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PSICOLOGIA: DESAFIOS, PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES - VOLUME 1

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Prévia do material em texto

1ª Edição
Rogério de Melo Grillo
Eloisa Rosotti Navarro
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1
Guarujá
Editora Científica Digital
2020
Copyright© 2020 Editora Científica Digital 
Copyright da Edição © 2020 Editora Científica Digital
Copyright do Texto © 2020 Os Autores
Editor Chefe: Reinaldo Cardoso
Editor Executivo: João Batista Quintela
Mídias e Pesquisas: Elielson Ramos Jr. 
Érica Braga Freire
Erick Braga Freire
Revisão: Os Autores
Conselho Editorial
Prof. Dr. Carlos Alberto Martins Cordeiro
Profª. Drª. Eloisa Rosotti Navarro
Prof. Me. Ernane Rosa Martins
Prof. Dr. Robson José de Oliveira
Prof. Dr. Rogério de Melo Grillo
Prof. Dr. Rossano Sartori Dal Molin
EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL
Guarujá - São Paulo - Brasil
www.editoracientifica.org - contato@editoracientifica.org
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade 
exclusiva dos autores. Permitido o download e compartilhamento desde que os créditos sejam atribuídos 
aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)
P974 Psicologia [recurso eletrônico] : desafios, perspectivas e 
possibilidades: volume 2 / Organizadores Rogério de Melo 
Grillo, Eloisa Rosotti Navarro. – Guarujá, SP: Editora Científica 
Digital, 2020.
Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN: 978-65-87196-09-1
DOI: 10.37885/978-65-87196-09-1
1. Psicologia – Pesquisa – Brasil. I. Grillo, Rogério de Melo. 
II.Navarro, Eloisa Rosotti.
CDD 150 
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422
Todo o conteúdo deste livro está licenciado sob uma Licença de 
Atribuição Creative Commons. Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0).
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 .............................................................................................................................................. 9
A NOVA FACE DA VELHICE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: UMA PERSPECTIVA SÓCIO – 
HISTÓRICA
Jéssica Oliveira Costa; Michelle Alves de Souza; Samya Regia Figueiredo Vieira Antero
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................................................ 15
A BRINCADEIRA NO AUTISMO: CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA HISTÓRICO - CULTURAL DE 
VIGOTSKI
Ricardo Colombo Gallina; Regina Basso Zanon
CAPÍTULO 3 ............................................................................................................................................ 22
A CONTRATRANSFERÊNCIA NA PRÁTICA PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO ATUANTE NO SISTEMA 
PRISIONAL
Denis Mantovani
CAPÍTULO 4 ............................................................................................................................................ 29
A CRIANÇA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: A POTÊNCIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Ana Paula Parise Malavolta; Andressa Bittencourt Flores; Nitheli Cardoso Bissaco; Thayara Carlosso Irion
CAPÍTULO 5 ............................................................................................................................................ 36
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO PARA MULHERES PORTADORAS DE 
ENDOMETRIOSE
Camila Barreto; Gabriela Nascimento; Arina Lebrego
CAPÍTULO 6 ............................................................................................................................................ 39
A INSTITUIÇÃO FAMILIAR E O TRABALHO DO PSICÓLOGO NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS 
SOCIAIS
Claudia Maria Rinhel-Silva
CAPÍTULO 7 ............................................................................................................................................ 47
A MÚSICA COMO FACILITADORA DO ESTADO DE FLOW NO TÊNIS DE ALTO RENDIMENTO
Ana Beatriz Santos Honda
SUMÁRIO
CAPÍTULO 8 ............................................................................................................................................ 59
AS VIVÊNCIAS DE PRODUTORES RURAIS DA CIDADE DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS/RS QUE 
SOFRERAM ABIGEATO
Débora Irion Bolzan; Giana Bernardi Brum Vendruscolo
CAPÍTULO 9 ............................................................................................................................................ 68
ATUAÇÃO DAS/OS PSICÓLOGAS/OS NAS ASSOCIAÇÕES DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA AOS 
CONDENADOS – APACS
Flávia Cristina Guimarães Paiva Nascimento
CAPÍTULO 10 .......................................................................................................................................... 73
AVALIAÇÃO COGNITIVA DE ADOLESCENTES ATRAVÉS DA ESCALA RESILIÊNCIA E INVENTÁRIO 
DO CLIMA FAMILIAR
Rosimar Conceição Rodrigues; Letícia Maia Amaral; Ronaldo Santhiago Bonfim de Souza
CAPÍTULO 11 .......................................................................................................................................... 78
BARREIRAS AO TRABALHO DO PSICÓLOGO ESCOLAR: VISÕES DESATUALIZADAS QUE 
DIFICULTAM A PRÁTICA
Juan Farret Ritzel; Marcelo Moreira Cezar
CAPÍTULO 12 .......................................................................................................................................... 81
CLASSES MULTISSERIADAS: INFÂNCIA E APRENDIZAGEM
Naillê Belmonte Trindade; Rejane La Bella Flach Cunegatto
CAPÍTULO 13 .......................................................................................................................................... 86
COMPREENDO O BEHAVIORISMO RADICAL: DA LITERATURA AO CINEMA
Rogério de Melo Grillo; Eloisa Rosotti Navarro 
CAPÍTULO 14 .......................................................................................................................................... 97
DEMANDAS DO PROCESSO PSICODIAGNÓSTICO: CONSIDERAÇÕES GERAIS
Raquel Furtado Conte
SUMÁRIO
CAPÍTULO 15 ........................................................................................................................................ 105
DIÁLOGOS SOBRE INTERSECCIONALIDADE: RAÇA, GÊNERO, SEXUALIDADE E PRÁTICA 
PROFISSIONAL
Daniele da Silva Fébole; Paulo Vitor Palma Navasconi; Karen Eduarda Alves Venâncio; Bárbara Anzolin
CAPÍTULO 16 .........................................................................................................................................117
ESPAÇO ESTIMULAR: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 
E AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
Gabriel Henrique da Silva Honório; Maria Adelaide Pessini
CAPÍTULO 17 ........................................................................................................................................ 125
ESTRESSE E ANSIEDADE: ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS
Rafaela Brito; Larissa Soares; Lorena Paulino; Emília Damasceno
CAPÍTULO 18 ........................................................................................................................................ 128
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS DE INÁCIO DE LOYOLA E A PSICANÁLISE: UM DIÁLOGO POSSÍVEL
Maria Teresa Moreira Rodrigues
CAPÍTULO 19 ........................................................................................................................................ 144
GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL: A PERSPECTIVA DE ESTUDANTES DE PSICOLOGIA 
Cleison Guimarães Pimentel; Aline Carlos do Vale; Ana Carolina da Rocha Gonçalves; Barbara Suelen 
Lima dos Santos; Kassia Thamiris dos Santos Freire; Maria Karolina Dias da Costa
CAPÍTULO 20 ........................................................................................................................................ 154
IDEAÇÃO SUICIDA EM PESSOAS IDOSAS: CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO - 
COMPORTAMENTAL
Cintia Glaupp Lima dos Santos; Lívia Maria Monteiro Santos; Maria das Graças Teles Martins
CAPÍTULO 21 ........................................................................................................................................ 162
IDOSO E TECNOLOGIA:APRENDIZAGEM E SOCIALIZAÇÃO COMO FATORES PROTETIVOS PARA 
UM ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL
Cláudia Cibele Bitdinger Cobalchini ; Bruna Fernanda Alves ; Lucas Lauro da Silva; Thiago Bellei de Lima
SUMÁRIO
CAPÍTULO 22 ........................................................................................................................................ 168
INICIAÇÃO ESPORTIVA E ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE: O DISCURSO E A PRÁXIS
Maria Luiza Bertoni; Cassio José Silva Almeida
CAPÍTULO 23 ........................................................................................................................................ 177
LEITURA E MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA: ANÁLISE DE AÇÕES À LUZ DA TEORIA HISTÓRICO 
CULTURAL
Luanna Freitas Johnson ; Tainara Braga Lima 
CAPÍTULO 24 ........................................................................................................................................ 184
LIDERANÇA DE EQUIPES SOB SITUAÇÃO DE ESTRESSE: UMA COMPARAÇÃO ENTRE 
DESTACAMENTO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS E EQUIPES DE TRABALHO
Daniel Andrei Rodrigues da Silva
CAPÍTULO 25 ........................................................................................................................................ 187
MEU PET, MEU AMPARO, MEU CAMINHO SEGURO: A HISTÓRIA DE VIDA DE PESSOAS COM 
DEPRESSÃO PÓS-ADOÇÃO
Cindy Gomes Bezerra; Ewerton Helder Bentes de Castro
CAPÍTULO 26 ........................................................................................................................................ 204
O DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE MORTE EM CRIANÇAS SAUDÁVEIS 
Julia Roveri Rampelotti ; Najla Maryla Maltaca; Vittoria do Amaral Ceccato de Lima; Cloves Antonio de 
Amissis Amorim
CAPÍTULO 27 ........................................................................................................................................ 210
PERCEPÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUA PORTUGUESA SOBRE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS 
QUE PROMOVEM A CRIATIVIDADE NA ESCRITA
Gláucia Madureira Lage e Moraes; Eunice Maria Lima Soriano de Alencar
CAPÍTULO 28 ........................................................................................................................................ 221
PERFIL PSICOLÓGICO DE USUÁRIOS DE CRACK
Bruna Monique de Souza; Scheila Beatriz Sehnem
SUMÁRIO
CAPÍTULO 29 ........................................................................................................................................ 235
PLANTÃO PSICOLÓGICO NA ASSISTÊNCIA A URGÊNCIA PSÍQUICA DA COMUNIDADE
Benedita Nádia Silva Pereira; Francisco Flávio Muniz Rufino; Francisca Telma Vasconcelos Freire; 
Leidiane Carvalho de Aguiar; Marcelo Franco e Souza
CAPÍTULO 30 ........................................................................................................................................ 239
PRÁTICA DE MARATONAS NA LONGEVIDADE: OLHANDO PARA A AUTO - ESTIMA
Maria Arlene de Almeida Moreira; Ceneide Maria de Oliveira Cerveny
CAPÍTULO 31 ........................................................................................................................................ 247
REPRESENTAÇÃO SOCIAL ACERCA DA VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR PARA IDOSOS DE UM 
MUNICÍPIO DO OESTE DE SANTA CATARINA
Jeane Samara Zucchi; Carmen Lúcia Arruda de Figueiredo Dagostini
CAPÍTULO 32 ........................................................................................................................................ 255
SAÚDE MENTAL DE ESTUDANTES DA ÁREA DA SAÚDE: UM ENSAIO SOBRE CURRÍCULO 
INTEGRADO, HUMANIZAÇÃO E RESILIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR
Evely Najjar Capdeville
CAPÍTULO 33 ........................................................................................................................................ 263
TRABALHO HOME-OFFICE: POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES À SUBJETIVIDADE DO TRABALHADOR
Tamara Natácia Mulari Coneglian; Guilherme Elias da Silva 
CAPÍTULO 34 ........................................................................................................................................ 271
TRANSTORNO DO PÂNICO: NEUROBIOLOGIA, SINTOMATOLOGIA E DIAGNÓSTICO. 
