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1 CAMPUS SANTANA DO LIVRAMENTO CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS Economia Monetária Aula VII, VIII e IX Oferta de Moeda e Política Monetária Cap. 12: CARVALHO ET AL. Prof.: Pierre Joseph NELCIDE 2 Conteúdo do capítulo: Estrutura operacional da política monetária: objetivos finais, metas, instrumentos e funções de reação. Uma introdução aos conceitos operacionais. Instrumentos de política monetária. 3 12.1. ESTRUTURA OPERACIONAL DA POLÍTICA MONETÁRIA: OBJETIVOS FINAIS, METAS, INSTRUMENTOS E FUNÇÕES DE REAÇÃO É útil para entendermos o modus operandi da política monetária, partirmos de uma estrutura analítica básica, dividindo a política monetária em objetivos, metas e instrumentos, de modo a permitir uma visualização mais clara do seu funcionamento. 4 12.1.1. OBJETIVOS FINAIS DA POLÍTICA MONETÁRIA A definição dos objetivos finais para a política monetária é um tema particularmente controverso da teoria econômica, envolvendo discussões diversas, como a existência (ou não) de um trade-off manipulável entre inflação e desemprego ou seja, de uma relação inversa, estável e instrumentalizável entre nível de desemprego e inflação (a conhecida Curva de Philips). 5 A aceitação dessas (e de outras) hipóteses teóricas tem consequências diretas sobre a condução da política monetária, pois resulta em aceitar ou não se esta tem capacidade de afetar em longo prazo (ou seja, de forma permanente) as variáveis reais da economia, como os níveis de produto e de emprego, ou se afeta apenas as variáveis nominais, como a inflação. O que está em jogo é saber o que a política monetária é capaz de fazer e, portanto, se ela deve ser conduzida de forma discricionária ou com base em uma regra. 6 O estatuto de muitos bancos centrais estabelece que seu objetivo principal (senão o único) é alcançar a estabilidade de preços. Na prática, contudo, nem sempre isto ocorre, pois muitas vezes prevalece o pragmatismo na condução da política monetária. Na realidade, bancos centrais perseguem vários objetivos, além da estabilidade de preços, tais: Alto nível de emprego; Maior crescimento econômico; 7 Estabilidade da taxa de câmbio (dadas as interações entre taxa de juros e taxa de câmbio); Prevenção de falências bancárias e manutenção da saúde do sistema financeiro (papel de fiscalizador e emprestador de última instância do sistema); Manutenção da confiança dos investidores estrangeiros etc. A compatibilidade entre estes diferentes objetivos, em particular entre buscar um alto nível de emprego/maior crescimento econômico e garantir estabilidade de preços, tem sido objeto de persistentes disputas. 8 12.1.2. INSTRUMENTOS DE POLÍTICA MONETÁRIA Os instrumentos de política monetária são os métodos e meios usados na implementação desta política que afetam diretamente as variáveis operacionais, com vistas a alcançar as metas intermediárias desejadas. Em geral, utiliza-se o multiplicador monetário para aferir (comparar) o impacto das alterações na base monetária sobre a oferta de moeda da economia. 9 Trata-se de um conceito que pode ser útil operacionalmente, mas é bastante simplificador em termos da forma como opera a política monetária, já que pressupõe uma estabilidade e previsibilidade na demanda por moeda do público, o que nem sempre ocorre. Os instrumentos clássicos de política monetária são três: recolhimento compulsório; redesconto de liquidez e; operações de mercado aberto. 10 12.1.3. METAS DE POLÍTICA MONETÁRIA Metas Intermediárias A atuação da política monetária sobre a economia leva tempo para se completar. Entre o momento da decisão política e a consecução ou não dos seus objetivos decorre, assim, um longo período de tempo em que a autoridade monetária não sabe o impacto efetivo de suas ações. 