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Controle e redução de perdas - Sabesp

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Sumário
6 |Capa
Controle e Redução 
de Perdas
Várzea do Ribeirão 
Parelheiros
28|
Programa de 
reabilitação 
de redes de água
33|
ENTREVISTA
Ernani Ciríaco de Miranda: “Os níveis de 
perdas no Brasil ainda são elevados”
PONTO DE VISTA
A situação atual das perdas no Japão 
por Masahiro Shimomura
PERDAS DE ÁGUA E 
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL 
Reduzir perdas - o meio ambiente e a 
sociedade agradecem
por Sônia Nogueira
ARTIGOS TÉCNICOS
BIODIVERSIDADE 
Mecanismos de desenvolvimento 
limpo e créditos de carbonos
17|
23|
26|
39|
MEIO AMBIENTE
Desenvolvimento 
sustentável para o país
RESPONSABILIDADE 
SOCIOAMBIENTAL
O TEMPO DO RIO TIETÊ
Um rio de contrastes e múltiplos usos 
CYBER CAFÉ
Site Domínio Público
RESENHA
Livro: Big Bang
HOMENAGEM
Um profi ssional realizado que nunca 
esqueceu a Sabesp
38|
46|
48|
49|
50|
Associação dos Engenheiros da Sabesp
AESABESP
REVISTA
Ano IX - nº27 - Setembro/Outubro 2007
Ao contrário do que se acreditava num passado 
não muito distante, o mundo está aos poucos 
tomando conhecimento de que a água é um 
recurso limitado. É fundamental que o homem 
amplie as medidas estratégicas no sentido de 
preservá-la, garantindo para as gerações futu-
ras o acesso a esse bem tão precioso. As deci-
sões devem ocorrer em caráter de urgência, 
para evitar que as medidas corretivas no futuro 
não sejam ainda mais radicais. O desperdício generalizado parte das 
residências, com a torneira pingando, até as cidades, independente 
do porte, com vazamentos em adutoras, encanamentos, empresas e 
fraudes na captação de água. Cada setor do governo e da sociedade 
têm sua parcela de responsabilidade.
Aparentes ou reais, os níveis de perda de água no Brasil ainda são 
altíssimos e representam um grande desafi o para o setor de sanea-
mento, principalmente devido a dimensão continental do País. Nos-
sa reportagem especial de capa discute a necessidade da redução 
imediata das perdas de água, através de equipamentos e sistemas, 
e mostra as medidas que já estão sendo tomadas no sentido de re-
duzir os limites atuais para padrões cada vez menores, a exemplo do 
que aconteceu em países como o Japão, situação também retratada 
nessa edição da Revista Saneas.
O assunto ganha especial importância no momento em que o Go-
verno divulgou, no dia 14 de setembro, os resultados da Pesquisa 
Nacional por Amostra de Domicílios 2005/2006 (PNAD/IBGE), que 
aponta o crescimento da rede de água, de 82,3% em 2005 para 
83,2% em 2006. O percentual de domicílios com rede de esgoto 
também aumentou, de 69,7% para 70,6%, no mesmo período. E os 
números devem continuar a subir, sinalizando a necessidade de au-
mentar também os cuidados com a preservação da água para que 
ela chegue, com qualidade e em quantidade sufi ciente aos lares de 
todo Brasil. 
Você vai saber mais sobre o assunto na matéria sobre Controle de 
Perdas, em entrevista com Ernani Ciríaco de Miranda, Coordenador 
do Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS), além 
dos Pontos de Vista de Masahiro Shimomura e Sônia Nogueira. Tam-
bém conhecerá temas como o Programa de Reabilitação de Redes 
de Água, conduzido pela Unidade de Negócio Centro da Sabesp; os 
Mecanismos de Desenvolvimento Limpo e Créditos de Carbono; o 
trabalho para redução da concentração de constituintes típicos de 
efl uentes sanitários na várzea do Ribeirão Parelheiros; a importância 
e os avanços na despoluição do Rio Tietê, entre outros assuntos de 
interesse. E assim cumprimos a missão de sempre proporcionar aos 
nossos leitores, as principais novidades e atualizações tecnológicas 
em saneamento e meio ambiente. Por isso, você já sabe: pensou em 
saneamento, pensou na Revista Saneas. 
Boa leitura!
Walter Antonio Orsatti
Presidente
 A ÁGUA DO AMANHÃ
Editorial Saneas é uma publicação técnica bimestral da 
Associação dos Engenheiros da Sabesp
DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente - Walter Antonio Orsatti 
Vice-Presidente - Gilberto Alves Martins 
1º Secretário - Ivan Norberto Borghi 
2ª Secretária - Cecília Takahashi Votta 
1º Tesoureiro - Hiroshi Letsugu
2º Tesoureiro - Emiliano Stanislau de Mendonça
DIRETORIA ADJUNTA
Diretor de Marketing - Carlos Alberto de Carvalho
Diretor Cultural - Olavo Alberto Prates Sachs 
Diretor de Esportes- Zito José Cardoso 
Diretor de Pólos - José Carlos Vilela 
Diretora Social - Magali Scarpelini 
Diretor Técnico - Reynaldo Eduardo Young Ribeiro 
CONSELHO DELIBERATIVO
Amauri Pollachi, Carlos Alberto de Carvalho, José Carlos 
Vilela, José Márcio Carioca, Júlio César Villagra, Luciomar 
dos Santos Werneck, Luis Américo Magri, Luiz Henrique 
Peres, Nélson César Menetti, Osvaldo Ribeiro Júnior, 
Ovanir Marchenta Filho, Renato Hochgreb Frazão, Reynaldo 
Eduardo Young Ribeiro, Sérgio Eduardo Nadur, Yazid Naked 
CONSELHO FISCAL
Ivo Nicolielo Antunes Junior, Nelson Luiz Stábile 
e Nizar Qbar
Pólos da Região Metropolitana de São Paulo
Coordenador - Nélson César Menetti
Costa Carvalho e Centro - Célia Maria Machado Ambrósio
Leste - Luciomar dos Santos Werneck
Norte - Oswaldo de Oliveira Vieira
Oeste - Evandro Nunes de Oliveira
Ponte Pequena - Aram Kemechian
Pólos AESABESP Regionais 
Baixada Santista - Ovanir Marchenta Filho
Botucatu - Osvaldo Ribeiro Júnior
Franca - Helieder Rosa Zanelli
Itapetininga - Valter Katsume Hiraichi
Lins - Marco Aurélio Saraiva Chakur 
Presidente Prudente - Robinson José de Oliveira Patricio
Vale do Paraíba - José Galvão F. Rangel de Carvalho
CONSELHO EDITORIAL
Luiz Henrique Peres (Coordenador)
Viviana Marli de Aquino Borges
Carlos Alberto de Carvalho
José Marcio Carioca
Célia Maria Machado Ambrósio
FUNDO EDITORIAL
Jairo Tardelli, Antonio Pereto, José Antonio de Oliveira, 
Milton Tsutiya, Sonia M. Nogueira e Silva, Eliana Kitahara 
e Franscisca Adalgisa da Silva
JORNALISTA RESPONSÁVEL
João B. Moura - MTB 38741
PROJETO VISUAL GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO E 
PRODUÇÃO GRÁFICA
L3ppm - publicidade, propaganda e marketing Ltda 
criacao@L3ppm.com.br 
www.L3ppm.com.br
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
Gráfi ca IPSIS
www.ipsis.com.br
Associação dos Engenheiros da Sabesp
Rua 13 de maio, 1642 - casa 1 - Bela Vista
01327-002 - São Paulo - SP
Fone (11) 3284 6420 - 3263 0484
Fax (11) 3141 90 41
aesabesp@aesabesp.com.br
www.aesabesp.com.br
Associação dos Engenheiros da Sabesp
AESABESP
REVISTA
* Impresso em papel reciclado
Ano IX - nº27 - Setembro/Outubro 2007
Saneas Setembro/Outubro de 2007
VICENTE DE AQUINO
CAPA
05
As perdas de água (diferença entre os volumes produzidos ou entregues aos sistemas e os volumes consumidos de forma autorizada) 
ocorrem em todos os sistemas de abastecimento e 
refl etem a efi ciência operacional e as condições da 
infra-estrutura. Classifi cam-se em perdas reais (físi-
cas), quando a água é perdida antes de chegar aos 
consumidores, principalmente devido a vazamentos 
nos diversos componentes dos sistemas de abaste-
cimento, e em perdas aparentes (comerciais), quan-
do a água é consumida de forma “não-autorizada”, 
principalmente devido à submedição causada pela 
imprecisão nos hidrômetros dos clientes, irregulari-
dades (fraudes) e furto de água em hidrantes. 
As proporções entre esses dois tipos de perdas e 
suas causas variam de sistema para sistema, exigin-
do ensaios de campo e a adoção de várias hipóteses 
para se chegar a uma partição entre os dois tipos de 
perdas. As avaliações mais recentes têm levado a 
uma porcentagem maior de perdas reais em relação 
às perdas aparentes.
A IWA - International Water Association, propôs 
uma Matriz de Balanço Hídrico para os sistemas de 
abastecimento de água, que procura uniformizar os 
conceitos e os entendimentos sobre perdas de água 
em todo o mundo, conforme mostrado na tabela na 
próxima página.
Há ainda uma grande discussão acerca dos indica-
dores de perdas, especialmente no que diz respeito 
à comparabilidade entre sistemas de abastecimento 
de água distintos. O indicador clássico (percentual 
em relação ao volume produzido ou disponibiliza-
do) tem sido preterido em favor de outros que pos-
sam retratar melhor a situação existente,tais como 
o indicador de perdas “litros por ligação de água por 
dia” ou o “índice de vazamentos da infra-estrutura”, 
adimensional, que leva em conta fatores relativos às 
condições das tubulações e às pressões reinantes no 
sistema (este último indicador é para perdas reais).
Não existe “perda zero” em sistemas de abasteci-
mento de água. Podem ser defi nidos dois limites 
referenciais para as perdas:
• Limite Técnico: aquele possível de se chegar utili-
zando todas as técnicas, tecnologias e recursos dis-
poníveis no momento (perdas inevitáveis);
• Limite Econômico: nível de perdas em que o cus-
to para recuperar um determinado volume supera 
o custo de produção e distribuição desse volume; 
geralmente este limite é atingido antes do limite 
técnico.
A LUTA 
PARA 
COMBATER 
AS PERDAS 
DE ÁGUA
Crédito: Odair M. Faria
CAPA
Saneas Setembro/Outubro de 2007
Tais limites são conceituais e de 
difícil determinação prática, e va-
riam, especialmente o econômi-
co, de local para local.
As principais ações para redução 
das perdas reais são o gerencia-
mento de pressões (quanto me-
nores e mais estáveis, melhor), 
o controle ativo de vazamentos 
(localizar rapidamente os novos 
vazamentos não-visíveis, atra-
vés do monitoramento da vazão 
mínima noturna e de métodos 
acústicos de pesquisa), a agilida-
de e a qualidade do reparo dos 
vazamentos e o gerenciamento 
da infra-estrutura (priorização 
de trechos para renovação das 
tubulações, principalmente dos 
ramais de água, onde ocorre 
a maioria dos vazamentos). Já 
para a redução das perdas apa-
rentes, as principais ações são o 
gerenciamento da hidrometria 
(otimização das trocas e dimen-
sionamento dos hidrômetros, 
principalmente dos maiores 
consumidores) e o combate a 
irregularidades (como fraudes e 
ligações clandestinas).