Melissa Tavares Lima; Suellen de Oliveira Barbosa; Sarah Medeiros Tavoglieri; Greg Luan dos Anjos 
Cardoso; Marcos Vinicius Lebrego Nascimento
SOBRE OS ORGANIZADORES ............................................................................................................ 274
A NOVA FACE DA VELHICE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂ-
NEA: UMA PERSPECTIVA SÓCIO – HISTÓRICA
10.37885/200400131
Palavras-chave: Idoso; Motivação; Limitações; Possibilida-
des.
RESUMO
O crescimento da população idosa no Brasil nos remete a uma 
reflexão sobre os cuidados que a sociedade deve ter para manter 
estes idosos em condições de independência, motivados e 
participantes de programas instituídos para a melhoria da qualidade 
de suas vidas. Este trabalho aborda a nova face da velhice numa 
perspectiva sócio histórica, tendo como objetivo conhecer como 
vivem os idosos hoje e quais fatores os motivam a assumirem uma 
nova postura comportamental, considerando suas limitações e suas 
possibilidades. Para tanto, tomou-se como base os desafios e as 
oportunidades advindos desta nova postura. Para embasamento 
da pesquisa realizou-se estudo teórico sobre envelhecer nos dias 
atuais com foco no novo perfil e na motivação, assumindo diferentes 
papéis na sociedade. O presente trabalho utilizou como instrumento 
de investigação um questionário constando de dez perguntas 
respondidas por trinta alunos participantes do Curso de Memória Ativa 
do Programa de Atenção Integral ao Aposentado do Estado – PAI. 
Os resultados da pesquisa indicam que os idosos hoje desfrutam de 
uma gama de possibilidades para que tenham um envelhecimento 
bem sucedido. 
CAPÍTULO 
1
Jéssica Oliveira Costa
UNINASSAU
Michelle Alves de Souza
UNINASSAU
Samya Regia Figueiredo 
Vieira Antero
UNINASSAU
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 110
1. INTRODUÇÃO
“De nada adianta acrescentar anos à 
nossa vida, se não acrescentarmos 
vida aos nossos anos”. 
 Marcelo Salgado 
O Brasil está envelhecendo, isto é um fato incontestável. 
Estima-se que a expectativa de vida da população 
brasileira no ano de 2020 será de aproximadamente 
16,2 milhões de idosos. Deve-se este fato ao avanço 
da tecnologia, ao baixo índice de natalidade e as 
melhorias das condições de vida.
O processo de envelhecimento está atrelado a uma 
fase de significativas mudanças bio-psico-sócio-cul-
tural que de acordo com cada envelhecente, esse 
processo assume uma conotação diferenciada, por 
vezes positiva e cheias de possibilidades, noutras, 
com limitações. Ter uma boa velhice é viver um pro-
cesso contínuo de adaptações e aprendizagens, con-
siderando, aqui, perdas e ganhos, autoaceitação, 
acúmulo de experiências e a busca constante de 
independência, e bem-estar, passando pelo prazer 
de viver.
De acordo com o Ministério da Saúde (MS) foram 
adotadas diretrizes básicas que estão inseridas na 
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), 
tendo por objetivo promover o envelhecimento sau-
dável, a prevenção de doenças e a manutenção da 
capacidade funcional. Com base em estudos realizados, 
podemos observar que a melhoria das condições de 
vida favorece ao aumento da expectativa de vida da 
população idosa. Nesse contexto, entram em cena 
os Centros de Convivência, Clubes da Maturidade, 
Escolas Específicas, dentre outros, que possibilitam 
a inclusão dessa faixa etária a vários segmentos da 
sociedade e todo um aparato para proporcionar a 
esta categoria uma melhor qualidade de vida.
Neste contexto, apresentam-se as seguintes questões: 
o que motiva a pessoa idosa a vencer os obstáculos, 
superando as limitações encontradas no seu dia-a-dia 
para viver melhor? Onde encontrar recursos para 
envelhecer com saúde e qualidade de vida? Quais 
benefícios os recursos da comunidade agregam à 
vida desta população? Para o alcance dos objetivos 
propostos por este trabalho realizou-se aplicação de 
questionárioseguido de entrevista com os idosos/
alunos da Instituição escolhida. Vale salientar que 
a pesquisa foi realizada num clima de harmonia e 
percebeu-se alegria dos participantes em contribuir 
com o referido trabalho.
2. A NOVA FACE DA VELHICE
De acordo com o censo do IBGE - Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística realizado em 
2010 a estimativa de crescimento da população com 
65 anos ou mais, entre os anos de 1991 a 2010 
passou de 4,8% para 7,4%. Sendo que no Nordeste 
a população é ainda jovem, porém com o controle 
de natalidade aumentando a tendência é de que a 
proporção de idosos aumente.
Em decorrência do crescimento da população idosa, 
percebeu-se um avanço da ciência em relação à velhice 
contribuindo e muito para a melhoria da qualidade 
de vida para as pessoas que adentram esta fase. Na 
virada do século a expectativa de vida se ampliou 
de 50 para 80/90 anos; isso significa que podemos 
viver 1/3 a mais. Daí, o estímulo para buscar formas 
de aproveitamento deste tempo de vida. Portanto, 
vemos os idosos de aproximadamente 70/90 anos 
nas academias, universidades, espaços culturais, 
excursões, nos chamados clubes da Melhor idade 
e nos trabalhos voluntários. Comprovadamente aqui 
está o foco deste trabalho – a nova face da velhice.
Com índice de natalidade cada vez mais baixo, os 
avanços na área de medicina e da tecnologia e ainda 
a crescente preocupação com a qualidade de vida, 
as pessoas que envelhecem estão atingindo idades 
próximas aos 100 anos.
É possível abordar o envelhecimento sob diversos 
enfoques, além do cronológico:
• Biológico: é o processo gradual e progressivo 
que atinge todos os seres vivos; 
• Psicossocial: acontece quando o indivíduo apre-
senta modificações afetivas e cognitivas, interfe-
rindo nas suas relações com os outros;
• Funcional: ocorre quando a pessoa necessita 
de ajuda para desempenhar atividades básicas;
• Sócio-econômico: acontece por meio de mu-
danças decorrentes da aposentadoria.
Considerando os estudos hoje realizados sobre o 
futuro dos longevos na esfera mundial e particular-
mente no Brasil, podemos observar que a melhoria 
da qualidade de vida do idoso, apesar do preconceito, 
discriminação e isolamento da sociedade para com 
o mesmo, e mais ainda, da velhice ser vista como 
etapa de vida permeada de doenças, fracassos e 
peso social percebemos que existe hoje um esfor-
ço da sociedade, dos profissionais de saúde e dos 
próprios longevos, para rever este quadro e oferecer 
uma melhor qualidade de vida a essa população. 
Existe um movimento de sensibilização por parte 
da sociedade para tornar o idoso mais participativo, 
o que justifica o presente trabalho. Com essa nova 
visão, criou-se as políticas públicas dirigidas a esta 
parcela da população que contribui consideravelmente 
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1 11
para o envelhecimento exitoso.
3. ALGUNS MITOS SOBRE A VELHICE
Velhice e Enfermidade companheiras fiéis 
– Mito! É bem verdade que de acordo com o que 
ficamos mais velhos nosso sistema imunológico fica 
mais fragilizado, porém isso não quer dizer doença. 
Atualmente grande parte população da melhor idade 
pratica exercícios, faz acompanhamentos com es-
pecialistas e participa de algum grupo de atividades 
sociais.
Os idosos ficam melhor em isolamento – Mito! 
Não se pode generalizar essa informação. Na maioria 
das vezes idosos preferem sentir-se úteis e estando 
em convívio direto com seus familiares e amigos. 
Alguns acabam se distanciando por conta dos pre-
conceitos da sociedade, muito contrário ao que se 
pensa, essas pessoas não querem e nem devem 
sentar numa cadeira de balanço esperando sabe 
lá o que. A vida está aí pra ser vivida.
Idosos não são produtivos – Mito! Hoje o maior 
exemplo que temos são de pessoas que se aposentam 
por tempo de trabalho, idade, tempo de contribuição 
e continuam trabalhando e produzindo. 
Criatividade e sexo não existem depois dos 60 
– Mito! Basta ir a uma Faculdade, ou instituição de 
cursos técnicos para descobrir que se trata de um 
mito. Fora os governantes de muitos países e grandes 
empresas. E quem foi que disse que o sexo ficou 
para os jovens? Alguns estudos comprovaram que 
as pessoas da melhor idade têm condições de ter 
uma vida sexual ativa, assim elas se permitam. 