11 Por isso, o Banco Central estabelece metas intermediárias: são como sinais de estrada que servem para informar ao Banco Central se a política está a caminho de fazer efeito ou não. Duas, normalmente, são as metas intermediárias: (a) taxa de juros de longo prazo; (b) agregados monetários (várias medidas de volume de moeda ou de crédito bancário). 12 Através do uso dessas metas delas que as autoridades monetárias procuram influenciar os objetivos finais da política, já que estes últimos não podem ser afetados diretamente pela política monetária. As metas intermediárias funcionam como indicadores de política monetária, sumariando o impacto da política passada sobre a economia, pois: (a) fornecem ao Banco Central informações imediatas e contínuas, importantes para verificar se os instrumentos estão tendo o impacto desejado; 13 (b) mais especificamente, permitem aferir se o impacto global das ações da política está na direção de uma política expansionista ou contracionista. Metas Operacionais As metas operacionais referem-se àquelas variáveis que são resultado direto da operacionalização de um instrumento de política monetária, sendo fortemente associadas às metas intermediárias e aos instrumentos de política. 14 O Banco Central, através da mesa de operações de mercado aberto, pode atuar fixando preços, ou seja, a taxa de juros, com o mercado determinando a quantidade de reservas (de moeda); ou então, controlando a quantidade de reservas bancárias e, assim, o mercado determinando a taxa de juros. São dois os tipos de metas operacionais: (a) determinação da taxa de juros básica de curto prazo (como a taxa de overnight); (b) controle das reservas bancárias agregadas. 15 Mudanças nas variáveis operacionais, através dos instrumentos de política, afetam as metas intermediárias. Na passagem das metas operacionais (reservas) para as intermediárias (agregados monetários) opera o multiplicador monetário, em que a base monetária é transformada em um dado volume de meios de pagamento. É importante ressaltar que o Banco Central não pode controlar simultaneamente a taxa de juros básica e o nível de reservas bancárias. 16 Se o Banco Central pretende alcançar uma determinada meta de taxa de juros, ele deve abrir mão do controle sobre o nível de reservas, que neste caso funciona como a variável de ajuste. Por outro lado, se o Banco Central tenta alcançar uma determinada meta monetária agregada, ele perde o controle sobre a taxa de juros, pois esta deve ser permitida variar de modo a alcançar o nível consistente com a meta monetária. 17 Ex: Vamos assumir um aumento no gasto público financiado com emissão de dívida pública. O aumento na demanda agregada resultante conduz a um nível de gasto e de renda maior que, por sua vez, aumenta a demanda por moeda na economia. Supondo que o Banco Central vá procurar manter uma determinada meta de taxa de juros básica em r1(Gráfico 12.1). Esta meta irá requerer uma mudança na oferta de moeda para compensar o deslocamento na função demanda por moeda. 18 O impacto inicial deste deslocamento é um aumento na taxa de juros para r2, enquanto que a oferta de moeda permanece em MS1. O Banco Central precisa então aumentar a oferta de moeda de MS1 para MS2 para compensar o deslocamento na demanda por moeda, de modo a manter a taxa de juros em r1. Assim, ter uma meta de taxa de juros implicauma perda de controle sobre a oferta de moeda na presença de um deslocamento na demanda por moeda. 19 Supondo que o Banco Central está comprometido com uma meta de oferta de moeda MS1, o que significa que ele terá que abrir mão do controle sobre a taxa de juros, que neste caso passa a ser a variável de ajuste. 20 A tentativa de manter a oferta de moeda em MS1 significará que o deslocamento na demanda de moeda de MD1 para MD2 requer que o Banco Central deixe a taxa de juros se mover de r1 para r2 (Gráfico 12.2). 