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História e Literatura do Antigo Testamento - Livro

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História e Literatura 
do Antigo Testamento
História e Literatura 
do Antigo Testamento
Acir Raymann
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de 
inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio 
ou forma sem a prévia autorização da Editora da ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº .610/98 e 
punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero - ULBRA/Canoas
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Conselho Editorial EAD
Dóris Cristina Gedrat (coordenadora) 
Mara Lúcia Machado 
Astomiro Romais 
Dados técnicos do livro 
Fontes: Minion Pro, Officina Sans 
Papel: offset 90g (miolo) e supremo 240g (capa) 
Medidas: 15x22cm
Projeto Gráfico: Humberto G. Schwert
Editoração: Rodrigo Saldanha de Abreu
Capa: Juliano Dall’Agnol
Coordenação de Prod. Gráfica: Edison Wolf
Impressão: Gráfica da ULBRA
Abril/2011
ISBN 978-85-7528-372-1
Andrea Eick
André Loureiro Chaves
Cátia Duizith
Acir Raymann possui graduação em Pedagogia pela Faculdade Porto-
Alegrense de Educação, Ciências e Letras (1972); graduação em Teologia 
pelo Seminário Concórdia (1970); mestrado em Teologia pelo Concordia 
Seminary (1974); e doutorado em Teologia pelo Concordia Seminary 
(1999). Atualmente é professor adjunto da ULBRA e professor titular do 
Seminário Concórdia. Tem experiência na área de Teologia, com ênfase 
em Teologia do Antigo Testamento, atuando principalmente nos seguintes 
temas: hebraico bíblico, Antigo Testamento, exegese, hermenêutica e 
arqueologia bíblica.
R267h Raymann, Acir.
História e literatura do antigo testamento / Acir Raymann. – 
Canoas : Ed. ULBRA, 2011.
136 p.
1. Antigo Testamento. 2. História. 3. Religião. I. Título.
 CDU 222
Sumário
 Apresentação .............................................................. 7
 1 | O Antigo Testamento.................................................... 9
 2 | História do estudo científico do Antigo Testamento ........ 21
 3 | A formação do Antigo Testamento ................................ 27
 4 | O Pentateuco – Gênesis .............................................. 37
 5 | Êxodo ...................................................................... 49
 6 | Levítico ................................................................... 65
 7 | Números .................................................................. 73
 8 | Deuteronômio ........................................................... 83
 9 | Os profetas – Isaías ................................................... 91
 10 | Os Escritos – Salmos .................................................109
 Bibliografia .............................................................129
 Apêndice ................................................................133
Apresentação
Esta disciplina se chama História e Literatura do Antigo Testamento. 
Comecemos por definir o que pretendemos com esse título. Iniciemos com a 
última expressão: Antigo Testamento. O nome “Antigo Testamento” provém de 
2 Coríntios 3.14, em que o apóstolo Paulo emprega a expressão “antiga aliança” 
para designar a Bíblia hebraica. Paulo reporta-se aqui à ideia da “nova aliança”, 
mencionada em Jeremias 31.31. Na visão cristã, o conceito “Antigo Testamento” 
implica que a Bíblia compõe-se de duas partes, a saber, o Antigo ou Primeiro 
Testamento e o Novo ou Segundo Testamento. 
O termo “Testamento” vem da língua latina, uma tradução do termo hebraico 
berit, que significa “aliança”. Claro, recentemente no diálogo entre cristãos e 
judeus o emprego da expressão “Antigo Testamento” foi criticado porque o termo 
“antigo” pode também ter a conotação de “ultrapassado” levando a crer que o 
Antigo Testamento só tem valor por causa do Novo Testamento ou, pior (como 
julgam alguns), uma vez que o “novo” está presente, o “antigo” é perfeitamente 
dispensável. (Não é assim que muitas vezes até cristãos sinceros e piedosos 
também pensam?) Este é o motivo por que as expressões mais objetivas “Bíblia 
hebraica” e “Primeiro Testamento” são aqui também empregadas.
Originalmente, o texto bíblico não continha divisão em capítulos, versículos e 
nem mesmo divisão entre palavras que não continham vogais (embora o hebraico 
8 Apresentação
fosse uma língua vocálica).1 Todos esses artifícios foram criados posteriormente, 
quando a língua hebraica deixava de ser a língua franca (tipo assim inglês da época) 
para se tornar a segunda língua ou até mesmo uma língua morta na Palestina.
A atual divisão em capítulos, portanto, não provém dos autores bíblicos, mas é 
uma iniciativa do arcebispo da Cantuária chamado Stephan Langton, no século XIII. 
A divisão em versículos foi feita bem mais tarde, por volta de 1550. Os textos bíblicos 
encontrados em Qumran (em português Cumrã), nas cavernas do mar Morto em 
1947, mostram que já antes de Jesus o texto do Antigo Testamento estava dividido 
em capítulos e versículos que serviam, sobretudo, para fins litúrgicos. Mais tarde, 
na época rabínica, foram determinados os parágrafos e os trechos de leitura para o 
culto; versículos eram determinados por acentos gráficos, mas não numerados. 
Também se deve levar em conta que os títulos dos capítulos, comum na 
maioria das traduções, são acréscimos posteriores cuja intenção é estruturar o 
texto e facilitar a sua compreensão. Neste livro, os nomes próprios bem como o 
sistema de abreviação de livros bíblicos e de indicação de capítulos e versículos 
seguem a versão revista e atualizada de João Ferreira de Almeida, editada pela 
Sociedade Bíblica do Brasil.
Estudar História e Literatura do Antigo Testamento demanda muito espaço e 
tempo. Visto que numa disciplina como esta sofremos com a carência de ambos, 
foi necessário optar por aprofundar certas partes representativas do Primeiro 
Testamento para fornecer a você, estudante, uma ideia da sua estrutura, conteúdo, 
mensagem e teologia. Em razão disso, o Pentateuco – que forma a primeira parte 
do cânone –, por ser o fundamento dos demais livros do Antigo Testamento, 
será tratado com maior atenção e amplitude. 
A segunda parte está representada por aquele que é considerado o maior 
profeta do Antigo Testamento, a saber, o profeta Isaías; e a terceira parte tratará 
de um estudo mais amplo e detalhado daquele que é o livro mais popular do 
Antigo Testamento entre os cristãos, ou seja, Salmos.
Acir Raymann
1 Além da ausência de vogais, os versículos eram escritos juntos, sem separação entre as palavras. |
Imagine você o primeiro versículo da Bíblia em português escrito desta maneira: “Nprncpcrdsctrr”. 
Isso é Gn 1.1 sem as vogais (Almeida Revista e Atualizada).
1
O Antigo Testamento
1.1 Por que o Antigo Testamento?
Por que estudar o Antigo Testamento? Há necessidade de se estudar o Antigo 
quando o Novo já está aí? E se o Novo chegou, existem motivos para se voltar 
ao Antigo? 
Não são poucas as vezes em que as pessoas formulam tais perguntas. As 
respostas talvez fiquem claras se prestarmos atenção para o que o próprio 
Jesus considerou ser o Antigo Testamento. Pelo estudo dos evangelhos ficamos 
sabendo que Jesus realmente tinha o Antigo Testamento em alta consideração 
ou, mais precisamente, o considerava como Palavra de Deus. Para Ele o Primeiro 
Testamento, como também chamamos, era Palavra de Deus. O diálogo de 
Jesus com os dois discípulos na estrada de Emaús, depois da Sua ressurreição, 
é bastante revelador. 
No relato de Lucas (24.13-31) se percebe claramente que aqueles dois 
discípulos não haviam acolhido plenamente o testemunho das mulheres que 
afirmavam que Cristo havia ressuscitado. A eles Jesus diz: “Ó néscios e tardos 
de coração para crer em tudo o que os profetasdisseram!” (v. 25). E passou 
a lhes mostrar, fundamentado nas Escrituras do Antigo Testamento, como 
tudo já estava previsto. E Lucas continua dizendo: “E, começando por Moisés, 
discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a Seu respeito constava 
em todas as Escrituras” (v. 27). Note a expressão: “...em todas as Escrituras”. Jesus 
fundamentou o Seu argumento no livro conhecido como “as Escrituras” e bem 
10 O Antigo Testamento
assim como “Moisés e os profetas”. Esta última expressão é um designativo do 
Antigo Testamento encontrado com frequência nos manuscritos do mar Morto 
(ou manuscritos de Cumrã) e também no Novo Testamento. 
A parábola de Jesus sobre o rico e Lázaro me parece que fala ainda mais alto 
com relação a este aspecto. A ênfase desta parábola está no fato de que precisamos 
dar crédito à Palavra de Deus. O texto diz que o homem rico foi condenado 
ao tormento eterno do qual não havia escapatória nem alívio. Por outro lado, 
Lázaro, o mendigo, se encontrava em um lugar de bênçãos eternas. O homem 
rico suplicou a Abraão para que este enviasse Lázaro à terra para alertar os seus 
cinco irmãos. Jesus cita a resposta de Abraão: “Eles têm Moisés e os profetas”, 
ou seja, o Antigo Testamento. Uma vez mais o homem condenado implora que 
seus irmãos recebam um testemunho espetacular, miraculoso. Abraão responde: 
“Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda 
que ressuscite alguém dentre os mortos” (v. 31). 
Observe a força e a pertinência deste argumento de Jesus. O testemunho do 
Antigo Testamento é mais valioso do que o de um indivíduo supostamente vindo 
do além. As tradições dos judeus daquele tempo haviam deturpado a mensagem 
bíblica. Isso fica atestado no fato de que nem a ressurreição de Lázaro ou do 
próprio Jesus foram suficientes para convencer os oponentes. As palavras de 
Jesus são claras: a Lei e os Profetas são testemunhos eficazes da salvação.
Em outra ocasião, Jesus fala algo similar. Ele diz: “Porque, se, de fato, cresses 
em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. 
Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” 
(Jo 5.46-47). Nessa passagem, por um lado Jesus está se referindo a Moisés 
como autor do Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) e, por outro, 
está confirmando que tais escritos falam a respeito Dele e precisam ser cridos. 
Em outras palavras, duvidar do Antigo Testamento é duvidar das palavras de 
Jesus. Se cremos em Jesus – e por certo cremos –, então devemos também crer 
no Antigo Testamento.
