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1 CONGRESSO ONLINE DE INFECTOLOGIA MATERIAL DE APOIO Micoses sistêmicas endêmicas no Brasil 1ª edição Cuiabá – MT 2020 2 Micoses sistêmicas endêmicas no Brasil Congresso Online de Infectologia Liga Acadêmica de Doenças Parasitárias e Zoonoses – UFMT Liga Acadêmica de Infectologia – UFMT 1ª edição Edição Ana Flávia De Souza Guimarães Dalton Cristofer De Campos Guilherme Pinheiro Da Silva Samuel Newton Miguel Carvalho Campos Edição final Isabelle Crystine Flávia Goulart de Pontes Michelle Igarashi Watanabe Vitória Mayumi Takagi Arte Ana Julia Lehmkuhl Contatos, dúvidas ou feedback E-mail: coi.ufmt@gmail.com Instagram: @ladopufmt / @laiufmt Este material de apoio é um compilado de referências sobre a área da infectologia e suas vertentes e foi desenvolvido por alunos ligantes das Ligas Acadêmicas de Doenças Parasitárias e Zoonoses (LADOP) e Infectologia (LAI) da Universidade Federal de Mato Grosso para utilização durante o Congresso Online de Infectologia. Cuiabá – MT 2020 3 AGRADECIMENTOS Bianca Borsatto Galera Cor Jesus Fernanades Fontes Daniela Araujo Fabio Massaru Kuroyanagi Fabricio Lucema de Almeida Márcia Hueb Maria Isabel Nadaf Reinaldo Gaspar da Mota Soraya Rezende Rossi 4 Sumário Introdução ................................................................................................................ 5 Paracoccidioidomicose .......................................................................................... 5 Paracoccidioidomicose – infecção....................................................................... 7 Histoplasmose ..........................................................................................................11 Coccidioidomicose ................................................................................................20 Criptococose ...........................................................................................................24 Exercícios de fixação ..............................................................................................29 Gabarito ...................................................................................................................34 Referências ..............................................................................................................35 5 Micoses sistêmicas endêmicas no Brasil Introdução As micoses sistêmicas são infecções causadas por fungos, que apresentam como característica o dimorfismo térmico, (fungos filamentosos na natureza e leveduriformes no hospedeiro, por influência da temperatura). As infecções que compõem o grupo das micoses sistêmicas são: blastomicose, coccidioidomicose, histoplasmose, criptococose e paracoccidioidomicose. Neste material, serão abordadas as quatro micoses desse grupo, endêmicas no Brasil, sendo elas: a paracoccidioidomicose, causada pelos Paracoccidoides brasiliensis e P. lutzii; a histoplasmose, causada pelo Histoplasma capsulatum; a coccidioidomicose, causada pelos Coccidioides immitis e C. posadasii e a criptococose, causada pelo Cryptococcus neoformans. Todos esses agentes patogênicos podem causar doença em um indivíduo normal, sendo considerados patógenos primários. No entanto, as características imunológicas do hospedeiro, bem como a carga fúngica e tempo de exposição ao patógeno são importantes no caráter de evolução e gravidade da doença. Nessas micoses, a porta de entrada geralmente é a via respiratória, com foco inicialmente pulmonar, podendo ocorrer disseminação para todos os órgãos do indivíduo infectado. Paracoccidioidomicose A pararacoccidioidomicose (PCM) é a micose sistêmica de maior prevalência na América Latina, sendo o Brasil, a Venezuela e Colômbia consideradas zonas endêmicas. Assim como outras micoses sistêmicas, a PCM tem as vias respiratórias como porta de entrada para o organismo humano e o paciente costuma se contaminar pela inalação das hifas durante o trabalho com o solo contaminado, não havendo contágio por transmissão interpessoal. A maioria dos infectados são indivíduos do sexo masculino, com idade entre 40 e 60 anos e atividades ligadas à agricultura, uma vez que este microrganismo costuma estar presente nos solos úmidos e restos de vegetais das áreas rurais. Apesar disso, essa micose tem sido observada em todas as faixas etárias a partir dos dois anos de vida, sendo que, até a puberdade, a incidência dessa doença é igual para ambos os sexos, mas na idade adulta, mais de 80% dos pacientes são do sexo masculino. Este fato também pode ser explicado pela proteção conferida pelo estradiol. Experimentos demonstraram que hormônios como o 17-beta-estradiol podem bloquear a transformação de conídios em leveduras, oferecendo proteção às mulheres das manifestações clínicas da doença. 6 Estima-se que pelo menos 10% da população de zonas endêmicas, como o Brasil, já tenham sido expostos ao fungo, mas a incidência anual dessa doença é de apenas 1 a 3 casos para cada 100.000 habitantes. • Agentes etiológicos o Paracoccidoides brasiliensis e Paracoccidioides lutzii. o Observação: essas espécies de fungo possuem termodimorfismo, ou seja, apresentam-se de forma filamentosa (hifas) no ambiente e assumem forma leveduriforme (unicelular) em temperaturas acima 33ºC, o que contribui para sua adaptação à vida parasitária. Em meio de cultura, as leveduras formam colônias de cor creme com aspecto cerebriforme. Patogênese A patogênese da PCM ainda é pouco conhecida. Alguns estudos relatam que as condições ideais para a vida do fungo estejam situadas próximo a rios e lagos. A infecção humana ocorre pela inalação de conídios - propágulos infectantes que atingem os alvéolos pulmonares e assumem forma de levedura. Infecções por lesões em pele ou mucosa são consideradas excepcionais e comumente autorresolutivas. Por essa razão, as lesões que com frequência surgem nas mucosas oral, retal, intestinal e as lesões cutâneas, devem ser consideradas consequências de uma disseminação hematogênica da infecção iniciada nos pulmões. A mudança de temperatura é considerada um gatilho para o dimorfismo do patógeno. Entre 36 e 37ºC, observa-se uma rápida remodelação nos componentes polissacarídeos da parede celular, transformando os filamentos em leveduras. Acredita-se que isso caracteriza um mecanismo de defesa do parasita, pois evita o desencadeamento de uma resposta inflamatória letal ao patógeno. Em camundongos, a presença do P. brasiliensis no pulmão gera uma alveolite, ou seja, defesa inicialmente neutrofílica e posteriormente substituída por células linfonodonucleares e macrófagos. Acredita-se que o mesmo ocorra no organismo humano, visto que, em pacientes com a forma disseminada, normalmente encontra-se disfunção de células T. Dessa maneira, a reativação de infecções latentes e a maior incidência de formas disseminadas da doença em pacientes portadores de moléstias depressoras da imunidade celular (como linfomas e AIDS/SIDA) corroboram para comprovar o papel fundamental dos linfócitos T no desenvolvimento da PCM. A contagem de linfócitos B costuma estar normal em pacientes com PCM. Observa-se, porém, aumento nos níveis de IgG, IgA e IgE, que provavelmente atuam na opsonização do agente infeccioso com as frações do complemento. A formação de imunocomplexos pode ter correlação com a depressão da imunidade e a gravidade da doença. 