21 O quadro 12.1 sintetiza a estrutura analítica de política monetária. Deve-se ressaltar que, ainda que alguns bancos centrais estejam voltados para o controle de agregados monetários, eles conduzem a sua política monetária no dia a dia por meio da fixação da taxa de juros de curto prazo, que é, portanto, na prática, a meta operacional de política monetária. 22 No Brasil a taxa de juros básica, assim como seu viés ou tendência (alta, baixa ou neutra) é definida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (COPOM), que se reúne periodicamente (oito vezes ao ano), com a participação do presidente do BCB, os sete diretores da instituição e outros cinco chefes de departamento (estes sem direito a voto). A taxa de juros fixada na reunião do Copom é a meta para a taxa Selic, a qual vigora por todo o período entre reuniões ordinárias do Comitê. 23 Se o viés for de baixa, o presidente do BCB poderá reduzir a taxa de juros antes da reunião seguinte, se considerar adequado; se o viés for de alta, os juros podem subir; e se o viés for neutro, isto significa que os juros não mudam até a próxima reunião ordinária. Contudo, isto somente pode ocorrer se for convocada uma reunião ordinária. Pergunta: Que tipo de regra pode ser utilizada pelo Banco Central para determinar a taxa de juros de curto prazo? 24 Resposta: A mais conhecida é a chamada “Regra de Taylor”, formulada inicialmente pelo economista norte-americano John Taylor, em 1993. 12.1.4. FUNÇÃO DE REAÇÃO DO BANCO CENTRAL: A REGRA DE TAYLOR A Regra de Taylor tem sido usada como uma espécie de função de reação do Banco Central na determinação da taxa de juros de curto prazo. Serve, assim, como um guia operacional que o Banco Central pode seguir no 25 processo decisório de política monetária. A regra relaciona a taxa de juros (básica) a: i) Desvios da inflação presente (ou esperada) em relação à meta inflacionária (estabelecida pela autoridade econômica); ii) ao hiato do produto (ou seja, o desvio do produto efetivo de um país com relação ao produto potencial)3 ; e iii) à taxa de juros real de equilíbrio. 26 Assim, temos que: 𝑖𝑡 = 𝜋𝑡 + 𝑔(𝑦𝑡 − 𝑦 ∗) + ℎ(𝜋𝑡 − 𝜋 ∗) + 𝑟𝑓 (1) 𝑖𝑡: taxa de juros nominal de curto prazo 𝜋𝑡: taxa de inflação 𝜋∗: meta para taxa de inflação (𝑦𝑡 − 𝑦 ∗): desvio do PIB (𝑦𝑡) com relação ao seu potencial (𝑦∗) (𝜋𝑡 − 𝜋 ∗): desvio da taxa de inflação (𝜋𝑡 ) com relação à meta inflacionária (𝜋∗) 𝑟𝑓: estimativa da taxa real de juros de equilíbrio da economia 𝑔, ℎ > 0; esses parâmetros medem a sensibilidade da taxa de juros, respectivamente, ao desvio do PIB com relação ao seu potencial e ao desvio da inflação com relação à meta. 27 A meta inflacionária pode ser explícita (no caso de um país que adote um regime de metas de inflação) ou implícita (isto é, o Banco Central trabalha com uma meta inflacionária não anunciada). Segundo essa regra, o Banco Central eleva (ou diminui) a taxa de juros quando a inflação aumenta (diminui) em relação à meta de inflação almejada pela autoridade econômica e/ou quando o produto real efetivo da economia supera (ou está abaixo) o nível compatível com a taxa potencial do produto. 28 Assim, se houver a necessidade de se elevar a taxa de juros, o Banco Central, com base na decisão do Comitê de Política Monetária, deverá por intermédio da mesa de mercado aberto realizar vendas de títulos públicos, contraindo assim a base monetária o que, por sua vez, pressiona a taxa de juros para cima. O quadro abaixo sintetiza os movimentos da taxa de juros em respostas a mudanças nas variáveis da Regra de Taylor. 29 John Taylor sugere que os pesos dados pela autoridade monetária aos parâmetros g e h correspondam a 0,5, embora em outros trabalhos este economista reconheça que outras estimativas sugerem pesos diferentes. EX: Supondo que a taxa de inflação acumulada no ano ( 𝜋𝑡 ) em determinado período seja 5,0%, a meta de inflação do período (𝜋∗) igual a 4,0%, o produto real efetivo ( 𝑦𝑡 ) 30 5,0% e o produto potencial estimado (𝑦∗) 4,0%, e a taxa real de juros de equilíbrio (𝑟𝑓) 2,0%, então segundo a Regra de Taylor a taxa de juros nominal de curto prazo deve ser igual a 8,0%, já que it = 5,0 + 0,5 (5,0 – 4,0) + 0,5 (5,0 – 4,0) + 2,0. A regra de política monetária na prática, segundo John Taylor, não deve ser utilizada de forma mecânica, sendo necessário que o Banco Central observe o comportamento de outras variáveis econômicas relevantes na determinação da taxa de juros. 