4. CONQUISTAS PARA VIVER MELHOR
4.1 ESTATUTO DO IDOSO
Indubitavelmente, a aprovação do Estatuto do Ido-
so foi um avanço para o sistema legal brasileiro. A 
Constituição Federal de 1988 em seu Capítulo VII, 
Título VIII (Ordem Social), nos arts. 229 e 230, versa 
sobre alguns princípios e direitos assegurados aos 
idosos. Os artigos expõem que o filho tem o dever 
de ajudar e amparar o pai na velhice, enfermidade ou 
carência e que é um direito do idoso a participação 
na comunidade, a dignidade humana e o bem-estar.
Regras mais específicas foram, então, criadas para 
regulamentar as leis infra-constitucionais, sempre se-
guindo os princípios expostos no texto constitucional.
Positivar um Direito é sempre proporcionar benefícios 
à sociedade, é um avanço, pois poder-se-á utilizar a 
nova lei como instrumento para validar reivindicações. 
O Estatuto do Idoso apresenta um campo fértil e 
estimulante para que a sociedade se mobilize e exija 
efetivação das Lei em benefício do idoso. Pensando 
nisto, é que nos propomos a abordar as principais 
garantias asseguradas pelo Estatuto do Idoso.
É considerada idosa a pessoa que tem idade igual ou 
superior a 60 (sessenta) anos. A família, a comunidade 
e o Poder Público têm o dever de garantir ao idoso, 
com absoluta prioridade, os direitos assegurados à 
pessoa humana. 
Entende-se por garantia à prioridade:
• A preferência na formulação de políticas sociais;
• O privilégio para os idosos na destinação de 
recursos públicos;
• A viabilização de formas eficazes de convívio, 
ocupação e participação dos mais jovens com 
os idosos;
• A prioridade no atendimento público e privado
• A manutenção do idoso com a sua própria família;
• O estabelecimento de mecanismos que escla-
reçam à população o que é o envelhecimento.
• Garantia de acesso à rede saúde e à assis-
tência social.
4.2 CARTEIRA DO IDOSO
A Carteira do Idoso é um instrumento que possibilita 
o acesso à gratuidade e ao desconto em passagens 
interestaduais em ônibus, trens e barcos, aos idosos 
de 60 anos ou mais, com renda individual mensal 
de até dois salários mínimos, e que não possuem 
qualquer comprovante de renda (Carteira de Trabalho 
atualizada; contracheque ou documento expedido pelo 
empregador; carnê de pagamento do INSS; extrato 
de pagamento de aposentadoria ou benefício, como 
o BPC ou outro regime de previdência). A Carteira 
é impressa pela Secretaria de Assistência Social do 
município, mas para recebê-la, o idoso deve estar 
inscrito no CADÚNICO.
Lembramos, ainda, a conquista da prioridade em filas, 
passe livre em transportes coletivos, vagas prioritárias 
em estacionamentos e 50% nas entradas de cinemas, 
teatro e demais locais de apresentações culturais.
5. OBJETIVOS
Constituem os objetos deste estudo:
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 112
5.1 GERAL
Analisar a contribuição das atividades promovidas 
para o idoso pelo Programa de Atenção Integral ao 
Idoso do Estado do Ceará - PAI, na promoção da 
qualidade de vida dos participantes do curso de Me-
mória Ativa. 
5.2 ESPECÍFICOS:
• Analisar o estilo de vida dos idosos hoje e quais 
fatores os motivam a assumirem uma nova postura 
comportamental, considerando suas limitações e 
suas possibilidades.
• Refletir sobre as representações do velho de 
ontem e de hoje, levando em consideração o seu 
estilo de vida. 
• Conhecer o que motiva o idoso a ter interes-
se em participar de atividades socioeducativas 
e culturais.
• Conhecer as expectativas e aspirações do idoso 
em relação ao futuro.
6. JUSTIFICATIVA
A escolha pelo tema deste estudo deu-se pele 
relevância que o processo de envelhecimento bem 
sucedido tem assumido na sociedadenos dias de 
hoje. Fala-se em Melhor idade, Idade Dourada, Feliz 
idade e tantos outros títulos que venham a suavizar 
o impacto da velhice nos seres humanos. A velhice é 
uma fase da vida permeada de medos, frustrações, 
ansiedade e tantas outras ocorrências que dificultam 
a aceitação. Daí, ter-se conteúdo para desenvolver 
um trabalho de estudo e reflexão com um rico material 
para seu embasamento. Suscitando o interesse por 
discorrer sobre o tema.
A opção por aplicar a pesquisa no Programa de Aten-
ção Integral ao Idoso fundamenta-se na variedade 
existente de cursos e atividades oferecidas por esta 
instituição a seus associados, possibilitando um rico 
trabalho de investigação e observação sobre a ma-
neira de como vivem os idosos em nossa sociedade, 
foco da presente pesquisa. A pesquisa é orientada, 
portanto, pela questão: Qual o fator motivacional 
que leva o idoso associado ao PAI a participar das 
atividades oferecidas por este órgão? 
O interesse pelo tema e a realização da pesquisa 
na instituição mencionada também se justifica pelo 
reconhecimento de demanda por serviços que pro-
movem e facilitam a vida pessoa idosa, para que 
continuem com força, energia e vitalidade por um 
maior período de tempo e por ser esta instituição 
reconhecida pela prestação exemplar dos serviços 
oferecidos, não só pelos envolvidos na pesquisa, 
mas pelos órgãos de apoio e atenção à saúde e 
qualidade de vida da pessoa idosa. 
7. METODOLOGIA
A metodologia para o desenvolvimento deste 
trabalho está organizada de maneira a descrever o 
caminho adotado para a sua realização, contemplado 
a partir do levantamento da pesquisa bibliográfica 
acerca do envelhecimento na atualidade. Com base 
na pesquisa elaborou-se um questionário a ser res-
pondido por trinta idosos participantes do curso de 
Memória Ativa do Programa de Atenção Integral ao 
Aposentado do Estado - PAI com o intuito de conhe-
cer a maneira como administram suas vidas e como 
ocupam seu dia. O modelo de pesquisa usado foi de 
natureza qualitativa constando do referido questionário 
10 (dez) perguntas. Após aplicação procedeu-se a 
análise interpretativa dos resultados e a observação 
de dados escritos pelos respondentes. Este trabalho 
é composto de três partes, a saber: levantamento 
da pesquisa bibliográfica sobre o tema trabalhado, 
aplicação de questionários e análise dos resultados 
obtidos.
No levantamento da literatura, realizou-se um amplo 
leque de informações sobre o tema através de lei-
turas em livros e artigos com foco no perfil do idoso 
da atualidade. Constando, também, de informações 
advindas de pesquisas na internet.
O resultado obtido nesta etapa compõe a base teórica 
deste trabalho e orientou a construção do formulário 
de pesquisa.
Para a realização do levantamento de dados, optou-se 
pela aplicação de questionário de entrevista como 
instrumento de pesquisa mais adequado, visto que 
o estudo pretendia conhecer o perfil, a motivação e 
as dificuldades por que passam os respondentes. 
O questionário foi elaborado tomando por base os 
aspectos importantes a serem estudados e que foram 
levantados no estudo bibliográfico. Tendo em vista 
o objetivo da pesquisa, considerou-se o número de 
respondentes e o resultado da pesquisa suficiente 
para o propósito do estudo.
8. RESULTADOS
Este relatório apresenta os resultados das entre-
vistas realizadas para conhecer o perfil, a motivação 
e as limitações a que são submetidos os idosos hoje. 
Para a realização deste estudo foi utilizado o méto-
do de pesquisa qualitativa, através da aplicação de 
questionários. O público-alvo dessa pesquisa foram 
trinta idosos/alunos do curso de memória ativa da 
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1 13
instituição acima mencionada.
Através das entrevistas, foram observadas as seguintes 
características pertinentes ao perfil dos participantes: 
• Idade entre 60 e 92 anos 
• Estado Civil: na maioria casados 
• Sexo predominante: feminino 
• Grau de escolaridade: Superior
• Situação de moradia: maioria mora com marido 
e filhos
• Renda familiar: Entre 3 e 5 salários mínimos
Percebemos, ainda, que os envelhecentes de hoje, 
mantêm por mais tempo de vida o interesse por 
estarem ativos e acreditam que o caminho para 
melhoria da qualidade de suas vidas passa por de-
cisões estrategicamente pensadas e assumidas. 
Das observações feitas destacamos aqui, alguns 
depoimentos ilustrativos:
1. “Eu participo de vários grupos da “Melhoridade” 
para continuar bem”. 
2. “Não desisto de meus objetivos. Estou aqui 
porque me faz bem”.
3. “Escolhi o Curso de Memória para ficar tinindo”. 
4. “Estudo memória pra lembrar das coisas do 
dia a dia”.
5. “Estou aqui no PAI para que no futuro não ser 
acometido de Alzheimer”.
6. “Gosto muito da convivência com os colegas 
e de sair de casa”.
7. “Ocupo meu dia conversando com os amigos 
e fazendo os afazeres domésticos”.
8. “Agora na velhice me sinto ainda realizado por 
estar ativo e independente”.
9. “O curso de memória melhora a minha vida. 
Meu raciocínio anda um pouco lento, às vezes 
me sinto confuso. ”
9. CONCLUSÃO
De acordo com a pesquisa realizada o objetivo 
do trabalho foi atingido. Entende-se que se faz ne-
cessário um novo enfoque sobre a velhice. Mesmo 
com todas as dificuldades, a velhice deve ser vista 
não como o começo do fim, mas como um período 
de grandes transformações. Envelhecer assusta se 
não estamos preparados para as dificuldades des-
ta fase da vida. Por outro lado, o envelhecimento 
bem sucedido consiste em estar satisfeito com a 
vida atual e ter expectativas positivas em relação 
ao futuro, considerando que é uma fase da vida em 
que a pessoa está mais exposta a riscos e crises 
de natureza biológica, psicológica e social, aspec-
tos estes, claramente observados por ocasião da 
pesquisa realizada. “A doença no idoso não é uma 
consequência inevitável do envelhecimento, mas um 
processo patológico com fatores de risco identificá-
veis”. Dr. Joaci Medeiros (2001).