7 A PCM pode evoluir de três maneiras, a depender da virulência, da quantidade de inóculos inalados e das defesas do hospedeiro. Dessa forma, pode se manifestar de formaassintomática (paracoccidioidomicose – infecção), de forma sintomática, também chamada de paracoccidioidomicose – doença e a paracoccidioidomicose residual ou crônica. Paracoccidioidomicose – infecção Na maioria dos casos, a alveolite pulmonar bloqueia o crescimento e a disseminação do paracoccos e a infecção involui espontaneamente, resultando em um nódulo fibrótico ou complexo primário pulmonar. Dessa forma, a infecção primária pode ser subclínica ou oligossintomática, com sintomas transitórios e inespecíficos, muitas vezes confundidos com infecções virais. Paracoccidioidomicose – doença Como todo parasita intracelular, o paracoccos apresenta uma forma latente, quando há formação de granulomas ou nódulos fibróticos pulmonares ou extrapulmonares. Após o período de latência, um desequilíbrio na relação entre o parasita e o sistema de defesa do hospedeiro pode romper o equilíbrio, causando a progressão da doença para a forma crônica (adulta), geralmente em indivíduos com mais de 30 anos. O tabagismo, alcoolismo, déficits nutricionais e outros fatores imunossupressores, como a ADIS/SIDA, podem figurar como fatores de risco para o desequilíbrio. Figura 1. Propagação de P. brasiliensis (Pb) e P. lutzii (Pl). Fonte: 2º Consenso Brasileiro em Paracoccidioidomicose. Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 27( núm. esp.): 8 O Paracoccidioides pode disseminar-se por via linfática, hematogênica, canalicular e por contiguidade. A disseminação linfática, através do fluxo retrógrado da linfa (dos hilos pulmonares até a periferia do parênquima pulmonar) pode justificar a imagem radiológica no padrão “asa de borboleta” nos pacientes com a forma crônica da doença. A manifestação de sintomas logo após a infecção primária é menos frequente, mas pode ocorrer em indivíduos jovens (forma jovem), caracterizando a forma aguda da doença, a qual pode ser consequência de uma incompetência dos mecanismos de defesa do indivíduo. Dessa forma, o descontrole da infecção pode ser atribuído à falha nos mecanismos de defesa do hospedeiro, à inoculação de grande quantidade de conídios ou ainda à infecção por uma cepa muito virulenta. Quadro clínico As manifestações clínicas da PMC podem ser muito variadas, uma vez que esta pode comprometer qualquer órgão para o qual se dissemina. Forma jovem Forma clínica de evolução rápida, com ampla disseminação do fungo. A adenopatia, principalmente da cadeia ganglionar do segmento cefálico, pode ser a principal queixa do paciente jovem com a forma aguda ou subaguda da doença. Os linfonodos mais atingidos são os submandibulares e a cadeia cervical Figura 2. Esquema hipotético sobre a patogênese da PCM. Fonte: Fonte: Focaccia, et al. 2015 Figura 3. A = abscessos em regiões frontal e clavicular, resultantes do acometimento osteoarticular; B = criança do sexo feminino apresentando importante acometimento linfático abscedado; C = linfoadenomegalia inguinal; D = acometimento linfático-abdominal com ascite e hepatoesplenomegalia. Fonte: 2º Consenso Brasileiro em Paracoccidioidomicose. Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 27( núm. esp.):e0500001, 2018. 9 anterior e posterior, contudo, os submentonianos, pré e retroauriculares e suboccipital também podem estar comprometidos, embora menos frequentemente. Na evolução, os pacientes podem apresentar supuração, fistulização linfonodal e hepatoesplenomegalia, além de manifestações digestivas, lesões cutâneas (ou de mucosas), envolvimento osteoarticular e, raramente, comprometimento pulmonar. Por vezes, as lesões mucosas são dolorosas, principalmente quando alimentos quentes são ingeridos. Muitos pacientes referem amolecimento dos dentes, confirmado pelo exame físico, que também revela lesões periodontais. Queixas digestivas, tais como dor abdominal, diarreia crônica disabsortiva e vômitos também são bastante frequentes. Febre e perda de peso completam o quadro clínico. A presença de tumoração ou de dor em região óssea requer a identificação de lesões ósseas. Quadro clínico típico da PCM aguda 1. Adenopatia de cadeia cervical anterior e posterior e submandibulares 2. Fístula e supuração linfonodal 3. Hepatoesplenomegalia 4. Lesões cutâneas 5. Manifestações cutâneas e osteoarticulares 6. Queixas digestivas (dor abdominal, diarreia crônica disabsortiva e vômitos) 7. Febre e perda de peso Forma crônica (adulta) É a manifestação mais prevalente da PCM, acometendo principalmente indivíduos do sexo masculino, entre 30 e 60 anos. Na maioria das vezes, a doença instala-se de forma mais lenta, com duração da sintomatologia, por vezes, acima de um ano. Em alguns casos, a instalação é silenciosa e a doença só é descoberta por exame de rotina. O comprometimento pulmonar está presente em 90% dos pacientes. A forma crônica pode ser classificada em: leve, moderada e grave. Os casos graves 10 são definidos quando o paciente apresenta três ou mais dos seguintes critérios: 1. Perda ponderal > 10% do peso 2. Comprometimento pulmonar grave 3. Comprometimento de outros órgãos (ex.: SNC, adrenais, ossos...) 4. Acometimento linfonodal em múltiplas cadeias do tipo tumoral (diâmetro >2cm) ou tipo supurativo 5. Título de anticorpos elevados Os critérios de gravidade acima descritos auxiliam no planejamento da terapêutica do paciente. Além disso, são considerados graves pacientes com instabilidade clínica devido à insuficiência respiratória, disfunção adrenal, síndrome neurológica ou abdome agudo. Há pacientes que apresentam manifestações clínicas agudas/subagudas associadas a outras manifestações usualmente associadas à forma crônica. Esses pacientes costumam ser detentores de grave imunossupressão. Formas residuais (sequelas) As formas residuais, também chamadas sequelares, caracterizam-se pelas manifestações clínicas decorrentes de alterações anatômicas e funcionais causadas pelas cicatrizes que se seguem ao tratamento da PCM. As sequelas são observadas em vários órgãos, com maior incidência em pulmões, pele, laringe, traqueia, glândulas adrenais, mucosa das vias aerodigestivas superiores, sistema nervoso central e sistema linfático, o que explica a diversidade do quadro clínico. Avaliação clínica A presença de linfadenomegalia em várias cadeias linfáticas, de lesões cutâneas, da hepatoesplenomegalia ou de massas abdominais podem ser confirmadas durante o exame físico do paciente com a forma subaguda/aguda. Além disso, o exame clínico pode ainda detectar a presença de icterícia, de ascite e de edema periférico. O envolvimento da suprarrenal e do SNC são raros nesta forma clínica. Pode-se observar alteração na função pulmonar, com achado de padrão obstrutivo. A regressão das lesões não é acompanhada de melhora da função pulmonar. Na forma crônica, a anamnese e o exame físico devem obrigatoriamente incluir a pesquisa de sinais e sintomas relacionados ao envolvimento pulmonar, tegumentar e laríngeo (tosse, dispneia, expectoração mucopurulenta, lesões ulceradas de pele e de mucosa da naso-orofaringe, odinofagia, disfagia e disfonia); linfático (adenomegalia); adrenal (astenia, emagrecimento, hipotensão, escurecimento da pele, dores 11 abdominais); do sistema nervoso central (cefaleia, déficit motor, síndrome convulsiva, alteração de comportamento e/ou nível de consciência); e comprometimento digestivo (diarreia e síndrome de má absorção). Dispneia é a queixa mais frequente e costuma ter caráter progressivo. Aproximadamente 57% dos pacientes podem apresentar tosse algumas vezes acompanhada de expectoração mucosa e raramente há presença de hemoptoico. Os doentes também podem se queixar de dor torácica não referida. Exames laboratoriais ● Hemograma e VHS ● Bioquímica hepática (alanina aminotransferase, fosfatase alcalina) ● Proteínas totais e frações ●Avaliação da função renal e metabólica e eletrólitos ● Raio x de tórax O padrão ouro para o diagnóstico de PCM é o encontro de elementos fúngicos sugestivos de Paracoccidioides spp em exame a fresco de escarro ou outro espécime clínico (raspado de lesão, aspirado de linfonodos) e/ou fragmento de biópsia de órgãos supostamente