O desenvolvimento de medi-
das de natureza preventiva de 
controle de perdas nas fases de 
projeto e construção do sistema 
envolve a necessidade de passos 
iniciais de organização anterio-
res à operação. As medidas de-
vem contemplar, dentre outras: 
a boa concepção do sistema de 
abastecimento de água, conside-
rando os dispositivos de controle 
operacional do processo, a qua-
lidade adequada dos materiais 
e da instalação das tubulações, 
equipamentos e demais dispo-
sitivos utilizados, a implantação 
dos mecanismos de controle 
operacional (medidores e ou-
tros), a elaboração de cadastros 
e a execução de testes pré-ope-
racionais de ajuste do sistema. 
A macromedição, ou seja, a me-
dição dos grandes volumes de 
água que entram no sistema (ou 
mesmo aqueles que saem), deve 
ser bem estudada, implantada e 
acompanhada, pois os números 
dela resultantes serão as referên-
cias para todas as análises poste-
riores, não só para a questão das 
avaliações de perdas, mas tam-
bém para a defi nição de vários 
parâmetros de projeto e opera-
ção dos sistemas de água.
PESQUISA INTERNACIONAL
Para o consultor Julian Thornton, 
inglês, formado em Engenharia 
Mecânica e Civil, e desde 1996 
residindo no Brasil, o trabalho de 
campo é o principal: “Eu sempre 
me considerei uma pessoa mais 
prática. Que gosta de trabalhar 
e resolver os problemas cotidia-
nos”, afi rma. Julian faz parte das 
forças-tarefa da IWA e da AWWA 
(American Water Works Associa-
tion): “Eu sou o líder da equipe 
do controle de pressão”.
Julian fala sobre a contribuição 
da IWA no tocante a um enten-
dimento global uniforme sobre 
as questões ligadas às perdas 
reais: “A IWA propôs uma padro-
nização para avaliar perdas reais 
e também aparentes. Antes ha-
via vários indicadores, não eram 
padronizados, eram variáveis, 
soltos, as pessoas queriam com-
parar maçã com laranja e não ti-
nha como comparar. A IWA trou-
xe um indicador que padronizou 
a medição em vários países. Eu 
particularmente não conheço 
países que não tenham aceito os 
indicadores da IWA. Existem pa-
íses que ainda estão estudando, 
mas eu não sei de nenhum que 
disse ‘eu não vou usar’. Posso ci-
tar alguns países que utilizam 
a metodologia da IWA: Estados 
Unidos, Canadá, Malta, Austrá-
lia, Nova Zelândia, África do Sul, 
Alemanha, Itália e Brasil, entre 
outros”, afi rmou.
Sobre a questão de as perdas 
06
Divulgação
Divulgação
Julian Thornton, das forças-tarefa da IWA e da 
AWWA (American Water Works Association)
Saneas Setembro/Outubro de 2007
aparentes não terem avançado 
tanto quanto as perdas reais na 
IWA, Julian diz que o assunto tem 
mais de uma resposta: “Primeiro 
precisamos dizer que a IWA tem 
uma equipe para tratar das per-
das aparentes. Tem muita gente 
que pensa que IWA não se preo-
cupa com isso, mas nós estamos 
estudando e pesquisando o as-
sunto. Acontece que o processo 
de desagregar as perdas aparen-
tes é bem mais complexo. Nós 
podemos ter falhas de cadastro, 
fraudes ou mesmo submedição. 
Já as análises dos componentes 
das perdas reais são mais visíveis. 
Podemos ter uma precisão muito 
grande no sistema nesse campo. 
Mas as coisas estão mudando. 
Malta e Chipre, por exemplo, es-
tão muito adiantados em relação 
às perdas aparentes”, explica.
O consultor não tem nenhuma 
dúvida em afi rmar que é muito 
importante fazer um diagnóstico 
de todos os componentes e de-
sagregar o que é perda aparente 
do que é perda real: “Temos que 
achar as peças que criam proble-
mas e depois atacar de forma efi -
ciente. Quando se está tentando 
reduzir perdas, é necessária uma 
gestão contínua. Ela é mais im-
portante do que a técnica em si. 
Se você não faz uma gestão con-
tinuada, você não vai conseguir 
diminuir as perdas de forma sus-
tentável. A gente pode aplicar 
uma ferramenta nova, que dê re-
sultados naquele momento, mas 
se não houver gestão, as perdas 
voltam a aparecer”, esclarece.
SISTEMAS COMPLEXOS E DE 
GRANDES DIMENSÕES
Um dos maiores desafi os em um 
sistema grande, segundo Julian, 
é a compartimentação do siste-
ma: “O segredo para conseguir 
medir com precisão é desagregar 
a rede de distribuição de água, 
gerenciar um sistema grande 
em partes pequenas. A Inglater-
ra conseguiu diminuir as perdas 
reais em cinco anos. Mas lá são 
50 milhões de pessoas, toda In-
glaterra signifi ca três cidades de 
São Paulo. É importante fazer 
um diagnóstico fi nanceiro para 
saber em quanto tempo nós 
conseguiremos chegar naquilo 
que pretendemos. Mas um sis-
tema grande é complexo, pois se 
o dinheiro acaba no meio desse 
prazo, a gente acaba perdendo o 
que já ganhou. Então é necessá-
rio saber se vai haver um investi-
mento continuado para se deter-
minar prazos”.
“Eu gosto de citar bons exemplos 
da metodologia IWA. Em perdas 
aparentes, um grande exemplo 
disso é a cidade da Filadélfi a, nos 
Estados Unidos. Eles trocaram 
todos os hidrômetros e fi zeram 
uma grande campanha contra 
as fraudes. Como resultado, con-
seguiram reduzir bastante o vo-
lume das perdas aparentes. Hali-
fax, no Canadá, também é outro 
grande exemplo. Isso é o sucesso 
de uma gestão de um grande sis-
tema dividido em vários peque-
nos. Chipre, um pequeno país, 
mas que tem muitos problemas 
de recursos hídricos, conseguiu 
reduzir muito as perdas reais e 
aparentes”, diz Julian.
Sobre as referências mundiais no 
controle das perdas de água, Ju-
lian diz que a Inglaterra e o Japão 
são exemplos bem acabados: 
“Eles controlam bem os dois tipos 
de perda. Se uma empresa está 
com controle de fl uxo de caixa e 
precisa fazer dinheiro, controlar a 
perda aparente é mais importan-
te. Por outro lado, a empresa que 
vende água precisa ter o produ-
to. Se ela está com pouca oferta, 
controlar a perda real é mais im-
portante. Sem água ela deixa de 
ser uma empresa”, afi rma.
Ele diz que tanto os ingleses 
quanto os japoneses trabalham 
muito com o controle de pres-
são: “Ao diminuir a pressão em 
determinados horários, você 
acaba diminuindo também os 
vazamentos”, conclui Julian. 
PERDAS OCORREM EM TODOS 
OS SISTEMAS
Para o engenheiro Eric Cerquei-
ra Carozzi, Superintendente de 
Desenvolvimento Operacional 
da Diretoria de Tecnologia, Em-
preendimentos e Meio Ambien-
te da Sabesp,as perdas ocorrem 
em todos os sistemas de abas-
tecimento. “Para um efi ciente 
combate às perdas, é necessário 
conhecer o tipo de perda predo-
minante em cada sistema e as 
respectivas causas. A partir desse 
diagnóstico é possível priorizar e 
investir em ações de modo a se 
otimizar a aplicação dos recur-
sos. Nos sistemas de maior porte, 
que demandam maior esforço 
para reduzir as perdas, é funda-
mental sua divisão em setores de 
abastecimento menores, que via-
bilizem uma gestão efi caz da sua 
operação. Outro aspecto funda-
mental do combate às perdas é a 
necessidade de conscientização 
e comprometimento de todos os 
envolvidos, além de estratégias 
de longo prazo, com continuida-
de de recursos, associados a cui-
dados especiais quanto à quali-
dade dos materiais aplicados e 
ao treinamento das equipes de 
manutenção e de instalação da 
infra-estrutura”, explica.
Eric ressalta que o Programa de 
Redução de Perdas é um progra-
ma estratégico na Sabesp, com 
metas ambiciosas e que exigirá 
recursos para a sua implementa-
ção: “Realmente o programa de 
redução de perdas é fundamen-
07
Divulgação
Eric Cerqueira Carozzi, Superinten-
dente de Desenvolvimento Opera-
cional da Diretoria de Tecnologia, 
Empreendimentos e Meio
 Ambiente da Sabesp
CAPA
Saneas Setembro/Outubro de 2007
tal para a Sabesp, pois além de 
possibilitar a redução de custos 
operacionais e de manutenção, 
permite adiar investimentos na 
ampliação da produção, que têm 
custos cada vez mais elevados, 
principalmente em municípios 
com pouca disponibilidade hí-
drica”. 
Quanto ao programa de per-
das da Sabesp, diz Eric que “já
estamos trabalhando na ela-
boração do programa corpo-
rativo, através da uniformização 
de critérios e ações nas duas di-
retorias operacionais (Diretoria 
Metropolitana e Diretoria de Sis-
temas Regionais) e da consolida-
ção dos seus planos existentes. A 
partir desse plano, buscaremos 
viabilizar os recursos necessários 
para atingir as metas defi nidas. 
Também acompanharemos a 
evolução e os resultados obtidos 
no Contrato de Performance (no 
qual a contratada tem compro-
misso e é remunerada em função 
da redução de perda obtida), em 
andamento num projeto-piloto 
na Região Metropolitana de São 
Paulo, para avaliar esse novo mo-
delo de contratação. 
Mas não basta elaborar planos 
e viabilizar recursos. É preciso 
acompanhar a realização das 
ações e os resultados obtidos, e 
para isso desenvolveremos um 
sistema que integre as informa-
ções das duas diretorias, o que 
é um grande desafi o devido às 
muitas diferenças de característi-
cas e de sistemas de informações 
utilizadas em cada uma delas”, 
diz.
Sobre as difi culdades de plane-
jar as ações de perdas, Eric res-
salta que “ainda não possuímos 
um modelo preciso que permita 
projetar as metas de perdas em 
função das ações e recursos pre-
vistos nos planos. É preciso me-
lhorar a qualidade destas infor-
mações e registrar os históricos 
das ações e seus resultados, a fi m 
de aperfeiçoar continuamente 
esse modelo, de modo a apri-
morar os planejamentos futuros. 
De qualquer forma, para oti-
mizar a aplicação dos recursos, 
que são escassos, é fundamental 
ter o diagnóstico dos tipos e cau-
sas das perdas em cada sistema, 
a partir do qual se possam prio-
rizar as ações mais efi cientes e 
efi cazes”. 
