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TEORIAS-DA-COMUNICAÇÃO

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1 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 
2 TEORIAS DA COMUNICAÇÃO .................................................................. 3 
3 PRIMEIRA FASE ........................................................................................ 5 
3.1 Teoria Hipodérmica .............................................................................. 5 
3.2 Modelo de Lasswell ............................................................................ 10 
3.3 Teoria da Persuasão .......................................................................... 14 
3.4 O modelo do Agenda-Setting ............................................................. 17 
3.5 Teoria Empírica de Campo (Teoria dos Efeitos Limitados) ................ 20 
3.6 Teoria do Cultivo ou Análise do Cultivo .............................................. 21 
3.7 Teoria Funcionalista ........................................................................... 26 
3.8 Teoria Crítica ...................................................................................... 28 
4 SEGUNDA FASE ...................................................................................... 37 
4.1 Teoria Gatekeeper ............................................................................. 37 
4.2 Newsmaking ....................................................................................... 39 
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA ............................................................... 43 
6 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 44 
 
 
 
 
2 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da 
sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno 
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, 
para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse 
aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No 
espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser 
direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
3 
 
2 TEORIAS DA COMUNICAÇÃO 
 
Fonte: amenteemaravilhosa.com.br 
 
Teorias das comunicações são estudos que utilizam de pesquisas sobre 
efeitos, origens e funcionamento da estrutura de Comunicação Social em seus 
aspectos tecnológicos, sociais, econômicos, políticos e cognitivos. Integram a 
psicologia, filosofia e sociologia, utilizando o tipo de abordagem que dependem do tipo 
de pesquisa. 
Teorias da Comunicação é um convite a apreciação crítica sobre o fenômeno 
da comunicação, tornando-se uma literatura básica para estudiosos da área. Dividido 
em duas partes, a obra apresenta um vasto panorama sobre as variáveis e a evolução 
da pesquisa sobre a comunicação de massa. 
Os critérios e estudos da Comunicação Social tiveram início com a crescente 
popularização das novas tecnologias midiáticas e seu uso durante as experiências 
totalitárias e iniciadas no continente Europeu. Tem por conceito duas fases. Em sua 
primeira fase, concentram suas atenções sobre as mensagens da mídia e seu efeito 
sobre os indivíduos; na segunda, evidenciaram o processo de seleção, produção e 
divulgação das informações através dos meios de comunicação (mídia). 
Uma relação de afinidade e de conflito. Talvez essa seja a melhor fórmula para 
definir a conexão entre a história e a comunicação. A similaridade decorre da 
proximidade e da convergência, tanto na hora de enfrentar seus dilemas quanto na de 
procurar solucioná-los. Ambas convivem com embates internos semelhantes, nem 
sempre bem resolvidos. Burke & Briggs (2002, p.12, apud VICENTE, 2009, p. 15), 
abordando essa afinidade, afirmam que 
 
4 
 
[...] seja qual for o ponto de partida, torna-se necessário que aqueles que se 
preocupam com a história e a comunicação e a cultura – tema que cada dia 
ganha mais adeptos – levem com mais seriedade e atenção a história, e os 
historiadores – seja qual for o tema ou período que estudem – considerem de 
maneira mais cuidadosa em seus estudos a comunicação (incluindo a teoria 
da comunicação). (apud VICENTE, 2009, p. 15) 
Aceitar esse desafio implica, inicialmente, identificar os assuntos mais 
polêmicos envolvidos nessa discussão, na tentativa de compreender seus pontos de 
atrito e apontar possíveis saídas. Numa perspectiva ampla, as divergências perdem 
sentido, resultando, na maioria das ocasiões, em questões alimentadas por 
posicionamentos teóricos e pessoais daqueles que estudam tanto a história quanto a 
comunicação, mas nada que crie obstáculos impossíveis de serem solucionados. Tal 
situação impede, na prática, a identificação das discordâncias reais geradoras dessa 
desconfiança mútua, assim como dificulta a conciliação de interesses e a procura por 
fatores convergentes. 
Os historiadores alimentam a ideia da superficialidade realizada pelos 
comunicólogos nas suas análises. Eles apresentariam os fatos de maneira rápida, 
descontextualizada, sem reflexão ou criticidade. Já os comunicólogos se sentem 
incomodados com a falta de atualização e preocupação dos historiadores com os 
episódios recentes. O passado seria o campo preferencial no qual a história procura 
encontrar seu sentido e fundamentar suas afirmações. Assim, excluindo o presente, a 
história teria pouca utilidade para a comunicação mais voltada para a atualidade. 
De imediato surge uma questão. Trata-se, apenas, de diferenças cronológicas, 
de concepções teóricas ou de desconhecimento mútuo? Responder a essa indagação 
remete à forma como as duas áreas procedem na elaboração dos seus estudos. Para 
isso, servimo-nos de algumas ideias de Bourdieu (1978, apud VICENTE, 2009, p. 16), 
notadamente a que diz respeito ao habitus e à maneira como isso resulta em 
organizações sociais. Para Bourdieu, os atores sociais se encontram inseridos num 
determinado contexto social que, de certa maneira, determina seu comportamento por 
estarem expostos às influências culturais, sociais, econômicas, políticas, artísticas etc. 
O campo social emerge como palco das disputas no qual cada grupo tenta fazer valer 
seus próprios valores. Assim, a ideia de campo social implica a aceitação de 
articulação dos sujeitos na formação de estruturas. Partindo dessas observações e 
aceitando que tanto a história quanto a comunicação coincidem na sua finalidade, ou 
seja, na compreensão e na decodificação da formação da sociabilidade, urge 
 
5 
 
identificar quais são os procedimentos usados na construção de narrativas 
explicativas dos fatos sociais. 
3 PRIMEIRA FASE 
3.1 Teoria Hipodérmica 
 
Fonte: medium.com 
 
O surgimento da Teoria Hipodérmica aconteceu entre a Primeira e a Segunda 
Guerra Mundial, tendo por conhecimento o fato que a mídia lança uma informação 
sobre a sociedade que logo é aceita e propositalmente espalhada pela sociedade de 
massa, que não se comunica entre si, nem cria novas interpretações. Essa teoria em 
meio ao totalitarismo político conseguiu fazer com que o líder, obtivesse sucesso no 
direcionamento das informações e unisse a sociedade em torno de um ideal comum. 
Também conhecida como "Teoria da Bala Mágica", a Teoria Hipodérmica 
estudou o fenômeno da mídia a partir de premissas behavioristas. Seu modelo 
comunicativo é baseado no conceito de "estímulo/resposta": Quando há um estímulo(uma mensagem da mídia), esta adentraria o indivíduo sem encontrar resistências, da 
mesma forma que uma agulha hipodérmica penetra a camada cutânea e se introduz 
sem dificuldades no corpo de uma pessoa. Daí o porquê de esta teoria também ser 
conhecida como "Teoria da Bala Mágica", pois a mensagem da mídia conseguiria o 
mesmo efeito "hipodérmico" de uma bala disparada por uma arma de fogo. 
O conceito de "massa" é fundamental para se compreender a abordagem da 
teoria hipodérmica. Segundo os estudiosos desta corrente, a massa seria um conjunto 
de indivíduos isolados de suas referências sociais, agindo egoisticamente em nome 
 
6 
 
de sua própria satisfação. Uma vez perdido na massa, a única referência que um 
indivíduo possui da realidade são as mensagens dos meios de comunicação. Dessa 
forma, a mensagem não encontra resistências por parte do indivíduo, que as assimila 
e se deixa manipular de forma passiva. 
Talvez, na história das pesquisas estadunidenses sobre a comunicação, não 
exista um período mais obscuro e submerso em equívocos que aquele que 
compreende o que chamamos de teoria hipodérmica, teoria da bala mágica ou, de 
modo menos metafórico, teoria dos efeitos ilimitados. Tachada de ingênua e simplista, 
entretanto, a teoria hipodérmica desenvolve um papel importante na historiografia do 
campo quando nos remetemos à mass communication research (Cf. BERELSON, 
1986; DEFLEUR, 1993; KATZ e LAZARSFELD, 2005; WOLF, 2002, por exemplo; 
apud VARÃO, 2009, p. 1). Aí, aparece muitas vezes como o marco zero, o primeiro 
passo rumo a uma aproximação entre o impacto dos meios de comunicação na 
sociedade de massa e o conhecimento científico – período que se estende desde a 
terceira década até meados da década de 1940 do século XX. 
Nessa história ainda, a teoria hipodérmica se insere na longa tradição dos 
estudos sobre os efeitos dos meios de comunicação, que perpassa teorias como o 
fluxo de dois passos (que, inclusive, “substitui” o modelo hipodérmico), até teorias 
mais recentes (como a hipótese da agenda setting), mesmo com o deslocamento 
efetuado em relação ao tipo de efeito: ora comportamental, ora cognitivo. 
Esse tipo de pesquisa, voltada para os efeitos, vai se revelar mesmo a tônica 
predominante nos estudos de comunicação. Como afirma Katz, 
A pesquisa empírica sobre as comunicações de massa [...] valoriza de fato 
os estudos de efeitos. Certamente, a pesquisa sobre os públicos ou sobre os 
conteúdos partem da retórica da mensagem ou da dimensão do público 
atingido, mas ela desemboca igualmente sobre o problema dos efeitos 
(KATZ, 2000, p. 1 apud VARÃO, 2009, p. 2) 
Contudo, embora a teoria hipodérmica surja como inauguradora dessas 
pesquisas, não pode ser considerada a partir de uma visão que a compreende como 
um movimento isolado, que irrompe sozinho no tempo, sem nos remetermos aos 
cenários que se constituíram antes de seu desenvolvimento, nem tampouco sem 
levarmos em conta a cena contemporânea que se formava no então jovem século XX. 
De fato, sua emergência revela certa continuidade em relação às propostas 
apresentadas anteriormente quando da discussão não científica acerca da imprensa, 
 
