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A DIDÁTICA NAS TENDÊNCIAS NÃO CRÍTICAS TRADICIONAL E PROGRESSIVISTA: UM ESTUDO DE SUAS CONTRIBUIÇÕES RESUMO O texto procura apresentar as principais contribuições da didática nas tendências não críticas tradicional e progressivista a partir da análise dos aspectos mais relevantes do referencial teórico destas concepções pedagógicas. Será feito um estudo das dimensões da didática abordadas pelas concepções tradicional e liberal renovada e os temas fundamentais da didática considerados por esses enfoques educativos. Por que estudar ainda sobre a didática nas tendências não críticas da educação? Este trabalho defende que há características teóricas importantes para a prática educacional que foram produzidas pelas didáticas tradicional e progressivista. Dessa forma, o objetivo geral deste trabalho é compreender a didática nas tendências não críticas como uma parte importante da história da didática e ainda essencial para os dias atuais. Para cumprir esse objetivo serão analisadas a vida e a obra dos principais autores de cada vertente pedagógica liberal e suas principais contribuições teóricas. A metodologia usada, portanto, foi uma ampla investigação bibliográfica. Concluiu-se que a didática nas tendências não críticas tradicional e renovada é ainda hoje importante para os educadores que podem e devem utilizar-se dos seus arsenais teóricos e práticos em suas práticas pedagógicas quando e onde for mais conveniente. Palavras-chave: Contribuições; Tendências não críticas; Tradicional; Progressivista ABSTRACT The text seeks to present the main contributions of didactics in traditional and progressive non-critical tendencies based on the analysis of the most relevant aspects of the theoretical framework of these pedagogical conceptions. It will be done a study of the didactic dimensions addressed by the traditional and liberal conceptions renewed and the fundamental themes of didactics considered by these educational approaches. Why study further on didactics in the non-critical trends of education? This paper argues that there are important theoretical characteristics for the educational practice that were produced by the traditional and progressive pedagogy. Thus, the general objective of this work is to understand didactics in non-critical tendencies as an important part of the history of didactics and still essential for the present day. To fulfill this objective will be analyzed the life and work of the main authors of each liberal pedagogical strand and its main theoretical contributions. The methodology used, therefore, was an extensive bibliographical investigation. It was concluded that didactics in traditional and renewed non-critical trends is still important today for educators who can and should use their theoretical and practical arsenals in their pedagogical practices when and where it is most convenient. Keywords: Contributions; Non-critical trends; Traditional; Progressivist Lista de Tabelas Tabela 1: A didática nas tendências não críticas tradicional e progressivista: um estudo de suas contribuições.......................................................................................................11 Tabela 2: A tendência tradicional da educação: principais autores e contribuições........13 Tabelas 3: Principal obra e ideias de Comênio................................................................15 Tabela 4: Princípios básicos do método Pestallozzi........................................................18 Tabela 5: Método Pestallozzi na prática..........................................................................18 Tabela 6: Principais obras e ideias de Heinrich Pestalozzi.............................................19 Tabela 7: Principais obras e ideias de John Frederick Herbart........................................21 Tabela 8: A tendência liberal renovada progressivista da educação: principais autores e contribuições....................................................................................................................23 Tabela 9: Principais obras e ideias de Anísio Teixeira....................................................27 Tabela 10: Principais obras e ideias de Lourenço Filho..................................................30 Tabela 11: Principais obras e ideias de Fernando de Azevedo........................................32 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................8 CAPÍTULO I: CONTRIBUIÇÕES DA TENDÊNCIA TRADICIONAL DA EDUCAÇÃO.......................................................................................12 I.1 JOÃO AMOS COMENIO....................................................................14 I.2 HEINRICH PESTALOZZI....................................................................17 I.3 JOHN FREDERICK HERBART..........................................................20 CAPÍTULO II: CONTRIBUIÇÕES DA TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA PROGRESSIVISTA (ESCOLA NOVA)............................22 II.1 ANÍSIO TEIXEIRA.............................................................................26 II.2 LOURENÇO FILHO............................................................................29 II.3 FERNANDO DE AZEVEDO..............................................................31 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................33 REFERÊNCIAS ........................................................................................35 INTRODUÇÃO A educação é tanto um processo social como individual. Do ponto de vista social, a ação de educar existe por causa da sociedade e tem a função de mantê-la e reproduzi-la ou transformá-la. As mudanças na sociedade sucedem quando os indivíduos educados desenvolvem seus potenciais e modificam a realidade a sua volta. Do ponto de vista individual, educar-se significa desenvolver características humanas, suas aptidões, seus valores morais, sociais, culturais etc. Em todo lugar a educação pode ocorrer desde que haja agentes dispostos ao processo educativo. A educação acontece de forma sistemática ou assistemática. Sistemática quando é realizada de maneira planejada, organizada, consciente, por meio de tarefas, avaliações e tem o acompanhamento de profissionais especializados. Assistemática quando é feita de modo involuntário, em diversos locais e circunstâncias. A didática é uma área da educação que estuda o processo do ensino. Seu objeto de pesquisa é tanto o ensino como os procedimentos de construção da aprendizagem. Isto porque nem sempre o que se ensina é aprendido. O aprendizado depende de muito mais fatores do que apenas alguém disposto a ensinar. É necessário que haja também alguém disposto a aprender. Segundo Freire, “aprender precedeu o ensinar (...) [e] inexiste validade no ensino de que não resulta um aprendizado” (1997, p.26). Brilhante é a concepção de didática fornecida por Damis que além de considerar ambos aspectos, ensinar e aprender, chama a atenção para alguns outros fatores importantes. (...) a didática é, predominantemente, compreendida e analisada do ponto de vista da concepção do ato de ensinar que evidencia a atuação do professor ou como transmissor direto de conhecimentos específicos que se constituem em objetos de ensino, ou como agente que conduz e estimula democraticamente a aprendizagem do aluno no planejamento de atividades visando alcançar os objetivos pretendidos. Estimular e permitir a participação ativa dos alunos em experiências de aprendizagem que enfatizam a construção de conhecimentos, desenvolver projetos adequados aos interesses dos alunos, da comunidade escolar e da sociedade, utilizar novastecnologias de comunicação e informação, organizar trabalhos interdisciplinares e coletivos, são algumas das dimensões enfatizadas pelo conteúdo da didática, visando à transformação da prática educativa desenvolvida pela escola. (DAMIS, 2004, p.13,14) Para Libâneo (1994) a didática abrange as dimensões político, social e técnica. Segundo o autor, os temas fundamentais da didática são os objetivos sócio-pedagógicos; os conteúdos escolares; os