em baixos índices de perdas: “Nós aqui na UN-RT, para termos sucesso no combate a perdas, precisamos desenvolver nossa atuação em 83 municípios. Desta forma, envolver pessoas no projeto é imprescindível, pois o Gestor de Perdas da Unidade não consegue fi scalizar presen- cialmente nem 10% das equipes atuantes. Assim, alcançar objeti- vos no programa é primeiramen- te convencer todos os gerentes operacionais e demais funcioná- rios de que o programa é indis- pensável. Hoje, 100% do nosso volume produzido é medido com equipamentos eletromag- néticos interligados a sistemas informatizados e 70% de todo volume distribuído é medido e transmitido on-line a computa- dores que possibilitam o geren- ciamento das perdas. Por isso, trabalhar com profi ssionais qua- 12 D iv ul ga çã o Luiz Paulo de Almeida Neto, Superintendente da Unidade de Negócio Baixo Tietê e Grande (UN-RT) Irregularidades (fraudes) e hidrômetros modificados D ivulgação Cr éd ito : O da ir M . F ar ia Saneas Setembro/Outubro de 2007 lifi cados é obrigatório”, esclare- ce. Ele coloca a motivação como um dos principais fatores para os bons resultados obtidos no combate às perdas na região de Lins: “Em primeiro lugar, sempre, equipes motivadas e comprome- tidas em obter resultados; em se- gundo, muita transpiração, mais do que inspiração, pois comba- ter perdas envolve um trabalho que precisa ter rotina diária, pesquisar e retirar vazamentos, aferir vazões mínimas noturnas, trocar hidrômetros, ou seja, é um ‘arroz com feijão’ que precisa ser feito todos os dias; em terceiro, persistência, pois muitas vezes você desenvolve várias ações e não obtém resultados, mas per- sistindo você descobre a causa, parte para a ação correta e re- solve o problema. Exemplo: na cidade de Monte Alto, desenvol- vemos ações como substituição de hidrômetros, troca de ramais e redes, mas as perdas só caí- ram signifi cativamente quando resolvemos instalar válvulas re- dutoras de pressão; em quarto, a tecnologia, que a cada dia traz soluções. Aqui, medir vazões mí- nimas noturnas na distribuição dos reservatórios e controla-las on-line nos computadores trou- xe um grande avanço na redu- ção de perdas reais”. Luiz Paulo cita esse controle on- line de perdas como o que pro- porcionou um dos melhores re- sultados registrados na sua área de atuação: “Temos muitos siste-mas com perdas reais inferiores a 90 litros/ramal/dia. Trabalha- mos com mão-de-obra própria nas equipes de engenharia, pitometria, e trabalhamos com tercerizados nas pesquisas de vazamentos e instalação de ma- cromedidores”, fi naliza. EM CAMPINAS Lina Cabral Adani, engenheira ci- vil e, nos últimos 13 anos, Geren- te de Controle de Perdas e Siste- mas na empresa de saneamento de Campinas (SANASA), lista uma série de ações importantes que foram implementadas pela SA- NASA e que deram resultados ex- pressivos na redução de perdas, tanto reais quanto aparentes: “Foram muitas as ações para agi- lizar o controle de perdas, mas eu destaco a implantação de novos critérios para dimensionamento de hidrômetros, a realização de manutenção Preditiva e Preven- tiva de hidrômetros, a utilização de hidrômetros velocimétricos ø ¾”, Qn 0,75 m³/h, a utilização de hidrômetros velocimétricos classe C nas ligações com ø ≥ 1” e as ligações de água (60%) no padrão com caixa de proteção lacrada, instaladas nos muros dos imóveis”, afi rma. Ela também destaca as Estruturas Reduto- ras de Pressão, com a instalação maciça e formação de equipes qualifi cadas para o monitora- mento e manutenção, monitora- mento permanente de pressões em pontos críticos, para controle efetivo dos volumes de entrada de água nos setores de abaste- cimento, através de válvulas de controle (normalmente redu- toras de pressão) e/ou bombas com inversores de freqüência. Lina ainda esclarece que a sus- tentabilidade do programa de redução de perdas requer ações implantadas paralelamente, de forma contínua e permanente: “Micromedição, macromedição, sistemas informatizados em tempo real (telemetria e teleco- mando) e banco de dados his- tóricos (CPD), cadastro técnico e geoprocessamento, setorização (isolamento de áreas), controle/ redução de pressões, manuten- ção e controle do tempo para eliminar o vazamento em tubu- lações, controle de nível com recuperação de vazamento em reservatórios e unidades opera- cionais, detecção e conserto de vazamentos não-visíveis, subs- tituição de redes e ramais fadi- gados, ensaio de estanqueidade para recebimento de redes no- vas, teste de recebimento de re- des novas e pesquisa e detecção para eliminação de fraudes”. Além disso, Lina defende uma gestão do sistema distribuidor, que possibilite a detecção dos problemas e a execução das a- ções corretivas/preventivas/pre- ditivas no menor tempo e cus- to, bem como o treinamento constante dos funcionários en- volvidos (formação acadêmica, cursos, palestras, eventos, visitas técnicas etc.). Lina esclarece que a preocupa- ção da empresa com o sistema de macromedição é permanen- te: “A SANASA possui uma políti- 13 Divulgação Divulgação Lina Cabral Adani, Gerente de Controle de Perdas e Sistemas na empresa de saneamento de Campinas (SANASA) Macromedidor Pesquisa de vazamentos CAPA Saneas Setembro/Outubro de 