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Fascículo 11 - Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar Contra Mulher

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Mulher
Enfrentamento à violência 
doméstica e familiar contra
MulherMulherMulher
Enfrentamento à violência 
doméstica e familiar contra
Mídia 
e Violência 
Doméstica 
11
RAÍSSA VELOSO
GRATUITA
Essa publicação não pode ser comercializada
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CURSO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER
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Copyright © 2020 by Fundação Demócrito Rocha
Este fascículo é parte integrante do Projeto “Programa de Enfrentamento à Violência Doméstica 
e Familiar Contra a Mulher”, em atendimento do Contrato Nº 74/2020 fi rmado entre a Fundação 
Demócrito Rocha e a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e do Termo de Fomento Nº 02/2020 
fi rmado entre Fundação Demócrito Rocha e Câmara Municipal de Fortaleza.
1. Apresentação
2. O papel da mídia
3. A Invisibilização do fenômeno na Imprensa 
4. O retrato da violência contra a mulher na televisão
5. Educação midiática para enfrentamento ao fenômeno
Referências
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SU
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O
1
APRESENTAÇÃO
Nos fascículos anteriores você pôde entender como o enfrentamento aos diferentes tipos de violência do-méstica e familiar contra a mulher está inserido na luta pela defesa dos direitos humanos. Conheceu melhor 
como a questão de gênero determina, no mundo inteiro, as condi-
ções de vida para as mulheres e as violações mais comuns a essa 
população. Além disso, aprendeu sobre os direitos assegurados, 
as políticas e diretrizes nacionais para investigar, processar e jul-
gar crimes com recorte de gênero e como o racismo é uma ques-
tão estrutural que compromete de formas específi cas a vida das 
mulheres negras. Mesmo não sendo um fenômeno novo, a violên-
cia doméstica e familiar contra a mulher exige refl exões e atitudes 
atualizadas para o seu enfrentamento.
164 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
Nos últimos anos, passos importantes 
foram dados no Brasil para a criação de le-
gislações que criminalizam a violência mo-
tivada por discriminação de gênero, como a 
Lei Maria da Penha (lei no 11.340/2006) e a 
Lei do Feminicídio (lei no 13.104/2015). Mes-
mo assim, os índices de agressões contra as 
mulheres não diminuíram, pelo contrário: 
dados do Atlas da Violência de 2019 apon-
tam, por exemplo, que entre 2007 e 2017 
os casos de feminicídio ocorridos no Brasil 
aumentaram em 30,7%1. Por isso, devemos 
questionar: o que legitima tanta agressi-
vidade? Para responder a essa pergunta, 
este curso tem tentando explicar como a 
violência de gênero está fundamentada 
em determinantes culturais responsáveis 
pela conservação da desigualdade de po-
der entre homens e mulheres – e que são 
eles que devemos transformar.
Para avaliar a percepção social em re-
lação à tolerância à violência contra as 
mulheres, levantamento divulgado pelo 
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 
(Ipea) em março de 2014 mostrou que um 
quarto da população brasileira acreditava 
que mulheres que usam roupa que mostra 
o corpo merecem ser atacadas2. Outro dado 
do mesmo estudo evidenciou que a maior 
1 “Atlas da Violência: Brasil registra mais de 65 
mil homicídios em 2017”. Portal do Ipea. 5 de 
junho de 2019. Disponível em <https://www.
ipea.gov.br/portal/index.php?option%3Dcom_
content%26view%3Darticle%26id%3D34786>. 
Acesso em 3 out 2020.
2 Sistema de Indicadores de Percepção Social – 
Tolerância social à violência contra as mulheres. 
Portal do Ipea. 4 de abril de 2014. Disponível em 
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/
PDFs/SIPS/140327_sips_violencia_mulheres.
pdf>. Acesso em 3 out 2020.
parte dos brasileiros e das brasileiras acre-
ditava que o número de estupros seria me-
nor “se as mulheres soubessem se compor-
tar”. Como parte da cultura, o machismo 
é uma ideologia que está nas raízes da 
formação de nossa sociedade patriarcal 
e heteronormativa (o poder é concentra-
do na fi gura masculina e a norma social é 
heterossexual) e em maior ou menor grau 
na mente de todos e todas. Nesse sentido, 
para ir além do avanço na possibilidade de 
responsabilização de agressores, é necessá-
rio também investir em processos de trans-
formação cultural. 
Como dimensão fundamental na cons-
trução da realidade social há mais de um 
século, a produção industrial da cultura 
veiculada pelos meios de comunicação 
de massa também infl uencia na repro-
dução de comportamentos que afetam a 
vida das mulheres. Por isso, neste módulo 
11 você compreenderá qual é o papel da 
mídia no enfrentamento à violência do-
méstica e familiar com recorte de gênero. 
