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Defesa Juridica do Meio Ambiente _cap2e3

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Defesa&Jurídica& do&
Meio&Ambiente&e&Políticas&
Públicas&Ambientais&
&
&
&
Ana&Paula&de&Castro&
&
&
&
&
&
&
&
&
&
Editora 
 
 
 
1a Edição / Janeiro / 2013 
Impressão em São Paulo - SP 
!
!
 
 
Defesa&Jurídica&do&Meio&Ambiente&
e&&Politicas&Públicas&Ambientais&
Coordenação&Geral&
Nelson Boni 
 
Coordenação&de&
Projetos&
Leandro Lousada 
 
Professor&Responsável&
Ana Paula de Castro 
 
Projeto&Gráfico,&Capa&
e&Diagramação&
Vitor Bioni Bertollini 
Revisão&Ortográfica&
Vanessa Almeida 
 
Coordenadora&PedagógiE&
ca&de&Cursos&EaD&
Eleonora Altruda de Faria 
 
1ª!Edição:!Janeiro!
de!2013!
Impressão em São Paulo/SP 
 
 
Copyright © EaD KnowHow 2011 
Nenhuma parte dessa publicação 
pode ser reproduzida por qualquer 
meio sem a prévia autorização desta 
instituição. 
 
 
 
Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 
C355d Castro, Ana Paula. 
Defesa jurídica do meio ambiente e políticas públicas 
ambientais. / Ana Paula de Castro. – São Paulo : Know How, 2013. 
235 p.: 21 cm. 
Inclui bibliografia 
ISBN: 978-85-8065-181-2 
1.Defesa jurídica. 2. Meio ambiente. 3. Políticas públicas 
Ambientais. 4. Crime ambiental. I. Título. 
 
CDD 363.7 
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Sumário&
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5&
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47&
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105&
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203&
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223&
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235&
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253&
Capítulo&1&
Regime Jurídico Aplicável aos Direitos Sociais à 
Luz da Constituição Federal: Fundamento, Obje- 
to, Titularidade, Classificação, Estrutura Normati- 
va e Condições de Eficácia. 
 
Capítulo&2&
Os Danos Causados ao Meio Ambiente 
 
Capítulo&3&
Crimes Ambientais 
 
Capítulo&4&
Parâmetros Internacionais e a Legislação Interna 
 
Capítulo&5&
Instrumentos de Defesa do Meio Ambiente 
 
Capítulo&6&
A Lei de Ação Civil Pública e a Lei Nº 7347/ 85 
e seus Aspectos Processuais Específicos 
 
Referências&Bibliográficas&
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Capítulo&
2&
&
&
Os&Danos&Causados&
ao&Meio&Ambiente&
&
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Com o advento da Constituição Federal 
de 1988, a responsabilidade pelos danos causa- 
dos ao meio ambiente passou a ser disciplinada 
da seguinte forma: 
 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum 
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, 
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o 
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presen- 
tes e futuras gerações. 
(...) 
§ 3.º - As condutas e atividades consideradas le- 
sivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, 
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e 
administrativas, independentemente da obriga- 
ção de reparar os danos causados. 
 
 
Nos termos do texto constitucional res- 
tou estabelecido que o dever de proteger e pre- 
servar o meio ambiente é do Poder Público e da 
coletividade, e que as pessoas, físicas ou jurídi- 
cas, são responsáveis civil, administrativa e pe- 
nalmente pelas condutas e atividades lesivas ao 
meio ambiente. 
 
 
 
49&
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&
Conforme a natureza dos ilícitos pratica- 
dos e do objeto jurídico tutelado, a responsabili- 
dade pelos danos causados ao meio ambiente su- 
jeita seus infratores às sanções de natureza civil, 
administrativa e penal. 
Segundo aponta Celso Antônio Pacheco 
Fiorilloa Constituição Federal de 1988 “consagrou 
aregradacumulatividadedassanções”,poisassan- 
ções civis, administrativas e penais, “além de prote- 
geremobjetosdistintos,estãosujeitasaregimesjurídicos 
diversos22”. 
Na medida em que tutelam objetos dis- 
tintos e sujeitam-se a regimes jurídicos diversos, 
podem ser cumuladas sem violar o princípio do 
“non bis in idem”, isto é, de que ninguém deve 
ser punido duas vezes pelo mesmo fato. 
Uma determinada pessoa que causa dano 
ao meio ambiente pode ser responsabilizada, si- 
multaneamente, nas esferas civil, administrativa e 
penal pela conduta ou atividade lesiva praticada. 
Em caso análogo, no julgamento do Re- 
cuso Especial nº 677.585/RS, a 
Primeira Turma do Superior Tribunal de 
Justiça, ressaltou o seguinte: 
 
22 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Bra- 
sileiro. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 50. 
 
 
 
50&
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&
&
RECURSO ESPECIAL EM AGRAVO DE INSTRU- 
MENTO. TUTELA ANTECIPADA. TRANSPOR- 
TADORAS DE VEÍCULOS. “CEGONHEIROS”. 
INDÍCIOS DE ABUSO DE PODER ECONÔMI- 
CO E FORMAÇÃO DE CARTÉIS. 
(...) 
16. Inexiste violação ao princípio do ne bis in 
idem, tendo em vista a possibilidade de instau- 
ração concomitante de ação civil pública e de 
processo administrativo, in casu, perante a SDE 
- Secretaria de Desenvolvimento Econômico do 
Ministério da Justiça, para investigação e punição 
de um mesmo fato, porquanto as esferas de res- 
ponsabilização civil, penal e administrativa são 
independentes. (REsp 677.585/RS. Min. Luiz 
Fux. Primeira Turma. 06/12/2005) 
 
 
Da análise da doutrina e da jurisprudên- 
cia, verifica-se, pois, que o artigo 225, §3.º, con- 
sagrou em nível constitucional o princípio da au- 
tonomia e independência entre os três sistemas 
de responsabilidade civil, administrativa e penal. 
Em atenção ao texto constitucional, a 
Lei nº 9.638 de 1981, que dispõe sobre a Política 
Nacional do Meio Ambiente, seus fins e meca- 
 
 
 
51&
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&
&
&
nismos de formulação e aplicação, e dá outras 
providências, disciplina a responsabilidade por 
danos causados ao meio ambiente. 
Diante da cumulatividade de sanções 
cada uma das responsabilidades será analisada 
individualmente. Porém, antes de tecer conside- 
rações sobre a responsabilidade civil, administra- 
tiva e penal, cumpre trazer à baila alguns concei- 
tos sobre o dano ambiental. 
 
 
2.1. O&Dano&Ambiental&
&
O dano, ou seja, as lesões que resultam 
das atividades degradantes ou que causam im- 
pacto ao meio ambiente em todas as suas for- 
mas de acepção (natural, artificial ou cultural, e 
também do trabalho), e que dá ensejo à respon- 
sabilização civil, administrativa e penal, quanto 
ao objeto jurídico tutelado, pode ser material 
ou patrimonial e imaterial ou extrapatrimonial, 
e, quanto à titularidade do bem lesado, pode ser 
individual ou coletivo. 
O artigo 1.º, “caput” da Lei nº 7.347 de 
1985, que disciplina a ação civil pública por da- 
nos causados ao meio ambiente, entre outros, 
 
 
 
52&
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&
&
dispõe que: 
 
Art. 1.º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem 
prejuízo da ação popular, as ações de responsabi- 
lidade por danos morais e patrimoniais causados: 
l - ao meio-ambiente; 
 
 
Nos termos do artigo 81, incisos I e II, 
da Lei nº 8.078 de 1990, o dano ambiental cole- 
tivo afeta (i) interesses ou direitos difusos, assim 
entendidos, os transindividuais, de natureza in- 
divisível, de que sejam titulares pessoas indeter- 
minadas e ligadas por circunstâncias de fato; e 
(ii) interesses ou direitos coletivos propriamente 
ditos, tais como os transindividuais, de natureza 
indivisível de que seja titular grupo, categoria ou 
classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte 
contrária por uma relação jurídica base. 
De acordo com Édis Milaré, o dano am- 
biental individual afeta, de forma reflexa, a esfera 
de interesses patrimoniais ou extrapatrimoniais 
de determinada pessoa23. 
 
 
23 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. 
Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 6ª ed. Editora Revista dos Tribunais: 
São Paulo, 2009. p. 869. 
 
 
 
53&
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&
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&
&
Aponta, ainda, referido autor que, em 
certos casos, o dano ambiental pode “refletir-se, 
material ou moralmente, sobre o patrimônio, os 
interesses ou a saúde de uma determinada pes- 
soa ou de um grupo de pessoas determinadas ou 
determináveis”: 
 
o dano ambiental, embora sempre recaia direta- 
mente sobre o ambiente e os recursos e elemen- 
tos que o compõem, em prejuízo da coletividade, 
pode, em certos casos, refletir-se, material ou mo- 
ralmente, sobre o patrimônio, os interesses ou a 
saúde de umadeterminada pessoa ou de um gru- 
po de pessoas determinadas ou determináveis. 
(...) 
A doutrina leciona que os danos ambientais coleti- 
vos ‘dizem respeito aos sinistros causados ao meio 
ambiente lato sensu, repercutindo em interesses 
difusos, pois lesam diretamente uma coletividade 
indeterminada ou indeterminável de titulares. Os 
direitos decorrentes dessas agressões caracteri- 
zam-se pela inexistência de uma relação jurídica 
base, no aspecto subjetivo, e pela indivisibilidade 
(ao contrário dos danos ambientais pessoais) do 
bem jurídico, diante do aspecto objetivo’. 
 
 
 
 
 
54&
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&
&
(...) 
Quando, ao lado da coletividade, é possível iden- 
tificar um ou alguns lesados em seu patrimônio 
particular, tem-se o dano ambiental individual, 
também chamado dano ricochete ou reflexo (...). 
A vítima do dano ambiental reflexo pode buscar 
a reparação do dano sofrido, no âmbito de uma 
ação indenizatória de cunho individual, fundada 
nas regras gerais que regem o direito de vizinhan- 
ça. (Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental 
em Foco. Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 6ª 
Edição. Editora Revista dos Tribunais: São Pau- 
lo, 2009. p. 868/869) 
 
 
 
 
Helita Barreira Custódio ensina que o 
dano ambiental decorre da poluição do ar, da 
água, do solo, dos alimentos, e das bebidas em 
geral, da degradação da flora, da fauna, dos re- 
cursos hídricos e da destruição progressiva dos 
recursos naturais e culturais, caracterizada pelo 
uso nocivo e irracional da propriedade imobiliá- 
ria e demais condutas lesivas ao meio ambiente, 
que colocam em perigo a própria sobrevivência 
humana, bem como de atos contrários à moral e 
 
 
 
55&
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&
aos bons costumes24. 
 