31 Em particular, em momentos de choques temporários de grande magnitude, a taxa de juros não deve sofrer movimentos abruptos. Neste caso, a taxa de juros deve ser calibrada de forma gradual de modo que a inflação corrente convirja mais lentamente para a meta e o PIB também convirja gradualmente para o seu potencial. Tal procedimento leva em conta os custos do processo de ajuste em termos de produto e emprego. Ou seja, o Banco Central deve considerar a volatilidade do nível de atividade em sua tomada de decisão, sem 32 desconsiderar o objetivo de atingir as metas de inflação. Deve-se acrescentar, ainda, que outros instrumentos de política econômica podem ser utilizados para atingir o objetivo de estabilidade de preços de forma a não sobrecarregar a taxa de juros em sua tarefa de combater a inflação, já que os custos do processo de ajuste pode ser demasiado elevado. Ex: Uma quebra na safra agrícola elevando a inflação acima da meta e reduzindo o PIB abaixo do seu potencial, o governo pode adotar uma política de regulação de estoques de 33 produtos agrícolas para evitar que eventuais quebras de safra elevem excessivamente a inflação. A regra de Taylor estimada para ser adotada pelo Banco Central do Brasil: 𝑖𝑡 = 𝛼𝑖𝑖𝑡−1 + (1 − 𝛼1)[𝛼0 + 𝛼2(𝐸𝑡𝜋𝑡+𝑗 − 𝜋𝑡+𝑗 ∗ ) + 𝛼3𝑦𝑡−1 + 𝛼4∆𝑒𝑡−1] (2) 𝑖𝑡: taxa de juros (Selic) estabelecidos pelo COPOM; 𝐸𝑡𝜋𝑡+𝑗: expectativas inflacionárias, referente a algum período no futuro; 𝜋𝑡+𝑗 ∗ : meta de inflação no ano 𝑦𝑡−1: hiato do produto ∆𝑒𝑡−1: variação da taxa de câmbio nominal 34 12.2. UMA INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS OPERACIONAIS 12.2.1. MERCADO DE RESERVAS BANCÁRIAS Este mercado destina-se à negociação das reservas bancárias entre os bancos, e entre estes e o Banco Central. O mercado de reservas bancárias é o espaço institucional onde o Banco Central executa a política monetária. 35 Pode ser separado em dois mercados: a) O mercado primário é aquele em que ocorre uma transação entre o Banco Central e os bancos, que ocasiona a criação ou destruição de reservas. Ex: A venda de títulos públicos por parte do Banco Central em leilões formais para instituições bancárias, que é considerada uma operaçãode venda definitiva, que, como será visto, difere das operações compromissadas, usadas para efetuar o controle discricionário da liquidez por parte do Banco Central. 36 b) O mercado secundário é aquele em que ocorre uma transação interbancária, que resulta numa permuta de reservas entre bancos. Neste caso, não há criação ou destruição de reservas. Trata-se do mercado conhecido como interbancário, que pode incluir operações compromissadas realizadas entre os próprios bancos. É importante saber que a conta reservas é a conta de depósito em espécie que todos os bancos mantêm junto ao Banco Central, com o objetivo de registrar e receber os 37 recolhimentos compulsórios dos bancos, a liquidação de transações entre cada banco e o Banco Central, além de efetuar a liquidação e compensação dos pagamentos e recebimentos entre os próprios bancos (transações interbancárias). 12.2.2. GERENCIAMENTO DIÁRIO DE LIQUIDEZ E SINALIZAÇÃO DO RUMO DA POLÍTICA MONETÁRIA Por meio do gerenciamento diário de liquidez, o Banco Central procura contrabalançar os movimentos de liquidez das variações autônomas das 38 reservas bancárias, de modo a manter em equilíbrio o mercado de reservas, visando neutralizar as oscilações da taxa de juros básica decorrentes dessas variações. O pressuposto é que existe um nível de reservas bancárias que garante a estabilidade da taxa de juros e é este nível que deve ser perseguido pelas ações compensatórias. 