Seguidamente, alguns críticos liberais usam a passagem de Mateus 5.17 para 
afirmar que na sequência Jesus contradiz as Sagradas Escrituras. O versículo em 
que baseiam seu argumento é este quando Jesus fala: “Ouvistes o que foi dito: 
Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo” (v. 43). Na verdade, o que Jesus 
está dizendo é: “Ouvistes o que foi dito” (e não “o que está escrito”): “Amarás 
11O Antigo Testamento
o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. O termo dito tem a ver com “tradição”, 
“cultura”, “costume.” É diferente do está escrito. A expressão “foi dito” é uma 
referência que Jesus faz aos anciãos, escribas, fariseus; por outro lado, a expressão 
“está escrito” tem a ver com Deus e Sua Palavra – o Antigo Testamento. Apenas 
a primeira parte dessa citação (Lv 19.18) está no Antigo Testamento; o trecho 
seguinte, não. O que Jesus faz é contradizer o que os fariseus acrescentaram. 
Jesus critica e condena os acréscimos, as tradições impostas, pois estas não 
fazem parte da Escritura. O que é Escritura ou Palavra de Deus é o que consta 
no Antigo Testamento.
Uma análise mais detalhada seria necessária para nos convencermos do 
valor e da importância que Jesus dava ao Antigo Testamento. Como isso não é 
possível neste espaço, mesmo assim algumas referências são relevantes. Jesus deu 
início ao seu ministério em Cafarnaum, ao ler Isaías na sinagoga (Lc 4.16-19). 
Perante todos declarou: “Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir” (Lc 
4.21). Na face dos saduceus disse que estes estavam errados “não conhecendo 
as Escrituras” (Mt 22.19). Apelou ao Antigo Testamento para justificar as suas 
ações no dia do sábado (Mt 12.5), sua atitude ao expulsar os cambistas do templo 
(Mt 21.13) e o fato de ter aceito o louvor do povo na sua entrada triunfal em 
Jerusalém (Mt 21.16). Referiu-se à história de Jonas e o grande peixe como figura 
da Sua ressurreição (Mt 12.40), à criação de Adão e Eva pelas mãos de Deus 
(Mc 10.6). Diante de seus ouvintes e principalmente diante de seus opositores, 
Jesus mostra que a fonte da vida e da salvação tem seu início nas promessas e 
correta interpretação delas no Antigo Testamento.
1.2 O cenário do Antigo Testamento
A Bíblia, não obstante o seu caráter divino nela implícito, é também um livro 
humano. Por ter um caráter também humano, a Bíblia interage com a história 
e a geografia. Os relatos bíblicos, diferentes dos relatos míticos das nações 
circunvizinhas ao povo de Deus do Antigo Testamento, acontecem no tempo e 
no espaço. Portanto, a geografia desempenha um papel importante na narrativa 
e na compreensão dessa narrativa.
A narrativa bíblica do Antigo Testamento se desenrola numa área geográfica 
bastante ampla no assim chamado Antigo Oriente Próximo (AOP). As regiões 
ocupadas por nações como a Assíria, Síria, Babilônia, Egito e Moabe, por 
12 O Antigo Testamento
exemplo, são conhecidas, apesar de a extensão do seu território ter sido alterada 
no transcorrer da história. Além dos territórios, também várias cidades antigas 
como Jericó, Jerusalém e Damasco podem ser identificadas e continuam a ter 
importância ainda hoje. 
O desenvolvimento amplo da história bíblica no seu contexto geográfico 
serve de cenário para a mensagem central da Escritura Sagrada, que é a salvação 
da humanidade rebelde na pessoa e na obra do Salvador Jesus Cristo. Embora 
geografia e história tenham como personagens seres humanos, o protagonista 
delas não é outro senão o Deus que cria e mantém o universo. A Escritura 
estabelece uma diferença marcante entre Deus e Sua criação. Em Isaías 40.22, 
os moradores da terra são descritos como gafanhotos, enquanto Deus está 
assentado sobre a redondeza da Terra. Na visão bíblica, portanto, apenas Deus 
tem a verdadeira perspectiva do mundo – como cenário onde está e milita a 
Sua Igreja.
1.2.1 O Crescente Fértil
Da perspectiva geográfica, o Oriente Próximo é o ponto de encontro de três 
continentes: Ásia, África e Europa. Logo, é o encontro também de três culturas: 
oriental, africana e ocidental. Ali estava a esquina do mundo de então. Crises, 
mudanças e progressos num continente afetavam, direta ou indiretamente, toda 
a região. É nesta área que a Terra Santa está situada.
Crescente Fértil é o nome que se dá àquela faixa de terra verde e fértil em 
forma de “C”, ou duma Lua Quarto Crescente, que vai da Suméria, junto ao 
Golfo Pérsico no leste, até o Egito, cobrindo toda a faixa banhada pelo rio Nilo, 
no oeste. 
1.2.2 Mesopotâmia
Ao norte desta região se acha o berço da civilização ocidental. Ali está a 
Mesopotâmia, cujo nome significa “[terra”] entre rios”, ou seja, os rios Tigre e 
o Eufrates. O lado norte da Mesopotâmia era defendido naturalmente por uma 
cordilheira de montes, chamados Zagros. Tal cordilheira era uma defesa contra 
os fortes ventos gelados vindos do Polo Norte, fazendo com que a região da 
Mesopotâmia desfrutasse um clima ameno boa parte do ano. Da mesma forma, 
13O Antigo Testamento
servia como barreira para eventual invasão de exércitos inimigos vindos do 
outro lado. Na região da Mesopotâmia se desenvolveram várias superpotências, 
a saber, a Assíria, Síria, Babilônia, Média-Pérsia.
A Mesopotâmia foi o lugar originário dos israelitas, pois os patriarcas hebreus 
viveram na região de Harã, entreo Tigre e o Eufrates. Abraão é chamado de 
amorreu (Ez 16.3), e, certo tempo depois, Jacó residiu temporariamente entre 
seus parentes amorreus em Padã-Harã (Gn 28.1-9). Sabemos também que Abraão 
migrou da cidade de Ur, na Mesopotâmia, para Harã, ao norte, e depois para 
Canaã, seguindo a revelação e a promessa do Senhor.
Posteriormente, maior influência tiveram ainda os mesopotâmicos, assírios, 
babilônios e persas sobre a história dos israelitas quando controlaram a Palestina 
em determinados momentos de seu governo sobre o Antigo Oriente Próximo. 
Esse domínio aconteceu quando a Assíria e a Babilônia se tornaram responsáveis 
pela destruição do reino dividido dos israelitas e pela deportação de milhares 
deles para a Mesopotâmia. Mais tarde, sob o governo persa, os exilados hebreus 
tiveram permissão para retornar à sua terra e reconstruir suas cidades e o templo 
de Jerusalém.
1.2.3 Região siro-palestina
A costa siro-palestina junto ao mar Mediterrâneo era uma região fértil e 
bastante cobiçada. Especialmente a Fenícia tinha a vantagem dos portos naturais, 
algo que não acontecia na parte sul de toda a região, por ser uma costa quase reta 
na direção norte-sul. Isso propiciou um amplo comércio marítimo centrado na 
região fenícia, especialmente através dos seus portos: Tiro, Sidom e Biblos. Os 
fenícios ocupavam a costa norte da Palestina, de Aco a Ugarite, e negociavam por 
toda a costa mediterrânea durante quase dois milênios (cf. Ez 27). A Bíblia fala 
que Davi e Salomão foram aliados dos fenícios. Como resultado dessa aliança, os 
fenícios ajudaram no projeto da edificação do templo de Jerusalém como também 
na construção de um porto em Elate, no mar Vermelho (1 Rs 7.13-22; 9.26-28). 
Essas relações políticas e comerciais levaram a que Acabe, rei de Israel, casasse 
com a princesa fenícia Jezabel. Esta união resultou no surgimento da religião de 
Baal-Melcarte na vida religiosa do Reino do Norte (1 Rs 16.29-34). 
14 O Antigo Testamento
1.2.4 Egito
O Egito ficava no extremo ocidental do Crescente Fértil, a noroeste da 
Palestina. Atrelado ao Egito está o seu rio, o Nilo. Sem o Nilo, o Egito não poderia 
existir. Historiadores antigos já diziam que o Egito é um presente do Nilo. Pela 
importância que tinha para os egípcios, estes consideram o rio como um deus 
porque toda a vida dependia das correntes contínuas do seu grande leito. 
O Egito Antigo era dividido em reino do Alto Egito, ao longo da estreita 
faixa do vale do rio ao sul, e o reino do Baixo Egito, a área do delta ao norte. 
As cheias previsíveis do rio e as barreiras naturais de montanhas e deserto na 
fronteiras oriental e ocidental tornaram o Egito uma civilização estática. Sem ser 
ameaçado, por milênios o Egito desenvolveu uma economia agrícola invejável, 
uma estrutura governamental estável e uma cultura própria e duradoura.
A história de Israel no Antigo Testamento está vinculada, em vários 
momentos, por estreitas relações com o Egito. O período do Império Antigo 
(cerca de 3100-2100 a.C.) foi a época da construção das grande pirâmides 
sepulcrais da família real. O Médio Império (2133-1786 a.C.) teria incluído a 
passagem de Abraão pelo Egito (Gn 12.10-20) e a migração de Jacó e sua família 
para lá (Gn 45.16-47.12). É possível que o Segundo Período Intermediário (1786-
1570 a.C.) tenha sido palco da presença e a consequente opressão dos hebreus 
como escravos (Êx 1.1-14).
O Novo Império (1570-1085 a.C.) testemunhou o chamado de Moisés como 
libertador dos hebreus e o Êxodo do cativeiro egípcio (Êx 3-13). Até o Bronze 
Posterior (cerca de 1200 a.C.), o Egito controlou a Palestina sob o governo de 
Ramsés II, graças, em parte, a um tratado com os hititas. A intervenção egípcia na 
Palestina continuou com Sisaque I, que acolheu Jeroboão como fugitivo político 
de Israel (1 Rs 11.40). Tempos depois, entretanto, ele invadiu Judá durante o 
reinado de Roboão (1 Rs 14.25-26). Daí em diante, o Egito permaneceu aliado 
importante e necessário para ambos os reinos, do Norte e do Sul, contra os 
poderes imperiais mesopotâmicos da Assíria e da Babilônia.
A presença egípcia foi influente na monarquia hebreia. O rei Salomão, por 
exemplo, se casou com a filha do faraó como parte de uma aliança política (1 
Rs 3.1-2). Bem mais tarde, em triste episódio, o rei de Judá Josias foi morto pelo 
faraó Neco na batalha de Megido (2 Rs 23.28-30). 