PROGRAMAS DE COOPERAÇÃO
Eric acredita que elaborar pro-
gramas de cooperação é uma 
forma efi caz de capacitação e 
troca de experiências para a ges-
tão das perdas: “No trato com o 
problema das perdas de água, 
a Sabesp segue a linha de ação 
proposta pela IWA. Dessa forma, 
as unidades de controle de per-
das da Sabesp, principalmente 
na Diretoria Metropolitana, têm 
mantido um contato muito pró-
ximo com os especialistas liga-
dos à IWA. Quanto aos acordos 
de cooperação técnica, a Sabesp 
assinou, no início deste ano, um 
acordo com o governo do Japão, 
através da sua Agência de Coo-
peração Internacional (JICA), que 
tem como objetivo a transferên-
cia de conhecimento e de tecno-
logia, adquiridos pelos técnicos 
japoneses durante mais de 50 
anos. O Japão é uma referência 
mundial em controle de perdas 
e possui sistemas tão grandes e 
complexos como os da Sabesp, 
com índices de perdas excepcio-
nais, abaixo de 8%, principalmen-
te quando considerados índices 
acima de 30%, como ocorre em 
08
Japão Tóquio Kobe Nagoya M Viena
1954 1 22 15,92
1955 2 20 18,96
1956 3 20 20,46
1957 4 20 14,99
1958 5 30 20 18,91
1959 6 30 22 18,29
1960 7 30 22 21,66
1961 8 29,6 22 13,56
1962 9 28,3 21 14,86
1963 10 29,6 20,5 14,48
1964 11 28,9 19,5 14,18
1965 12 31,2 19 14,81
1966 13 29,4 18,5 14,27
1967 14 27,9 18 14,14
1968 15 27,8 17,8 14,04
1969 16 27,7 17,6 13,96
1970 17 27,1 17,4 13,93 25
1971 18 26,8 17,2 13,59
1972 19 26,5 17 12,9
1973 20 26,4 16,8 12,7
1974 21 26,4 16,6 12,42
1975 22 24,9 15,8 12,33 23
1976 23 24,3 15,7 12,48
1977 24 20,8 15,6 12,01 18,5
1978 25 20,2 15,5 11,90 17,5
1979 26 20,5 15,4 11,82 16,5
1980 27 19 15,3 11,48 16 15
1981 28 17,2 15,2 11,15 15,5
1982 29 15,5 15,1 10,83 14
1983 30 13,4 14,8 10,50 13
1984 31 12,7 14,5 14,7 9,55 13,75
1985 32 14,5 14 14,7 9,27 13 17,5
1986 33 14,7 13,5 13,3 8,48 13,25
1987 34 13,3 13 12,8 8,08 14,5
1988 35 12,9 12,5 12 7,77 14,75
1989 36 11,7 12 11,5 7,49 15
1990 37 10,9 11,5 11,1 6,88 16,5 9,9
1991 38 10,3 11 10,7 6,70 16
1992 39 10 10,5 10,1 6,49 18,75
1993 40 9,9 10 9,8 6,23 21
1994 41 8,1 9,6 15,8 5,42 22
1995 42 7,3 9,3 12,3 5,36 21,75 9,5
1996 43 5,8 8,9 10 5,19 16,1
1997 44 6 8,4 9,6 5,13 14,9 8
1998 45 5 8 9,1 5,02 15,25
1999 46 4,5 7,6 8,9 4,80 15,55
2000 47 4,3 7,1 8,7 4,54 15,4
2001 48 5,5 6,4 8,3 4,50 15,4
2002 49 6,6 5,4 8 15,55
2003 50 6,9 4,7 8 16,1
2004 51 6,8 4,4 7,9 17,45
2005 52 17,4
2006 53 16,25
2007 54 15,8
20
25
30
35
R
ea
is
0
5
10
15
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54
%
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Japão Tóquio Kobe Nagoya Viena
Divulgação
Redução de perdas ao redor do mundo
Saneas Setembro/Outubro de 2007 Saneas Setembro/Outubro de 2007
alguns sistemas operados pela 
Sabesp” (Leia mais no Ponto de 
Vista, a partir da página 23).
ATUALIZAÇÃO TECNOLÓGICA
Outro assunto do qual Eric gosta 
de falar diz respeito às inovações 
tecnológicas disponíveis no mer-
cado e que possuem aplicação 
imediata na redução de perdas: 
“Como eu já disse, a Sabesp 
mantém estreita relação com os 
especialistas da IWA que, à parte 
do trabalho realizado no Japão, é 
a entidade de ponta, em âmbito 
mundial, quando se fala em con-
trole de perdas. Desse modo, em 
termos tecnológicos, a Sabesp 
tem se mantido atualizada e em 
um bom patamar, quando com-
parada às empresas de abasteci-
mento de água dos países mais 
desenvolvidos”.
Como inovações tecnológicas 
que teriam aplicação imediata, 
Eric cita o sistema de detecção de 
vazamentos em tubulações de 
grande porte (adutoras e anéis 
primários), conhecido como Sis-
tema SAHARA. Esse sistema foi 
desenvolvido na Inglaterra pelo 
Water Research Center (WRC) 
e “é o único sistema conhe-
cido que se demonstrou 
extremamente efi caz 
para a detecção desse 
tipo de vazamento. 
A Sabesp já mante-
ve contato com o 
representante do 
sistema para as 
Américas, mas, 
no momento, 
seus altos custos inviabilizam tes-
tes de campo em algum de nos-
sos sistemas de abastecimento, 
que seria o primeiro passo para 
adoção dessa nova tecnologia”.
Um grande desafi o tecnológico 
para a Sabesp, segundo Eric, é 
“a redução da submedição dos 
hidrômetros dos clientes, efeito 
potencializado pela existência, 
especialmente no Brasil, de cai-
xas d’água nos imóveis, o que 
reduz as vazões nas ligações e 
amplia a submedição nos hidrô-
metros”. 
Outra questão importante é a 
qualidade dos materiais das tu-
bulações enterradas. A Sabesp 
já utiliza como padrão, há vários 
anos, tubos de polietileno para 
a execução dos ramais de água. 
Quanto à utilização do polietile-
no em redes de distribuição de 
água, Eric diz que “observamosuma tendência de sua aplicação 
em diversos países europeus. No 
Brasil, algumas operadoras como 
o DMAE - Departamento Muni-
cipal de Água e Esgoto de Porto 
Alegre e a empresa Águas de Li-
meira já adotam o polietileno nas 
novas redes. A Sabesp aplicou o 
polietileno nas redes de alguns 
poucos sistemas, mas, por falta 
de certos cuidados, acabou ten-
do más experiências. O polietile-
no apresenta diversas vantagens 
em relação às tubulações em fer-
ro ou PVC, tais como a redução 
do número de juntas (soldagem 
por fusão), que são potenciais 
pontos de vazamentos, a facili-
dade na execução das redes e 
a exigência de uma menor lar-
gura de escavação. Além disso, 
onde há necessidade de reno-
vação das redes e praticamente 
é inviável a sua instalação com 
abertura de vala (região central 
de São Paulo, por exemplo), o 
polietileno tem a vantagem adi-
cional de possibilitar a execução 
através de método não-destruti-
vo. Por outro lado, o polietileno 
Divulgação
Crédito: Odair M. Faria
Vazamento
Adutoras podem 
conter vazamentos
CAPA
Saneas Setembro/Outubro de 2007
exige cuidados com o contro-
le de qualidade dos materiais, 
equipamentos mais sofi sticados 
e estruturação da manutenção e 
mão-de-obra treinada e previsão 
de peças de reposição. Mas es-
ses cuidados também devem ser 
observados para os demais ma-
teriais. Além disto, para se garan-
tir bons resultados, pela falta de 
normas brasileiras, foram desen-
volvidas NTS – Normas Técnicas 
Sabesp, que especifi cam desde 
os materiais até sua aplicação e 
manutenção. Assim, já estamos 
em condição de iniciar uma apli-
cação em maior escala. Como em 
toda mudança, há resistência em 
utilizar um novo material, mas 
acho que o polietileno é uma 
boa solução para aplicação nas 
redes de água, desde que toma-
dos os devidos cuidados, e sua 
aplicação deve ser avaliada e tes-
tada em maior escala na Sabesp”, 
fi naliza.
BAIXA RENDA
O engenheiro civil Dante Ragazzi
Pauli, atual Superintendente da 
Unidade de Negócio Leste da Sa-
besp (UN-ML), acredita que um 
dos seus maiores desafi os é o de 
combater perdas em uma região 
vasta, complexa e de baixa ren-
da como é essa área da Região 
Metropolitana de São Paulo: “A 
UN-ML atende oito municípios 
(Salesópolis, Biritiba-Mirim, Arujá,
Suzano, Poá, Ferraz de Vasconce-
los, Itaquaquecetuba e parte da 
Zona Leste do Município de São 
Paulo), com mais de 752 mil liga-
ções de água e mais de 3 milhões 
de pessoas. A incansável preocu-
pação com o uso sustentável da 
água, fator essencial para garan-
tir a disponibilidade para as futu-
ras gerações e a sustentabilidade 
do negócio, vêm aprimorando 
o Programa de Controle de Per-
das”, diz.
Ele explica que um dos pontos-
chave para que esse controle 
atinja um grau de excelência 
está justamente no planejamen-
to: “O ponto de partida é a rea-
lização de nosso planejamento 
plurianual, em que avaliamos 
quais as principais ações e con-
seqüentes recursos necessários 
para curto, médio e longo pra-
zo. Assim, a redução de perdas 
tem sido realizada de forma 
mais efi caz e com retornos mais 
efetivos. Podemos citar algumas 
práticas: em 2004 foram imple-
mentadas as Ações Integradas 
de Combate às Perdas nos seto-
res de abastecimento, voltadas 
ao combate de perdas reais e 
aparentes, envolvendo todos os 
departamentos da UN-ML. Todos 
focados num só objetivo. Vale ci-
tar também a postura inovadora 
da UN-ML, que implementou o 
Método de Análise e Soluções 
de Problemas para Perdas –
MASPP”, afi rma.
Esse novo método, segundo 
Dante, possibilitou a mudança 
de conceitos: “O de Volume Dis-
ponibilizado (VD = compra de 
água da área de produção) e o de 
Volume Utilizado (VU = venda de 
água aos clientes). Atualmente 
todos os empregados da Sabesp 
falam em redução das perdas e 
sabem o signifi cado do VD e VU. 
Hoje, a cultura está tão bem dis-
seminada que o problema de re-
dução das perdas de água é res-
ponsabilidade de todas as áreas 
da UN-ML, e não mais apenas da 
Divisão de Controle de Perdas. 
A gestão de controle de perdas 
enquadra-se totalmente na me-
lhoria da qualidade da operação 
dos sistemas de abastecimento 
de água, na conseqüente melho-
ria dos serviços prestados e na 
busca da excelência a cada ano. 