2007 ca de macromedição permanen- te de todos os volumes de água bruta captados, tratados, aduzi- dos, armazenados e distribuídos. Também são contemplados os setores de medição (distritos pi- tométricos), já atingindo quase sua totalidade. A macromedição é obrigatória para todas as novas obras”. Os equipamentos utilizados são de última geração, dos tipos eletromagnético e ultrassônico, selecionados adequadamente para cada fi nalidade, sendo tam- bém utilizados para setores de medição os do tipo Woltmann, por não necessitarem de energia elétrica e pelo custo menor. A confi abilidade dos volumes apurados envolve a especifi ca- ção técnica criteriosa na fase de aquisição, o projeto, a instalação e a manutenção, adequada ao equipamento e ao grau de im- portância do ponto de medição monitorado. Mensalmente são avaliados os dados apurados e só depois divulgados; nesta fase o macromedidor é diagnosticado e, se necessário, conferido atra- vés de outro medidor portátil, podendo ser substituído. “Para as medições mais importantes, que são volumes produzidos, possu- ímos redundância nas medições e podemos garantir a confi abili- dade dos mesmos”, garante Lina. GESTÃO DO PROGRAMA DE REDUÇÃO DE PERDAS Ela faz questão de explicar como é a gestão do Programa de Re- dução de Perdas na SANASA: “O Programa de Redução de Per- das tem gestão centralizada na Gerência de Controle de Perdas e Sistemas, na Diretoria Técnica, e as ações descentralizadas que permeiam pelas demais áreas: Comercial, Financeira, Adminis- trativa, Recursos Humanos. Isso só foi possível com a integração das atividades e a união dos funcionários, que proporciona- ram um programa sustentável e com resultados relevantes para garantia do atendimento das de- mandas atuais, mesmo em épo- cas críticas de estiagem e uma população de mais de 1.000.000 de habitantes.” A Gerência de Controle de Per- das e Sistemas possui dotação orçamentária aprovada anual- mente e conta com as parcelas das demais gerências quanto às ações voltadas à redução de per- das: “Pelo Planejamento Estraté- gico, o Programa de Redução de Perdas, baseado no diagnóstico dos setores, visa o atendimento das demandas atuais e futuras, a redução do custo operacional e o equilíbrio fi nanceiro do pro- duto água.” Lina explica também qual o “ín- dice econômico de perdas” de Campinas: “O índice de perdas na distribuição em 2006 foi 25,8%. Esse valor garantiu a demanda requerida até no período de es- tiagem, permitiu o crescimento demográfi co como também o crescimento econômico do mu- nicípio, sem restrição da quanti- dade e qualidade da água, além de atender à outorga DAEE: De- partamento de Águas e Energia Elétrica. O procedimento que vem sendo adotado prevê a re- dução das perdas para no máxi- mo 25,8% nos setores em que se verifi cam valores maiores, desde que o investimento fi nanceiro se torne viável quanto à relação custo x benefício e tempo de re- torno” Para fi nalizar, Lina aponta: “A ges- tão das perdas tem por objetivo alcançar o índice de perdas que proporcione o equilíbrio fi nan- ceiro do produto água, para se tornar auto-sustentável mesmo com adoção de tarifas subsidia- das nas categorias Ligações Cole- tiva e Social; esse valor para 2006 seria de 21,7%, já alcançado em vários setores de medição”. VISÃO DA UNIVERSIDADE Edevar Luvizotto Junior, enge- nheiro civil e professor da Fa- culdade de Engenharia Civil da Unicamp, no Departamento de Recursos Hídricos, é responsável pelos Laboratórios de Hidrotrô- nica e Hidráulica Computacional da FEC-Unicamp e uma autori- dade para falar sobre as linhas de pesquisa que estão sendo de- senvolvidas na Unicamp com re- lação às perdas reais e aparentes em sistemas de abastecimento de água. E fala com prazer sobre aquilo que mais gosta de fazer: “Tenho na Unicamp uma linha de investigação chamada de Con- trole e Gestão Operacional de Sistemas de Abastecimento de Água, na qual investigo o tema das perdas e outros relacionados ao abastecimento de água. No caso particular das perdas, tenho dedicado maior atenção às per- das reais, em particular, investi- gando modelos que auxiliem na detecção de vazamentos. Não penso nestes modelos como substitutos para as técnicas usu- ais de detecção por ruídos (ge- ofones, correlacionadores, etc), mas como um aliado, guiando as campanhas de campo, dando pistas sobre locais de vazamen- to. Como se sabe, as técnicas usuais são morosas, uma vez que o sistema de distribuição tem que ser efetivamente percorrido. Além do mais, exigem equipes altamente qualifi cadas e podem produzir transtornos indesejá- veis no trânsito”, afi rma. Após fazer o pós-doutorado na Escola Politécnica de Valência, Espanha, Edevar retornou ao Brasil com o esboço do modelo de detecção de fugas. “Um dos meus alunos de mestrado se in- 14 Divulgação Edevar Luvizotto Junior, professor da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp, no Departamento de Recursos Hídricos Saneas Setembro/Outubro de 2007 teressou pelo tema e fez váriostestes de validação do modelo, apresentados em sua dissertação de mestrado. Um aluno de dou- torado desenvolveu um modelo de calibração de redes baseado na técnica. Também empregou situações hipotéticas para valida- ção do modelo. Uma