Nas entrevistas foi possível perceber o quanto as 
pessoas que envelhecem hoje tendem a procurar por 
novas razões para tocarem suas vidas com entusias-
mo, buscando os recursos disponíveis na sociedade 
como facilitador do envelhecimento exitoso. “Não 
há alegria maior que vir aqui participar dos cursos. 
Eu faço dança sênior, informática e memória ativa. 
Tenho quase todos os dias da semana ocupados, 
ninguém me segura” frase dita com muito entusiasmo 
por uma idosa de 92 anos, lúcida e relativamente 
independente. Estamos convencidos de que manter 
o idoso ativo e independente minimiza as tensões e 
ansiedades dos mesmos, tornando-os preparados 
para enfrentar o futuro. 
Diante deste quadro, torna-se imperativo ampliar o 
número de instituições que desenvolvem projetos e 
promovem à saúde do idoso percebendo-os como 
seres únicos, em sua totalidade. Essa é a visão ho-
lística do ser – corpo, mente e espírito em harmonia, 
considerando que é da natureza humana o instinto 
de preservação da vida. 
É importante destacar o papel do psicólogo enquanto 
facilitador do processo de envelhecimento ativo, pois 
ele possibilita a socialização e manutenção deste 
idoso na sociedade.
Dessa forma, conclui-se que manter o idoso ativo 
e preparado para os desafios próprios desta etapa 
da vida, significa termos pessoas mais saudáveis, 
participativas, com menos conflitos e, principalmente, 
pessoas mais felizes.
REFERÊNCIAS
NEGREIROS, T. C. G. A nova velhice: uma 
visão multidisciplinar. Editora Revinter, Rio de 
Jeneiro – 2001.
MARTINS, I. M. Felicidade na Velhice. Editora 
Paulinas, São Pulo – 2003.
OLIVEIRA, R. C. S. Terceira Idade: do repen-
sar dos limites aos sonhos possíveis. Editora 
Paulinas, São Paulo – 1999.
LORDA, C. R. Recreação na terceira Idade. 
Editora Sprint, Rio de Janeiro – 1998. 2ª edi-
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 114
ção.
CASTRO, O. P. et al. Envelhecer um encontro 
inesperado? Realidades e perspectivasna tra-
jetória do envelhescente. Editora Notadez, Rio 
Grande do Sul – 2001.
Estatuto Nacional do Idoso, Editora INESP, 
Fortaleza – 2011.
A BRINCADEIRA NO AUTISMO: CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA 
HISTÓRICO - CULTURAL DE VIGOTSKI
10.37885/200400172
Palavras-chave: Autismo; Brincadeira; Teoria Histórico-Cul-
tural; Desenvolvimento.
RESUMO
Este trabalho é resultado de um diálogo entre os autores para buscar 
novas compreensões sobre as particularidades da brincadeira no 
Transtorno do Espectro Autista (TEA) a partir das contribuições 
de Vigotski, principalmente de seus escritos sobre a brincadeira 
e o desenvolvimento. O objetivo, portanto, foi de investigar as 
potencialidades de desenvolvimento em uma criança com TEA, a 
partir da análise da qualidade de sua brincadeira, incorporando os 
conceitos vigotskianos. Para tanto, utilizamos como material vídeos 
de sessões lúdicas nas quais foi realizada a aplicação do instrumento 
PROTEA-R com uma criança de 6 anos com diagnóstico prévio de 
TEA, buscando identificar na relação da criança com os brinquedos e 
com a avaliadora as dinâmicas descritas por Vigotski. Dessa forma, foi 
possível identificar momentos nos quais a criança estabelecia relações 
significativas com os brinquedos apresentados pela avaliadora, bem 
como estabelecer contato operando com os significados dos objetos, 
ainda que com apoio, demonstrando as potencialidades de operar 
com signos e símbolos.
CAPÍTULO 
2
Ricardo Colombo Gallina
UFGD
Regina Basso Zanon
UFGD
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 116
1. INTRODUÇÃO
1.1 A BRINCADEIRA COMO ATIVI-
DADE DOMINANTE NO DESENVOL-
VIMENTO DA CRIANÇA
A partir da perspectiva histórico-cultural, cuja base 
filosófica é o materialismo histórico de Marx e Engels, 
o ser humano caracteriza-se por seu devir histórico 
em relação com a cultura, isto é um ser que não 
“nasce pronto”, mas nasce com certas potencialida-
des legadas a ele pela história evolutiva da espécie, 
que, no contato com o mundo externo, natural e 
social, age ativamente transformando a natureza 
e a si mesmo. Compreende-se que o ser humano 
sempre tem “diante de si uma natureza histórica 
e uma história natural” (MARX; ENGELS, 2007, p. 
31), mobilizando-o no sentido de agir em consonân-
cia com as condições de cada situação posta pela 
objetividade, pelo mundo externo. Dessa forma, as 
potencialidades ditas naturais, denominadas de fun-
ções elementares, são mobilizadas e “desafiadas” 
ao se confrontarem com situações propostas pela 
sua relação com a natureza.
Vigotski nos demonstra que o trabalho guarda uma 
relação essencial com o processo de devir humano na 
cultura, isto é, com o processo de tornar-se humano. 
Segundo o autor, os instrumentos de trabalho, cuja 
finalidade é controlar um processo de metabolismo 
entre homem e natureza, são meios artificiais criados 
pelo ser humano para controlar um objeto externo. 
De forma análoga, os instrumentos psicológicos são 
entendidos como meios artificiais cuja finalidade é 
controlar os processos mentais do próprio ser humano 
(de si mesmo ou de outros), ou seja, são criados pelo 
ser humano para controlar seus próprios processos 
psíquicos. (VIGOTSKI, 1999) Portanto, o processo 
de desenvolvimento do ser humano é o processo de 
apropriação e internalização desses meios auxiliares 
criados culturalmente, os chamados signos culturais. 
Aqui, é preciso fazer uma delimitação, caracterizando 
o que é um signo e como este se expressa e influen-
cia no desenvolvimento psicológico. Um signo é um 
meio auxiliar de algum recurso cultural, ou seja, de 
uma relação ou objeto externo que é apresentada 
de maneira significativa pelos outros à criança, cuja 
inclusão no processo de comportamento “forma um 
centro estrutural e funcional, que determina toda a 
composição da operação e a importância relativa de 
cada processo separado.” (VYGOTSKY, 1994, p. 61)
Tendo esse pressuposto da inclusão do signo no 
processo de comportamento como o determinante 
do comportamento cultural do ser humano, Vygotsky 
(1994, p. 58) define o desenvolvimento cultural como 
o conjunto de operações que se sucedem histori-
camente, ditadas pelas “formas de comportamento 
baseadas no uso de signos como meio de controlar 
qualquer operação psicológica em particular”. Esse 
domínio de signos, no entanto, não constitui o único 
fator no desenvolvimento. Para o autor, “apenas em 
um certo nível de desenvolvimento interno do orga-
nismo torna-se possível dominar qualquer método 
cultural [de controle do comportamento]”. Assim, é 
necessário um nível de maturação para que o de-
senvolvimento cultural entre em ação. No entanto,
a relação entre os dois fatores nesse 
tipo de desenvolvimento é alterada 
materialmente. A parte ativa é desem-
penhada pelo organismo que domina 
os meios de comportamento cultural 
apresentados pelo ambiente. A matu-
ração orgânica desempenha um papel 
de condição, ao invés de motivo do pro-
cesso de desenvolvimento. (VYGOT-
SKY, 1994, p. 64)
Nesse momento, passaremos para a análise da 
brincadeira como atividade dominante na idade 
pré-escolar e seu papel fundamental no desenvol-
vimento da criança. Isso porque o desenvolvimento, 
fundado no domínio dos meios culturais de controle 
do comportamento, vai se expressar na criança na 
brincadeira. Por isso, ela é entendida como sendo 
a principal forma de atividade para este período do 
desenvolvimento, a partir da qual o desenvolvimento 
cultural se efetiva na criança.
Na brincadeira, essencialmente, a criança cria uma 
situação imaginária, e essa característica é o que 
separa a brincadeira de outros tipos de atividade 
da criança. Por outro lado, a brincadeira é também 
uma situação com regras. Assim, podemos dizer 
que a situação imaginária já contém um conjunto de 
regras a serem seguidas. A situação imaginária pode 
condensar em si certos papeis sociais (no caso da 
brincadeira de faz de conta), limitações de objeto (um 
cavalo não pode voar), etc, e essas contingências 
próprias da brincadeira são as regras as quais a 
criança se submete. Assim, a essência dessa situação 
imaginária é que a criança submete sua atividade, 
adaptando e controlando seu comportamento de 
acordo com as regras da brincadeira.
Mas, para que essas dinâmicas próprias da brincadeira 
se efetivem, existem dois processos fundamentais 
que são condições necessárias, são eles: 1) a sepa-
ração da ideia do objeto e 2) o controle dos próprios 
impulsos. No primeiro caso, o que ocorre é o que 
Vigotski (2008, p. 26) chamou de “separação entre 
o campo visual e o semântico”. Na criança até certa 
idade, existe uma união efetiva entre esses dois 
campos, o que na prática significa que a criança é 
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1 17
incapaz de descolar a ideia da situação ou do objeto. 