Aqui veremos como as representações em 
produções midiáticas podem reforçar ou 
problematizar a visão cultural acerca dos 
papéis sociais construídos historicamente 
para homens e mulheres e que experiências 
contribuem para a construção de um mun-
do como aquele imaginado pela fi lósofa 
Rosa Luxemburgo, em que sejamos “social-
mente iguais, humanamente diferentes 
e totalmente livres”.
ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER 165165
O PAPEL 
DA MÍDIA
Todos os dias temos acesso a inú-meros conteúdos produzidos por outras pessoas. Por meio de mensagens no celular, anúncios 
estampados pela cidade, vídeos na internet 
ou músicas no rádio, a verdade é que no sé-
culo XXI quase a totalidade da população 
mundial tem algum tipo de contato diário 
com produtos midiáticos. Com a expansão 
da cultura de conexão e o crescimento do 
número de pessoas com acesso à internet, 
passamos cada vez mais a ser não ape-
nas consumidores de conteúdos, mas 
também produtores deles. Nesse sentido, 
aos estudos sobre os efeitos da comunica-
ção de massa – que já eram muito recentes 
na história da humanidade – foram adicio-
nados novos desafi os: ao mesmo tempo do 
sistema moderno de mídia (de transmis-
são em massa) passou a existir o sistema 
de comunicação em rede.
Aqui vamos nos referir à produção midi-
ática como todo o processo que articula a 
execução de uma atividade humana com 
um dispositivo de comunicação. Não se 
trata apenas do uso de uma mídia ou do que 
as mídias “causam”, mas, sim, de um proces-
so de interação, “(...) pelo qual atividades e 
práticas humanas passam a ser articuladas 
com a lógica das mídias digitais que, por sua 
vez, altera a maneira como essas atividades 
eram feitas” (MARTINO, 2009, p. 271). Nesse 
sentido, vamos incluir na nossa discussão 
tanto gêneros tradicionais de conteúdos mi-
diáticos (como notícias de jornais impressos 
e telenovelas) quanto os novos gêneros po-
pularizados com a expansão das redes so-
ciais na internet, como os microtextos com 
hashtags – que são rótulos que demarcam 
o conteúdo com uma palavra-chave prece-
dida de # – e os vídeos com alta efi cácia de 
compartilhamento (efeito viral).
Para ter uma visão mais nítida de como 
funciona atualmente o chamado regime 
166 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
2
SAIBA MAIS
Ao destrinchar a Teoria da Midiatização 
da Sociedade do teórico dinamarquês 
Stig Hjarvard, o professor brasileiro 
Luiz Mauro Sá Martino explica: “Um 
dos conceitos recentes trazidos para o 
campo da Comunicação, o conceito demidiatização oferece uma perspectiva 
de análise que supera algumas antigas 
dualidades – por exemplo, pensar que 
a mídia é parte integrante da sociedade 
e, por conta disso, talvez não faça mais 
sentido falar nas relações entre ‘mídia e 
sociedade’, mas seja importante dedicar 
tempo a compreender os elementos de 
uma ‘sociedade midiatizada’, na qual as 
práticas mais simples, como ler um texto, 
ouvir música ou falar com amigos, ganha 
dimensões inesperadas” (2009, p. 274). 
“Em linhas gerais, a ideia de midiatização 
refere-se ao processo pelo qual as 
mídias, especialmente as digitais, 
se articulam com a vida cotidiana, 
alterando o modo como as pessoas, as 
instituições e a sociedade, de um modo 
geral, vivem. Trata-se, a rigor, de um 
conjunto de fenômenos que mostram uma 
articulação profunda entre as mídias
e o cotidiano”. (2009, p. 271)
híbrido de comunicação, um ponto de 
partida interessante para nossa discussão 
pode ser o reality show Big Brother Brasil 
(BBB), da Rede Globo de Televisão. Depois 
de anos amargando queda na audiência 
televisiva, o formato de entretenimento que 
confi na participantes em uma casa com câ-
meras ligadas durante 24 horas percebeu 
o crescimento do engajamento do público 
por meio da repercussão nas redes sociais 
dos casos de machismo e violência sexual 
ocorridos durante o programa realizado em 
2020. A importunação sexual contra as par-
ticipantes em uma das edições de um pro-
grama de reality show (quando participan-
tes homens foram fl agrados praticando atos 
sexuais sem o consentimento de mulheres) 
chamou atenção do público e mobilizou o 
engajamento para além da transmissão. 
O programa ganhou espaço com os co-
mentários nas redes sociais na internet, 
e fi zeram sucesso hashtags que pediam a 
saída dos agressores. O retorno do investi-
mento da produção em comportamentos 
polêmicos foi percebido ao vivo, quando 
o reality show entrou para o livro Guinness 
World Records por receber 1,5 bilhão de 
votos durante a janela de eliminação que 
excluiu da casa um dos participantes mais 
criticados no Twitter por falas machistas.
