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Alta Idade Média Árabes OS ÁRABES E O ISLAMISMO A península Arábica é uma região desértica, com poucas áreas propícias ao es- tabelecimento de núcleos de povoamento permanente (oásis e áreas litorâneas). Seus primeiros habitantes foram tribos de nômades do deserto, os beduínos. Por volta do século VI, mais de trezentas tribos de origem semita habitavam a região, incluindo as tribos urbanas que ocupavam a faixa costeira do mar Vermel- ho e do sul da península – área que tinha melhores condições climáticas e maior fertilidade do solo. Essas tribos concentravam-se principalmente em Meca, sua principal cidade, e em Iatreb. A importância de Meca era decorrente de seu valor comercial e religioso, uma vez que lá se encontrava a Caaba, santuário em que se depositavam as imagens dos diversos ídolos representando os deuses das tribos árabes. A tribo dos coraixitas detinha grande poder e prestígio e controlava a ci- dade de Meca. Nascido em 570 e oriundo de uma família humilde da tribo coraixita, Maomé passou a difundir uma nova fé. Seus ensinamentos continham influências judai- cas e cristãs e pregavam a existência de um deus único, Alá. Depois da morte de Maomé, os fundamentos de sua crença – denominada islamismo – foram reunidos em um livro sagrado, o Corão. Maomé condenava a peregrinação das tribos até Meca para idolatrar os vários deuses (politeísmo) representados na Caaba. Sentindo-se ameaçados, os coraix- itas repudiaram a nova religião e expulsaram Maomé e seus seguidores, os quais se instalaram na cidade vizinha de Iatreb (que teve seu nome mudado para Medi- na, que significa ‘a cidade do profeta’). Essa fuga caracterizou, em 622, a Hégira, evento que foi tomado como marco do início do calendário muçulmano. Bem recebido em Iatreb, o profeta conseguiu o apoio dos comerciantes locais e a aju- da dos beduínos, que formaram um exército para conquistar Meca. Em pouco tempo, todos os povos árabes da península converteram-se ao islamismo, o que os unificou. Após a morte de Maomé, em 632, o esforço de expansão religiosa prosseguiu. Esse empenho é chamado no islamismo de jihad, que significa a ded- icação, a luta por conseguir a fé perfeita em sua própria consciência e na daqueles que ainda não a conhecem. Também foi tida como a “guerra santa” contra infiéis ou inimigos do islã. Conquis- tada Meca, o Império Islâmico começava a se formar, conduzido pelo poder dos califas, como eram chamados os líderes árabes, ao mesmo tempo chefes religiosos e políticos. A expansão do Império se iniciou pelos vizinhos territórios bizantinos e persas e, durante a dinastia Omíada (661-750), avançou também para o Ocidente, tomando o norte da África e chegando à península Ibérica. A expansão árabe em direção à Europa ocidental só foi detida na Batalha de Poitiers (732), quando árabes e francos se enfrentaram. A unidade do Império foi quebrada sob a dinastia Abás- sida, que substituiu a Omíada em 750. Surgiram califados independentes, sediados em grandes cidades como Bagdá (no atual Iraque), Córdoba (na atual Espanha) e Cairo (no atual Egito). A perda da unidade política foi acom- panhada da divisão religiosa, com o crescimento de duas seitas principais: a dos sunitas e a dos xiitas. Os sunitas baseavam sua crença no Suna, livro de preceitos estabelecidos por Maomé; acreditavam na livre escolha dos chefes políticos pela comunidade de crentes. Os xiitas (do árabe, ‘seguidores de Ali’, genro de Maomé), por sua vez, defendiam que a autoridade política e religiosa deveria concentrar-se nas mãos de uma única pessoa que descendesse do profeta Maomé, exercendo o poder de maneira absoluta. Não admitiam outra fonte de ensinamento doutrinário que não fosse o Corão e seguiam as determinações de um grupo de religiosos – os mujtahids, cujos membros mais importantes são chamados de aiatolás (líderes es- pirituais). As ações dos povos árabes tiveram consequências que foram além de seu próprio império. A expansão pela bacia do Mediterrâneo, o controle que obtiveram sobre a região e as constantes incursões realizadas no litoral sul da Europa intensificaram o declínio comercial e a ruralização na Europa ocidental. Mesmo contidos pelos francos, foram vizinhos – e fronteira – do que viria a se constituir como Europa ao longo da Idade Média.