 
2.2. O&Dano&Moral&
&
Diz-se que o dano ambiental pode ser 
material ou patrimonial e, imaterial ou extrapa- 
trimonial, e ainda, individual ou coletivo. 
O dano material, conforme visto, ocor- 
re quando um bem ambiental, isto é, os recursos 
naturais, artificiais e culturais são degradados, ou, 
quando é colocada em risco a saúde das presentes 
e futuras gerações, e o moral, quando lesado direi- 
tos inerentes à personalidade da pessoa humana. 
Por sua vez, o dano ambiental material 
é coletivo quando afeta diretamente uma coleti- 
vidade indeterminada ou indeterminável de titu- 
lares, mas também pode ser individual, quando 
recai reflexamente sobre o patrimônio, os inte- 
resses ou a saúde de uma determinada pessoa25. 
 
24 CUSTÓDIO, Helita Barreira. Uma Introdução à Responsabilidade Civil 
por Dano Ambiental. Disponível em: 
<http://www.mp.ba.gov.br/atuacao/ceama/material/doutrinas/esgota- 
mento/uma_introducao_a_r esponsabilidade_civil_por_dano_ambiental. 
pdf> Acesso em: 12/12/2011. 
25 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. 
Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 6ª ed. Editora Revista dos Tribunais: 
São Paulo, 2009. p. 868/869. 
 
 
 
56&
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&
Diante do caráter transindividual e in- 
divisível dos direitos difusos e coletivos, há dis- 
cussão acerca da existência de um dano moral 
coletivo. Para a doutrina o dano moral pode ser 
individual e ainda coletivo. Na jurisprudência há 
divergência. 
No julgamento do recurso especial in- 
terposto em sede de Ação Civil Pública ajuizada 
pelo Ministério Público do Estado do Rio Gran- 
de do Sul, autos nº 1.057274/RS, objetivando re- 
paração de dano moral coletivo, “assim entendido 
aquelequeviolauminteressecoletivoedifuso”,aMinis- 
tra Eliana Calmon aponta a existência de prece- 
dentes da Primeira Turma do Superior Tribunal 
de Justiça no sentido de que seria inadmissível a 
ocorrência de dano moral coletivo, e refuta a tese 
de que não há um dano moral coletivo. 
Ao discordar do entendimento firmado 
pela Primeira Turma, transcreve as duas emen- 
tas exaradas nos recursos especiais nº 598.281/ 
MG e n.º 821.891/RS, e destaca o voto proferido 
pelo Ministro Luiz Fux, cujo texto ora se copia: 
 
Sobre a indenizabilidade do dano moral coletivo 
destaque-se, pela juridicidade de suas razões, os 
fundamentos desenvolvidos pelo Ministro Teori 
 
 
 
57&
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&
Zavascki, no voto-vencedor do RESP 598.281/ 
MG, perfeitamente aplicáveis à hipótese in foco: 
‘2. O dano ambiental ou ecológico pode, em 
tese, acarretar também dano moral — como, por 
exemplo, na hipótese de destruição de árvore 
plantada por antepassado de determinado indi- 
víduo, para quem a planta teria, por essa razão, 
grande valor afetivo. 
Todavia, a vítima do dano moral é, necessaria- 
mente, uma pessoa. Não parece ser compatível 
com o dano moral a idéia da “transindividualida- 
de” (= da indeterminabilidade do sujeito passivo 
e da indivisibilidade da ofensa e da reparação) da 
lesão. É que o dano moral envolve, necessaria- 
mente, dor, sentimento, lesão psíquica, afetando 
“a parte sensitiva do ser humano, como a intimi- 
dade, a vida privada, a honra e a imagem das pes- 
soas” (Clayton Reis, Os Novos Rumos da Inde- 
nização do Dano Moral, Rio de Janeiro: Forense, 
2002, p. 236), “tudo aquilo que molesta grave- 
mente a alma humana, ferindo-lhe gravemente 
os valores fundamentais inerentes à sua perso- 
nalidade ou reconhecidos pela sociedade em 
que está integrado” (Yussef Said Cahali, Dano 
Moral, 2ª ed., São Paulo: RT, 1998, p. 20, apud 
Clayton Reis, op. cit., p. 237). 
 
 
 
58&
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Nesse sentido é a lição de Rui Stoco, em seu Tra- 
tado de Responsabilidade Civil, 6ª ed., São Paulo: 
RT, que refuta a assertiva segundo a qual ‘sempre 
que houver um prejuízo ambiental objeto de co- 
moção popular, com ofensa ao sentimento co- 
letivo, estará presente o dano moral ambiental’ 
(José Rubens Morato Leite, Dano Ambiental: do 
individual ao extrapatrimonial, 1ª ed., São Paulo: 
RT, 2000, p. 300, apud Rui Stoco, op. cit., p. 854): 
‘No que pertine ao tema central do estudo, o pri- 
meiro reparo que se impõe é no sentido de que 
não existe ‘dano moral ao meio ambiente’. 
Muito menos ofensa moral aos mares, rios, à Mata 
Atlântica ou mesmo agressão moral a uma coletivi- 
dade ou a um grupo de pessoas não identificadas. 
A ofensa moral sempre se dirige à pessoa en- 
quanto portadora de individualidade própria; de 
um vultus singular e único. 
Os danos morais são ofensas aos direitos da per- 
sonalidade, assim como o direito à imagem cons- 
titui um direito de personalidade, ou seja, àqueles 
direitos da pessoa sobre ela mesma. 
(...) 
A Constituição Federal, ao consagrar o direito de 
reparação por dano moral, não deixou margem 
à dúvida, mostrando-se escorreita sob o aspec- 
 
 
 
59&
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&
to técnico-jurídico, ao deixar evidente que esse 
dever de reparar surge quando descumprido o 
preceito que assegura o direito de resposta nos 
casos de calúnia, injúria ou difamação ou quan- 
do o sujeito viola a intimidade, a vida privada, a 
honra e a imagem das pessoas (art. 5.º, incisos V 
e X), todos estes atributos da personalidade. 
Ressuma claro que o dano moral é personalís- 
simo e somente visualiza a pessoa, enquanto 
detentora de características e atributos próprios 
e invioláveis. 
Os danos morais dizem respeito ao foro íntimo 
do lesado, pois os bens morais são inerentes à 
pessoa, incapazes, por isso, de subsistir sozinhos. 
Seu patrimônio ideal é marcadamente individual, 
e seu campo de incidência, o mundo interior de 
cada um de nós, de modo que desaparece com o 
próprio indivíduo. 
(...) 
Dúvida, portanto, não pode ressumir de que a 
natureza e o meio ambiente podem ser degra- 
dados e danificados. Esse dano é único e não se 
confunde com seus efeitos, (...). 
Do que se conclui mostrar-se impróprio, tanto 
no plano fático como sob o aspecto lógico-ju- 
rídico, falar em dano moral ao ambiente, sendo 
 
 
 
60&
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&
insustentável a tese de que a degradação do meio 
ambiente por ação do homem conduza, através 
da mesma ação judicial, à obrigação de reconsti- 
tuí-lo, e, ainda, de recompor o dano moral hipo- 
teticamentesuportado por um número indeter- 
minado de pessoas. 
 
 
Se para a Primeira Turma, “o dano moral 
deveservinculadoànoçãodedor,desofrimentopsíquico, 
decaráterindividual”,eportanto,“éincompatívelcom 
anoçãodetransindividualidade(indeterminabilidade 
dosujeitopassivoeindivisibilidadedaofensaedare- 
paração)”, para a Ministra Eliana Calmon, não é 
“essencialàcaracterizaçãododanomoralcoletivoprova 
dequeftouvedor,sentimento,lesãopsíquica,afetando‘a 
partesensitivadoserftumano,comoaintimidade,avida 
privada, a ftonra e a imagem das pessoas’”. 
Sustenta a tese de que o dano moral 
 
deve ser averiguado de acordo com as caracterís- 
ticas próprias aos interesses difusos e coletivos, 
distanciando-se quanto aos caracteres próprios 
das pessoas físicas que compõe determinada co- 
letividade ou grupo determinado ou indetermi- 
nado de pessoas, sem olvidar que é a confluência 
 
 
 
61&
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&
dos valores individuais que dão singularidade ao 
valor coletivo. As relações jurídicas caminham 
para uma massificação e a lesão aos interesses de 
massa não podem ficar sem reparação. 
 
 
Para refutar a tese de que não há dano 
moral coletivo, a Ministra também colaciona far- 
ta doutrina acerca do tema, cujo texto para fins 
didáticos se aproveita e se transcreve: 
 
Na doutrina, já há vários pronunciamentos pela 
pertinência e necessidade de reparação do dano 
moral coletivo. José Antônio Remédio, José Fer- 
nando Seifarth e José Júlio Lozano Júnior infor- 
mam a evolução doutrinária: 
Diversos são os doutrinadores que sufragam a 
essência da existência e reparabilidade do dano 
moral coletivo: 
Limongi França sustenta que é possível afirmar 
a existência de dano moral ‘à coletividade, como 
sucederia na hipótese de se destruir algum ele- 
mento do seu patrimônio histórico ou cultural, 
sem que se deva excluir, de outra parte, o refe- 
rente ao seu patrimônio ecológico’. 
Carlos Augusto de Assis também corrobora a 
 
 
 
 
62&
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&
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&
&
&
posição de que é possível a existência de dano 
moral em relação à tutela de interesses difusos, 
indicando hipótese em que se poderia cogitar de 
pessoa jurídica pleiteando indenização por dano 
moral, como no caso de ser atingida toda uma 
categoria profissional, coletivamente falando, 
sem que fosse possível individualizar os lesados, 
caso em que se ria conferida legitimidade ativa 
para a entidade representativa de classe pleitear 
indenização por dano moral. 
A sustentar e esclarecer seu posicionamen- 
to, aponta Carlos Augusto de Assis, a título de 
exemplo: ‘Imagine-se o caso de a classe dos ad- 
vogados sofrer vigorosa campanha difamatória. 
Independente dos danos patrimoniais que po- 
dem se verificar (e que também seriam de difícil 
individualização) é quase certo que os advoga- 
dos, de uma maneira geral, experimentariam pe- 
nosa sensação de desgosto, por ver a profissão a 
que se dedicam desprestigiada. Seria de admitir 
que a entidade de classe (no caso, a Ordem dos 
Advogados do Brasil) pedisse indenização pelo 
dano moral sofrido pelos advogados considera- 
dos como um todo, a fim de evitar que este fique 
sem qualquer reparação em face da indetermina- 
ção das pessoas lesadas. 
 