dissertação de mestrado foi desenvolvida por outro orientado. Ele aplicou o modelo a um setor de abas- tecimento de um sistema real, obtendo resultados satisfatórios. Tenho uma aluna que concluiu o mestrado com o desenvolvi- mento teórico de um modelo de detecção de fugas por pulso de alta freqüência e que continua a investigação, agora prática, em seu doutorado. Além destas pro- duções específi cas sobre o tema das fugas, trabalho em minha linha de investigação com mo- delos de simulação em regime transitório, modelos de auditoria energética de estações elevató- rias e modelos de qualidade de água”, explica. Edevar fala que as dissertações e teses defendidas na Unicamp estão disponíveis em sua biblio- teca: “Na atualidade todas as dissertações e teses estão sen- do convertidas para o formato eletrônico e disponibilizadas via internet. Basta entrar no site da Unicamp (www.unicamp.br) e procurar pela biblioteca, onde será obtida a forma de acesso ao acervo digital”. QUALIDADE DAS INFORMA- ÇÕES E CALIBRAÇÃO Continuando sua explicação, Edevar fala sobre os dados para a aplicação do modelo de simu- lação-otimização na gestão de perda de água em regime per- manente e transitório: “Como todo o modelo de simulação dessa natureza, parte-se de in- formações cadastrais como: comprimento, diâmetro, exten- são, material, idade e estado das tubulações. É importante o conhecimento das interligações e de informações topográfi cas destas interligações (localização em planta e cotas de nível), além da localização e quantifi cação dos pontos de consumo (e es- tatística da variação temporal). São necessários dados dos com- ponentes do sistema, tais como as características operacionais de bombas, válvulas e reserva- tórios, além das regras de opera- ção, caso a modelação ocorra em período extensivo ou em regime transitório. A partir do levanta- mento de dados passa-se à eta- pa de calibração/detecção. Esta etapa é precedida pelo que se chama de defi nição da matriz de sensibilidade do sistema, basica- mente a determinação das me- lhores localizações dos sensores de pressão e vazão e do número adequado destes sensores para a varredura de uma determina- da área (isto é feito através de modelação). Defi nido o núme- ro, a localização e instalados os sensores, estes irão fornecer as informações de carga e vazão que o modelo deverá reprodu- zir. Isto só será atingido com a calibração do modelo e com a localização dos pontos de vaza- mento. Quanto maior a quan- tidade de informações obtidas dos sensores melhor será guiado o modelo de busca. A idéia de se 15 Fontes: - Waterloss, 2005; - Tokyo Waterworks Bureau; - Saitama City Waterworks Bureau; - Waterworks and Sewarage Bureau of Nagoya City Fonte: SNIS, 2005 CAPA Saneas Setembro/Outubro de 2007 aplicar a técnica em regime transitório, ou em perí- odo extensivo, é acompanhar a evolução temporal das medidas nos sensores, conseguindo assim um conjunto de informações com um menor conjunto de sensores. A técnica que tenho empregado nessa etapa, em que se busca que o simulador represente os resultados de campo, é baseada no Multi-Simplex (chamo de Nelder-Mead em homenagem aos seus pioneiros), algoritmos genéticos ou num híbrido destes algoritmos”, explica. APLICAÇÃO Em tese tudo tem que estar em perfeito funciona- mento, mas a aplicação em casos reais esbarra na difi culdade de obtenção das informações corretas para a modelação e na cooperação dos serviços de saneamento para a aplicação do modelo. “O teste que fi zemos com o modelo foi um suces- so. Ele foi aplicado a um setor de abastecimento da cidade de Jundiaí, que tinha rede em tubos de PVC recentemente instalada, parque de hidrômetros no- vos, de característica predominantemente residen- cial e com índice de perdas baixíssimo. Com cadas- tro confi ável e informação de medição adequada, foi feita uma campanha noturna (já que aplicamos um modelo de regime permanente) com três datalog- gers medindo pressão e um medidor de vazão para a fuga que foi criada no setor. Essa fuga foi detecta- da com sucesso. A questão sobre se há viabilidade para a aplicação da técnica é bastante interessante e de certa forma é um exercício de previsão de futu- ro. Quando apresentei este modelo na Espanha, em 2002, fui convidado pelo coordenador de projetos de um organismo de planejamento suíço a trabalhar no desenvolvimento de um sistema de detecção de fugas com eles (por motivos acadêmicos não pude ir). O fato é que o projeto piloto na cidade de Mar- tigny, envolvia uma empresa que estava desenvol- vendo um sensor que media vazão, pressão e ruído num mesmo corpo (estavam com problemas com a medição de ruídos), um provedor de Internet a cabo, a empresa de saneamento e o instituto de pesqui- sa (com pesquisadores de toda a Europa). Eles me forneceram uma senha de acesso e, por dois meses, tive informações on-line de todo o sistema, além de mapas georreferenciados da rede, justamente como está disponível a cada cidadão daquela cidade. Isso pode parecer um sonho, mas é uma realidade. Via- bilidade há, se houver o desejo e se essa for a prio- ridade. Num pais com defi ciências em saneamento básico como o nosso, tudo deve ser feito com muito planejamento”, fala. DESENVOLVIMENTOS