princípios didáticos; e os métodos de ensino aprendizagem. A didática nas tendências não críticas tradicional e progressivista: um estudo de suas contribuições pretende analisar os aspectos mais relevantes do referencial teórico destas concepções pedagógicas: as dimensões da didática abordadas pelas concepções tradicional e liberal renovada e os temas fundamentais da didática propostos por Libâneo considerados por esses enfoques educativos. Por que estudar ainda sobre a didática nas tendências não críticas da educação ou tendências pedagógicas liberais, como denomina Libâneo? Essas pergunta será respondida no decorrer desta pesquisa. Este trabalho defende que há características teóricas importantes para a prática educacional que foram produzidos pelas didáticas tradicional e progressivista. Obviamente as teorias sofreram inúmeras críticas porém, acredito que existe um rico material teórico que precisa ser usado ainda hoje na prática escolar e também pelas próximas gerações de educadores e educandos. O objetivo geral deste trabalho é compreender a didática nas tendências não críticas como uma parte importante da história da didática e ainda essencial para os dias atuais. O educador pode e deve utilizar-se do arsenal teórico da pedagogia tradicional e renovada em sua prática pedagógica quando e onde for mais conveniente. Para tanto, analisarei a vida e a obra dos principais autores de cada vertente pedagógica liberal bem como suas principais contribuições teóricas. Este trabalho está dividido em cinco partes, uma introdução, o desenvolvimento com dois capítulos, as considerações finais e referência. Os dois capítulos estão subdivididos em algumas secções. O primeiro capítulo, Contribuições da Tendência Tradicional da Educação, subdivide-se em I.1 João Amos Comenio; I.2 Heinrich Pestalozzi e I.3 John Frederick Herbart. O segundo capítulo, Contribuições da Didática Renovada subdivide-se em II.1 Tendência liberal renovada progressivista (Escola Nova); II.1 Anísio Teixeira; II.2 Lourenço Filho; e II.3 Fernando de Azevedo. No capítulo 1 farei a descrição das contribuições da tendência tradicional da educação. Após essa introdução, vou examinar a vida e as obras mais importantes dos autores de maior influência deste enfoque educacional. O objetivo é analisar quais foram os progressos que as teorias da didática tradicional proporcionaram para o processo de ensino-aprendizagem. No capítulo 2 farei a descrição das contribuições do escolanovismo para a educação. Após essa introdução, realizarei a exposição dos aspectos mais relevantes da vida e obra dos autores que marcaram o enfoque escola novista. O objetivo é analisar quais foram os progressos que as teorias da didática renovada proporcionaram para o processo de ensino-aprendizagem. Esse estudo conta com um número significativo de tabelas para melhor tratamento do tema. A tabela 1, A didática nas tendências não críticas tradicional e progressivista: um estudo de suas contribuições, sintetiza as principais contribuições para a didática proporcionadas pelas tendências não críticas nesses enfoques educativos. A tabela 1 se encontra nesta introdução para apresentar um panorama do referencial teórico das didáticas tradicional e Escola Nova de forma que o leitor fique familiarizado com as características marcantes de cada enfoque antes da leitura subsequente dos capítulos. Nos capítulos serão analisados cada aspecto ressaltado por essa tabela. Como se pode perceber na tabela 1, as principais características da didática tradicional são: supervalorizar o método (Método único); valorizar o conteúdo; centrada no professor; aluno passivo; privilegiar a exposição oral; provas e arguições; e psicologia tipicamente racionalista. As principais características da didática renovada, por sua vez, são: tendência liberal renovada progressivista; é o indivíduo que aprende; centrado no aluno (ser ativo); métodos ativos; avaliação qualitativa; grande importância atribuída aos aspectos didáticos; professor é apenas um facilitador da aprendizagem; necessita de recursos didáticos em grande escala (laboratórios, salas –ambiente etc). A tabela 2, A tendência tradicional da educação: principais autores e contribuições e as tabelas 3 a 7, respectivamente Principal obra e ideias de Comênio; Princípios básicos do método Pestallozzi; Método Pestallozzi na prática; Principais obras e ideias de Heinrich Pestalozzi; e Principais obras e ideias de John Frederick Herbart estão no capítulo 1. A tabela 8, A tendência liberal renovada progressivista da educação: principais autores e contribuições, as tabelas 9, 10 e 11, respectivamente, Principais obras e ideias de Anísio Teixeira; Principais obras e ideias de Lourenço Filho; e Principais obras e ideias de Fernando de Azevedo. A metodologia usada foi uma ampla investigação bibliográfica. As referências teóricas contam com livros dos próprios autores analisados em cada capítulo e autores que escreveram sobre a vida, obra e ideias destes teóricos ou sobre as diferentes abordagens pedagógicas analisadas por esse trabalho. Toda essa literatura visa auxiliar o alcance dos objetivos propostos, geral e específicos, assim como responder as perguntas feitas acima. Por fim, nas considerações, farei um resumo das conclusões que chegou esta pesquisa. Tabela 1: A didática nas tendências não críticas tradicional e progressivista: um estudo de suas contribuições Didática Contribuições Tradicional ■ Supervalorização do método (Método único) ■ Valorização do conteúdo ■ Centrado no professor ■ Aluno como um ser passivo ■ Privilegia a exposição oral ■ Provas e arguições ■ Psicologia tipicamente racionalista Renovada ■ Tendência liberal renovada progressivista ■ É o indivíduo que aprende ■ Centrado no aluno (ser ativo) ■ Métodos ativos ■ Avaliação qualitativa ■ Grande importância atribuída aos aspectos didáticos ■ Professor é apenas um facilitador da aprendizagem ■ Necessita de recursos didáticos em grande escala (laboratórios, salas –ambiente etc) Capítulo I: Contribuições da tendência tradicional da educação Várias foram as contribuições da tendência tradicional da educação. Os pensadores deste enfoque pedagógico davam valor à formação do homem integral, ou seja, levavam em consideração não apenas a transmissão de conhecimentos por parte do professor e a aquisição dos mesmos por parte dos alunos. Havia a preocupação com as questões de ordem moral e espiritual. Educadores como Comênio, Pestalozzi e Herbart preocuparam-se com o ser humano completo. Pare esses autores, as pessoas precisavam aprender não somente os conhecimentos já atingidos pela humanidade. Era preciso aprender os valores que fazem um bom caráter. Portanto, não era uma questão de nascer bom ou ruim, mas de aprender a ser bom. Para mim, essa foi a maior contribuição dessa tendência educacional que, infelizmente, foi esquecida ou relegada a segundo plano pelas tendências educacionais subsequentes. A Didática Magna, escrita por Comênio foi um divisor de águas para as práticas educativas. Antes dessa obra não havia nenhum estudo tão completo, profundo e preciso sobre o assunto. Esse tratado é reconhecido como uma verdadeira Bíblia da didática, um manual que serve para qualquer pessoa em qualquer época que queira aprender a ensinar,ensinar a aprender e aprender a aprender. Outra contribuição importante da concepção da didática tradicional foi o reconhecimento da Pedagogia como Ciência. A partir desse grande passo, formularam- se teorias educacionais e sistematizou-se o processo de ensino-aprendizagem elevando- o ao status de um conjunto de regras que se bem praticadas se obteria o resultado desejado. Foi Herbart o responsável por essa mudança. Herbart também contribuiu para a educação sistematizando-a. Dividiu o ato de ensinar e o desenvolvimento da aprendizagem em cinco passos: preparação, apresentação, assimilação, generalização e a aplicação. Esse método é utilizado até hoje como os passos que devem ser dados para que se obtenha um bom resultado processo educacional. O pedagogo suíço Pestalozzi revolucionou a educação de sua época ao considerar o amor e o afeto como elementos