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Modelagem de Máquinas Elétricas 50 50 gerada podem ser expressos explicitamente como a tendência de dois campos magnéticos a se alinhar, do mesmo modo que imãs permanentes tendem a se alinhar, e a tensão gerada pode ser expressa em termos do movimento relativo entre um campo e um enrolamento. Essas expressões levam a uma descrição física simples do comportamento normal das máquinas elétricas em regime permanente. 1.8.1 PONTO DE VISTA DO CIRCUITO ACOPLADO Considera-se a máquina elementar de entreferro uniforme da figura 1.40 com um enrolamento no estator e um no rotor, em que m é o ângulo mecânico entre os eixos dos dois enrolamentos. Esses enrolamentos estão distribuídos por um dado número de ranhuras de modo que suas ondas de fmm possam ser aproximadas por senóides espaciais. Na figura 1.40, item a), os lados das bobinas s, -s e r, -r marcam as posições dos centros dos feixes de condutores constituídos pelos enrolamentos distribuídos. Um outro modo de se desenhar estes enrolamentos está mostrado na figura 1.40, item b), que também mostra os sentidos de referência para as tensões e as correntes. Assume-se aqui que uma corrente com o sentido da seta produz um campo magnético no entreferro também com o sentido da seta, de modo que uma única seta define os sentidos de referência da corrente e do fluxo. Figura 1.40: Máquina elementar de dois polos com entreferro uniforme: a) distribuição de enrolamentos e b) representação esquemática. O estator e o rotor são cilindros concêntricos e as aberturas das ranhuras são desprezadas. Consequentemente, o modelo elementar não inclui os efeitos dos polos salientes. Supõe-se também que as relutâncias dos ferros do estator e do rotor são desprezíveis. Finalmente, embora a figura 1.40 mostre uma máquina de dois polos, os desenvolvimentos seguintes serão feitos para o caso geral de uma máquina de múltiplos polos, substituindo m pelo ângulo elétrico do rotor me = ( 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 2 ) m (1.78) Com base nessas suposições, pode-se ver que as indutâncias próprias Lcc e Lrr do estator e do rotor são constantes, mas a indutância mútua entre o estator e o rotor depende do ângulo elétrico me entre os eixos magnéticos dos enrolamentos Modelagem de Máquinas Elétricas 51 51 do estator e do rotor. A indutância mútua está em seu máximo positivo quando me = 0 ou 2 𝜋, é zero quanto me = 𝜋 / 2, e está em seu máximo negativo quando me = 𝜋. Supondo ondas senoidais de fmm e um entreferro uniforme, a distribuição espacial do fluxo de entreferro é senoidal, e a indutância mútua será da forma Ler ( me) = Ler cos ( me) (1.79) em que a letra manuscrita L denota uma indutância que é função do ângulo elétrico me. A letra maiúscula L denota um valor constante. Assim, Ler é o valor da indutância mútua; seu valor é máximo quando os eixos magnéticos do estator e do rotor estão alinhados ( me = 0). Em termos de indutâncias, os fluxos concatenados e er do estator e do rotor são e = Lee ie + Ler (me) ir = Lee ie + Ler cos (me) ir (1.80) r = Ler (me) ie + Lrr ir = Ler cos (me) ie + Lrr ir (1.81) Em notação matricial [ 𝑒 𝑟 ] = [ 𝐿𝑒𝑒 L𝑒𝑟(𝜃𝑚𝑒 ) L𝑒𝑟(𝜃𝑚𝑒) 𝐿𝑟𝑟 ] [ 𝑖𝑒 𝑖𝑟 ] (1.82) As tensões 𝑣e e 𝑣r dos terminais são 𝑣e = Re ie + 𝑑𝑒 𝑑𝑡 (1.83) 𝑣r = Rr ir + 𝑑𝑟 𝑑𝑡 (1.84) em que Re e Rr são as resistências dos enrolamentos do estator e do rotor respectivamente. Quando o rotor está girando, me deve ser tratado como uma variável. A diferenciação das equações (1.80) e (1.81), substituindo os resultados nas equações (1.83) e (1.84), leva a 𝑣e = Re ie + Lee 𝑑𝑖𝑒 𝑑𝑡 + Ler cos (me) 𝑑𝑖𝑟 𝑑𝑡 – Ler ir sen (me) 𝑑𝑚𝑒 𝑑𝑡 (1.85) 𝑣r = Rr ir + Lrr 𝑑𝑖𝑟 𝑑𝑡 + Ler cos (me) 𝑑𝑖𝑟 𝑑𝑡 – Ler ie sen (me) 𝑑𝑚𝑒 𝑑𝑡 (1.86) em que 𝑑𝑚𝑒 𝑑𝑡 = me = ( 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 2 ) m (1.87) é a velocidade instantânea em radianos elétricos por segundo. Em uma máquina de dois polos (como a da figura 1.40), m e me são iguais aos valores instantâneos do Modelagem de Máquinas Elétricas 52 52 ângulo m no eixo, e da velocidade m no eixo, respectivamente. Em uma máquina de múltiplos polos, eles estão relacionados entre si por meio das equações (1.78) e (1.70). Os segundos e terceiros termos, nos segundos membros das equações (1.85) e (1.86), são tensões induzidas L (di / dt) como as induzidas em circuitos estacionários acoplados, tais como enrolamentos de transformadores. Os quartos termos são causados pelo movimento mecânico e são proporcionais à velocidade instantânea. São os termos das tensões de velocidade que correspondem à troca de potência entre os sistemas elétrico e mecânico. O conjugado eletromecânico pode ser obtido a partir da co-energia. Usando a equação que determina a co-eneriga em função da corrente 𝑊𝑐𝑎𝑚𝑝𝑜 ′ (i1, i2, ) = 1 2 L11 ()𝑖1 2 + 1 2 L22 () 𝑖2 2 + L12 () i1 i2 (1.88) tem-se 𝑊𝑐𝑎𝑚𝑝𝑜 ′ = 1 2 Lee 𝑖𝑒 2 + 1 2 Lrr 𝑖𝑟 2 + Ler ie ir cos me = 1 2 Lee 𝑖𝑒 2 + 1 2 Lrr 𝑖𝑟 2 + Ler ie ir cos (( 