acometidos. Tratamento ● Formas leves e moderadas: monoterapia com itraconazol 200mg/dia de 9 a 18 meses ou Bactrim: 160+800 mg de 8/8 horas ● Formas graves e disseminadas: monoterapia com anfotericina B de 0,5 a 0,7/mg/kg/dia (no máximo 50mg/dia de 2 a 4 semanas ou até melhora. Histoplasmose A histoplasmose também é conhecida como doença de Darling e figura entre as micoses sistêmicas endêmicas no país. É considerada uma zoonose pela OMS. ● Agente etiológico: Histoplasma capsulatum. O H. capsulatum pode ser encontrado em animais como morcegos, aves, roedores e marsupiais. É um fungo dimórfico, apresentando duas formas: miceliana (hifas e esporos assexuados – conídios) e leveduriforme (esporos assexuados gemulantes). A forma miceliana saprofítica tem no solo seu reservatório. O crescimento do fungo é favorecido por solo com altos níveis de composto nitrogenados e fósforo, ambos presentes em excretas de 12 morcegos e aves, além de temperatura entre 18-28°C, umidade > 60% e pouca luminosidade. Esses fatores tornam locais como minas, poços, ocos de árvore, construções antigas, forros, porões, grutas e cavernas locais propícios para o crescimento e desenvolvimento do fungo, sendo locais de alto risco para infecção. Epidemiologia A histoplasmose apresenta distribuição mundial, é endêmica nas Américas, África, Austrália e partes da Ásia, como China, Índia, Malásia e Tailândia. Além disso, homens e mulheres são igualmente infectados, no entanto, a doença apresenta maior probabilidade de desenvolvimento no primeiro grupo. Fatores de risco O ato de revolver e escavar terra em locais como grutas e cavernas, a varredura e limpeza de galinheiros, construções abandonadas, sótãos e forros e manipulação de fertilizantes orgânicos são atividades de risco. Ademais, bombeiros, espeleólogos e arqueólogos são profissionais mais expostos ao H. capsulatum. Fatores de risco para histoplasmose disseminada Pacientes imunodeprimidos, idade (< 12 anos) e uso de medicação imunossupressora: corticosteroides e inibidor de fator de necrose tumoral-alfa (tumor necrosis factor, TNF-α). Fisiopatologia A infecção ocorre por meio da inalação de conídios. Essas formas são fagocitadas por células mononucleares e convertidas na forma invasiva do fungo, a qual passa a multiplicar-se no interior da célula fogocitária. Nesse processo, ocorre a formação de focos inflamatórios inespecíficos no pulmão, revelando uma resposta imunoinflamatória para a invasão. Todavia, por diversos fatores, o parasito pode se disseminar pelo organismo, por meio das vias linfática e/ou hematogênica, se transportando principalmente para linfonodos mediastinais, baço, fígado e tecidos distantes. A contenção da infecção fica a cargo da imunidade adquirida, sendo mediada por linfócitos T. Esse processo envolve a liberação de Figura 4. Ilustração do processo fisiopatológico do contágio. Fonte: abcdamedicina.com 13 citocinas, em especial IL-12, TNF-α e IFN-γ. A partir da ativação da imunidade adaptativa, a inflamação deixa de ser inespecífica e inicia-se a formação de granulomas, com os mononucleados infectados no centro. Os granulomas podem cursar com necrose caseosa, evoluindo para fibrose e calcificação. A maior parte das pessoas apresenta uma resposta imunológica eficiente, freando a progressão da doença. No entanto, em alguns indivíduos em que a resposta adaptativa não é efetiva ou a carga parasitária é muito elevada, a infecção não é controlada, podendo cronificar ou disseminar-se para outros locais. Por exemplo, em crianças e imunocomprometidos, existe maior tendência à doença disseminada, visto que não ocorre a formação de um granuloma efetivo e isso permite a disseminação das células parasitadas para baço, fígado, linfonodos e medula óssea. Em pacientes tabagistas e pneumopatas crônicos, a histoplasmose pode induzir à doença obstrutiva crônica progressiva, com destruição de parênquima pulmonar, formação de cavitações e fibrose. Formas clínicas Menos de 1% dos pacientes infectados por H. capsulatum desenvolvem doença sintomática. Já a histoplasmose disseminada é definida pela identificação de H. capsulatum em locais extrapulmonares, associada a evidências clínicas, radiológicas e/ou post-mortem. Forma Clínica Características Forma pulmonar assintomática ● Maioria das infecções humanas por H. capsulatum; ● Conversão da reação intradérmica, outrora negativa, em positiva; ● Até 30% dos infectados podem desenvolver nódulos calcificados em pulmões, linfonodos e/ou baço. Histoplasmose pulmonar aguda não grave ● Inalação maciça de conídios de H. capsulatum; ● Crianças expostas pela 1ª vez aos esporos representam o maior grupo nessa forma clínica; ● Sintomas inespecíficos (febre, calafrios, cefaleia, mialgia, inapetência, tosse não produtiva e dor subesternal) após 1-3 semanas de exposição; ● Radiografia de tórax evidencia infiltrado de aspecto micronodular, pneumonia uni ou bilateral; ● Linfonodos hilares e mediastinais aumentados são frequentes; ● 5-10% dos pacientes podem apresentar artrite asséptica 14 ou artralgia associada a eritema multiforme ou nodoso. As formas dermatológicas são mais comuns em mulheres jovens; ● A maioria dos casos recupera-se sem tratamento específico em 1-3 semanas; ● A cicatrização das lesões deixa pequenos nódulos calcificados nos campos pulmonares. Histoplasmose pulmonar aguda grave ● Inalação maciça de conídios de H. capsulatum e/ou longos períodos de exposição e/ou deficiência imunológica; ● Infecção pulmonar progride com febre, tosse, dispneia importante, broncoespasmo frequente e dor torácica; ● Radiografia evidencia infiltrado reticulonodular bilateral difuso; ● Pode ocorrer síndrome de desconforto respiratório do adulto nos primeiros dias de doença; ● A cicatrização das lesões deixa pequenos nódulos calcificados nos campos pulmonares. Histoplasmose cavitária pulmonar crônica ● Forma lenta e progressiva, predileção por tabagistas com mais de 50 anos; ● Geralmente encontrada em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) prévia; ● Manifestações clínicas: tosse seca ou produtiva, podendo ocorrer hemoptise, dispneia progressiva, inapetência, febre moderada, sudorese noturna, astenia e emagrecimento; ● Radiografia evidencia lesão intersticial densa localizada em terço superior de um dos pulmões, normalmente o direito. Em alguns, associada a outras lesões disseminadas nos pulmões; ● Cavitações em lobos superiores são observadas na maioria dos pacientes; ● Espessamento da pleura adjacente é comum, mas efusão pleural é rara; ● A lesão pulmonar aumenta com o tempo, podendo evoluir bilateralmente e cursar com insuficiência respiratória, levando o paciente ao óbito. Algumas 15 complicações: infecções bacterianas e pneumotórax; ● Faz-se necessário diagnóstico diferencial com tuberculose; ● Nódulos calcificados podem ser identificados no mediastino. Pode ocorrer compressão de traqueia, brônquios e esôfago, com sintomas relacionados à estrutura. Os nódulos podem drenar para tecidos adjacentes; ● A fibrose mediastinal ou mediastinite fibrose é rara, mas quando ocorre, geralmente é letal; ● Pode ocorrer pericardite, embora seja um evento raro. Histoplasmose disseminada aguda ● Forma mais grave da doença; ● Acomete principalmente imunossuprimidos e crianças menores de 12 anos; ● Evolui para o óbito em semanas/meses,se não tratada; ● Manifesta-se com tosse, dispneia importante, febre elevada, adinamia, emagrecimento, linfadenomegalia, hepatoesplenomegalia, pancitopenia; ● Lesões cutâneas são comuns e múltiplas, principalmente em imunodeprimidos (HIV/AIDS). As lesões são polimórficas, formam pápulas, nódulos eritematosos ou vegetativos e úlcera e acometem principalmente face, tronco e membros superiores; ● Lesões em mucosa oral e tubo digestivo são comuns; ● Radiografia evidencia infiltrado difuso, micronodular ou reticulonodular; ● Pode apresentar-se como síndrome séptica, hipotensão, coagulação intravascular generalizada, insuficiência renal e desconforto respiratório agudo. Histoplasmose disseminada subaguda ● Lesões e processo inflamatório menos agressivos e com evolução mais lenta; ● Febre e hepatoesplenomegalia estão presentes; ● Lesões intestinais são frequentes, principalmente em região ileocecal, favorecendo quadros de dor abdominal, diarreia e complicações, como perfuração ou suboclusão intestinal e sangramentos. 