Um cavalo é e só pode ser aquele animal grande de 
quatro patas, com pelos, rabo e cascos, e não pode 
ser um cabo de vassoura. Isso determina, também, o 
que o autor denomina como “amarras situacionais”, 
que derivam de uma característica fundamental de 
certo estágio no desenvolvimento, quando percepção, 
afeto e motricidade estão unidos, ou seja, a percepção 
é “um momento inicial da reação motora-afetiva”, 
onde “qualquer percepção é um estímulo para a 
atividade”. (VIGOTSKI, 2008, p. 29)
No entanto, na brincadeira ocorre um salto quali-
tativo nessa dinâmica: a criança aprende a agir de 
maneira descolada daquilo que vê, e essa unidade 
perceptivo-motora-afetiva é dissolvida, e “a criança 
aprende a agir em função do que tem em mente e 
não do que vê” ou seja, os objetos e as situações 
deslocam-se da centralidade de impulsionar direta 
e/ou necessariamente uma ação da criança, para 
uma simples condição a partir da qual uma ação 
pode ou não ser desencadeada. Dito de outro modo,
A ação na situação que não é vista, 
mas somente pensada, a ação num 
campo imaginário, numa situação ima-
ginária, leva a criança a aprender a agir 
não apenas com base na sua percep-ção direta do objeto ou na situação que 
atua diretamente sobre ela, mas com 
base no significado dessa situação (VI-
GOTSKI, 2008, p. 29- 30)
Essa separação da ideia do objeto, no entanto, é 
um processo longo, do qual a brincadeira faz parte 
e é uma forma de transição. A criança, até certo 
ponto, é incapaz de separar a ideia do objeto. Essa 
capacidade desenvolve-se, antes, usando um ob-
jeto externo como meio auxiliar para operar essa 
separação. Dessa forma, para idealizar e pensar 
sobre um cavalo, a criança apoia-se em um cabo de 
vassoura e projeta neste o cavalo, pois nele pode 
montar, segurar no cabo como se fosse as rédeas, 
pular simulando uma cavalgada, etc, ou seja, utili-
za o objeto para objetivar suas ações. Se, antes, o 
que determinava o curso de ação da criança era o 
próprio objeto, agora o objeto torna-se apenas uma 
condição que pode desencadear um curso de ação, 
mas a criança opera não diretamente com o objeto, 
e sim com seu sentido. No entanto, como essa ainda 
é uma forma de transição, não é qualquer objeto que 
pode ser um cavalo, porque a brincadeira ainda não 
é uma operação simbólica. Os objetos passam de 
dominantes para subordinados no curso de ação, 
mas ainda são importantes na relação da criança 
com o mundo e sua brincadeira (utiliza-se o cabo de 
vassoura porque nele é possível montar, segurar o 
cabo como se fosse as rédeas, pular simulando uma 
cavalgada, etc). A ação da criança na brincadeira 
opera com os significados, mas não completamente 
separados do objeto.
Isso deriva, essencialmente, da passagem de uma 
forma de percepção para outra, radicalmente dife-
rente. A estrutura da percepção da criança muda 
para a percepção real, aquela que não percebe no 
mundo apenas cores, formas e movimentos, mas 
percebe e se relaciona com objetos concretos do-
tados de significados e sentidos. Assim, “vejo não 
algo redondo, negro com dois ponteiros, mas vejo 
o relógio e posso separar uma coisa da outra.” (VI-
GOTSKI, 2008, p. 31)
No segundo caso, a criança aprende a conter o im-
pulso de agir imediatamente, conseguindo contro-
lar seu próprio comportamento, submetendo-o às 
regras da situação imaginária da brincadeira. Essa 
capacidade desenvolvida na brincadeira não deve 
ser tomada como um aspecto separado da função 
exposta anteriormente, visto que a capacidade de 
conter o impulso de agir imediatamente depende da 
capacidade de operar com os sentidos e significados 
dos objetos, ou da separação do campo visual e do 
semântico.
A partir da perspectiva histórico-cultural, compreende-
-se que na brincadeira a criança pode se emancipar 
das situações imediato-concretas e agir de maneira 
imaginativa, assimilando suas vivências, ao mesmo 
tempo em que as retoma de forma criativa. Essa 
compreensão de que a brincadeira não é uma sim-
ples reprodução da realidade conhecida, tratando-se 
de uma função representativa e não funcional ou 
concreta, é particularmente importante para a re-
flexão acerca do desenvolvimento de crianças que 
apresentam peculiaridades na brincadeira, como 
é o caso das com Transtorno do Espectro Autista 
(TEA). Crianças com esse diagnóstico costumam 
apresentar padrões atípicos de relação com objetos 
e com outras pessoas em contextos de brincadeira, 
sendo a dificuldade na brincadeira imaginativa (ou 
simbólica) um dos comprometimentos comuns das 
crianças com TEA.
1.2 O TRANSTORNO DO ESPECTRO 
AUTISTA (TEA): CARACTERIZAÇÃO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é atualmente 
definido como uma condição neurodesenvolvimen-
tal, com início precoce e de etiologias múltiplas, ca-
racterizado por comprometimentos persistentes na 
comunicação social, bem como pela presença de 
comportamentos, atividades e interesses restritos e 
repetitivos, levando a prejuízos sociais, ocupacionais 
e outros (APA, 2014). No que concerne à brincadeira 
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 118
no TEA, estudos demonstram que a relação esta-
belecida entre uma criança com TEA e um objeto 
muitas vezes é destituída de significado, podendo 
o mesmo ser utilizado como parte dos movimentos 
estereotipados, como alvo de fixação/interesse res-
trito ou ainda como parte de rituais. Uso repetitivo 
de objetos, pouca imaginação e flexibilidade, hiper 
ou hiporreatividade a estímulos sensoriais (dos ob-
jetos e/ou do ambiente) também são características 
diagnósticas do TEA que podem igualmente interferir 
na qualidade das brincadeiras (APA, 2014). Cabe 
ressaltar que indivíduos com TEA costumam apre-
sentar dificuldades na reciprocidade socioemocional 
(por exemplo, falha nas trocas de turnos conversa-
cionais; compartilhamento reduzido de interesses e 
emoções) e nos comportamentos comunicativos não 
verbais usados para iniciar e regular as interações 
sociais (por exemplo, contato visual, gestos e ex-
pressões faciais) (BOSA; ZANON, 2016). Tendo em 
vista que a brincadeira, em especial a imaginativa, 
tem natureza e origem social – a criança reelabora as 
formas humanas de agir a partir de suas condições 
concretas de vida – destaca-se que as dificuldades 
sociais características do TEA também influenciam 
no desenvolvimento da brincadeira destas crianças.
Assumindo uma postura baseada no materialismo 
histórico-dialético, em que os fenômenos são enten-
didos como processos em constante movimento e 
mudança, questionamos o caráter imutável de as-
pectos do desenvolvimento infantil e valorizamos as 
interações sociais estabelecidas em determinados 
contextos históricos na construção de comportamentos 
tipicamente humanos. Sendo assim, o objetivo do 
estudo é investigar potencialidades do desenvolvi-
mento de uma criança com TEA a partir da análise da 
qualidade da sua brincadeira, considerando contextos 
interativos em especial os mediados por objetos.
2. METODOLOGIA
Realizou-se um estudo de caso (YIN, 2001) 
de uma menina com 6 anos e com o diagnóstico 
prévio de TEA. A pesquisa consiste em uma análise 
retrospectiva de uma sessão lúdica videogravada de 
aplicação do Sistema PROTEA-R (BOSA; SALLES, 
2018) no processo de reavaliação da menina. As 
sessões foram desenvolvidas pela segunda autora 
do estudo, em contexto de clínica-escola de Psi-
cologia. Nesse processo, a pesquisadora inclui-se 
como elemento que faz parte da situação pesquisada, 
sem assumir uma posição de observadora/avaliadora 
neutra. Sendo assim, as suas ações no ambiente 
e as relações dessas ações com o comportamento 
infantil também serão materiais de análise.
A pesquisa tem caráter transversal e qualitativo, sendo 
as análises baseadas pelos pressupostos do enfoque 
microgenético, que se insere no arcabouço teórico 
da perspectiva histórico- cultural. Foram considera-
das também informações oriundas de entrevistas 
semiestruturadas (de anamnese) realizadas com os 
pais, conforme preconizado pelo Sistema PROTEA-R 
(BOSA; SALES, 2018). A análise de dados parte de 
recortes de episódios típicos e atípicos que permitem 
interpretar o fenômeno de interesse, no caso, a quali-
dade da brincadeira da criança, e sua relação com o 
pesquisador e com os objetos. Busca-se, assim, um 
relato minucioso dos acontecimentos, considerando 
indícios, pistas e signos que auxiliem na compreensão 
de um processo em curso (BAGAROLLO; RIBEIRO; 
PANHOCA, 2013). O caso foi selecionado de um 
banco de dados de uma pesquisa coordenada pela 
segunda autora que foi aprovada pelo comitê de 
ética em pesquisa (CEP) institucional sob protocolo 
número 27134314.8.0000.5334, e realizada conforme 
a resolução 196/96 e 510/16.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 MOTIVO DO ENCAMINHAMENTO 
INICIAL E PRINCIPAIS QUEIXAS
A busca inicial dos pais pelo serviço se deu de forma 
espontânea e foi decorrente de um diagnóstico prévio 
de Transtorno do Espectro Autista da filha, denomi-
nada aqui de J. Entre as queixas iniciais trazidas 
pelos cuidadores estiveram hipersensibilidade a sons, 
peculiaridades no desenvolvimento da linguagem e 
dificuldades no relacionamento social. Deste modo, 
o motivo principalda primeira avaliação foi investigar 
possíveis comprometimentos nas áreas da comuni-
cação, interação social, qualidade da brincadeira e 
ocorrência de comportamentos repetitivos/estereo-
tipados, para fins de esclarecimento dos aspectos 
comportamentais do diagnóstico. A avaliação buscou 
também identificar aspectos desenvolvimentais pre-
servados (potencialidades), nas áreas investigadas 
e o adequado encaminhamento aos profissionais 
da área. J. foi avaliada por equipe interdisciplinar 
quando tinha 3 anos e 10 meses e reavaliada quando 
tinha 5 e 6 anos. Em todos os processos avaliativos 
e momentos foram identificados comportamentos 
característicos do diagnóstico de TEA.
Para fins do presente estudo, será analisada uma 
sessão de reavaliação, quando a menina tinha 5 
anos, na qual foi administrado o sistema PROTEA-R. 