Twitter 
Rede social 
que permite 
aos usuários 
enviar e receber 
atualizações 
pessoais de 
outros contatos 
em formato de 
microblog, com 
textos de até 280 
caracteres.
ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER 167
#FICAADICA#FICAADICA
Desde agosto de 2020 está no ar 
a plataforma de vídeos “180play”. 
Desenvolvida pelo Instituto Maria da 
Penha com apoio da ONU Mulheres, 
o serviço de streaming totalmente 
gratuito atua como uma plataforma 
educativa que utiliza trechos de séries, 
fi lmes e novelas para mostrar e alertar 
sobre os tipos de violência doméstica e 
familiar contra a mulher. Após selecionar 
e assistir a uma cena, a espectadora 
é alertada sobre o tipo de violência 
que foi retratado e pode conhecer 
outros exemplos de agressão. Com a 
mensagem “Se você está passando por 
algo parecido, saiba que você não está 
sozinha”, o site recomenda a denúncia 
ao Disque 180 (serviço telefônico 
disponibilizado pelo Governo Federal 
que funciona 24 horas por dia em todos 
os dias da semana) e aponta formas de 
saber mais informações sobre o ciclo da 
violência para buscar ajuda.
168 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
Ainda que seja muito recente o sistema 
híbrido de comunicação, não é de hoje 
que os meios de comunicação de mas-
sa obtêm vantagens com a exibição de 
violência. Organizada empresarialmente, a 
mídia se insere no mercado a partir da ma-
neira como trabalha os próprios produtos e, 
dentre os temas preferíveis para comercia-
lização no mundo da comunicação, a vio-
lência é considerada uma moeda de troca 
com alto valor: nas palavras de Porto (2002) 
“uma mercadoria que vende e vende bem”. 
Longe de ser espelho da realidade, a mídia 
atua como agente na construção das re-
presentações sobre o mundo e infl uen-
cia as práticas sociais (THOMPSON, 1998) 
e, da forma como tem representado o tema 
aqui em discussão, pode ser caracterizada 
como um espaço de estruturação de socia-
bilidades violentas (PORTO, 2002).
Por isso, mais do que falar sobre, a 
produção midiática deve ser analisada 
em relação a maneira como falar sobre 
o tema da violência e, no caso específi co 
aqui discutido, como abordar o tema da 
violência doméstica e familiar contra 
mulheres. No contexto em que a midia-
tização é o processo central de visibiliza-
ção e produção dos fatos sociais na esfera 
pública, o enquadramento midiático é 
a operação principal pela qual se sele-
ciona, enfatiza e apresenta o aconteci-
mento (SODRÉ, 2009). O enquadramento 
midiático pode ser entendido como um 
sistema de referências (regras e esquemas 
interpretativos) que organiza a experiência 
social ao dar sentido a uma situação.
 “Seja de natureza política, ética ou 
estética, o enquadre afi na-se evidente-
mente com a cultura de um grupo espe-
cífi co, permitindo ao ator social descrever, 
interpretar ou categorizar as situações que 
se lhe afi guram como problemáticas. Por 
meio dele, um problema social é suscetí-
vel de converter-se em problema público, 
dando margem ao surgimento de ações 
coletivas” (SODRÉ, 2009, p. 38).
A INVISIBILIZAÇÃO DO 
FENÔMENO NA IMPRENSA
Transformar a violência domés-tica e familiar em uma questão pública faz parte da luta his-tórica das mulheres. Por muito 
tempo (e infelizmente para muita gente até 
hoje), o fenômeno da violência com recor-
te de gênero foi tratado como uma ques-
tão de âmbito íntimo e privado. Quem tem 
em mente o ditado que diz que “em briga 
de marido e mulher não se mete a colher” 
internalizou uma das ferramentas para ma-
nutenção da dominação masculina, que é a 
tentativa de preservar em foro íntimo ques-
tões relativas à esfera doméstica e familiar. 