imprescindíveis ao ato de ensinar e condenar o sistema de punições. Usando elementos da psicologia elaborou seu pensamento educativo. Com isso inspirou grandes autores a considerarem a psicologia na educação. Pestalozzi é reconhecido como mentor e reformador da escola popular por seu método que democratizou a educação. Na tabela 2 é apresentada uma síntese dos principais autores e suas contribuições para a tendência tradicional da educação. Tabela 2: A tendência tradicional da educação: principais autores e contribuições Autores Contribuições João Amos Comênio ■ Acreditava que o homem tinha como objetivo maior a felicidade eterna ■ Principal obra: Didática Magna, publicada em 1632 Heinrich Pestalozzi ■ Via a educação como fator de transformação social ■ Foi quem primeiro mostrou, de forma clara, que a educação deveria respeitar as características da criança John Frederick Herbart ■ Exerceu enorme influência na Didática e na Prática de Ensino ■ A Pedagogia Tradicional é inspirada em sua obra ■ Elaborou os quatro passos didáticos para o ensino, seguidos pela Pedagogia Tradicional: preparação e apresentação da matéria nova; estabelecimento de relações entre a matéria antiga e a nova; generalização e aplicação Fonte: Autora (2018) baseada em SANTOS E GRUMBACH (2012, p.20). I.1 João Amos Comênio Nasceu em 1592 em Nivnitz, na Morávia, antiga Boêmia e atual República Tcheca. Sua família era eslava e protestante. Como tornou-se órfão aos 12 anos e perdeu suas irmãs, foi morar com parentes, mas estes não lhe davam afeto. Comênio viveu e estudou na Alemanha e na Polônia. A rigidez da escola em que estudou onde era comum a violência, como a utilização de palmatórias e a falta de carinho de seus parentes após a morte de seus pais e irmãs inspirou o autor a elaborar os princípios de uma didática revolucionária para o século XVII. Foi pastor e foi obrigado a exilar-se por causa de disputas religiosas. Casou-se três vezes, tendo ficado viúvo nos dois primeiros casamentos. Foi o primeiro educador, no Ocidente, a estudar a relação ensino-aprendizagem fazendo a diferença entre o ensinar e o aprender. Sua principal obra, Didática Magna, evidencia as mudanças de ideias provocadas pela transição do sistema de produção feudal para o sistema de produção capitalista. Embora a base de sua didática fosse religiosa, juntou a esta as questões que emergiram com o surgimento do capitalismo. João Amos Comênio escreveu alguns livros durante a sua vida. Labirinto do Mundo (1623); Didática Checa (1627); Guia da escola moderna (1630); Porta aberta das línguas (1631); Didática Magna (versão latina da Didática Checa) (1631); e Novíssimo Método das Línguas (1647) entre outros escritos religiosos. Sua principal obra é, sem sombra de dúvida, Didática Magna. Este tratado sobre didática é marcado pela ousadia pois preconiza que irá ensinar tudo a todos de maneira simples e objetiva por intermédio de um método universal que funcionaria para qualquer pessoa de qualquer lugar e em qualquer situação em que se encontrasse. Nas palavras do autor: “Nós temos a audácia de prometer uma grande didática (...), um tratado completo para ensinar tudo a todos. E para ensinar de tal modo que os resultados sejam infalíveis”; e “Nós demonstraremos que tudo isto é, a princípio, retirado da natureza imutável das coisas (...) e que nós estabeleceremos, assim, um sistema universal válido para a instituição de escolas universais” (COMENIO, Citado por PIAGET, 2010, p.14) O principal fundamento da educação de Comênio, a universalidade, permitiria o homem colocar-se no mundo como autor e visava sua aproximação a Deus. O objetivo central do pastor era tornar os homens bons cristãos – sábios no pensamento, dotados de fé, capazes de praticar ações virtuosas estendendo-as a todos. Pode-se perceber na tabela 3 algumas das principais ideias de Didática Magna subjacentes ao princípio fundamental da universalidade: a finalidade da educação é conduzir a felicidade eterna com Deus; o homem deve ser educado de acordo com o seu desenvolvimento natural, isto é de acordo com suas características de idade e capacidade; a assimilação dos conhecimentos não se dá de forma imediata; o ensino deve seguir o curso da natureza infantil; por isto as coisas devem ser ensinadas uma de cada vez, entre outros. Tabela 3: Principal obra e ideias de Comênio Obra Ideias Didática Magna ■ A finalidade da educação é conduzir a felicidade eterna com Deus. ■ O homem deve ser educado de acordo com o seu desenvolvimento natural, isto é de acordo com suas características de idade e capacidade. ■ A assimilação dos conhecimentos não se dá de forma imediata. ■ O ensino deve seguir o curso da natureza infantil; por isto as coisas devem ser ensinadas uma de cada vez. Fonte: Autora baseada em Libâneo (1994). Outro fundamento da educação de Amos é o vínculo existente entre educação e natureza. Para o mestre, a educação deve seguir o mesmo padrão da natureza, ou seja, ser simples, lógica e harmônica. Piaget sintetiza este aspecto do pensamento do pai da didática: A ideia central é, sem dúvida, a natureza formadora que ao se refletir no espírito humano graças ao paralelismo entre o homem e a natureza, provoca, pela mesma ordem natural, o processo educativo. É a ordem das coisas que constitui o verdadeiro princípio educador, mas é uma ordem ativa, e o educador só poderá cumprir seu papel se permanecer um instrumento nas mãos da natureza. (Piaget, 2010, p.15) Outro ponto fundamental da educação de Comênio é o conhecimento, o autor defendia que este deveria partir do simples para o complexo e ser estabelecido de forma gradual. O conhecimento também seria internalizado por meio dos sentidos não somente através da figura do professor. O aluno produziria seu próprio conhecimento, enxergando, tocando, falando, sentindo. Segundo Piaget (2010, p.18), “Comênio pode, sem dúvida, ser considerado um dos precursores da ideia da genética na psicologia do desenvolvimento e o fundador de uma didática progressiva ajustada ao estágio de desenvolvimento que o aluno alcança”. Para o pai da didática, o problema da educação era a falta de método o que gerava dificuldades na aprendizagem dos alunos. No entanto, com o método proposto por ele, todos poderiam aprender. Esse método denominado simultâneo englobava um currículo comum, a adequação dos conhecimentos às crianças, a adaptação dos materiais, a aplicação dos conhecimentos e uma escola que ensine professores. O método simultâneo era chamado assim porque um professor ensinaria a múltiplos alunos. Naquela época o ensino era individualizado, ou seja, o professor ensinava a um aluno por vez. Para Comênio, o professor deveria fazer perguntas na frente de todos os alunos ao invés de interagir individualmente. O autor defendia que houvesse monitores para auxiliarem diversos gruposde alunos ou atendessem as necessidades individuais. O propósito do currículo comum era estabelecer uma série de conhecimentos a serem ensinados a qualquer pessoa em qualquer lugar. Deveria ser simples, sem excessos, para não distrair o espírito do aluno e impedi-lo de consolidar seu aprendizado. A adequação dos conhecimentos às crianças e a adaptação dos materiais foram pensadas para atender as demandas específicas infantis. A forma da criança enxergar o mundo, de pensar e de comportar-se necessitava de materiais mais adequados que facilitassem o acesso delas e a sua obtenção do conhecimento. A aplicação dos conhecimentos considerava que os conhecimentos poderiam ser esquecidos pelos alunos, serem levados pelo vento quando eles saíssem da escola, logo, era necessário que fossem úteis para os estudantes, tivessem aplicação prática, não somente teórica. A defesa de uma escola que ensinasse professores propunha que, se todo professor aprendesse esse “método perfeito”, a educação seria então perfeita e impediria que os professores agissem de forma errada. A padronização do ensino por parte dos docentes iria proporcionar o preparo e o crescimento dos discentes tanto na esfera intelectual como na moral. Apesar de todos os avanços que proporcionou para a Educação, revolucionando a sua época, as