Edevar explica que a Unicamp tem desenvolvido no- vos trabalhos em relação ao programa de controle de perdas em sistemas de abastecimento público de água. “Atualmente oriento um trabalho de dou- torado que pretende detectar fugas em tubulações através de pulsos pressão de alta freqüência e baixa intensidade (que poderão ser aplicados em aduto- ras ou redes). Os resultados teóricos foram surpreen- dentes e a expectativa é de que possa substituir os correlacionadores acústicos na detecção de fugas. A difi culdade está no desenvolvimento do disposi- tivo para produção desses pulsos de alta freqüência, para que possam ser instalados sem produzir inter- ferências signifi cativas no sistema. As análises dos pulsos de alta freqüência são em regime transitório e toda a teoria já foi desenvolvida como dissertação de mestrado”. “Em particular não tenho trabalhado com perdas em reservatórios e em estações elevatórias. No caso de estações elevatórias, desenvolvemos um modelo para aplicação em estações com bombas de rota- ções variáveis visando a otimização operacional (ní- veis de pressão) e a redução de custos (tese de dou- toramento recentemente defendida)”, relata Edevar. LABORATÓRIO DE HIDROTRÔNICA Edevar explica que procura orientar seus alunos para o foco da modelagem: ”Por vocação pessoal traba- lho com a modelagem e oriento meus alunos den- tro desta linha. Entretanto, acredito que a formação do engenheiro que trabalha com o tema das perdas ou com os problemas relacionados com o abasteci- mento em geral deva ser melhorada. Em 2002, em conjunto com outros dois colegas, que não estão mais comigo, concluímos o que chamamos de Labo- ratório de Hidrotrônica. Neste laboratório, dispomos de 1500 m de tubulação em polietileno e cobre (por facilidade da confi guração em espiral), que podem ser confi gurados a partir de trechos de 100 m, em diversas topologias de rede. Nos nós de conexão es- tão instalados sensores de pressão. O módulo possui dois medidores de vazão, duas bombas que permi- tem confi guração em série ou paralelo, um vaso de pressão, três válvulas automáticas de controle e 15 manuais, e uma bomba dotada de inversor de fre- qüência. Tudo isso na forma semelhante a um proto- board empregado para testes de circuitos eletrôni- cos. O sistema é controlado por um sistema Scada que faz a operação dos equipamentos (bombas, vál- vulas, inversor e compressor que alimenta o vaso de pressão) e a aquisição de dados(vazão e pressão). O laboratório foi a forma que encontramos de colocar nossos alunos em contato com as tecnologias em- pregadas nas mais modernas empresas de abasteci- mento de água, além de fornecer comprovação aos nossos modelos. É importante o aluno observar na prática que determinadas manobras por eles provo- cadas levam o sistema a esforços extremos, que po- dem ser os protagonistas de rupturas em tubulações e juntas”, conclui. 16 Saneas Setembro/Outubro de 2007 “Os níveis de perdas no Brasil ainda são elevados” ENTREVISTA 17 Ernani Ciríaco de Miranda, Engenheiro Civil, Mestre em Tecnologia Ambiental e recursos hídricos pela Universidade de Brasília, tem 20 anos de formação e experiência profissional em saneamento básico, com atuação na área de consultoria em projetos de sistemas de abas- tecimento de água e de esgotamento sanitário por dez anos em empresas como Belba Enge- nheiros Consultores, Leme Engenharia e Enge- solo Engenharia. Diretor Técnico da Emasa - Empresa Munici- pal de Água e Saneamento de Itabuna/BA, no período de 1993 a 1996. Membro da equipe técnica do Programa de Modernização do Se- tor Saneamento (PMSS) desde 1997, atuando como Coordenador do Programa desde 2003. O PMSS é um Programa da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades. Para se determinar o volume perdido nos siste- mas de abastecimento de água, o volume ma- cromedido é a referência principal. Como está o índice de macromedição na maioria das compa- nhias de saneamento brasileiras? Quando é me- dido, pode-se dizer que é bem medido? Ernani - São referências principais os volumes ma- cro e também os micromedidos. No Brasil há exem- plos de diversas situações: níveis de macromedição elevados, médios e baixos, com uma precisão que pode ser boa, média e baixa nos três casos. A grande heterogeneidade que existe na prestação dos ser- viços de abastecimento de água no Brasil, seja em função do porte dos prestadores e seus sistemas, seja em função do nível de evolução técnico-opera- cional e institucional, difi culta a adoção de valores médios em uma análise desta natureza. No entanto, há um senso comum, sobretudo entre profi ssionais de maior experiência, de que infelizmente é maior a quantidade de casos de baixa macromedição e tam- bém de baixo nível de precisão. O SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Sa- neamento, administrado pela Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, no âmbito do Programa de Modernização do Setor Sa- neamento PMSS, publica anualmente informa- ções sobre a prestação de serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, desde o ano base de 1995. Segundo a última atualização, com dados do ano base de 2005, o índice médio de macromedi- ção no Brasil é de 77% do volume de água