Como discutimos anteriormente, não 
basta que o tema da violência doméstica 
e familiar esteja na pauta dos conteúdos 
midiáticos: é preciso que o enquadra-
mento dado ao fenômeno coloque em 
xeque a reprodução do machismo em 
nossa sociedade. Nesse sentido, o Ins-
tituto Patrícia Galvão – Mídia e Direitos 
produziu importante monitoramento da 
cobertura dos principais jornais brasilei-
ros sobre o assassinato de mulheres e os 
crimes de violência sexual com recorte de 
gênero após a aprovação da Lei do Femini-
cídio (lei nº 13.104/2015). Realizado entre 
2015 e 2016, o relatório analisou mais de 
uma centena de portais e sites noticiosos 
para, ao fi m, selecionar 71 veículos repre-
sentativos das cinco regiões do país. A 
amostra foi composta por 1.583 matérias 
sobre homicídios de mulheres e 478 sobre 
crimes de estupro. Entre as principais críti-
cas apontadas pelo documento, estão:
• Em relação à cobertura dos assassi-
natos de mulheres, prevaleceram 
matérias sobre a morte em si, sem 
informações sobre quem era aque-
la mulher, se já havia buscado ajuda, 
recorrido ao Estado para se defender 
de violências anteriores ou se tinha 
medida protetiva, entre outras ques-
tões que podem apontar falhas nas 
políticas públicas de enfrentamento à 
violência contra as mulheres.
• A cobertura privilegiou uma abor-
dagem romantizada e a desres-
ponsabilização do autor pelo cri-
me. A maioria absoluta dos textos 
não aborda as reais motivações para 
o crime; nos que tentam apresentar 
um motivo, a maioria aponta como 
causas do assassinato: “ciúmes”, 
“violenta emoção”, “defesa da honra”, 
“inconformidade com a separação”, 
autor “fora de si”, “transtornado” ou 
“sob efeito de álcool”. O padrão fre-
quentemente adotado pela impren-
sa transfere a culpa para a vítima.
ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER 169
A INVISIBILIZAÇÃO DO 
FENÔMENO NA IMPRENSA
A INVISIBILIZAÇÃO DO 
FENÔMENO NA IMPRENSA
A INVISIBILIZAÇÃO DO 
3
PUXANDO 
PROSA
O jornalismo brasileiro não é feito apenas 
por grandes empresas de comunicação. 
Por muito tempo, a chamada “imprensa 
alternativa” foi responsável, ainda que 
com menor alcance, por pautar temas 
importantes no debate público. Para 
conhecera agenda dos movimentos e dos 
jornais feministas nos últimos 40 anos, o 
livro “Feminismos na imprensa alternativa 
brasileira” (Editora Paco, 2018) traz a análise 
de Viviane Gonçalves Freitas sobre quatro 
jornais: Nós Mulheres (1976-1978); Mulherio 
(1981-1988); Nzinga Informativo (1985-1989) 
e Fêmea (1992-2014). Ao apresentar os 
resultados da pesquisa de doutorado no 
livro, a autora mostra que estavam presentes 
na agenda das mulheres organizadas não 
apenas a crítica à divisão sexual do trabalho, 
mas também temas relacionados a direitos 
sexuais e reprodutivos, família, igualdade de 
direitos entre homens e mulheres, custo de 
vida, violências contra as mulheres, numa 
perspectiva interseccional, isto é, articulando 
gênero, raça e classe.
PARA 
REFLETIR
The clit test (teste do clitóris, em tradução 
livre) é um projeto criado pelas britânicas 
Frances Rayner e Irene Tortajada para 
avaliar a representação do prazer sexual de 
mulheres em cenas de fi lmes, trechos de 
músicas e de obras literárias.
• Em 15% das matérias analisadas 
que continham imagens de víti-
mas de feminicídio, houve exibi-
ção de corpos – em sua maioria de 
mulheres negras – sem qualquer 
tratamento. Nesses casos, além da 
crueldade da morte, há a revitimiza-
ção pela exposição midiática.
• Outro ponto verifi cado também foi 
a baixa atenção à condição racial 
das vítimas nos textos, embora 
as estatísticas ofi ciais demons-
trem que as mulheres negras são 
60% das mortes por feminicídio 
e que o assassinato delas cresceu 
54% de 2003 a 2013.
• No caso das mulheres lésbicas, mes-
mo quando a orientação é mencio-
nada na matéria, nem sempre há o 
questionamento se o crime estaria 
associado à lesbofobia.
Pelo relatório produzido pelo Instituto Pa-
trícia Galvão, fi ca perceptível como a cober-
tura noticiosa sobre os crimes de feminicídio 
e violência sexual ainda precisa avançar para 
romper preconceitos relacionados às mu-
lheres, que ocorrem ao representá-las sem 
respeito à identidade, ao sugerir que os com-
portamentos da vítima contribuíram para 
a violência, ao revitimizá-las e criar mais 
constrangimentos para mulheres negras, 
trans e travestis. Além de evidenciar a repro-
dução de preconceitos de gênero, a análise 
da cobertura dos jornais brasileiros aponta a 
reafi rmação de preconceitos de raça e classe.
Nesse sentido, ao ser responsável por 
mobilizar avaliações e julgamentos sobre 
os outros, a mídia é capaz de construir en-
quadramentos diferenciais para apreensão 
daquelas que sofrem violência. As represen-
tações compartilhadas socialmente têm 
o poder tanto de favorecer o reconheci-
mento de algumas pessoas como sujeitos 
de direitos quanto de invisibilizar outras. 