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 2 ) 𝜃𝑚) (1.89) Observa-se que a co-energia da equação (1.89) foi expressa especificamente em termos do ângulo no eixo m, porque a expressão do conjugado da equação (1.88) exige que o conjugado seja obtido a partir da derivada da co-energia em relação ao ângulo espacial m e não em relação ao ângulo elétrico me. campo = 𝜕𝑊𝑐𝑎𝑚𝑝𝑜 ′ (𝑖1 ,𝑖2 ,𝜃) 𝜕𝜃 i1,i2 (1.90) Assim, a equação (1.90), campo = 𝜕𝑊𝑐𝑎𝑚𝑝𝑜 ′ (𝑖1 ,𝑖2 ,𝑚) 𝜕𝜃 i1,i2 = - ( 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 2 ) Ler ie ir sen ( 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 2 𝜃𝑚) = - ( 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 2 ) Ler ie ir sen me (1.91) em que é o conjugado eletromecânico que atua acelerando o rotor (isto é, conjugado positivo atua aumentando m). O sinal negativo da equação (1.91) significa que o conjugado eletromecânico atua em um sentido tal que leva os campos magnéticos do estator e do rotor ao alinhamento. As equações (1.85), (1.86) e (1.91) são um conjunto de três equações que relacionam as variáveis elétricas 𝑣e, ie, 𝑣r, ir com as variáveis mecânicas e m. Modelagem de Máquinas Elétricas 53 53 Essas equações, junto com as restrições impostas às variáveis elétricas pelas redes conectadas aos terminais (fontes ou cargas e impedâncias externas), e as impostas ao rotor (conjugado aplicado e conjugados inercial, elástico e atrito), determinam o desempenho do dispositivo e suas características como dispositivo de conversão entre os sistemas elétricos e mecânicos. Essas equações diferenciais são não-lineares e de difícil solução, exceto em circunstâncias especiais. Agora considera-se uma máquina de entreferro uniforme com diversos enrolamentos de estator e rotor. Os mesmos princípios gerais, que se aplicam ao modelo elementar da figura 1.40, aplicam-se também à máquina de múltiplos enrolamentos. Cada enrolamento tem a sua indutância própria em particular como indutâncias mútuas com outros enrolamentos. As indutâncias próprias e mútuas entre pares de enrolamentos do mesmo lado do entreferro são constantes, supondo- se um entreferro uniforme e saturação magnética desprezível. Entretanto, as indutâncias mútuas entre pares de enrolamentos de estator e rotor variam proporcionalmente ao cosseno do ângulo entre os seus eixos magnéticos. O conjugado resulta da tendência do campo magnético dos enrolamentos do rotor a se alinhar com o dos enrolamentos do estator. Pode ser expresso pela soma dos termos como o da equação (1.91). Sob condições equilibradas, uma máquina síncrona de quatro polos produz conjugado constante quando a velocidade angular de rotação é igual à metade da frequência elétrica de excitação. Esse resultado pode ser generalizado resultando que, sob condições equilibradas de operação, uma máquinasíncrona multifásica e de múltiplos polos produzirá conjugado constante na velocidade de rotor em que este gira em sincronismo com a onda girante de fluxo produzida pelas correntes do estator. Por isso, ela é conhecida como velocidade síncrona da máquina. Das equações (1.64) e (1.65), a velocidade síncrona é igual a s = (2 / polos) e em rad/s ou ns = (120 / polos) 𝑓e em rpm. 1.8.2 PONTO DE VISTA DO CAMPO MAGNÉTICO No item 1.8.1, as características de uma máquina rotativa vista de seus terminais elétricos e mecânicos foram expressas em termos de suas indutâncias de Modelagem de Máquinas Elétricas 54 54 enrolamento. Neste item vai-se explorar uma formulação alternativa em termos dos campos magnéticos interatuantes. As correntes nos enrolamentos da máquina criam fluxo magnético entre o estator e o rotor, sendo que os caminhos de fluxo são completados através do ferro do estator e do rotor. Essa condição corresponde ao surgimento de polos magnéticos em ambos, estator e rotor, centrados em seus respectivos eixos magnéticos, como mostrado na figura 1.41, item a) para uma máquina de dois polos com entreferro uniforme. O conjugado é produzido pela tendência dos dois campos magnéticos componentes a alinhar os seus eixos magnéticos. Isso é muito semelhante à situação de duas barras magnéticas pivotadas em seus centros no mesmo eixo. Haverá um conjugado, proporcional ao deslocamento angular entre as barras magnéticas, que atuará de modo a alinhá-los. Na máquina da figura 1.41, item a), o conjugado resultante é proporcional ao produto das amplitudes das ondas de fmm do estator e do rotor e é também uma função do ângulo er, medido desde o eixo da onda de fmm do estator até o do rotor. De fato, será mostrado que, em uma máquina de entreferro uniforme, o conjugado é proporcional a er. Figura 1.41: Máquina de dois polos simplificada: a) modelo elementar e b) diagrama vetorial das ondas de fmm. O conjugado é produzido pela tendência a se alinhar dos campos magnéticos do rotor e do estator. Ressalta-se que essas figuras são desenhadas com er positivo, isto é, com a onda de fmm do rotor 𝑭r à frente da 𝑭e do estator. Em uma máquina típica, a