produzi- do. Neste mesmo ano foram muitos os prestadores de serviços cujos dados informados resultaram em 100% de macromedição e muitos também resulta- ram em 0,00%. Outro fator importante a considerar é que no caso das companhias estaduais, que operam quase 4.000 municípios com água, o indicador médio de cada uma pode não refl etir a realidade dos municípios operados, pois havendo bom nível de macromedi- ção nos municípios maiores, estes impactam positi- vamente o indicador médio, podendo não refl etir a realidade dos municípios menores. E o índice de hidrometração, como se encontra hoje no Brasil? Os intervalos de troca são regu- lares? Há avaliações de submedição média? Há disparidades regionais signifi cativas no índice de hidrometração ou na gestão do parque de hi- drômetros? Ernani - No caso da hidrometração, a situação é si- milar. Cabe, no entanto, esclarecer que os conceitos para indicador de hidrometração e indicador de micromedição são diferentes. Enquanto o primeiro refl ete a quantidade de ligações de água que têm hidrômetro, o segundo refl ete o volume de água consumido que é medido. Um alto índice de hidro- metração pode não corresponder a um também elevado índice de micromedição, pois podem exis- tir hidrômetros que não estão com funcionamento regular. Segundo o SNIS 2005, enquanto o índice médio de hidrometração no Brasil é de 88%, o de micromeção é de 47%, em ambos também variando de 0,00 a 100% para os prestadores de serviços da amostra em todo o Brasil. O problema da submedi- ção é grave no país, sobretudo em decorrência do Fotos Ernani Ciríaco: Divulgação ENTREVISTA Saneas Setembro/Outubro de 2007 uso disseminado de caixas d’água e pelo padrão de hidrômetros adotados (no maioria dos casos, de clas- se B). Nos EUA e países da Europa não são utilizadas caixas d’água. Também cabe dizer que no mercado há hidrômetros de classe superior que permitem trabalhar com baixos níveis de submedição, mas o custo destes hidrômetros é ainda elevado para os padrões brasileiros. O SNIS não possui dados que permitam calcular o nível de submedição. Sabe-se, no entanto, pelo conhecimento da realidade do país que os níveis são altos, podendo chegar em muitos casos a mais de 30% do volume consumido. Qual a visão do Ministério das Cidades/PMSS sobre o problema de perdas nas companhias de saneamento brasileiras, tanto as estaduais quanto as municipais? Qual é o valor médio bra- sileiro, segundo os dados que vocês dispõem no SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento? Comparando com outros países em desenvolvimento, como estamos? Há metas estabelecidas, ou sugeridas, pelo Ministério das Cidades? Ernani - O Ministério das Cidades entende que os níveis de perdas no Brasil são muito elevados e há bastante espaço para melhoria. Uma estimativa sim- plifi cada do que representam as perdas de águas nos sistemas brasileiros, em termos fi nanceiros, indi- ca que elas correspondem a cerca de R$ 2,5 bilhões/ ano. Ora, se o país precisa de R$ 10 bilhões/ano, nos próximos 20 anos, para alcançar a universalização dos serviços de água e esgotos, então o valor das perdas é muito alto e representa um enorme pre- juízo para a economia brasileira. Infelizmente a so- ciedade brasileira sequer tem condições de avaliar a gravidade deste fato, pois a regulação praticamente inexiste, muito menos o controle social. Penso que o problema somente será equacionado quando adquirir dimensão nacional e estiver ao alcance da compreensão da sociedade brasileira. Segundo o SNIS 2005, a média nacional do índice de perdas de faturamento é de 39%, com médias regionais de 59% no Norte (maior valor médio) e de 30,9% no Sudeste (menor valor médio). Nos serviços municipais, em 2005, os valores médios nacionais são um pouco maiores que nas cias. estaduais, ou seja, 39,9% para os primeiros e 38,7% para as segun- das. No estado de São Paulo a média é de 35,5%, en- quanto que a média da SABESP é de 34,2%. O menor valor médio de cia. estadual é da COPASA/MG, igual a 22,9%. Nos serviços municipais, retirando os valo- res abaixo de 10%, que podem estar inconsistentes, o menor índice é do município de Colorado/PR, exa- tamente igual a 10%. Especialistas do setor costumam estabelecer como bons índices de perdas de faturamento no Brasil, valores da ordem de 20 a 25%. O Ministério não tem metas estabelecidas, mesmo porque não tem competência para tal. As metas de desempenho, em qualquer área da prestação dos serviços de sa- neamento, devem ser estabelecidas pelo titular dos serviços, defi nidas nos respectivos planos de saneamento e registradas nos contratos de presta- ção, sejam de concessão ou de programa. O Minis- tério das Cidades estipula, entretanto, nos Acordos de Melhoria de Desempenho (AMDs), instrumento obrigatório de acompanhamento do desempenho dos prestadores de serviços que utilizam recursos federais, metas de melhoria nos índices de perdas de água. Além disso, estabelece a seguinte classifi ca- ção para os índices de perdas de faturamento: nível A: <= 25%; nível B: entre 25 e 40%; nível C: >= 40%. A questão dos indicadores de perdas foi muito discutidarecentemente no mundo todo, susci- tada pela IWA (International Water Association). Como essa discussão