Em 2006, como parte das ações 
de melhoria do Programa de 
Perdas, as atividades de Pesqui-
sa Acústica de Vazamento foram 
descentralizadas para os Pólos 
de Manutenção, bem como a 
leitura e acompanhamento do 
funcionamento das Válvulas Re-
dutoras de Pressão (VRP) dentro 
de sua área de atuação. Em 2007 
foram criadas metas de VD e VU, 
com responsáveis pelo setor de 
abastecimento, o que melhora 
o acompanhamento e a análise, 
tendo como foco principal os re-
sultados planejados. No mesmo 
ano foi expandido o trabalho em 
alças de controle/distritos pito-
métricos, que visam diminuir as 
vastas extensões de rede nos 
setores de abastecimento, propi-
ciando uma melhor atuação de 
nossas equipes”, explica de for-
ma direta.
Fazer com que uma população 
carente e sem acesso à cultu-
ra entenda a atual realidade do 
problema das perdas de água é 
também um fator determinante 
para ele: “A população na área 
de nossa atuação é formada por 
grandes núcleos carentes, con-
domínios populares, ocupações 
desordenadas e irregulares, in-
clusive em áreas de proteção 
de mananciais. A UN-ML possui 
o Programa de Participação Co-
munitária - PPC, em que técnicos 
comunitários lotados nos nossos 
Escritórios Regionais asseguram 
maior proximidade e agilidade 
na identifi cação e atendimen-
to às demandas e necessidades 
das comunidades. Para as áre-
as de favela e caráter social, os 
técnicos comunitários verifi cam, 
visitam e acompanham as ne-
cessidades dos clientes, realizam 
levantamento socioeconômico 
propondo uma tarifa diferencia-
da ou condição de parcelamento 
10
D
iv
ul
ga
çã
o
O engenheiro civil Dante Ragazzi Pauli, 
Superintendente da Unidade de Negócio 
Leste da Sabesp (UN-ML)
Saneas Setembro/Outubro de 2007
dentro de seu nível econômico. Fortalecem a dis-
seminação do Programa do Uso Racional da Água, 
mostrando para a comunidade o uso adequado, a 
fi m de evitar o desperdício e, conseqüentemente, 
pagamento pelo consumo utilizado incorretamente. 
O programa “Eu vi um vazamento”, iniciado em 2004, 
é um sucesso e tornou-se prática com o envolvimen-
to e comprometimento de todos. Cada funcionário 
é um fi scal de perdas, apontando vazamentos nos 
locais onde atua, reside e trafega, abrangendo assim 
toda a área da UN-ML. O programa “Ligação Irregu-
lar: isso não é legal” foi uma campanha de incentivo 
criada em 2006, cujo objetivo também é incentivar 
os empregados a informar sobre possíveis fraudes 
na região, bem como contribuir para a redução das 
perdas de água. A criação do Time de Desenvolvi-
mento Tecnológico tem ajudado na busca de tecno-
logias modernas, sempre levando em conta a apli-
cabilidade pela mão-de-obra própria e contratada. 
Enfrentar esse desafi o, junto com os funcionários 
de nossa unidade, tem sido muito gratifi cante, pois 
sabemos que nossa área é vasta e de baixa renda. 
Entretanto, a garra e a dedicação dos colaboradores 
têm nos levado a resultados muito animadores. O 
melhor exemplo é o envolvimento e participação do 
chamado “chão de fábrica”. Afi nal de contas, são eles 
que vão a campo diariamente e resolvem a maioria 
dos problemas, além de serem o elo com nossos 
clientes”, diz. 
Dante explica as ações realizadas que resultaram 
na excelente redução das perdas ocorrida em 
Salesópolis: “O Município de Salesópolis tem po-
pulação de cerca de 16.500 habitantes, e é o muni-
cípio onde nasce o Rio Tietê. A redução de perdas 
para menos de 100 litros/ligação/dia foi o grande 
desafi o colocado para todas as equipes envolvidas 
no projeto. O ponto de partida para o resultado de 
Salesópolis (76 litros/ligação/dia) foi a adoção de 
um coordenador de projeto que, juntamente com 
os colaboradores envolvidos, planejou, direcionou 
e acompanhou as seguintes ações: substituição de 
todosos hidrômetros que estavam com validade 
vencida; localização de vazamentos com métodos 
de pesquisa acústica; conserto de vazamento com 
equipes de mão-de-obra própria; otimização das 
VRPs; testes de FCI (fator de condição da infra-es-
trutura); participação, em 100% do município, dos 
técnicos em atendimento comercial externo (TACE), 
que ajudaram na identifi cação de fraudes e na ca-
racterização da área. A aplicação dos conhecimen-
tos obtidos com o MASPP foi de grande importân-
cia”, explica. 
PEQUENOS SETORES
Para Dante, a criação de microssetores em 
Salesópolis possibilitou identifi car as vazões notur-
nas de cada área, para acompanhar qualquer desvio 
e direcionar as ações de forma mais rápida e proati-
va: ”Para evitar que as perdas voltem a índices altos, 
as equipes de engenharia e de manutenção acom-
panham diariamente as vazões mínimas noturnas e a 
produção diária para que, observado qualquer valor 
fora das faixas de controle estabelecidas, providên-
cias sejam tomadas imediatamente. Com todas as 
ações realizadas, há alguns meses concluímos que a 
produção de água pode parar seis horas por dia sem 
comprometer a qualidade e o abastecimento da 
água do município. Aumentar o número de áreas de 
controle é uma forma de estender os conhecimen-
tos obtidos em Salesópolis e em outros projetos que 
também são desenvolvidos na UN Leste. Gostaria de 
citar, novamente, que o envolvimento das pessoas 
é fator de fundamental importância no combate às 
perdas”, enfatiza.
Nesse sentido, Dante fala que a aplicação da ferra-
menta MASPP na UN-ML foi o foco de conscientiza-
ção para o controle de perdas. “O MASPP permitiu 
conhecer a fundo alguns dos principais processos 
da UN-ML, ou seja, operação e manutenção do sis-
tema de água e comercialização. Seu êxito só foi 
possível graças à formação de times multidepar-
tamentais compostos por pessoas das áreas ope-
racional, de manutenção, fi nanceira, de recursos 
humanos, qualidade e comunicação, além da equi-
pe da Divisão de Perdas.” Foram essas equipes que 
planejaram, desenvolveram e executaram os pa-
drões: “Tais equipes tiveram direcionamento para 
o planejamento, desenvolvimento e execução de 
padrões de trabalho e instruções de todos os servi-
ços que envolvessem as perdas de água. Durante o 
período de desenvolvimento da metodologia e sua 
aplicação, foram adotados três setores de abaste-
cimento como pilotos (Itaquera, Jardim Popular e 
Salesópolis), antes da completa implantação na UN-
ML. Nesse período foram propostas ações de melho-
ria nos setores e controle dos processos, através de 
ferramentas da Qualidade que pudessem interferir 
diretamente nos indicadores da unidade. O foco do 
trabalho foi voltado a reduzir o Volume Distribuído –
VD - e aumentar o Volume Utilizado – VU, com me-
11
Crédito: Odair M. Faria
Desperdício de água e consumo 
incorreto intensificam as perdas
CAPA
Saneas Setembro/Outubro de 2007
tas correspondendo a cada pro-
cesso. A metodologia propiciou 
melhorias nos controles dos 
processos principais do negócio, 
gerando benefícios diretos a to-
dos os níveis da organização, do 
profi ssional que executa sua ati-
vidade com o procedimento cor-
reto, otimizado e padronizado, 
passando pelos níveis gerenciais 
que podem otimizar equipes de 
trabalho com absoluto domínio 
das características do seu negó-
cio ou mercado, até a alta admi-
nistração, para a tomada de de-
cisão baseada em fatos e melhor 
detalhamento dos planejamen-
tos empresariais”, explicou. “A 
continuidade se dá sempre atra-
vés da utilização da ferramenta 
PDCA (Plan, Do, Check, Action) e 
de auditorias regularmente exe-
cutadas. Benchmarkings e o en-
volvimento de um número cada 
vez maior de colaboradores, fa-
zem com que, freqüentemente, 
novas ferramentas e tecnolo-
gias sejam inseridas na execu-
ção das atividades. Os sistemas 
SCORPION, SAMA, controle de 
VRPs e vazões mínimas noturnas, 
acompanhamento dos serviços 
de geofonamento, estabeleci-
mento de metas e responsáveis 
por setor de abastecimento são 
alguns exemplos. Além disso, os 
controles têm sido aprimorados 
constantemente pelas equipes 
operacionais e gerenciais, de for-
ma a analisar as ações de causa 
e efeito e os ganhos que cada 
uma teve. Hoje temos metas de 
VD e VU, acompanhadas diaria-
mente, que possibilitam direcio-
namento de recursos e decisões 
para evitar eventuais acrésci-
mos nos volumes de perdas. Os 
treinamentos efetuados com a 
participação de nossa área de 
Recursos Humanos, juntamente 
com nossas equipes de Comuni-
cação e Qualidade, empenhadas 
na disseminação das boas práti-
cas, garantem a continuidade e 
aprimoramento do aprendizado 
obtido na época de aplicação da 
ferramenta MASPP, assim como 
a otimização das tarefas a serem 
executadas”, fala com segurança 
de quem domina o assunto. 
A rotina diária do trabalho é um 
dos principais fatores que de-
monstram a continuidade das 
ações e dos aprimoramentos dos 
trabalhos desenvolvidos para a 
redução contínua de perdas da 
unidade: ”Resumindo: a busca 
constante de novas tecnologias, 
trabalho por processos e forte 
envolvimento e participação de 
nossos colaboradores garantirão 
a continuidade dos trabalhos ini-
ciados quando da implementa-
ção do MASPP”, fi nalizou Dante.
MOTIVAÇÃO, ENVOLVIMENTO E 
TECNOLOGIA
O Engenheiro Civil Luiz Paulo de 
Almeida Neto, Superintendente 
da Unidade de Negócio Baixo 
Tietê e Grande (UN-RT), que tem 
sede na cidade de Lins e opera 
83 municípios, acredita que a 
motivação e o envolvimento das 
pessoas nos trabalhos operacio-
nais dos sistemas de distribuição 
de água são fundamentais para 
resultar em baixos índices de 
perdas: “Nós aqui na UN-RT, para 
termos sucesso no combate a 
perdas, precisamos desenvolver 
nossa atuação em 83 municípios. 