maioria do fluxo produzido pelos enrolamentos de estator e rotor cruzam o entreferro e acoplam ambos os enrolamentos. Isso é chamado de fluxo mútuo, em analogia direta com o fluxo mútuo ou de magnetização de um transformador. Entretanto, uma parte do fluxo produzido pelos enrolamentos do rotor e do estator não cruzam o entreferro, em analogia ao fluxo de dispersão de um transformador. Esses componentes de fluxo são conhecidos como fluxo de dispersão do rotor e fluxo de dispersão do estator. Os componentes desse fluxo de dispersão incluem fluxos dispersivo de ranhura e de topo de dente, fluxo dispersivo de terminação de espira, e harmônicas espaciais no campo de entreferro. Apenas o fluxo mútuo é de interesse direto para a produção de conjugado. Entretanto, os fluxos de dispersão afetam de fato o desempenho das máquinas, devido às tensões que eles induzem em seus respectivos enrolamentos. Seus efeitos sobre as características elétricas são explicados por meio de indutâncias, de Modelagem de Máquinas Elétricas 55 55 forma análoga ao uso da inclusão de indutâncias de dispersão nos modelos de transformadores. Quando se expressa o conjugado em termos de correntes de enrolamento ou de suas fmms correspondentes, as expressões resultantes não incluem termos que contenham indutâncias de dispersão. A análise será então em termos do fluxo mútuo resultante. Será desenvolvida uma expressão para a co-energia magnética armazenada no entreferro em termos das fmms de estator e rotor e do ângulo er entre seus eixos magnéticos. O conjugado pode então ser obtido a partir da derivada parcial da co-energia em relação ao ângulo er. Para simplificar a análise, se suporá que o comprimento radial g do entreferro (o espaço livre entre o rotor e o estator) seja pequeno, quando comparado com o raio do rotor ou do estator. Em uma máquina com entreferro uniforme, construída com aço elétrico de permeabilidade magnética elevada, é possível mostrar que resultará um fluxo de entreferro orientado basicamente em forma radial, e que há uma diferença relativamente pequena entre as densidades de fluxo na superfície do rotor, na superfície do estator, ou a qualquer distância radial intermediária no entreferro. O campo no entreferro pode então ser representado como um campo radial Hg ou Bg, cuja intensidade varia com o ângulo ao redor da periferia. A integral de linha de Hg através do entreferro é então simplesmente Hg g e é igual à fmm resultante 𝐹er de entreferro produzida pelos enrolamentos de estator e rotor, assim: Hg g = 𝐹er (1.92) em que 𝐹 denota a onda de fmm em função do ângulo ao redor da periferia. As ondas de fmm do estator e do rotor são ondas senoidais nas quais er é o ângulo de fase entre seus eixos magnéticos em graus elétricos. Elas podem ser representadas pelos vetores espaciais 𝐹e e 𝐹r desenhadas ao longo dos eixos magnéticos das ondas de fmm do estator e do rotor respectivamente, como na figura 1.41, item b). A fmm resultante 𝐹er, também uma onda senoidal que atua no entreferro, é a soma vetorial delas. Da fórmula trigonométrica da diagonal de um paralelogramo, o valor de pico é obtido de 𝐹𝑒𝑟 2 = 𝐹𝑒 2 + 𝐹𝑟 2 + 2 𝐹e 𝐹r cos er (1.93) em que os 𝐹s são os valores de pico das ondas de fmm. O campo radial resultante Hg é uma onda senoidal, cujo valor de pico Hg,pico é da equação (1.92) Modelagem de Máquinas Elétricas 56 56 (Hg) pico = 𝐹𝑒𝑟 𝑔 (1.94) Agora, considera-se a co-energia do campo magnético armazenada no entreferro 𝑊𝑐𝑎𝑚𝑝𝑜 ′ = ∫ 𝐻2 2 𝑉 dV (1.95) a densidade de co-energia em um ponto, em que a intensidade de campo magnético é H, é (0 / 2) H 2 em unidade do SI. Assim, a densidade média de co-energia em todo o volume do entreferro é 0 / 2 vezes o valor médio de 𝐻𝑔 2. O valor médio do quadrado de uma onda senoidal é a metade de seu valor de pico. Assim, Densidade média de co-energia = 0 2 ( (𝐻𝑔 )𝑝𝑖𝑐𝑜 2 2 ) = 0 4 ( 𝐹𝑒𝑟 𝑔 ) 2 (1.96) A co-energia total é obtida então como sendo 𝑊𝑐𝑎𝑚𝑝𝑜 ′ = (densidade de co-energia) (volume de entreferro) = 0 4 ( 𝐹𝑒𝑟 𝑔 ) 2 𝜋 D l g = 0 𝜋 𝐷 𝑙 4 𝑔 𝐹𝑒𝑟 2 (1.97) em que 𝑙 é o comprimento axial do entreferro e D é o seu diâmetro médio. Da equação (1.93), a co-energia armazenada no entreferro pode ser expressa agora em termos das amplitudes de pico das ondas de fmm de estator e rotor e do ângulo de fase espacial entre elas; assim 𝑊𝑐𝑎𝑚𝑝𝑜 ′ = 0 𝜋 𝐷 𝑙 4 𝑔 (𝐹𝑒 2 + 𝐹𝑟 2 + 2 𝐹e 𝐹r cos er) (1.98) Verificando que manter uma fmm constante é equivalente a manter uma corrente constante, uma expressão para o conjugado eletromecânico pode ser obtida agora, em termos dos campos magnéticos interaturantes, calculando-se a derivada parcial da co-energia do campo em relação ao ângulo. Para uma máquina de dois polos campo = 𝜕𝑊𝑐𝑎𝑚𝑝𝑜 ′ 𝜕𝑒𝑟 𝐹e, 𝐹r = - ( 0 𝜋 𝐷 𝑙 2𝑔 ) 𝐹e 𝐹r sen er (1.99) A expressão geral para o conjugado de uma máquina de múltiplos polos é Modelagem de Máquinas Elétricas 57 57 = - ( 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 2 ) ( 0 𝜋 𝐷 𝑙 2 𝑔 ) 𝐹e 𝐹r sen er (1.100) nessa