 
 
63&
&
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&
&
Carlos Alterto Bittar Filho leciona: ‘quando se fala 
em dano moral coletivo, está-se fazendo menção 
ao fato de que o patrimônio valorativo de uma 
certa comunidade (maior ou menor), idealmente 
considerado, foi agredido de maneira absoluta- 
mente injustificável do ponto de vista jurídico’. 
Assim, tanto o dano moral coletivo indivisível 
(gerado por ofensa aos interesses difusos e co- 
letivos de uma comunidade) como o divisível 
(gerado por ofensa aos interesses individuais ho- 
mogêneos) ensejam reparação. 
Doutrinariamente, citam-se como exemplos de 
dano moral coletivo aqueles lesivos a interesses 
difusos ou coletivos: “dano ambiental (que con- 
siste na lesão ao equilíbrio ecológico, à qualidade 
de vida e à saúde da coletividade), a violação da 
honra de determinada comunidade (a negra, a 
judaica etc.) através de publicidade abusiva e o 
desrespeito à bandeira do País (o qual corporifica 
a bandeira nacional). (in Dano moral. Doutrina, 
jurisprudência e legislação. São Paulo: Saraiva, 
2000, pp. 34-5). 
 
 
Pela doutrina e pela tese defendida pela 
Ministra Eliana Calmon, parece que o dano mo- 
 
 
 
64&
&
!
!
&
&
&
&
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&
&
ral deve ser reparado quando em razão de um 
dano ambiental houver ofensa aos interesses de 
uma coletividade. 
 
 
2.3. A&Responsabilidade&Civil&
&
&
No ordenamento jurídico pátrio há três 
princípios que orientam a responsabilização ci- 
vil por danos ambientais. Na Conferência das 
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desen- 
volvimento, no Rio de Janeiro (ECO 92), restou 
estabelecido o seguinte: 
 
Os Estados devem desenvolver legislação nacional 
relativa à responsabilidade e indenização das vítimas 
de poluição e outros danos ambientais. (Princípio 
da responsabilidade ambiental – princípio nº 13) 
Tendo em vista que o poluidor deve, em princí- 
pio, arcar com o custo decorrente da poluição, as 
autoridades nacionais, devem procurar promover 
a internalização dos custos ambientais e o uso 
de instrumentos econômicos, levando na devida 
conta o interesse público, sem distorcer o comér- 
cio e os investimentos internacionais. (Princípio 
 
 
 
65&
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&
&
do poluidor pagador – princípio nº 16) 
De modo a proteger o meio ambiente, o prin- 
cípio da precaução deve ser amplamente obser- 
vado pelos Estados, de acordo com suas capaci- 
dades. Quando houver ameaça de danos sérios 
ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza 
científica não dever ser utilizada como razão para 
postergar medidas eficazes e economicamente 
viáveis para prevenir a degradação ambiental 
(Princípio da Precaução – princípio nº 15) 
 
 
A responsabilidade civil tem como pres- 
supostos os princípios da precaução ou preven- 
ção, do poluidor-pagador, e da responsabilidade 
integral pelos danos causados ao meio ambiente. 
Como um dos objetivos fundamentais 
do Direito Ambiental é prevenir a atividade da- 
nosa aos bens jurídicos tutelados, o princípio da 
prevenção ou precaução objetiva coibir práticas 
potencialmente lesivas ao meio ambiente, para 
que os riscos inerentes às determinadas ativida- 
des sejam mitigados26. 
 
26 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. 
Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 6ª ed. Editora Revista dos Tribunais: 
São Paulo, 2009. p. 956. 
 
 
 
66&
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&
Por sua vez, o princípio do poluidor- 
-pagador objetiva assegurar que o beneficiário da 
atividade responda pelo risco ou pelas desvan- 
tagens dela resultantes, para evitar que o dano 
ambiental fique sem reparação27. 
Por força do §3.º, do artigo 225, da Cons- 
tituição Federal, e do §1.º, do artigo 14, da Lei nº 
6.938 de 1981, a lesão causado ao meio ambiente 
deve ser reparada na sua integralidade. Ainda que 
não seja possível a reparação do dano, será sem- 
pre devida a indenização pecuniária correlata ao 
evento danoso28. 
São dois os tipos de reparação do dano 
ambiental. A reparação específica ou in natura e 
a indenização. O dever de indenizar no Direito 
Ambiental, não excluir a reparação específica do 
dano ambiental29. 
 
 
 
 
 
 
27 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. 
Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 6ª ed. Editora Revista dos Tribunais: 
São Paulo, 2009. p. 956-957. 
28 Idem. p. 957. 
29 FIORILLO, Celso Antônio Pachecco. Curso de Direito Ambiental Bra- 
sileiro. Editora Saraiva: São Paulo, 2007. p. 35/36. 
 
 
 
67&
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&
2.4. Responsabilidade&Civil&
Objetiva&&e& Solidária&
&
A responsabilidade civil pelos danos 
causados ao meio ambiente é objetiva e solidária. 
Objetiva, pois o artigo 225, §3.º, da Constituição 
Federal, ao impor a obrigação de reparar o dano, 
não exige elemento subjetivo para configuração 
da conduta lesiva, e, solidária, poisalém do “ca- 
put” de referido dispositivo dispor que é atribuí- 
do tanto ao Poder Público quanto à coletividade 
o dever jurídico de tutelar o meio ambiente, o 
artigo 3.º, inciso I, do diploma constitucional, 
elenca como objetivo fundamental da República 
Federativa do Brasil, a construção de uma socie- 
dade livre, justa e solidária30. 
À propósito ensina Édis Milaré o seguinte: 
 
A responsabilidade civil pressupõe prejuízo a ter- 
ceiro, ensejando pedido de reparação do dano, 
consistente na recomposição do status quo ante 
(repristinação = obrigação de fazer) ou numa im- 
portância em dinheiro (indenização = obrigação 
de dar). 
 
30 FIORILLO, Celso Antônio Pachecco. Curso de Direito Ambiental Bra- 
sileiro. Editora Saraiva: São Paulo, 2007. p. 35/36. 
 
 
 
68&
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&
&
(...) 
O Código Civil de 2002, atento à crescente com- 
plexidade das relações presentes na moderna 
sociedade brasileira, introduziu importantes mo- 
dificações nas normas que disciplinam a respon- 
sabilidade civil. 
Migrou de um sistema único do Código de 1916, 
de exclusiva consagração da regra da responsabili- 
dade fundada na culpa (art.159), para um sistema 
dualista que, sem prejuízo desse princípio básico, 
reproduzido agora no art. 186, agregou, com igual 
força de incidência, a responsabilidade sem culpa, 
esteada no risco da atividade (art. 927, § único). 
(...) 
Imaginou-se, no início da preocupação com o 
meio ambiente, que seria possível resolver os 
problemas relacionados com o dano a ele infli- 
gido nos limites estreitos da teoria da culpa. Mas, 
rapidamente a doutrina, a jurisprudência e o le- 
gislador perceberam que as regras clássicas de 
responsabilidade, contidas na legislação civil de 
então, não ofereciam proteção suficiente e ade- 
quada às vítimas do dano ambiental, relegando- 
-as, no mais das vezes, ao completo desamparo. 
(...) 
Coube à Lei nº 6.938, de 31.08.1981, instituido- 
 
 
 
 
69&
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&
&
ra da Política Nacional do Meio Ambiente (...) 
dar adequado tratamento à matéria, substituindo, 
decididamente, o princípio da responsabilidade 
objetiva, fundamentado no risco da atividade.31 
 
 
 
 
Para o referido autor a Carta de 1988 fez 
com que a responsabilidade civil objetiva do po- 
luidoreinclusiveadoEstado,“commaisrazãoain- 
daemmatériaambiental”,fosseconstitucionaliza- 
da, e fortaleceu o princípio do poluidor-pagador, 
“quefazrecairsobreoautordodanooônusdecorrente 
dos custos sociais de sua atividade”32. 
Conforme aponta, em tema de tutela am- 
biental, a responsabilidade objetiva foi então vin- 
culada à teoria do risco integral. Para que haja res- 
ponsabilidade civil, basta a prova da ocorrência do 
dano e o nexo causal deste com a prática de uma 
determinada conduta ou atividade humana33. 
Tratando-se de responsabilidade objetiva, 
 
31 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. 
Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 6ª ed. Editora Revista dos Tribunais: 
São Paulo, 2009. p. 952-954. 
32 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. 
Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 6ª ed. Editora Revista dos Tribunais: 
São Paulo, 2009. p. 952-954. 
33 Idem, p. 954-955. 
 
 
 
70&
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&
o dever de reparar o dano independe de culpa, da 
licitude da atividade e da presença de excludentes 
e de cláusulas de não indenizar. 
Com efeito, dispõe o §1.º, do artigo 14, da 
Lei nº 6.938 de 1981 o seguinte: 
 
§ 1.º - Sem obstar a aplicação das penalidades 
previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, 
independentemente da existência de culpa, 
a indenizar ou reparar os danos causados ao 
meio ambiente e a terceiros, afetados por sua 
atividade. O Ministério Público da União e dos 
Estados terá legitimidade para propor ação de 
responsabilidade civil e criminal, por danos cau- 
sados ao meio ambiente. 
 
 
Em atenção à teoria do risco integral, a 
legislação ordinária atribuiu ao causador do dano 
o dever da reparação independentemente da in- 
vestigação da culpa ou da contribuição do agente 
poluidor para a produção do dano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
71&
&
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&
2.5. Responsabilidade&
Administrativa&
&
O artigo 225 da Constituição Federal 
conforme dito dispõe que as pessoas, físicas ou 
jurídicas, sujeitam-se às sanções administrativas 
pela prática de condutas e atividades lesivas ao 
meio ambiente. 
Celso Antônio Bandeira de Mello34 en- 
sinaque“InfraçãoAdministrativaéodescumprimento 
voluntáriodeumanormaadministrativa”,e“Sanção 
administrativaéaprovidênciagravosaprevistaemcaso 
deincursãodealguémemumainfraçãoadministrativa 
(...)”,e, também, que“arazãopelaqualaleiqualifi- 
cacertoscomportamentoscomoinfraçõesadministrativas, 
eprevêsançõesparaquemnelasincorra,éadedesestimu- 
larapráticadaquelascondutascensuradasouconstranger 
ao cumprimento das obrigatórias.” 
Celso Antônio Pacheco Fiorillo, por sua 
vez, afirma o seguinte: 
 
Sanções administrativas são penalidades impos- 
tas por órgãos vinculados de forma direta ou in- 
direta aos entes estatais (União, Estados, Muni- 
 
34 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio. Curso de Direito Adminis- 
trativo. 18ª ed. Malheiros. São Paulo, 2005. pg. 777. 
 
 
 
72&
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&
&
cípios e mesmo Distrito Federal), nos limites de 
competências estabelecidas em lei, com o objeti- 
vo de impor regras de conduta àqueles que tam- 
bém estão ligados à Administração no âmbito do 
Estado Democrático de Direito35. 
 