Desta forma, envolver pessoas 
no projeto é imprescindível, pois 
o Gestor de Perdas da Unidade 
não consegue fi scalizar presen-
cialmente nem 10% das equipes 
atuantes. Assim, alcançar objeti-
vos no programa é primeiramen-
te convencer todos os gerentes 
operacionais e demais funcioná-
rios de que o programa é indis-
pensável. Hoje, 100% do nosso 
volume produzido é medido
com equipamentos eletromag-
néticos interligados a sistemas 
informatizados e 70% de todo 
volume distribuído é medido e 
transmitido on-line a computa-
dores que possibilitam o geren-
ciamento das perdas. Por isso, 
trabalhar com profi ssionais qua-
12
D
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Luiz Paulo de Almeida Neto, 
Superintendente da Unidade de Negócio 
Baixo Tietê e Grande (UN-RT)
Irregularidades (fraudes) e hidrômetros modificados
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Saneas Setembro/Outubro de 2007
lifi cados é obrigatório”, esclare-
ce. Ele coloca a motivação como 
um dos principais fatores para 
os bons resultados obtidos no 
combate às perdas na região de 
Lins: “Em primeiro lugar, sempre, 
equipes motivadas e comprome-
tidas em obter resultados; em se-
gundo, muita transpiração, mais 
do que inspiração, pois comba-
ter perdas envolve um trabalho 
que precisa ter rotina diária, 
pesquisar e retirar vazamentos, 
aferir vazões mínimas noturnas, 
trocar hidrômetros, ou seja, é um 
‘arroz com feijão’ que precisa ser 
feito todos os dias; em terceiro, 
persistência, pois muitas vezes 
você desenvolve várias ações e 
não obtém resultados, mas per-
sistindo você descobre a causa, 
parte para a ação correta e re-
solve o problema. Exemplo: na 
cidade de Monte Alto, desenvol-
vemos ações como substituição 
de hidrômetros, troca de ramais 
e redes, mas as perdas só caí-
ram signifi cativamente quando 
resolvemos instalar válvulas re-
dutoras de pressão; em quarto, 
a tecnologia, que a cada dia traz 
soluções. Aqui, medir vazões mí-
nimas noturnas na distribuição 
dos reservatórios e controla-las 
on-line nos computadores trou-
xe um grande avanço na redu-
ção de perdas reais”. 
Luiz Paulo cita esse controle on-
line de perdas como o que pro-
porcionou um dos melhores re-
sultados registrados na sua área 
de atuação: “Temos muitos siste-mas com perdas reais inferiores 
a 90 litros/ramal/dia. Trabalha-
mos com mão-de-obra própria 
nas equipes de engenharia, 
pitometria, e trabalhamos com 
tercerizados nas pesquisas de 
vazamentos e instalação de ma-
cromedidores”, fi naliza. 
EM CAMPINAS
Lina Cabral Adani, engenheira ci-
vil e, nos últimos 13 anos, Geren-
te de Controle de Perdas e Siste-
mas na empresa de saneamento 
de Campinas (SANASA), lista uma 
série de ações importantes que 
foram implementadas pela SA-
NASA e que deram resultados ex-
pressivos na redução de perdas, 
tanto reais quanto aparentes: 
“Foram muitas as ações para agi-
lizar o controle de perdas, mas eu 
destaco a implantação de novos 
critérios para dimensionamento 
de hidrômetros, a realização de 
manutenção Preditiva e Preven-
tiva de hidrômetros, a utilização 
de hidrômetros velocimétricos 
ø ¾”, Qn 0,75 m³/h, a utilização 
de hidrômetros velocimétricos 
classe C nas ligações com ø ≥ 1” 
e as ligações de água (60%) no 
padrão com caixa de proteção 
lacrada, instaladas nos muros 
dos imóveis”, afi rma. Ela também 
destaca as Estruturas Reduto-
ras de Pressão, com a instalação 
maciça e formação de equipes 
qualifi cadas para o monitora-
mento e manutenção, monitora-
mento permanente de pressões 
em pontos críticos, para controle 
efetivo dos volumes de entrada 
de água nos setores de abaste-
cimento, através de válvulas de 
controle (normalmente redu-
toras de pressão) e/ou bombas 
com inversores de freqüência.
Lina ainda esclarece que a sus-
tentabilidade do programa de 
redução de perdas requer ações 
implantadas paralelamente, de 
forma contínua e permanente: 
“Micromedição, macromedição, 
sistemas informatizados em 
tempo real (telemetria e teleco-
mando) e banco de dados his-
tóricos (CPD), cadastro técnico e 
geoprocessamento, setorização 
(isolamento de áreas), controle/
redução de pressões, manuten-
ção e controle do tempo para 
eliminar o vazamento em tubu-
lações, controle de nível com 
recuperação de vazamento em 
reservatórios e unidades opera-
cionais, detecção e conserto de 
vazamentos não-visíveis, subs-
tituição de redes e ramais fadi-
gados, ensaio de estanqueidade 
para recebimento de redes no-
vas, teste de recebimento de re-
des novas e pesquisa e detecção 
para eliminação de fraudes”. 
Além disso, Lina defende uma 
gestão do sistema distribuidor, 
que possibilite a detecção dos 
problemas e a execução das a-
ções corretivas/preventivas/pre-
ditivas no menor tempo e cus-
to, bem como o treinamento 
constante dos funcionários en-
volvidos (formação acadêmica, 
cursos, palestras, eventos, visitas 
técnicas etc.). 
Lina esclarece que a preocupa-
ção da empresa com o sistema 
de macromedição é permanen-
te: “A SANASA possui uma políti-
13
Divulgação
Divulgação
Lina Cabral Adani, 
Gerente de Controle de 
Perdas e Sistemas na empresa de 
saneamento de Campinas (SANASA) 
 Macromedidor
Pesquisa de vazamentos
CAPA
Saneas Setembro/Outubro de 2007
ca de macromedição permanen-
te de todos os volumes de água 
bruta captados, tratados, aduzi-
dos, armazenados e distribuídos. 
Também são contemplados os 
setores de medição (distritos pi-
tométricos), já atingindo quase 
sua totalidade. A macromedição 
é obrigatória para todas as novas 
obras”.
Os equipamentos utilizados são 
de última geração, dos tipos 
eletromagnético e ultrassônico, 
selecionados adequadamente 
para cada fi nalidade, sendo tam-
bém utilizados para setores de 
medição os do tipo Woltmann, 
por não necessitarem de energia 
elétrica e pelo custo menor.
A confi abilidade dos volumes 
apurados envolve a especifi ca-
ção técnica criteriosa na fase de 
aquisição, o projeto, a instalação 
e a manutenção, adequada ao 
equipamento e ao grau de im-
portância do ponto de medição 
monitorado. Mensalmente são 
avaliados os dados apurados e só 
depois divulgados; nesta fase o 
macromedidor é diagnosticado 
e, se necessário, conferido atra-
vés de outro medidor portátil, 
podendo ser substituído. “Para as 
medições mais importantes, que 
são volumes produzidos, possu-
ímos redundância nas medições 
e podemos garantir a confi abili-
dade dos mesmos”, garante Lina.
GESTÃO DO PROGRAMA DE 
REDUÇÃO DE PERDAS
Ela faz questão de explicar como 
é a gestão do Programa de Re-
dução de Perdas na SANASA: “O 
Programa de Redução de Per-
das tem gestão centralizada na 
Gerência de Controle de Perdas 
e Sistemas, na Diretoria Técnica, 
e as ações descentralizadas que 
permeiam pelas demais áreas: 
Comercial, Financeira, Adminis-
trativa, Recursos Humanos. Isso 
só foi possível com a integração 
das atividades e a união dos 
funcionários, que proporciona-
ram um programa sustentável e 
com resultados relevantes para 
garantia do atendimento das de-
mandas atuais, mesmo em épo-
cas críticas de estiagem e uma 
população de mais de 1.000.000 
de habitantes.”
A Gerência de Controle de Per-
das e Sistemas possui dotação 
orçamentária aprovada anual-
mente e conta com as parcelas 
das demais gerências quanto às 
ações voltadas à redução de per-
das: “Pelo Planejamento Estraté-
gico, o Programa de Redução de 
Perdas, baseado no diagnóstico 
dos setores, visa o atendimento 
das demandas atuais e futuras, 
a redução do custo operacional 
e o equilíbrio fi nanceiro do pro-
duto água.”
Lina explica também qual o “ín-
dice econômico de perdas” de 
Campinas: “O índice de perdas na 
distribuição em 2006 foi 25,8%. 
Esse valor garantiu a demanda 
requerida até no período de es-
tiagem, permitiu o crescimento 
demográfi co como também o 
crescimento econômico do mu-
nicípio, sem restrição da quanti-
dade e qualidade da água, além 
de atender à outorga DAEE: De-
partamento de Águas e Energia 
Elétrica. O procedimento que 
vem sendo adotado prevê a re-
dução das perdas para no máxi-
mo 25,8% nos setores em que se 
verifi cam valores maiores, desde 
que o investimento fi nanceiro 
se torne viável quanto à relação 
custo x benefício e tempo de re-
torno”
Para fi nalizar, Lina aponta: “A ges-
tão das perdas tem por objetivo 
alcançar o índice de perdas que 
proporcione o equilíbrio fi nan-
ceiro do produto água, para se 
tornar auto-sustentável mesmo 
com adoção de tarifas subsidia-
das nas categorias Ligações Cole-
tiva e Social; esse valor para 2006 
seria de 21,7%, já alcançado em 
vários setores de medição”.
VISÃO DA UNIVERSIDADE
Edevar Luvizotto Junior, enge-
nheiro civil e professor da Fa-
culdade de Engenharia Civil da 
Unicamp, no Departamento de 
Recursos Hídricos, é responsável 
pelos Laboratórios de Hidrotrô-
nica e Hidráulica Computacional 
da FEC-Unicamp e uma autori-
dade para falar sobre as linhas 
de pesquisa que estão sendo de-
senvolvidas na Unicamp com re-
lação às perdas reais e aparentes 
em sistemas de abastecimento 
de água. E fala com prazer sobre 
aquilo que mais gosta de fazer: 
“Tenho na Unicamp uma linha de 
investigação chamada de Con-
trole e Gestão Operacional de 
Sistemas de Abastecimento de 
Água, na qual investigo o tema 
das perdas e outros relacionados 
ao abastecimento de água. No 
caso particular das perdas, tenho 
dedicado maior atenção às per-
das reais, em particular, investi-
gando modelos que auxiliem na 
detecção de vazamentos. Não 
penso nestes modelos como 
substitutos para as técnicas usu-
ais de detecção por ruídos (ge-
ofones, correlacionadores, etc), 
mas como um aliado, guiando 
as campanhas de campo, dando 
pistas sobre locais de vazamen-
to. Como se sabe, as técnicas 
usuais são morosas, uma vez que 
o sistema de distribuição tem 
que ser efetivamente percorrido. 
Além do mais, exigem equipes 
altamente qualifi cadas e podem 
produzir transtornos indesejá-
veis no trânsito”, afi rma.
Após fazer o pós-doutorado na 
Escola Politécnica de Valência, 
Espanha, Edevar retornou ao 
Brasil com o esboço do modelo 
de detecção de fugas. “Um dos 
meus alunos de mestrado se in-
14
Divulgação
Edevar Luvizotto Junior, professor da 
Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp, 
no Departamento de Recursos Hídricos
Saneas Setembro/Outubro de 2007
teressou pelo tema e fez váriostestes de validação do modelo, 
apresentados em sua dissertação 
de mestrado. Um aluno de dou-
torado desenvolveu um modelo 
de calibração de redes baseado 
na técnica. Também empregou 
situações hipotéticas para valida-
ção do modelo. Uma dissertação 
de mestrado foi desenvolvida 
por outro orientado. Ele aplicou 
o modelo a um setor de abas-
tecimento de um sistema real, 
obtendo resultados satisfatórios. 
Tenho uma aluna que concluiu 
o mestrado com o desenvolvi-
mento teórico de um modelo de 
detecção de fugas por pulso de 
alta freqüência e que continua a 
investigação, agora prática, em 
seu doutorado. Além destas pro-
duções específi cas sobre o tema 
das fugas, trabalho em minha 
linha de investigação com mo-
delos de simulação em regime 
transitório, modelos de auditoria 
energética de estações elevató-
rias e modelos de qualidade de 
água”, explica.
