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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/44400009 Os reinos dos fungos / Jair Putzke, Marisa Terezinha Lopes Putzke Article · January 2013 Source: OAI CITATIONS 0 READS 2,030 2 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Study of invasive species on the local biodiversity View project Macrofungi diversity from Southern Minas Gerais - Brazil View project Jair Putzke Universidade Federal do Pampa (Unipampa) 95 PUBLICATIONS 427 CITATIONS SEE PROFILE Marisa Putzke University of Santa Cruz do Sul 15 PUBLICATIONS 20 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Jair Putzke on 23 February 2021. 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Independência, 2293 96815-900 - Santa Cruz do Sul - RS Fones: (51) 3717 7462, (51) 3717 7461 - Fax: (51) 3717 7402 E-mail: editora@unisc. br http://www.unisc.br/edunisc/ Reitor Vilmar Thomé Vice-Reitor Eltor Breunig Pró-Reitora de Graduação Carmen Lúcia de Lima Helfer Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Rogério Leandro Lima da Silveira Pró-Reitor de Administração Jaime Laufer Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional João Pedro Schmidt Pró-Reitora de Extensão e Relações Comunitárias Ana Luisa Teixeira de Menezes EDITORA DA UNISC Editora Helga Haas COMISSÃO EDITORIAL Helga Haas - Presidente Rogério Leandro Lima da Silveira Cristina Luisa Eick Eunice Terezinha Piazza Gai José Martinho Rodrigues Remedi Ricardo Hermany Sérgio Schaefer Wolmar Alípio Severo Filho 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 2 11/06/2013 11:26:50 Jair Putzke Professor da Universidade de Santa Cruz do Sul Marisa Terezinha Lopes Putzke Professora da Universidade de Santa Cruz do Sul 3ª edição EDUNISC Santa Cruz do Sul 2012 OS REINOS DOS FUNGOS volume 1 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 3 11/06/2013 11:26:50 ©Copyright - Jair Putzke e Marisa T. Lopes Putzke 1ª edição 1998 2ª edição 2004 3ª edição 2012 Direitos reservados desta edição: Universidade de Santa Cruz do Sul Capa: Rudinei Kopp (Assessoria de Comunicação, 1998) Chlorophyllum molybdites (Foto: George Sobestianski) Editoração: Clarice Agnes, Julio Cezar Souza de Mello Ilustrações: Jair Putzke P993r Putzke, Jair Os reinos dos fungos / Jair Putzke e Marisa Terezinha Lopes Putzke. – 3. ed. - Santa Cruz do Sul : EDUNISC, 2012. 2 v. : il. Inclui bibliografia e índice. ISBN 978-85-7578-351-1 1. Fungos. 2. Cogumelos. 3. Fitopatologia. I. Putzke, Marisa Terezinha Lopes. II. Título. CDD: 579.5 NOTAS DOS AUTORES * No Volume II continua o Capítulo de Fitopatologia com as demais doenças de plantas, e chave para a identificação de gêneros de Fungos Mitospóricos; seguem ainda capítulos sobre Fisiologia e Bioquímica, Importância Médica e Veterinária e Ecologia de Fungos, além de um glossário (Volume à parte). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 4 11/06/2013 11:26:50 A Deus, que nos deu a vocação e uma Pátria com tantos fungos. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 5 11/06/2013 11:26:50 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 6 11/06/2013 11:26:51 À Anna Carolina que nos acompanha nas saídas a campo, desde sua concepção, e desde o surgimento da ideia desta obra. Esperamos que ela compreenda o tempo perdido e o propósito. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 7 11/06/2013 11:26:51 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 8 11/06/2013 11:26:51 SUMÁRIO PREFÁCIO ..............................................................................................11 INTRODUÇÃO .......................................................................................12 1 GENERALIDADES SOBRE FUNGOS ............................................19 2 ORGANIZAÇÃO TAXONÔMICA DOS FUNGOS .........................28 3 CULTIVO DE COGUMELOS COMESTÍVEIS ............................538 4 MICORRIZAS: DEFINIÇÃO, MÉTODOS E TÉCNICAS DE TRABALHO ...................................................................................547 5 PRESERVAÇÃO DE FUNGOS ........................................................552 6 FITOPATOLOGIA ............................................................................557 HISTÓRICO ...........................................................................................557 CICLO DAS RELAÇÕES PATÓGENO-HOSPEDEIRO ......................558 FONTES DE INÓCULO ........................................................................559DISSEMINAÇÃO DO INÓCULO E INOCULAÇÃO .........................559 GERMINAÇÃO .....................................................................................560 PENETRAÇÃO ......................................................................................560 COLONIZAÇÃO ....................................................................................561 REPRODUÇÃO / SINTOMATOLOGIA ...............................................561 CLASSIFICAÇÃO DOS SINTOMAS ...................................................562 SINTOMAS NECRÓTICOS ..................................................................563 SINTOMAS HIPERBLÁSTICOS ..........................................................564 SINTOMAS HIPOBLÁSTICOS .............................................................565 SINAIS .....................................................................................................566 NOMENCLATURA DOS SINTOMAS .................................................566 TOMBAMENTO ....................................................................................568 DOENÇAS VASCULARES - MURCHAS ............................................569 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 9 11/06/2013 11:26:51 FERRUGENS ..........................................................................................572 CARVÕES ...............................................................................................573 PODRIDÃO DOS ÓRGÃOS DE RESERVA ..........................................574 