16 Histoplasmose disseminada crônica ● Lesões geralmente limitadas à mucosa da boca, lábios e laringe; ● As lesões cutâneas são polimórficas, podem apresentar- se em pápulas, nódulos eritematosos ou vegetativos e úlceras; ● Os pacientes geralmente são adultos, não imunossuprimidos; ● Não há comprometimento do estado geral, e o curso da doença pode estender-se por meses ou anos. Histoplasmose como doença oportunista em AIDS ● Ocorre em pacientes com contagem de linfócitos TCD4+ abaixo de 150 células/mL, e a doença tende a se agravar como o aumento da imunodepressão; ● A frequência é de 2-8% dos pacientes com AIDS em região endêmica; ● Os sintomas da forma disseminada com AIDS: febre, fadiga, emagrecimento, sintomas respiratórios, dor torácica e dispneia; ● A síndrome de choque séptico é rara e manifestações no SNC, gastrointestinal e cutâneas acometem pequena parcela dos casos; ● É frequente a associação da histoplasmose com outras doenças oportunistas em um paciente com AIDS, como tuberculose, candidíase, pneumocistose e toxoplasmose. Diagnóstico diferencial Forma aguda Forma crônica Paracoccidiodomicose Paracoccidiodomicose Pneumonia por Mycoplasma Tuberculose Pneumonia por Clamydia Micobacterioses atípicas Pneumonia por Legionella Esporotricose Sarcoidose 17 Diagnóstico Exames laboratoriais Análise de secreção pulmonar, pus e crosta de lesão cutânea, aspirado de medula óssea ou ganglionar, sangue, outros líquidos e tecidos. Alterações laboratoriais inespecíficas ocorrem particularmente na histoplasmose disseminada aguda, destacando-se anemia, leucopenia e/ou plaquetopenia. São frequentes as elevações discretas de enzimas hepatocitárias e canaliculares e da desidrogenase láctica. Exame direto da amostra: exame microscópico p/ diagnóstico presuntivo. Corante de Leishman, May-Grunwald-Giemsa ou Wright. O resultado positivo é dado pela presença de pequenas células leveduriformes, redondas ou ovais, de cor arroxeada, em gemulação única, circundadas por fino halo incolor correspondente à parede celular fúngica. Histopatológico: coloração de hematoxilina-eosina. Observam-se células leveduriformes em brotamento único, coradas em cor roxo-azulada e circundadas por halo incolor. Pode-se usar a técnica de Gomori-Grocott em esfregaços de amostras nas quais as células fúngicas coram-se de preto. Acurácia de aproximadamente 80%. Cultura: teste ouro para diagnóstico, no entanto, não oferece diagnóstico rápido. Cultura em meio Figura 6. Histoplasmose pulmonar crônica: infiltrado intersticial, traves fibróticas e retração da metade superior do pulmão direito, além de comprometimento mais discreto no terço médio à esquerda. Fonte: Salomão R, 2017. Figura 5. Histoplasmose pulmonar aguda cicatrizada: pequenos nódulos calcificados dispersos no parênquima pulmonar e em linfonodos hilares. Fonte: Salomão R, 2017. 18 ágar sangue, BHI ou Sabouraud, com cloranfenicol por até seis semanas. Teste imunológicos Esses testes podem ser realizados em amostras de soro, sangue, líquido pleural, lavado broncoalveolar, líquido cefalorraquidiano e urina. Testes sorológicos são positivos em, aproximadamente, dois terços dos casos de histoplasmose. Intradermorreação com histoplasmina: Essa prova tem maior significado no diagnóstico de indivíduos sintomáticos de áreas não endêmicas. Em regiões endêmicas 50-80% da população apresenta intradermorreação positiva. Pesquisa de anticorpos: ELISA tem alta especificidade e sensibilidade na detecção dos antígenos M e H na fase inicial da forma pulmonar aguda da histoplasmose. Pesquisa de antígenos: Os testes para pesquisa de antígeno têm como base a reação de radioimunoensaio e ELISA em distintos formatos. Testes moleculares Feitos em amostras de soro, urina, secreções respiratórias. Embora eficazes no diagnóstico rápido da histoplasmose, as ferramentas de análise molecular ainda são caras e carecem de padronização e validação para uso em laboratórios de rotina diagnóstica. Reação em cadeia da polimerase (PCR): Pesquisa-se o gene Hcp100 (sensibilidade de aproximadamente 90% e especificidade de ~ 99%). Loop mediated isothermal amplification (LAMP): amplificação do gene Hcp100, apresenta alta sensibilidade e especificidade. Apresenta menor custo que a PCR. Figura 7. Células leveduriformes de H. capsulatum, em gemulação única, circundadas por halo incolor, dentro de fagócito de sangue (1000x, Giemsa). Fonte: Focaccia, et al. 2015 Figura 8. Células leveduriformes (blastoconídios) e hifas de cultura de H. capsulatum (400x, Leishman). Fonte: Focaccia, et al. 2015 19 Tratamento O tratamento se dá pelo uso da anfotericina B e substâncias azólicas. A corticoterapia pode ser utilizada em alguns casos: ● Anfotericina B: é a droga de escolha para imunocomprometidos com a forma disseminada ou pulmonar grave. Em gestantes é a droga de escolha devido ao risco de teratogenicidade das drogas azólicas. ● Em formas menos graves, como a crônico-disseminada com lesões localizadas, o Itraconazol é o fármaco de escolha. Fluconazol é o medicamento de segunda linha e o Cetoconazol é pouco utilizado devido à alta toxicidade. Forma clínica Tratamento Pulmonar aguda não grave Sintomas < 4 semanas: observação. Sintomas > 4 semanas: Itraconazol 200 mg 2x/dia por 6-12 semanas. Sintomas reumatológicos: AINES/Corticoides por 2 semanas. Pulmonar aguda grave Anfotericina B (Anfotericina B lipídica 3-5 mg/kg/d ou Anfotericina B desoxicolato 0,7-1 mg/kg/dia) por 1-2 semana. Seguido de Itraconazol 200 mg 2x/dia por 12 semanas. Associar metilprednisona (0,5-1 mg/kg/d por 1-2 semanas). Pulmonar crônica Itraconazol 200 mg 1-2x/dia por 1-2 anos. Em casos graves pode-se associar Anfotericina B. Disseminada aguda/subaguda grave Anfotericina B lipossomal (3,0 mg/kg/d) ou Anfotericina B lipídica (5,0 mg/kg/d) ou Anfotericina B desoxicolato (0,7-1,0 mg/kg/d [crianças 1 mg/kg/dia durante 4-6 sem]) por 1-2 semanas, seguido de Itraconazol 200 mg 1-2x/dia por 12 meses. Em caso de AIDS: profilaxia. Disseminada subaguda não grave ou crônica Itraconazol 200 mg 1-2x/dia por 12 meses. Em caso de AIDS: profilaxia. 20 Tratamento profilático ● A profilaxia para histoplasmose não é rotineira, no entanto, em alguns casos, é realizada para pacientes com comprometimento imunológico residentes em locais que apresentam uma taxa de mais de 10 casos/paciente/ano. ● A droga de escolha é o Itraconazol 200 mg/dia. ● Pacientes em AIDS devem realizar profilaxia enquanto a contagem de linfócitos CD4 estiver menor que 150/µ.Prognóstico A maioria dos pacientes com histoplasmose evoluem para cura, sendo importante o diagnóstico precoce e o tratamento adequado. A letalidade associa-se a casos graves como a meningite (20% de mortalidade). Até 15% dos pacientes podem apresentar recidivas e em alguns casos podem evoluir com sequelas ou incapacidades funcionais a depender da evolução da doença, por exemplo, evolução com doença de Addison por destruição necrótica de ambas suprarrenais. Coccidioidomicose ● Agentes etiológicos: Coccidioides immitis e Coccidioides posadasii (fungos dimórficos e geofílicos). São fungos também dimóficos, porém, apresentam a característica de atração por solos que possuam resíduos de queratina animal, habitando preferencialmente regiões desérticas, de clima