ideias do autor foram alvo de críticas. Segundo os críticos da obra de Comênio, o método proposto por ele trouxe prejuízos para a educação. A ênfase no ensino universal desde o início do aluno na vida escolar prejudicaria sua capacidade educativa e a formação de seu senso crítico. Deste modo, a didática de Amos acabava por atribuir ao conhecimento transmitido uma função muito mais utilitarista do que social, dirigida apenas para fins profissionais futuros. I.2 Heinrich Pestalozzi Nasceu em 1746 em Zurich na Suiça. Considerado o pai da psicologia moderna, Pestalozzi foi influenciado pelas ideias de Rousseau e influenciou grandes nomes com Herbart e Fröbel. Este pensador apaixonado pela ação é lembrado até hoje principalmente por sua ajuda aos mais necessitados e porque incorporou o amor e o afeto na sua teoria educacional. Foi responsável pelo orfanato de Stan, na Suíça. Lá realizou experiências pedagógicas com os órfãos, desenvolvendo suas novas práticas educativas, combinando-as com trabalhos manuais (Soëtard, 2010). Morreu em 1826 na cidade de Brug. Seu pensamento educativo baseado no amor e no afeto revolucionou o sistema educacional de sua época. Segundo o autor “só o amor é a eterna fonte da divindade que está entronizada dentro de nós. Ela é o núcleo de onde emana o essencial da educação.” (Pestalozzi). Também é desse grande educador a frase: “Sem amor, nem as forças físicas da criança, nem as de natureza intelectual encontram pleno desenvolvimento.” (Pestalozzi). Por ser um defensor declarado do amor condenava o sistema de punições: “O amor não tiraniza: cria e constrói.” (Pestalozzi). As ideias educacionais do denominado salvador dos pobres percorreram o mundo. Usando elementos da psicologia psicologizou a educação. Dessa maneira inspirou grandes autores a considerarem a psicologia na educação. Pestalozzi preocupava-se com a formação do homem integral, ou seja, sua educação intelectual, física, profissional e moral. Além disso, o fundador da escola popular primária democratizou a educação ao declarar que ela era um direito de toda a criança para que desenvolvesse plenamente os poderes dados por Deus. Para o pedagogo suíço a educação e o conhecimento libertavam as crianças, formando nelas espíritos livres. Para Pestallozzi o lar era “o fundamento de toda a educação natural da humanidade.” (Pestalozzi). Segundo o pai dos órfãos de Stan, a educação escolar era extensão da educação no lar porque preparava os alunos para a vida. O método Pestalozzi é aclamado em todo o mundo tanto por sua clareza como por respeitar o nível de desenvolvimento da criança e suas particularidades. De acordo com Soëtard (2010, p.32), [Pestalozzi] fundou seus métodos no conhecimento da criança, adaptando-os ao seu nível de desenvolvimento. (...) acreditando eficazmente em seu método a tal ponto que tinha certeza que bastava aplica-lo para surtisse os efeitos desejados. Buscou um método de ensino tão fácil, que poderia ser aplicado por qualquer um, até pela menos instruída das mães. Na tabela a seguir são apresentados os princípios básicos do método do pedagogo. Tabela 4: Princípios básicos do método Pestallozzi Toda a aprendizagem passa pelos sentidos É necessário reforçar a aprendizagem através de exercícios Os progressos do aluno devem ser acompanhados passo a passo A atividade da criança deve ser incentivada, oferecendo-lhe oportunidade para ação, iniciativa e criação. A criança deve construir sua autonomia intelectual e moral, aprendendo a aprender Os educadores também devem ser educados Fonte: Extraído de < http://pgl.gal/pestalozzi-o-educador-da-humanidade-documentario-da-serie-grandes- educadores/> acesso em 16 de janeiro de 2019. O pedagogo foi um homem de ação mais do que palavras. Uma frase do próprio educador revela isso: "A vida educa. Mas a vida que educa não é uma questão de palavras, e sim de ação. É atividade." (Pestalozzi). Por esse motivo pode-se ver na tabela cinco como era o método Pestalozzi na prática. Tabela 5: Método Pestallozzi na prática As turmas eram formadas com os menores de oito anos, com os alunos entre oito e onze anos e outra turma com idades de onze a dezoito anos. As atividades escolares duravam das 8 às 17 horas e eram desenvolvidas de modo flexível. Os alunos rezavam, tomavam banho, faziam o desjejum, faziam as primeiras lições, havendo um curto intervalo entre elas (ensino integral). Duas tardes por semana eram livres, e os alunos realizavam excursões. Os problemas disciplinares eram discutidos à noite. Condenava a coerção, as recompensas e punições. O desenvolvimento é orgânico, sendo que a criança se desenvolve por leis definidas. A gradação deve ser respeitada; o método deve seguir a natureza; a impressão sensorial é fundamental e os sentidos devem estar em contato direto com os objetos; a mente é ativa; o professor é comparado ao jardineiro que providencia as condições propícias para o crescimento das plantas. Crença na educação como o meio supremo para o aperfeiçoamento individual e social. Fundamentação da educação no desenvolvimento orgânico mais que na transmissão de ideias memorizáveis. A educação começa com a percepção de objetos concretos e consequentemente com a realização de ações concretas e a experimentação de respostas emocionais reais. O desenvolvimento é uma aquisição gradativa. Cada forma de instrução deve progredir de modo lento e gradativo. Conceituação de disciplina baseada na boa vontade recíproca e na cooperação entre aluno e professor. Introdução de novos recursos metodológicos. Deu impulso à formação de professores e ao estudo da educação como uma ciência. Fonte: Extraído de < http://pgl.gal/pestalozzi-o-educador-da-humanidade-documentario-da-serie-grandes- educadores/> acesso em 16 de janeiro de 2019. http://pgl.gal/pestalozzi-o-educador-da-humanidade-documentario-da-serie-grandes-educadores/ http://pgl.gal/pestalozzi-o-educador-da-humanidade-documentario-da-serie-grandes-educadores/ http://pgl.gal/pestalozzi-o-educador-da-humanidade-documentario-da-serie-grandes-educadores/ http://pgl.gal/pestalozzi-o-educador-da-humanidade-documentario-da-serie-grandes-educadores/ Por fim, a tabela 6 apresenta as principais obras e ideias do autor. Tabela 6: Principais obras e ideias de Heinrich Pestalozzi Obras Ideias Leonardo e Gertrudes ■ Pestalozzi anuncia suas ideias educacionais Como Gertrudes ensina seus filhos ■ Busca responde quais as finalidades eos meios da educação ■ Procura saber que conhecimentos e habilidades práticas são necessários à criança e como poderiam ser oferecidos a ela pelo professor ou, então, serem adquiridas por ela mesma Diário de um pai ■ Com intenções de estudos psicológicos, acompanha durante várias semanas os progressos de seu filho Jacques Minhas investigações sobre o curso da natureza no desenvolvimento da raça humana ■ Sobre a essência e o destino da humanidade Mãe e filho ■ Compêndio de sua doutrina Fonte: Autora (2018) baseada em Soëtard (2010). I.3 John Frederick Herbart O criador da Pedagogia como ciência e disciplina acadêmica nasceu na Alemanha em 1776 e faleceu em 1841. Filósofo, professor e pedagogo, Herbart foi um dos sucessores de Pestalozzi. Sua forte ligação com a psicologia se tornou a base para seu pensamento educativo. Defendia que “a ética determina os fins da educação e a psicologia regula seus meios” (Herbart,s.d.,p.9) e que a mente dos indivíduos é formada por representações, tais como imagens, ideias ou qualquer outra forma de manifestação psíquica. Para o autor, a Pedagogia teria o objetivo de modelar as representações dos indivíduos. Herbart fazia distinção entre instrução e educação. De acordo com ele, a instrução é o “objeto principal da educação” ao mesmo tempo subordina a noção de instrução à de educação (Hilgenheger, 2010). Mas qual a diferença entre ambas? “A educação se preocupa em formar o caráter e aprimorar o ser humano. A instrução veicula uma representação do mundo, transmite conhecimentos novos, aperfeiçoa aptidões preexistentes e faz despontar capacidades úteis.” (HILGENHEGER, 2010, p.14). Considerado um dos pioneiros da sistematização da educação, Herbart divide o