Em 2011 o Instituto Patrícia Galvão já 
havia realizado, em parceria com a Andi – 
Comunicação e Direitos, um trabalho de 
monitoramento e análise da cobertura da 
imprensa sobre violência contra as mulhe-
res. No relatório daquele ano, constatou-se 
que uma das principais lacunas da cobertu-
ra de violência doméstica era justamente a 
ausência de análise junto ao fato jorna-
lístico. No período analisado, as reporta-
gens sobre as mortes violentas de mulheres 
tiveram destaque (84% do material avalia-
170 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
PUXANDO 
PROSA
O jornalismo brasileiro não é feito apenas 
por grandes empresas de comunicação. 
do), mas o conteúdo fi cou muito restrito às 
características policiais do fato, sem haver 
maior contextualização, individualizando o 
problema e com grande ausência de infor-
mações sobre serviços (96%), sobre as po-
líticas de prevenção e acerca das conven-
ções internacionais que o Brasil assinou e 
tem obrigação de cumprir.
Por isso é importante entender que não 
se trata apenas de colocar a violência do-
méstica e familiar contra a mulher na pauta 
da imprensa. É preciso que o tema passe a 
ser abordado por um enquadramento que 
favoreça o enfrentamento ao fenômeno, de-
fenda os direitos das mulheres e, principal-
mente, desnaturalize a violência de gênero. 
Um exercício interessante que você 
pode fazer para entender como o enqua-
dramento dado pela imprensa sugere pon-
tos de interpretação sobre os fatos está na 
escuta atenta do podcast “Praia dos Ossos”. 
Em oito episódios, a minissérie em áudio 
percorre os detalhes do feminicídio da so-
cialite Ângela Diniz pelo próprio namorado, 
em 1976, crime que repercutiu em todo o 
país e mobilizou o movimento de mulheres. 
Nele é possível perceber como a não obe-
diência aos padrões sexuais fez da vítima 
culpada pelo próprio assassinato. Nas pa-
lavras da idealizadora do projeto, Branca 
Vianna, é “uma história sobre a imprensa, 
o sistema judiciário brasileiro, como nasce 
uma mobilização, como as mulheres viviam 
e morriam nesse país, e como elas continu-
am vivendo e morrendo”. 
Um exercício interessante que você 
pode fazer para entender como o enqua-
dramento dado pela imprensa sugere pon-
tos de interpretação sobre os fatos está na 
 “Praia dos Ossos”. 
Em oito episódios, a minissérie em áudio 
so-
 Ângela Diniz pelo próprio namorado, 
em 1976, crime que repercutiu em todo o 
país e mobilizou o movimento de mulheres. 
Nele é possível perceber como a não obe-
diência aos padrões sexuais fez da vítima 
culpada pelo próprio assassinato. Nas pa-
lavras da idealizadora do projeto, Branca 
Vianna, é “uma história sobre a imprensa, 
o sistema judiciário brasileiro, como nasce 
uma mobilização, como as mulheres viviam 
e morriam nesse país, e como elas continu-
ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER 171
O RETRATO DA 
VIOLÊNCIA CONTRA A 
MULHER NA TELEVISÃO
Outro produto midiático impor-tante para analisarmos são as telenovelas, que no Brasil são vistas todos os dias por milhões 
de pessoas. Por isso, vamos discutir breve-
mente o poder que esse formato de entre-
tenimento tem ao colocar temas no deba-
te público e a possibilidade de despertar 
consciências para a transformação social. 
Um exemplo disso foi a novela “A Favorita”, 
de autoria de Aguinaldo Silva e produzida 
pela Rede Globo em 2008, dois anos após 
a aprovação da Lei Maria da Penha. Naque-
le mesmo ano, a Central de Atendimento à 
Mulher – Disque 180 registrou 269 mil de-
núncias, relatos de violência e pedidos de 
informação em todo o país, o que represen-
tou um aumento de 32% em comparação 
com o ano anterior. Uma das hipóteses é de 
SAIBA MAIS
PARA 
REFLETIR
Acesse: “Cenas de violência contra 
mulher em novelas aumentam 
denúncias de agressões”. Disponível em 
<https://televisao.uol.com.br/novelas/
fi na-estampa/2011/09/13/cenas-de-
violencia-contra-mulher-em-novelas-
aumentam-denuncias-de-agressoes.
jhtm>. Acesso em 11 out 2020.
Enquanto novelas como “Mulheres 
Apaixonadas” (Manoel Carlos, 2003) e 
“Fina Estampa” (Aguinaldo Silva, 2011) 
foram marcos na dramaturgia por 
inserir o tema da violência de gênero 
na produção televisiva, nove outras 
narrativas exibidas também em horário 
nobre não ganharam o debate público 
ao apresentar cenas de violência 
doméstica e familiar contra mulheres. 
