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OBRIGAÇÃO PROPTER REM, ÔNUS REAL E OBRIGAÇÃO COM EFICÁCIA REAL Ana Laura de Moraes VILELA Bianca MARINELLI Felipe Guilmo Marengoni MACHADO Isabele Aparecida Borges ESPAIRANI 1. DIREITOS REAIS E DIREITOS PESSOAIS Para se ter uma maior compreensão sobre o tema, é necessário diferenciar os direitos reais dos direitos pessoais. Como o próprio nome já diz, o direito pessoal é a relação jurídica entre duas pessoas ou mais. Enquanto os direitos reais refletem diretamente sobre a coisa. O direito real constitui um conjunto de normas regulamentadoras das relações jurídicas, equivalente a coisas que o ser humano possa possuir, por exemplo, uma casa, isto é, bens tangíveis para que se possa exercer uma competência sobre eles, por isso é composto apenas por um titular, sendo ele o responsável por desempenhar seu poder sobre a coisa de seu direito, de maneira imediata e direta. O direito real é exercido e recai diretamente sobre a coisa, sobre um objeto fundamentalmente corpóreo (embora ocorra também titularidade sobre bens imateriais), enquanto o direito obrigacional tem em mira relações humanas. Sob tal aspecto, o direito real é um direito absoluto, exclusivo, oponível perante todos (erga omnes), enquanto o direito obrigacional é relativo, uma vez que a prestação, que é seu objeto, só pode ser exigida ao devedor. (VENOSA, 2021, p. 22.) Por outro lado, o direito pessoal atende aos direitos das obrigações, pois trata das relações dos sujeitos ativos (credor), passivos (devedor) e a prestação (objeto da relação jurídica). Ele opera absolutamente sobre uma pessoa diferentemente do direito real, que age sobre as coisas. 2. OBRIGAÇÕES REAIS (PROPTER REM) A obrigação real ou propter rem ocorre em situações nas quais o proprietário é por vezes sujeito de obrigações apenas porque é proprietário (ou possuidor) e qualquer pessoa que o suceda na posição de proprietário ou possuidor assumirá tal obrigação. Contudo, o proprietário poderá liberar-se da obrigação se se despir da condição de proprietário ou possuidor, abandonando a coisa que lhe pertence, renunciando à propriedade ou abrindo mão da posse. Desse modo, a pessoa do devedor poderá variar, de acordo com a relação de propriedade ou de posse existente entre o sujeito e determinada coisa (VENOSA, 2021, p. 47). A palavra em latim propter, como preposição, quer dizer “própria”, e rem, como substantivo, quer dizer “coisa”, tratando-se portanto de uma obrigação própria da coisa. Esta não pode existir fora das relações de direito real, visto que seu nascimento, sua transmissão e sua extinção os seguem com vinculação de acessoriedade. Ela pode decorrer da comunhão ou copropriedade, do direito de vizinhança, do usufruto, da servidão e da posse, como nos seguintes exemplos: Art. 1.315. O condômino é obrigado, na proporção de sua parte, a concorrer para as despesas de conservação ou divisão da coisa, e a suportar os ônus a que estiver sujeita (BRASIL, 2002). Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas (BRASIL, 2002). O sucessor do bem assume automaticamente as obrigações do sucedido, ainda que não saiba de sua existência. Por exemplo, o atual proprietário que adquire um apartamento ficará responsável pelas despesas de condomínio do antigo proprietário e responderá perante o condomínio sobre elas. Por existir dentro das obrigações de direito real, encontra-se na obrigação real direitos reais em conflito. O credor e o devedor encontram-se ambos como titulares de direitos reais e a obrigação nada mais faz do que harmonizar seus direitos de propriedade. 3. OBRIGAÇÕES DE ÔNUS REAIS Obrigações de ônus reais são aquelas que limitam o uso e o gozo da propriedade, como um gravame (registro lançado sobre um bem para informar que ele está atrelado a algum tipo de contrato). É gerado pelo direito oponível erga omnes (direito real exercido pelo titular que deve ser respeitado por todos). Alguns exemplos de ônus reais são: o direito de constituição de renda (art. 803 do CC) e os direitos de hipoteca e penhor, os quais se enquadram em direitos reais de garantias. Certas características que podem ser acentuadas em relação aos ônus reais são: em sua expressão monetária não podem ultrapassar o valor do próprio bem, sempre surgem de de uma prestação positiva e desaparecem com o fim da propriedade. 4. OBRIGAÇÕES COM EFICÁCIA REAL Evidenciando a obrigação de eficácia real é aquela que, sem perder o seu caráter de direito pessoal, ou direito a uma prestação, ganha oponibilidade contra terceiros, ou seja, a obrigação não vai vincular apenas as partes que adquiram direitos sobre determinado bem, tendo em vista o seu registro, como por exemplo, nos casos de locação e compromisso de venda, de acordo com o que estabelece o art.8 da Lei 8.245/91, in verbis. É o que chamamos de oponibilidade erga omnes. Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel. § 1º Idêntico direito terá o promissário comprador e o promissário cessionário, em caráter irrevogável, com imissão na posse do imóvel e título registrado junto à matrícula do mesmo. § 2º A denúncia deverá ser exercitada no prazo de noventa dias contados do registro da venda ou do compromisso, presumindo - se, após esse prazo, a concordância na manutenção da locação. São características das obrigações com eficácia real: a) assemelha-se a uma obrigação comum, em sua essência; b) possui oponibilidade erga omnes; c) certas obrigações resultantes de contratos imobiliários alcançam, por força de lei, a dimensão de Direito Real. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: obrigações e responsabilidade civil. Atlas. Rio de Janeiro. 21.ed., p. 21-54, 2021. Disponível em: <https://meuportal.toledoprudente.edu.br/Redirect/IrParaMinhaBiblioteca?isbn= 9788597014570>. Acesso em: 1 de mar. de 2021. https://meuportal.toledoprudente.edu.br/Redirect/IrParaMinhaBiblioteca?isbn=9788597014570 https://meuportal.toledoprudente.edu.br/Redirect/IrParaMinhaBiblioteca?isbn=9788597014570
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