ato de ensinar e o desenvolvimento da aprendizagem em cinco passos: preparação, apresentação, assimilação, generalização e a aplicação. A preparação é a fase no qual se relacionam o novo conteúdo a conhecimentos que o aluno já tenha, para despertar o seu interesse. A apresentação é o estágio da demonstração do conteúdo. A assimilação é o passo em que são feitas associações e comparações meticulosas com conteúdos anteriores. A generalização é a fase em que se formulam regras globais onde se desenvolve a mente para além da percepção imediata. Por fim, a aplicação é o estágio da teoria sendo colocada em prática mostrando sua utilidade. O sistema educacional herbartiano por ser amplo e completo pode ser aplicado desde a primeira infância até a adolescência. “Partindo do papel do adulto na educação da criança, Herbart define a educação moral como forma de desenvolver na criança uma inteligência e uma vontade adequadas.” (DAMIS, 2004, p. 20). Segundo Herbart, a ação pedagógica se orienta através de três procedimentos, o governo, a instrução e a disciplina, sendo a instrução o mais importante por constituir-se a base da educação. O governo seriam os pais, que desenvolvem o papel de primeiros educadores e, após eles, os professores. A disciplina teria a função de conservar a vontade no caminho da virtude, preocupando-se com a formação moral dos estudantes. O ponto máximo de sua teoria pedagógica é o que chamou de “liberdade interior” cujo significado é a libertação da criança de todas as influências exteriores para que se torne um ser autônomo, com capacidade para perceber em seu interior regras de conduta e preceitos morais. Na tabela 7 são apresentadas as principais obras e ideias do pedagogo, professor e filósofo. Tabela 7: Principais obras e ideias de John Frederick Herbart Obras Ideias Pedagogia Geral ■ Analisa os fins da educação sob o ângulo da ética e os meios da educação numa perspectiva psicológica. ■ Não concebe educação sem instrução. ■ Explicita os traços do ensino que permitem atingir os objetivos da formação de caráter. A ideia de Pestalozzi de um ABC da intuição ■ Aparecem conceitos fundamentais da pedagogia de Herbart: o de interesse e de graus formais. Ideias para um plano de estudos para escolas secundárias ■ Trata do objetivo da educação Formação de um caráter moral ■ Chega à ética através da pedagogia Sobre o mais recente escrito de Pestalozzi: Como Gertrud ensina os filhos ■ Faz um confronto entre as suas doutrinas e as de Pestalozzi Pedagogia geral deduzida da finalidade da educação ■ Trata dos objetivos da instrução educativa com base na ética. Ditados de pedagogia ■ Aborda a possibilidade e a necessidade da educação, seus fins e seus meios. Esboço de lições de Pedagogia/ As 35 cartas Pedagógicas ■ Contém os últimos desenvolvimentos do seu pensamento pedagógico Sobre a representação estética do mundo como objeto principal da educação/ Cartas sobre a aplicação da psicologia na pedagogia ■ Os meios educativos e, em particular a instrução, são o objeto da parte psicológica. Fonte: Autora (2019) baseada em HILGENHEGER (2010). Capítulo II: Contribuições da Tendência Liberal Renovada Progressivista (Escola Nova) O nome tendência liberal renovada progressivista ou Escola Nova indica muito de suas ideias. Liberal porque assume os pressupostos do liberalismo. A designação renovada refere-se a proposta de renovação escolar. Já o termo progressivista foi cunhado por Anísio Teixeira para designar o papel da educação numa sociedade em transformação, devido ao desenvolvimento científico. Essa concepção pedagógica também é denominada de Escola Nova, devido as suas propostas educativas inovadoras, contrapondo-se as antigas proposições elaboradas pela pedagogia tradicional. A Escola Nova nasce no final do século XIX. Tinha como bandeira a democratização e transformação da sociedade por meio da educação. Para que isso acontecesse propunha a escola pública, gratuita, mista, laica e obrigatória. Esse movimento educacional surge “para propor novos caminhos à educação, que se encontra em descompasso com o mundo no qual se acha inserida” (ARANHA, 1996, p.167). Os proponentes das teorias liberais de educação defendiam a preparação dos alunos para assumir seus papéis na sociedade em que estavam. Os escolanovistas, inseridos na recém inaugurada república e imbuídos dos ideais capitalistas burgueses davam respaldo ao desenvolvimento do sistema econômico e político incipiente. Como escreveu Aranha (2006, p.303) sobre os representantes da Escola Nova, Eles representavam o liberalismo democrático e os anseios da burguesia capitalista urbana em ascensão. (...) os disseminadores da “ilusão liberal” da “escola redentora da humanidade”, segundo a qual a educação constituiria a mola da democratização da sociedade. Os professores que idealizaram e apoiaram o escolanovismo foram responsáveis por várias reformas educacionais nos estados brasileiros além de terem escrito amplo material sobre o que acreditavam ser o melhor para o desenvolvimento da educação no país. A tabela 6 apresenta os principais autores e contribuições da tendência liberal renovada progressivista. Veja o que escreve Monarcha (2010, p.14) sobre a geração em que nasceram os educadores dessa vertente pedagógica, ‘geração de 1920’, geração construtora, sumamente empenhada na invenção de outro sistema de expressão e de vida para, assim, superar os impasses próprios de uma formação social saturada de tensões e conflitos. Ao optarem pela educação pública como via privilegiada para a construção de um Brasil moderno, os intelectuais dessa geração deixaram forte marca na cultura brasileira. O objetivo principal dos expoentes da Escola Nova era restaurar o atraso educacional brasileiro. Esse objetivo se concretizaria através da definição do “programa da nova política educacional por uma vista orgânica e sintética das modernas teorias de educação.” (AZEVEDO et al, 2010, p.24) e, posteriormente pela execução do mesmo.Tabela 8: A tendência liberal renovada progressivista da educação: principais autores e contribuições Autores Contribuições Anísio Teixeira ■ Escola Pública para todos com qualidade e laica ■ Professor tem que ser bem formado para trabalhar na Escola ■ Escola de Horário Integral Lourenço Filho ■ Defensor da educação popular, implementou várias reformas educacionais importantes. ■ Ocupou vários cargos políticos de proeminência e escreveu vários livros e artigos sobre educação. Fernando de Azevedo ■ Redigiu o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova e o Manifesto dos Educadores. ■ Reformador da educação brasileira Fonte: Autora (2019). Uma das publicações mais importantes dos teóricos escolanovistas foi o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, redigido por Fernando de Azevedo. Um documento assinado por 26 educadores, com destaque para Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Roquette Pinto, além do próprio redator do texto, Fernando de Azevedo. O manifesto chamava a atenção para um despertar da consciência educacional, pois “(...) se formou no Brasil, uma ‘consciência educacional’, com que o problema da educação, tratado e discutido sob todos os aspectos, passou para o primeiro plano das cogitações, preparando-se o caminho para as grandes reformas escolares.” (AZEVEDO et al, 2010, p.21). A publicação dos pioneiros da Escola Nova fornecia as diretrizes para a educação brasileira. Sua principal crítica era que a educação brasileira naquele momento se compunha de um ensino fragmentado sem articulação entre os diversos ensinamentos, e destes com o mundo. Muitos foram os pontos inovadores trazidos pelo Manifesto. O primeiro deles foi sustentar como dever do Estado o fornecimento da educação pública, gratuita, mista, laica e obrigatória. Outro ponto é a “reconstrução do sistema educacional em bases que possam contribuir para a interpenetração das classes e a formação de uma sociedade humana mais justa (...).”