Ressalta-se que o PROTEA-R é um instrumento de 
observação, composto por 17 itens, que se destina a 
avaliar a qualidade e a frequência de comportamentos 
característicos do TEA (isto é, comprometimentos 
sociocomunicativos e presença de comportamentos 
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1 19
repetitivos e estereotipados) em crianças pré-escolares 
com suspeita do transtorno, especialmente aquelas 
não verbais, a partir de situações de brincadeira livre 
e estruturadas. Destaca-se que a administração do 
protocolo requer um treinamento prévio, sendo uma 
das autoras do presente estudo capacitada para trei-
nar a equipe para a sua administração.
3.2 IMPRESSÕES GERAIS TRANSMI-
TIDAS E RESULTADOS DA SESSÃO 
LÚDICA – PROTEA-R
A avaliação dos atos sociocomunicativos (Área I do 
PROTEA-R) foi realizada em ambiente de brincadeira, 
em contexto livre e dirigido, por meio de observação 
da exploração dos brinquedos e dos comportamentos 
sociocomunicativos. Tais comportamentos foram ava-
liados com base nos seguintes eixos: 1) vocalizações, 
contato visual e gestos (isolados ou coordenados 
entre si); 2) iniciativas ou respostas (reciprocidade e 
espontaneidade); e 3) tipo de contexto (compartilhar 
ou buscar assistência).
Na sessão reavaliação, J. apresentou tanto iniciativa 
como resposta de atenção compartilhada, sendo a 
primeira de frequência rara e a segunda ocasional, 
ambas em situações restritas e/ou repetitivas. Por 
exemplo, ela entregou a melancia de pelúcia na mão 
da avaliadora, olhando em sua direção, assim como 
comeu a “comidinha” oferecida por ela, olhando nos 
seus olhos. Vale registrar que, na maioria das vezes, 
J. pareceu mais interessada no objeto do que na 
interação.
J. apresentou comportamento de imitação ao dar 
um tapa no brinquedo de silicone, a fim de ligar a 
luz, após a avaliadora lhe mostrar como operá-lo. 
Porém, ela também apresentou, ocasionalmente, 
comportamentos de emulação, como quando operou 
o trem e a máquina fotográfica de forma repetitiva 
devido ao interesse sensorial. Não foram observados 
durante a sessão comportamentos de engajamento 
social não mediado por objetos.
J. apresentou sorriso difuso quando viu as bolhas 
de sabão, por exemplo. A frequência desse compor-
tamento foi rara. Ela buscou contato físico e afetivo 
com a avaliadora (beijando-a durante a brincadeira 
com as bolhas), e aceitou contato da avaliadora na 
maioria das vezes, retraindo-se uma única vez (ti-
rando o braço) quando a avaliadora lhe fez carinho.
Em relação à busca de assistência, a menina o fez 
de maneira frequente; contudo, sem coordenar con-
tato visual e gestos – como, por exemplo, ao puxar 
a avaliadora pela mão, sem olhar, vocalizando para 
pedir outro brinquedo que estava em cima do armário. 
No que diz respeito ao comportamento de protesto/
retraimento, J. apresentou de forma branda, mas 
frequente – como quando deu as costas durante a 
brincadeira livre, retraiu-se e deu pausas na intera-
ção durante a sessão. É evidente que os traços de 
natureza comunicativa e de operação/ação com os 
sentidos (i.e. uso instrumental do adulto) tem suas 
particularidades dentro da natureza do TEA e dos 
sintomas da criança em reavaliação, porém os exem-
plos mostram também potencialidades comunicativas 
e significativas emergentes, e portanto a capacida-
de latente de internalização de funções cindidas, 
que se mostram na relação entre J. e a avaliadora. 
Por exemplo, quando J. pega um pote e entrega à 
avaliadora, sem olhar, ao passo que esta pega o 
pote e diz “tem um au-au. Olha. Ele faz au-au.”, e 
entrega novamente o pote para J. A menina tenta 
abrir o pote para pegar o cachorro e, ao perceber 
que não consegue sozinha, o estende de volta para 
a avaliadora e diz “Au-au”.
No que se refere a relação com os objetos / brincadeira 
(Área II do PROTEA-R), J. operou mais da metade 
dos brinquedos dispostos na sessão, de formas va-
riadas, ocorrendo algumas explorações atípicas e/ou 
repetitivas, como ao colocar vários objetos na boca e 
cheirá-los. Apresentou boa coordenação visomotora 
durante a reavaliação. J. operou alguns brinquedos 
(menos de 1/3) de acordo com a sua função (ex: 
animal de silicone, máquina fotográfica e bola que 
produz som e movimento), além de apresentar indí-
cios de brincadeira simbólica, porém sem conexão 
de episódios e de frequência rara. Por exemplo, ela 
deu água para um cachorro em uma xícara apre-
sentada pela avaliadora, produzindo gestos e sons 
apropriados à situação, e o fez fugir do animal de 
silicone, em uma espécie de pega-pega.
Nesse momento, observou-se que J. apropria-se de 
um objeto apresentado pela avaliadora e o utiliza 
funcionalmente, operando com seus sentidos dentro 
da brincadeira, depois da avaliadora apresenta-lo 
com palavras e relações que aludem à seu sentido 
próprio como objetos culturais – por exemplo, a xí-
cara como um objeto no qual se coloca o chá e as 
pessoas o bebem, criando a relação da xícara com 
os bonecos, e ainda trazendo para a atividade na qual 
a criança estava interessada, a partir do cachorro, 
que ela estava brincando no momento, e para o qual 
a avaliadora “oferece o chá” que estava na xícara. 
Assim, a criança utiliza as mediações criadas pela 
avaliadora como uma ponte entre o que ela realiza 
sozinha e o que pode realizar no futuro, mas no mo-
mento precisa de ajuda – a própria definição da ZDI.
Ao longo da sessão lúdica emergiram vários momentos 
nos quais J. mostrou ter as potencialidades para o 
desenvolvimento das funções psicológicas superiores, 
principalmente se tomarmos como pressuposto a lei 
da internalização formulada por Vigotski, segundo a 
qual toda função psicológica superior aparece em 
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 120
cena duas vezes: primeiro no plano social, como 
como categoria interpsicológica, depois no plano in-
dividual-pessoal, como categoria intrapsicológica. 
Toda função psicológica superior era, antes de se 
internalizar e controlar o comportamento do próprio 
ser humano, uma relação social, uma forma de co-
municação entre dois ou mais indivíduos.
O que realmente suscita interesse a 
nossos olhos: a conclusão de que, em 
um primeiro momento, toda função su-
perior estava dividida entre duas pesso-
as, constituía um processo psicológico 
mútuo. [...] O estudo da gênese desses 
processos mostra que qualquer proces-
so volitivo é inicialmente social, coleti-
vo, interpsicológico. Isto se relaciona 
com o fato de que a criança domina 
a atenção de outros ou, pelo contrá-
rio, começa a utilizar consigo mesma 
os meios e formas de comportamen-
to que, no princípio, eram coletivos. 
A mãe chama a atenção da criança 
para algo: esta, seguindo suas indica-
ções, dirige sua atenção para o que ela 
mostra: aqui nos encontramos sempre 
ante duas funções separadas. Depois, 
começa a ser a própria criança quem 
dirige sua atenção e desempenha em 
relação a si mesma o papel de mãe, 
surge nela um complicado sistema de 
funções, que antes estavam cindidas. 
Um indivíduo ordena e outro cumpre. O 
indivíduo ordena a si mesmo e ele mes-
mo cumpre. (VIGOTSKI, 1999b, p. 113)
J., em vários momentos,criou um engajamento com 
a avaliadora no qual mobilizou sua atividade em 
direção a alguns objetivos de natureza comunica-
tiva e/ou exploratória com os objetos que lhe eram 
apresentados, mostrando que tem potencialidade de 
operar com os sentidos e significados dos objetos, 
dando indícios de entrada na brincadeira com situação 
imaginativa, aquela que possibilita o desenvolvimento 
da cisão entre o campo visual e o campo semântico, 
entrando no mundo dos signos.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do caso estudado e da particularidade 
do autismo, ficam evidentes as dinâmicas apresen-
tadas por Vigotski na brincadeira como uma fonte de 
desenvolvimento na idade pré-escolar e na infância. 
Apesar de ter características próprias do TEA, J. 
apresentou potencialidades típicas do desenvolvi-
mento na situação de brincadeira, operando com 
os sentidos dos objetos, propiciando um salto no 
desenvolvimento a partir da ZDI, controlando o próprio 
comportamento submetendo-o às regras daquela 
brincadeira, etc. Embora, é claro, cada caso de TEA 
tem suas particularidades, suas potencialidades de 
desenvolvimento e seus comprometimentos, mas 
optamos por valorizar aquilo que a criança tem po-
tencialidade de desenvolver, em detrimento daquilo 
que está comprometido.
Por fim, destaca-se que a análise da sessão do PRO-
TEA-R permitiu identificar áreas desenvolvimentais 
preservadas e as potencialidades da menina, que 
podem ser endereçadas em intervenções a fim de 
que, com o tempo, a qualidade das brincadeiras en-
volvendo objetos (cenas de atenção compartilhada e 
brincadeira simbólica) sejam expandidas, envolvendo 
troca de turnos, diferentes contextos e sequencias. 
Ainda, recomenda-se que a linguagem oral seja 
estimulada, a fim de que a menina compreenda a 
importância da fala (coordenada com outros canais) 
na comunicação. Vale dizer que o período restrito 
destinado à análise de dados (uma única sessão 
de reavaliação), pode ter penalizado a criança no 
sentido de não ter dado tempo para J. manifestar 
todo o seu repertório social e comunicativo.
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A CONTRATRANSFERÊNCIA NA PRÁTICA PROFISSIONAL 
DO PSICÓLOGO ATUANTE NO SISTEMA PRISIONAL
10.37885/200400171
Palavras-chave: Contratransferência; Psicanálise; Sistema 
Prisional.