39 12.2.3. SINALIZAÇÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA O Banco Central busca também efetuar a sinalização para o mercado do rumo da política monetária, de modo a influenciar a estrutura de taxa de juros da economia por meio da variável operacional básica, ou seja, a taxa de juros de curto prazo, com a finalidade de atingir objetivos mais amplos de política monetária, relacionados a uma estratégia de prazo mais longo. 40 Ex: Na adoção de uma política monetária restritiva, o Banco Central deve colocar o maior volume possível de títulos junto ao mercado para alcançar uma redução das reservas bancárias e, consequentemente, um menor crescimento dos agregados monetários. 41 12.3. INSTRUMENTOS DE POLÍTICA MONETÁRIA 12.3.1. RECOLHIMENTOS COMPULSÓRIOS Os recolhimentos compulsórios são depósitos, sob a forma de reservas bancárias, que cada banco é obrigado legalmente a manter no Banco Central em reserva bancária, sendo calculados como um percentual sobre os depósitos. Tais depósitos podem ser efetuados em espécie (reservas bancárias) ou em títulos indicados pelo Banco Central. 42 Uma de suas principais funções na implementação da política monetária é estabilizar a demanda por reservas bancárias, de modo a facilitar a ação do Banco Central na fixação da taxa de juros. Em geral, este instrumento é posto em prática com o cumprimento de uma obrigação média dos saldos diários da conta reservas bancárias. A apuração da quantidade a ser recolhida deriva do saldo da base de incidência do recolhimento compulsório em um intervalo de 43 tempo intitulado período de cálculo. A obrigação do recolhimento compulsório, por sua vez, é cumprida, por meio do depósito do valor exigível no Banco Central, ao longo de um período de tempo denominado período de movimentação. No que se refere à sobreposição entre o período de cálculo e o período de movimentação, o recolhimento compulsório pode ser classificado como contemporâneo e defasado. 44 No recolhimento contemporâneo, há sobreposição entre o período de cálculo e o período de movimentação, pois este último inicia-se antes do encerramento do primeiro, quando se estabelece o exigível. No recolhimento defasado, o período de movimentação inicia-se somente após o término do período de cálculo, podendo inclusive começar alguns dias depois. Formas de Recolhimento dos Depósitos Compulsórios Há dois modos de cumprir a obrigação relativa ao recolhimento compulsório. 45 1) No primeiro modo, o banco deve, diariamente, durante todo o período de movimentação, encerrar o movimento bancário com saldo positivo na conta reservas bancárias que seja, no mínimo, igual ao exigível. Caso isto não ocorra, o banco está sujeito a penalidades pecuniárias e administrativas. 2) No segundo modo, o banco tem que cumprir o recolhimento compulsório pela média das posições diárias de depósito durante o período de movimentação, sendo definido um valor mínimo que o banco deve 46 manter depositado em todos os dias do período. Em um determinado dia do período de movimentação, um banco pode sacar uma quantia de reservas bancárias do seu recolhimento compulsório, seja para zerar seu caixa, seja para fazer uma arbitragem com a taxa de juros no mercado interbancário. Todavia, nos outros dias do mesmo período de movimentação o banco tem que manter um excesso de saldo que garanta, na média do período, o cumprimento do valor exigível. 47 As principais funções do recolhimento compulsório são: (a) fornecimento de liquidez ao sistema bancário, diminuindo a probabilidade de ocorrência de pânicos financeiros; (b) controle de crédito, através da influência nas condições em que o mesmo é concedido; (c) estabilização da demanda por reservas bancárias, ao tornar mais fácil e estável o gerenciamento de liquidez por parte de cada banco. 