7 
 
que se inicia no século XVII e ganha força com a ascensão das ciências sociais ao 
final do século XIX (SOUSA, 2008, apud VARÃO, 2009, p. 2). Além disso, a teoria 
hipodérmica nasce sob os signos de todo um contexto social novo, a sociedade 
tecnológica, que exigia uma melhor compreensão dos fenômenos da comunicação de 
massa, não só a título de investigação científica, mas como forma de controlar de 
maneira mais eficaz a difusão de informações (em especial nos Estados Unidos). 
Nesse sentido, a teoria hipodérmica vem na esteira das reflexões sobre a sociedade 
de massa, na qual os meios de comunicação começavam a ter um papel considerável, 
fato enfatizado por Mauro Wolf ao afirmar que “[...] A principal componente da teoria 
hipodérmica é, de fato, a presença explícita de uma “teoria da sociedade de massa” 
(Wolf, 2002, p.23, apud VARÃO, 2009, p. 2). 
Não por acaso, portanto, se encontram nessas primeiras discussões nomes 
como Alexis de Tocqueville, John Stuart Mill, Karl Marx, Ferdinand Tönnies, Gabriel 
Tarde, Max Weber, e outros, todos eles autores voltados à compreensão das 
características da organização social resultante da economia de produção e da 
crescente industrialização. 
Por outro lado, com o avançar desses estudos, a discussão sobre os meios de 
comunicação (não mais somente a imprensa, mas todos os outros meios que se 
seguiram) na sociedade de massa, começou a ser revestida de pressupostos e 
análises mais próximas do método científico, dando início à conjugação 
ciência/fenômeno comunicacional que passou pela teoria hipodérmica e culminou nas 
pesquisas de Lazarsfeld e Katz sobre a influência pessoal na comunicação de massa, 
em 1955. Tal posição foi resultado, sobretudo, da ascensão da Escola de Chicago, 
nome que designa o mais forte grupo de pesquisas e cientistas sociais surgidos até 
então nos Estados Unidos, cujas diretrizes foram dominantes entre, pelo menos, 1915 
a 1940. A Escola de Chicago influenciou decisivamente as pesquisas em 
comunicação, agregando aos estudos do campo que se formava um cabedal que 
somava: a aproximação entre as ciências sociais e as naturais, que deveriam 
funcionar segundo as mesmas diretrizes metodológicas; a observação do 
comportamento baseada na psicologia behaviorista; o interacionismo simbólico; a 
percepção de que a ciência deveria ter um fim prático. 
A teoria hipodérmica entra em declínio a partir da ascensão das pesquisas de 
Paul Lazarsfeld sobre a influência pessoal no processo de comunicação de massa, 
 
8 
 
para muitos a primeira a dar um estatuto científico ao campo comunicacional. Sua 
história, contada nesta introdução em linhas gerais, contudo, gera hoje uma série de 
dúvidas e causa controvérsias. Não exatamente porque exista uma infinidade de 
versões a seu respeito. Na verdade, as versões sobre a teoria hipodérmica costumam 
ser pouco conflitantes e muito repetitivas, como em DeFleur (1993 apud VARÃO, 
2009, p. 3) e Wolf (2002, apud VARÃO, 2009, p. 3). Para o estadunidense DeFleur, 
que prefere chamar a teoria hipodérmica de teoria da bala mágica, o que a caracteriza 
é a “[...] ideia fundamental [...] que as mensagens da mídia são recebidas de maneira 
uniforme pelos membros da audiência e que respostas imediatas e diretas são 
desencadeadas por tais estímulos” (1993, p. 182, apud VARÃO, 2009, p. 3). 
Wolf corrobora a posição de DeFleur ao afirmar que: “A posição defendida por 
este modelo pode sintetizar-se na afirmação segundo a qual cada elemento do público 
é pessoal e diretamente 'atingido' pela mensagem” (WOLF, 2002, p.22, apud VARÃO, 
2009, p. 3) 
O grande problema da teoria hipodérmica não está, portanto, no choque entre 
versões, mas se coloca na superficialidade com a qual sua especificidade teórica é 
abordada. Há tão poucas fontes e tão mínima informação que hoje, inclusive, há quem 
defenda (CHAFFEE e HOCHHEIMER, 1985; WARTELLA e REEVES, 1985, apud 
VARÃO, 2009, p. 3) que a teoria hipodérmica foi apenas uma invenção de Lazarsfeld 
e Katz, para justificar o fluxo de dois passos, que deveria surgir como uma 
contraposição a “alguma” pesquisa anterior. 
Este artigo procura, portanto, reavaliar a teoria hipodérmica, levando em 
consideração seus antecedentes e suas características, se colocando em meio a duas 
posições: a “pró-hipodérmica” (BINEHAM, 1988, apud VARÃO, 2009, p. 3), segundo 
a qual a teoria hipodérmica foi, realmente, o primeiro momento da pesquisa científica 
em Comunicação (cujo desenrolar foi sinteticamente descrito aqui), e a “anti-
hipodérmica” (Idem, ibidem) que defende que a teoria foi apenas um mito. O que 
advogamos aqui é que apesar da teoria hipodérmica não poder ser entendida stricto 
sensu como uma teoria – mesmo porque nunca foi pensada como tal –,colocá-la 
como uma simples invenção é desconsiderar o que representam as pesquisas que se 
aglutinam no período entre 1920 e 1940. Falamos aqui, desse modo, mais de um 
período hipodérmico, que de uma teoria ou mito. Mas um período histórico relevante 
que precisa ser conhecido mais a fundo e reconsiderado. 
 
9 
 
Teoria hipodérmica aplicada à publicidade 
 
Apesar de ter sido superada, a teoria hipodérmica continua podendo ser 
aplicada em situações contemporâneas, especialmente no que diz respeito ao 
conteúdo que a mídia produz para as crianças. O público infantil tem algumas das 
características necessárias para atender a demanda proposta pela teoria, já que o 
mesmo é vulnerável a qualquer tipo de comunicação que consiga prender sua 
atenção. Isso deve ao fato de que as crianças não têm uma formação crítica e 
intelectual concreta. 
As crianças estão em processo de formação em todas as suas características, 
tanto físicas quanto psicológicas. O crescimento físico e as mudanças da puberdade 
se refletem na sua formação psicológica, influindo na consolidação do caráter, da 
capacidade crítica e do intelecto. Todos esses fatores fazem com que a mensagem 
recebida pela criança (o estímulo) seja assimilada na totalidade de sua informação, 
mesmo que seja uma mensagem fantasiosa ou uma inverdade. O público infantil 
acaba constituindo-se, portanto, como a porta de entrada para a publicidade nas 
famílias, uma vez que os adultos não são facilmente manipuláveis através de uma 
propaganda, mas dificilmente não atendem os desejos dos filhos, que são 
bombardeados e persuadidos, o tempo inteiro, por mensagens publicitárias. 
O fato de essas mensagens conseguirem afetar diretamente o público infantil 
chama a atenção tanto de publicitários quanto de órgãos sociais. Estes últimos tentam 
organizar, classificar e regulamentar as propagandas para que não sejam abusivas, e 
não violem os direitos do cidadão e nem se aproveitem da ingenuidade infantil. O 
principal órgão regulador desse tipo de publicidade é o CONAR – Conselho Nacional 
de Auto-regulamentação Publicitária, responsável não somente, pela publicidade 
infantil, mas sim por todo tipo de publicidade veiculada no Brasil. 
O CONAR não é uma ferramenta de censura e sim de regulamentação, pois 
ele não impede a veiculação de uma peça antes que esta seja posta no ar, mas 
simplesmente envia uma liminar ao veículo de comunicação pedindo a sustação da 
peça. Vale ressaltar que o CONAR nunca foi desobedecido. 
Os preceitos éticos básicos seguidos pelo código de auto-regulamentação são: 
todo anúncio deve ser honesto e verdadeiro e respeitar as leis do país; deve ser 
preparado com o devido senso de responsabilidade social, evitando acentuar 
 
10 
 
diferenciações sociais; deve ter presente a responsabilidade da cadeia de produção 
junto ao consumidor; deve respeitar o princípio da leal concorrência; deve respeitar a 
atividade publicitária e não desmerecer a confiança do público nos serviços que a 
publicidade presta. 
Segundo o site do CONAR a análise da campanha é feita da seguinte forma: 
“O Conar atende a denúncias de consumidores, autoridades, dos seus 
associados ou ainda formuladas pela própria diretoria. Feita a denúncia, o 
Conselho de Ética do Conar - o órgão soberano na fiscalização, julgamento 
e deliberação no que se relaciona à obediência e cumprimento do disposto 
no Código - se reúne e a julga, garantindo amplo direito de defesa ao 
acusado. Se a denúncia tiver procedência, o Conar recomenda aos veículos 
de comunicação a suspensão da exibição da peça ou sugere correções à 
propaganda. Pode ainda advertir anunciante e agência. ” (CONAR, 2010, 
apud VIEIRA, 2013, p. 3) 
O CONAR é mantido por meio de contribuições dos principais órgãos de 
publicidade do país. Todos os seus integrantes trabalham em regime voluntário. 
Desde 1980, ano de sua fundação, o CONAR vem obtendo sucesso no que se propôs, 
que é evitar o engano ou abuso do consumidor, causando constrangimentos. O órgão 
é um exemplo da organização de uma categoria de trabalhadores e fruto da luta pelos 
direitos. 
3.2 Modelo de Lasswell 
 
Fonte: app.emaze.com 
 
11 
 
Não é de estranhar, com base nas preocupações políticas dos primeiros 
estudos de mídia, que um dos principais teóricos da comunicação tenha sido um dos 
cientistas políticos mais importantes da primeira metade do século nos Estados 
Unidos. Um dos primeiros modelos para o estudo da comunicação foi proposto por 
Harold D. Lasswell em 1948. Seu texto “ A estrutura e a função da comunicação da 
sociedade” se mantem como um dos clássicos da Comunicação. 
Lasswell procurou um modelo teórico, tomando como ponto de partida estudos 
sobre mídia e política. Ele foi um dos primeiros a se interessar pelos potenciais da 
comunicação na criação e/ou mudança de atitudes e opinião, percebendo que o 
estudo da política passava pela mídia, e elementos da comunicação ganharam mais 
e mais espaço em seus estudos. 
 