RESUMO
O estudo da criminalidade, do encarceramento e das consequências 
dele na saúde mental dos apenados tem exigido que a prática do 
profissional psicólogo se adeque a um setting totalmente diferente 
do consultório particular. Considerando esta importância conceitual 
para a prática clínica, e que atualmente a psicologia encontra-se 
inserida no contexto de atendimentos no sistema prisional, considera-
se relevante levantar a hipótese sobre a possível existência de 
um tipo de contratransferência específica nesse caso. Para tanto, 
descreve-se como ocorre o trabalho de um psicólogo em uma 
penitenciária. Em seguida são expostos pontos que mostram a 
especificidade da contratransferência no contexto prisional, expondo 
suas particularidades, características e possível manejo. Entre essas 
características, tem-se que, devido a todos os atendimentos serem 
escoltados por um agente penitenciário, as projeções e introjeções 
do psicólogo incidem sobre esses dois personagens, saindo, então, 
da tradicional relação dual que ocorre nos consultórios particulares, 
para uma relação triangular. Contratransferencialmente, o escoltante 
e a estrutura da segurança pública que gerencia a penitenciária 
tornam-se depositários da projeção do superego, pressionando o 
psicólogo, de forma inconsciente; e o paciente-apenado-criminoso 
torna-se depositário da projeção do id do profissional, que se verá 
defrontado a seu lado instintivo primitivo; restando ele próprio como 
ego-mediador entre esses dois eixos contratransferenciais.Manejar tal 
contratransferência torna-se de suma importância em uma instituição 
muitas vezes hostil à prática psicológica e na qual o sofrimento 
humano se revela de forma dramaticamente crua.
CAPÍTULO 
3
Denis Mantovani
UEM/PR
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1 23
1. INTRODUÇÃO
O estudo da criminalidade, do encarceramen-
to e das consequências dele na saúde mental dos 
apenados tem aguçado vários questionamentos na 
contemporaneidade. Questiona-se qual caminho seria 
o mais justo para lidar com alguém que rompe os 
limites éticos e morais mais caros e estruturantes 
à nossa sociedade. Projeções futuras e políticas 
públicas são pensadas caso haja continuidade do 
modelo de aprisionamento atual, assim como se bus-
ca identificar a causa de o que leva uma pessoa a 
exterminar outra, ou a cometer uma violação sexual 
- acting-outs puros. 
Assim, o trabalho do psicólogo nesses locais torna-se 
desafiador, e para alguns, algo bastante inóspito e 
árido.
Para auxiliar na dissolução desse desafio, traz-se à 
tona o conceito psicanalítico de contratransferência. 
Mesmo abordagens díspares e que não guardam 
relação conceitual com a psicanálise utilizam esse 
conceito em sua prática psicoterápica, evidenciando 
seu relevo.
A contratransferência tem sido objeto de estudos 
no campo da psicanálise desde a sua definição por 
Sigmund Freud, no começo do século XX, sobretudo 
devido à interferência que ela provoca na prática 
profissional.
A partir disso a subjetividade do profissional passa a 
ser encarada sob um viés de maior complexidade e 
torna-se parte ativa do cenário psicólogo - paciente, 
abandonando a concepção positivista de “cientista 
da mente” imparcial, neutro e distante, então em 
voga na psicologia experimental (anterior a Freud) 
(SCHULTZ, 2004).
A contratransferência funciona como um radar sensível 
às variações do campo relacional, isto é, como uma 
antena que capta, inconsciente e conscientemente, o 
que se passa tanto durante a sessão de atendimen-
to com o paciente, quanto em relação à instituição 
em que o profissional desempenha suas atividades.Capta, e, muitas vezes apenas inconscientemente, 
produz efeitos desta captação.
Sendo assim, torna-se indispensável uma análise 
da contratransferência sob pena de a eficácia da 
intervenção psicoterapêutica ser comprometida se-
veramente por um estímulo alheio à condição mental 
do paciente. O manejo da contratransferência é de 
inteira responsabilidade do psicoterapeuta (ETCHE-
GOYEN, 2004).
Em determinados locais de trabalho, o profissional 
pode sentir que essas variações de campo - ou 
perturbações - sejam de tão modo massivas que 
impactam com relevância no trabalho que ele (pro-
fissional) realiza.
Considerando que a intervenção do psicólogo se 
insere em uma relação dialética com seu paciente e 
com a instituição em que ele trabalha; ou seja, simul-
taneamente quando intervém, sua prática também 
é modificada, produzindo uma nova interpretação; 
conceitos que ele operaria em um lugar não neces-
sariamente ocorreriam da mesma maneira em outro.
O sistema prisional é uma instituição com uma repre-
sentação social bastante negativa, com um setting 
peculiar, com internos reclusos portadores de condi-
ções psicopatológicas que exigem atenção especial 
dos psicólogos. É um lugar em que as pulsões (de 
vida; de morte) apresentam-se em sua forma crua, 
descritas na história de vida dos pacientes-apenados.
Com o número de encarceramentos crescendo a 
cada ano, foi necessário que a psicologia “entrasse 
na penitenciária” a fim de tratar das questões de 
saúde mental dos internos ali custodiados.
Este estudo tenta investigar a existência de uma 
contratransferência específica neste local de trabalho, 
suas características e possível manejo.
Como método de pesquisa qualitativo/compreensivo, 
a psicanálise tem como objetivo de pesquisa a “apre-
ensão e interpretação da relação de significações 
de fenômenos para os indivíduos e a sociedade” 
(TURATO, 2003, p. 156-7).
A psicanálise enquanto método de investigação do 
psiquismo humano utiliza o critério evolutivo, onde 
as manifestações patológicas e não-patológicas são 
estudadas levando-se em conta as vivências do indi-
víduo, suas experiências de gratificação, frustração, 
privação e suas consequências dentro do aparelho 
psíquico. A psicanálise, ainda, considera o contex-
to em que os fenômenos psíquicos ocorrem. Este 
contexto se constitui pelas condições biológicas do 
indivíduo, sua psicodinâmica (como se dá o funcio-
namento entre as instâncias psíquicas), e a realidade 
social e cultural em que ele está inserido - neste 
caso, particularmente, será a penitenciária. Somente 
dentro deste contexto fenômenos mentais podem 
ser analisados (KUSNETZOFF, 1982).
Partindo dessa base teórica analisar-se-á a contra-
transferência, e como ela se desenvolve no setting 
penitenciário. Delimitarei como se dá esse setting, 
usando minhas observações decorrentes do meu 
cotidiano de psicólogo do sistema prisional.
O “setting penitenciário” é bastante diverso do set-
ting clínico, descrito detalhadamente na literatura 
psicanalítica. 
O setting influencia tanto a própria construção teó-
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 124
rica interna do psicólogo que atende os apenados, 
quanto à prática em si. “Setting” é definido como 
um conjunto conceitual que contempla elementos 
tais como o lugar em que as sessões acontecem, 
sua disposição espacial, a relação do sigilo, a fre-
quência das sessões, à demanda do paciente, se 
é espontânea ou não, e também o contrato firmado 
entre psicólogo e paciente, além da ética à que o 
psicólogo se subordina, no sentido de observar o 
dever de preservar a saúde mental do paciente, in-
dependente dos sentimentos que nele despertem 
(MIGLIAVACCA, 2008).
No caso em questão, o contrato se dá entre psicólo-
go-paciente e escoltante também, visto que ele fica na 
porta da sala de atendimento. Como na penitenciária 
o paciente não fica a portas fechadas com o profis-
sional, e aquele não busca a ajuda deste esponta-
neamente, mas sim juntamente com um escoltante, 
que permanece na sala de atendimento enquanto ele 
está algemado, o manejo dos conceitos psicanalíticos 
também requer tratamento diferenciado.
Nesse contexto, cabe frisar que a equipe de psicó-
logos do sistema prisional de que faço parte são da 
área da saúde, e não psicólogos jurídicos.
Algumas características desse trabalho devem ser 
levadas em consideração: 
• O ambiente de privação de liberdade, que 
coloca o indivíduo à distância do profissional; 
• A demanda judicial, em que o imperativo de 
atendimento parte de um terceiro oculto (juiz); 
• O medo de expor intimidades e conteúdos 
desviantes por parte do interno, com receio 
de que essas informações possam ser usadas 
negativamente em seu processo jurídico; 
• O atrelamento dos atendimentos à condição 
de se ter uma escolta perto da porta de aten-
dimento para que se resguarde a segurança 
do profissional; 
• O fato de o atendimento se realizar à porta 
aberta;
• O fato de o interno estar algemado durante 
as sessões;
• A imensa demanda reprimida construída 
durante anos de falta ou número mínimo de 
profissionais na área, dentre outras.
Não é possível garantir 100% do sigilo. Trabalhamos 
nesse limiar, portanto.
O tempo de duração da sessão depende diretamente 
dos protocolos de segurança - estamos em local que 
pertence à “segurança”, não à “saúde”.
Muitos atendimentos psicológicos são determina-
dos judicialmente. Evidentemente que, observando 
o Código de Ética, o psicólogo faculta ao apenado a 
decisão de participar. Mas como existe a demanda 
judicial, quase todos preferem participar, por teme-
rem consequências negativas em seus processos 
judiciais. Surge, pois, um vínculo contaminado, vi-
ciado, em que o paciente não está ali, mas finge 
estar para conseguir um benefício ou para fugir de 
um malefício jurídico. Isso cria um vínculo altamente 
corrompido, uma vez que os apenados participam 
dos atendimentos de maneira robótica, artificial. É 
evidente que isso também faz parte da complexidade 
do quadro psicopatológico de alguns criminosos - a 
dificuldade de criar vínculos genuínos - porém a de-
manda jurídica dentro da sala de atendimento piora 
esse quadro, em vez de ajudar. 