 
Segundo a doutrina, as sanções adminis- 
trativas estão ligadas ao poder de polícia, isto é, 
à atividade da administração pública que, limi- 
tando ou disciplinando direito, interesse ou li- 
berdade, regula a prática de ato ou abstenção de 
fato, em razão de interesse público concernente 
à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à 
disciplina da produção e do mercado, ao exer- 
cício de atividades econômicas dependentes de 
concessão ou autorização do Poder Público, à 
tranquilidade pública ou ao respeito à proprieda- 
de e aos direitos individuais ou coletivos (artigo 
78, do Código Tributário Nacional). 
O poder de polícia, segundo afirma Édis 
Milaré, é prerrogativa do Poder Público, e é dota- 
do dos atributos da discricionariedade, da auto- 
executoriedade e da coercibilidade, inerentes aos 
 
35 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Bra- 
sileiro. Editora Saraiva: São Paulo, 2007. p. 52-53. 
 
 
 
73&
&
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&
&
&
&
&
atos administrativos36. 
Em matéria ambiental, o poder de polícia 
que justifica a incidência de sanções administrati- 
vas, e tem por objetivo desestimular a prática de 
condutas lesivas ao meio ambiente e constranger 
ao cumprimento das obrigatórias, encontra fun- 
damento no artigo 225 da Constituição Federal: 
 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum 
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, 
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o 
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presen- 
tes e futuras gerações. 
 
 
De acordo com o comando normativo 
constitucional destacado, a União, os Estados, os 
Municípios e o Distrito Federal devem assegurar 
a defesa dos bens de uso comum do povo re- 
putados essenciais à sadia qualidade de vida das 
presentes e futuras gerações. 
Esse dever é exercido por todos os en- 
 
 
36 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. 
Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 6ª ed. Editora Revista dos Tribunais: 
São Paulo, 2009. p.878. 
 
 
 
74&
&
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&
&
&
&
&
tes federativos por meio de ações fiscalizadoras 
e medidas corretivas. São deveres específicos do 
Poder Público na tutela do ambiente a preser- 
vação e restauração dos processos ecológicos 
essenciais, promoção do manejo ecológico das 
espécies e ecossistemas, preservação da biodi- 
versidade e controle das entidades de pesquisa 
e manipulação de material genético, definição de 
espaçosterritoriais especialmente protegidos, re- 
alização de Estudo Préviode Impacto Ambien- 
tal, controle da produção, comercialização e utili- 
zação de técnicas, métodos e substâncias nocivas 
à vida, à qualidade de vida e ao meio ambiente, 
educação ambiental, e proteção à fauna e flora. 
Como por força do princípio da legali- 
dade a imposição de penalidades depende da 
ocorrência concreta no mundo dos fatos das 
condutas descritas nos antecedentes das normas 
jurídicas, a atividade administrativa que tem por 
finalidade inibir e punir a prática das condutas 
lesivas em razão da defesa e proteção dos bens é 
plenamente vinculada. 
O artigo 37, “caput”, da Constituição Fe- 
deral, dispõe que a administração pública direta e 
indireta de qualquer dos Poderes da União, dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios 
 
 
 
75&
&
!
!
&
&
&
&
&
&
&
obedecerá aos princípios de legalidade, impesso- 
alidade, moralidade, publicidade e eficiência. 
Celso Antônio Bandeira de Mello37 res- 
salta que o princípio da legalidade: 
 
é o princípio basilar do regime jurídico-adminis- 
trativo, já que o Direito Administrativo (...) nasce 
com o Estado de Direito: é uma consequência 
dele. É o fruto da submissão do Estado à lei (...) a 
consagração da idéia de que a Administração Pú- 
blica só pode ser exercida na conformidade da lei 
e que, de conseguinte, a atividade administrativa 
é atividade sublegal, infralegal, consistente na ex- 
pedição de comandos complementares à lei. 
(...) a atividade de todos os seus agentes (...) só 
pode ser a de dóceis (...) cumpridores das dis- 
posições gerais fixadas pelo Poder Legislativo, 
pois esta é a posição que lhes compete no Di- 
reito brasileiro. 
 
 
Ainda que, o princípio da legalidade, 
radicado nos artigos 5.º, inciso II, 37, “caput”, 
e 84, inciso IV, da Carta Maior, está assentado 
 
37 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio. Curso de Direito Adminis- 
trativo. 18ª ed. Malheiros: São Paulo, 2005. p. 92-93. 
 
 
 
76&
&
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&
&
&
&
na própria estrutura do Estado Democrático de 
Direito, e que os dispositivos constitucionais lhe 
atribuem “uma compostura muito estrita e rigo- 
rosa, não deixando válvula para que o Executivo 
se evada de seus grilhões”38. 
No julgamento do Recurso Especial nº 
1137314/MG, o Superior Tribunal de Justiça de- 
cidiu que: 
 
(...) 
2. A multa aplicada pela autoridade administrativa 
é autônoma e distinta das sanções criminais co- 
minadas à mesma conduta, estando respaldada no 
poder de polícia ambiental. 
3. Sanção administrativa, como a própria expres- 
são já indica, deve ser imposta pela Administração, 
e não pelo Poder Judiciário, porquanto difere dos 
crimes e contravenções. 
4. A Lei 9.605/1998, embora conhecida popular e 
imprecisamente por Lei dos Crimes contra o Meio 
Ambiente, a rigor trata, de maneira simultânea e 
em partes diferentes do seu texto, de infrações pe- 
nais e infrações administrativas. 
5. No campo das infrações administrativas, exige- 
 
 
38 MELLO, Celso Antonio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 18ª 
ed. Malheiros: São Paulo, 2005. p. 92-93. 
 
 
 
77&
&
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&
&
&
&
&
-se do legislador ordinário apenas que estabeleça as 
condutas genéricas (ou tipo genérico) consideradas 
ilegais, bem como o rol e limites das sanções pre- 
vistas, deixando-se a especificação daquelas e des- 
tas para a regulamentação, por meio de Decreto. 
6. De forma legalmente adequada, embora ge- 
nérica, o art. 70 da Lei 9.605/1998 prevê, como 
infração administrativa ambiental, “toda ação ou 
omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, 
promoção, proteção e recuperação do meio am- 
biente”. É o que basta para, com a complementa- 
ção do Decreto regulamentador, cumprir o princí- 
pio da legalidade, que, no Direito Administrativo, 
não pode ser interpretado mais rigorosamente 
que no Direito Penal, campo em que se admitem 
tipos abertos e até em branco. 
7. O transporte de carvão vegetal sem prévia licen- 
ça da autoridade competente caracteriza, a um só 
tempo, crime ambiental (art. 46 da Lei 9.605/1998) 
e infração administrativa, nos termos do art. 70 
da Lei 9.605/1998 c/c o art. 32, parágrafo único, 
do Decreto 3.179/1999, revogado pelo Decreto 
6.514/2008, que contém dispositivo semelhante. 
8. As normas em comento conferem sustentação 
legal à imposição de sanção administrativa. Pre- 
cedentes do STJ. (...)” (REsp 1137314/MG. Mi- 
 
 
 
78&
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!
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&
&
&
&
&
&
&
&
nistro HERMAN BENJAMIN. Segunda Turma. 
17/11/2009) 
 
 
Em que pese o quanto aduzido pelo 
Superior Tribunal de Justiça, parece que, assim 
como no Direito Penal, ante a necessidade de as- 
segurar um mínimo de segurança jurídica aos ad- 
ministrados, a atividade administrativa ambiental 
depende da previsão legal e da tipicidade das con- 
dutas consideradas lesivas ao meio ambiente39. 
 
 
2.6. Processo&
Administrativo&Ambiental&
&
&
Em atenção ao texto constitucional, e ao 
 
39 Édis Milaré, embora reconheça que “A Administração Pública e, por 
conseguinte, a aplicação de sanções administrativas pelos entes federativos 
pautam-se pelo princípio da legalidade, certo que ‘ninguém será obrigado 
a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei’.”, sustenta 
que “a incidência princípio da legalidade, salvo disposição de lei em con- 
trário, não implica o rigor de se exigir que as condutas infracionais sejam 
previamente tipificadas, uma a uma, em lei, tal como ocorre no Direito 
Penal”. Para o autor, “basta a violação de preceito inserto em lei ou em 
normas regulamentares, configurando o ato como ilícito, para que incidam 
sobre o caso as sanções prescritas, estas sim, em texto legal formal”. (MI- 
LARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. Editora 
revista dos Tribunais: São Paulo, 2009. p.892-893). 
 
 
 
79&
&
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!
&
&
&
&
&
&
&
princípio do devido processo legal, consagrado 
no artigo 5.º, incisos LIV e LV da Carta Maior, 
segundo o qual é assegurado aos administrados 
em geral o direito ao contraditório e à ampla de- 
fesa, com todos os meios e recursos a ela ine- 
rentes, a Lei nº 9.605 de 1998, e, o Decreto nº 
6.514 de 2008, que a regulamenta, dispõe sobre 
normas gerais relativas às infrações administra- 
tivas, configurando-se atualmente, sem prejuízo 
das demais normas previstas no ordenamento 
jurídico reservadas à disciplina da responsabi- 
lidade administrativa no âmbito do patrimônio 
genético, do meio ambiente cultural, artificial, do 
trabalho e natural, importante instrumento40 de 
defesa e preservação dos bens ambientais. 
Segundo aponta a doutrina, a lei aplica-se 
a todo poluidor, pessoa física ou jurídica, de di- 
reito público ou privado, que por ação ou omis- 
são viola a tutela jurídica dos bens ambientais41. 
A lei define a infração administrativa am- 
biental como toda ação ou omissão que viole as 
regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e 
recuperação do meio ambiente (artigo 70, “caput”). 
40 Ao lado da Lei nº 9.605 de 1998, imperioso observar que a Lei nº 9.784 
de 1999 elencou diversos critérios que objetivam garantir o pleno exercício 
do direito à ampla defesa. 
41 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Bra- 
sileiro. Editora Saraiva: São Paulo, 2007. p.57. 
 
 
 
80&
&
!
!
&
&
&
&
&
&
&
Disciplina que as infrações devem ser 
apuradas pela autoridade competente, em pro- 
cesso administrativo próprio, assegurado o 
direito de ampla defesa e o contraditório, ou 
ainda, por intermédio de qualquer pessoa que, 
constatando a infração ambiental, formule re- 
presentação para efeito do poder de polícia (ar- 
tigo 70, §§ 1.º e 2.º). 42 
E elenca as sanções administrativas de ín- 
dole preventiva, reparatória e predominantemente 
repressiva, quais sejam, a advertência, multa sim- 
ples, multa diária, apreensão dos animais, produtos 
e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petre- 
chos, equipamentos ou veículos de qualquer nature- 
za utilizados na infração, destruição ou inutilização 
do produto, suspensão de venda ou fabricação do 
produto, embargode obra ou atividade, demolição 
de obra, suspensão parcial ou total de atividade, e 
restrição de direitos tais como suspensão ou cance- 
lamento de registro, licença ou autorização, perda 
ou restrição de incentivos e benefícios fiscais, perda 
ou suspensão da participação em linhas de finan- 
ciamento em estabelecimentos oficiais de crédito, e 
proibição de contratar com a Administração Públi- 
 
42 Isto é, de ofício pela autoridade administrativa, ou por representação de 
qualquer pessoa do povo. 
 
 
 
81&
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&
&
&
&
&
&
&
ca, pelo período de até três anos. 
Por fim, estabelece regras voltadas ao 
procedimento administrativo43, prazos, defesas, 
recursos, julgamentos, e que os valores arreca- 
dados em pagamento de multas por infração 
ambiental destinam-se ao Fundo Nacional do 
Meio Ambiente, criado pela Lei nº 7.797 de 
1989, Fundo Naval, criado pelo Decreto nº 
20.923 de 1932, fundos estaduais ou municipais 
de meio ambiente, ou correlatos, conforme dis- 
posto pelo órgão arrecadador (artigo 73). 
 