15O Antigo Testamento
1.2.5 Palestina
No centro do Crescente Fértil está a Palestina. A região da Palestina recebe 
este nome por causa dos filisteus (pelishtim), que se instalaram ao longo da 
costa do Mediterrâneo de Jope a Gaza ao redor de 1200 a.C. Antes da chegada 
dos filisteus, a região se chamava Canaã. Esse termo significava “terra púrpura” 
e, possivelmente, se originou da tintura produzida por um tipo de molusco 
encontrado em abundância ao longo da costa. No século V a.C., o historiador 
grego Heródoto referiu-se à área como “Síria Filisteia”. Mas este nome não aparece 
no Antigo Testamento, que prefere “terra de Canaã”, em função de seus principais 
habitantes, os cananeus. No Antigo Testamento ela é chamada “Israel” ou “terra 
de Israel” (1 Sm 13.19). Já o nome Terra Santa (Zc 2.12) se tornou popular na 
Idade Média, especialmente em razão das Cruzadas. 
A Palestina se acha rodeada ao norte pela Mesopotâmia; ao sul pelo Egito; a 
oeste pelo mar Mediterrâneo, que no Antigo Testamento é também chamado de 
“Grande Mar”; ao leste está a região desértica e inóspita da Arábia. Todas estas 
regiões, umas mais, outras menos, estão intimamente ligadas ao texto bíblico.
A Palestina é geralmente considerada o centro geográfico e teológico do 
mundo antigo. De um lado era privilegiada pela sua posição geográfica na 
medida em que se situava no cruzamento de rotas comerciais importantes 
da Antiguidade, entre os continentes da África, Ásia e Europa. Por outro, era 
uma área bastante cobiçada por nações estrangeiras em razão de sua posição 
militarmente estratégica. A região tem aproximadamente 240km de extensão 
de Dã, ao norte, a Berseba, no sul, e 140km do rio Jordão (leste) ao mar 
Mediterrâneo (oeste) – uma área equivalente ao estado de Sergipe. 
A terra da Palestina se divide claramente em quatro regiões longitudinais, 
ou seja, na direção norte-sul. São elas: a planície costeira, a cordilheira central, 
a depressão jordânica e o planalto da Transjordânia (cf. Dt 1.6-8). 
Planície costeira
A planície costeira se estende a distâncias de 15 a 20km ao sul da Palestina. 
É uma faixa fértil de terra porque recebe chuvas frequentes vindas do mar 
Mediterrâneo. Três planícies distintas são identificadas ao longo da costa: Aco, 
16 O Antigo Testamento
que se estende ao norte, do monte Carmelo; Sarom, entre o monte Carmelo e a 
cidade de Jope; e a planície dos filisteus, de Jope a Gaza. Para o povo de Israel 
no Antigo Testamento, a planície costeira nunca teve importância maior porque 
não tinham fácil acesso a ela. Os fenícios a controlavam ao norte; os filisteus, a 
planície sul; e a planície de Sarom era composta por um solo pouco fértil e por 
uma floresta densa naqueles tempos e que era, via de regra, ocupada também 
pelos filisteus.
Na planície costeira, uma importante estrada norte-sul ligava o Egito a 
Damasco e depois à Mesopotâmia. Seguidamente, ela tem sua rota alterada para 
o interior em razão das dunas e pântanos. Ela é chamada Via Maris, a “Estrada 
do Mar”, expressão cunhada pela Vulgata ao traduzi-la dessa forma em Isaías 9.1. 
Antes de chegar ao monte Carmelo, a Via Maris avançava bastante em direção ao 
centro da região. Era guardada na entrada da planície de Jezreel pela cidade de 
Megido. De Megido a estrada se ramificava, voltando-se para o norte, em direção 
às cidades fenícias, mesopotâmicas e em direção do golfo pérsico, a oriente. Esta 
estrada internacional foi usada durante todo o período bíblico, e algumas dascidades mais importantes da Antiguidade estavam próximas a ela.
Cordilheira central
Esta, sim, era uma região importante para o povo de Israel no Antigo 
Testamento, quem sabe, a mais importante. Por ser uma região montanhosa 
e, por isso mesmo, oferecer defesa natural, a maioria das cidades israelitas foi 
construída ali. O terreno montanhoso forma a espinha dorsal da Palestina, 
geralmente dividida em três partes principais: Galileia, Samaria e Judá. As 
elevações atingem até os 1.000m, e o bom índice pluviométrico é próprio para 
o cultivo de grãos, vinhedos, pomares e olivais.
Começando ao norte, os principais pontos da Galileia incluem o monte 
Tabor (Jz 4.6,12) e o vale de Jezreel. Na área de Samaria, o grande destaque era 
a cidade de Siquém, situada entre os montes Ebal e Gerizim. A principal cidade 
era, claro, Jerusalém, que se situava no cruzamento das rotas comerciais de Judá. 
Mais tarde, durante a época da monarquia no reino de Judá, a cidade fortificada 
de Laquis se tornou a segunda cidade mais importante.
17O Antigo Testamento
Depressão jordânica
O vale do rio Jordão é uma grande depressão geológica que inicia na região 
da Síria, ao norte as montanhas do Líbano, e se estende para o sul até o golfo de 
Ácaba e o mar Vermelho. Este vale determina a fronteira oriental da Palestina. 
O rio Jordão tem suas fontes nas encostas do monte Hermom e é formado 
por três pequenos ribeiros. O nome “Jordão” vem do hebraico “Yarden”, que 
tem sua origem no verbo yarad, que significa “descer”. “Jordão”, portanto, é 
“aquele que desce”. E o rio faz jus a seu nome. O Jordão desce do Hermom a 
mais ou menos 500m, flui para o pântano de Hulê e rapidamente cai para 300m, 
desaguando no mar da Galileia. Este lago de água doce fica a cerca de 200m 
abaixo do mar Mediterrâneo e é cercado por colinas. Na Escritura o mar da 
Galileia possui vários nomes: Quinerete (“harpa” – Nm 34.11), Genesaré (Lc 
5.1) e Tiberíades (Jo 21.11). O mar da Galileia possui 20km de largura e 11km 
de comprimento. Desse ponto, desce mais ainda em direção ao mar Morto. O 
mar Morto é chamado também de “mar Salgado” (Gn 14.3), “mar da Arabá” (Js 
3.16) e “mar ocidental” (Zc 14.8). Josefo referiu-se a ele como o “mar de asfalto” 
(Guerra 4.8.4, #476) e os árabes o chamam de “mar de Ló”. O mar Morto não 
é mencionado no Novo Testamento. Devido à imensa quantidade de sais que 
o Jordão lança no mar Morto, sua concentração de salinidade fica em quase 
30%, quando o normal é em torno de 7%. Nada sobrevive nele; por isso o nome, 
recebido dos gregos. O mar Morto se situa a mais de 400m abaixo do nível do 
Mediterrâneo, tornando-se o ponto mais baixo do mundo.
Os desfiladeiros de calcário que circundam a margem ocidental do mar 
Morto estão repletos de cavernas que serviam de esconderijo para bandidos, 
foragidos políticos e seitas religiosas. Entre as cavernas dessa árida região foram 
encontrados os famosos manuscritos do mar Morto, ou Cumrã, em 1947.
Em tempos do Antigo Testamento, a região em torno do mar da Galileia era 
densamente povoada e a agricultura era viçosa graças às técnicas de irrigação. 
Serpenteando para o sul, o vale estreitava-se e se cobria de vegetação densa, lugar 
propício para a presença de animais selvagens (Jr 49.19; 50.44; Zc 11.3). 
18 O Antigo Testamento
Planalto da Transjordânia
A leste da depressão jordânica a terra se eleva abruptamente, formando um 
planalto que se estende até o deserto arábico. Boa parte da região possui alguns 
minérios e é adequada à agricultura e ao pastoreio. Quatro grandes uádis, ou 
ribeiros, deságuam no rio Jordão desde o planalto: Jarmuque, Jaboque, Arnom 
e Zerede.
O planalto pode ser dividido em três platôs principais: Seir, ao sul; Moabe e 
Gileade, na Transjordânia central; e o planalto de Basã, ao norte.
O planalto de Seir, ao sul, é o mais acidentado deles, com montes que 
atingem até 2.000m. Foi nessa área que os edomitas, e mais tarde os nabateus, 
construíram cidades entre os desfiladeiros. A mais conhecida hoje é a cidade de 
Petra, famosa por aparecer em filmes de Indiana Jones e até em novela brasileira. 
Gileade possuía terras férteis e até hoje remanescentes de florestas podem ser ali 
encontrados. Mas o maior e mais fértil dos planaltos era o de Basã. O rico solo 
vulcânico faz dela a melhor terra de pastagem da região do Levante. Com tal 
característica a região de Basã é mencionada na Bíblia (Sl 22.12; Am 4.1).
A segunda importante estrada internacional passava por essa região e era 
chamada a “Estrada do Rei” (Nm 20.17; 21.22). Ela estendia-se do Golfo de 
Ácaba ao sul até Damasco, ao norte. Para contornar o leito dos quatro rios e 
deformações no terreno, a estrada tinha de ser por vezes desviada até 40km para 
o leste, chegando à beira do deserto. Era a estrada mais usada pelas caravanas 
de nômades que transportavam seus produtos comerciais para trocá-los por 
produtos agrícolas. Durante a monarquia israelita, a “Estrada do Rei” ganhou 
importância especial pelo incremento do comércio com a Arábia.
A região da Transjordânia foi a primeira a ser colonizada pelos hebreus na 
conquista da Palestina após o Êxodo do Egito.
Atividades
1. Várias vezes Jesus se refere a um fato ou episódio como “foi dito”; outras 
vezes Ele diz “está escrito”. Verifique em sua Bíblia, com o auxílio de 
uma pequena Concordância Bíblica se possível, onde Jesus emprega 
tais expressões e observe se faz diferença o uso de uma e de outra.
19O Antigo Testamento
2. Com as palavras “Ouvistes o que foi dito...” Jesus está se referindo a 
(assinale duas alternativas):
a) Antigo ou Primeiro Testamento.
b) anciãos, escribas e fariseus.
c) tradição.
d) Moisés e profetas.
e) Lei Mosaica.
3. A origem de “Jordão” vem de uma palavra hebraica, que significa:
a) subir.
b) descer.
c) correr.
d) afundar.
e) salinizar.
4. A Palestina possuía duas estradas principais que foram importantes na 
história bíblica do Antigo Testamento. Uma delas era a Via Maris, que 
se estendia de:
a) Dã a Berseba.
b) Jope a Rabá.
c) Elate a Damasco.
d) Egito a Damasco.
e) Egito a Jerusalém.