A estrutura e a função da comunicação na sociedade 
 
A análise de Lasswell sobre a comunicação política o levou à elaboração de 
um modelo teórico geral da Comunicação, exposto em um artigo de 1948. O modelo 
procura dar conta de uma articulação linear entre vários elementos de uma interação. 
Lasswell desenvolve sua concepção a partir de uma ampliação do modelo de 
comunicação de Aristóteles (Emissor – Mensagem – Receptor) exposto na Arte 
retórica. 
A partir daí Lasswell formula uma hipótese: “Uma maneira de estudar o 
processo de comunicação é perguntar ‘Quem’; ‘Diz o quê’; ‘Em que canal’; ‘Para 
quem’; ‘Com que efeito’. Lasswell desmonta a comunicação em partes simples, 
relacionando o estudo de cada uma delas com uma proposta especifica de 
comunicação: ao “quem” corresponde um estudo de produção; “diz o que”, volta-se 
para a análise de conteúdos, “em que canal”, focaliza o estudo na mídia; “para quem”, 
pesquisa a audiência e “com que efeito” o que acontece com a audiência diante da 
mensagem. 
 
O modelo de Lasswell 
 
Quem → 
Diz 
quê → 
Em que 
canal → Para quem → 
Com que 
efeito 
 
 
12 
 
Focos de estudo e tipos de análise: 
 
Emissor 
Estudo 
de 
produção 
→ 
Mensagem 
Análise de 
conteúdo 
→ 
Meio 
Análise 
de 
média 
→ 
Receptor 
Estudos 
de 
audiência 
→ 
Efeitos 
Estudos 
de 
efeitos 
 
O modelo de Lasswell se tornou a base para uma dezena de outros, seja apesar 
de sua simplicidade ou por conta de sua simplicidade. Alguns parágrafos depois, 
Lasswell especifica as funções da comunicação na sociedade. Ele entende que a 
comunicação tem uma função, isto é, faz alguma coisa com sociedade. O princípio 
geral das funções identificadas por Lasswell é uma concepção da mídia como o 
agente articulador da sociedade. Na prática são três: 
 
a) Articulação das partes com o todo 
A mídia é o canal por onde o conhecimento e as informações circulam pela 
sociedade. A integração entre diversas instituições sociais acontece a partir do fluxo 
de informações gerado e distribuído pelos meios de comunicação. Lasswell usa o 
sistema nervoso do corpo humano como uma metáfora da ação de mídia – os meios 
de comunicação seriam como as linhas de informação do organismo social, levando 
as mensagens de um lugar para outro – e para o controle central – como as células 
nervosas transmitem informações dentro do corpo. 
Em uma empresa, por exemplo, a tarefa de uma newsletter na ótica de Lasswell 
seria garantir a interação entre os diversos setores. Assim, cada um estaria provido 
de informações suficientes a respeito dos outros para agir de maneira integrada e 
garantir o funcionamento do todo. Essa função liga-se diretamente à segunda. 
 
b) Vigilância sobre o meio 
Quando algo está errado no organismo, células mandam as informações para 
o sistema nervoso central, que organiza uma maneira de identificar e solucionar o 
problema. Lasswell entende que a mídia faz algo parecido. Ao transmitirinformações 
das partes para o controle central, os meios de comunicação garantem a vigilância do 
centro sobre os componentes, evitando elementos hostis, assim, como as células 
brancas eliminam corpos estranhos. O pesquisador norte-americano diz que o 
consenso é a base da democracia, e qualquer conflito deve ser resolvido dentro das 
 
13 
 
regras do jogo democrático, sem rupturas ou quebras. A sobrevivência do regime 
democrático é assegurada por uma comunicação política montada para garantir a 
manutenção das ligações entre parte/todo. 
 
c) Transmissão da herança social 
A terceira função da comunicação na sociedade apresenta uma mudança de 
nível. Os meios de comunicação seriam responsáveis por garantir a continuidade do 
sistema a partir da transmissão dos conhecimentos e valores de uma geração para as 
seguintes. A ideia de “herança social” está ligada à transmissão dos significados 
culturais, das práticas e concepções de mundo entre as gerações. 
Um rápido olhar pela cultura de massa norte-americana desvela algumas 
dessas práticas. Há um episódio do Snoopy que focaliza o Dia de Ação de Graças, 
feriado norte-americano que celebra e chegada dos primeiros europeus à América do 
Norte. Esse episódio usa as personagens – Charlie Brown, Linus, Sally, Lucy, Snoopy 
– para representar a história. O heroísmo dos pioneiros europeus nos Estados Unidos 
(índios são brevemente mencionados) é ressaltado o tempo todo. Há episódio 
semelhantes retratando as práticas da Páscoa, do Dia dos Namorados (Valentine’s 
Day) e do Natal. Em todos eles, práticas são apresentadas como comportamentos e 
serem compreendidos e reproduzidos. 
 
Desenvolvimentos posteriores 
O modelo de Lasswell teve o mérito de ser o primeiro dirigido especificamente 
para a comunicação, auxiliando no estabelecimento de um campo autônomo de 
estudos. Os limites e as aplicações do modelo nos anos posteriores contribuíram para 
a consolidação de uma área de estudos especifica, voltada para a compreensão da 
mídia como uma instituição central na sociedade. 
 
14 
 
3.3 Teoria da Persuasão 
 
Fonte: prismagazineblog.wordpress.com 
Desenvolvida a partir da década de 1940, e ainda de caráter psicologista, a 
abordagem empírico-experimental (ou da persuasão) deflagra o abandono da 
perspectiva hipodérmica. De fato, a teoria em questão englobava duas visões: uma 
experimental – motivo pelo qual é eventualmente classificada como psicológico-
experimental – e uma empírica – fundamentada em experiências de pratica de campo 
em relação a grupos (Wolf, 2009, apud MARQUIONI, 2017, p. 32). Em termos básicos, 
essa perspectiva pressupunha que a audiência poderia oferecer alguma resistência à 
mensagem recebida; porém, persuadi-la seria um objetivo alcançável, desde que 
tanto a forma quanto a organização da mensagem fossem compatíveis com os fatores 
pessoais que o destinatário evoca ao interpretar a mensagem. Ainda que mantenha a 
perspectiva de causa e efeito proposta pela teoria hipodérmica, a abordagem 
empírico-experimental a complexifica porque passa a considerar novos elementos no 
contexto comunicacional (faixa etária, sexo, classe social, grau de instrução etc.), até 
então tidos como irrelevantes, tanto para a teoria da bala mágica quanto para o 
modelo de Lasswell. 
A abordagem empírico-experimental considerada, em suma, que a audiência 
poderia não assimilar a mensagem imediatamente, sobretudo porque haveria uma 
variável associada a cada indivíduo; o membro da massa se interessaria inicialmente 
por mensagens: 
 Que fizessem parte de seu contexto 
 
15 
 
 Com as quais ele concordasse. 
A partir dessa perspectiva, as características do destinatário da mensagem 
passam a ser consideradas (promovendo-se a consequente segmentação do público 
em grupos para a condução das pesquisas), além da preocupação em organizar a 
mensagem. Isso, segundo Wolf (2009, p. 35, apud MARQUIONI, 2017, p. 32). 
“não só destrói o imediatismo e a uniformidade dos efeitos como também [...] 
mede a sua amplitude pelo papel desempenhado pelos destinatários”. (apud 
MARQUIONI, 2017, p. 32) 
Convém reiterar que havia, ainda, um evidente aspecto psicológico associado 
(posicionado no modelo proposto entre o estimulo e a resposta). Como mencionado, 
para a teoria hipodérmica, o processo poderia ser assim resumido: 
Causa (estimulo) → efeito (resposta) 
Já para a abordagem empírico-experimental, esse processo tornava-se mais 
complexo, adotando o seguinte formato: 
Causa (estimulo) → (processos psicológicos) → efeito (resposta) 
Consequentemente, haveria variações no entendimento da mensagem, uma 
“oscilação entre a ideia de que é possível obter efeitos relevantes, se as mensagens 
forem adequadamente estruturadas [,] e a certeza de que, frequentemente, os efeitos 
que se procurava obter não foram conseguidos” (Wolf, 2009, p. 34, grifo do original, 
apud MARQUIONI, 2017, p. 33). As avaliações, contudo, poderiam ser equacionadas 
se fossem ponderados: 
 Fatores relativos à audiência, como o interesse em obter a informação, 
a consideração do perfil público exposto ao conteúdo e a forma como o 
público receberia e memorizaria a mensagem; 
 Fatores à mensagem, por exemplo, a credibilidade do comunicador, a 
ordem da argumentação, a integralidade das argumentações e a 
explicação das conclusões. 
Tais fatores contribuíram para a persuasão do público. 
Outra perspectiva teórica, da orientação mais sociológica, floresceu também na 
década de 1940: trata-se de abordagem empírica de campo (ou dos efeitos limitados). 
Profundamente arraigada nas pesquisas realizadas em campo e tendo como base, 
portanto, a observação empírica, prática, das materialidades (dos produtos midiáticos) 
 
16 
 
apresentadas ao público, essa teoria passou a considerar a existência de efeitos 
indiretos associados aos meios: 
[enquanto] a teoria hipodérmica falava da manipulação, e [...] a teoria 
psicológica-experimental tratava de persuasão, esta teoria [dos efeitos 
limitados] fala de influência e não apenas da que é exercida pelos mass 
media, mas da influência mais geral que “perpassa” nas relações 
comunitárias e de que a influência nas comunicações de massa é só uma 
componente, uma parte. (Wolf, 2009, p. 47, grifo do original, apud, 
MARQUIONI, 2017, p. 33) 
A abordagem empírica de campo, desenvolvimento com bases na teoria da 
persuasão, atenua a influência dos meios de comunicação, por considerá-los apenas 
parte das relações comunitárias, que são mais gerais: a igreja, a escola, o ambiente 
político e afins, em conjunto com os meios de comunicação, exerciam influência sobre 
a sociedade. Assim, mesmo que o principal problema abordado ainda fosse o dos 
efeitos dos meios de comunicação, esses outros fatores passaram a receber 
tratamento qualitativamente distinto, uma vez que essa teoria passou a considerar os 
processos de comunicação de massa levando em conta também seu vínculo com o 
contexto social em que eles se realizam. De fato, a abordagem dos efeitos limitados 
possibilita uma revisão mais complexa da teoria hipodérmica. Mas convém observar 
que, às vezes, mesmo para nós, no século XXI, os meios são considerados 
“superpoderosos”, como se as pessoas fossem meros alvos indefesos, impactados 
diretamente pelas mensagens midiáticas – uma visão que, como descrito, remota a 
uma linhagem teórica proposta na década de 1920, mas revista já em 1940. Portanto, 
é necessário ter cautela ao diagnosticar os conteúdos das mídias como responsáveis 
por, pura e simplesmente, modificar a seu bel-prazer o comportamento das pessoas, 
tratando-as como “seres não pensantes”. 
Ao se observar que a teoria dos efeitos limitados já não enfatiza uma eventual 
relação causal direta entre propaganda dirigida às massas e manipulação da opinião 
pública, pois passa a considera-la integrante de um processo de influência indireto, 
no qual as dinâmicas sociais interatuam com os processoscomunicativos, é possível 
traçar uma relação direta com outra teoria, desenvolvida a partir da década de 1960 
e, embora menos intensamente, ainda utilizada 50 anos depois: trata-se da Teoria do 
Agendamento, também conhecida como agenda-setting. 
 