Isso porque, enquanto as personagens 
Raquel (Helena Ranaldi) e Celeste 
(Dira Paes) das novelas de 2003 e 2011 
eram construídas como “honestas”, 
com “comportamento exemplar” e 
“relacionamentos estáveis”, as vilãs 
agredidas apresentavam desvios morais 
e desacordo com os padrões normativos 
previstos para o papel social de mulher.
que a exposição do tema pela telenovela 
possa ter contribuído para o crescimen-
to na busca do serviço.
Por outro lado, quando se trata de vio-
lência contra personagens femininas que 
não atendem aos padrões sexuais estabe-
lecidos, as telenovelas prestaram um desfa-
vor ao debate público. Ao analisar 17 anos 
de produção de uma grande emissora de 
TV, a pesquisadora Lorena Rúbia Pereira 
Caminhas concluiu que a violência perpe-
trada contra as vilãs por seus pais, maridos 
e amantes são justifi cadas na trama como 
um “corretivo necessário”: “Elas só pude-
ram apanhar sem gerar uma onda deques-
tionamentos e inquietações porque tiveram 
o destino que mereciam dentro da trama, e 
estariam apenas pagando por ter transgre-
dido fronteiras morais e de gênero”.
172 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
4 SAIBA MAIS
Desnaturalizar o enquadramen-to machista dado à mulher na mídia é uma meta necessária que também representa um de-
safi o enorme em um país como o Brasil. 
Na história nacional da publicidade, por 
exemplo, campanhas com abordagens 
machistas ganharam notoriedade pela for-
ma como trataram a mulher. Ao lembrar da 
representação do feminino nas propagan-
das de cerveja, por exemplo, podemos en-
tender como a publicidade voltada para o 
público masculino tem posicionado a ima-
gem da mulher a partir de uma posição de 
subordinação. E por que isso é problemáti-
co? Nas palavras de Flávia Biroli: 
“Representações das relações de gênero nas 
quais a mulher é humilhada e objetifi cada, 
isto é, tratada como menos humana porque 
é defi nida como instrumento para satisfa-
ção dos desejos do outro, podem contribuir, 
ainda que de maneira difusa, para a violên-
cia contra as mulheres e para aceitação da 
violência” (MIGUEL; BIROLI, 2014, p. 138).
EDUCAÇÃO MIDIÁTICA 
PARA ENFRENTAMENTO 
AO FENÔMENO
Além da produção publicitária não ter 
um controle público no Brasil, já que te-
mos um Conselho Nacional de Autorre-
gulamentação Publicitária (Conar) com-
posto por membros vinculados à própria 
indústria da publicidade, outra limitação 
para avançarmos na representação da 
mulher nesse universo diz respeito à pró-
pria estruturação dos espaços de trabalho: 
pesquisa realizada em 2016 mostrou que, 
nas 30 maiores agências de publicidade 
do país, apenas 20% de profi ssionais da 
área de criação eram mulheres, que tam-
bém ocupavam apenas 6% dos cargos de 
liderança nesses departamentos3. Ou seja, 
é necessário que, para além da regulação 
do conteúdo com base em interesses pú-
blicos, a própria indústria da publicidade 
alcance uma igualdade de participação 
entre gêneros e raças que permita avançar-
mos nas representações sociais.
O jornalismo é um campo de comunica-
ção que funciona de outra forma: diferente-
mente da atuação publicitária, jornalistas 
devem seguir um código de ética que, para 
3 Pesquisa realizada por Meio & Mensagem em 
dezembro de 2015 disponível em <https://
www.meioemensagem.com.br/home/
comunicacao/2016/01/12/mulheres-sao-20-
porcento-da-criacao-das-agencias.html>.
além do interesse público e da liberdade de 
imprensa, defi ne atribuições específi cas. No 
Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros4 
há previsão de “compromisso com a res-
ponsabilidade social inerente à profi ssão” 
(Art. 2º, parágrafo III); dever de “opor-se ao 
arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem 
como defender os princípios expressos na 
Declaração Universal dos Direitos Humanos” 
(Art. 6º, I); “respeitar o direito à intimidade, 
à privacidade, à honra e à imagem do cida-
dão” (Art. 6º, VIII); “defender os direitos do 
cidadão, contribuindo para a promoção das 
garantias individuais e coletivas, em especial 
as das crianças, adolescentes, mulheres, ido-
sos, negros e minorias” (Art. 6º, XI); “combater 
a prática de perseguição ou discriminação 
por motivos sociais, econômicos, políticos, 
religiosos, de gênero, raciais, de orientação 
sexual, condição física ou mental, ou de 
qualquer outra natureza” (Art. 6º, XIV); e ain-
da proibição: “o jornalista não pode divulgar 
informações de caráter mórbido, sensacio-
nalista ou contrário aos valores humanos, 
especialmente em cobertura de crimes e aci-
dentes” (Art. 11, II) e obrigação de “tratar com 
respeito todas as pessoas mencionadas nas 
informações que divulgar” (Art. 12, II).