(AZEVEDO et al, 2010, p.125). Segundo Aranha (2006, p.304), um dos objetivos fundamentais expressos no Manifesto (...) era a superação do caráter discriminatório e antidemocrático do ensino brasileiro, que destinava a escola profissional para os pobres e o ensino acadêmico para as elites. (...) reiterando a necessidade do Estado assumir a responsabilidade da educação, que se achava em defasagem com as exigências do desenvolvimento. A educação deveria agora ser prioridade nos planos do Estado, não mais uma responsabilidade só das famílias. Deveria ser vista como um organismo, em profunda relação com a vida prática e motivadora do progresso. Além disso, deveria ser funcional, visando ao mesmo tempo o desenvolvimento do individuo e da sociedade. Outra contribuição importante da Escola Nova foi a publicação do Manifesto dos Educadores mais uma vez convocados, em 1959. Esse novo documento foi redigido por Fernando de Azevedo e assinado por 161 educadores de renome. A publicação criticava a organização do ensino, nomeando-a arcaica e deficiente; o curso primário dividido em até quatro turnos; o curso técnico, insuficiente para a demanda; o baixo nível do secundário; o despreparo do professorado, leigo, mal remunerado e desatualizado; a precariedade das instalações escolares; a proliferação desordenada das faculdades etc. A tendência pedagógica renovada forneceu várias contribuições na estrutura do processo ensino aprendizagem ao atribuir novos papéis à escola, aos professores, aos alunos, além de propor novas metodologias e apresentação dos conteúdos. Ao contrário da tendência pedagógica tradicional, a escola deveria ser promotora de experiências de autoaprendizagem para os alunos, reproduzir a sociedade democrática dentro de seus domínios, entre outros. Libâneo (1994, p.62) destaca as principais características da Pedagogia Renovada, a valorização da criança, dotada de liberdade, iniciativa e de interesses próprios e, por isso mesmo, sujeito da sua própria aprendizagem e agente do seu próprio desenvolvimento; tratamento científico do processo educacional, considerando as etapas sucessivas do desenvolvimento biológico e psicológico; respeito às capacidades e aptidões individuais, individualização do ensino conforme os ritmos próprios de aprendizagem; rejeição de modelos adultos em favor da atividade e da liberdade de expressão da criança. A relação entre professores e alunos seria de harmonia, não mais de autoridade de um lado e passividade de outro. Os professores seriam agora orientadores a fim de garantir o aprendizado ativo dos alunos. Já os discentes, assumiriam o papel de protagonistas de sua própria educação, ou seja, se tornariam ativos, responsáveis por aprender a aprender. Os conteúdos, por sua vez, não seriam mais aqueles tradicionais, enciclopédicos, mas impregnados da realidade vivida pelos alunos. Segundo Saviani (1999, p.21), O professor agiria como um estimulador e orientador da aprendizagem cuja iniciativa principal caberia aos próprios alunos. Tal aprendizagem seria uma decorrência espontânea do ambiente estimulante e da relação viva que se estabeleceria entre os alunos e entre estes e o professor. A contribuição mais importante dos escolanovistas, porém, foi o legado de mudança que deixou. Contrapondo os ideais da escola tradicional, já obsoletos para a sociedade que se desejava formar, destacou-se por suas ideias novas, para um mundo novo que estava se instaurando no país, o mundo burguês, capitalista e democrático. Como o próprio Manifesto dos Pioneiros coloca, A cada época, na marcha da civilização, correspondem processos novos de educação para uma adaptação constante às novas condições da vida social e à satisfação de suas tendências e de suas necessidades. As ideias e as instituições pedagógicas são essencialmente ‘o produto de realidades sociais e políticas’. Portanto, para a construção e permanência da sociedade capitalista burguesa, era necessário uma nova educação, que fornecesse as ideias e os meios para que isso se tornasse possível. A Escola Nova contribuiu dessa forma na época em que surgiu e até hoje suas teorias permanecem atuais no campo das ideias e ações educacionais no Brasil. II.1 Anísio Teixeira Um educador que não pensou só educação, pensou e fez. Se pudéssemos sintetizar a vida de Anísio Teixeira em um parágrafo seria assim. Nasceu no dia 12 de julho de 1900 em Caetité na Bahia. Estudou no primário e secundário em colégios católicos jesuítas. Formou-se em Direito no Rio de Janeiro em 1922. Teve uma vida pública ativa de aproximadamente 40 anos. Criou a Universidade de Brasília ao lado de Darcy Ribeiro, a Escola Parque e exerceu vários cargos públicos. Sua vida e obra foi bastante influenciada pela filosofia educacional de John Dewey. Foi um dos autores do Manifesto dos Pioneiros da Educação em 1932. Escreveu alguns livros e textos. Foi considerado um homem de pensamento e ação. Morreu em 1970 em circunstâncias misteriosas. Anísio Teixeira fez mestrado nos Estados Unidos e de lá trouxe as ideias de Dewey para o Brasil. O pensamento de Dewey era voltado para formar um aluno crítico, pensante, que não soubesse só memorizar os conhecimentos. O pedagogo norte americano defendia uma sala de aula ativa onde o aluno participasse e fosse o centro da aula. Essas novas concepções educacionais inspiraram Anísio a elaborar alguns conceitos e ideias fundamentais que defendeu pelo restante da sua vida. O primeiro deles, a Escola deve ser pública, gratuita, para todos e laica, praticamente um lema nos dias atuais, na época foi algo muito ousado de se defender sobretudo durante a ditadura. O educador também defendia que o professor tem que ser bem formado para tralhar na escola. O pensadorde ação sabia que o novo seria difícil de ser aceito, ainda mais numa sociedade em que havia valores contraditórios. Por esse motivo escreveu: “A educação institucionalizada em escolas resiste, de todos os modos, à ação das novas idéias e novas teorias, e só lentamente se irá transformando, até chegar a constituir verdadeira aplicação da nova filosofia democrática da sociedade moderna.” (TEIXEIRA, 1959). Com essas palavras percebemos que ele acreditava na mudança, ainda que esta viesse a ocorrer de forma lenta. A respeito dos valores em conflito o autor escreveu o clássico artigo da história da educação do Brasil, Valores proclamados, valores reais nas instituições escolares brasileiras. Neste artigo Anísio questiona que há um consenso de que a educação pública tem que ser de qualidade mas na realidade não é isso que ocorre ou que o professor é importante mas na prática não é valorizado. As palavras do mestre permanecem atuais e nos fazem pensar que muito precisa ser mudado. O educador defendeu que os recursos públicos deveriam ser destinados à Educação, pois era a prioridade de uma nação. Sua vida foi lutar pela educação de qualidade, gratuita e para todos. Aliás, alguns títulos de livros do autor como Educação não é um privilégio, Educação para a democracia: introdução à administração educacional e Universidade, mansão da liberdade demonstram sua missão de defender a escola democrática. A frase de Anísio “a escola era a fábrica da democracia” tem um significado essencial, qual seja, a escola pública é a que faz a democracia e pensar democracia sem pensar numa escola pública é simplesmente não pensar. Poderíamos afirmar que esse foi o maior legado do mestre que incomodou a ordem social vigente e, talvez, por esse motivo foi silenciado, porém suas ideias permanecem vivas à espera de pessoas tais como ele, transformadoras da realidade. Tabela 9: Principais obras e ideias de Anísio Teixeira Obras Ideias Educação e o mundo moderno ■ a partir de uma explícita postura utópica, Anísio TEIXEIRA afirma que a saída para a perplexidade do MUNDO MODERNO é uma educação fundamentada na atitude científica. ■ são discutidas as bases da teoria lógica de Dewey. ■ são discutidos os novos sentidos da tarefa docente e da universidade para a formação do cidadão da democracia moderna. Educação no Brasil ■ sobre a educação e a crise brasileira. ■ apresenta uma discussão teórica da relação educação sociedade. Educação para a democracia ■ o educador percebia na sociedade uma tendência espontânea de utilização da educação escolar para reforçar o status quo. A fim de combater