semi-árido, com solos alcalinos e vegetação xerófila. Os Coccidioides se mantêm viáveis durante anos e com grande poder infeccioso. Epidemiologia da coccidioidomicose A coccidioidomicose (CDM) é endêmica em regiões específicas das Américas, com aproximadamente 150.000 novas infecções anualmente. No Brasil, o maior número de casos vem da região Nordeste, tendo ligação com a caça de tatus - da espécie Dasypus novemcinctus - já que a sua toca favorece o crescimento de Coccidioides spp. Fatores de Risco ● Residência em ambiente rural de área endêmica; ● Identificação das atividades ocupacionais ligadas à exposição do solo; ● Indivíduos do sexo masculino; 21 ● Migração para áreas endêmicas. Formas de Infecção e o ciclo de vida do fungo. ● A infecção é causada pela inalação de esporos do fungo, principalmente (Figura 8). O fungo tem o homem como hospedeiro final, mas outros animais, como tatu, gato, cães e cavalos também desenvolvem a doença. Alguns casos sugerem a possibilidade de infecção por traumas na derme. ● A fase saprofítica ocorre no ambiente, enquanto a parasitária se dá em hospedeiro específico (Figura 9). Assim, filamentos de micelas crescem no solo e formam artroconídios. Então, são dispersos pelo ar, sendo possível a re-implantação no solo ou inalação por algum hospedeiro. Se inalado, é transformado em esférula no pulmão, essa esférula libera o endósporo, que se desenvolve em esférula novamente no tecido do hospedeiro. Não há transmissão de indivíduo para indivíduo. Manifestações clínicas A CDM pode se manifestar como uma infecção respiratória aguda e autolimitada e progredir de maneira crônica e disseminada. O quadro abaixo exemplifica a classificação da doença de acordo com as manifestações clínicas. Classificação Sinais Clínicos Acometimento dos órgãos Pulmonar primária (maioria dos casos) Aguda Tosse, febre, dispneia, dor torácica e perda de peso. Autolimitada, < 2 Reação alérgica devido à formação de imunocomplexo, exibindo sinais no corpo como erupção macular eritematosa, eritema Figura 10. Fonte: Modificade de Vaz et all., 1998 Figura 9. Fonte: infungicas.blogspot 22 meses Pode ser assintomática ou similar a alguma infecção do trato respiratório superior multiforme e eritema nodoso. (Figura 3, 4 e 5) Pulmonar progressiva (imunossuprimidos) Normalmente Crônica Dois meses ou mais Perda de peso, suores noturnos, fadiga muscular, hemoptise e tosse crônica. Lesões nodulares ou cavitárias, disseminação miliar pulmonar, além de denotar presenças clínicas e radiológicas inespecíficas. Disseminada (Pode acometer ossos, articulações, sistema nervoso central e o aparelho gênito- urinário) Crônica quando não tratada corretamente ou tratada tardiamente. Mais comum em adultos imunossuprimidos – pacientes com AIDS, linfomas ou transplantados. Aparecimento de lesões cutâneas dispostas principalmente pela face, meningite, doença miliar óssea, abcesso dos tecidos moles, doenças de pele e infecção conjunta. Diagnóstico Figura 11. Eritema multiforme Fonte: Deus-filho et al. 2010 Figura 12. Eritema nodoso Fonte: Deus-filho et al. 2010 Figura 13. Eritema maculo-papular Fonte: Deus-filho et al. 2010 23 A CDM não é uma doença de notificação compulsória e ainda existem divergências literárias nas formas de manifestações pulmonares. Por ser uma doença endêmica em populações negligenciadas, falta apoio científico e político no combate a ela. Dessa forma, o quadro a seguir exemplifica os métodos diagnósticos utilizados para a infecção. Método diagnóstico Exemplos Laboratorial ● Cultivo in vitro (padrão ouro): cultura (alto risco de contaminação). ● Exame direto: Observações micromorfológicas dos espécimes por meio de um microscópio óptico (após a cultura). ● Exame histopatológico: identificação do fungo na fase leveduriforme (realizado a partir de tecidos ou líquidos de biópsias de lesão tegumentar). Teste imunológico ● Precipitação em tubo IgM: os anticorpos IgM são os que surgem primeiro, nas formas agudas primárias, esses serão precipitados. ● Reação de fixação do complemento (FC) IgG: surgem tardiamente, nas formas mais progressivas do caso, esses serão fixados na reação. ● Imunodifusão em gel de ágar (IMDF): também faz fixação IgM e IgG, diminui a chances de resultados falso-negativos (o mais utilizado). Identificação Molecular ● PCR: depende de interpretação para revelar se o resultado positivo advém de um microrganismo viável ou de colonização transitória de uma infecção antiga. Avaliação cutânea ● Intradermorreação: utilizam-se os antígenos esferulina e coccidioidina (pode continuar positivo após melhora e pode haver hipersensibilidade ao antígeno). Exames inespecíficos ● Exame radiológico: revela lesões pulmonares, lesões nodulares, adenopatia do hilo, entre outros. Tratamento e Profilaxia Não possui vacina e não se recomenda quimioprofilaxia. São medidas de prevenção e controle a detecção de surtos e disponibilização do 24 tratamento adequado. Para trabalhadores suscetíveis, não existem medidas específicas, porém, umedecer campos de pouso, utilizar máscaras e instalar ar refrigerado nos veículos é recomendado. *Contradições podem ser encontradas em relação aos esquemas terapêuticos. Classificação Tratamento Posologia Pulmonar primária (Aguda) Drogas antifúngicas e cirurgia (para nódulos). 1-Fluconazol é a droga de escolha. 1- 400 mg/dia (3 a 6 semanas, ou até a melhora). Pulmonar progressiva Pulmonar disseminada (inicialmente) Cirúrgico (para nódulos) 1-Anfotericina B (Grave). 2- Fluconazol (moderado, Imunossuprimidos). 1- varia de 0,5mg a 3g (4 e 12 semanas até a dose total). 2-dose varia de 200 mg, 400 mg até 1,2g. Podem ser usados de 6 a 12 meses ou por toda a vida dependendo do caso. Pulmonar disseminada Cirúrgico (para nódulos e osteomielite) 1-Anfotericina B (Grave). 2-Fluconazol (moderado, meníngea, imunossuprimidos). 1- dose varia de 0,5mg a 3g (4-12 sem.). 2- dose varia de 200 mg, 400 mg até 1,2g. Podem ser usados de 6 a 12 meses ou por toda a vida dependendo do caso. Critérios para interromper tratamento: remissão clínica e radiológica, com cicatrização das lesões; negativação ou diminuição dos títulos das provas sorológicas e negativação dos exames micológicos nos pacientes. Criptococose A criptococose é uma micose profunda, cosmopolita, causada por fungos do gênero Cryptococcus. Pelo fato de possuir caráter oportunista, ela se apresenta comumente em pacientes com imunodepressão. Etiologia Duas espécies são importantes na patologia humana, sendo elas a C. neoformans (Fig 1) e a C. gattii. O C. neoformans é a espécie mais comum, inclusive no Brasil, e também está associado à doença em imunossuprimidos, 25sendo o principal agente presente em pacientes com AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). Por sua vez, o C. gattii é limitado às regiões tropical e subtropical e apresenta associação com a doença em imunocompetentes. Entretanto, apesar das diferenças epidemiológicas, as características da doença causada por essas espécies são as mesmas, bem como a sensibilidade à anfotericina B. O ciclo de vida do fungo possui uma fase sexuada e uma assexuada. Na fase sexuada ocorre reprodução após a conjugação de duas cepas compatíveis. Em seguida, como resultado da conjugação há a formação de células leveduriformes, responsáveis pela fase assexuada do ciclo. Essa última forma geralmente é encontrada na doença humana. Epidemiologia A criptococose é mais comum em homens, com cerca de 70% dos casos, e em adultos entre 30 e 60 anos, sendo rara em crianças. O patógeno é encontrado no mundo todo, estando presente em diversos tipos de solos, tecidos, secreções e excreções dos animais e do próprio homem. Pelo fato das fezes de pombos serem ricas em bases nitrogenadas, que atuam como nutriente para o fungo, tais aves são consideradas grandes disseminadoras