Um importante instrumento para pro-
fi ssionais da imprensa é o relatório que 
discutimos anteriormente “Imprensa e 
Direitos das Mulheres: Papel social e desa-
fi os da cobertura sobre feminicídio e vio-
lência sexual”, do Instituto Patrícia Galvão. 
4 Disponível em <https://fenaj.org.br/wp-
content/uploads/2014/06/04-codigo_de_etica_
dos_jornalistas_brasileiros.pdf>.
ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER 173
EDUCAÇÃO MIDIÁTICA 
PARA ENFRENTAMENTO 
além do interesse público e da liberdade de 
imprensa, defi ne atribuições específi cas. No 
Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros4
há previsão de “compromisso com a res-
ponsabilidade social inerente à profi ssão” 
(Art. 2º, parágrafo III); dever de “opor-se ao 
5
Lá é possível conferir as leis relacionadas 
a esses crimes, perguntas que devem nor-
tear o trabalho jornalístico de cobertura 
dos casos de violência contra a mulher e 
elementos que não deveriam faltar nos 
textos, como: (1) informações sobre servi-
ços de denúncia e acolhimento existentes 
na região; (2) informações sobre serviços 
de orientação e denúncia que podem ser 
acionados à distância (190, Ligue 180, Dis-
que 100, portais e aplicativos); (3) breve 
explicação do contexto afetivo em que a 
violência se manifesta (o chamado ciclo da 
violência) e (4) dicas de como as mulheres 
podem se prevenir e romper o ciclo.
“Para contribuir no enfrentamento à má-
xima violação às mulheres e desconstruir as 
culturas na quais o feminicídio se insere, é 
importante incorporar efetivamente a dis-
cussão sobre o contexto desse crime no dia 
a dia da cobertura, não o restringindo ao 
‘calendário das mulheres’. Como se tra-
ta de desigualdades impostas socialmente 
aos papéis de gênero masculino e feminino, 
é importante debater esse assunto cotidia-
namente, associar os crimes com os dados 
disponíveis sobre a violência letal contra as 
mulheres e fornecer informações que pos-
sam ajudar na prevenção da violência e na 
preservação de vidas (INSTITUTO PATRÍCIA 
GALVÃO, 2019, p. 25)”.
Um novo desafi o diz respeito à educa-
ção voltada para o uso das novas mídias no 
atual ambiente de hiperconexão. Ao viver-
mos em uma sociedade em que a produ-
ção midiática em larga escala não diz mais 
respeito apenas aos meios de comunicação 
tradicionais, precisamos pensar como a 
educação midiática se insere na agenda pú-
blica e quais práticas podem favorecer uma 
cultura de não violência à mulher. Como dis-
cutimos no início do módulo, a forma como 
as pessoas usam as novas tecnologias de 
comunicação está completamente articu-
lada às atividades humanas cotidianas, o 
que signifi ca que o ambiente on-line tam-
bém está permeado pelas desigualdades 
de gênero que colocam homens e mulheres 
em posições sociais diferentes e é capaz de 
infl uenciar a construção da realidade social.
elementos que não deveriam faltar nos 
textos, como: (1) informações sobre servi-
ços de denúncia e acolhimento existentes 
na região; (2) informações sobre serviços 
Um novo desafi o diz respeito à educa-
ção voltada para o uso das novas mídias no 
atual ambiente de hiperconexão. Ao viver-
mos em uma sociedade em que a produ-
No dossiê “Violência contra as Mulheres”, 
também produzido pelo Instituto Patrícia 
Galvão, há um tópico específi co para dis-
cutir a violência de gênero na internet, que 
inclui debates fundamentais para a educa-
ção midiática. Para Marai Larasi, diretora 
executiva da ONG britânica End Violence 
Against Women Coalition (Coalizão de Com-
bate à Violência contra Mulheres, em tradu-
ção livre), o problema é: “Não educamos 
as pessoas a se comportarem no ambiente 
virtual. Temos uma área cinzenta e precisa-
mos conversar sobre isso. (...) Eu acho que 
174 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
REFERÊNCIAS
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da cobertura jornalística. Brasília: Andi; Instituto Patrícia Galvão, 2011.
CAMINHAS, Lorena Rúbia Pereira. Imagens de violência de gênero em 
telenovelas brasileiras. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 27, n. 1. 
Disponível em < https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
026X2019000100208>. Acesso em 3 out. 2020.