Respostas:
2) b, c
3) b
4) d
2
História do estudo científico 
do Antigo Testamento
2.1 Período da Igreja Pós-neotestamentária
Os Pais da Igreja Neotestamentária não se preocupavam muito com questões 
científicas relacionadas ao Antigo Testamento. Seu objetivo maior e imediato, até 
mesmo em função da sua proximidade com a ressurreição e ascensão de Jesus, 
estava ligado mais ao aspecto missiológico, à exposição do conteúdo das Escrituras 
e à formulação de doutrinas. Mas houve momentos em que foram compelidos a 
focar sua atenção em questões de aspectos de introdução relacionados ao Antigo 
Testamento. Desde a época de Marcião, um herege gnóstico que viveu no segundo 
século, a Igreja tem sido desafiada com o problema do papel do Antigo Testamento 
na Bíblia. Marcião rejeitava o Antigo Testamento e o Deus descrito nessa parte 
da Bíblia. Para ele o Deus do Antigo Testamento era um Deus da ira, da guerra 
e, portanto, um “Deus inferior”. A Igreja precisou tomar posição quanto a essa 
visão, e a partir daí vem se defrontando com preconceitos em relação ao Antigo 
Testamento. Um pouco mais tarde, quando Porfírio, por exemplo, atacou o livro 
de Daniel e o declarou uma fraude forjada, Jerônimo, que traduziu a Vulgata, fez 
uma réplica, contestando a posição de Porfírio. 
A primeira tentativa para uma análise mais ampla e enfocada sobre a 
introdução a um livro bíblico provavelmente se encontra em Santo Agostinho, na 
sua obra escrita em latim A Respeito da Doutrina Cristã. Esta obra contém valiosa 
22 História do estudo científico do Antigo Testamento
contribuição sobre o assunto da interpretação do texto bíblico. Nos dois primeiros 
livros, Agostinho exibe e desenvolve as características da correta interpretação 
bíblica. Importantetambém a refutação que faz aos donatistas e seus pontos de 
vista, dentre os quais a exagerada importância que davam à Septuaginta. 
2.2 Período da Reforma
O término do período medieval testemunhou profundas transformações 
até mesmo no estudo do Antigo Testamento. A característica fundamental da 
Reforma é fazer com que a atenção da Igreja da época se volte para as Sagradas 
Escrituras como fonte única de fé e vida. Essa revolução faz com que a Reforma 
tenha como mérito também o fato de ter impelido para o primeiro plano a 
importância do estudo da Escritura a partir das línguas originais. A ênfase 
no hebraico e no grego fez com que os debates teológicos fossem, por vezes, 
decididos em análises mais precisas e meticulosas do estudo do texto original. 
São conhecidas as palavras de Martinho Lutero sobre a importância das línguas 
bíblicas. Dizia ele: “Não conseguiremos preservar o Evangelho corretamente 
sem as línguas. As línguas [originais] são as bainhas da espada do Espírito. São 
o cofre no qual se guarda essa preciosidade...”.2 
Nesta ênfase, não muito distante de Lutero, está Calvino. Ambos estudaram 
a língua hebraica com grandes professores e sem dúvida muito fizeram para 
encorajar outros ao seu estudo. Em razão disso, as obras sobre Introdução ao 
Antigo Testamento, que se originaram nesse período e pouco depois, revelaram 
profundo interesse na questão do texto. É consenso entre os estudiosos que a 
Reforma foi responsável por um verdadeiro e sensível progresso no estudo 
científico do Antigo Testamento.
2.3 O período da Pós-Reforma
O período após a Reforma fica demarcado pelo aparecimento de pontos 
de vista filosóficos que se revelaram como hostis ao elemento sobrenatural do 
cristianismo. Algumas dessas opiniões tiveram expressão na obra Leviathan, 
2 LUTERO, Martinho. | Obras Selecionadas. V. 5. Ilson Kayser, editor-geral. São Leopoldo/Porto 
Alegre: Sinodal/Concórdia, 1994, p.311, 312 e 316.
23História do estudo científico do Antigo Testamento
de Thomas Hobbes, um deísta inglês (1651). Hobbes atacou algumas tradições 
relacionadas à origem e à data de certos livros do Antigo Testamento. Um pouco 
mais tarde, em 1670, aparece a obra de Benedito Spinoza chamada Tratado 
Teológico-político, que, baseada em princípios semelhantes aos de Hobbes, 
questiona a presença de aspectos sobrenaturais na Escritura.
Estes críticos foram seguidos por outro, desta vez um padre católico romano 
francês, chamado Ricardo Simon. Na sua obra História Crítica do Antigo 
Testamento (1685) Simon discute a data de vários livros, particularmente os do 
Pentateuco. Afirmou que o Pentateuco, em sua forma presente, não pode ter 
sido obra de Moisés e considerava os livros históricos (como Reis e Crônicas) 
como extratos tirados dos anais públicos da corte de Israel e Judá.
2.4 Período do Iluminismo
A obra de Simon produziu frutos nos escritos de Johann Semler, que 
fortaleceu os princípios adotados por Simon com um espírito ainda mais 
negativo. Semler estabeleceu dois princípios com relação ao Antigo Testamento. 
Primeiro: o Antigo Testamento “apenas contém a Palavra de Deus”. Segundo: 
“Trate o Antigo Testamento como qualquer outro livro”. Em outras palavras, 
para Semler, a autoridade para interpretar e dar valor ao Antigo Testamento 
era o próprio leitor, do seu jeito e a seu modo. 
Em 1780, surge a Introdução ao Antigo Testamento de Johann G. Eichhorn. 
Na maior parte da sua obra Eichhorn chamou a atenção para a beleza literária do 
Antigo Testamento, mas descartou também uma compreensão genuína sobre o 
seu caráter sobrenatural. A partir daí as Escrituras passaram a ser consideradas 
como meramente a literatura nacional dos hebreus. A crítica liberal ao Antigo 
Testamento encontra sua culminância, em grande parte, na obra Introdução ao 
Antigo Testamento de Robert H. Pfeiffer.3 Pfeiffer parte do princípio que o que 
não pode ser cientificamente repetido, não pode ser admitido como verdade. 
Visto que milagres no Antigo Testamento não podem ser provados (pela sua 
repetição), eles não devem ser aceitos como verdade. 
3 PFEIFFER, Robert H. | Introduction to the Old Testament. New York/London: Harper & Brothers 
Publishers, 1941.
24 História do estudo científico do Antigo Testamento
Para se entender esse movimento dominó na crítica com relação ao Antigo 
Testamento, é preciso entender um pouco do espírito daquela época e dos 
movimentos filosóficos então presentes. Se no século XVI havia uma revolta 
contra a autoridade opressiva da Igreja da época, agora, nos séculos XVIII e 
XIX, essa revolta se estende contra a autoridade da Bíblia. O século XVIII havia 
testemunhado uma exaltação da razão humana, que ficou conhecida como 
época da “Iluminação” ou “Iluminismo”. O termo está atrelado a um conceito 
em que o ser humano tem a supremacia sobre tudo. Rejeitar a revelação externa 
e considerar a razão humana como lei para si mesma não é iluminação, mas é 
cair em grande engodo. Exaltar a razão humana como árbitro sobre todas as 
coisas é, na realidade, substituir o Criador pela criatura.
Confiabilidade do Antigo Testamento
No século XIX se cristaliza o movimento da Hipótese Documental, em que o 
Pentateuco é analisado a partir da crítica das fontes. O Pentateuco perde, segundo 
os críticos, a sua unidade, sendo analisado a partir de uma fragmentação teórica 
de documentos denominados J, E, D e P. Tal abordagem não apenas afetou a 
composição literária do Pentateuco, como teve repercussão à historicidade das 
narrativas dos patriarcas. Julius Wellhausen foi o maior defensor da crítica das 
fontes. Pela sua análise, chegou a afirmar que o Pentateuco não comprova a 
historicidade dos patriarcas, mas apenas reflete as histórias patriarcais recontadas 
em uma época posterior, a maior parte delas fruto do período pós-exílico de 
Israel.
Nos dias de hoje, há fundamentalmente duas escolas ou tendências de 
pensamento sobre a confiabilidade histórica do Pentateuco ou do Antigo 
Testamento em geral. A primeira, normalmente denominada conservadora, 
entende que o Antigo Testamento é resultado da inspiração e da revelação 
divinas, pressupondo, portanto, a participação sobrenatural de Deus na 
sua origem. Dessa forma, as narrativas são verdadeiras e possuem precisão 
histórica e plena confiabilidade. O teólogo conservador recorre também a fontes 
extrabíblicas e arqueológicas para elucidar o pano de fundo e a história do povo 
de Deus no Antigo Testamento. 
A segunda tendência é que se chama de reconstrucionismo histórico. Os 
defensores desta escola assumem uma posição cética frente ao texto bíblico 
25História do estudo científico do Antigo Testamento
por serem obras de escritores que eles consideram pré-científicos e medievais. 
Em geral, para estes os escritos antigos paralelos ao texto bíblico são até mais 
confiáveis que a narrativa do Antigo Testamento por serem mais antigos e mais 
próximos dos acontecimentos relatados. Os proponentes desta abordagem 
empregam grande gama de metodologias extraídas da crítica histórica e 
linguística para reconstruir a história de Israel sob a alegação de que os relatos 
bíblicos como tais não podem ser interpretados literalmente.
A questão da confiabilidade histórica das narrativas do Pentateuco e de 
outras partes do Antigo Testamento depende, pois, dos pressupostos referentes 
à natureza do texto bíblico. A questão toda não está no texto em si, mas de como 
o texto pode ser interpretado. Os que defendem a confiabilidade histórica creem 
na inspiração divina das narrativas bíblicas e defendem a exatidão da história 
da ação de Deus com o Seu povo do Antigo Testamento. De modo inverso, os 
que sustentam a posição “reconstrucionista” da história do Antigo Testamento 
em geral desconsideram a origem e a participação divinas nesse processo. Tais 
pressupostos explicam sua abordagem crítica do Antigo Testamento comoum 
documento humano apenas e, por isso, falho. Esta visão lhes dá liberdade para 
reinterpretar e reconstruir a história de Israel a partir de elementos literários, 
achados arqueológicos e modelos contemporâneos sociopolíticos. 
Atividades
1. Na sua opinião, existe diferença entre afirmar que a “Escritura é Palavra 
de Deus” e a “Escritura contém Palavra de Deus”?
2. Herege gnóstico que questionou a equivalência em autoridade divina 
entre o Antigo e o Novo Testamento. Assinale a reposta correta.
a) Jerônimo.
b) Agostinho.
c) Marcião.
d) Lutero.
e) Porfírio.