Edevar fala que as dissertações 
e teses defendidas na Unicamp 
estão disponíveis em sua biblio-
teca: “Na atualidade todas as 
dissertações e teses estão sen-
do convertidas para o formato 
eletrônico e disponibilizadas via 
internet. Basta entrar no site da 
Unicamp (www.unicamp.br) e 
procurar pela biblioteca, onde 
será obtida a forma de acesso ao 
acervo digital”.
QUALIDADE DAS INFORMA-
ÇÕES E CALIBRAÇÃO
Continuando sua explicação, 
Edevar fala sobre os dados para 
a aplicação do modelo de simu-
lação-otimização na gestão de 
perda de água em regime per-
manente e transitório: “Como 
todo o modelo de simulação 
dessa natureza, parte-se de in-
formações cadastrais como: 
comprimento, diâmetro, exten-
são, material, idade e estado 
das tubulações. É importante o 
conhecimento das interligações 
e de informações topográfi cas 
destas interligações (localização 
em planta e cotas de nível), além 
da localização e quantifi cação 
dos pontos de consumo (e es-
tatística da variação temporal). 
São necessários dados dos com-
ponentes do sistema, tais como 
as características operacionais 
de bombas, válvulas e reserva-
tórios, além das regras de opera-
ção, caso a modelação ocorra em 
período extensivo ou em regime 
transitório. A partir do levanta-
mento de dados passa-se à eta-
pa de calibração/detecção. Esta 
etapa é precedida pelo que se 
chama de defi nição da matriz de 
sensibilidade do sistema, basica-
mente a determinação das me-
lhores localizações dos sensores 
de pressão e vazão e do número 
adequado destes sensores para 
a varredura de uma determina-
da área (isto é feito através de 
modelação). Defi nido o núme-
ro, a localização e instalados os 
sensores, estes irão fornecer as 
informações de carga e vazão 
que o modelo deverá reprodu-
zir. Isto só será atingido com a 
calibração do modelo e com a 
localização dos pontos de vaza-
mento. Quanto maior a quan-
tidade de informações obtidas 
dos sensores melhor será guiado 
o modelo de busca. A idéia de se 
15
Fontes: 
- Waterloss, 2005; 
- Tokyo 
Waterworks Bureau; 
- Saitama City 
Waterworks Bureau; 
- Waterworks and Sewarage 
Bureau of Nagoya City
Fonte: SNIS, 2005
CAPA
Saneas Setembro/Outubro de 2007
aplicar a técnica em regime transitório, ou em perí-
odo extensivo, é acompanhar a evolução temporal 
das medidas nos sensores, conseguindo assim um 
conjunto de informações com um menor conjunto 
de sensores. A técnica que tenho empregado nessa 
etapa, em que se busca que o simulador represente 
os resultados de campo, é baseada no Multi-Simplex 
(chamo de Nelder-Mead em homenagem aos seus 
pioneiros), algoritmos genéticos ou num híbrido 
destes algoritmos”, explica.
APLICAÇÃO
Em tese tudo tem que estar em perfeito funciona-
mento, mas a aplicação em casos reais esbarra na 
difi culdade de obtenção das informações corretas 
para a modelação e na cooperação dos serviços de 
saneamento para a aplicação do modelo.
“O teste que fi zemos com o modelo foi um suces-
so. Ele foi aplicado a um setor de abastecimento da 
cidade de Jundiaí, que tinha rede em tubos de PVC 
recentemente instalada, parque de hidrômetros no-
vos, de característica predominantemente residen-
cial e com índice de perdas baixíssimo. Com cadas-
tro confi ável e informação de medição adequada, foi 
feita uma campanha noturna (já que aplicamos um 
modelo de regime permanente) com três datalog-
gers medindo pressão e um medidor de vazão para 
a fuga que foi criada no setor. Essa fuga foi detecta-
da com sucesso. A questão sobre se há viabilidade 
para a aplicação da técnica é bastante interessante 
e de certa forma é um exercício de previsão de futu-
ro. Quando apresentei este modelo na Espanha, em 
2002, fui convidado pelo coordenador de projetos 
de um organismo de planejamento suíço a trabalhar 
no desenvolvimento de um sistema de detecção de 
fugas com eles (por motivos acadêmicos não pude 
ir). O fato é que o projeto piloto na cidade de Mar-
tigny, envolvia uma empresa que estava desenvol-
vendo um sensor que media vazão, pressão e ruído 
num mesmo corpo (estavam com problemas com a 
medição de ruídos), um provedor de Internet a cabo, 
a empresa de saneamento e o instituto de pesqui-
sa (com pesquisadores de toda a Europa). Eles me 
forneceram uma senha de acesso e, por dois meses, 
tive informações on-line de todo o sistema, além de 
mapas georreferenciados da rede, justamente como 
está disponível a cada cidadão daquela cidade. Isso 
pode parecer um sonho, mas é uma realidade. Via-
bilidade há, se houver o desejo e se essa for a prio-
ridade. Num pais com defi ciências em saneamento 
básico como o nosso, tudo deve ser feito com muito 
planejamento”, fala.
DESENVOLVIMENTOS
Edevar explica que a Unicamp tem desenvolvido no-
vos trabalhos em relação ao programa de controle 
de perdas em sistemas de abastecimento público 
de água. “Atualmente oriento um trabalho de dou-
torado que pretende detectar fugas em tubulações 
através de pulsos pressão de alta freqüência e baixa 
intensidade (que poderão ser aplicados em aduto-
ras ou redes). Os resultados teóricos foram surpreen-
dentes e a expectativa é de que possa substituir os 
correlacionadores acústicos na detecção de fugas. 
A difi culdade está no desenvolvimento do disposi-
tivo para produção desses pulsos de alta freqüência, 
para que possam ser instalados sem produzir inter-
ferências signifi cativas no sistema. As análises dos 
pulsos de alta freqüência são em regime transitório 
e toda a teoria já foi desenvolvida como dissertação 
de mestrado”. 
“Em particular não tenho trabalhado com perdas 
em reservatórios e em estações elevatórias. No caso 
de estações elevatórias, desenvolvemos um modelo 
para aplicação em estações com bombas de rota-
ções variáveis visando a otimização operacional (ní-
veis de pressão) e a redução de custos (tese de dou-
toramento recentemente defendida)”, relata Edevar.
LABORATÓRIO DE HIDROTRÔNICA
Edevar explica que procura orientar seus alunos para 
o foco da modelagem: ”Por vocação pessoal traba-
lho com a modelagem e oriento meus alunos den-
tro desta linha. Entretanto, acredito que a formação 
do engenheiro que trabalha com o tema das perdas 
ou com os problemas relacionados com o abasteci-
mento em geral deva ser melhorada. Em 2002, em 
conjunto com outros dois colegas, que não estão 
mais comigo, concluímos o que chamamos de Labo-
ratório de Hidrotrônica. Neste laboratório, dispomos 
de 1500 m de tubulação em polietileno e cobre (por 
facilidade da confi guração em espiral), que podem 
ser confi gurados a partir de trechos de 100 m, em 
diversas topologias de rede. Nos nós de conexão es-
tão instalados sensores de pressão. O módulo possui 
dois medidores de vazão, duas bombas que permi-
tem confi guração em série ou paralelo, um vaso de 
pressão, três válvulas automáticas de controle e 15 
manuais, e uma bomba dotada de inversor de fre-
qüência. Tudo isso na forma semelhante a um proto-
board empregado para testes de circuitos eletrôni-
cos. O sistema é controlado por um sistema Scada 
que faz a operação dos equipamentos (bombas, vál-
vulas, inversor e compressor que alimenta o vaso de 
pressão) e a aquisição de dados(vazão e pressão). O 
laboratório foi a forma que encontramos de colocar 
nossos alunos em contato com as tecnologias em-
pregadas nas mais modernas empresas de abasteci-
mento de água, além de fornecer comprovação aos 
nossos modelos. É importante o aluno observar na 
prática que determinadas manobras por eles provo-
cadas levam o sistema a esforços extremos, que po-
dem ser os protagonistas de rupturas em tubulações 
e juntas”, conclui.
16
Saneas Setembro/Outubro de 2007
“Os níveis de perdas 
no Brasil ainda 
são elevados” 
ENTREVISTA
17
Ernani Ciríaco de Miranda, Engenheiro Civil, 
Mestre em Tecnologia Ambiental e recursos 
hídricos pela Universidade de Brasília, tem 20 
anos de formação e experiência profissional em 
saneamento básico, com atuação na área de 
consultoria em projetos de sistemas de abas-
tecimento de água e de esgotamento sanitário 
por dez anos em empresas como Belba Enge-
nheiros Consultores, Leme Engenharia e Enge-
solo Engenharia.
Diretor Técnico da Emasa - Empresa Munici-
pal de Água e Saneamento de Itabuna/BA, no 
período de 1993 a 1996. Membro da equipe 
técnica do Programa de Modernização do Se-
tor Saneamento (PMSS) desde 1997, atuando 
como Coordenador do Programa desde 2003. O 
PMSS é um Programa da Secretaria Nacional 
de Saneamento Ambiental do Ministério das 
Cidades.
Para se determinar o volume perdido nos siste-
mas de abastecimento de água, o volume ma-
cromedido é a referência principal. Como está o 
índice de macromedição na maioria das compa-
nhias de saneamento brasileiras? Quando é me-
dido, pode-se dizer que é bem medido? 
Ernani - São referências principais os volumes ma-
cro e também os micromedidos. No Brasil há exem-
plos de diversas situações: níveis de macromedição 
elevados, médios e baixos, com uma precisão que 
pode ser boa, média e baixa nos três casos. A grande 
heterogeneidade que existe na prestação dos ser-
viços de abastecimento de água no Brasil, seja em 
função do porte dos prestadores e seus sistemas, 
seja em função do nível de evolução técnico-opera-
cional e institucional, difi culta a adoção de valores 
médios em uma análise desta natureza. No entanto, 
há um senso comum, sobretudo entre profi ssionais 
de maior experiência, de que infelizmente é maior a 
quantidade de casos de baixa macromedição e tam-
bém de baixo nível de precisão.
O SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Sa-
neamento, administrado pela Secretaria Nacional de 
Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, no 
âmbito do Programa de Modernização do Setor Sa-
neamento PMSS, publica anualmente informa-
ções sobre a prestação de serviços de abastecimento 
de água e esgotamento sanitário, desde o ano base 
de 1995. Segundo a última atualização, com dados 
do ano base de 2005, o índice médio de macromedi-
ção no Brasil é de 77% do volume de água produzi-
do. Neste mesmo ano foram muitos os prestadores 
de serviços cujos dados informados resultaram em 
100% de macromedição e muitos também resulta-
ram em 0,00%.
Outro fator importante a considerar é que no caso 
das companhias estaduais, que operam quase 4.000 
municípios com água, o indicador médio de cada 
uma pode não refl etir a realidade dos municípios 
operados, pois havendo bom nível de macromedi-
ção nos municípios maiores, estes impactam positi-
vamente o indicador médio, podendo não refl etir a 
realidade dos municípios menores.