17 
 
3.4 O modelo do Agenda-Setting 
 
Fonte: www.casadosfocas.com.br 
A dimensão dinâmica da comunicação está presente no modelo do Agenda-
Setting, criado para explicar as relações entre o micronível da comunicação de massa 
e sua relação com o micronível das relações sociais. Desenvolvido nos anos 1960, 
nos Estados Unidos, o Agenda-Setting passou a ter ampla divulgação no Brasil devido 
ao trabalho clássico de Clóvis de Barros Filho, Ética na comunicação, publicado em 
1995. Os primeiros estudos sobre o tema foram desenvolvidos por Marwell McCombs 
e Donald Shaw, da Universidade de Austin, no Texas, interessados em colocar em 
evidência um efeito a longo prazo dos meios de comunicação, a capacidade de definir 
os temas de conversas. 
A ideia do Agencia-Setting, “definição da agenda”, diz que os meios de 
comunicação determinam os assuntos discutidos pelas pessoas. O conceito de 
“agenda” refere-se a um grupo definido de temas discutidos em lugar e tempo 
específicos. Assim, a “agenda da mídia” são os temas presentes nos meios de 
comunicação; “agenda pública” são temas e assuntos presentes nas conversas entre 
pessoas. O modelo do Agenda-Setting prevê que os temas da agenda da mídia 
definem a agenda pública, isto é, passarão a ser discutidos pelas pessoas uma vez 
pautados pela mídia. Dessa maneira, se a mídia falar dos temas A, B e C, há uma 
tendência do público a tratar igualmente desses temas em suas conversas. 
 
18 
 
A seleção dos assuntos tratados pelos indivíduos em suas relações sociais está 
vinculada a inúmeros critérios e variáveis. A cada dia é possível verificar sobre quais 
assuntos falamos, e esses assuntos formam a nossa “agenda pessoal” de temas 
discutidos. Quando se presta atenção a esse conjunto de temas, é possível notar que 
a presença de assuntos vinculados à família ou ao trabalho tende a ser maior, em 
termos individuais, do que qualquer assunto da mídia. No entanto, o modelo de 
Agenda-Setting prevê que no meio dessa agenda temática pessoal é possível 
encontrar assuntos que estão pautados pela mídia. Os temas da mídia ganham 
importância em sua divulgação horizontal: não são as principais preocupações de 
ninguém, mas estão nas preocupações de praticamente todo mundo. 
Os temas presentes na agenda pessoal, bem como na agenda de mídia, por 
exemplo, o tema das manchetes é mais importante, segundo critérios da mídia, do 
que uma notícia publicada nas páginas finais de um suplemento trimestral em um 
obscuro jornal de bairro do interior. Na agenda pessoal preocupações imediatas 
ocupam um espaço maior e mais elaborado do que outros. Os temas de mídia, 
presentes na agenda de temas de grande parte do público, adquirem uma visibilidade 
social que nenhum tema da agenda particular deve ter. afinal, é esperado que poucas 
pessoas estejam interessadas em pautar nossa vida particular, enquanto temas da 
mídia são amplamente conhecidos e comentados. 
Os temas da mídia não ocupam os lugares mais importantes da agenda de 
ninguém, mas, como estão presentes nas posições intermediarias de um grupo 
considerável de indivíduos, ganham em força por conta dessa presença numérica. Os 
temas discutidos por um número alto de pessoas torna-se o principal tema da agenda 
pública. 
 
Agenda da 
mídia 
Agenda da 
público 
Tema 1 
Tema 2 
Tema 3 
Tema N... 
→ 
Tema 1 
Tema 2 
Tema 3 
Tema N... 
 
McCOMBS, M. & Shaw, D. “The agenda-setting function of mass communication”. Public Opinion 
Quarterly, 36, 1971, p.176, apud MARTINO, 2014, p. 208. 
 
19 
 
 
Dessa maneira, a ideia do Agend-Setting mostra que os temas pautados pela 
mídia tendem a ser discutidos pela agenda pública. Há uma dinâmica constante nas 
transformações da agenda pública. Essas alterações estão ligadas à velocidade de 
agendamento dos temas nos meios de comunicação, de maneira que os dois sistemas 
– a mídia e o público – se ligam a partir da apropriação, pela agenda pública, dos 
principais temas discutidos pelos meios de comunicação. 
Um dos principais estudos de McCombs e Shaw foi conduzido em 1972. Eles 
mediram a influência de um programa de televisão na definição dos temas discutidos 
pelos indivíduos. Os pesquisadores tomaram como ponto central a exibição de The 
day after, sobre as consequências de uma guerra nuclear, estudando a audiência 
antes e depois do filme. Antes do filme, o tema “guerra nuclear” ocupava uma discreta 
13ª posição nas preocupações do conjunto de sociedade. No dia seguinte a exibição, 
o tema pulou para o primeiro lugar: em uma noite, a guerra atômica passou a ser a 
principal preocupação da população da cidade. Dessa maneira McCombs e Shaw 
mostraram a existência de um vínculo entre os assuntos trabalhados nos meios de 
comunicação e a definição da agenda pública. 
 
McCOMBS, M. & Shaw, D. “The agenda-setting function of mass communication”. Public Opinion 
Quarterly, 36, 1971, p.176, apud MARTINO, 2014, p. 209. 
 
McCombs continuou trabalhando o tema nos anos subsequentes, e sua 
pesquisa passou a ser testada e avaliada em outras situações especificas. O valor da 
ficção em relação ao uso de notícias, por exemplo, bem como a possibilidade de 
influência mais ou menos direta da mídia na definição das percepções de mundo dos 
indivíduos foram estudados em livros e artigos subsequentes. 
 
20 
 
A especificação teórica dessa hipótese é sedutora por conta de sua aparente 
comprovação de uma intuição sempre presente nos estudos; a comprovação empírica 
tende a apresentar mais dificuldades. Essas dificuldades provêm geralmente dos 
problemas em especificar diretamente uma relação de causa e efeito entre a presença 
de um tema na mídia e sua relação nas conversas. 
3.5 Teoria Empírica de Campo (Teoria dos Efeitos Limitados) 
A Teoria dos Efeitos Limitados segue uma orientação sociológica, constatando 
que o poder de persuasão da mídia possui limites, ou seja, ela não manipula mais 
exerce forte influência, assim como outras instituições, como igreja, família, partido 
político, etc. Também conhecida como abordagem empírica de campo, essa teoria 
afirma que o alcance das mensagens da mídia age de forma indireta sobre o público, 
que depende do contexto social em que estão inseridos, ficando sujeitas aos 
processos de comunicação que se encontram presentes na vida social. Sendo assim 
as mensagens midiáticas seriam filtradas muito mais por uma orientação social, 
conclui-se então que a palavra chave desta teoria é influência. 
Há ainda outros aspectos desta teoria que têm sido, por vezes, interpretados 
redutivamente, como se tratasse de pesquisas voltadas unicamente para o 
problema dos efeitos, enquanto os trabalhos mais significativos, neste âmbito, 
estudam na realidade fenómenos sociais mais amplos como, por exemplo, a 
dinâmica dos processos de formação das atitudes políticas. (WOLF, 2003 
p.40) 
Duas correntes são determinantes para explicação sociológica desta teoria. A 
primeira faz referência ao estudo da composição dos diferentes tipos de público, assim 
como seus modelos de consumo, a segunda por sua vez faz referências a pesquisas 
a respeito da mediação social que caracteriza determinado consumo, ou seja, do 
objeto social no qual o consumidor está inserido. 
Para explicar melhor essas duas abordagens, a teoria faz estudo da atração 
dos programas perante ao telespectador, analisando o conteúdo da veiculação, a 
característica dos ouvintes, as gratificações e também contextualiza o ambiente social 
e os efeitos de comunicação de massa. 
 