da doença. Vale lembrar que raramente o pombo se infecta, devido sua temperatura corpórea elevada (42°C), que inibe o crescimento do criptococo. Não há contágio entre humanos, e a doença vem apresentando um aumento de casos pelo aumento de indivíduos imunossuprimidos. A associação à imunossupressão se dá pelo comprometimento da imunidade celular, e a patologia pode se apresentar em pacientes com linfomas, leucemias crônicas, diabetes, lúpus eritematoso sistêmico, sarcoidose, uso de corticoides, transplantes de órgãos e AIDS. Nos pacientes com AIDS, é considerada a terceira ou quarta infecção oportunista, em frequência e mortalidade. Em tais pacientes, 5 a 13% irão apresentar a doença, sendo que, nesses casos de coinfecção, a criptococose é incurável e requer terapêutica supressiva antifúngica. A mortalidade de tal patologia é alta, mesmo com tratamento correto, e, nos casos de cura, é comum a presença de sequelas neurológicas. A criptococose é a causa mais comum de morte entre os fungos que acometem pacientes com AIDS. Patogenia e patologia A infecção humana ocorre por meio da inalação de formas leveduriformes não encapsuladas ou com cápsula pouca espessa que acabam por atingir as vias respiratórias baixas. Sugere-se que a maior parte das infecções sejam subclínicas e a resistência natural humana ao Figura 14. Cryptococcus neoformans (1.100x). Preparação com tinta da China. Fonte: Focaccia, et al. 2015 26 criptococo faz com que o surgimento da infecção seja um importante sinal de imunossupressão. Na patogênese do fungo dois fatores são fundamentais: a virulência do fungo e a resposta imune do hospedeiro, principalmente a celular. Nesse sentido, o principal atributo de virulência do fungo é a cápsula composta por material mucopolissacarídeo (glicuronoxilomanose) que possui propriedades deletérias e antifagocitárias, permitindo a proliferação do fungo. Por outro lado, a produção de enzimas (fosfolipase e proteinase) é responsável por proteger o fungo dos radicais livres sintetizados pelas células efetoras do hospedeiro. Já a resposta imune do hospedeiro preservada é capaz de eliminar ou sequestrar o fungo, que pode permanecer latente no organismo. Alguns estudos demonstraram que a participação de interleucinas como as IL2, IL12, IL18 e interferon-y estão envolvidas na evolução favorável da doença. As células T auxiliares do tipo 1 (Th1) têm participação fundamental na defesa imunológica celular, podendo estar envolvidas no controle da infecção. A participação da imunidade humoral na defesa contra o criptococo é controversa. Outro ponto importante é que a infecção criptocóccica ativa uma resposta inflamatória mínima. Desse modo, as lesões orgânicas estão relacionadas com a duração da doença. Logo, as lesões mais recentes são de aspecto gelatinoso nodular (criptococomas) e as mais antigas, granuloso, e, embora possam ter necrose caseosa, dificilmente se observa cavitações. Os criptococomas ou granulomas se localizam principalmente na substância cinzenta periventricular, nos aquedutos e nos gânglios da base. Quadro clínico As principais formas da doença são a pulmonar e a do sistema nervoso central. Na forma pulmonar, o quadro clínico varia de casos assintomáticos a formas graves de disseminação local, provocando a síndrome do desconforto respiratório do adulto. • Principais sintomas da criptococose pulmonar: febre, tosse, expectoração, dor do tipo pleurítica, dispneia, emagrecimento e mais raramente hemoptise. o A criptococose pulmonar é mais comum em pacientes imunossuprimidos. Já em pacientes imunocompetentes, é possível a apresentação de uma forma pulmonar localizada, geralmente em forma de nódulo pulmonar isolado, com resolução espontânea, sem tratamento. • Principais sintomas da criptococose do SNC: cefaleia, febre, vômitos, alterações visuais, rigidez de nuca e outros sinais de irritação meníngea, podendo durar dias ou semanas. Quando a infecção acomete o encéfalo, outros sintomas podem surgir, como distúrbios visuais, e alterações mentais (confusão, distúrbios de personalidade e memória) com duração de semanas ou meses, e convulsões. 27 o A criptococose do SNC, principalmente meníngea, é a manifestação clínica mais frequente, representando cerca de 70% dos casos. Pode apresentar início brusco ou insidioso. o O grande problema na meningite criptococócica é o aumento da pressão intracraniana (PIC), provavelmente relacionada com o bloqueio na reabsorção liquórica nas vilosidades aracnoides, pela presença do microrganismo, bem como seu polissacarídeo. • Principais sinais e sintomas da criptococose cutânea: apresenta diversas manifestações, desde pápulas, pústulas, abscessos e ulcerações de pele até nódulos e úlceras de mucosas. Entretanto, é importante ressaltar que raramente a doença se limita ao tegumento, sendo sempre necessária a investigação clínica e laboratorial sistêmica. Diagnóstico • Pesquisa do Cryptococcus neoformans a fresco ou após colorações especiais em material orgânico suspeito, como escarro, líquido cefalorraquidiano, sangue, fragmentos de tecidos obtidos por biópsia, lavado broncoalveolar e aspirados da medula óssea, gânglios ou tumorações. o A pesquisa negativa no líquor não exclui o diagnóstico. o O comprometimento frequente do SNC torna obrigatória a punção liquórica em doentes com criptococose. o Achados normalmente presentes no líquor: hipercelularidade com predomínio de leucócitos linfomononucleares, aumento de proteínas e diminuição não acentuada da glicorraquia. • Padrão ouro: cultura, também auxilia no acompanhamento do tratamento. • Recentemente a técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) também começou a ser empregada no diagnóstico dessa doença. • Exames de imagem o Radiografia dos pulmões: pode-se observar desde um nódulo solitário até consolidações ou pneumonia intersticial extensa, e derrame pleural. o Ressonância magnética ou tomografia computadorizada de crânio: achados compatíveis com a normalidade ou alterações inespecíficas, como atrofia cortical, dilatação ventricular, realce difuso na leptomeninge, hidrocefalia, lesão parenquimatosa com efeito de massa, pseudocisto gelatinoso, edema cerebral e a dilatação dos espaços perivasculares geralmente estão associadas a complicações da doença. 28 Tratamento O tratamento da criptococose deve feito observando a apresentação clínica da doença, a presença e o tipo de imunossupressão e as drogas disponíveis. Em pacientes adultos infectados com o vírus HIV, na fase de indução, deve ser empregada anfotericina B deoxicolato(anfBd) (0,7 a 1,0 mg/kg/dia) associada a fluocitosina (100mg/kg/dia)ou anfBd associada ao fluconazol(800 mg/dia) por duas semanas. Na fase de consolidação, deve ser empregado o fluconazol (400 a 800mg/dia) por 8 semanas e na fase de manutenção secundária, o fluconazol (200 mg/dia) por período de tempo igual ou maior que um ano. Em pacientes receptores de órgãos transplantados, a diferença básica no esquema é que a fase de indução deve ser feita com anfotericina B lipossomal (anfBL) (3 a 4 mg/kg/dia) ou anfotericina B em formulação lipídica (ANLC) (5 mg/kg/dia) associada à fluocitosina (100 mg/kg/dia). Em pacientes não infectados com o vírus HIV e não receptores de órgãos transplantados, a fase de indução deve ser feita com anfBd (0,7 a 1,0 mg/kg/dia) associada à fluocitosina (100 mg/kg/dia) por duas semanas, nos casos sem complicação neurológica e por seis semanas, nos casos com complicação neurológica. Na fase de consolidação deverá ser empregado o fluconazol (400 a 800 mg/dia) por oito semanas, e na fase de manutenção secundária o fluconazol (200 mg/dia) por período de tempo de 6 a 12 meses. Na fase de indução, há indicação de coleta de líquor, para exame quimiocitológico, pesquisa e cultura para fungos para avaliar a eficácia do tratamento. Figura 15. Tomografia de crânio (fase contrastada) de paciente com neurocriptococose e AIDS, apresentando lesão nodular na região nucleocapsular à direita, com realce anelar periférico. Fonte: Focaccia, et al. 2015. 