26 História do estudo científico do Antigo Testamento
3. Período que foi responsável por um sensível progresso no estudo 
científico do Antigo Testamento. Assinale a reposta correta.
a) Pós-neotestamentário.
b) Reforma.
c) Renascentista.
d) Pós-reforma.
e) Iluminismo.
4. Marque a alternativa correta. Tratar o Antigo Testamento como qualquer 
outra obra literária tem implicações. Tais implicações se manifestam 
em que:
a) a inspiração divina é considerada.
b) a revelação divina se torna relevante.
c) o ser humano finalmente pode interpretar o texto bíblico a seu 
critério.
d) o texto se torna isento de inverdades por ser produto de acurada 
pesquisa.
e) Ao fim e ao cabo, a narrativa veterotestamentária se torna 
equivalente aos escritos da sua época.
Respostas: 
2) c
3) b
4) e
3
A formação do Antigo Testamento
O Antigo Testamento foi escrito em duas línguas. A língua predominante 
é o hebraico. A outra língua, prima do hebraico e posterior, é o aramaico, que 
gradualmente assumiu o posto da comunicação como língua viva nos últimos seis 
séculos antes de Cristo. O hebraico tem muitos elementos paralelos com outras 
línguas semíticas como o cananítico, ugarítico e o árabe. A língua aramaica era 
a língua usada no tempo de Jesus, sendo muito parecida com a língua siríaca 
da Igreja Cristã Pós-neotestamentária. 
As línguas semíticas são diferentes das línguas clássicas. Originalmente, o 
hebraico não possuía vogais. Para facilitar o processo de transmissão escrita, dois 
sistemas de vogais foram criados, mas apenas um deles foi universalmente aceito 
e hoje integra o Texto Massorético (TM), o texto das nossas Bíblias em hebraico. 
A divisão de capítulos foi adicionada a partir da Vulgata no século XIV, e os 
versículos foram numerados no século XVI. No período da Reforma, inúmeras 
horas foram despendidas no debate sobre a inspiração ou não das vogais. Ao 
contrário de vários, Lutero entendia que as consoantes eram inspiradas, as 
vogais não. Nos seus comentários, Lutero, seguindo outros manuscritos, chegou 
a mudar a vocalização do TM para alterar a terceira pessoa para a primeira em 
2 Crônicas 18.29. 
O estudo do texto para determinar com a maior precisão possível o texto 
consonantal é chamado de “crítica textual”. O tradutor, o comentarista bíblico e 
o pregador têm a tarefa de exercitar esta atividade. O estudo do “quem, quando, 
onde, por que, o que” nos livros bíblicos é chamado de “crítica literária”. Há 
28 A formação do Antigo Testamento
critérios científicos para isso, mas há também inúmeras hipóteses questionáveis. 
Infelizmente, muitas pessoas perderam o interesse nas Escrituras como Palavra 
viva de Deus em razão de argumentos estéreis neste campo, tanto do lado 
conservador como do liberal.
3.1 Texto e versões do Antigo Testamento
Desde 1947, descobertas arqueológicas e paleográficas em Cumrã, nas 
proximidades do mar Morto, têm revelado fragmentos de inúmeros manuscritos 
hebraicos que antecedem em mil anos os anteriormente conhecidos. Na primeira 
caverna uma cópia do livro completo de Isaías foi encontrada juntamente com 
outro pergaminho quase completo também do mesmo livro. Igualmente, dois 
capítulos de Habacuque aparecem num comentário anterior ao tempo de Cristo. 
Com ao menos 11 cavernas abertas na década seguinte, existe agora ampla 
evidência de que em algum momento da história todo o Antigo Testamento foi 
conhecido pelos sectários da região de Cumrã.
Antes desta descoberta, os textos mais antigos do Antigo Testamento eram 
em grego. Fragmentos e livros inteiros eram conhecidos e datam até o século IV. 
Popularmente, a tradução grega é conhecida como Septuaginta (LXX). Houve, 
entretanto, outras versões gregas em datas posteriores. Era necessário traduzir 
as Sagradas Escrituras na língua do povo, visto que o hebraico deixara de ser 
língua viva. O grego era a língua da Diáspora e do comércio no Antigo Oriente 
Próximo no período final do Antigo Testamento.
Estudos nos Manuscritos do mar Morto evidenciam um texto hebraico que, 
ao que parece, foi usado em Alexandria pelos tradutores da LXX. No início os 
estudiosos desconfiavam que o texto da LXX não era acurado, preciso; mas agora 
se sabe que eles empregaram um texto de diferente tradição. 
Dentro dos limites da Palestina, o aramaico era a lingua franca no tempo 
de Jesus. É bem possível que as sinagogas de Nazaré e Cafarnaum tenham se 
utilizado de paráfrases em aramaico do texto hebraico nas atividades religiosas 
regulares. Nos primeiros séculos da Igreja Cristã Neotestamentária, uma 
versão em aramaico surge com o nome de Targum, que significa “paráfrase” 
ou “interpretação”. 
29A formação do Antigo Testamento
Uma das mais importantes versões do Antigo Testamento para outra língua 
veio com a tradução para o latim, denominada Vulgata. Foi traduzida por 
Jerônimo em 405, comissionado pelo papa Dâmaso. No concílio de Trento, em 
1546, a Igreja Católica Romana aceitou a Vulgata como sua tradução oficial. 
Lutero viu erros na Vulgata, o que o levou a traduzir toda a Bíblia a partir das 
línguas originais hebraico e grego. A primeira Bíblia dos cristãos católicos 
brasileiros foi uma tradução da Vulgata feita para o português.
Para atender os cristãos de fala siríaca, várias versões do Antigo Testamento 
nessa língua foram elaboradas. A principal e mais popular é a Pesita (150-200), 
que foi considerada modelo para aqueles dias. 
Em conclusão, podemos dizer que as versões do Antigo Testamento para 
as diversas línguas são de muita importância. Primeiramente, elas servem 
como investigação textual, ou seja, vez por outra testificam o texto original em 
versículos onde este se havia corrompido. Em segundo lugar, elas servem como 
auxílio na interpretação. Toda tradução necessariamente envolve interpretação. 
Nesse sentido, as versões são os primeiros comentários sobre determinado texto. 
E, por último, as versões, por disponibilizarem a Palavra de Deus em várias 
línguas, tornam-se instrumentos valiosos de missão. 
3.2 Antigo Testamento e o cânone
A palavra “cânone” não se encontra na Bíblia, embora sua raiz apareça em 1 
Reis 14.15, Jó 40.21 e Isaías 42.3. Originalmente, qāneh significava “junco” ou 
“talo” de papiro. Pelo fato de juncos serem usados como réguas ou instrumentos 
para medir linhas retas, “cânone” passou a significar “medida”. O termo “cânone” 
ou “cânon” foi empregado pela primeira vez como expressão teológica referente 
às Escrituras por Atanásio, bispo de Alexandria (cerca de 367) em carta 
pascal às igrejas em que descreve o conteúdo do cânone do Novo Testamento. 
Canonicidade se diz do livro que tem a “medida” para ser incluído no cânone 
bíblico, ou seja, na lista oficial dos livros que integram as Escrituras, inspirados 
pelo Espírito Santo. 
Há teorias erradas sobre as razões por que um livro integra o Cânone do 
Antigo Testamento. Algumas delas são: 
30 A formação do Antigo Testamento
a. A antiguidade do livro. Um livro é distinguido devido à sua idade. 
Entretanto, idade não é documento para canonicidade. Assim que foi 
escrito, o Pentateuco foi considerado canônico. O mesmo aconteceu 
com outros livros do Antigo Testamento.
b. A língua hebraica como critério para a canonicidade. O argumento 
seria que, depois que o aramaico passoua ser língua falada na Palestina, 
qualquer material escrito em hebraico seria considerado canônico. Mas 
este pensamento não está correto: alguns livros, como 1 Macabeus, 
Eclesiástico e Tobite, foram originalmente escritos em hebraico e, 
entretanto, não são canônicos. Além disso, livros como Daniel e Esdras 
foram escritos em parte em aramaico e fazem parte do cânone.
c. Concordância com a Torá/Pentateuco (norma e padrão último da 
verdade). Contudo, alguns livros concordam com a Torá, mas não foram 
aceitos como canônicos, como, p. ex., 2 Macabeus.
d. Valor ou conteúdo religioso determina a canonicidade (para alguns, a 
cristocentricidade do livro). Entretanto, canonicidade nada tem a ver 
com o propósito de um livro. Ademais, quem determina o valor de um 
livro? Nem todos os livros canônicos falam diretamente sobre Cristo. 
Por outro lado, há inúmeros livros com orientação evangélica que não 
integram o cânone. Um livro que proclama o Evangelho pode conter 
erros e contradizer livros canônicos.
e. A Igreja ou o povo de Deus (tanto no período do Antigo como do Novo 
Testamento) é a fonte de canonicidade. Uma variante dessa teoria é que 
a comunidade inspirada é fonte de canonicidade. Entretanto, se a Igreja 
concede canonicidade, o resultado é uma autocontradição, visto que na 
história do cânone a Igreja propôs listas diferentes de livros oficiais.
Na verdade, a fonte de canonicidade de um livro está em Deus. É Ele quem 
possui a suprema autoridade e o que provém de Deus é infalível. Canonicidade 
e autoridade estão atreladas à origem de um determinado livro bíblico. Se um 
livro vem de Deus, ele é canônico. Outra forma de dizer isso é: se um livro é 
inspirado, ele é canônico. Como podemos ter certeza se um livro tem sua origem 
em Deus? Se o autor do livro foi inspirado.
31A formação do Antigo Testamento
3.3 Critérios de canonicidade e divisão
O critério mais importante para nós é o testemunho de Jesus e seus discípulos. 
Eles identificaram como derivando de escritores inspirados – e por isso como 
autoritativos – tanto livros individuais do cânone como todo o cânone judaico 
da sua época. Este cânone era aceito pelos judeus que viviam na Palestina no 
século I, com exceção dos saduceus, que aceitavam apenas a Torá. As evidências 
apontam para o cânone de Cristo e Seus discípulos como sendo idêntico ao 
cânone dos judeus contemporâneos a Jesus. O cânone está dividido em três 
partes, como segue abaixo.
Lei
A Lei, ou Torá, consiste dos cinco primeiros livros da Bíblia. Ela também é 
chamada de Pentateuco (da palavra grega para “cinco”, penta). Não há dúvida 
de que estes livros já eram aceitos e normativos no tempo de Esdras e, quem 
sabe, já antes, no tempo do rei Josias.