“O coração desta teoria da mídia, ligada a pesquisa sociológica de campo, 
consiste no fato de unir os processos de comunicação de massa às 
 
21 
 
características do contextosocial em que eles se realizam”. (WOLF, 2003 
p.33) 
3.6 Teoria do Cultivo ou Análise do Cultivo 
 
Fonte: www.capparelli.com.br 
A hipótese do Cultivo Mediático, também conhecida como Teoria do Cultivo, 
Teoria da Cultivação ou Teoria do Efeito Cultivado, foi desenvolvida pelo pesquisador 
norte-americano George Gerbner a partir de um projeto de pesquisa denominado 
Cultural Indicators, em 1967. Na ocasião, o projeto buscava compreender as 
consequências do crescimento dos indivíduos num ambiente cultural centrado na 
televisão, através da análise das notícias e dos conteúdos violentos veiculados pelo 
meio. Mais tarde, o projeto se expandiu e passou a investigar os efeitos de qualquer 
conteúdo televisivo. De maneira preliminar, pode-se afirmar que essa hipótese 
considera que “cultivo é um contínuo e dinâmico processo de interação entre 
mensagens, audiências e contextos” (GERBNER et al, 2002, p. 49, apud CARDOSO 
FILHO, 2009, p. 3). É possível identificar o corpus teórico do qual deriva a hipótese do 
Cultivo Mediático como a teoria de efeitos de socialização. Defleur e Ball-Rokeach 
explicam que: 
Segundo uma perspectiva individual, a socialização equipa-nos para 
comunicar, pensar e resolver problemas utilizando técnicas aceitáveis pela 
sociedade, e, de maneira geral, para conseguirmos nossas adaptações 
singulares a nosso ambiente pessoal. Do ponto de vista da sociedade, a 
socialização leva seus membros a um conformismo suficiente, de modo a 
poderem ser preservadas a ordem social, a previsibilidade e a continuidade 
(DEFLEUR & BALL-ROKEACH, 1993, p. 226, apud CARDOSO FILHO, 2009, 
p. 3) 
 
22 
 
Essa derivação implica que a hipótese do Cultivo Mediático sofre dos mesmos 
problemas que abalaram a maioria das perspectivas de investigação no âmbito da 
socialização: desenvolver meios de comprovar suas teses levando em consideração 
tanto essas adaptações pelas quais os indivíduos passam quanto o aspecto contínuo 
e previsível dos padrões sociais. Enquanto não se resolve esse impasse, a hipótese 
do Cultivo Mediático continua uma mera hipótese. 
O termo cultivo é empregado, normalmente, para se referir aos cuidados com 
plantações – cultivo de hortaliças – ou terrenos, mas também está intimamente 
relacionado ao termo cultura. Na realidade, ambos são sinônimos – sendo possível se 
referir à cultura de hortaliças – o que permite aproximar a hipótese do Cultivo 
Mediático a uma espécie de hipótese da Cultura Mediática. Estabelecer a relação 
entre esses termos é importante porque no período em que a hipótese se 
desenvolveu, final da década de 60, a TV representava com força visão predominante 
do mundo através da sua capacidade de enculturação. Esse conceito, formulado pela 
antropologia, se refere ao processo de assimilação de valores, linguagem e 
julgamentos que permitem aos indivíduos a socialização. 
Quando Gerbner afirma que a TV cultiva determinados efeitos nos 
espectadores, o autor está chamando atenção para o processo dinâmico e contínuo 
característico de todas as práticas de enculturação. Ele procura demonstrar que sua 
hipótese está preocupada com os efeitos a longo prazo e não com os efeitos imediatos 
dos media, o que distingue essa construção teórica das perspectivas que pensam a 
ação dos meios como causadores de efeitos diretos para uma outra que os entende 
como alteradores da estrutura cognitiva e de socialização das pessoas. Esse processo 
de cultivo, no qual os indivíduos estão inseridos, tem como principal ator a televisão – 
responsável pela maior parte dos referenciais partilhados pela sociedade 
contemporânea. 
Partindo da ideia de uma sociedade centrada nos media, Gerbner afirma que, 
ao contrário de outros meios de comunicação de massa, como o rádio e o cinema, a 
televisão não perdeu sua força, uma vez que é ela quem fornece grande parte das 
informações sobre os assuntos que os indivíduos não experimentarão pessoalmente, 
“a TV é um sistema centralizado de narrativas. Seus dramas, comerciais, notícias e 
outros programas levam um sistema relativamente coerente de mensagens para o 
interior de cada casa” (GERBNER et al, 2002, p. 44, apud CARDOSO FILHO, 2009, 
 
23 
 
p. 4). Essas informações veiculadas pela televisão são usadas como atalhos para a 
construção dos juízos relativos às mais diversas situações, o que reafirma a ideia da 
TV como um dos agentes privilegiados do processo de cultivo. 
A formulação básica da hipótese do Cultivo Mediático é que os espectadores 
assíduos de TV tendem a perceber a realidade de acordo com o que é veiculado pelo 
meio, não se tratando da noção de “janela para o mundo” – como considerou Walter 
Lippman ao estudar os efeitos dos media, no capítulo de abertura de Public Opinion 
(1922) – mas a noção de um mundo em si mesmo, um ambiente simbólico dominante. 
O pesquisador L. J. Shrum explica que: 
A teoria do cultivo é uma teoria sobre os efeitos da experiência indireta na 
construção da realidade social. Na sua forma mais simples, a teoria do cultivo 
sugere que a experiência indireta adquirida da televisão irá substituir a 
experiência direta como primeiro embasamento para o desenvolvimento das 
crenças sociais. (SHRUM, 2001, p. 188, apud CARDOSO FILHO, 2009, p. 5) 
Essa percepção moldada pelo conteúdo televisivo incide sobre o julgamento do 
espectador assíduo, que tenderá a responder a questões relativas àquele conteúdo 
com uma “resposta de televisão”, mesmo que as estatísticas sobre o assunto, na 
realidade, sejam diferentes. Tal hipótese aponta para um efeito poderoso dos media 
na sociedade e toma como ponto pacífico o fato dos indivíduos não conseguirem 
distinguir entre os conteúdos televisivos e os problemas reais, apostando na confusão 
dos espectadores assíduos no que diz respeito a esses assuntos. 
A crítica estabelecida pelo próprio Shrum, no entanto, complexifica a ideia do 
efeito cultivado. Segundo o autor, os julgamentos estão vinculados aos conteúdos 
televisivos porque estes são mais acessíveis que outros conteúdos, e não porque os 
espectadores já não conseguem diferenciar entre o que é ficção e o que é realidade. 
Seu argumento deriva de um princípio subjacente das pesquisas em cognição social: 
o princípio da suficiência/heurística. “Este princípio estabelece que, quando as 
pessoas constroem julgamento, elas normalmente não utilizam toda a informação 
relevante para o julgamento, mas somente uma pequena porção de informação já 
disponível” (SHRUM, 2002, p. 71, apud CARDOSO FILHO, 2009, p. 6). Desse modo, 
os espectadores assíduos tendem a ter os conteúdos veiculados pela televisão 
disponíveis e mais acessíveis no processo de construção do julgamento, o que seria 
um forte indício de efeito cultivado. 
 
24 
 
Inicialmente formulada para compreender os modos como a exposição 
frequente aos conteúdos de violência mediática influenciava a opinião dos indivíduos 
sobre a possibilidade de serem vítimas de crime, a hipótese do Cultivo Mediático 
ganhou elasticidade e passou a ser empregada para avaliar a influência exercida pela 
TV sobre expectativas de casamento e de amor, sobre estatísticas de desigualdade 
social ou mesmo sobre políticas públicas. Enquanto alguns autores insistem na ideia 
de que cada gênero mediático vai cultivar respostas específicas nos espectadores 
assíduos e que, portanto, é preciso distinguir entre os diferentes conteúdos televisivos 
- “a exposição à ficção televisiva irá contribuir para percepções diferentes das que 
seriam produzidas pela exposição aos esportes televisionados ou notícias televisivas” 
(GANDY JR & BARON, 1998, p. 512, apud CARDOSO FILHO, 2009, p. 3) -, outros 
pesquisadores afirmam que não se trata mais de identificar um efeito cultivado por 
cada gênero mediático apenas, mas de compreender como o sistema narrativo 
característico da televisão promove influência no processo de construção de 
julgamentos e comportamentos. “Exposição ao padrão total ao invésde gêneros 
específicos ou programas é, portanto, o que conta para as consequências 
historicamente distintas de viver com a televisão: o cultivo de conceitos de realidade 
partilhados por diferentes públicos” (GERBNER et al, 2002, p. 44, apud CARDOSO 
FILHO, 2009, p. 6). 
As pretensões da hipótese do Cultivo Mediático se voltam, então, para o 
estabelecimento das relações entre o texto mestre televisivo e o efeito que ele cultiva 
em espectadores assíduos. As pretensões também avançam no sentido de identificar 
como os efeitos de nível perceptivo são capazes de proporcionar atitudes e 
comportamentos que afetarão o “mundo real” – como se engajar numa campanha 
contra o desarmamento, ou na luta pela preservação do meio ambiente. Nesse 
sentido, os pesquisadores associados à hipótese do Cultivo Mediático distinguem dois 
níveis de efeitos: os efeitos em primeira ordem, que atuam no âmbito perceptivo e 
cognitivo, cultivando um “julgamento televisivo” no espectador assíduo, e os efeitos 
em segunda ordem, que atuam no âmbito das atitudes e comportamento desse 
espectador – podendo levá-lo a adotar medidas condizentes com o proposto pelo texto 
mestre televisivo. Nabi e Sullivan (2001, apud CARDOSO FILHO, 2009, p. 7), por 
exemplo, exploram os efeitos em segunda ordem da hipótese do Cultivo Mediático 
numa pesquisa sobre os efeitos da TV no engajamento dos cidadãos em medidas 
 
25 
 
preventivas contra o crime e apontam alguns caminhos metodológicos para o 
refinamento da hipótese. 
Entre os principais desdobramentos já propostos, se destacam: a concepção 
da teoria da ação razoável que é usada a fim de complementar a análise de efeitos 
cultivados. “Pesquisas na área têm demonstrado evidências que, sob circunstâncias 
apropriadas, ‘visões de mundo’ podem de forma confiável prognosticar intenções de 
comportamentos e, de fato, transformar comportamentos” (NABI & SULLIVAN, 2001, 
p. 807, apud CARDOSO FILHO, 2009, p. 7). O efeito da linha central, que indica que 
os espectadores assíduos sofrerão de maiores efeitos cultivados se não tiverem 
qualquer tipo de experiência com o tema narrado pela TV, “especificamente, aqueles 
cujas experiências são mais discrepantes do mundo da televisão são os mais 
prováveis de serem influenciados por sua mensagem” (SHRUM & BISCHAK, 2001, 
p.190, apud CARDOSO FILHO, 2009, p. 7). O efeito de ressonância, oposto ao efeito 
da linha central, que afirma que espectadores assíduos que já tiveram experiência 
direta com o tema apresentado sofrem uma dose dobrada do efeito cultivado, “aqueles 
cujas experiências de vida são similares às experiências apresentadas pelo mundo 
da TV serão os mais prováveis influenciados pela mensagem” (SHRUM & BISCHAK, 
2001, p.191, apud CARDOSO FILHO, 2009, p. 7). E o efeito de impacto impessoal, 
que aponta que a percepção do efeito cultivado ocorre, em primeiro lugar, no âmbito 
social ou pessoal e, posteriormente na natureza direta ou indireta da experiência, na 
qual o indivíduo avalia a proximidade do tema em relação a si mesmo, “isso sugere 
que o efeito de ver televisão varia em função do tipo de julgamento” (SHRUM & 
BISCHAK, 2001, p.193, apud CARDOSO FILHO, 2009, p. 8). 
Tais desdobramentos indicam uma preocupação dos pesquisadores dessa 
hipótese em identificar moderadores que atuem sobre a influência do cultivo dos 
media, aumentado ou reduzindo seu efeito. Esses moderadores buscam conceder 
maior importância às experiências individuais dos espectadores, ao relacionamento 
estabelecido entre estes e o texto mestre televisivo e, finalmente, às demais fontes de 
conhecimento além dos media. 
Explorar os modelos teóricos contemporâneos da investigação em media 
effects pode contribuir significativamente para a compreensão dos padrões de 
julgamento, percepção e atitude de uma sociedade cada vez mais calcada nos meios 
de comunicação massa. Explorar essa hipótese, em particular, implica conhecer seus 
 