E o índice de hidrometração, como se encontra 
hoje no Brasil? Os intervalos de troca são regu-
lares? Há avaliações de submedição média? Há 
disparidades regionais signifi cativas no índice 
de hidrometração ou na gestão do parque de hi-
drômetros? 
Ernani - No caso da hidrometração, a situação é si-
milar. Cabe, no entanto, esclarecer que os conceitos 
para indicador de hidrometração e indicador de 
micromedição são diferentes. Enquanto o primeiro 
refl ete a quantidade de ligações de água que têm 
hidrômetro, o segundo refl ete o volume de água 
consumido que é medido. Um alto índice de hidro-
metração pode não corresponder a um também 
elevado índice de micromedição, pois podem exis-
tir hidrômetros que não estão com funcionamento 
regular. Segundo o SNIS 2005, enquanto o índice 
médio de hidrometração no Brasil é de 88%, o de 
micromeção é de 47%, em ambos também variando 
de 0,00 a 100% para os prestadores de serviços da 
amostra em todo o Brasil. O problema da submedi-
ção é grave no país, sobretudo em decorrência do 
Fotos Ernani Ciríaco: Divulgação 
ENTREVISTA
Saneas Setembro/Outubro de 2007
uso disseminado de caixas d’água e pelo padrão de 
hidrômetros adotados (no maioria dos casos, de clas-
se B). Nos EUA e países da Europa não são utilizadas 
caixas d’água. Também cabe dizer que no mercado 
há hidrômetros de classe superior que permitem 
trabalhar com baixos níveis de submedição, mas o 
custo destes hidrômetros é ainda elevado para os 
padrões brasileiros. O SNIS não possui dados que 
permitam calcular o nível de submedição. Sabe-se, 
no entanto, pelo conhecimento da realidade do país 
que os níveis são altos, podendo chegar em muitos 
casos a mais de 30% do volume consumido.
Qual a visão do Ministério das Cidades/PMSS 
sobre o problema de perdas nas companhias 
de saneamento brasileiras, tanto as estaduais 
quanto as municipais? Qual é o valor médio bra-
sileiro, segundo os dados que vocês dispõem no 
SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre 
Saneamento? Comparando com outros países 
em desenvolvimento, como estamos? Há metas 
estabelecidas, ou sugeridas, pelo Ministério das 
Cidades? 
Ernani - O Ministério das Cidades entende que os 
níveis de perdas no Brasil são muito elevados e há 
bastante espaço para melhoria. Uma estimativa sim-
plifi cada do que representam as perdas de águas 
nos sistemas brasileiros, em termos fi nanceiros, indi-
ca que elas correspondem a cerca de R$ 2,5 bilhões/
ano. Ora, se o país precisa de R$ 10 bilhões/ano, nos 
próximos 20 anos, para alcançar a universalização 
dos serviços de água e esgotos, então o valor das 
perdas é muito alto e representa um enorme pre-
juízo para a economia brasileira. Infelizmente a so-
ciedade brasileira sequer tem condições de avaliar a 
gravidade deste fato, pois a regulação praticamente 
inexiste, muito menos o controle social. Penso que 
o problema somente será equacionado quando 
adquirir dimensão nacional e estiver ao alcance da 
compreensão da sociedade brasileira.
Segundo o SNIS 2005, a média nacional do índice 
de perdas de faturamento é de 39%, com médias 
regionais de 59% no Norte (maior valor médio) e de 
30,9% no Sudeste (menor valor médio). Nos serviços 
municipais, em 2005, os valores médios nacionais 
são um pouco maiores que nas cias. estaduais, ou 
seja, 39,9% para os primeiros e 38,7% para as segun-
das. No estado de São Paulo a média é de 35,5%, en-
quanto que a média da SABESP é de 34,2%. O menor 
valor médio de cia. estadual é da COPASA/MG, igual 
a 22,9%. Nos serviços municipais, retirando os valo-
res abaixo de 10%, que podem estar inconsistentes, 
o menor índice é do município de Colorado/PR, exa-
tamente igual a 10%.
Especialistas do setor costumam estabelecer como 
bons índices de perdas de faturamento no Brasil, 
valores da ordem de 20 a 25%. O Ministério não 
tem metas estabelecidas, mesmo porque não tem 
competência para tal. As metas de desempenho, 
em qualquer área da prestação dos serviços de sa-
neamento, devem ser estabelecidas pelo titular 
dos serviços, defi nidas nos respectivos planos de 
saneamento e registradas nos contratos de presta-
ção, sejam de concessão ou de programa. O Minis-
tério das Cidades estipula, entretanto, nos Acordos 
de Melhoria de Desempenho (AMDs), instrumento 
obrigatório de acompanhamento do desempenho 
dos prestadores de serviços que utilizam recursos 
federais, metas de melhoria nos índices de perdas 
de água. Além disso, estabelece a seguinte classifi ca-
ção para os índices de perdas de faturamento: nível
A: <= 25%; nível B: entre 25 e 40%; nível C: >= 40%. 
A questão dos indicadores de perdas foi muito 
discutidarecentemente no mundo todo, susci-
tada pela IWA (International Water Association). 
Como essa discussão foi absorvida pelo Ministé-
rio das Cidades no acompanhamento dos núme-
ros nacionais? Enfi m, é possível padronizar em 
todo o mundo, e no Brasil, o entendimento do 
que são perdas em sistemas de abastecimento 
de água? 
Ernani - Acredito que se possa obter uma padroni-
zação mais confi ável em todo o mundo no caso de 
indicadores avançados, que levem em conta fatores 
de homogeinização tais como a escala (quantidade 
de ligações e a extensão de redes e ramais) e a pres-
são de operação das redes, bem como considerem 
a avaliação das perdas reais separadas das perdas 
aparentes. Para indicadores de nível básico (como 
o índice de perdas de faturamento, em percentual, 
largamente utilizado no Brasil e no mundo) ou de 
nível intermediário (volume perdido por ligação, por 
exemplo, que vem sendo mais utilizado), creio que a 
padronização é mais difícil, merecendo muita caute-
la na comparação de desempenho, devido a fatores 
como: diferentes conceitos e critérios de contabili-
zação e de faturamento da água, existência ou não 
de contabilização individual no caso de prédios com 
duas ou mais moradias, posição do hidrômetro em 
18
Fotos: Divulgação Sabesp
Saneas Setembro/Outubro de 2007
relação à divisa frontal do lote, 
uso ou não de caixas d’água do-
miciliares, diferentes conceitos 
do que sejam perdas reais e apa-
rentes, dentre outros fatores.
O SNIS vem promovendo uma 
padronização de indicadores de 
desempenho para serviços de 
água e esgotos que é anterior 
ao Manual da IWA, já que o Glos-
sário de Termos e Fórmulas do 
SNIS foi publicado pela primeira 
vez em 1996 e, desde então, vem 
sendo publicado regularmente 
todo ano, sempre com alguma 
revisão ou atualização. Por sua 
vez, o PNCDA - Programa Nacio-
nal de Combate ao Desperdício 
de Água, também da Secretaria 
Nacional de Saneamento Am-
biental do Ministério das Cida-
des, possui um Documento Téc-
nico de Apoio com proposta de 
padronização de indicadores de 
perdas. Há também publicações 
e estudos acadêmicos no Brasil, 
sobre o tema. Entretanto, o ní-
vel de profundidade com que 
o tema das perdas de água tem 
sido tratado pela IWA é hoje in-
dutor dos técnicos do setor no 
que diz respeito à avaliação de 
desempenho neste campo. As-
sim, o Ministério das Cidades 
apóia a idéia e pode liderar, via 
PMSS, uma grande discussão no 
país visando a padronização dos 
indicadores, que tenha por refe-
rência as experiências nacionais 
e os estudos da IWA.
Está sufi cientemente clara a 
diferença de conceitos entre 
“águas não-faturadas” e “per-
das” nas companhias de sanea-
mento do Brasil? Os conceitos 
da IWA estão sendo adotados 
pelo Ministério das Cidades? 
Ernani - Creio que os conceitos 
citados não estão sufi ciente-
mente claros para a maioria dos 
técnicos e dirigentes do setor sa-
neamento no Brasil, e nem para 
a população, imprensa, meio 
acadêmico, e responsáveis pelas 
políticas públicas do setor sanea-
mento nos níveis federal, estadu-
ais e municipais. É preciso avan-
çar muito ainda na compreensão 
e consolidação de conceitos mais 
atuais e modernos. O Ministério 
das Cidades, tanto no SNIS quan-
to no AMD, supracitados, adota 
conceitos similares aos da IWA, 
com alguma adaptação para a 
realidade brasileira, limitados aos 
indicadores de nível básico, haja 
vista que sua atuação é nacional 
e deve procurar o maior alcance 
possível, fato que só é possível 
com esses indicadores de nível 
básico.
Quais as maiores difi culdades 
enfrentadas pelo Ministério 
das Cidades na coleta dos da-
dos e informações sobre per-
das para compor o relatório do 
SNIS? 
Ernani - As maiores difi culdades 
referem-se à falta de informa-
ções atualizadas e consistidas re-
gularmente na rotina operacio-
nal dos prestadores de serviços, 
sobretudo separadas para cada 
município operado. Embora os 
prestadores de serviços venham 
adquirindo com o tempo uma 
expressiva melhoria na qualida-
de das informações fornecidas 
ENTREVISTA
Saneas Setembro/Outubro de 2007
ao SNIS, cabendo registrar que 
esta melhoria é decorrência na-
tural da série histórica de dados, 
que já possui 11 anos, cabe regis-
trar também como difi culdade a 
existência ainda de muitos casos 
de inconsistência nos dados, se-
jam de prestadores de serviços 
regionais (companhias estadu-
ais), sejam microrregionais ou lo-
cais. Este fator é uma conseqüên-
cia natural da raiz dos problemas 
de desempenho dos serviços de 
água do país, qual seja, a quali-
dade insatisfatória da gestão dos 
serviços. 
Em que medida os números do 
SNIS contribuem para se ter um 
diagnóstico dos problemas de 
perdas no país? O que é possí-
vel melhorar para o aperfeiço-
amento desse diagnóstico? 
Ernani - Os dados do SNIS são o 
que há de melhor para se ava-
liar a evolução histórica, o nível 
de desempenho, os principais 
problemas e as perspectivas de 
avanço dos serviços de água e 
esgotos no Brasil, incluindo re-
lativos ao tema perdas de água. 
São poucos os países do mundo 
que têm um sistema tão robusto, 
com a qualidade e a estabilidade 
do SNIS. É possível realizar aná-
lises do interesse dos diversos 
agentes com atuação no setor 
saneamento brasileiro: os pró-
prios prestadores de serviços, 
auto-avaliando a sua performan-
ce e evolução histórica e se com-
parando com a amostra presente 
no sistema; os dirigentes do po-
der executivo, donos dos pres-
tadores de serviços, que podem 
se utilizar dos dados para avaliar 
resultados; a imprensa e a so-
ciedade organizada que podem 
acessar a base de dados e verifi -
car o comportamento do setor; 
os agentes reguladores que têm 
no SNIS uma boa referência para 
as suas atividades regulatórias e 
de fi scalização; os governos fe-
deral, estaduais e municipais que 
podem também se apropriar dos 
dados para a formulação de polí-
ticas e programas de governo.