equação, er é o ângulo de fase espacial entre as ondas de fmm do rotor e do estator e o conjugado atua no sentido em que o rotor é acelerado. Assim, quando er é positivo, o conjugado é negativo e a máquina está funcionando como gerador. De modo semelhante, um valor negativo de er corresponde a um conjugado positivo e, correspondentemente, funciona como motor. Essa importante equação exprime que o conjugado é proporcional aos valores de picodas ondas de fmm 𝐹e e 𝐹r do estator e do rotor, e ao seno do ângulo elétrico de fase espacial er entre elas. O sinal de menos significa que os campos tendem a se alinhar entre si. Conjugados iguais e opostos são exercidos sobre o estator e o rotor. O conjugado sobre o estator é transmitido através da carcaça da máquina à fundação. Agora, pode-se comparar os resultados da equação (1.100) com os da equação (1.91). Verificando que 𝐹e é proporcional a ie e 𝐹r é proporcional a ir, pode- se ver que são semelhantes na forma. De fato, eles devem ser iguais, como pode ser verificado substituindo-se 𝐹e, 𝐹e e Ler por expressões apropriadas. Observa-se que esses resultados foram deduzidos supondo que a relutância do ferro fosse desprezível. No entanto, as duas técnicas são igualmente válidas para uma permeabilidade finita do ferro. Referindo-se à figura 1.41, item b) pode-se ver que 𝐹r sen er é a componente da onda 𝐹r em quadratura elétrica espacial com a onda 𝐹e. De modo semelhante, 𝐹e sen er é a componente da onda 𝐹e em quadratura com a onda 𝐹r. Assim, o conjugado é proporcional ao produto de um campo magnético pela componente do outro em quadratura consigo, muito semelhante ao produto vetorial da análise vetorial. Observa-se também que, na figura 1.41, item b) 𝐹e sen er = 𝐹er sen r (1.101) 𝐹r sen er = 𝐹er sen e (1.102) na qual, como visto na figura 1.40, r é o ângulo medido desde o eixo da onda de fmm resultante até o eixo da onda de fmm do rotor. De modo semelhante, e é o ângulo medido desde o eixo da onda de fmm do estator até o eixo da onda de fmm resultante. Modelagem de Máquinas Elétricas 58 58 O conjugado, que atua acelerando o rotor, pode então ser expresso em termos da onda de fmm resultante. Substituindo-se a equação (1.101) ou a equação (1.102) na equação (1.100), obtêm-se = - ( 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 2 ) ( 0 𝜋 𝐷 𝑙 2 𝑔 ) 𝐹e 𝐹er sen e (1.103) = - ( 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 2 ) ( 0 𝜋 𝐷 𝑙 2 𝑔 ) 𝐹r 𝐹er sen r (1.104) A comparação das equações (1.100), (1.103) e (1.104) mostra que o conjugado pode ser expresso em termos dos campos magnéticos componentes devidos a cada corrente isoladamente, como na equação (1.100), ou em termos do campo resultante e de qualquer um dos componentes, como nas equações (1.103) e (1.104), desde que se use o ângulo correspondente entre os eixos dos campos. Nas equações (1.100), (1.103) e (1.104), os campos foram expressos em termos dos valores de pico de suas ondas de fmm. Quando se despreza a saturação magnética, os campos podem, naturalmente, ser expressos em termos dos valores de pico de suas ondas de densidade de fluxo, ou em termos do fluxo total por polo. Assim, o valor de pico Bg de campo devido a uma onda de fmm distribuída senoidalmente em um entreferro uniforme de máquina é 0 𝐹g,pico / g, em que 𝐹g,pico é o valor de pico da onda de fmm. Por exemplo, a fmm resultante 𝐹er produz uma onda de densidade de fluxo resultante cujo valor de pico é Ber = 0 𝐹er / g., assim, 𝐹er = g Ber / 0 e, substituindo na equação (1.104), obtém-se = - ( 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 2 ) ( 𝜋 𝐷 𝑙 2 𝑔 ) Ber 𝐹r sen r (1.105) Uma das limitações inerentes ao projeto de aparelhos eletromagnéticos é a densidade de fluxo de saturação dos materiais magnéticos. Devido à saturação nos dentes da armadura, o valor de pico Ber da onda de densidade de fluxo resultante no entreferro é limitado a cerca de 1,5 a 2,0 T. O valor máximo admissível para a corrente de enrolamento, e consequentemente a correspondente onda de fmm, é limitado pela elevação de temperatura do enrolamento e por outros requisitos do projeto. Como a densidade de fluxo resultante e a fmm aparecem explicitamente na equação (1.105), essa equação está em uma forma conveniente aos propósitos de projeto. Ela pode ser usada para estimar o conjugado máximo que é possível de se obter com uma máquina de um dado tamanho. Modelagem de Máquinas Elétricas 59 59 Formas alternativas da equação de conjugado surgem quando se verifica que o fluxo resultante por polo é p = (valor médio de B em um polo) (área do polo) (1.106) e que o valor médio de uma senóide no intervalo de meio comprimento de onda é 2 / 𝜋 vezes o seu valor de pico. Assim, p = 2 𝜋 Bpico ( 𝜋 𝐷 𝑙 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 ) = ( 2 𝐷 𝑙 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 ) Bpico (1.107) em que Bpico é o valor de pico da respectiva onda de densidade de fluxo. Por exemplo, usando o valor de pico do