26 
 
pontos fortes e fracos, apontar caminhos que norteiem pesquisadores e reconhecer 
seus limites. 
3.7 Teoria Funcionalista 
Entre o final dos anos 1940 e os anos 1970, a teoria funcionalista significou 
uma passagem das abordagens interessadas nos efeitos da mídia para uma 
abordagem interessada nas funções. Inspira-se nos estudos sociais estrutural-
funcionalistas, que concebem a sociedade como conjunto de sistemas interligados 
que dão suporte às estruturas sociais. 
Do ponto de vista programático, a Teoria Funcionalista desloca o interesse dos 
efeitos da comunicação de massa para as funções por eles exercidas. Concentra o 
interesse, também, na existência “normal” da comunicação de massa na sociedade – 
não mais nas ações da propaganda que permearam os estudos anteriores. 
Interessa-se pela dinâmica do sistema social e o papel desempenhado pelas 
comunicações de massa. Para a teoria estrutural-funcionalista, o equilíbrio do edifício 
social depende das relações funcionais que indivíduos e subsistemas ativam no seu 
conjunto. 
A lógica regulamenta os fenômenos sociais é constituída por relações de 
funcionalidade que presidem à solução de quatro problemas fundamentais, ou 
imperativos funcionais, que todo o sistema social deve enfrentar: 
a. A manutenção do modelo e o controle das tensões. 
b. A adaptação ao ambiente. 
c. A perseguição de objetivos (defesa de território, aumento da 
produtividade, etc.) 
d. A integração. (Deve existir fidelidade entre os elementos de um sistema 
e fidelidade ao próprio sistema no seu conjunto). 
Por exemplo, no que respeita ao problema da manutenção do esquema de 
valores, o subsistema das comunicações de massa é funcional, na medida em que 
desempenha parcialmente a tarefa de realçar e reforçar os modelos de 
comportamento existentes no sistema social. 
Os subsistemas podem ser disfuncionais na medida em que constituírem 
obstáculos à satisfação de alguns dos imperativos funcionais. 
 
27 
 
A função se diferencia do propósito: 
 Enquanto este implica um elemento subjetivo associado à intenção do 
indivíduo que age, a função é entendida como consequência objetiva da 
ação. 
Em relação à sociedade, a difusão de informação desempenha duas funções: 
 Alerta aos cidadãos ante ameaças e perigos imprevistos. 
 Fornece instrumentos para certas atividades cotidianas 
institucionalizadas na sociedade, como, as trocas econômicas, etc. 
Em relação ao indivíduo, e no que diz respeito à “mera existência” dos meios 
de comunicação de massa, ou seja, independentemente da sua ordem institucional e 
organizativa, são observadas três outras funções: 
 Atribuição de posição social e de prestigio às pessoas e aos grupos que 
são objetos de atenção por parte dos mass media. Legitimação de 
pessoas, grupos e tendências sociais. 
 Reforço do prestigio daqueles que se identificaram com a necessidade, 
e o valor socialmente difundido, de serem cidadãos bem informados. 
 Reforço das normas sociais e da ética vigente na sociedade. “É claro 
que os meios de comunicação de massa servem para confirmar as 
normas sociais, denunciando os seus desvios à opinião pública”. 
(Lazarsfeld e Merton, 1948, apud SILVA, 2012, p. 11) 
 
Disfunções 
No nível da sociedade: Os fluxos informativos que circulam livremente podem 
ameaçar a estrutura fundamental da própria sociedade. 
No nível dos indivíduos: Difusão de notícias alarmantes (sobre perigos naturais 
ou tensões sociais) pode provocar reações de pânico em vez de reações de vigilância 
consciente. (Orson Wells) 
No nível individual: O excesso de informações pode conduzir a um debruçar-se 
para o mundo particular, para a esfera das experiências e relações próprias. Disfunção 
narcotizante. 
 Se se passar da análise funcional dos mass media, avaliados 
independentemente de serem parte da estrutura social e econômica, 
para a análise da ordem institucional e proprietária dos próprios meios, 
 
28 
 
individualizam-se outras funções como, por exemplo,a de contribuírem 
para o conformismo. 
 “O impulso para o conformismo exercido pelos meios de comunicação 
de massa deriva não só de tudo o que neles é dito mas, mais ainda, de 
tudo o que não dizem”. 
Melvin de Fleur (1970, apud SILVA, 2012, p. 11) particulariza a capacidade de 
resistência do sistema dos mass media aos ataques, às críticas e às tentativas de 
elevar a baixa qualidade cultural e estética da produção e comunicações de massa. 
3.8 Teoria Crítica 
 
Fonte:www.conceito.de 
A denominação “Teoria Crítica” é muito empregada, mas nem sempre de forma 
adequada. Decorrente da perspectiva marxista, o pensamento expresso pela Teoria 
Crítica foi sistematizado pelos teóricos da Escola de Frankfurt: Jürgen Habermas, 
Herbert Marcuse, Max Hokheimer e Theodor Adorno, com o propósito de “[...] repensar 
e reconstruir o significado de emancipação humana” (GIROUX, 1986, p. 21, apud 
GOES, 2018, p. 73). 
A Escola de Frankfurt foi formada por um grupo de intelectuais marxistas não 
ortodoxos, alemães, ligados ao Institute of Social Research (Instituto de Pesquisas 
Sociais), criado em 1923 na Universidade de Frankfurt. No início, Max Horkheimer, 
Theodor Adorno e Herbert Marcuse desenvolveram pesquisas e intervenções teóricas 
sobre o pensamento filosófico, social, cultural, estético, de tradição germânica, 
 
29 
 
especialmente em relação a Marx, Kant, Hegel e Weber (GIROUX, 1986; MATOS, 
1993; KINCHILOE; MCLAREN, 2006, apud GOES, 2018, p. 74). 
Max Horkheimer, na coordenação do Instituto no período de 1930 a 1967, 
desencadeou modificações em relação à principal preocupação da Escola que era a 
“[...] análise da subestrutura socioeconômica”, para o interesse a superestrutura 
cultural (GIROUX, 1986, p. 24, apud GOES, 2018, p. 74). Ele assumiu um propósito 
claro, ao propor o desenvolvimento de uma teoria social para a interpretação da 
complexidade das mudanças políticas e econômicas do início do século XX. Seus 
membros articularam-se para entender (e explicar) a sociedade moderna de massas 
e industrial, em meio à expansão dos governos totalitários na Europa. 
Nessa perspectiva, suas pesquisas debruçavam-se sobre as questões que 
divergiam da promoção da liberdade e da igualdade (MATOS, 1993, apud GOES, 
2018, p. 74). 
A Escola de Frankfurt toma como um dos seus valores centrais um 
compromisso de penetrar o mundo das aparências objetivas para expor as 
relações sociais subjacentes que frequentemente iludem. Em outras 
palavras, penetrar tais aparências significa expor, através de uma análise 
crítica, as relações sociais que tomaram o ‘status’ de coisas ou objetos. 
(GIROUX, 1986, p. 22, grifo do autor; apud GOES, 2018, p. 74). 
O posicionamento dos teóricos da Escola de Frankfurt, cuja sensibilidade 
política era influenciada pela devastação da Primeira Grande Guerra e pelo pós-
guerra com sua depressão econômica – marcada pela inflação, desemprego, greves 
e protestos que irromperam na Alemanha e na Europa Central –, revelou que o mundo 
necessitava urgentemente de uma reinterpretação (KINCHILOE; MCLAREN, 2006, 
apud GOES, 2018, p. 75). 
Dessa forma, a escola de Frankfurt contribui teoricamente para desvelar 
questões sociais que emergem da sociedade atual. Dentre outras temáticas 
emergentes do processo de desenvolvimento do capitalismo, os teóricos que 
integravam o Instituto de Pesquisas Sociais se ocuparam com a multiplicação dos 
meios de comunicação; o esgotamento da autonomia da cultura em relação à 
economia; as relações sociais e de trabalho. Assim sendo, a diversidade de temas em 
debate foi uma das características dos integrantes do Instituto, relacionados à análise 
dos contextos históricos, tendo como mediadores as relações de dominação e de 
subordinação e enfatizando a importância do pensamento crítico. 
 