foi absorvida pelo Ministé- rio das Cidades no acompanhamento dos núme- ros nacionais? Enfi m, é possível padronizar em todo o mundo, e no Brasil, o entendimento do que são perdas em sistemas de abastecimento de água? Ernani - Acredito que se possa obter uma padroni- zação mais confi ável em todo o mundo no caso de indicadores avançados, que levem em conta fatores de homogeinização tais como a escala (quantidade de ligações e a extensão de redes e ramais) e a pres- são de operação das redes, bem como considerem a avaliação das perdas reais separadas das perdas aparentes. Para indicadores de nível básico (como o índice de perdas de faturamento, em percentual, largamente utilizado no Brasil e no mundo) ou de nível intermediário (volume perdido por ligação, por exemplo, que vem sendo mais utilizado), creio que a padronização é mais difícil, merecendo muita caute- la na comparação de desempenho, devido a fatores como: diferentes conceitos e critérios de contabili- zação e de faturamento da água, existência ou não de contabilização individual no caso de prédios com duas ou mais moradias, posição do hidrômetro em 18 Fotos: Divulgação Sabesp Saneas Setembro/Outubro de 2007 relação à divisa frontal do lote, uso ou não de caixas d’água do- miciliares, diferentes conceitos do que sejam perdas reais e apa- rentes, dentre outros fatores. O SNIS vem promovendo uma padronização de indicadores de desempenho para serviços de água e esgotos que é anterior ao Manual da IWA, já que o Glos- sário de Termos e Fórmulas do SNIS foi publicado pela primeira vez em 1996 e, desde então, vem sendo publicado regularmente todo ano, sempre com alguma revisão ou atualização. Por sua vez, o PNCDA - Programa Nacio- nal de Combate ao Desperdício de Água, também da Secretaria Nacional de Saneamento Am- biental do Ministério das Cida- des, possui um Documento Téc- nico de Apoio com proposta de padronização de indicadores de perdas. Há também publicações e estudos acadêmicos no Brasil, sobre o tema. Entretanto, o ní- vel de profundidade com que o tema das perdas de água tem sido tratado pela IWA é hoje in- dutor dos técnicos do setor no que diz respeito à avaliação de desempenho neste campo. As- sim, o Ministério das Cidades apóia a idéia e pode liderar, via PMSS, uma grande discussão no país visando a padronização dos indicadores, que tenha por refe- rência as experiências nacionais e os estudos da IWA. Está sufi cientemente clara a diferença de conceitos entre “águas não-faturadas” e “per- das” nas companhias de sanea- mento do Brasil? Os conceitos da IWA estão sendo adotados pelo Ministério das Cidades? Ernani - Creio que os conceitos citados não estão sufi ciente- mente claros para a maioria dos técnicos e dirigentes do setor sa- neamento no Brasil, e nem para a população, imprensa, meio acadêmico, e responsáveis pelas políticas públicas do setor sanea- mento nos níveis federal, estadu- ais e municipais. É preciso avan- çar muito ainda na compreensão e consolidação de conceitos mais atuais e modernos. O Ministério das Cidades, tanto no SNIS quan- to no AMD, supracitados, adota conceitos similares aos da IWA, com alguma adaptação para a realidade brasileira, limitados aos indicadores de nível básico, haja vista que sua atuação é nacional e deve procurar o maior alcance possível, fato que só é possível com esses indicadores de nível básico. Quais as maiores difi culdades enfrentadas pelo Ministério das Cidades na coleta dos da- dos e informações sobre per- das para compor o relatório do SNIS? Ernani - As maiores difi culdades referem-se à falta de informa- ções atualizadas e consistidas re- gularmente na rotina operacio- nal dos prestadores de serviços, sobretudo separadas para cada município operado. Embora os prestadores de serviços venham adquirindo com o tempo uma expressiva melhoria na qualida- de das informações fornecidas ENTREVISTA Saneas Setembro/Outubro de 2007 ao SNIS, cabendo registrar que esta melhoria é decorrência na- tural da série histórica de dados, que já possui 11 anos, cabe regis- trar também como difi culdade a existência ainda de muitos casos de inconsistência nos dados, se- jam de prestadores de serviços regionais (companhias estadu- ais), sejam microrregionais ou lo- cais. Este fator é uma conseqüên- cia natural da raiz dos problemas de desempenho dos serviços de água do país, qual seja, a quali- dade insatisfatória da gestão dos serviços. Em que medida os números do SNIS contribuem para se ter um diagnóstico dos problemas de perdas no país? O que é possí- vel melhorar para o aperfeiço- amento desse diagnóstico? Ernani - Os dados do SNIS são o que há de melhor para se ava- liar a evolução histórica, o nível de desempenho, os principais problemas e as perspectivas de avanço dos serviços de água e esgotos no Brasil, incluindo re- lativos ao tema perdas de água. São poucos os países do mundo que têm um sistema tão robusto, com a qualidade e a estabilidade do SNIS. É possível realizar aná- lises do interesse dos diversos agentes com atuação no setor saneamento brasileiro: os pró- prios prestadores de serviços, auto-avaliando a sua performan- ce e evolução histórica e se com- parando com a amostra presente no sistema; os dirigentes do