48 Funções do Recolhimento Compulsório Embora o recolhimento compulsório seja normalmente visto como um instrumento utilizado para o controle de agregados monetários pelo Banco Central, tal função tem sido relegada a segundo plano, considerando, entre outros fatores, o fato de que a política monetária em quase todos os países tem objetivado o controle da taxa de juros no mercado monetário e não o controle de agregados monetários. 49 A estrutura dos recolhimentos compulsórios no Brasil tem as seguintes características: a) O recolhimento é defasado, com o período de movimentação iniciando-se após o término do período de cálculo, com a defasagem de um dia. As instituições financeiras são divididas em dois grupos para fins do encaixe obrigatório sobre recursos à vista: “Grupo A” e “Grupo B”, sendo que ambos possuem o período de cálculo e de movimentação de cinco dias úteis, com defasagem de duas semanas entre os dois grupos (Quadro 12.3). 50 b) O cumprimento do exigível é feito com base na média das posições diárias de depósito durante o período de movimentação, sendo necessário manter um depósito mínimo diário de 80% do exigível no caso dos recursos à vista. c) A base de incidência é ampla, incluindo no caso de recolhimentos à vista: depósitos à vista, depósitos de aviso prévio, recursos em trânsito de terceiros, cobrança e arrecadação de tributos, cheques administrativos, obrigações por prestação de serviço de pagamento e recursos de garantias realizadas; e no caso de recursos a 51 prazo: depósitos a prazo, recursos de aceites cambiais, células pignoratícias de debêntures, títulos de emissão própria e contratos de assunção de obrigações vinculadas a operações com exterior. d) O recolhimento compulsório sobre recursos à vista é cumprido em espécie e sem qualquer remuneração pelo Banco Central. Já o recolhimento compulsório sobre depósitos a prazo é cumprido em títulos públicos federais e o recolhimento sobre depósitos de poupança é cumpridoem espécie, mas remunerado por 80% da remuneração da poupança. Em todas as 52 modalidades há penalidades legais para o não cumprimento desta obrigação. e) A base de cálculo da exigibilidade do recolhimento compulsório sobre recursos à vista corresponde à média aritmética do Valor Sujeito a Recolhimento (VSR) apurados no período de cálculo, deduzida de R$ 44.000.000,00. O período de cálculo tem início na 2a feira de uma semana e término na 6a feira da mesma semana. A base de cálculo da exigibilidade do recolhimento compulsório sobre recursos a prazo, 53 por sua vez, corresponde à média aritmética dos VSRs apurados no período de cálculo, deduzida de R$ 30.000.000,00. O período de cálculo é de uma semana corrida. f) A exigibilidade do recolhimento compulsório e do encaixe obrigatório sobre recursos à vista é apurada aplicando-se a alíquota de 45% sobre a base de cálculo de que trata o item anterior; alíquota de 15% para recursos a prazo, e de 20% para depósitos de poupança. 54 g) Em 2002, o Conselho Monetário Nacional instituiu uma “exigibilidade adicional sobre depósitos” que corresponde à soma das parcelas de um adicional de 8% da média do VSR dos recursos à vista e dos recursos a prazo e 10% da média do VSR sobre depósitos de poupança, sendo deduzido R$ 100.000,00 do total apurado. A exigibilidade adicional é cumprida em espécie e remunerada pela taxa Selic. 55 56 Sistemática de Operação do Compulsório sobre Recursos à Vista no Brasil A forma de cálculo do recolhimento compulsório sobre recursos à vista é bastante simples, como pode ser visto no exemplo a seguir. Primeiramente, vale reiterar que o Banco Central dividiu as instituições que são obrigadas a efetuar tal recolhimento em dois grupos, A e B. O objetivo é evitar uma contração ou uma expansão excessiva da liquidez no momento em que o compulsório for devido. 