29 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 1. Dentre as alterações radiológicas do Rx de tórax, assinale a mais sugestiva de paracoccidioidomicose: a) Espessamento pleural. b) Adenomegalia hilar. c) Imagem do complexo primário. d) Infiltrado em “asa de borboleta”. 2. (USP-RP, 2011) No diagnóstico clinico das infecções fúngicas sistêmicas, como Histoplasmose, criptococose e paracoccidioidomicose, têm importância as exposições prévias a, respectivamente: a) Papagaio , eucalipto, tatu. b) Galinha, cultivo de soja, gambá. c) Roedores, macaco, cana de açúcar. d) Morcego, pombo, cultivo de café. 3. Homem, 42 anos, natural de Pirapora, MG, trabalhador rural, tabagista a 28 anos e etilista a 30 anos. Comparece a consulta queixando-se de tosse produtiva com escarro de cor creme a 3 meses, dispneia e emagrecimento. Há cerca de 3 semanas vem apresentando dificuldade para alimentar-se devido a odinofagia além de perceber alteração na voz. Pesquisa de BAAR negativo. Ao exame clinico apresentava-se emagrecido, foram identificados presença de linfadenomegalias cervicais, lesão ulcerada no palato mole. Exame respiratório com leves crepitações em ambas as bases pulmonares. Rx de tórax apresentou infiltrado difuso com aspecto de asa de borboleta. Considerando o caso é correto afirmar que: a) O acometimento pulmonar e linfonodal sugeram sarcoidose como principal hipótese. b) A principal suspeita é paracoccidioidomicose e deve ser feito raspado da lesão ou aspirado de linfonodo para exame a fresco. c) O mais provável é que seja tuberculose, uma vez que a pesquisa de BAAR possui baixa sensibilidade. d) As principais impressões são de CA de pulmão e boca, ambos associados ao tabagismo. 4. (Adaptada de UFPR – 2011) Paciente masculino de 40 anos é admitido ao hospital por anorexia, emagrecimento, sudorese noturna e febre há 3 semanas. Hepatoesplenomegalia foi observada ao exame físico. Apresentava candidíase oral e o teste anti-HIV (Elisa) foi positivo. Hemograma apresentou 1.200 leucócitos/mm3 , hemoglobina 8,5 g/dl e 80.000 plaquetas/mm3 . Na investigação da pancitopenia, biópsia de medula óssea revelou granulomas com a presença de pequenas leveduras. Considerando os dados apresentados, assinale a alternativa correta. a) Histoplasmose disseminada é o diagnóstico mais provável. Histoplasma capsulatum é um fungo dimórfico, isto é, existe na forma de levedura à 30 temperatura corpórea (37 °C) e como fungo filamentoso à temperatura ambiente (25 a 30 °C). b) A presença de emagrecimento, sudorese noturna e granulomas na medula óssea nesse paciente são característicos, quase um patognômico, de tuberculose disseminada. c) Provavelmente esse paciente apresenta candidíase disseminada, micose sistêmica mais frequente em pacientes com AIDS. d) Os diagnósticos mais prováveis desse caso são linfomas e leucemias. e) Fluconazol, itraconazol e, mais recentemente, caspofungina estão entre os agentes terapêuticos mais indicados nesse caso. 5. Em relação as manifestações clínicas da histoplasmose, marque a alternativa incorreta: a) Forma pulmonar assintomática é a manifestação clínica mais comum, sendo que 1/3 dos pacientes podem evoluir com calcificações pulmonares assintomáticas. b) A histoplasmose pulmonar crônica é comum em indivíduos de meia idade, com quadros pulmonares crônicos prévios. A doença apresenta-se estável não ocorrendo evolução das lesões pulmonares. c) Histoplasmose disseminada aguda é a manifestação clínica mais grave, sendo comum em indivíduos com comprometimento de resposta imunológica Th1 e de produção de citocinas inflamatórias como IFN-γ e TNF-α. d) Na histoplasmose pulmonar crônica a lesão pulmonar, na maioria das vezes, se assemelha a da tuberculose pulmonar, sendo esta o principal diagnóstico diferencial a ser descartado. e) Na histoplasmose pulmonar aguda grave a radiografia de tórax evidência, normalmente, um infiltrado pulmonar reticulo-nodular difuso bilateral. 6. Um homem com cinquenta e cinco anos de idade, procedente do estado do Mato grosso, onde trabalhava como agricultor, relatou dispneia progressiva, iniciada havia cinco meses, associada à tosse pouco produtiva, com escarro amarelado. O paciente relatou tabagismo de 40 maços/ano. A radiografia do tórax mostrou opacidades peri-hilares bilaterais com certa simetria, tipo retículo-nodular, que ocupavam campos pulmonares médios e inferiores, além de uma pequena lesão cavitária em ápice direito. Em análise microscópica de secreção pulmonar identificou-se células leveduriformes circundadas por halo incolor dentro de fagócitos. Qual o diagnóstico mais provável e qual a conduta terapêutica adequada? a) Tuberculose pulmonar. Iniciar rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol. b) Paracoccidioidomicose. Iniciar Itraconazol 200 mg 1x/dia por 1 ano. c) Histoplasmose. Iniciar Itraconazol 200 mg 1x/dia por no mínimo 1 ano. 31 d) Pneumonia por germe típico. Iniciar azitromicina 500 mg VO 1x/dia por 5 dias ou levofloxacino 500 mg VO 1x/dia por 7 dias, podendo estender o tratamento até 10 dias. e) Pneumonia por germe atípico. Iniciar levofloxacino 500 mg VO 1x/dia por 7-10 dias, podendo estender o tratamento até 14 dias. 7. Assinale a alternativa que contemple apenas fatores que tornam a Coccidioidomicose ainda um problema de saúde pública, uma doença limitada cientificamente e com poucas políticas públicas de detecção, tratamento e prevenção. 1. Coccidioidomicose não é endêmica em nenhum Estado do Brasil. 2. Coccidioidomicose é uma doença causada por um agente extremamente mutável e por isso não é possível estudos mais aprofundados no assunto. 3. Coccidioidomicose busca regiões com climas desérticos e semi- árido, no Brasil é endêmica em Estados da região Nordeste, mais comum em homens que trabalham com o solo na região, indivíduos economicamente mais vulneráveis, por esse motivo a falta de atenção. 4. Coccidioidomicose ou Paracoccidioidomicose é uma doença negligenciada por estar ligada a pessoas que vivem em regiões ribeirinhas. 5. Coccidioidomicose é uma doença que atinge povos negligenciados em várias regiões da América do Norte, Central e do Sul. 6. Coccidioidomicose pode ser prevenida com o uso de EPI, no entanto pode ser economicamente inviável para agricultores familiares. a) 1, 2, 3 b) 2, 3, 4 c) 3, 4, 5 d) 3, 5, 6 e) 1, 4, 5 8. A forma do Coccidioides immitis quepossui maior probabilidade de alcançar os brônquios por ter formato denominado de “barril” é: a) Artroconídios. b) Micélio. c) Endósporos. d) Hifas. e) Esférulas. 9. Assinale a alternativa incorreta: a) As lesões cutâneas podem estar presentes nas três fases da coccidioidomicose. b) Perda de peso é um sinal clínico sugestivo de coccidioidomicose c) Anfotericina B pode ser administrada por via intravenosa. 32 d) Uma medida preventiva é o uso de óculos e luvas, o uso da máscara é opcional e um fator de risco é a migração para áreas endêmicas. e) Pessoas diagnosticadas com a coccidioidomicose precisam ficar em isolamento para não contaminar outras pessoas. 10. A criptococose é uma micose sistêmica causada por fungos do gênero Cryptococcus. Possui caráter oportunista, sendo uma importante entidade nosológica em pacientes imunossuprimidos. Acerca de tal patologia, é correto afirmar: a) Acomete principalmente mulheres entre 30 e 60 anos, sendo rara em crianças. b) O ciclo de vida do fungo possui uma fase sexuada e uma assexuada, sendo que o microrganismo na fase sexuada é o responsável pela infecção humana. c) A criptococose cutânea é a mais comum, ocorrendo muitas vezes na ausência de um quadro sistêmico. d) O papel da resposta imune celular é descrito no controle da infecção, enquanto o papel da resposta imune humoral ainda permanece controverso. 