po- der executivo, donos dos pres- tadores de serviços, que podem se utilizar dos dados para avaliar resultados; a imprensa e a so- ciedade organizada que podem acessar a base de dados e verifi - car o comportamento do setor; os agentes reguladores que têm no SNIS uma boa referência para as suas atividades regulatórias e de fi scalização; os governos fe- deral, estaduais e municipais que podem também se apropriar dos dados para a formulação de polí- ticas e programas de governo. O aperfeiçoamento do SNIS e seus diagnósticos, sempre gradu- al e contínuo, é um dos princípios do Sistema. Creio que a melhoria mais importante, que se está bus- cando alcançar na atualização do SNIS do ano base 2006, cuja fase de coleta dos dados está sendo fi nalizada, diz respeito à obten- ção dos dados desagregados de todos os municípios atendidos pelos prestadores de serviços presentes na amostra. Também é fundamental a institucionaliza- ção do sistema de informações nos termos da lei de saneamento 11.445/2007. Especifi camente, em relação à questão das perdas de água creio que se deva pro- mover um processo de discussão em todo o país, já citada ante- riormente, para promover um melhor entendimento, a máxima padronização e um passo a mais nos indicadores de nível inter- mediário e talvez avançado. A expansão desordenada das cidades e a existência de gran- des áreas de favelas são pro- blemas para a gestão opera- cional dos sistemas de abaste- cimento de água nos grandes municípios brasileiros e re- giões metropolitanas. Como isso impacta nas perdas? Ernani - O problema impacta nas perdas na medida em que o prestador de serviços, por fatores sobre os quais não tem controle, deixa de aplicar as melhores téc- nicas de controle operacional nestas áreas, contribuindo para o aumento das perdas. A solução seria trabalhar de for- ma integrada e articulada todas as atividades que compõem a gestão dos serviços, quais se- jam o planejamento, a regula- ção e fi scalização, a prestação dos serviços e o controle social. Destaco como fundamental a importância dos planos para contribuir no equacionamento deste problema. Cabe também chamar a atenção para o risco dos prestadores de serviços se acomodarem ou até mesmo fa- zerem uso desta situação para justifi car perdas elevadas, acima das aceitáveis. Portanto, trata-se de uma situação real, que acon- tece em muitas cidades brasilei- ras, que deve ser considerada na avaliação das perdas, mas que deve ser tratada com técnicas e metodologias que permitam um controle operacional mínimo aceitável.A impressão que dá é que todo mundo sabe o que fazer para combater as perdas, tanto re- ais quanto aparentes. Mas todo mundo faz bem feito (como)? Persegue-se efetivamente o resultado de longo prazo, ou seja, combatem-se as causas primárias das perdas, identi- fi cadas após um diagnóstico criterioso? Em que medida há um exagerado nível de enxu- gar gelo no combate às perdas no Brasil? Ernani - Talvez esta devesse ser a primeira pergunta. Do ponto de vista técnico e tecnológico, os prestadores de serviços sabem o que fazer. Há casos em que são necessárias algumas atua- lizações e avanços, mas que se conseguem com facilidade neste campo. A raiz do problema, como já citei antes, está na gestão inte- grada dos serviços. É preciso que o prestador de serviços avan- ce na gestão, em muitos casos precisa mesmo aprender a fazer a gestão, que torne o gerencia- mento das perdas uma atividade de rotina, sustentável, e não uma ação esporádica, que se faz de vez em quando, em campanhas ou programas específi cos. O problema não é somente de engenharia, mas também de re- cursos humanos, de comunica- 20 Saneas Setembro/Outubro de 2007 ção, de contabilidade, de contro- les fi nanceiros, de planejamento, de mobilização social, de educa- ção e cultura, enfi m de todas as áreas e agentes. Além disso, é também um grave problema da economia nacional, que a sociedade brasileira não sabe a dimensão e por isso não consegue perceber a gravidade. Só quando tratado desta forma é que haverá uma solução defi niti- va e sustentável. No Ministério das Cidades há projetos de capacitação dos técnicos da área de saneamen- to para a questão das perdas? Ernani - Em parceria com o Procel/Eletrobrás e a ABES, fi ze- mos uma extensiva programação de capacitação para o gerencia- mento das perdas de água nos anos de 2005 e 2006, com mais de 30 cursos realizados. Também o PNCDA possui uma linha especí- fi ca para capacitação nesta área, que no momento está concen- trada à capacitação em distância, realizada neste ano em parceria com o IBAM, com cerca de 500 técnicos inscritos. Este curso será feito também no próximo ano. O PMSS desenvolve atualmente o Projeto Com+Água, em dez municípios brasileiros, três ope- rados por cia. estadual e sete por serviços municipais, que aplica uma metodologia inovadora no gerenciamento integrado das perdas, que além de técnicas e tecnologias atuais e modernas, possui um forte componente na área de mobilização social e comunicação. Trata-se do desen- volvimento de uma metodologia com enorme capacidade de re- plicação em sistemas brasileiros. A essência do Projeto é exata- mente a capacitação dos técni- cos e dirigentes, seja em cursos de