fluxo resultante Ber e substituindo a equação (1.107) na equação (1.105), obtém-se = - 2 𝜋 ( 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 2 ) 2 er 𝐹r sem r (1.108) em que er é o fluxo por polo resultante que é produzido pelo efeito combinado das fmms do estator e do rotor. Revisando, tem-se diversas formas para expressar o conjugado de uma máquina de entreferro uniforme em termos de seus campos magnéticos. Todas são simplesmente expressões que o conjugado é proporcional ao produto dos módulos dos campos interatuantes, e ao seno do ângulo espacial elétrico entre os seus eixos magnéticos. O sinal negativo indica que o conjugado eletromecânico atua em um sentido tal que a distância angular entre os campos diminui. Neste estudo a equação (1.108) será a forma preferida. Durante a dedução, não houve restrições em relação as ondas de fmm ou de densidade de fluxo estacionárias no espaço. Elas podem permanecer estacionárias ou serem ondas em deslocamento. Como foi visto, se os campos magnéticos do estator e do rotor forem constantes em amplitude e se deslocarem ao redor do entreferro na mesma velocidade, um conjugado constante será produzido pela tendência dos campos do estator e do rotor a se alinhar entre si de acordo com as equações do conjugado. 1.9 MÁQUINAS LINEARES Em geral, cada um dos tipos de máquina discutidos aqui pode ser produzido em versões lineares, além das versões rotativas que comumente são encontradas. Talvez o uso mais largamente conhecido dos motores lineares seja no campo dos Modelagem de Máquinas Elétricas 60 60 transportes. Nessas aplicações, motores de indução lineares são usados. Tipicamente o estator CA está no veículo em movimento, e um rotor estacionário condutor constitui os trilhos. Nesses sistemas, além de propiciar a propulsão, as correntes induzidas nos trilhos podem ser usadas para produzir levitação, oferecendo assim um mecanismo de transporte a alta velocidade, sem as dificuldades associadas com as interações que ocorrem entre as rodas e os trilhos no transporte mais convencional efetuado com trilhos. Os motores lineares também encontraram aplicação na indústria de máquinas de ferramentas e em robótica onde o movimento linear (necessário para o posicionamento e a operação de manipuladores) é um requisito comum. Acrescentando, as máquinas alternativas (recíprocas) lineares estão sendo construídas para o acionamento de compressores e alternadores recíprocos. A análise de máquinas lineares é muito similar à das máquinas rotativas. Em geral, dimensões e distâncias lineares substituem as angulares, e forças substituem os conjugados. Com essas exceções, as expressões para os parâmetros de máquina são desenvolvidas de modo análogo aos apresentados aqui para as máquinas rotativas, e os resultados são semelhantes em forma. Considerando o enrolamento linear, mostrado na figura 1.42, que consiste em N espiras por ranhura e conduz uma corrente i, é diretamente análogo ao enrolamento circular mostrado em forma desenvolvida na figura 1.31. De fato, a única diferença é a substituição angular a pela linear z. Figura 1.42: A fmm e o campo H de um enrolamento linear concentrado de passo pleno. A componente fundamental da onda de fmm da figura 1.42 pode ser encontrada diretamente da equação (1.36) simplesmente verificando que esse enrolamento tem um comprimento de onda igual a e que a componente fundamentaldessa onda de fmm varia de acordo com (2 𝜋 z / ). Assim, substituindo o ângulo a na equação 1.36 por 2 𝜋 z / , pode-se obter a componente fundamental da onda de fmm diretamente como Hg1 = 4 𝜋 ( 𝑁 𝑖 2 𝑔 ) cos ( 2𝜋 𝑧 ) (1.109) Se uma máquina real tiver um enrolamento distribuído (similar a seu equivalente circular, mostrado na figura 1.26) consistindo em um total de Nfase Modelagem de Máquinas Elétricas 61 61 espiras distribuídas em p períodos ao longo do eixo z (isto é, em um comprimento de p ), a componente fundamental de Hg pode ser encontrada, por analogia com a equação (1.38), como sendo Hg1 = 4 𝜋 ( 𝑘𝑒𝑛𝑟 𝑁𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑖 2 𝑝 𝑔 ) cos ( 2𝜋 𝑧 ) (1.110) em que kenr é o fator de enrolamento. Um enrolamento trifásico linear pode ser construído a partir de três enrolamentos como os da figura 1.37. Cada fase está deslocada em posição de uma distância / 3, e as fases são excitadas por correntes trifásicas equilibradas de frequência angular e ia = Im cos e t (1.111) ib = Im cos ( e t – 120º) (1.112) ic = Im cos ( e t + 120º) (1.113) Seguindo o desenvolvimento das equações (1.50) até (1.62), pode-se constatar que haverá uma única fmm progressiva positiva que pode ser escrita diretamente da equação (1.62), simplesmente substituindo a por 2 𝜋 z / F+ (z, t) = 3 2 𝐹max cos ( 2 𝜋 𝑧 𝛽 − 𝑤𝑒 𝑡) (1.114) em que 𝐹max é dada por 𝐹max = 4 𝜋 ( 𝑘𝑒𝑛𝑟 𝑁𝑓𝑎𝑠𝑒 2 𝑝 ) Im (1.115) Da equação (1.114), pode-se ver que o resultado é uma onda de fmm que se desloca na direção z com uma velocidade linear 𝑣= 𝑤𝑒 2 𝜋 = 𝑓e (1.116) em que 𝑓e é a frequência de excitação em Hertz. 