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1970. Nexo Jornal, 2 out de 2019. Disponível em <https://www.nexojornal.com.
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anos-1970>. Acesso em 3 out. 2020.
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Fundação Rosa Luxemburgo; Instituto Patrícia Galvão, 2017. Disponível em < https://
agenciapatriciagalvao.org.br/violencia/livrofeminicidio/>. Acesso em 3 out. 2020.
INSTITUTO PATRÍCIA GALVÃO. Imprensa e Direitos das Mulheres: Papel social e 
desafi os da cobertura sobre feminicídio e violência sexual. Instituto Patrícia Galvão, 
2019. Disponível em <https://assets-institucional-ipg.sfo2.cdn.digitaloceanspaces.com 
/2019/12/IPG_RelatorioMonitoramentoCoberturaFeminicidioViolenciaSexual2019.
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MARTINO, Luís Mauro Sá. Teoria da Comunicação: ideias, conceitos e métodos. 5. 
ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
MIGUEL, Luis Felipe; BIROLI, Flávia. Feminismo e política: uma introdução. 1. ed. São 
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PORTO, Maria Stela Grossi. Violência e meios de comunicação de massa na sociedade 
contemporânea. Sociologias, Porto Alegre, ano 4, n. 8, p. 152-171, jul/dez. 2002.
THOMPSON, J. B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis, 
RJ: Vozes, 1998.
um dos pontos importantes nesse sentido é 
educarmos as pessoas para entender que o 
espaço virtual é real. Não há espaço virtual 
que seja desconectado”5.
Entre as violências mais comuns às mu-
lheres no ambiente on-line, o dossiê des-
taca o “cyberbullying” e a “pornografi a de 
vingança”: o primeiro conceito é entendido 
como o uso de ferramentas do espaço de 
conexão, como as redes sociais e os celu-
lares, para disseminar comentários depre-
ciativos. O segundo acontece quando há o 
compartilhamento de conteúdo íntimo pela 
internet sem autorização de todos os envol-
vidos ou com o propósito de causar humi-
lhação à vítima. Nos dois casos, as práticas 
não necessariamente ocorrem com recorte 
de gênero, mas cada vez mais casos assim 
contra mulheres têm chegado às delegacias 
e aos tribunais. De acordo com o material 
produzido pelo Instituto Patrícia Galvão, 
isso ocorre porque essas formas de violên-
cia mobilizam sistemas discriminatórios, 
como o sexismo, o preconceito de classe, o 
racismo e a homofobia.
Assim como no ambiente off -line, bus-
car que as vítimas conheçam os próprios 
direitos na rede de conexão e saibam como 
responsabilizar os autores das agressões 
é necessário, mas não sufi ciente. É impor-
tante que existam ações de enfrentamento 
à cultura machista também nos espaços 
on-line. Nesse contexto, o caminho que se 
apresenta como mais necessário a ser per-
corrido nos dias atuais é a promoção de 
uma educação midiática associada à edu-
cação para igualdade de gênero.
5 Dossiê Violência contra as Mulheres. Site do 
Instituto Patrícia Galvão. Disponível em <https://
dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia/
violencias/violencia-de-genero-na-internet/>.
um dos pontos importantes nesse sentido é 
educarmos as pessoas para entender que o 
espaço virtual é real. Não há espaço virtual 
que seja desconectado”
lheres no ambiente on-line, o dossiê des-
ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER 175
AUTORA
 RAÍSSA VELOSO
É jornalista formada pela Universidade Federal 
do Ceará (UFC) e mestre em Planejamento 
Urbano e Regional pela Universidade Federal 
do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem experiência com 
assessoria parlamentar na Câmara Municipal 
de Fortaleza e na Assembleia Legislativa do 
Estado do Ceará e com produção de conteúdo 
sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) para 
organizações, como o Conselho Nacional das 
Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). 
Como assessora de comunicação, atua em 
projetos relacionados às áreas de direitos 
humanos, cultura e meio ambiente.
ILUSTRADOR
CARLUS CAMPOS 
Artista gráfi co, pintor e gravador, começou 
a carreira em 1987 como ilustrador no jornal 
O POVO. Na construção do seu trabalho, aborda 
várias técnicas como: xilogravura, pintura, 
infogravura, aquarelas e desenho. Ilustrou 
revistas nacionais importantes como a Caros 
Amigos e a Bravo. Dentro da produção gráfi ca 
ganhou prêmios em salões de Recife, São Paulo, 
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
ganhou prêmios em salões de Recife, São Paulo, ganhou prêmios em salões de Recife, São Paulo, 
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
É jornalista formada pela Universidade Federal 
Urbano e Regional pela Universidade Federal 
do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem experiência com 
Estado do Ceará e com produção de conteúdo 
REALIZAÇÃO
APOIO PATROCÍNIO

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