sala de aula, seja no próprio desenvolvimento das atividades do Projeto, a chamada capacita- ção em processo. Além disso, o Ministério das Ci- dades criou e está implemen- tando em parceria com diversos ministérios e órgãos do governo federal, universidades, entidades do setor, instituições da socieda- de brasileira, prestadores de ser- viços, Sistema S, etc., a ReCESA - Rede de Capacitação e Exten- são Tecnológica em Saneamen- to Ambiental, a mais inovadora experiência em capacitação do setor saneamento que reúne a inteligência no setor a serviço da capacitação de técnicos e profi s- sionais do setor. Diversos cursos já estão em andamento, inclusive no tema do gerenciamento das perdas de água. Nossa expecta- tiva é que, com a consolidação da ReCESA, a mesma atue na certifi - cação de profi ssionais em sanea- mento. Detalhes sobre a ReCESA e a extensa grade de cursos po- dem ser vistos no site do PMSS: www.cidades.pmss.gov.br. Que avanços tecnológicos (ma- teriais, equipamentos, proces- sos) já disponíveis você consi- dera os mais importantes para um efi caz combate às perdas? Ernani - Creio que do ponto de vista dos materiais e equipamen- tos, o que há de mais importan- te são aqueles que facilitam e imprimem qualidade aos con- troles operacionais, por meio de telemetria, automações, pesqui- sas de vazamentos, controle de pressão com comando automá- tico, sistemas computacionais sofi sticados de mais fácil acesso, dentre outros. É importante destacar, no en- tanto, que os mais importantes avanços dizem respeito aos pro- cessos, sobretudo em metodo- logias também de fácil acesso, para balanço hídrico, softwares de modelagem hidráulica, sis- temas de informações georrefe- renciadas, dentre outros. Penso também que, com os resultados que se vislumbram, o Projeto Com+Água representará um marco na gestão das perdas de água, trazendo para o setor uma metodologia de gerenciamento integrado fundamental à susten- tabilidade das ações. Existe algum instrumento legal ou normativo do Ministério das Cidades exigindo, solicitando ou induzindo a implantação de um programa contínuo de perdas pelas empresas de sa- neamento do Brasil, especial- mente em áreas com défi cits de recursos hídricos? Como 21 “O problema não é somente de engenharia, mas também de recursos humanos, de comunicação, de contabilidade, de controles financeiros, de planejamento, de mobilização social, de educação e cultura, enfim, de todas as áreas e agentes” ENTREVISTA Saneas Setembro/Outubro de 2007 você avalia a Lei 11.445/2007 a respeito desse tema? Ernani - Como citado anterior- mente um dos instrumentos é o AMD, obrigatório para todos os prestadores de serviços que uti- lizam recursos do Governo fede- ral para investimentos. Também, dentre os critérios para seleção de projetos do Saneamento para Todos (programa de inves- timentos com recursos do FGTS), alguns deles estabelecem que, para patamares elevados de per- das, não são aceitáveis projetos de ampliação da produção de água, ou seja, primeiro é preciso reduzir perdas para depois au- mentar o volume de água que se retira dos corpos hídricos. Os manuais dos programas de investimentos também estimu- lam a apresentação de projetos de desenvolvimento institucio- nal e operacional, havendo um componente específi co no Pro- grama Saneamento para Todos para ações de redução e controle de perdas. O Ministério das Cida- des possui também o PMSS, um Programa de assistência técnica voltado para a estruturação da gestão e a revitalização de pres- tadores de serviços, com forte atuação em projetos de geren- ciamento integrado das perdas de água. A lei de saneamento 11.445/2007 estabelece a obrigatoriedade de planos, de instrumentos e de ins- tância regulatória e de fi scaliza- ção, bem como o controle social dos serviços de saneamento. Tais instrumentos são fundamentais para a melhoria da gestão, com conseqüente impacto positivo direto nas perdas de água. A lei também estabelece que os serviços devem ter assegurada a sustentabilidade técnica e eco- nômico-fi nanceira, situação esta somente possível com um bom nível de desempenho no geren- ciamento das perdas. Há outras linhas de fi nancia- mento federais para perdas, que não as tradicionais da Cai- xa Econômica Federal? Ernani - Os programas de inves- timentos do Governo Federal para o setor saneamento estão inseridos no PAC - Programa de Aceleração do Crescimento, que para o setor saneamento prevê R$ 40 bilhões de investimentos nos próximos 4 anos. Os recursos são oriundos do Or- çamento Geral da União (não onerosos) e de fi nanciamento com recursos do FGTS (via CAIXA) ou do FAT (via BNDES). Em todos os componentes do PAC/Sanea- mento os benefi ciários -gover- nos de estados e de municípios ou prestadores de serviços- po- dem apresentar projetos para a melhoria do gerenciamento das perdas de água. Você poderia citar experiên- cias bem sucedidas de municí- pios ou companhias de sanea- mento no combate às perdas no Brasil? Ernani - Duas experiências que podem ser destacadas são as do município de Campinas (da empresa municipal Sanasa) e do estado de Minas Gerais (da com- panhia estadual Copasa). Alguma questão adicional so-
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