 
2.7. Pressupostos&da&
Responsabilidade&
Administrativa& Ambiental&
&
&
O artigo 70 da Lei nº 9.605 de 1998 dis- 
põeque:“Art.70.Considera-seinfraçãoadministra- 
 
43 Édis Milaré pondera que, “Na apuração de infrações administrativas, 
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, em regra sua 
legislação própria nessa matéria, editada cm base na competência concor- 
rente para legislar sobre proteção ambiental, bem como, supletivamente, a 
legislação federal.”, bem como que o artigo 71, da lei nº 9.605 de 1998 só 
é aplicável à Administração Pública Federal (Direito do Ambiente. A Ges- 
tão Ambiental em Foco. Editora revista dos Tribunais: São Paulo, 2009. 
p. 923 e 931) 
 
 
 
82&
&
!
!
&
&
&
&
&
&
&
tivaambientaltodaaçãoouomissãoquevioleasregras 
jurídicasdeuso,gozo,promoção,proteçãoerecuperação 
do meio ambiente.” 
De acordo com o comendo normativo 
mencionado, qualquer pessoa, física ou jurídica, 
de direito público ou privado, que tenha concor- 
rido, por ação ou omissão, para a prática da infra- 
ção, responde perante a Administração pela le- 
são ou risco de lesão causados ao meio ambiente. 
A infração administração envolve a 
prática de uma conduta ilícita, contra legem. En- 
quanto na reparação civil basta a verificação do 
dano, a essência da infração consiste no com- 
portamento que se caracteriza pela desobediên- 
cia às normas jurídicas de tutela ambiental44. 
 
O dano ambiental, isoladamente, não é gerador de 
responsabilidade administrativa; contrario sensu, 
o dano que enseja responsabilidade administrativa 
é aquele enquadrável como o resultado descrito 
em um tipo infracional ou o provocado por uma 
conduta omissiva ou comissiva violadora de re- 
gras jurídicas. danoso causado por outra45. 
 
44 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. 
Editora revista dos Tribunais: São Paulo, 2009. p.886. 
45 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. 
Editora revista dos Tribunais: São Paulo, 2009. p.885. 
 
 
 
83&
&
!
!
&
&
&
&
&
&
&
A responsabilidade administrativa ca- 
racteriza-se, ainda, pela inversão do ônus da 
prova. Como se sabe, o auto de infração é o ato 
administrativo que dá início ao processo admi- 
nistrativo ambiental. Por se tratar de ato admi- 
nistrativo goza de presunção de legitimidade e 
veracidade. Assim, instaurado o processo com- 
pete ao interessado apresentar defesa no prazo 
legal para desconstituir o auto de infração46. 
 
 
2.8. A&Natureza&da&
Responsabilidade&Administrativa&
&
Conforme disciplina Celso Antônio 
Bandeira de Mello as infrações administrativas 
para serem válidas e atribuídas a quem nelas in- 
cidiu, devem atender a determinados princípios 
básicos consagrados pelo ordenamento jurídico 
pátrio. Além do princípio de que a sanção não 
pode ultrapassar a pessoa do infrator, para apli- 
cação da pena, a incursão na infração deve ser 
voluntária47. 
 
46 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. 
Editora revista dos Tribunais: São Paulo, 2009. p.890. 
47 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio. Curso de Direito Adminis- 
trativo. 18ª ed. Malheiros: São Paulo, 2005. p. 777. 
 
 
 
84&
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&
Se a incursão na infração depende da 
vontade do agente, não se pode deixar de ol- 
vidar que a incidência da sanção administrativa 
depende do dolo ou culpa de quem deu causa ou 
concorreu, ainda que de qualquer forma, para 
a prática da infração administrativa ambiental. 
A doutrina e a jurisprudência divergem quanto 
à natureza da responsabilidade administrativa 
ambiental, ora sustentando que ela é objetiva, 
ora que é subjetiva. 
No julgamento do recurso de apelação 
nº 359.129-5/00-0, cujo voto exarado ora se 
destaca, o Tribunal de Justiça do Estado de São 
Paulo decidiu que a responsabilidade adminis- 
trativa ambiental não se confunde com a res- 
ponsabilidade pela reparação do dano causado 
ao meio ambiente para concluir que a responsa- 
bilidade administrativa é subjetiva: 
 
O autor foi autuado (fls. 20) por infração tipifi- 
cada no art. 2.º, 3.º, V e 26 do Regulamento da 
LEI n° 997/76, aprovado pelo DE n° 8.468/76. 
O art. 2o proíbe o lançamento ou liberação de 
poluentes nas águas, no ar ou no solo; o art. 3o 
considera poluente toda e qualquer forma de 
matéria ou energia lançada nas águas, no ar ou 
 
 
 
85&
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no solo; o art. 26 proíbe a queima ao ar livre de 
resíduos sólidos, líquidos ou de qualquer outro 
material combustível, exceto mediante autoriza- 
ção da Cetesb. O art. 80 § único do Regulamento 
estabelece que ‘responderá pela infração quem 
por qualquer modo a cometer, concorrer para 
sua prática ou dela se beneficiar’. 
‘Cometer’ e ‘concorrer para sua prática’ são con- 
dutas comissivas, ainda que ‘por qualquer modo’; 
‘dela se beneficiar’ é responsabilidade objetiva, 
cuja adequação à sanção é mais complexa mas 
que, nestes autos e ante a demonstração que ne- 
nhum benefício teve o autor, dispensa análise. 
Os autos não demonstram relação entre a con- 
duta tipificada e a conduta do autor; ao contrário, 
tudo indica que o autor não causou o fogo que 
parece ter tido início na propriedade vizinha e 
que nenhuma atividade potencialmente degra- 
dante foi por ele exercida. 
Não se pode confundir a responsabilidade pela 
infração administrativa, que é pessoal e imposta 
nos termos descritos na lei, com a responsabili- 
dade pela recomposição do dano, objetiva e que 
decorre da propriedade ou da atividade desen- 
volvida. Por tais razões, e não por aquelas deli- 
neadas na sentença, a autuação foge ao disposto 
 
 
 
86&
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no § único do art. 80 do DE b° 8,468/76 e não 
pode subsistir. Não há relação entre a conduta 
da autora e as condutas tipificadas no auto de 
infração. A igual conclusão chegou a Câmara 
Ambiental no caso Fazenda Estadual vs Amira 
Kyrillos Derani, AC n° 321.674.5/4- 00, 2007, 
por mim relatado (voto AC-282). 
 
 
Analisando o recurso nº 0025849- 
04.2005.8.26.0000, a Câmara Reservada ao 
Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São 
Paulo também asseverou o seguinte: 
 
4. Responsabilidade. Não se pode confundir a 
responsabilidade administrativa pela infração 
com a responsabilidade pela recomposição, ain- 
da que em matéria ambiental a diferença seja 
atenuada de acordo com as circunstâncias espe- 
cíficas do caso. A responsabilidade pela infração 
administrativa, que resulta na autuação pelo ór- 
gão competente, é responsabilidade subjetiva, 
diferente da responsabilidade objetiva de repara- 
ção ao dano ambiental. 
 
 
 
 
 
 
87&
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Enquanto parte da Câmara refuta a idéia 
de que a responsabilidade administrativa prescin- 
de da culpa, parte sustenta que a responsabilida- 
de administrativa é objetiva. Na mesma Câmara, 
em outubro de 2011, no julgamento da apelação 
cível que objetivava afastar incidência de multa 
administrativa, restou estabelecido o seguinte: 
 
Embargos à execução fiscalpor multa ambiental 
queima de palha de cana-de-açúcar infringên- 
cia do art. 26 Do regulamento da lei nº 997/76, 
aprovado pelo decreto nº 8.468/76 Alegada a 
inexistência de nexo de causalidade descabimen- 
to haveria no mínimo culpa in vigilando da em- 
presa, embora tanto não fosse necessário, diante 
da objetivação da responsabilidade fundada na 
teoria dorisco integral interpretação do art. 14, 
§ 1.º, da lei 6.938/81 E do art. 225, § 2.º, da cf, 
o qual impôs ao poder público e à coletividade o 
dever de defender e preservar o meio ambiente 
para as presentes e futuras gerações presunção 
de legitimidade e veracidade da autuação propor- 
cionalidade da multa aplicada, diante da manifes- 
ta nocividade para o ambiente, a saúde pública e 
agricultura mantida a sentença em sua integrali- 
dade honorários que remuneram condignamen- 
 
 
 
88&
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&
te o patrono da parte contrária apelo. 
 