1.10 SATURAÇÃO MAGNÉTICA As características das máquinas elétricas dependem em muito do uso de materiais magnéticos. Esses materiais são necessários para formar o circuito magnético e são usados pelos projetistas das máquinas para obter as características específicas delas. A maioria dos materiais magnéticos estão abaixo do ideal. À Modelagem de Máquinas Elétricas 62 62 medida que o fluxo magnético é aumentado, eles começam a saturar, com o resultado de que suas permeabilidades magnéticas começam a diminuir, assim como a sua efetividade em contribuir à densidade de fluxo total da máquina. O conjugado eletromecânico e a tensão gerada em todas as máquinas dependem dos fluxos concatenados em seus enrolamentos. Para fmms específicas nos enrolamentos, os fluxos dependem das relutâncias das partes de ferro dos circuitos magnéticos e das relutâncias dos entreferros. Portanto, a saturação pode influenciar apreciavelmente as características das máquinas. Outro aspecto da saturação, mais sutil e difícil de ser avaliado sem comparações experimentais e teóricas, relaciona-se à influência da saturação sobre as premissas básicas a partir das quais a abordagem analítica das máquinas é desenvolvida. Especificamente, as relações envolvendo a fmm de entreferro baseiam-se tipicamente na suposição de que a relutância do ferro é desprezível. Quando essas relações são aplicadas às máquinas na prática, com graus variados de saturação no ferro, erros significativos nos resultadas das análises podem ser esperados. Por essas razões, para aperfeiçoar tais relações analíticas, a máquina real pode ser substituída por uma máquina equivalente, uma cujo ferro tem relutância desprezível, mas cujo entreferro é aumentado de um valor suficiente para absorver a queda de potencial magnético no ferro da máquina real. Do mesmo modo, os efeitos das não uniformidades, tais como ranhuras e os condutos de ventilação, também podem ser incorporados aumentando-se o comprimento efetivo do entreferro. No final, essas diversas técnicas de aproximação devem ser verificadas e confirmadas experimentalmente. Nos casos em que se constatar que essas técnicas simples são inadequadas, análises detalhadas, como as que empregam elementos finitos ou outras técnicas numéricas, podem ser usadas. No entanto, deve-se ter em mente que o uso dessas técnicas representam um aumento significativo da complexidade da modelagem. As características de saturação das máquinas rotativas são apresentadas tipicamente na forma de uma característica de circuito aberto ou vazio, também chamada curva de magnetização ou curva de saturação. Um exemplo está mostrado na figura 1.43. Essa característica representa a curva de magnetização para a geometria do ferro e do ar em particular da máquina sob análise. Para uma máquina síncrona, a curva de saturação de circuito aberto é obtida operando a máquina em velocidade constante e medindo a tensão de armadura do circuito aberto em função Modelagem de Máquinas Elétricas 63 63 da corrente de campo. A linha reta tangente à porção inferior da curva é a linha de entreferro, correspondendo aos níveis baixos de fluxo dentro da máquina. Sob essas condições, a relutância do ferro da máquina é tipicamente desprezível, e a fmm necessária para excitar a máquina é simplesmente a necessária para superar a relutância do ar. Se não fosse pelos efeitos da saturação, a linha de entreferro e a característica de circuito aberto iriam coincidir. Assim, o afastamento entre a curva e a linha de entreferro é uma indicação do grau de saturação presente. Em máquinas típicas, na tensão nominal, a razão entre a fmm total e a requerida apenas pelo entreferro está usualmente entre 1,1 e 1,25. Figura 1.43: Curva característica de circuito aberto típica e linha de entreferro. Na fase de projeto, a característica de circuito aberto pode ser calculada a partir de técnicas de projeto de dados, como a análise de elementos finitos. Uma solução típica de elementos finitos para a distribuição de fluxo ao redor do polo de uma máquina de polos salientes está mostrada na figura 1.44. A distribuição do fluxo de entreferro obtida com essa solução, juntamente com as componentes fundamental e de terceira harmônica, está mostrada na figura 1.45. Figura 1.44: Solução de elementos finitos para a distribuição de fluxo ao redor de um polo saliente. Figura 1.45: Onda de densidade de fluxo correspondente à figura 1.35 com suas componentes fundamental e de terceira harmônica. Além dos efeitos de saturação, a figura 1.45 ilustra claramente o efeito de um entreferro não uniforme. Como esperado, a densidade de fluxo ao redor da face polar, onde o entreferro é pequeno, é muito mais elevada que nas regiões mais afastadas do polo. Esse tipo de análise detalhada é de grande utilidade para um projetista obter as propriedades específicas de uma máquina. Como foi abordado, a curva de magnetização de uma máquina síncrona existente pode ser