Profetas
Os profetas ou Nebi’im foram os próximos a receber crédito pelo seu uso. Na 
Bíblia hebraica eles se dividem em dois grupos, a saber, os profetas anteriores, 
contendo os livros históricos de Josué a 2 Reis, e os profetas posteriores, 
compreendendo os livros de Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze profetas 
menores. 
Escritos
A terceira divisão na Bíblia hebraica é chamada de Escritos ou Ketubim. Ela 
compõe-se de todos os demais livros que não constam nas divisões anteriores, ou 
seja, a poesia, os rolos para festas e acréscimos históricos. Não se pode determinar 
quando tais livros foram aceitos. Entretanto, por volta de 185 a.C., Ben Siraque, 
no Prefácio do seu livro não canônico Eclesiástico, fala em “Lei, os profetas e 
outros livros”, dando indicação de que o cânone estava fechado.
32 A formação do Antigo Testamento
Não resta dúvida de que o cânone que conhecemos hoje era o mesmo do 
tempo de Jesus, como Ele mesmo testemunha. Em Lucas 24.44 Jesus fala em 
“Lei, profetas e salmos”. Em duas ocasiões Jesus aponta para o primeiro e o 
último mártir mencionados no Antigo Testamento (Mt 23.35 e Lc 11.51). Jesus 
se refere nominalmente a Abel (em Gênesis) e a Zacarias (1 Cr 24.20). Crônicas 
é, no cânone hebraico, o último livro do Antigo Testamento.
Fávio Josefo (cerca de 70) menciona 22 livros. Este número fecha com o cânone 
hebraico, visto que a separação dos 12 profetas menores ocorre posteriormente, 
como também de outros livros históricos. Os sectários de Cumrã, junto ao mar 
Morto, conheciam todos os livros da Bíblia hebraica que nós hoje possuímos. 
Eles também copiaram e estudaram os livros apócrifos. 
O Concílio de Jamnia, em cerca de 90, tem sido muitas vezes indicado 
como o evento que canonizou as Escrituras Hebraicas. Mas esta é uma posição 
equivocada. O que o concílio fez foi certificar o que já era uma realidade pelo 
uso da Igreja e pela Providência Divina. Não se pode prescindir do fato de que a 
providência divina agiu de forma soberana no estabelecimento e na preservação 
do cânone como o fez na inspiração de cada um de seus livros. Quando uma 
criança reconhece seu próprio pai, no meio de uma multidão de outros adultos, 
seu ato não empresta ao pai uma nova qualidade de parentesco; simplesmente 
reconhece um relacionamento que já existe. Assim também é o caso de listas 
de livros autoritativos reconhecidos por concílios. Não puderam emprestar a 
canonicidade a uma página sequer das Escrituras; simplesmente reconheceram 
a inspiração divina inerente aos documentos e formalmente dispensaram outros 
livros em prol dos quais falsamente se tinha pleiteado a canonicidade.
33A formação do Antigo Testamento
Divisão tripartite do Antigo Testamento:
Torá Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio
Profetas
Anteriores Josué
Juízes
Samuel
Reis
Posteriores Isaías
Jeremias
Ezequiel
Livro dos Doze:
Oseias Naum
Joel Habacuque
Amós Sofonias
Obadias Ageu
Jonas Zacarias
Miqueias Malaquias
Escritos Salmos
Jó
Provérbios
Rute
Cântico dos Cânticos
Eclesiastes
Lamentações
Ester
Daniel
Esdras
Neemias
Crônicas
34 A formação do Antigo Testamento
3.4 Apócrifos
O termo “apócrifo” significa “escondido”. Aplicado à coleção de livros judaicos 
datados do período intertestamental, o termo possui duas conotações: 
1) livros “escondidos” por sua natureza esotérica;
2) livros “escondidos” por merecimento, ou seja, não eram reconhecidos 
como canônicos.
Os apócrifos se constituem numa coleção de 14 livros compostos por autores 
judeus entre 200 e 100 a.C. Foram escritos originalmente em grego, hebraico e 
aramaico e preservados depois em várias outras línguas. Os apócrifos contêm 
cinco gêneros literários diferentes, a saber, religioso, didático, histórico, profético 
e literatura lendária. 
Inicialmente, os apócrifos foram gradualmente acrescentados em edições 
mais recentes da Septuaginta. Estes livros foram separados das Escrituras 
hebraicas e não foram considerados parte do Antigo Testamento pelos hebreus. 
Esse fato ficou na tradição hebraica, mas não foi estabelecido por escrito. Em 
vista disso, surge certa confusão entre os cristãos de língua grega que adotaram 
a LXX como versão bíblica. Isso ocorre principalmente após o ano 100, pelo fato 
de cópias posteriores da LXX haverem sido feitas por escribas cristãos. 
Confusão maior ainda viria com a publicação da Vulgata, por Jerônimo, em 
405. Jerônimo opunha-se aos apócrifos e fez anotações específicas na Vulgata a 
esse respeito. Mas edições posteriores não mantiveram essas distinções e logo a 
maioria dos leitores da Vulgata não faria diferença entre o Antigo Testamento 
e os apócrifos. 
A Reforma retomou o debate sobre os apócrifos. Ao traduzir a Bíblia a partir 
do hebraico, os Reformadores descobriram que os apócrifos não faziam parte do 
seu cânone. Entenderam que tal coleção de livros não deveria ser considerada 
equivalente em autoridade bíblica com os que integravam o cânone. Os apócrifos 
são fonte útil de informação para se entender o período intertestamental. Não 
há nada teologicamenteimportante nos apócrifos que não fique duplicado na 
literatura canônica. Ao contrário, mesmo o sóbrio relato histórico de 1 Macabeus 
está permeado de inúmeros erros e anacronismos.
35A formação do Antigo Testamento
A Igreja Católica Romana reagiu aos Reformadores no Concílio de Trento 
(1545-1564), aceitando os livros como se encontram na Vulgata. Hoje a coleção 
geralmente é chamada deuterocanônica e foi consolidada pelo Concílio Vaticano 
de 1870. Conceitos doutrinários da Igreja Católica Romana como purgatório, 
mérito por boas obras e prática de oração pelos mortos são extraídos dos livros 
deuterocanônicos.
Para exemplificar, o livro de Enoque, como outros livros apócrifos que 
carregam o nome de personagens bíblicos famosos (Abraão, Moisés, Salomão, 
etc.), tem sido empregado por movimentos esotéricos como referência, entre 
outras coisas, a episódios ocorridos em Gênesis e que supostamente estariam 
incompletos. Uma tentativa de explicar a origem dos “Nephilim”, gigantes na 
terra, estaria na ordem do dia neste livro.
A referência a Enoque no livro de Judas 14 no Novo Testamento é extraída 
do livro de Enoque que, supõe-se, tenha sido escrito pelo Enoque de Gênesis 5. 
O livro não aparece no mercado senão antes do século I a.C. O fato de o livro 
não ser canônico não significa que não contenha nenhuma verdade. Por outro 
lado, o fato de Judas citá-lo também não significa que ele esteja considerando o 
livro todo como inspirado. O apóstolo Paulo cita diretamente ou indiretamente 
obras seculares como Aratus (At 17.28), Menander (1 Co 15.33) e Epimênedes 
(Tt 1.12). Isso, entretanto, não serve como evidência de que as citações ou os 
livros de onde foram tiradas sejam divinamente inspirados. 
Atividades
1. Disserte sobre por que as primeiras versões do Texto Massorético são 
importantes para a Igreja e sua missão no mundo. 
2. Assinale a resposta que indica o período em que surgiram as vogais na 
língua hebraica.
a) No tempo de Adão.
b) No tempo de Moisés.
c) No tempo de Isaías.
d) No tempo de Jesus.
e) Depois de Jerônimo.
36 A formação do Antigo Testamento
3. Com relação aos critérios para a formação do cânone do Antigo 
Testamento, assinale a resposta correta.
a) O livro foi escrito na língua hebraica.
b) Os próprios autores afirmavam ser inspirados pelo Espírito 
Santo.
c) O cânone é resultado da ação providencial de Deus na história. 
d) Após longos estudos, o cânone foi estabelecido no concílio de 
Jamnia, em cerca de 90.
e) Os sectários de Cumrã já conheciam todos os livros da Bíblia 
hebraica que formam o cânone, e a Igreja confiou na escolha 
deles.
4. A Igreja Católica confirmou os livros deuterocanônicos na sua Bíblia 
como equivalentes aos canônicos em:
a) Concílio de Jamnia, em cerca de 90.
b) Época da Reforma, em 1517.
c) Concílio de Trento, em 1545.
d) Concílio Vaticano, em 1870.
e) Concílio Vaticano II, em 1962.
Respostas: 
2) e
3) c
4) d
4
O Pentateuco – Gênesis
A primeira parte da Bíblia é chamada de Torá (Pentateuco, em grego). Torá, 
em hebraico significa Lei. Mas “lei’, em português, normalmente tem sentido 
negativo, e, por vezes, proibitivo. Seguidamente, ouve-se pessoas relacionando o 
Antigo Testamento como “Lei” e o Novo Testamento como “Evangelho”. Esta é 
uma visão equivocada da Bíblia e, se aplicada dessa forma, traz sérios problemas 
para a compreensão e a interpretação do Antigo Testamento. Na verdade, tanto 
o Antigo quanto o Novo Testamento possuem lei como evangelho. O termo 
Torá, aplicado a Gênesis e ao Pentateuco, possui um sentido mais neutro como 
“instrução” ou mesmo “Palavra de Deus”. 
Autoria do Pentateuco
Tradicionalmente, estes cinco livros, a começar com Gênesis, têm sido 
considerados como de autoria de Moisés. Embora ele não tivesse sido 
testemunha ocular de todos os eventos de Gênesis, a grande maioria dos textos 
sem dúvida foi por ele escrita. No século XIX e início do século XX, os críticos 
liberais empreenderam enormes esforços no sentido de segmentar os livros do 
Pentateuco ou Hexateuco (incluindo parte dos livros históricos) em inúmeros 
documentos, fragmentos e poemas e lendas independentes, como vimos em 
parte no capítulo 2. A esterilidade deste processo de copia-e-cola a respeito de 
autoria e data conduziu a uma reação logo após a Primeira Guerra. Liderada 
por estudiosos escandinavos do Antigo Testamento, ênfase bastante grande 
38 O Pentateuco – Gênesis
foi colocada sobre a acurácia literal da tradição oral entre os povos semitas. 