57 Em segundo lugar, o recolhimento é feito em espécie, sem remuneração. Como já assinalado, a média dos saldos diários deve ser deduzida de R$ 44 milhões e a instituição deve manter saldo diário de, no mínimo, 80% da exigibilidade apurada para o respectivo período de movimentação. Por fim, a alíquota sobre recursos à vista é de 45% sobre a exigibilidade apurada. EX: Dois bancos, “a” e “b”, que fazem parte, respectivamente, dos grupos A e B, apresentaram os 58 seguintes saldos diários das contas que sofrem a incidência de compulsório: No caso do Banco “a”, o período de cálculo vai da 2a à 6a feira da primeira semana. Assim, a média aritmética dos saldos diários dos títulos (MASD) sujeitos à incidência de compulsório no primeiro período de cálculo vai ser igual a: 59 𝑀𝐴𝑆𝐷𝐵𝑎𝑛𝑐𝑜 𝑎 = 153 + 129 + 156 + 177 + 210 5 = 825 5 = 165.0 Como mostra o Quadro 12.4, antes de achar a base de incidência (BI) do compulsório, a instituição está autorizada a abater R$ 44 milhões. No Banco “a”, a base de incidência do compulsório sobre depósitos à vista na primeira semana seria igual a R$ 121,0 milhões. 60 Supondo que os saldos diários do exemplo acima se refiram exclusivamente a depósitos à vista. Assim, sobre a média aritmética dos saldos diários deduzida dos R$ 44 milhões vai incidir uma alíquota de recolhimento compulsório de 45%. Logo, o valor sujeito a recolhimento (Exigível) será igual a: 𝐸𝐵𝑎𝑛𝑐𝑜 𝑎 = 0.45 ∗ 𝐵𝐼𝐵𝑎𝑛𝑐𝑜 𝑎 = 0.45 ∗ 121 𝑚𝑖𝑙ℎõ𝑒𝑠 = 𝑅$ 54.5 𝑚𝑖𝑙ℎõ𝑒𝑠 Uma vez calculados os valores sujeitos a recolhimento, é possível analisar o período de movimentação. 61 No caso do compulsório sobre depósitos à vista, a instituição financeira é obrigada a recolher o valor devido à sua conta de reservas bancárias junto ao Banco Central até o final do período de movimentação, observando que o saldo diário desta conta nesse período não poderá ser inferior a 80% do valor devido como compulsório. No caso dos bancos do exemplo acima, supondo que tais instituições tenham interesse em aplicar o máximo de suas reservas livres, poderíamos ter o seguinte comportamento (em valores em R$ milhões): 62 No caso do Banco “a”, R$ 43,6 milhões representam 80% de R$ 54,5 milhões, sendo o mínimo que o banco é obrigado a recolher em cada dia de movimentação. Como o total a ser recolhido neste período de movimentação é R$ 272,50 milhões (5 * 54,5), considerando que o banco recolheu nos quatro primeiros dias R$ 174,4 milhões (4 * 43,6), então a instituição é obrigada a recolher no último dia de movimentação o valor de R$ 98,1 milhões (272,50 – 174,4). 63 Este recolhimento tem de ser realizado sempre em espécie e não recebe qualquer remuneração. No caso de a exigibilidade compulsória ser igual ou inferior a R$ 10 mil, a instituição fica desobrigada de efetuar seu recolhimento. O Banco Central do Brasil estipula multas elevadas para aquelas instituições que descumprirem as exigências relativas à conta “reservas bancárias”. Neste caso, o custo financeiro é calculado tomando-se a taxa Selic mais os juros de 14% a.a. 64 12.3.2. REDESCONTO OU ASSISTÊNCIA FINANCEIRA DE LIQUIDEZ As operações de redesconto ou de assistência financeira de liquidez são empréstimos, na forma de crédito em reservas bancárias concedidos pelo Banco Central aos bancos, voltado normalmente para atender necessidades episódicas de reservas por parte das instituições bancárias. Há duas formas de assistência financeira de liquidez: a) empréstimos com garantias: o Banco Central concede crédito 65 rotativo contra garantias até o limite de saque do tomador fixado pelo Banco Central, calculado, em geral, com base no passivo exigível do banco e fixado para um determinado período; b) redesconto: o Banco Central desconta títulos elegíveis, por ele definidos, à taxa de juros previamente definida para essas operações, sendo a escolha dos títulos elegíveis como garantias nas operações de assistência de liquidez uma forma de criar demanda para esses papéis, em que os títulos eleitos mais comuns são os de dívida pública.
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