determinada operando a máquina como um gerador sem carga, e medindo os valores de tensão nos terminais correspondentes a uma série de valores de corrente de campo. Para um motor de indução, a máquina é operada na, ou próxima da, velocidade síncrona (caso em que uma corrente muito baixa será induzida nos enrolamentos do rotor), e valores de corrente de magnetização são Modelagem de Máquinas Elétricas 64 64 obtidos para uma série de valores aplicados de tensão de estator. Deve ser enfatizado, no entanto, que a saturação em uma máquina totalmente sob carga ocorre como resultado da fmm total, que atua no circuito magnético. Como a distribuição de fluxo sob carga é diferente, em geral, de quando não há cargas, os detalhes das características de saturação da máquina podem ser diferentes da curva de circuito aberto da figura 1.43. 1.11 FLUXOS DISPERSIVOS Em um transformador de dois enrolamentos, o fluxo criado por cada enrolamento pode ser decomposto em dois componentes. Um dos componentes consiste no fluxo que concatena ambos os enrolamentos, e o outro consiste no fluxo que concatena apenas o enrolamento que cria o fluxo.O primeiro componente, chamado de fluxo mútuo, é responsável pelo acoplamento das duas bobinas. O segundo, conhecido como fluxo dispersivo, contribui apenas à indutância própria de cada bobina. Observa-se que o conceito de fluxos mútuo e dispersivo é significativo apenas no contexto de sistemas de múltiplos enrolamentos. Para sistemas de três ou mais enrolamentos, a contabilidade deve ser feita com muito cuidado. Considerando-se, por exemplo, o sistema de três enrolamentos da figura 1.46, os vários componentes de fluxo, criados por uma corrente no enrolamento 1, estão mostrados esquematicamente. Aqui, 123 é claramente um fluxo mútuo que concatena todos os três enrolamentos, e 1d é claramente um fluxo dispersivo mútuo que concatena apenas o enrolamento 1. Entretanto, 12 é um fluxo mútuo com respeito ao enrolamento 2 e fluxo dispersivo em relação ao enrolamento 3, ao passo que 13 é fluxo mutuo com respeito ao enrolamento 3 e dispersivo em relação ao enrolamento 2. Figura 1.46: Sistema de três bobinas mostrando os componentes de fluxo mútuo e dispersivo produzidos pela corrente na bobina 1. Frequentemente as máquinas elétricas contêm sistemas com múltiplos enrolamentos, exigindo uma contabilidade cuidadosa para explicar as contribuições Modelagem de Máquinas Elétricas 65 65 de fluxo dos vários enrolamentos. É útil discutir esses efeitos de modo qualitativo e descrever como afetam as indutâncias básicas da máquina. Fluxos de harmônicas espaciais no entreferro: embora as bobinas distribuídas isoladamente produzam fluxo de entreferro com uma quantidade significativa de conteúdo harmônico espacial, é possível distribuir esses enrolamentos de modo que a componente fundamental espacial seja enfatizada ao passo que os efeitos das harmônicas sejam grandemente reduzidos. Como resultado, pode-se desprezar os efeitos das harmônicas e considerar apenas os fluxos fundamentais espaciais ao deduzir as expressões de indutâncias próprias e mútua. Mesmo sendo frequentemente pequenas, as componentes harmônicas espaciais existem de fato. Em máquinas CC, elas constituem fluxos úteis produtores de conjugado e, portanto, podem ser contabilizadas como fluxo mútuo entre os enrolamentos do rotor e do estator. Em máquinas CA, entretanto, elas podem gerar tensões harmônicas no tempo ou ondas de fluxo que giram assincronamente. Geralmente, não há como incluí-las com rigor na maioria das análises comuns. No entanto, é consistente com as suposições básicas dessas análises constatar que esses fluxos formam uma parte do fluxo dispersivo dos enrolamentos individuais que os produzem. Fluxo dispersivo de ranhura: a figura 1.47 mostra o fluxo criado por um único lado de uma bobina em uma ranhura. Observa-se que, além do fluxo que cruza o entreferro, contribuindo para o fluxo de entreferro, há componentes de fluxo que atravessam a ranhura. Como esse fluxo concatena apenas a bobina que o está produzindo, ele se constitui também em uma importante indutância de dispersão do enrolamento que o produz. Figura 1.47: Fluxo criado por um lado de uma bobina em uma ranhura. Dispersão de cabeça de espira: a figura 1.48 mostra as terminações dos enrolamentos (cabeça) do estator em uma máquina CA. A distribuição do campo magnético criada pela cabeça das espiras é extremamente complexa. Em geral, esses fluxos não contribuem para o fluxo mútuo entre o rotor e o estator, contribuindo também, desse modo, para a indutância de dispersão. Modelagem de Máquinas Elétricas 66 66 Figura 1.48: Vista da extremidade do estator de um gerador a turbina 26 kV, 908 MVA e 3.600 rpm com enrolamentos refrigerados a água. Conexões hidráulicas para o fluxo de refrigeração são fornecidas para cada espira de terminação do enrolamento. Dessa discussão, vê-se que a expressão da indutância própria da equação L = 4 0 𝑙 𝑟 𝜋 𝑔 ( 2 𝑘𝑒𝑛𝑟 𝑁𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 ) 2 = 16 0 𝑙 𝑟 𝜋 𝑔 ( 𝑘𝑒𝑛𝑟 𝑁𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 ) 2 (1.117) deve, em geral, ser modificada por um termo adicional Ld, que representa a indutância de dispersão do enrolamento. Essa indutância de dispersão corresponde à indutância de dispersão de um enrolamento de transformador. Embora a indutância de dispersão seja usualmente difícil de ser calculada analiticamente e deva ser determinada por técnicas aproximativas ou empíricas, ela desempenha um papel importante no desempenho das máquinas. 