O aperfeiçoamento do SNIS e 
seus diagnósticos, sempre gradu-
al e contínuo, é um dos princípios 
do Sistema. Creio que a melhoria 
mais importante, que se está bus-
cando alcançar na atualização do 
SNIS do ano base 2006, cuja fase 
de coleta dos dados está sendo 
fi nalizada, diz respeito à obten-
ção dos dados desagregados de 
todos os municípios atendidos 
pelos prestadores de serviços 
presentes na amostra. Também 
é fundamental a institucionaliza-
ção do sistema de informações 
nos termos da lei de saneamento 
11.445/2007. Especifi camente, 
em relação à questão das perdas 
de água creio que se deva pro-
mover um processo de discussão 
em todo o país, já citada ante-
riormente, para promover um 
melhor entendimento, a máxima 
padronização e um passo a mais 
nos indicadores de nível inter-
mediário e talvez avançado.
A expansão desordenada das
cidades e a existência de gran-
des áreas de favelas são pro-
blemas para a gestão opera-
cional dos sistemas de abaste-
cimento de água nos grandes 
municípios brasileiros e re-
giões metropolitanas. Como 
isso impacta nas perdas? 
Ernani - O problema impacta 
nas perdas na medida em que o 
prestador de serviços, por fatores 
sobre os quais não tem controle, 
deixa de aplicar as melhores téc-
nicas de controle operacional 
nestas áreas, contribuindo para 
o aumento das perdas.
A solução seria trabalhar de for-
ma integrada e articulada todas 
as atividades que compõem a 
gestão dos serviços, quais se-
jam o planejamento, a regula-
ção e fi scalização, a prestação 
dos serviços e o controle social. 
Destaco como fundamental a 
importância dos planos para 
contribuir no equacionamento 
deste problema. Cabe também 
chamar a atenção para o risco 
dos prestadores de serviços se 
acomodarem ou até mesmo fa-
zerem uso desta situação para 
justifi car perdas elevadas, acima 
das aceitáveis. Portanto, trata-se 
de uma situação real, que acon-
tece em muitas cidades brasilei-
ras, que deve ser considerada na 
avaliação das perdas, mas que 
deve ser tratada com técnicas 
e metodologias que permitam 
um controle operacional mínimo 
aceitável.A impressão que dá é que todo 
mundo sabe o que fazer para 
combater as perdas, tanto re-
ais quanto aparentes. Mas todo 
mundo faz bem feito (como)? 
Persegue-se efetivamente o 
resultado de longo prazo, ou 
seja, combatem-se as causas 
primárias das perdas, identi-
fi cadas após um diagnóstico 
criterioso? Em que medida há 
um exagerado nível de enxu-
gar gelo no combate às perdas 
no Brasil? 
Ernani - Talvez esta devesse ser a 
primeira pergunta. Do ponto de 
vista técnico e tecnológico, os 
prestadores de serviços sabem 
o que fazer. Há casos em que 
são necessárias algumas atua-
lizações e avanços, mas que se 
conseguem com facilidade neste 
campo. A raiz do problema, como 
já citei antes, está na gestão inte-
grada dos serviços. É preciso que 
o prestador de serviços avan-
ce na gestão, em muitos casos 
precisa mesmo aprender a fazer 
a gestão, que torne o gerencia-
mento das perdas uma atividade 
de rotina, sustentável, e não uma 
ação esporádica, que se faz de 
vez em quando, em campanhas 
ou programas específi cos. 
O problema não é somente de 
engenharia, mas também de re-
cursos humanos, de comunica-
20
Saneas Setembro/Outubro de 2007
ção, de contabilidade, de contro-
les fi nanceiros, de planejamento, 
de mobilização social, de educa-
ção e cultura, enfi m de todas as 
áreas e agentes.
Além disso, é também um grave 
problema da economia nacional, 
que a sociedade brasileira não 
sabe a dimensão e por isso não 
consegue perceber a gravidade. 
Só quando tratado desta forma é 
que haverá uma solução defi niti-
va e sustentável.
No Ministério das Cidades há 
projetos de capacitação dos 
técnicos da área de saneamen-
to para a questão das perdas? 
Ernani - Em parceria com o 
Procel/Eletrobrás e a ABES, fi ze-
mos uma extensiva programação 
de capacitação para o gerencia-
mento das perdas de água nos 
anos de 2005 e 2006, com mais de 
30 cursos realizados. Também o 
PNCDA possui uma linha especí-
fi ca para capacitação nesta área, 
que no momento está concen-
trada à capacitação em distância, 
realizada neste ano em parceria 
com o IBAM, com cerca de 500 
técnicos inscritos. Este curso será 
feito também no próximo ano.
O PMSS desenvolve atualmente 
o Projeto Com+Água, em dez 
municípios brasileiros, três ope-
rados por cia. estadual e sete por 
serviços municipais, que aplica 
uma metodologia inovadora no 
gerenciamento integrado das 
perdas, que além de técnicas e 
tecnologias atuais e modernas, 
possui um forte componente 
na área de mobilização social e 
comunicação. Trata-se do desen-
volvimento de uma metodologia 
com enorme capacidade de re-
plicação em sistemas brasileiros. 
A essência do Projeto é exata-
mente a capacitação dos técni-
cos e dirigentes, seja em cursos 
de sala de aula, seja no próprio 
desenvolvimento das atividades 
do Projeto, a chamada capacita-
ção em processo.
Além disso, o Ministério das Ci-
dades criou e está implemen-
tando em parceria com diversos 
ministérios e órgãos do governo 
federal, universidades, entidades 
do setor, instituições da socieda-
de brasileira, prestadores de ser-
viços, Sistema S, etc., a ReCESA -
Rede de Capacitação e Exten-
são Tecnológica em Saneamen-
to Ambiental, a mais inovadora 
experiência em capacitação do 
setor saneamento que reúne a 
inteligência no setor a serviço da 
capacitação de técnicos e profi s-
sionais do setor. Diversos cursos 
já estão em andamento, inclusive 
no tema do gerenciamento das 
perdas de água. Nossa expecta-
tiva é que, com a consolidação da 
ReCESA, a mesma atue na certifi -
cação de profi ssionais em sanea-
mento. Detalhes sobre a ReCESA 
e a extensa grade de cursos po-
dem ser vistos no site do PMSS: 
www.cidades.pmss.gov.br.
Que avanços tecnológicos (ma-
teriais, equipamentos, proces-
sos) já disponíveis você consi-
dera os mais importantes para 
um efi caz combate às perdas? 
Ernani - Creio que do ponto de 
vista dos materiais e equipamen-
tos, o que há de mais importan-
te são aqueles que facilitam e 
imprimem qualidade aos con-
troles operacionais, por meio de 
telemetria, automações, pesqui-
sas de vazamentos, controle de 
pressão com comando automá-
tico, sistemas computacionais 
sofi sticados de mais fácil acesso, 
dentre outros.
É importante destacar, no en-
tanto, que os mais importantes 
avanços dizem respeito aos pro-
cessos, sobretudo em metodo-
logias também de fácil acesso, 
para balanço hídrico, softwares 
de modelagem hidráulica, sis-
temas de informações georrefe-
renciadas, dentre outros. Penso 
também que, com os resultados 
que se vislumbram, o Projeto 
Com+Água representará um 
marco na gestão das perdas de 
água, trazendo para o setor uma 
metodologia de gerenciamento 
integrado fundamental à susten-
tabilidade das ações.
Existe algum instrumento legal 
ou normativo do Ministério das 
Cidades exigindo, solicitando 
ou induzindo a implantação 
de um programa contínuo de 
perdas pelas empresas de sa-
neamento do Brasil, especial-
mente em áreas com défi cits 
de recursos hídricos? Como 
21
“O problema não é 
somente de 
engenharia, mas 
também de 
recursos humanos, 
de comunicação, 
de contabilidade, 
de controles 
financeiros, de 
planejamento, de 
mobilização 
social, de educação 
e cultura, enfim, 
de todas as áreas e 
agentes”
ENTREVISTA
Saneas Setembro/Outubro de 2007
você avalia a Lei 11.445/2007 a 
respeito desse tema? 
Ernani - Como citado anterior-
mente um dos instrumentos é o 
AMD, obrigatório para todos os 
prestadores de serviços que uti-
lizam recursos do Governo fede-
ral para investimentos. Também, 
dentre os critérios para seleção 
de projetos do Saneamento 
para Todos (programa de inves-
timentos com recursos do FGTS), 
alguns deles estabelecem que, 
para patamares elevados de per-
das, não são aceitáveis projetos 
de ampliação da produção de 
água, ou seja, primeiro é preciso 
reduzir perdas para depois au-
mentar o volume de água que se 
retira dos corpos hídricos.
Os manuais dos programas de 
investimentos também estimu-
lam a apresentação de projetos 
de desenvolvimento institucio-
nal e operacional, havendo um 
componente específi co no Pro-
grama Saneamento para Todos 
para ações de redução e controle 
de perdas. O Ministério das Cida-
des possui também o PMSS, um 
Programa de assistência técnica 
voltado para a estruturação da 
gestão e a revitalização de pres-
tadores de serviços, com forte 
atuação em projetos de geren-
ciamento integrado das perdas 
de água.
A lei de saneamento 11.445/2007 
estabelece a obrigatoriedade de 
planos, de instrumentos e de ins-
tância regulatória e de fi scaliza-
ção, bem como o controle social 
dos serviços de saneamento. Tais 
instrumentos são fundamentais 
para a melhoria da gestão, com 
conseqüente impacto positivo 
direto nas perdas de água. A 
lei também estabelece que os 
serviços devem ter assegurada 
a sustentabilidade técnica e eco-
nômico-fi nanceira, situação esta 
somente possível com um bom 
nível de desempenho no geren-
ciamento das perdas.
Há outras linhas de fi nancia-
mento federais para perdas, 
que não as tradicionais da Cai-
xa Econômica Federal?
Ernani - Os programas de inves-
timentos do Governo Federal 
para o setor saneamento estão 
inseridos no PAC - Programa de 
Aceleração do Crescimento, que 
para o setor saneamento prevê 
R$ 40 bilhões de investimentos 
nos próximos 4 anos. 
Os recursos são oriundos do Or-
çamento Geral da União (não 
onerosos) e de fi nanciamento 
com recursos do FGTS (via CAIXA) 
ou do FAT (via BNDES). Em todos 
os componentes do PAC/Sanea-
mento os benefi ciários -gover-
nos de estados e de municípios 
ou prestadores de serviços- po-
dem apresentar projetos para a 
melhoria do gerenciamento das 
perdas de água.
Você poderia citar experiên-
cias bem sucedidas de municí-
pios ou companhias de sanea-
mento no combate às perdas 
no Brasil? 
Ernani - Duas experiências que 
podem ser destacadas são as 
do município de Campinas (da 
empresa municipal Sanasa) e do 
estado de Minas Gerais (da com-
panhia estadual Copasa). 
Alguma questão adicional so-

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