essa tendência, propôs uma pedagogia da escola nova, capaz de produzir indivíduos orientados http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/capalivro2.html para a democracia e não para a dominação. A escola não deveria estar a serviço de nenhuma classe, mas sim a serviço do indivíduo e da reconstrução social. Educação não é privilégio ■ o autor apresenta de forma contundente o drama da educação na sociedade brasileira e mostra como nossa incapacidade de criar um regime realmente democrático nos impediu de cumprir a maior de todas as tarefas: a educação. Educação progressiva: uma introdução à filosofia da educação ■ sobre filosofia da educação e pedagogia educacional. Fonte: Autora (2019). II.2 Lourenço Filho Manoel Bergström Lourenço Filho nasceu em Porto Ferreira, no Estado de São Paulo em 1897. Foi advogado, sociólogo, educador e escritor. Com cinquenta anos de atividades dedicadas ao magistério, ao estudo da pedagogia e à administração pública, figura entre os maiores educadores brasileiros. Belas são as palavras de Montello (1962, citado por Monarcha, 2010, p.11) sobre o exímio educador, Homem de ação e de pensamento, tem sido um mestre admirável, ao longo de seu destino de professor, publicista e administrador, um exemplo perfeito da concordância da obra realizada com a sua vocação de educador.(...) poucos homens públicos terão influído tanto, embora silenciosamente, na formação do Brasil contemporâneo. Ele semeou ideias e transmitiu convicções. Olhou para o futuro com o propósito de participar de sua elaboração, e reconheceu, como Emerson, que a educação de uma criança deve começar cem anos antes de seu nascimento, e o certo é que não pregou em vão o seu evangelho em favor de um país melhor. Lourenço Filho atuou em diversos campos da educação como o pré-primário, ensino técnico, universitário, didática e metodologia do ensino, administração escolar, educação física, formação de professores e alfabetização infantil e de adultos. A carreira política de Lourenço Filho também foi bastante profícua. Em 1922 foi nomeado diretor- geral da Instrução Pública do Ceará por solicitação desse estado e indicação do governo de São Paulo. No Ceará reorganizou o ensino daquele Estado, realizando uma reforma de ensino de grande repercussão na época. Foi nomeado diretor-geral da Instrução Pública do Estado de São Paulo em 1930. Em 1932 assumiu o encargo de organizar e dirigir o Instituto de Educação do Distrito Federal, até 1938. Em 1934 foi eleito presidente da Associação Brasileira de Educação (ABE). Em 1935 foi nomeado professor de psicologia educacional da Escola de Educação, da Universidade do Distrito Federal (UDF), e diretor da mesma escola. Em 1937 foi nomeado membro do Conselho Nacional de Educação, nele permanecendo até sua extinção, em 1961. Em 1938 foi convidado pelo ministro Gustavo Capanema para organizar e dirigir o Inep. Em 1941 presidiu a Comissão Nacional de Ensino Primário. Em 1947 ocupou pela segunda vez o cargo de diretor do Departamento Nacional da Educação onde organizou e dirigiu a Campanha Nacional de Educação de Adultos, primeiro movimento de educação popular de iniciativa do governo federal, entre outros cargos que ocupou. Na política, a preocupação central de Lourenço Filho sempre esteve voltada para a questão da educação popular, especialmente naquilo que chamaríamos de educação primariamente articulada à formação de professores. Esta preocupação foi uma constante no exercício profissional dele, que procurou, ao longo das cinco décadas de vida pública, gerar respostas, procurar estabelecer alternativas de soluções para esses problemas que ainda hoje são prementes na vida brasileira. O educador publicou também diversos artigos e estudos sobre pedagogia, livros importantes, além de subscrever O manifesto dos pioneiros da Educação Nova. A tabela apresenta as principais obras e ideias de Lourenço Filho. Tabela 10: Principais obras e ideias de Lourenço Filho Obras Ideias Juazeiro do Padre Cícero ■ trata do fanatismo religioso no Nordeste. Introdução ao estudo da Escola Nova ■ mostra os fundamentos teóricos da Escola Nova. A formação de professores: da Escola Normal à Escola de Educação ■ sobre o ensino e sua arte. ■ registra e divulga trabalhos e investigações sobre ensino e organização escolar realizados no Instituto de Educação do Rio de Janeiro, sob a direção do professor Lourenço Filho, no período de 1932 a 1937. ■ explica as razões do interesse do autor pelos temas referentes à formação de professores ■ mostra as vantagens e desvantagens da carreira do magistério etc A pedagogia de Rui Barbosa ■ examina o homem Rui Barbosa e o tempo; seus escritos pedagógicos; suas bases filosóficas e ideias sociais e os princípios de organização e a metodologia que Rui criou em sua pedagogia. Educação Comparada ■ pôs em destaque a importância dos estudos de educação comparada num mundo marcado pela crescente necessidade de intercomunicação dos povos. ■ sobre questões relativas à organização e funcionamento dos sistemas de ensino. Organização e administração escolar:curso básico ■ o autor contempla os princípios da organização e da administração escolar e suas bases, reunindo conceitos e instrumentos de análise necessários à compreensão dos fatos de estruturação e de gestão dos serviços escolares. ■ Autor fornece os elementos legais básicos para a aplicação, numa situação concreta, dos princípios e normas apresentados na primeira parte do livro. Tendências da educação brasileira ■ propunha fornecer dados objetivos para a elaboração de uma política científica para a obra de educação nacional no oscilante contexto do recém- instalado Estado Novo. Fonte: Autora (2019). II.3 Fernando de Azevedo O grande educador Fernando de Azevedo nasceu em São Gonçalo de Sapucaí, Minas Gerais, no dia 2 de abril de 1894. É considerado um notável educador brasileiro por ter dedicado sua vida a resolver os problemas educacionais do Brasil. Desde cedo mostrou ter vocação para o ensino e para reformar a educação. Penna (2010, p. 11,12) escreveu sobre o sociólogo educador, Fernando de Azevedo, por suas ideias e por sua ação, esteve adiante da maioria dos educadores do seu tempo, levantando as bandeiras históricas da burguesia progressista e liberal. (...)Ao pensar um projeto de reconstrução nacional, viu na democratização da educação um meio eficaz para alcançar tal fim. (...) Abridor de caminhos, seu pensamento não é apenas o de um homem que se quis filósofo da educação, mas o de um reformador que tentou transformar suas ideias em ação. Em 1926 realiza pesquisa para O Estado de São Paulo, o famoso inquérito sobre a Instrução Pública, no qual discute a necessidade da criação de universidades. Nesse mesmo ano é nomeado Diretor-geral de Instrução Pública do Rio de Janeiro, onde empreende a Reforma da Instrução Pública. Esta Reforma foi uma verdadeira revolução pedagógica nos ensinos primário e secundário, sobretudo no ensino normal e na preparação de professores. Fernando de Azevedo elaborou e implementou um amplo plano de construções escolares, cujo mais importante foi a antiga Escola Normal, denominada depois Instituto de Educação. Em 1931 atuou como fundador, organizador e diretor da Biblioteca Pedagógica Brasileira (BPB). Em 1932 é nomeado Diretor-geral da Instrução Pública de São Paulo. Além disso, atuou como fundador, professor de sociologia educacional e primeiro diretor do Instituto de Educação de São Paulo, mais tarde incorporado à Universidade de São Paulo. Em 1932 escreve e é o primeiro signatário do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, em busca de uma reconstrução educacional no Brasil). Neste documento são lançadas as bases e diretrizes de uma nova política de educação. Em 1933 redigiu o Código de Educação do Estado de São Paulo. Em 1934 planejou a fundação da Universidade de São Paulo e redigiu seu anteprojeto. Ele também assumiu outros cargos educacionais e governamentais importantes. Como se pode perceber, Fernando Azevedo teve uma vida política muito proeminente. Mas ele também foi um professor e escritor de livros consagrados, dentre os quais se destacam