1.12 EXEMPLOS 1.12.1 EXEMPLO 1.1 Um gerador de 60 Hz síncrono trifásico de dois polos ligados em Y e rotor cilíndrico tem um enrolamento de campo com Nf espiras distribuídas e um fator de enrolamento kf. O enrolamento de armadura tem Na espiras por fase e fator de enrolamento ka. O comprimento do entreferro é g, e o raio médio do entreferro é r. o comprimento ativo do enrolamento de armadura é 𝑙. as dimensões e os dados do enrolamento são Nt = 68 espiras em série; Na = 68 espiras em série / fase; r = 0,53 m; 𝑙 = 3,8 m; kf = 0,945; ka = 0,933; g = 4,5 cm. O rotor é acionado por uma turbina a vapor a uma velocidade de 3.600 rpm. Para uma corrente contínua de campo de If = 720 A, calcule a) A fmm fundamental de pico (𝐹g1)pico produzida pelo enrolamento de campo; Modelagem de Máquinas Elétricas 67 67 b) A densidade de fluxo fundamental de pico (Bg1)pico no entreferro; c) O fluxo fundamental por polo p; d) O valor eficaz da tensão gerada em circuito aberto na armadura. Solução: a) Da equação (1.31), (𝐹g1) pico = 4 𝜋 ( 𝑘𝑟 𝑁𝑟 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 ) Ir = 4 𝜋 ( 0,945 𝑥 68 2 ) 720 = 4 𝜋 (32,1) 720 = 2,94 x 104 Aespiras/polo b) Usando a equação (1.35) (Bg1)pico = 0(𝐹𝑔1)𝑝𝑖𝑐𝑜 𝑔 = 4 𝜋 𝑥 10−7 𝑥 2,94 𝑥 104 4,5 𝑥 10−2 = 0,821 T Devido ao efeito das ranhuras que contém o enrolamento de armadura, a maioria do fluxo de entreferro está confinada aos dentes do estator. A densidade de fluxo dos dentes no centro de um polo é mais elevada que o valor calculado na parte b), provavelmente cerca de 2 vezes mais. Em um projeto detalhado, essa densidade de fluxo deve ser calculada para se determinar se os dentes estão excessivamente saturados. c) Usando a equação (1.68) p = 2 (Bg1)pico 𝑙 r = 2 (0,821) (3,8) (0,53) = 3,31 Wb d) Usando a equação (1.73) Eef,fase = 2 𝜋 𝑓me ka Na p = √2 𝜋 (60) (0,933) (18) (3,31) = 14,8 kV eficazes A tensão de linha, é, portanto Eef,linha = √3 (14,8) = 25,7 kV eficazes. 1.12.2 EXEMPLO 1.2 Um motor síncrono de quatro polos, operando a 1.800 rpm e 60 Hz tem um entreferro de 1,2 mm. O diâmetro médio do entreferro é 27 cm, e seu comprimento axial é 32 cm. O enrolamento do rotor tem 786 espiras e um fator de enrolamento de 0,976. Supondo que razões térmicas limitem a corrente do rotor a 18 A, estime o conjugado e a potência de saída máximos que se pode esperar obter dessa máquina. Modelagem de Máquinas Elétricas 68 68 Solução: Primeiro, pode-se determinar a fmm do rotor máxima a partir da equação (1.31), (𝐹r) max = 4 𝜋 ( 𝑘𝑟 𝑁𝑟 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 ) (Ir)max = 4 𝜋 ( 0,976 𝑥 786 2 ) 18 = 4 𝜋 (32,1) 720 = 4.395 A espiras/polo Supondo que o valor de pico do fluxo de entreferro resultante esteja limitado a 1,5 T, pode-se estimar o conjugado máximo a partir da equação (1.105) tornando r igual a - 𝜋/2 (lembrando que valores negativos de r, com a fmm do rotor atrasada em relação à fmm resultante, correspondem a um conjugado positivo, motor). max = ( 𝑝𝑜𝑙𝑜𝑠 2 ) ( 𝜋 𝐷 𝑙 2 𝑔 ) Ber (𝐹r)max = ( 4 2 ) ( 𝜋 𝑥 0,27 𝑥 0,32 2 ) x 1,5 x 4.400 = 1.790 Nm Para uma velocidade síncrona de 1.800 rpm, tem-se m = ns = 1800 (𝜋/30) rad/s, e assim a potência correspondente pode ser calculada como Pmax= m max = 337 kW. 1.12.3 EXEMPLO 1.3 Um motor CA trifásico linear tem um enrolamentocom um comprimento de onda de = 0,5 m e um entreferro com 1,0 cm de comprimento. Um total de 45 espiras, com um fator de enrolamento de kenr = 0,92 é distribuído em um comprimento total de enrolamento de 3 = 1,5 m. Supõe-se que os enrolamentos sejam excitados com correntes trifásicas equilibradas de amplitude de pico de 700 A e frequência 25 Hz. Calcule: a) A amplitude da onda de fmm resultante; b) A densidade de fluxo de pico correspondente no entreferro; c) A velocidade dessa onda progressiva de fmm. Solução: a) Das equações (1.114) e (1.115), a amplitude da onda de fmm resultante é 𝐹pico = 3 2 4 𝜋 ( 𝑘𝑒𝑛𝑟 𝑁𝑓𝑎𝑠𝑒 2 𝑝 ) Im = 3 2 4 𝜋 ( 0,92 𝑥 45 2 𝑥 3 ) 700 = 8,81 x 103 A/m Modelagem de Máquinas Elétricas 69 69 b) A densidade de fluxo de pico no entreferro pode ser obtida a partir do resultado da parte a) dividindo pelo comprimento do entreferro e multiplicando por 0 Bg1 = 0𝐹𝑝𝑖𝑐𝑜 𝑔 = 4 𝜋 𝑥 10−7 𝑥 8,81 𝑥 103 0,01 = 1,11 T c) Finalmente, a velocidade da onda progressiva pode ser determinada a partir da equação (1.116) 𝑣= 𝑓e = 25 x 0,5 = 12,5 m/s
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