As descobertas arqueológicas em Ugarite de 1929 em diante mostraram que a 
literatura escrita antes de Davi era perfeitamente plausível, e as descobertas em 
Mari e Nuzi, na região da Mesopotâmia, atestam verossimilidade à sociedade 
descrita em Gênesis. 
Gênesis
A. Nome
Os títulos de muitos livros no Antigo Testamento são extraídos da respectiva 
primeira palavra hebraica desse livro. Assim, o título hebraico de Gênesis é 
“Bereshith” ou “No princípio”. O nome do livro em português é copiado da 
Vulgata e da Septuaginta. Bem antes da divisão dos capítulos, o primeiro livro 
da Bíblia foi dividido em dez “histórias”, ou “gerações” (ARA).4 Ela é conhecida 
como “fórmula toledoth”. 
B. Esboço e referências principais
Esboço Referências de capítulos
1-11 História primeva 11 Torre de Babel
12-26 Abraão e Isaque 14 Abraão e Melquisedeque
27-36 Jacó e Esaú 19 Sodoma e Gomorra
37-50 José 22 Sacrifício de Isaque
28 Sonho de Jacó
49 Bênção de Jacó
4 O termo aparece em 2.4; 5.1; 6.9; 10.1; 11.10, 27; 25.12, 19; 36.1; 37.2. |
39O Pentateuco – Gênesis
C. Criação
Gênesis é um livro dos começos. Neles se encontram o começo de: (1) o 
mundo, (2) a humanidade, (3) o pecado, (4) a promessa, e (5) as relações de 
aliança. Há breves alusões a começos sociológicos e tecnológicos, de forma 
que alguns críticos liberais gostam de descrever Gênesis como uma coleção 
de “mitos etiológicos”, ou seja, histórias que explicam a origem dos costumes e 
hábitos humanos. Entretanto, estes são apenas aspectos periféricos que ocorrem 
ao se descrever a relação de um Deus pessoal com os cinco aspectos acima 
mencionados. Assim, por exemplo, a origem da música, metalurgia, vestimenta, 
etc., passa quase despercebida. O autor de Gênesis não estava interessado em 
descrever uma história sociológica ou econômica dos inícios da civilização. 
Estava interessado sim em que o círculo da graça e da promessa iniciado com a 
humanidade se estendesse de maneira concêntrica a Noé, Abraão, Jacó, Isaque 
e aos filhos de Jacó.
Outro aspecto de Gênesis muitas vezes aludido por alguns círculos 
acadêmicos é que Gênesis contenha versões adaptadas da mitologia babilônica. 
Sabemos, pela arqueologia, que há na literatura do Antigo Oriente Próximo, 
especialmente na Babilônia, textos análogos sobre a criação e o dilúvio. Tais 
conceitos foram encontrados em tabletes de argila, entre os quais um popular 
chamado Enuma elish (“Quando dos altos céus”), que relata a ascensão do deus 
babilônico Marduque ao topo do panteão. Enuma elish é o relato mesopotâmico 
mais completo da criação e possui várias semelhanças com o relato bíblico. 
A história descreve um conflito cósmico entre as principais divindades. 
Marduque, o deus da ordem, mata a monstruosa Tiamate, deusa da desordem, 
que personifica os primórdios dos oceanos. Convocando os ventos, Marduque 
entra em diálogo com Tiamate e, quando ela abre a boca para contrapor, os 
ventos a incham e Marduque a aniquila com a sua lança. Tiamate é dividida ao 
meio, sendo que metade dela forma a terra e a outra metade forma o céu. Do 
sangue do conspirador auxiliar de Tiamate misturado com a terra, Marduque 
cria o ser humano para fazer todo o trabalho pesado do universo, liberando as 
divindades de todas as tarefas braçais. Como gesto de agradecimento a Marduque 
por salvá-los da perversaTiamate, os deuses constroem para ele a grande cidade 
e capital – Babilônia.
40 O Pentateuco – Gênesis
Visto a literatura babilônica ser mais antiga do que Gênesis, presume-se que 
as semelhanças provam a dependência bíblica do relato babilônico. Conforme 
essa teoria, Israel teria emprestado esses conceitos mitológicos dos babilônios 
e feito uma adaptação à sua perspectiva monoteísta. O grande problema dessa 
hipótese é a implicação que a história dos princípios em Gênesis acaba tornando-
se simplesmente mitologia. Se Gênesis for mitologia, então a consequência é que 
não se precisa crer que personagens como Adão, Eva, Caim, Abel ou o próprio 
jardim do Éden realmente existiram. 
Embora haja semelhanças entre Gênesis e tais narrativas mitológicas, as 
diferenças as superam. Estudiosos que fizeram ampla análise linguística e literária 
concluíram que tal suposta dependência literária não pode ser sustentada. 
Aqui, como na maioria dos relatos paralelos com Gênesis, acredita-se ser mais 
provável que tradições mesopotâmicas e bíblicas tenham tido uma mesma fonte. 
A épica de Atrahasis, por exemplo (início do segundo milênio), é muito similar, 
de novo, à narrativa bíblica da criação. Na verdade, a épica só vem confirmar 
que a história básica apresentada em Gênesis 1-11 era bem conhecida em todo 
o Antigo Oriente Próximo.
Não é fácil determinar datas para a narrativa dos primeiros capítulos de 
Gênesis. Várias tentativas foram feitas, mas que resultaram em hipóteses. 
Usando as genealogias de Gênesis 5 e 11 para calcular o tempo, o bispo Ussher, 
da Inglaterra (1654), por exemplo, datou a criação do ser humano em 4004 
a.C. Essa data é insustentável visto que as genealogias não apresentam uma 
cronologia completa.5 
Após a criação do ser humano, o episódio mais marcante é a sua queda. O 
pecado e suas consequências se expandem numa rapidez impressionante. As 
primeiras páginas da história já contam um caso deprimente de ciúme (Gn 4.5), 
assassinato (4.8), medo (4.14), imoralidade (6.4-6) e orgulho (11.4). O impacto 
dos capítulos 3 a 11 só é amenizado pelo heroísmo e devoção de uns poucos 
como Abel (4.4; Hb 11.4), Enoque (5.21-14, Hb 11.5) e Noé (6.8; Hb 11.4). De 
resto, há uma frase recorrente que grifa a história da queda do ser humano: “e 
morreu” (5.5, 8, 11, 14, 17, 20, 27, 31). Cumpre-se o que Deus havia dito que 
aconteceria caso o homem desobedecesse (2.17). Note como o pecado se espraia 
5 SCHULTZ, Samuel J. | A história de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1977, p.13.
41O Pentateuco – Gênesis
rapidamente de um indivíduo (3.1) a um casal (3.12), depois a uma família 
(4.1-15) e, finalmente, ao mundo todo (11.1-9). 
D. O Dilúvio
A história do dilúvio é por vezes relacionada a algumas das grandes 
inundações das cidades-estado do vale do Tigre-Eufrates por volta do terceiro 
milênio a.C. Na verdade, a Bíblia não é a única a falar sobre um dilúvio de 
abrangência universal. A narrativa babilônica do dilúvio representada na Épica 
de Gilgamesh, por exemplo, de novo possui vários elementos paralelos com 
Gênesis. A épica está relatada em 12 tabletes de argila e apresenta similaridade 
com a história de Noé. Gilgamesh, provavelmente a figura histórica do rei de 
Uruk por volta de 2600 a. C., rebelou-se contra a morte depois de ter perdido seu 
amigo. Gilgamesh encontra-se com Utnapishtim, o “Noé babilônico”, que relata 
como ele alcançou a imortalidade quando prenunciou o plano dos deuses de 
destruir o mundo por meio de uma inundação. Utnapishtim havia sobrevivido 
ao dilúvio em um grande barco de junco, juntamente à sua família e a pares de 
todos os animais.6 Infelizmente, porém, aquele era um acontecimento que não 
voltaria a se repetir – o que dava a Gilgamesh poucas esperanças de encontrar 
a imortalidade. 
Depois de falhar em três testes pelos quais ele poderia ter recebido a 
imortalidade, derrotado, Gilgamesh conforma-se com o fato que a morte é 
inevitável e consola-se com aquilo que conseguira alcançar. 
Entretanto, as diferenças entre as narrativas são maiores e impactantes; elas 
superam as semelhanças. Destacam-se o tipo de embarcação, a duração do 
dilúvio, as pessoas que sobreviveram, o local de pouso da arca, o resultado para 
o herói e, especialmente, o papel dos deuses. Estes detalhes e acima de tudo uma 
análise linguística e literária mostram que a dependência literária não pode ser 
sustentada. O dilúvio faz parte do imaginário de inúmeros povos. Tal acontece 
devido à tradição oral partilhada por vários segmentos da raça humana, todos 
remontando aos três filhos de Noé. O relato genuíno está preservado apenas em 
6 HEIDEL, Alexander. | The Gilgamesh Epic and the Old Testament Parallels. Chicago: University of 
Chicago Press, 1949, p.85ss.
42 O Pentateuco – Gênesis
Gênesis; com o passar do tempo, inadequações e falsa teologia corromperam 
os demais relatos.
E. Os patriarcas
A história patriarcal (Gn 12-50) nos fornece algumas possibilidades de 
cronologia. Grande parte dos estudiosos entende que o chamado de Deus a 
Abraão em Ur da Caldeia, na Mesopotâmia, acontece num contexto geográfico 
e histórico significativo. O mundo de Abraão é um mundo ativo, econômica e 
tecnologicamente avançado para a sua época. Nesse período, por volta do ano 
2000 a.C., além dos antigos sumérios e acadianos dispersos pela Mesopotâmia, 
encontramos outros grupos importantes como os amorreus, os hurrianos e os 
hititas, que começaram a se destacar nessas terras.7
Devido ao progresso no conhecimento do Antigo Oriente Próximo no 
segundo milênio, muitos estudiosos, que antes colocavam dúvidas sobre a 
historicidade dos patriarcas, passaram a atribuir maior valor histórico a essas 
narrativas. O maior expoente dessa perspectiva foi o teólogo e arqueólogo 
William F. Albright. A posição de Albright reflete posição dominante. “Como 
um todo”, diz ele, “o quadro de Gênesis é histórico, e não há motivos para 
duvidar da exatidão geral dos detalhes biográficos e dos traços de personalidade 
que fazem com que os patriarcas surjam com uma intensidade inexistente em 
nenhum personagem extrabíblico em toda a vasta literatura do Antigo Oriente 
Próximo.”8
Abraão
Para Adão Deus havia dado uma palavra necessária de precaução: “Não 
comerás”; para Abraão, Ele dá uma palavra empolgante sobre uma oportunidade 
7 THOMPSON, John A. | A Bíblia e a arqueologia: quando a ciência descobre a fé. São Paulo: Vida 
Cristã, 2007, p.35-57.