30 
 
Em decorrência da Segunda Guerra Mundial, e pelo posicionamento teórico 
político da escola de base marxista formada por judeus, houve a necessidade de 
transferência da Escola de Frankfurt para os Estados Unidos (EUA) em 1933. 
Enquanto estavam nos EUA, Horkheimer, Adorno e Marcuse produziram seu melhor 
trabalho, inspirado nas contradições entre a progressiva retórica americana da 
igualdade e a realidade da discriminação racial e de classe presente na sociedade. 
Em 1953, Horkheimer e Adorno retornaram à Alemanha e Herbert Marcuse 
permaneceu nos Estados Unidos, pois encontrou aceitação para seu trabalho na 
teoria social e foi reconhecido como o filósofo do movimento estudantil. Muitos 
intelectuais nos anos de 1960 voltaram-se à Teoria Crítica, pois viram nessa teoria 
uma forma de se opor, com seus trabalhos, àquelas formas de poder vigente. 
Apropriando-se da abordagem humanística do ato de pesquisar, os teóricos 
críticos opõem-se ao cientificismo da ‘objetificação’ que valoriza, acima de tudo, o 
método. Para eles, o conhecimento da realidade é decorrente do processo histórico 
sempre em transformação e sensível ao contexto e aos valores do pesquisador 
(KINCHILOE; MCLAREN, 2006, apud GOES, 2018, p. 75). Nesse sentido, a Teoria 
Crítica supera a teoria positivista, tradicional, propondo para a ciência uma perspectiva 
crítica de emancipação humana. A esse respeito, Silva e Sánchez Gamboa (2014, 
apud GOES, 2018, p. 75) complementam que: 
A pesquisa científica não é, portanto, uma atividade neutra, realizada ao 
acaso e movida pela curiosidade imparcial do pesquisador. Ela é, sim, de fato, 
influenciada pelo contexto social mais amplo como, por exemplo, as 
condições sociopolíticas e econômicas de determinada sociedade, por 
contextos mais específicos (relacionados à estrutura interna do curso ou 
instituição na qual é desenvolvida) e pelo próprio pesquisador, com seu 
sistema de valores, crenças etc. (SILVA; SÁNCHEZ GAMBOA, 2014, p. 50, 
apud GOES, 2018, p. 75). 
Ainda que com forte base marxista, a Teoria Crítica não leva em conta de forma 
tão radical a luta de classes e o determinismo da estrutura econômica. De acordo com 
os teóricos críticos, “[...] a crítica à economia política é insuficiente para compreender 
as possibilidades das transformações sociais, políticas e subjetivas” (MATOS, 1993, 
p. 39, apud GOES, 2018, p. 76). Assumindo tal postura, esses teóricos dispõem-se a 
realizar uma crítica radical ao tempo presente. Portanto, na perspectiva criticista, 
pressupõe-se que vivemos em um mundo onde a instrumentalização das coisas 
 
31 
 
acaba causando, também, a instrumentalização dos indivíduos (consciência 
coisificada). 
Apesar da notável contribuição da Escola de Frankfurt para a ciência, Kincheloe 
e McLaren (2006, p. 282, apud GOES, 2018, p. 76) indicam três motivos da dificuldade 
em determinar o que é, precisamente, a Teoria Crítica: “a) há inúmeras teorias críticas, 
e não apenas uma; b) uma tradição crítica está sempre mudando e evoluindo; e c) a 
teoria crítica tende a evitar a especificidade excessiva, pois há espaço para 
discordâncias entre teóricos críticos”. 
No entanto, o ponto de convergência das diferentes vertentes da Teoria Crítica 
encontra-se na aversão à racionalidade técnica instrumental Os criticistas advertem 
que a racionalidade instrumental “[...] geralmente separa o fato do valor em sua 
obsessão pelo método ‘apropriado’, perdendo, no processo, uma compreensão das 
escolhas de valor sempre envolvidas na produção dos assim chamados fatos” 
(KINCHELOE; MCLAREN, 2006, p. 284, grifo dos autores, apud GOES, 2018, p. 76). 
Nessa perspectiva, Matos (1993) esclarece que: 
Fez-se necessário à Teoria Crítica caminhar para a crítica da civilização 
técnica, uma vez que técnica no domínio da natureza e técnica na tomada do 
poder, no mundo atual, se conjugam. O pragmatismo e a ‘ação eficiente’ vêm 
tomando o lugar do pensamento e da reflexão. A empiria — a ação imediata 
não-reflexiva — quer corrigir seus desacertos pelo uso da violência e do 
terror. Ela supõe seres obedientes. Para os frankfurtianos, porém, pensar é o 
contráriode obedecer. (MATOS, 1993, p. 39, grifo da autora; apud GOES, 
2018, p. 76). 
Nessa perspectiva, para entender a Teoria Crítica, é preciso compreender as 
relações entre o particular e o todo e entre o específico e o universal que existem na 
sociedade. Tal posicionamento diferencia-se totalmente da perspectiva positivista na 
qual a teoria é uma questão de ordenar e classificar os fatos. Ao rejeitar a ideia de 
considerar os fatos de forma absoluta, a Escola de Frankfurt argumenta que, na 
relação entre teoria e sociedade, existem mediações que dão significado à natureza 
que constitui os fatos e também à natureza e à substância do discurso teórico 
(GIROUX, 1986, apud GOES, 2018, p. 76). 
Outro elemento constitutivo da Teoria Crítica contrapõe-se à neutralidade 
enfatizada pelo positivismo. Isso corresponde ao reconhecimento dos interesses e dos 
valores ao refletir-se criticamente sobre o desenvolvimento histórico, bem como da 
gênese desses interesses e suas limitações em certos contextos históricos e sociais. 
 
32 
 
Ou seja, a correção metodológica não é garantia da verdade (MELO, 2011, apud 
GOES, 2018, p. 76). 
A função ‘desmascaradora’ da teoria e a força propulsora dessa função 
encontram-se na crítica imanente e no pensamento dialético. A crítica imanente “[...] 
é a afirmação da diferença, a recusa em identificar aparência e essência, a disposição 
de analisar o objeto social em função de suas possibilidades” (GIROUX, 1986, p. 33-
34, apud GOES, 2018, p. 76). O pensamento dialético, segundo esse mesmo autor, 
refere-se à crítica e à reconstrução teórica. Como modo de crítica, revela valores que 
são muitas vezes negados quando se analisa determinado objeto social. Nesse 
sentido, a noção de dialética é importante porque revela a incompletude, o que é em 
termos do que não é e das potencialidades ainda não realizadas. Como modo de 
reconstrução teórica: 
O pensamento dialético revela o poder da atividade humana e do 
conhecimento humano tanto como produto quanto como uma força na 
determinação da realidade social. [...] não para proclamar que os seres 
humanos dão sentido ao mundo. Ao invés disso, enquanto uma forma de 
crítica, o pensamento dialético argumenta que há uma ligação entre 
conhecimento, poder e dominação. (GIROUX, 1986, p. 34-35, apud GOES, 
2018, p. 76). 
Insistindo na primazia do conhecimento teórico no campo das pesquisas 
empíricas, a Teoria Crítica enfatiza os limites da noção positivista de experiência, a qual 
poderia ser replicada por outro pesquisador. Ela defende, portanto, que toda teoria e 
prática estão inter-relacionadas, constituindo uma práxis. Horkheimer (1991, apud GOES, 
2018, p. 77), em Teoria Tradicional e Teoria Crítica, considera que a práxis é a prática 
incorporada de teoria e se refere a toda e qualquer prática social. A práxis, segundo os 
autores, é uma ou a principal categoria na Teoria Crítica. 
Horkheimer lembra que a teoria crítica aspira a transformação revolucionária 
da sociedade, ao contrário da teoria tradicional, que visa manter o estado 
atual das coisas. Desse modo, os intelectuais que assumem verdadeiramente 
a teoria crítica não podem contentar-se com uma posição meramente 
compreensiva, contemplativa da prática social. [...]. É importante destacar 
uma diferença essencial entre a teoria tradicional e a teoria crítica, no que diz 
respeito a sua relação com a prática, que tem muito a ver com o papel que a 
intelectualidade que se pretende ligada à transformação das condições 
sociais desempenha hoje. A teoria tradicional, na qual o nexo com a 
objetividade é negado, tem como critério de legitimidade a produtividade, a 
possibilidade da aplicação imediata, que resulte em maior eficiência, menos 
tempo gasto na produção de mercadorias. A teoria crítica não tem essa 
aspiração. Pensar que a teoria crítica pode ser aplicada com esses mesmos 
critérios seria pensar de uma forma não crítica, tradicional. (VIEGAS, 2002, 
p. 461-462, apud GOES, 2018, p. 77). 
 
33 
 
Considerando a complexidade inerente aos pressupostos da Teoria Crítica 
evidenciada por seus precursores, Kincheloe e McLaren (2006, p. 292, apud GOES, 
2018, p. 77) compreendem que o pesquisador fundamentado nessa teoria aceita 
certas suposições básicas da abordagem crítica. 
[...] de que todo pensamento é fundamentalmente mediado pelas relações de 
poder estabelecidas social e historicamente; de que os fatos nunca podem 
ser isolados do domínio de valores ou removidos de alguma forma de 
inscrição ideológica; de que a relação entre conceito e objeto e entre 
significante e significado nunca é estável ou fixa, sendo geralmente mediada 
pelas relações sociais da produção e do consumo capitalistas; de que a 
linguagem é central para a formação da subjetividade [...]; de que, em 
qualquer sociedade, certos grupos são privilegiados em relação a outros [...]; 
de que a opressão tem muitas faces, e de que o foco sobre apenas uma delas 
à custa das demais [...] muitas vezes elide as interconexões existentes entre 
elas; e, finalmente, a de que as práticas predominantes de pesquisa 
geralmente estão implicadas na reprodução dos sistemas de opressão de 
classe, de raça e de gênero [...]. (KINCHELOE; MCLAREN, 2006, p. 292-293, 
apud GOES, 2018, p. 77). 
A breve abordagem acerca da gênese e dos principais pressupostos da Teoria 
Crítica evidência a relevância dessa abordagem teórica para a pesquisa qualitativa 
em Ciências Humanas e Sociais para análise de questões contemporâneas presentes 
na sociedade. Apesar dos diferentes modelos críticos correspondentes aos teóricos 
precursores dessa teoria (Jürgen Habermas, Herbert Marcuse, Max Hokheimer e 
Theodor Adorno), há consenso no que diz respeito a um novo modo de observar e de 
refletir a realidade e o agir humano da nossa sociedade. Tal vertente teórica, portanto, 
constitui-se como um método em potencial para o desenvolvimento de pesquisas em 
várias áreas do conhecimento, dentre elas a da Educação Para além do exposto, 
levando em consideração o vasto campo de análise que a Teoria Crítica abrange, no 
próximo tópico abordam-se algumas de suas principais categorias de análise. 
 