 
 
O voto conduzido pelo relator Renato 
Nalini fundamentou que a responsabilidade ad- 
ministrativa ambiental prescinde de culpa ante 
a teoria do risco integral que justifica a pres- 
cindibilidade da culpa na reparação do dano na 
esfera cível: 
 
A infração foi enquadrada nos artigos 26 e 80, 
todos do Regulamento da Lei nº 997/76, apro- 
vado pelo Decreto nº 8.468/76, e a autuada pe- 
nalizada com uma multa correspondente a 5.001 
vezes o valor da UFESP, nos termos dos artigos 
81, inciso II, 84, inciso III e 94, todos do citado 
regulamento. 
A empresa não estava autorizada a proceder à 
queima de palha de cana-de-açúcar e por isso 
teve incidência na espécie o artigo 26 do Regula- 
mento da Lei nº 997/76, aprovado pelo Decreto 
nº 8.468/76. 
(...) 
Descabida a alegada inexistência de nexo de cau- 
salidade entre o dano ambiental e a atitude da 
apelante. O fato de não ter sido ela a autora da 
 
 
 
89&
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&
queima o que não se comprovou não a beneficia. 
É que atendeu aos seus intuitos receber a colhei- 
ta da cana previamente submetida ao tratamento 
rudimentar. 
Todo agente causador de dano ecológico é res- 
ponsável por suas consequências. O imóvel rural 
extraiu benefícios dessa conduta nefasta que é a 
queimada de palha de cana-de-açúcar. Seus titu- 
lares são objetivamente responsáveis pelos efei- 
tos da agressão ecológica. 
Está totalmente superada a questão procedimen- 
tal estéril de se eximir alguém da responsabilida- 
de, sob argumento de que não foi o causador da 
queimada. A jurisprudência segue o caminho mais 
sensato: todo aquele que tirar proveito da conduta 
lesiva, poderá ser chamado a responder por ela. 
Parceiro, arrendatário, titular, promitente com- 
prador, meeiro, seja qual for a natureza jurídica 
da avença ou a situação que se pretenda fazer 
configurar, a resposta do Estado-juiz deverá ser a 
mesma. Já não é possível invocar descomprome- 
timento para se eximir de obrigações assumidas 
perante as atuais e as futuras gerações. 
A responsabilidade é solidária e objetiva. Inci- 
de na espécie o velhíssimo brocardo romano de 
que o ônus deve ser suportado por quem se be- 
 
 
 
90&
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neficia da prática. 
Todos os réus devem responder pela nociva atu- 
ação em relação à natureza. 
O que é relevante é o fato do fogo ter ocorrido 
em terreno de propriedade destinada ao cultivo 
de cana-de-açúcar a ser empregada na atividade 
de SÃO MARTINHO S/A (Atual denominação 
da COMPANHIA INDUSTRIAL E AGRÍCO- 
LA OMETTO). Há se falar, no mínimo, em cul- 
pa in vigilando da requerida, embora a demons- 
tração da culpabilidade, na hipótese sub judice, 
seja desnecessária. 
Ao criar um futuro sujeito de direitos, ainda não 
nascido, e ao responsabilizar indiscriminadamen- 
te Poder Público, sociedade e indivíduos pela 
proteção à natureza, o constituinte evidenciou 
o apreço a ser conferido a esse novíssimo ramo 
do direito. Aliás, o Direito Ambiental é produção 
típica de direito de crise, resposta criativa e au- 
daciosa para os riscos infligidos pela insensatez 
humana ao maltratado ambiente terrestre. 
Bem por isso, toda apreciação judicial pertinen- 
te à natureza haverá de ter presente a intenção 
do Legislador Constituinte. Dentre eles, adquire 
relevância para a espécie dos autos o do polui- 
dor pagador. Não significa a possibilidade de se 
 
 
 
91&
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poder pagar para poluir, mas a responsabilidade 
civil que se objetiva a cada dia, de reparar o dano 
causado ao meio ambiente, seja com fundamen- 
to no § 3.º do artigo 225 da Constituição Fede- 
ral5, seja com fundamento no § 1.º do artigo 14 
da Lei nº 6.938/816. 
Não se trata, conforme entendem alguns juristas, 
da objetivação da responsabilidade civil fundada 
na teoria do risco criado, modalidade que admiti- 
ria excludentes fundadas na culpa exclusiva da ví- 
tima, fato de terceiro, caso fortuito ou força maior. 
Na verdade, está se diante de uma objetivação 
com a adoção da teoria do risco integral, pois, se o 
porvir depende de cautela extrema das atuais gera- 
ções, para que possa existir qualidade de vida e até 
mesmo condições mínimas de subsistência num 
planeta submetido a intenso maltrato, é evidente 
que toda norma ambiental há de ser interpretada 
de modo a se atingir os desígnios constitucionais. 
Para a teoria do risco integral basta que se com- 
prove a ocorrência do dano, e o nexo de causa- 
lidade com a atividade desenvolvida. Ou seja, o 
dever de reparar é fundamentado pela só existên- 
cia da atividade da qual adveio o prejuízo. Não se 
cogita das causas do infausto. 
Não se investiga a culpa do dono da atividade. 
 
 
 
 
92&
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Não são invocáveis as tradicionais excludentes 
da responsabilidade civil. 
Não se isenta a apelante, portanto, de sua res- 
ponsabilidade objetiva. A infratora poderia até 
responder solidariamente com os supostos pi- 
romaníacos, mas nunca poderia restar incólume 
e desvinculada do incêndio, ocorrida em cultura 
destinada ao desenvolvimento de suas atividades. 
No mais, adequada a multa aplicada. (...) 
 
 
Eduardo Fortunato Bonin defende que 
“paraserpossívelaaplicaçãodapenaadministrativa, 
asemelftançadoqueocorrenasearapenal,énecessário 
ftavernegligência,imprudência,imperíciaoudolo;semal- 
gunsdesseselementosnãosejustificaapuniçãoadminis- 
trativa,aindaquesejanasearaambiental48”.Aponta 
referido autor, ao citar doutrina acerca da maté- 
ria, o seguinte: 
 
A norma constitucional reforça a proteção ao 
meio ambiente na medida em que separa os cam- 
pos de atuação dos sistemas que o protegem: ad- 
 
48 BONIN, Eduardo Fortunato. Mito da Responsabilidade Objetiva no 
Direito Ambiental Sancionador: Imprescindibilidade da Culpa nas In- 
frações Ambientais. Revista de Direito Ambiental. vl. 57. Jan/2010. 
DTR\2010\16, p. 33. 
 
 
 
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&
ministrativo, penal e o civil. O que preceitua o 
dispositivo constitucional é que a reparação do 
dano não é causa suficiente para obstar a apli- 
cação das sanções penais ou administrativas, 
sancionatórias ou não. Não diz que a responsa- 
bilidade em relação às sanções administrativas é 
objetiva; caso fosse esse o móvel do dispositivo, 
as sanções penais também seriam objetivas, fato 
notoriamente inexistente. O texto constitucional 
apenas consagra a vedação de que reparar o dano 
seria suficiente para o poluidor. 
(...) 
A leitura do § 1.º do art. 14 da Lei 6.938/1981 
confirma tal teoria ao preceituar que a indeniza- 
ção ou reparação dos danos causados ao meio 
ambiente não obsta a aplicação das sanções ad- 
ministrativa. Não são as sanções administrativas 
que prescindem da culpa, mas a indenização ou 
reparação do dano segundo clara previsão do 
dispositivo: “(...) é o poluidor obrigado, indepen- 
dentemente da existência de culpa, a indenizar 
ou reparar os danos causados ao meio ambien- 
te e a terceiros, afetados por sua atividade” (art. 
14, §1.º, da Lei 6.938/1981). Com razão, Ricardo 
Carneiro doutrina que não há “em nosso direi- 
to positivo nenhum espaço para a imposiçãode 
 
 
 
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&
sanções pelo mero resultado ou à margem da re- 
ferência ao elemento subjetivo. 
O dispositivo também cita a indenização a ter- 
ceiros, deixando claro que não apenas o dano 
causado ao meio ambiente é indenizado objeti- 
vamente, mas o dano a terceiros também, seja 
particular, seja público. Não faria sentido punir 
com multas ambientais os danos causados a ter- 
ceiros; o direito ambiental sancionador se refere 
a ilícitos administrativos, não a civis. A respon- 
sabilidade civil prevista nesse artigo somente diz 
que a indenização não exclui as penalidades ad- 
ministrativas, como também o faz o § 3.º do art. 
225 da CF/1988 ( LGL 1988\3)49. 
 
 
Analisando as decisões da Câmara Reser- 
vada ao Meio Ambiente do Tribunal de Justiça 
de São Paulo e a doutrina, parece que a melhor 
disciplina é a de que a responsabilidade adminis- 
trativa depende de culpa, tal como ocorre no Di- 
reito Penal, já que a sanção administrativa não se 
confunde com a sanção civil e vice-versa. 
 
49 BONIN, Eduardo Fortunato. Mito da Responsabilidade Objetiva no 
Direito Ambiental Sancionador: Imprescindibilidade da Culpa nas In- 
frações Ambientais. Revista de Direito Ambiental. vl. 57. Jan/2010. 
DTR\2010\16, p. 33. 
 
 
 
95&
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&
2.9. Excludentes&da&
Responsabilidade&Administrativa&
&
Diante do fato de que a prova da culpa 
é imprescindível à responsabilidade administra- 
tiva, a força maior, o caso fortuito e o fato de 
terceiro, são causas que excluem a tipicidade e 
afastam a responsabilidade administrativa. 
Como o ato administrativo goza de pre- 
sunção de legitimidade e veracidade, parte da 
doutrina sustenta que compete ao interessado 
demonstrar que sua conduta não concorreu para 
a prática da infração. 
Eduardo Fortunato Bonin, que defende 
que a responsabilidade administrativa é subjetiva, 
afirma todavia o seguinte: 
 
O ônus da prova da culpa ou do dolo é de quem 
afirma a sua existência. Assim como no processo 
penal o ônus da prova é da acusação, no proces- 
so administrativo sancionatório é de quem impôs 
ou imporá a sanção. A Administração deve provar 
que o infrator agiu com dolo ou culpa: “somente 
ficando demonstrado que a infração ambiental foi 
praticada por dolo ou culpa é que deve o infrator 
ser responsabilizado administrativamente”. 
 
 
 
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&
Ocorre que ao contrário do que poderia parecer, 
tal entendimento não enfraquece o jus puniendi 
administrativo. A prova que a acusação faz do 
dolo é indireta, uma vez que é muito difícil con- 
seguir a direta, como seria o caso de uma con- 
fissão. Pelas circunstâncias é que se comprova 
indiciariamente o dolo; no caso da culpa, a com- 
provação ocorre com a descrição do dever de 
cuidado violado. Em ambos os casos não existe 
prova conclusiva, apenas indiciária, porque ca- 
berá ao acusado comprovar a falta do elemento 
subjetivo ou pelo menos infirmar o raciocínio 
indiciário da acusação. 
Por isso Marcelo Madureira Prates é enfático ao 
defender que é o administrado que deverá apre- 
sentar “motivos suficientes a justificar a inob- 
servância do seu dever administrativo”,porque 
também entende que a presença de culpa “não 
estará, nem poderia estar, cabalmente provada 
pela Administração logo na peça de acusação50. 
 
 
De fato, o auto de infração goza de pre- 
 
50 BONIN, Eduardo Fortunato. Mito da Responsabilidade Objetiva no 
Direito Ambiental Sancionador: Imprescindibilidade da Culpa nas In- 
frações Ambientais. Revista de Direito Ambiental. vl. 57. Jan/2010. 
DTR\2010\16, p. 33. 
 
 
 
97&
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&
sunção de legitimidade e veracidade, contudo, 
sob pena de nulidade, deve descreve a conduta 
ilícita e demonstrar que o autuado agiu de forma 
contrária à legislação administrativa ambiental, 
possibilitando o pleno exercício do contraditó- 
rio e da ampla defesa. O agente fiscal ambiental 
deve agir com diligência e prudência e verificar 
por meio dos instrumentos cabíveis à prática do 
ilícito administrativo ambiental. 
 