Para tentar contornar esta situação e diminuir esta 
contaminação, conseguimos estabelecer perante o 
Poder Judiciário a diferenciação da atuação entre 
um psicólogo jurídico da de um psicólogo da área 
de saúde. Pactuamos que o psicólogo da saúde 
procederá a tratar os sintomas psicológicos, evitar 
seu surgimento ou reincidência, enquanto os psicó-
logos jurídicos procederiam às avaliações, incluindo 
o exame criminológico. Os psicólogos da área da 
saúde não procedem a testes psicológicos nem re-
alizam perícias tampouco. Tal acordo nos permite 
enviar relatórios de participação como resposta aos 
ofícios que demandam atendimentos, em vez de 
relatórios avaliativos - o que faz com que o vínculo 
se torne menos corrompido, e que o interno participe 
de maneira mais inteira, sem se sentir pressionado 
por estar ali, embora a figura do juiz seja um sujeito 
oculto muito presente tanto no imaginário do paciente 
quanto de quem o atende.
Os relatórios psicossociais para subsidiar as de-
cisões judiciais são ponto relevante. Em Varas de 
Infância e Juventude, por exemplo, muitas vezes é 
exigido desse psicólogo um exercício de “passado-
logia” - (“houve ou não abuso sexual?”); como se 
isso pudesse ser atestado de maneira científica, com 
100% de segurança. No meu caso, de psicólogo do 
sistema prisional, exige-se o inverso: “futurologia” 
(“o interno reincidirá ou não?”). Os relatórios são 
usados para instrução processual e muitas vezes 
decisivos; acredito que os profissionais devem ser 
muito cautelosos e cuidadosos na produção desses 
documentos, visto que uma palavra mal colocada 
poderá ser interpretada pelo magistrado como um 
“sim” ou “não” à pergunta entre parênteses.
Isso gera uma necessidade premente e permanente, 
um verdadeiro desafio, de criar um espaço híbridoque atenda tanto à demanda judiciária quanto à da 
ciência psicológica, de cuja ética jamais pode se 
dissociar.
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1 25
Construir uma ponte com as autoridades judiciárias 
demandantes dos relatórios torna-se importantíssimo 
para desfazer esse mal-entendido. A contratransfe-
rência do psicólogo nesse momento, entretanto, pode 
ser de atender essa demanda judiciária da maneira 
que está posta, sem criticidade, para que ele se sin-
ta “útil” ou até mesmo “importante”. SHINE (2009) 
aponta os riscos dos laudos ao observar que grande 
maioria dos processos éticos no Conselho Federal de 
Psicologia se refere não a questões de atendimento, 
mas a laudos, perícias ou relatórios elaborados de 
maneira controversa. A vaidade profissional indica 
incidir nesses casos suprindo o ego do analista do 
reconhecimento de que ele se julga merecedor. Pode 
acontecer também de surgir uma sensação de “deso-
rientação”, não no sentido psicopatológico do termo, 
mas no sentido de se sentir acuado ou atônito; por 
exemplo, ao se elaborar relatórios de atendimento 
de serial killers. Mesmo sendo esse relatório apenas 
informativo, e não uma perícia, nem laudo tampouco, 
uma sensação surge de que se o interno progredir de 
regime a partir do seu relatório e reincidir a “culpa” 
será sua (do profissional), e o inverso também: se 
ele ficar retido e for inocente. Trata-se de um fator 
estressor da mais alta relevância. É importante utilizar 
esses sentimentos para autorreflexão e proceder 
da maneira apropriada, verificando se a demanda 
judiciária coincide com os princípios da profissão, 
consultar outros profissionais - daí a necessidade de 
se construir pontes - consultar a literatura específica 
e observar o Código de Ética profissional.
Considerando as variáveis envolvidas no trabalho 
do psicólogo no sistema prisional verifica-se que em 
três situações principais a contratransferência se 
manifesta com relevância: a relação entre psicólo-
go e instituição prisional; a relação entre psicólogo 
jurídico e o papel de psicólogo da saúde; e a díade 
psicólogo - paciente-preso, na dinâmica dos aten-
dimentos individuais.
A respeito da relação entre psicólogo e instituição 
prisional, há um contexto em que a instituição “de-
sarma” e poda sua “potência”, sendo que algumas 
reações são esperadas e ocorrem entre os profis-
sionais, e pode-se até mesmo fazer um paralelo 
com o complexo de castração: a recusa, gerando a 
revolta; e a inércia.
Ocorre muitas vezes a confusão de papéis entre 
um psicólogo da saúde e um psicólogo perito, e 
também um psicólogo do poder judiciário, gerando 
perplexidade no profissional. Tal confusão decorre 
do fato de muitas autoridades ainda enxergarem o 
psicólogo apenas como um “detetive mental” capaz 
de atestar se o interno reincidirá ou não.
Com relação à díade psicólogo - paciente-preso, 
percebi que ocorre uma contratransferência muito 
recorrente e peculiar: o psicólogo projeta seu id no 
criminoso e projeta seu próprio superego no policial 
que escolta, restando ele próprio como ego, tendo 
que mediar essas duas projeções, configurando uma 
relação triangular, na verdade. Portanto é como se 
houvesse dois pacientes. 
O interno quer “relatório, medicamento, visitantes, 
mudança de cela, classificação para trabalho, só quer 
resolver seu problema, etc.”, cometeu crimes, não 
internalizou a lei e só quer satisfação; características 
do id; já o policial impõe os limites da instituição , 
pode se sentir em oposição ao interno, enxerga nele o 
mal a ser combatido e vingado, é portador da ordem, 
do interdito e da lei; características do superego. 
Passarei a chamar essas duas projeções de “id-
-criminoso” e “superego-policial”, lembrando que se 
trata de uma análise contratransferencial, não das 
pessoas reais.
Essa tríade gera a seguinte configuração contratrans-
ferencial nesse setting: identificação com algum do 
par ou oposição a algum do par. 
No que diz respeito à identificação com o “id-cri-
minoso”, muitas vezes o inconsciente do psicólogo 
pode se identificar com as histórias dos pacientes 
presos, histórias de sofrimento, e também se iden-
tificar com a situação de poder dispor das pulsões 
a seu bel-prazer, partindo da premissa psicanalítica 
de que todo ser humano possui fantasias agressivas 
e sexuais as mais viscerais e primitivas (FREUD, 
1923; KUSNETZOFF, 1982).
A identificação com o “superego-policial” decorre que, 
uma vez inscrito na cultura, somos convencidos a 
abandonar os desejos do “id-criminoso”. Então surgem 
as preocupações de “se o interno está mentindo”, 
“se está tentando manipular para ganhar algum be-
nefício”; surgem fantasias de “vou ser mais assertivo 
para passar a impressão de ser rigoroso para atender 
e conquistar a confiança do superego-policial” – o 
que nos remete a conflitos edipianos.
A oposição ao “id-criminoso” muitas vezes surge como 
um sentimento de tristeza, de pesar, de luto, ao ver 
alguém que não consegue se controlar; passando 
por sofrimentos terríveis e, principalmente, fazen-
do outras pessoas – as vítimas – e outras famílias 
passarem por sofrimentos terríveis também. Por 
vezes também há a sensação de medo do interno 
“eu posso ser vítima dele, então, por que ajudá-lo?”. 
Além disso: “o interno pode me ver como aliado e 
querer me manipular, então preciso me defender”. 
“Essa pessoa é perigosa, me diz coisas terríveis que 
fez na maior naturalidade; não concordo com esse 
modo de vida”. Esse medo pode levar à inércia, ou 
até mesmo a comportamentos de esquiva (ETCHE-
GOYEN, 2004).
Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 126
E, por fim, a oposição ao “superego-policial” surge 
com o sentimento de “mesmo ele me vigiando, não 
vou obedecê-lo e continuar com meu trabalho tra-
tando de maneira ética quem ele odeia’’ - no caso 
o “id-criminoso”. O atendimento civilizado e ético 
é considerado um “luxo”, e isso denuncia a carga 
agressiva da sociedade moderna. Há uma fantasia 
paranoide em relação ao psicólogo de que talvez 
pensem que “não nos identificamos com a vítima, de 
que deveríamos estar atendendo às vítimas”, então 
atender o paciente criminoso de forma ética indica 
uma oposição a esse ‘superego-policial’, e também de 
que “atendendo de forma ética o interno, posso estar 
passando a impressão de chancelar suas atitudes 
antissociais” – o que evidentemente é fantasioso.
Diante disso, é como se o psicólogo fosse o ego me-
diando os dois polos inconscientes, “id-criminoso” e 
“policial-superego”, tal qual desenhado na metáfora 
freudiana exposta na obra O ego e o Id (1923): o ego 
tem o controle e coordena a ação. Ele é um cavaleiro, 
e seu cavalo indomável é regido pelo princípio do 
prazer buscando somente satisfação de seus desejos. 
O cavaleiro tenta domar esse cavalo - Id. Simultane-
amente, há um enxame de abelhas ferroando o rosto 
do cavaleiro, exigindo que ele controle o cavalo, ou 
então continuarão as picadas dolorosas. Esse enxame 
representa o superego. O ego-cavaleiro ainda precisa 
lidar com as exigências da paisagem, para não cair 
num buraco, por exemplo. A paisagem representa a 
realidade externa. Evidentemente Freud criou essa 
metáfora para expor os conceitos da psicanálise que 
estava então nascendo, mas as três instâncias são 
uma só: o sujeito total FREUD (1923).
Vê-se, então, que o psicólogo da saúde no sistema 
prisional precisa domar seu cavalo, tranquilizar o 
enxame, não sucumbir à paisagem - e lidar com ou-
tros cavaleiros, seus respectivos enxames e cavalos.
Nesse contexto psíquico interior de verdadeira e ine-
quívoca turbulência contratransferencial, pode advir a 
revolta ou a inércia que relatei anteriormente a respeito 
da relação psicólogo-instituição. Ceder a um dos polos 
seria sair do “lugar do analista” (ETCHEGOYEN, 2004) 
e ter uma postura antiprofissional e anticientífica. Ao 
mesmo tempo, conquistar a confiança do paciente 
e do policial é tarefa permanente e essencial, de 
outro modo todo

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