8 ALBRIGHT, William Foxwell. | The biblical period from Abraham do Ezra. New York and Evanston: 
Harper and Row, Publishers, 1963, p.5. Para análise e conclusão mais recentes, cf. KITCHEN, 
Kenneth A. “The Patriarchal Age: Myth or History?” Biblical Archaeology Review, Mar/Apr 1995: 
48-57, 88, 90, 92, 94-95.
43O Pentateuco – Gênesis
de aventura: “Sai da tua terra” (12.1). Adão respondeu em desobediência 
(Rm 5.12), mas Abrão respondeu em obediência imediata e fé dependente. A 
história de Abraão não é isenta de manchas (12.10-20; 20.1-18), mas ele era 
um adorador (12.8), bondoso (13.8-11), corajoso (14.1-16), confiante em Deus 
(15.6), compassivo (17.18) e homem de oração (18.16-33). A história de Abraão 
começa com um chamado à obediência e termina no mesmo tema, mas com 
uma ordem de tirar o fôlego. No primeiro capítulo de sua história (12), Deus 
pede que saia do meio de sua parentela, mas no teste final é pedido que ofereça 
seu único filho em sacrifício (22). 
Em Gênesis 16.1-4, Sara entrega sua serva Hagar a Abraão para que através 
desta Abraão pudesse ter um filho.9 Em Nuzi, o contrato de casamento obrigava 
a esposa estéril a providenciar uma substituta para seu marido. O Senhor, porém, 
mostra que o herdeiro seria o filho nascido da relação matrimonial entre Abraão 
e Sara: Isaque é o filho da promessa.
Isaque
A história de Isaque fica comprimida entre a de Abraão e ade Jacó. Mas as 
poucas linhas nos contam como Deus providenciou uma esposa para ele (24.1-
67), fê-lo pai em resposta a uma oração sincera (25.20-21), deu-lhe alimento 
em tempo de carestia (26.1-14) e ajudou-o a fazer provisão para o futuro, 
induzindo-o a abrir alguns poços em terrenos desusados e negligenciados (26.18-
22). Os acontecimentos do capítulo 22 parecem colocar em risco a vida de Isaque 
e a promessa dada a Deus ao patriarca Abraão. Críticos liberais insinuam que 
este evento tem por objetivo polemizar o sacrifício de crianças que, segundo 
eles, era prática comum entre os israelitas até bem mais tarde. Mas não há nada 
no texto que justifique essa análise. A ênfase da história não é outra senão o 
teste pelo qual passa “o pai de todos os crentes”. 
9 O mesmo aconteceria mais tarde com Lia e Raquel ao entregarem servas para o seu esposo |
Jacó.
44 O Pentateuco – Gênesis
Jacó
Logo os episódios envolvendo Jacó passam a ter dominância na narrativa 
bíblica. Rebeca, esposa de Isaque, dera à luz gêmeos (25.21-26). Esaú nasce 
primeiro; mas em seguida vem Jacó. Os dois irmãos são bem diferentes tanto na 
aparência quanto na personalidade. Esaú é arredio, irresponsável e irreligioso; é 
caçador e polígamo. Casa-se com duas mulheres hititas, que passam a ser causa 
de amargura para Rebeca. Esaú vivia para o presente. Jacó é calmo, religioso, 
doméstico e barganhista. Por ser mais velho tecnicamente, Esaú deve receber 
a bênção, mas Deus não segue o plano dos homens. A Escritura não esconde a 
fragilidade do povo de Deus. Tanto Jacó quanto Rebeca erram na tentativa de 
lutar por interesses próprios. 
A venda da primogenitura é possibilitada segundo os padrões legais do 
Antigo Oriente Próximo. Há exemplo em Mari de que o filho mais velho vendeu 
a sua primogenitura ao irmão mais moço por três ovelhas.10 Fato é que Jacó e 
Rebeca conseguiram seu intento, mas essa vitória particular de cada um teve 
consequências: Jacó tem de fugir e por 20 anos não pode retornar para sua 
casa; nunca mais vê sua mãe; por todo esse tempo Jacó fica sem o perdão do 
seu irmão.
Jacó era um homem esquisito; foge aos padrões que talvez esperaríamos de 
um filho de Deus e filho da promessa. Mas a história de Jacó ilustra o amor e a 
bondade de Deus, que nos abençoa não porque mereçamos, mas porque Ele é 
gracioso. Deus se encontra com Jacó (28.11-22), providencia-lhe uma esposa 
(29.1-30) e filhos (30.1-26). Jacó passa por várias dificuldades familiares (31.1-
55) e muitas das tragédias que se seguiram foram ocasionadas por sua própria 
falta de bom senso e amor. Mas Deus tira dele sua autoconfiança, transforma 
seu caráter e muda o seu nome: “Israel”. E a partir de então o cumprimento da 
promessa de Deus começa a mostrar os seus contornos. 
10 | GORDON, Cyrus Herzl. “Biblical customs and the Nuzu tablets”. Biblical Archaeologist 3 (1) 
(February 1940): 1-12.
45O Pentateuco – Gênesis
José
O ciclo de José inicia no capítulo 37, sendo interrompido apenas pelo episódio 
de Judá e Tamar (cap. 38) – obviamente, umas das razões do autor é chamar a 
atenção para a tribo de Judá de onde virá Davi e, a partir da dinastia davídica, 
o Messias. Da mesma forma, o capítulo 49, chamado de “Bênção de Jacó”, é 
importante linguisticamente devido a vários aspectos poéticos arcaicos, e ainda 
mais importante teologicamente em razão da referência davídico-messiânica 
em conexão com a bênção dada a Judá.
Como filho predileto do pai, José era desprezado pelos irmãos. O ódio era 
tão grande que José foi vendido pelos seus irmãos, acabando na terra do Egito 
(37.1-35). Por causa de sua retidão e virtudes – e, por que não dizer, por causa da 
sua fé –, foi perseguido e perdeu sua liberdade. No seu aprisionamento injusto 
José se revela como intérprete de sonhos. Ao interpretar os sonhos de Faraó, ele 
é nomeado o mais alto oficial, superado em poder apenas pelo próprio Faraó 
(40.1-41.57). Episódios como os de José mostram como é Deus quem tem o 
governo da história. Uma grande fome fez com que seus irmãos viessem de 
Canaã ao Egito à procura de alimento e isso resultou no encontro da família 
(42.1-46.34). José pôde cuidar de seu pai e irmãos durante todo um período 
difícil (47.1-28). 
Quando Jacó morre, os irmãos de José temem por suas próprias vidas. 
Pensaram, como o mundo pensa, que haveria uma vingança da parte de José 
(50.15). Relembrando a amargura e as tribulações que se seguiram, José faz uma 
confissão de fé e confiança magníficas. Virando-se para seus irmãos ele diz: “Vós 
intentastes o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem” (50.20). É fácil falar 
assim quando você esteve na prisão por dois anos e os causadores dessa injustiça 
estão à sua frente? É possível perdoar? José sabia que Deus tinha usado essa 
tragédia para Seus propósitos. No dia em que o lançaram naquele poço seco em 
Dotã (37.24), eles deram início a uma série de acontecimentos ordenados por 
Deus destinados a tornar seu irmão desprezado num líder e conselheiro cuja 
habilidade, discernimento e fé trariam esperança e salvação a muitos. 
As palavras finais de Gênesis “no Egito” são um trampolim para o livro de 
Êxodo. Historicamente, entretanto, introduz um longo intervalo de tempo, mais 
precisamente a “Idade das Trevas” do nosso conhecimento sobre os israelitas.
46 O Pentateuco – Gênesis
Patriarcas e a arqueologia
Achados arqueológicos demonstram que os costumes descritos em Gênesis 
12-50 são autenticados por hábitos semelhantes no Antigo Oriente Próximo 
contemporâneos aos patriarcas. Um exemplo de achado importante são os 
textos descobertos em Nuzi. Em Gênesis 15.1-4 Abraão estava adotando seu 
servo Eliezer e fazendo dele seu herdeiro. A adoção de servos era prática 
comum em Nuzi. Um casal sem filhos podia adotar um filho que cuidaria deles 
enquanto vivessem e, em contrapartida, receberia sua propriedade quando o 
casal morresse. Mas havia uma provisão de que, se o casal viesse a ter filho 
depois da assinatura do documento de adoção, o filho natural se tornaria então 
o herdeiro e ficaria com os “deuses” (teraphim) do pai, que eram geralmente 
figuras de barro usadas na adoração familiar mas que parecem ter-se tornado, 
com o passar do tempo, um documento como nossas modernas escrituras de 
terreno. O dono da propriedade possuía os “deuses” e os transferia quando a 
propriedade passava às mãos de outro.
47O Pentateuco – Gênesis
Atividades
1. Vários estudiosos do Antigo Testamento afirmam que Gênesis é 
dependente da literatura babilônica. Disserte sobre essa questão chamando 
a atenção para as consequências dessa suposta dependência.
2. Relacione a segunda coluna com a primeira.
1) Gênesis 3 ( ) “Sê tu uma bênção.”
2) Gênesis 12 ( ) “Vigie o Senhor entre mim e ti.”
3) Gênesis 15 ( ) “O cetro não se arredará de Judá, 
nem o bastão de entre seus pés, até 
que venha Siló; a ele obedecerão os 
povos.”
4) Gênesis 31 ( ) “Porei inimizade entre ti e a mulher; 
entre a tua descendência e o seu 
descendente; esta te ferirá a cabeça 
e tu lhe ferirás o calcanhar.”
5) Gênesis 49 ( ) “Ele creu no Senhor e isso lhe foi 
imputado para justiça.”
3. Ele era rico, tinha descendência e a terra onde habitava podia ser sua, 
pois tinha um documento que lhe assegurava esse direito. Assinale a 
reposta correta.
a) Abraão
b) Ismael
c) Isaque
d) Jacó
e) José
4. Os patriarcas nem sempre são padrões de moral e de comportamento 
que se espera de um filho de Deus. 
I. Apesar de tudo, eram capazes de superar suas fraquezas diante de 
Deus porque eram homens de fé inabalável.
II. Voltavam a ser aceitos por Deus porque os atos de obediência deles 
compensavam seus atos de desobediência.
III. A fragilidade humana diante de Deus só pode ser superada pelo 
próprio Deus.
Marque a resposta correta:
a) Apenas I
b) Apenas II
c) Apenas III
d) Apenas I e II
e) Apenas II

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