11. G.B.H., 35 anos, masculino, se apresenta na Unidade de Pronto Atendimento do Hospital Universitário Júlio Muller apresentando cefaleia, febre e vômitos com início há 2 dias. Apresenta histórico de tabagismo (40 maços-ano) e utilização de drogas endovenosas há 20 anos. Além disso, é HIV+ com diagnóstico há 10 anos, porém nunca fez utilização de terapia antirretroviral (TARV). Trabalha como zelador e possui contato diário com fezes de pombos. No exame físico apresenta sinal de Brudzinski e sinal de Kernig positivos. Foi solicitada avaliação do líquor do paciente. Considerando a principal hipótese diagnóstica, as alterações liquóricas geralmente encontradas são: a) Hipercelularidade com predomínio de neutrófilos, aumento de proteínas e diminuição não acentuada da glicorraquia. b) Hipercelularidade com predomínio de leucócitos linfomononucleares, aumento de proteínas e elevação acentuada da glicorraquia. c) Hipercelularidade com predomínio de leucócitos linfomononucleares, aumento de proteínas e diminuição não acentuada da glicorraquia. d) Hipercelularidade com predomínio de neutrófilos, diminuição de proteínas e diminuição não acentuada da glicorraquia. 12. E.M.C.E, 40 anos, feminino, portadora de lúpus eritematoso sistêmico, em tratamento de nefrite lúpica com altas doses de corticosteroides. Se apresenta no serviço de atendimento com febre, dispneia, tosse, expectoração e dor do tipo pleurítica. Após solicitação dos exames adequados foi diagnosticada portando criptococose pulmonar. Acerca de tal patologia, assinale a alternativa incorreta: 33 a) Duas espécies de Cryptococcus, o C. neoformans e o C. gatti, causam a maioria dos casos de criptococose em humanos. b) A mortalidade da criptococose é alta, mesmo com tratamento correto, porém, a presença de sequelas neurológicas após o tratamento é rara. c) Os principais fatores de virulência do Cryptococcus são a cápsula mucopolissacarídeo e a produção de enzimas, como a fosfolipase e a proteinase. d) A criptococose é a causa mais comum de morte entre os fungos que acometem pacientes com AIDS. 34 GABARITO 1. D. A disseminação linfática, através do fluxo retrogrado da linfa, dos hilos pulmonares até a periferia do parênquima pulmonar, pode justificar a imagem radiológica no padrão “asa de borboleta” nos pacientes com a forma crônica da doença. 2. D. O Histoplasma capsulatum é encontrado em solos ácidos e úmidos ricos em compostos nitrogenados, e particularmente em solos enriquecidos com fezes de aves e morcegos. A criptococose é causada pelo fungo Cryptococcus neoformans ou pelo Cryptococcus gattii, frequentemente encontrados em detritos de pombos. Paracoccidoides brasiliensis e Paracoccidioides lutzii são os fungos causadores da paracoccidioidomicose e costuma estar presente nos solos úmidos e restos de vegetais das áreas rurais. 3. B. A PMC acomete principalmente indivíduos do sexo masculino, entre 30 e 60 anos. A semiologia pulmonar não costuma apresentar achados expressivos e, com frequência, apresenta-se sem alterações. Já a função pulmonar frequentemente revela-se comprometida, o que justifica os poucos achados no exame físico pulmonar, apesar da dispneia. Além do envolvimento pulmonar, a PMC pode causar lesões tegumentares e laríngeas (tosse, dispneia, expectoração mucopurulenta, lesões ulceradas de pele e de mucosa da naso-orofaringe, odinofagia, disfagia e dis- fonia). O padrão ouro para o diagnóstico de PCM é o encontro de elementos fúngicos sugestivos de Paracoccidioides spp em exame a fresco de escarro ou outro espécime clínico (raspado de lesão, aspirado de linfonodos) e/ou fragmento de biópsia de órgãos supostamente acometidos. 4. A. A histoplasmose disseminada acomete principalmente imunossuprimidos e crianças menores de 12 anos. Pode manifestar-se com tosse, dispneia importante, febre elevada, adinamia, emagrecimento, linfadenomegalia, hepatoesplenomegalia e pancitopenia. É frequente a associação da histoplasmose com outras doenças oportunistas em um paciente com AIDS, como tuberculose, candidíase, pneumocistose e toxoplasmose. 5. B. A histoplasmose pulmonar crônica é comum em indivíduos de meia idade com quadros pulmonares crônicos prévios. No entanto, a lesão pulmonar pode aumentar com o tempo, podendo evoluir bilateralmente e cursar com insuficiência respiratória levando o paciente ao óbito. Além disso, facilita complicações como infecções bacterianas e pneumotórax. 6. C. O Histoplasma capsulatum no exame microscópico apresenta-se como células leveduriformes circundadas por halo incolor dentro de fagócitos. O tratamento da forma crônica pulmonar é realizado inicialmente com Itraconazol 200 mg 1x/dia por no mínimo um ano, podendo ser estendido até dois anos. Em casos mais graves pode-se associar Anfotericina B. 7. D. A coccidioidomicose atinge em maior número populações negligenciadas, por isso, ainda é um problema de saúde pública em alguns Estados do Brasil. Além disso, falta interesse no estudo para a formulação de ações eficazes contra o fungo. 8. A. A forma é a dos artroconídios, estruturas que possuem aparência de barril, medindo cerca de 2-4μm por 3-6µm de diâmetro. Por causa do formato e de outros fatores, essa forma do Coccidioides immitis tem uma maior probabilidade de chegar aos brônquios. 9. D. Uma medida preventiva essencial é o uso da máscara, já que a inalação é o modo de contágio. 10. D. A criptococose é mais comum em homens, o que invalida a alternativa A. O fungo na fase assexuada é responsável pela infecção humana, o que invalida a alternativa B. A criptococose do sistema nervoso central, principalmente meníngea, é a manifestação clínica mais frequente, representando cerca de 70% dos casos, 35 além disso, a criptococose cutânea geralmente é acompanhada de um quadro sistêmico, o que invalida a alternativa C. 11. C. Devido à epidemiologia do paciente com contato com pombos, o estado de imunossupressão apresentado e o quadro clínico característico, a hipótese mais provável é a meningite criptocócica. Nesse caso, as alterações liquóricas mais encontradas são hipercelularidade com predomínio de leucócitos linfomononucleares, aumento de proteínas e diminuição não acentuada da glicorraquia. 12. B. A alternativa errada da questão é a B, pois além da mortalidade de tal patologia ser alta, ainda é comum a presença de sequelas neurológicas.As outras alternativas estão corretas e são autoexplicativas. REFERÊNCIAS 2º Consenso Brasileiro em Paracoccidioidomicose. Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 2018. Deus Filho A; Deus ACB ; Meneses AO; Soares AS; Lira ALA. Manifestações cutâneo-mucosas da coccidioidomicose: estudo de trinta casos procedentes dos estados do piauí e maranhão. Anais Brasileiros de Dermatologia, [s.l.], v. 85, n. 1, p. 45-51, fev. 2010. FOCACCIA R, VERONESI R. Veronesi: tratado de infectologia. In: Veronesi: tratado de infectologia. 2005. p. [1649]-[1659]. Salomão R. Infectologia: Bases clínicas e tratamento / Reinaldo Salomão - 1. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. Santos CCB. Coccidioidomicose no Brasil: uma revisão de literatura. 2019. 61 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Ciências Biológicas) – Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Serra Talhada, 2019. Silva GLF. Situação evolutiva da coccidioidomicose no Brasil. 2018. 54 f. Monografia (Graduação em Biomedicina) - Curso de Biomedicina, Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2018. Turissini DA, Gomez OM, Teixeira MM, Mc Ewen JG, Matute DR. Species boundaries in the human pathogen Paracoccidioides, Fungal Genetics and Biology. 2017.
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