O manifesto dos pioneiros da Educação Nova, de 1932, A cultura brasileira, de 1943 e O Manifesto dos Educadores mais uma vez convocados, de 1959. O educador morreu em 1974 após intensa produção intelectual e ação política. Veja a tabela 9 com suas principais obras e ideias. Tabela 11: Principais obras e ideias de Fernando de Azevedo Obras Ideias A reconstrução educacional no Brasil: ao povo e ao governo ■ trata-se do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova ■ oferece diretrizes para uma política de educação. Novos caminhos e novos fins: A nova política da educação no Brasil ■ conjunto de ensaios e estudos sobre educação, política de educação no Brasil, socialização da escola, a educação profissional, vida em Sociedade e pedagogia. A cultura brasileira ■ discute a respeito dos Fatores da Cultura, a Cultura, e a transmissão da Cultura. ■ o autor objetivou unificar os conhecimentos dispersos nos trabalhos de detalhe, abandonar o que é secundário e acessório para fixar o essencial e indicar as grandes linhas do desenvolvimento, interessado na interpretação do Brasil. A educação e seus problemas ■ trata sobre o problema da educação rural; a missão da universidade; o Estado e a educação; Política e educação: política contra a educação, as lutas políticas e a universidade e política de educação; a unidade nacional e a educação; a renovação da educacional e o livro; a nova função do livro escolar; as bibliotecas e os laboratórios etc. A educação entre dois mundos: Problemas, perspectivas e orientações ■ sobre o movimento das escolas novas no Brasil e a consolidação do ensino superior no país; a educação; a formação de professores e a disciplina de sociologia. Fonte: Autora (2019). CONSIDERAÇÕES FINAIS A didática nas tendências não críticas tradicional e progressivista: um estudo de suas contribuições pretendeu analisar os aspectos mais relevantes do referencial teórico das concepções pedagógicas tradicional e progressivista: as dimensões da didática abordadas pelas concepções tradicional e liberal renovada e os temas fundamentais da didática propostos por Libâneo considerados por esses enfoques educativos. A resposta para a pergunta “por que estudar ainda sobre a didática nas tendências não críticas da educação|?” foi respondida no decorrer desta pesquisa e nessas considerações finais. Isto porque há características teóricas importantes para a prática educacional que foram produzidos pelas didáticas tradicional e progressivista. Apesar das teorias elaboradas por essas concepções pedagógicas terem sofrido inúmeras críticas, produziram um rico material teórico que precisa ser usado ainda hoje na prática escolar e também pelas próximas gerações de educadores e educandos. No capítulo 1 foram descritas as principais contribuições da tendência tradicional da educação. Várias foram as contribuições da tendência tradicional da educação. Os pensadores deste enfoque pedagógico davam valor à formação do homem integral, que aprendesse não somente os conhecimentos acumulados pela humanidade mas também valores morais e espirituais com o objetivo de gerar um bom caráter. Essa foi a maior contribuição dessa tendência educacional. Nos subtópicos do capítulo 1 foram examinadas a vida e as obras mais importantes dos autores de maior influência deste enfoque educacional. O objetivo proposto era analisar quais foram os progressos que as teorias da didática tradicional proporcionaram para o processo de ensino-aprendizagem. A Didática Magna, escrita por Comênio é considerada um estudo completo, profundo e preciso sobre as práticas educativas. Esse tratado é reconhecido como uma verdadeira Bíblia da didática, um manual que serve para qualquer pessoa em qualquer época que queira aprender a ensinar, ensinar a aprender e aprender a aprender. Outra contribuição importante da concepção da didática tradicional foi o reconhecimento da Pedagogia como Ciência. A partir desse grande passo, formularam- se teorias educacionais e sistematizou-se o processo de ensino aprendizagem elevando-o ao status de um conjunto de regras que se bem praticadas se obteria o resultado desejado. Foi Herbart o responsável por essa mudança. Herbart também contribuiu para a educação sistematizando-a. Dividiu o ato de ensinar e o desenvolvimento da aprendizagem em cinco passos: preparação, apresentação, assimilação, generalização e a aplicação. Esse método é utilizado até hoje como os passos que devem ser dados para que se obtenha um bom resultado processo educacional. O pedagogo suíço Pestalozzi revolucionou a educação de sua época ao considerar o amor e o afeto como elementos imprescindíveis ao ato de ensinar e condenar o sistemade punições. Usando elementos da psicologia elaborou seu pensamento educativo. Com isso inspirou grandes autores a considerarem a psicologia na educação. Pestalozzi é reconhecido como mentor e reformador da escola popular por seu método que democratizou a educação. No capítulo 2 foram descritas as principais contribuições do escolanovismo para a educação. As propostas educativas inovadoras dessa vertente pedagógica contrapunham-se as antigas proposições elaboradas pela pedagogia tradicional. A Escola Nova tinha como bandeira a democratização e transformação da sociedade por meio da educação. Uma das publicações mais importantes dos teóricos escolanovistas foi o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932. Esse documento assinado por 26 educadores influentes tinha como objetivo principal fornecer novas diretrizes para a educação brasileira. Muitos foram os pontos inovadores trazidos pelo Manifesto. O maior deles foi sustentar como dever do Estado o fornecimento da educação pública, gratuita, mista, laica e obrigatória. Outra contribuição importante da Escola Nova foi a publicação do Manifesto dos Educadores mais uma vez convocados, em 1959. Vimos também que a tendência pedagógica renovada forneceu várias contribuições na estrutura do processo ensino aprendizagem ao atribuir novos papéis à escola, aos professores, aos alunos, além de propor novas metodologias e apresentação dos conteúdos. Nos subtópicos do capítulo 2, foi realizada a exposição dos aspectos mais relevantes da vida e obra dos autores que marcaram o enfoque escola novista. O objetivo requerido era analisar quais foram os progressos que as teorias da didática renovada proporcionaram para o processo de ensino-aprendizagem. Vimos que os educadores Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo contribuíram de maneira significativa com a teoria e prática dos pressupostos da Escola Nova. Anísio Teixeira foi um grande defensor da escola pública para todos com qualidade e laica; do professor bem formado para trabalhar na Escola; e da escola de horário integral. Lourenço Filho, por sua vez, foi um defensor da educação popular, implementando várias reformas educacionais importantes. Além disso ocupou vários cargos políticos de proeminência e escreveu vários livros e artigos sobre educação. Já Fernando de Azevedo, redigiu o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova e o Manifesto dos Educadores; e foi um grande reformador da educação brasileira. Concluímos que o objetivo geral deste trabalho, compreender a didática nas tendências não críticas como uma parte importante da história da didática e ainda essencial para os dias atuais foi atingido. Logo, o educador pode e deve utilizar-se do arsenal teórico e prático da pedagogia tradicional e renovada em sua prática pedagógica quando e onde for mais conveniente. REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 1996. ________. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006. AZEVEDO, F.D. A educação e seus problemas. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1937. AZEVEDO et al. Manifestos dos pioneiros da Educação Nova (1932) e dos educadores 1959. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. (Coleção Educadores). COMENIO, J.A. Didática Magna. Editora Martins Fontes, 1997. DAMIS, O. T. Didática e ensino: relações e pressupostos. In Repensando a didática . Veiga, I.P.A. (coord). 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