A contribuição da Teoria Crítica para as pesquisas em avaliação 
educacional 
As pesquisas qualitativas podem ser fundamentadas nos pressupostos teóricos 
da Teoria Crítica. Segundo Carspecken (2011, p. 396, apud GOES, 2018, p. 84), “A 
pesquisa qualitativa crítica tem origem nos trabalhos de Paulo Freire (2000, apud 
GOES, 2018, p. 84) e Paul Willis (1977, apud GOES, 2018, p. 84)”. De acordo com 
Carspecken (2011, apud GOES, 2018, p. 84), Michael Apple e Henry Giroux são os 
teóricos que a representam. No caso de Freire, segundo Carspecken (2011, p. 396, 
 
34 
 
apud GOES, 2018, p. 84), a pesquisa e a pedagogia unem-se para que “[...] a geração 
de conhecimento, a conscientização e a mobilização por mudança social se 
juntassem”. 
As pesquisas em educação desenvolvidas a partir da Teoria Crítica primam 
tanto pela produção de conhecimento como pela promoção de intervenções críticas. 
Elas precisam ser concebidas como provocadoras da autorreflexão, o que significa 
que as pesquisas na área da educação podem fomentar experiências educativas que 
incentivam a autonomia do sujeito e, ao mesmo tempo, podem possibilitar o 
fortalecimento de posturas críticas e de resistência na sociedade atual tão marcada 
pela desigualdade social. 
Nesse sentido, a pesquisa qualitativa crítica não busca somente descrever a 
realidade social; ela tem, também, por projeto, a conscientização e a exposição das 
formas de conhecer e de julgar o conhecimento discursivo. Para Carspecken (2011, 
p. 398, apud GOES, 2018, p. 85), a “[...] pesquisa qualitativa crítica é informada por 
uma teoria epistemológica e social que esclarece a relação entre produção de 
conhecimento, ação, identidade humana, poder, liberdade e mudança social” 
(CARSPECKEN, 2011, p. 398, apud GOES, 2018, p. 85). 
Para os criticistas,cabe à pesquisa levar em consideração o contexto sócio 
histórico e cultural, para compreender como os intérpretes e os objetos de 
interpretação são construídos, em determinado tempo e lugar, o que facilita o 
entendimento de dinâmicas e certas estruturas ocultas presentes em significados 
sociais e de valores. “A hermenêutica central de muitos trabalhos qualitativos críticos 
envolve as interações entre pesquisa, sujeito (s) e essas estruturas sócio históricas 
que tem a função de situar” (KINCHELOE; MCLAREN, 2006, p. 290, apud GOES, 
2018, p. 85), e, assim, procura relacionar as questões cotidianas enfrentadas pelos 
indivíduos com as questões públicas do poder, da justiça e da democracia. Portanto: 
A investigação que se aspira o nome crítica deve estar vinculada a uma 
tentativa de confrontar a injustiça de uma determinada sociedade ou esfera 
pública dentro da sociedade. A pesquisa torna-se, portanto, um esforço 
transformativo que não se incomoda com o rótulo político e nem tem medo 
de consumar uma relação com a consciência emancipatória. [...]. A pesquisa 
na tradição crítica assume a forma de crítica autoconsciente – autoconsciente 
no sentido de que os pesquisadores tentam ficar a par dos imperativos 
ideológicos e das pressuposições epistemológicas que invadem sua 
pesquisa e também suas próprias alegações subjetivas, intersubjetivas e 
normativas de referência. (KINCHELOE; MCLAREN, 2006, p. 293, grifos dos 
autores; apud GOES, 2018, p. 85). 
 
35 
 
Na acepção dos autores, os pesquisadores críticos desenvolvem suas 
pesquisas, tendo como premissa a possibilidade de ações políticas para reparar as 
injustiças encontradas no campo ou construídas no próprio ato da pesquisa. Conforme 
Chizzotti (2001, apud GOES, 2018, p. 85), ao adotar essa orientação, os 
pesquisadores partem de um fundamento teórico-epistemológico “[...] de que há uma 
relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o 
sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade 
do sujeito” (CHIZOTTI, 2005, p. 79, apud GOES, 2018, p. 85). 
Como a educação é uma prática social, que resulta de condicionantes políticos, 
econômicos, sociais e culturais, a abordagem crítica em pesquisas educacionais 
pressupõe uma concepção unitária, coerente e orgânica do mundo e faz da crítica seu 
modelo paradigmático, de tal modo que não basta tentar compreender a realidade, 
faz-se necessário intervir nela visando a emancipação dos sujeitos. 
Considerando a possibilidade da adoção dos fundamentos da Teoria Crítica 
para o desenvolvimento de estudos e de pesquisas no âmbito da educação e da 
avaliação educacional, apoia-se nas proposições de Cappellett (2012, apud GOES, 
2018, p. 86) quando ela afirma que se faz necessário dirigir esforços para que os 
pressupostos teóricos que as fundamentam estejam bem definidos e claros. A autora 
recomenda: 
a) Posição clara diante da ação humana visando esclarecimento das 
pessoas que assumem, fazendo-as capazes de descobrir quais seus 
interesses e levando esses agentes à libertação das coerções, às 
vezes auto impostas e sempre auto frustrantes; 
b) Processo que estrutura uma forma de conhecimento; 
c) Construto epistemológico com adesão às teorias críticas, reflexivas, 
em que o autor se conhece ao conhecer, diferentemente do 
paradigma “objetificante” das ciências naturais. (CAPPELLETTI, 
2012, p. 219, grifo da autora; apud GOES, 2018, p. 86). 
As pesquisas fundamentadas na Teoria Crítica, portanto, contrapõem-se às de 
cunho objetivista, de base positivista, e pressupõem uma visão dialética da realidade, 
uma práxis, ou seja, a maneira como se estabelecem os nexos entre teoria e prática 
são diferentes na teoria tradicional e na teoria crítica. A relação teoria e prática, na 
teoria crítica, implica auto atividade e espontaneidade em oposição à forma 
pragmatista e mecânica como se liga a teoria à prática na teoria tradicional 
(HORKHEIMER, 1991, apud GOES, 2018, p. 86). 
 
36 
 
Na perspectiva crítica, as pesquisas têm um caráter dialógico, dialético e 
colaborativo. Há uma “[...] confluência de opiniões, valores, crenças e 
comportamentos divergentes e não de alguma falsa homogeneização imposta de fora. 
Além disso, as pessoas da comunidade absolutamente não são ‘objetos de 
conhecimento’; são colaboradores ativos no esforço de pesquisa” (ANGROSINO, 
2009, p. 28, grifo do autor, apud GOES, 2018, p. 86). 
Cientes das múltiplas perspectivas teórico-epistemológicas que os 
pesquisadores críticos podem optar, considera-se importante a contribuição dos 
pressupostos da Teoria Crítica para a pesquisa em avaliação educacional. A opção 
pelo fundamento dialético crítico em pesquisa prima pela produção de conhecimento 
que visa a promoção, a autonomia e a emancipação humana, pressupondo, portanto, 
uma visão dialética da realidade, associando a teoria e a e prática. 
Para além do exposto, Cappelletti (2012, p. 214, apud GOES, 2018, p. 86) 
indica que a pesquisa em avaliação educacional na perspectiva crítica “[...] busca a 
compreensão do objeto em situação, no diálogo intersubjetivo com os envolvidos e 
com a necessária teoria requerida”. Assim sendo, “[...] essa busca ocorre por 
intermédio de uma investigação que não ignora o contexto da situação em pauta para 
ressignificá-la e transformá-la”. 
Convergindo com tais concepções de pesquisa em avaliação, Saul (2015, apud 
GOES, 2018, p. 86) expõe dois objetivos da avaliação emancipatória: o primeiro é o 
comprometimento com o futuro, as possíveis transformações, partindo do 
autoconhecimento crítico que permite clareza do real; já o segundo, baseia-se na 
crença de que o homem, por meio da consciência crítica, direcione ações no contexto 
em que vive e os valores com os quais se comprometem. Embora não sejam novas 
as discussões sobre avaliação e pesquisa em avaliação, elas reaparecerem com força 
nos últimos anos no meio acadêmico e educacional. Segundo Afonso (2010, apud 
GOES, 2018, p. 87), a problemática teórica e prática da avaliação educacional pode 
ser analisada a partir de múltiplos olhares e abordagens, porque: 
O campo da avaliação educacional é, assim, muito vasto e heterogéneo, 
pressupondo distintas funções e dimensões, explícitas ou implícitas, de 
natureza social, pedagógica, ética, técnica, científica, simbólica, cultural, 
política, de controlo e de legitimação, e envolvendo também diferentes 
instituições (governamentais ou não), grupos e atores educativos, bem como 
distintos quadros de análise, paradigmas e metodologias. (AFONSO, 2010, 
p. 1, grifo do autor; apud GOES, 2018, p. 87). 
 
37 
 
A partir das evidências expostas no diálogo com os autores contemplados 
neste estudo, conclui-se que as pesquisas qualitativas no âmbito educacional podem 
se beneficiar da perspectiva crítica como abordagem de pesquisa, em particular para 
estudos e pesquisas em avaliação educacional, tendo como categorias fundamentais 
além da práxis, o poder, a emancipação, a cultura, a ideologia e a justiça social. 
Os pesquisadores que elegem a Teoria Crítica para embasar suas pesquisas 
estão cientes da possibilidade de descrever os processos sociais opressivos 
relacionados à educação, bem como de conferir um caráter ideológico às pesquisas 
na área. A principal ambição das pesquisas críticas em avaliação educacional 
encontra-se na possibilidade de unir a práxis e a produção do conhecimento com a 
luta política por mudanças na estrutura da sociedade, promovendo, assim, um 
processo emancipatório. 
4 SEGUNDA FASE 
4.1 Teoria Gatekeeper 
 
Fonte: eurohlfs.blogspot.com 
As teorias da comunicação de massa da segunda fase analisam os emissores 
das mensagens. Para que houvesse uma revolução dos estudos que só analisavam 
na primeira fase a mensagem e os seus efeitos foram necessárias duas abordagens. 
A primeira segundo Wolf (2001, apud SILVA, 2013, p. 4) estudou o profissional da 
comunicação:

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