 
2.10. A&Responsabilidade&
Administrativa&&Ambiental&&e&&a&
Ação&de& Improbidade&
&
&
Édis Milaré aponta que a Constituição 
Federal de 1988 consagrou os princípios para 
reger as atividades da Administração Pública Di- 
reta e Indireta (artigo 37), impondo ao Poder Pú- 
blico o dever de desenvolver seus trabalhos com 
probidade, razoabilidade, proporcionalidade, le- 
galidade, lealdade, moralidade e publicidade51. 
Afirma, também, referido autor, que os 
 
51 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. 
Editora revista dos Tribunais: São Paulo, 2009. p. 939-940. 
 
 
 
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entes da Administração Pública, “incumbidos da 
gestãoedaadministraçãodosrecursosambientaiseda 
qualidadepositivadomeio,estãointerligadosatravésdo 
SistemaNacionaldoMeioAmbiente–SISNAMA”, 
e devem exercer suas atividades de forma coo- 
perativa e harmônica “em atenção ao papel pri- 
mordial que assumem na missão de proteger o 
meio ambiente e de sempre garantir ou restaurar 
o equilíbrio dos ecossistemas52”. 
Como medida adequada e eficaz à con- 
secução dos interesses da coletividade, a Lei nº 
6.938 de 1981 arrolou os instrumentos de imple- 
mentação da Política Nacional do Meio Ambien- 
te. Tais instrumentos não excluem, no entanto, o 
controle da probidade administrativa por meio 
da Ação Civil Pública, mas conjuntamente visa a 
garantir a efetividade do direito ao meio ambien- 
te ecologicamente equilibrado. 
Como ensina Édis Milaré, o ato admi- 
nistrativo ambiental submete-se à fiscalização 
do Poder Judiciário, mediante provocação do 
cidadão por meio dos remédios constitucionais 
do mandado de segurança e da ação popular, ou 
ainda, do Ministério Público e demais pessoas ju- 
rídicas legitimadas pela lei para propor ação civil 
 
52 Idem, p. 939. 
 
 
 
99&
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&
de improbidade administrativa53. 
Com o advento da Lei n.º 8.429 de 1992, 
tanto o erário quanto a moralidade administrati- 
va passaram a ser tutelados pelo Poder Judiciário. 
Aludido comando normativo, que dispõe sobre 
as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos 
casos de enriquecimento ilícito no exercício de 
mandato, cargo, emprego ou função na admi- 
nistração pública direta, indireta ou fundacional 
e dá outras providências, preocupou-se com o 
combate contra a corrupção administrativa, isto, 
contra os atos que afrontam os princípios basila- 
res da ordem jurídica. 
O artigo 37, §4.º, da Constituição Fe- 
deral, dispõe que os atos de improbidade admi- 
nistrativa importarão a suspensão dos direitos 
políticos, a perda da função pública, a indisponi- 
bilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na 
forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo 
da ação penal cabível. 
De acordo com a doutrina, para apurar e 
punir a prática de atos dessa natureza, foi editada 
a Lei nº 8.429 de 1992, que se tornou o veículo 
de proteção da moralidade administrativa54. 
53 Ibidem, p. 942 
54 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. A Gestão Ambiental em Foco. 
Editora revista dos Tribunais: São Paulo, 2009. p.944. 
 
 
 
100&
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&
&
Nos termos do artigo 1.º, estão sujeitos 
aos ditames da lei, os atos de improbidade pra- 
ticados por qualquer agente público, servidor ou 
não, contra a administração direta, indireta ou 
fundacional de qualquer dos Poderes da União, 
dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, 
de Território, de empresa incorporada ao patri- 
mônio público ou de entidade para cuja criação 
ou custeio o erário haja concorrido ou concor- 
ra com mais de cinquenta por cento do patri- 
mônio ou da receita anual, bem como os atos 
de improbidade praticados contra o patrimônio 
de entidade que receba subvenção, benefício ou 
incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público 
bem como daquelas para cuja criação ou custeio 
o erário haja concorrido ou concorra com me- 
nos de cinquenta por cento do patrimônio ou da 
receita anual, limitando-se, nestes casos,a sanção 
patrimonial à repercussão do ilícito sobre a con- 
tribuição dos cofres públicos (parágrafo único). 
Para efeitos da lei, considera-se agente 
público, todo aquele que exerce, ainda que tran- 
sitoriamente ou sem remuneração, por eleição, 
nomeação, designação, contratação ou qualquer 
outra forma de investidura ou vínculo, mandato, 
cargo, emprego ou função nas entidades men- 
 
 
 
101&
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&
&
cionadas no artigo anterior (artigo 2.º). 
De acordo com o artigo 3.º a lei aplica- 
-se àquele que, mesmo não sendo agente públi- 
co, induza ou concorra para a prática do ato de 
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer 
forma direta ou indireta. 
Os atos de improbidade administrativa são 
classificados como atos que importam enrique- 
cimento ilícito (artigo 9); como atos que causam 
prejuízo ao erário (artigo 10); e atos que atentam 
contra os princípios da Administração Pública. 
As penas cominadas na Lei nº 8.429 de 
1992 são aplicadas sem prejuízos às demais san- 
ções civis, penais e administrativas previstas em 
legislação específica (artigo 12). 
O artigo 14 da lei dispõe que qualquer 
pessoa poderá representar à autoridade adminis- 
trativa competente para que seja instaurada in- 
vestigação destinada a apurar a prática de ato de 
improbidade, e o 17, que a ação principal, que terá 
o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Pú- 
blico ou pela pessoa jurídica interessada, dentro 
de trinta dias da efetivação da medida cautelar. 
Consoante disciplina o artigo 129, inciso 
III, da Constituição Federal, são funções institu- 
cionais do Ministério Público promover o inqué- 
 
 
 
102&
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&
&
rito civil e a ação civil pública, para a proteção do 
patrimônio público e social, do meio ambiente e 
de outros interesses difusos e coletivos. 
 
 
2.11. Responsabilidade&
Penal&Ambiental&
&
Segundo Celso Antônio Pacheco Fio- 
rillo, diante da repercussão social e da necessi- 
dade de uma intervenção estatal mais severa, de- 
terminadas condutas são erigidas à categoria de 
tipos penais, dando ensejo a aplicação de sanções 
mais rigorosas e de maior eficácia social55. (Curso 
de Direito Ambiental. 8ª Edição. Editora saraiva: 
São Paulo, 2007. p. 58) 
Ao citar Nelson Hungria, aponta o autor 
que“oilícitopenaléaviolaçãodoordenamentojurídico 
contraaqual,pelasuaintensidadeougravidade,aúnica 
sanção adequada é a pena”. 
Nos termos do artigo 225, §3.º, da Cons- 
tituição Federal, as condutas criminosas pratica- 
das contra o meio ambiente serão punidas pelo 
Direito Penal Ambiental. 
 
55 FIORILLO, Celso Antônio Pacheo. Curso de Direito Ambiental. 8ª ed. 
Editora Saraiva: São Paulo, 2007. p. 58. 
 
 
 
103&
&
!
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&
&
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&
&
&
&
Em atenção ao texto constitucional, foi 
editada a Lei n.º 9.605 de 1998. Referido diplo- 
ma normativo trata das sanções penais e admi- 
nistrativas derivadas de condutas e atividades 
lesivas ao meio ambiente, e será estudada no 
item a seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Capítulo&
3&
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Crimes&Ambientais&
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Como se sabe, um dos objetivos do Di- 
reito Positivo, isto é, do complexo de normas 
que formam o nosso ordenamento jurídico, é 
regular e disciplinar a vida em sociedade e o con- 
vívio dos indivíduos que a compõe. 
Quando os preceitos previstos nesse or- 
denamento não são obedecidos ou cumpridos 
pelos membros da sociedade, e as sanções civis 
não são suficientes para coibir a prática de ilícitos 
jurídicos graves que atingem além de interesses in- 
dividuais bens jurídicos relevantes, o conjunto de 
regras reúne normas jurídicas que proíbem deter- 
minadas condutas, sob pena de sanção penal. 
Segundo o Professor e Doutor Júlio Fa- 
bbriniMirabete56 “Ofatoquecontrariaanormade 
Direito,ofendendooupondoemperigoumbemalfteioou 
aprópriaexistênciadasociedade,éumilícitojurídico,que 
podeterconsequênciasmeramentecivisoupossibilitara 
aplicaçãodesançõespenais.”.Quandoos“meiosmenos 
incisivos,comoosdeDireitoCivilouDireitoPúblico, 
nãobastamaointeressedeeficienteproteçãoaosbensju- 
rídicos.”, justificam-se as disposições penais. 
A conduta profundamente lesiva à socie- 
dade dá ensejo, então, à intervenção do Estado e 
 
56 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Parte Geral. 21ª 
ed. Editora Jurídico Atlas: São Paulo, 2004, v. I, p. 22. 
 
 
 
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justifica a adoção de medidas coercitivas contra 
os indivíduos por meio do Direito Penal. 
Os ilícitos ou infrações dessa natureza, 
embora não sejam definidos pela legislação pe- 
nal, de acordo com a gravidade do fato são clas- 
sificados em crimes e contravenções penais. 
De acordo com o artigo 1.º do Decreto- 
-Lei nº 3.914 de 1941, considera- se crime a in- 
fração penal que a lei comina pena de reclusão 
ou de detenção, quer isoladamente, quer alterna- 
tiva ou cumulativamente com a pena de multa, e, 
contravenção, a infração penal que a lei comina, 
isoladamente, pena de prisão simples ou de mul- 
ta, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. 
Objetivando assegurar a tutela jurídica do 
meio ambiente de relevante alcance social, algu- 
mas normas jurídicas passaram a coibir a prática 
de condutas lesivas mediante aplicação de penas 
de prisão simples ou de multa. O antigo Código 
Florestal (Lei nº 4.771/65) elencava as condutas 
consideradas como contravenções penais, que 
eram punidas com pena de 03 (três) meses a 1 
(um) ano de prisão simples ou multa de 1 (uma) 
a 100 (cem) vezes o salário- mínimo mensal, do 
lugar e da data da infração ou ambas as penas 
cumulativamente. Mas, o novo Código Florestal 
 
 
 
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(Lei n.º 12.651/12) não menciona qualquer tipo 
de contravenção penal, fazendo referência em 
seu art. 60 apenas a três crimes previstos na Lei 
de crimes ambientais (arts. 38, 39 e 48). 
Com o advento da Constituição Federal 
de 1988, contudo, o meio ambiente ecologica- 
mente equilibrado foi elevado à categoria de di- 
reito fundamental e bem jurídico essencial à saú- 
de e bem estar das presentes e futuras gerações, 
e determinadas condutas começaram a ser repre- 
endidas de forma mais rigorosa. Inicialmente, a 
Lei nº 7.803 de 1989 incluiu o artigo 45, §3.º, ao 
Código Florestal, para punir com pena de deten- 
ção de 1 (um) a 03 (três) meses e multa de 1 (um) 
a 10 (dez) salários mínimos de referência, a co- 
mercialização ou utilização de motosserras sem 
a devida licença expedida por autoridade compe- 
tente. Posteriormente, a Lei n.º 7.804, também, 
de 1989, alterou o artigo 15 da Lei nº 6.938 de 
1981, para sujeitar o poluidor que expor a perigo 
a incolumidade humana, animal ou vegetal, ou 
tornar mais grave situação de perigo existente, 
à pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e 
multa, assim como, a autoridade competente que 
deixar de promover as medidas tendentes a im- 
pedir a prática das condutas descritas. 
 
 
 
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Como a maioria das condutas e praticas 
lesivas ao meio ambiente eram punidas como 
contravenções penais, ou seja, tinham por con- 
sequência uma pena mais branda e de menor 
eficácia social, em 1998, foi editada e publicada 
a Lei nº 9.605. Diante da criminalização consti- 
tucional, parte das condutas, dantes punidas com 
pena de prisão simples ou multa, ficou sujeita às 
penas de detenção, ou reclusão e multa. 
A Lei n.º 9.605 de 1998 é divida em Par- 
te Geral e Parte Especial. A Parte Geral que vai 
do artigo 2.º ao artigo 28 é composta por qua- 
tro capítulos que tem por finalidade disciplinar 
a aplicação da pena, a apreensão do produto e 
do instrumento de infração administrativa ou de 
crime, a ação e o processo penal, garantindo a 
aplicação subsidiária à lei tanto as disposições do 
Código Penal quanto do Código de Processo Pe- 
nal (artigo 79), e ainda da Lei dos Juizados Espe- 
ciais Criminais, quando a infração for de menor 
potencial ofensivo. 
A Parte Especial, por sua vez, é destinadaàs espécies de crimes contra o meio ambiente. A 
primeira Seção, que vai do artigo 29 ao 37, dedica- 
-se aos Crimes contra a Fauna, a segunda que vai 
do artigo 38 ao 53, aos Crimes contra a Flora, a 
 
 
 
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terceira que vai do artigo 54 ao 61, à Poluição a aos 
outros Crimes contra o Meio Ambiente, a quarta 
que compreende os artigos 62 aos 65 dedica-se 
aos Crimes contra o Ordenamento Urbano e o 
Patrimônio Cultural, e a quinta e última Seção, aos 
Crimes contra a Administração Ambiental. 
Por força do princípio do poluidor-pa- 
gador, e do dever de reparar o dano ambiental 
ser um dos objetivos principais perseguidos pelo 
artigo 225, §3.º, da Constituição Federal, a lei 
ambiental visa à punição, mas, sobretudo, a repa- 
ração ou compensação do dano ambiental. 
 
 
3.1.&Parte& Geral&
&
Apesar de repetir dispositivos da Parte 
Geral do Código Penal ou do Código de Pro- 
cesso Penal, a Lei de Crimes Ambientais possui 
suas particularidades, da qual se destacam algu- 
mas delas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3.1.1. Concurso&de&Pessoas&nos&Crimes&
Ambientais&
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Art. 2.º Quem, de qualquer forma, concorre para 
a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide 
nas penas a estes cominadas, na medida da sua 
culpabilidade, bem como o diretor, o administra- 
dor, o membro de conselho e de órgão técnico, o 
auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de 
pessoa jurídica, que, sabendo da conduta crimi- 
nosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, 
quando podia agir para evitá-la. 
 
 
Logo na primeira parte do artigo 2.º da 
Lei nº 9.605, verifica-se a preocupação do legisla- 
dor ordinário em responsabilizar não só o autor 
direto da conduta lesiva, mas todo aquele que de 
qualquer forma contribuiu ou concorreu para a 
prática do crime, como co-autor ou partícipe, 
por ação ou omissão57. 
 
 
 
 
 
57 JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz (coord.). Legislação Penal Es- 
pecial. 2ª ed. Editora Premier: São Paulo, 2008, v. 2, p. 273 
 
 
 
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3.1.2. Omissão&Penalmente&Relevante&
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Na segunda parte, o artigo 2.º, dispõe 
que o diretor, administrador, conselheiro, audi- 
tor, gerente, preposto e mandatário de pessoas 
jurídicas têm o dever jurídico de agir e de evitar 
crimes ambientais, tornando a omissão dessas 
pessoas penalmente relevantes, nos termos do 
artigo 13, parágrafo 2.º, alínea “a”, do Código 
Penal. 
 
 
3.1.3. Participação& de& Menor& ImporE&
tância& e& Cooperação& Dolosamente& DisE&
tinta&
&
Na Lei n.º 9.605 de 1998 não há previsão 
quanto aos institutos da participação de menor 
importância e da cooperação dolosamente dis- 
tinta, motivo pelo qual se aplicam subsidiaria- 
mente os parágrafos 1.º e 2.º, do artigo 29, do 
Código Penal, com a consequente diminuição da 
pena de um sexto a um terço no primeiro caso, e 
da aplicação distinta de pena no segundo. 
 
 
 
 
 
 
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3.1.4. Vedação&à&Denúncia&Genérica&
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Segundo o Superior Tribunal de Justiça e 
o Supremo Tribunal Federal é vedada a denúncia 
genérica, mediante simples inclusão de diretor, 
administrador, conselheiro, auditor, gerente, pre- 
posto e mandatário de pessoas jurídicas, no pólo 
passivo, sem exposição individualizada do fato 
criminoso praticado. 
No julgamento do HC nº 83301/RS, o 
Supremo Tribunal Federal decidiu que os com- 
portamentos típicos que concretizam a partici- 
pação dos réus nos fatos criminosos devem ser 
descritos na inicial acusatória sob pena de ofensa 
ao devido processo legal: 
 
EMENTAS: 1. AÇÃO PENAL. Denúncia. De- 
ficiência. Omissão dos comportamentos típicos 
que teriam concretizado a participação dos réus 
nos fatos criminosos descritos. Sacrifício do con- 
traditório e da ampla defesa. Ofensa a garantias 
constitucionais do devido processo legal (due 
process of law). Nulidade absoluta e insanável. 
Superveniência da sentença condenatória. Irre- 
levância. Preclusão temporal inocorrente. Co- 
nhecimento da arguição em HC. Aplicação do 
 
 
 
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art. 5.º, incs. LIV e LV, da CF. Votos vencidos. A 
denúncia que, eivada de narração deficiente ou 
insuficiente, dificulte ou impeça o pleno exercí- 
cio dos poderes da defesa, é causa de nulidade 
absoluta e insanável do processo e da sentença 
condenatória e, como tal, não é coberta por pre- 
clusão. 2. AÇÃO PENAL. Delitos contra o siste- 
ma financeiro nacional. Crimes ditos societários. 
Tipos previstos nos arts. 
21, § único, e 22, caput, da Lei 7.492/86. De- 
núncia genérica. Peça que omite a descrição de 
comportamentos típicos e sua atribuição a au- 
tor individualizado, na qualidade de administra- 
dor de empresas. Inadmissibilidade. Imputação 
às pessoas jurídicas. Caso de responsabilidade 
penal objetiva. Inépcia reconhecida. Processo 
anulado a partir da denúncia, inclusive. HC con- 
cedido para esse fim. Extensão da ordem ao co- 
-réu. Inteligência do art. 5.º, incs. XLV e XLVI, 
da CF, dos arts. 13, 18, 20 e 26 do CP e 25 da 
Lei 7.492/86. Aplicação do art. 41 do CPP. Vo- 
tos vencidos. No caso de crime contra o sistema 
financeiro nacional ou de outro dito “crime so- 
cietário”, é inepta a denúncia genérica, que omite 
descrição de comportamento típico e sua atri- 
buição a autor individualizado, na condição de 
 
 
 
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diretor ou administrador de empresa. (STF. HC 
83301/RS. Min. Marco Aurélio. Primeira Turma. 
16/03/2004) 
 
 
Nesse sentido, no Superior Tribunal de 
Justiça restou estabelecido que: 
 
PROCESSUAL PENAL – RECURSO EM 
HABEAS CORPUS – CRIME AMBIENTAL 
– DESMATAMENTO DE FLORESTA DE 
PRESERVAÇÃO PERMANENTE – NULI- 
DADE DO INQUÉRITO POLICIAL – MA- 
TÉRIA NÃO LEVADA AO CRIVO DA COR- 
TE A QUO – SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA 
– INÉPCIA DA DENÚNCIA – PEÇA GENÉ- 
RICA QUE NÃO NARRA SATISFATORIA- 
MENTE AS CONDUTAS DO AGENTE – 
ACUSAÇÃO EMBASADA TÃO- SOMENTE 
NO FATO DE SER ELE PROPRIETÁRIO DA 
FAZENDA ONDE TERIA OCORRIDO, EM 
TESE, O DESMATAMENTO ILEGAL – IM- 
POSSIBILIDADE – RESPONSABILIDADE 
PENAL OBJETIVA REPUDIADA PELO OR- 
DENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO – INE- 
XISTÊNCIA, ADEMAIS, DE QUALQUER 
 
 
 
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CONDUTA NARRADA NA DENÚNCIA 
– TIPO PENAL QUE ADMITE A MODA- 
LIDADE CULPOSA – DENÚNCIA QUE SE 
EXIMIU DE NARRAR QUAL TERIA SIDO 
O ANIMUS DO AGENTE – NECESSIDADE 
DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL – 
RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO 
E, NESSA EXTENSÃO, PROVIDO. 
De nada adiantam os princípios constitucionais 
e processuais do contraditório, da ampla defe- 
sa, em suma, do devido processo legal na face 
substantiva e processual, das próprias regras do 
estado democrático de direito, se permitido for 
à acusação oferecer denúncia genérica, vaga, se 
não se permitir a individualização da conduta de 
cada réu, em crimes plurissubjetivos. É vedado 
a este Superior Tribunal de Justiça o exame ori- 
ginário de matéria não apreciada pelo Tribunal 
a quo (irregularidades do inquérito policial), sob 
pena de indevida supressão de instância, vedada 
pelo ordenamento jurídico pátrio. Precedentes. 
A denúncia formalmente correta e capaz de en- 
sejar o efetivo exercício da ampla defesa deve in- 
dividualizar os atos praticados pelo denunciado 
e que contribuíram para o resultado criminoso. 
O simples fato de uma pessoa ser proprietária 
 
 
 
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de uma área rural, por si só, não significa que 
ela deva ser responsabilizada por qualquer crime 
indistintamente ali praticado, sob pena de con- 
sagração da responsabilidade penal objetiva, re- 
pudiada pelo nosso Direito Penal. Precedentes. 
É inadmissível a imputação de um fato delitivo 
a um acusado sem demonstrar, nem sequer em 
tese, sua contribuição (ação ou omissão) para seu 
resultado. Por outro lado, admitindo o tipo penal 
imputado ao recorrente a modalidade culposa 
(artigo 38 da Lei 9.605/1998), mister a elucida- 
ção, na denúncia, do animus que lhe moveu. Re- 
curso parcialmente conhecido e, nessa extensão, 
provido para trancar

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