MÍLDIOS .................................................................................................575 MANCHAS FOLIARES .........................................................................576 PODRIDÕES DA RAIZ E DO COLO ....................................................577 OÍDIOS ....................................................................................................578 GALHAS .................................................................................................579 TÉCNICAS PARA ISOLAMENTO DE FUNGOS FITOPATÓGENOS ..................................................................................579 PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR FUNGOS E OUTROS PATÓGENOS EM ALGUMAS CULTURAS ...................584 ABACATEIRO (Persea gratissima) ........................................................585 ANANÁS (Ananas comosus) ..................................................................588 ALFACE (Lactuca sativa) .......................................................................589 ALGODOEIRO (Gossypium spp.) ..........................................................590 LILIACEAE (ALHO E CEBOLA) .........................................................591 AMENDOIM (Arachis hypogaea) ..........................................................593 ARROZ (Oryza sativa) ............................................................................595 BANANEIRA (Musa sp.) ........................................................................597 BATATA (Solanum tuberosum) ................................................................599 CACAUEIRO (Theobroma cacao) ..........................................................602 CAFEEIRO (Coffea arabica) ..................................................................603 CANA-DE-AÇÚCAR (Saccharum spp.) ................................................605 CITROS (Citrus spp.) ..............................................................................609 CRUCIFERAE .........................................................................................610 REFERÊNCIAS .......................................................................................613 BIBLIOGRAFIAS ADICIONAIS ...........................................................654 ÍNDICE GERAL ......................................................................................660 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 10 11/06/2013 11:26:51 PREFÁCIO Os fungos são organismos que convivem conosco todos os dias, nos ajudando ou prejudicando. Mantemos contato através de alergias, por micoses, alimentos que se deterioram, peças de madeira que necessitam substituição, alimentos produzidos com sua participação, enfim, vivemos em um mundo que também é dos fungos. O número total de espécies conhecidas ainda é pequeno frente ao que se acredita ser o número total existente, o que garante um bom trabalho aos taxonomistas. O Brasil, entretanto, tem pouquíssimos micólogos que se dedicam ao estudo taxonômico dos fungos encontrados neste vasto território. Uma das explicações para o fato é que pouca literatura existe sobre o assunto, estando a maioria dispersa por inúmeras revistas científicas, ainda pouco abrangentes. Ao mesmo tempo, ignora-se o grupo por não se conhecer sua importância. São os cursos de graduação que formarão profissionais na área, mas ainda estamos longe de atrair a atenção dos acadêmicos para pesquisas com fungos, especialmente por falta de bibliografia básica em português. Reunindo informações colhidas dos quase 12 anos de dedicação ao estudo desses seres, compilamos a presente obra que reúne tanto a informação básica sobre a taxonomia dos diferentes fungos, como a parte prática de sua importância. Chaves de identificação são propostas para quase todas as famí- lias e para muitos dos gêneros em cada filo, além dos fungos fitopatogênicos, esperando contribuir para a identificação dos fungos encontrados no Brasil e em outros países, visto que a sistemática é a mesma, independente da região em que nos encontremos. Com este livro pretendemos preencher um pouco da grande lacuna que existe quanto a informações dos três reinos que atualmente englobam fungos, além de incentivar a formação de mais profissionais e aficcionados na área. Serviu de inspiração para a presente obra toda a bagagem de conhe- cimento que nos transmitiram os profissionais que conseguimos contatar no Brasil e os de outros países que contribuíram com sugestões e esclarecimentos. A eles o nosso agradecimento. Agradecemos, também, a todos os que contribuírem posteriormente com sugestões para a melhoria do texto que propomos, visto que não quere- mos parar por aqui. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 11 11/06/2013 11:26:51 INTRODUÇÃO A Micologia é a ciência que estuda o grupo de organismos que recebe o nome de fungos. São organismos muito diferentes, se comparados a animais e vegetais, sendo atualmente distribuídos em três reinos: Fungos (= Myceteae), Stramenopila e Protista. São organismos aclorofilados, saprófitas ou parasitas (podem viver saprofítica e/ou parisiticamente ou em simbiose com outros organismos), unicelulares ou pluricelulares, mais tipicamente filamentosos. Paredes celulares definidas, constituídas de quitina e/ou celulose, além de outros carboidratos complexos. Esses organismos são encontrados praticamente em qualquer local do ambiente que nos cerca, inclusive no ar, onde estruturas reprodutivas, na forma de esporos, estão prontas para, ao cair em um substrato adequado, desenvolver novas estruturas vegetativas e reprodutivas. São úteis em função desta tarefa exclusiva deste grupo: decompor resíduos orgânicos (“remover lixo”). Claro que às vezes causam degradação ou decomposição de vários alimentos ou mesmo infectando seres vivos, parasitando-os e eventualmente causando-lhes a morte. A variação morfológica é muito grande (Figura 01), existindo espécies macro e microscópicas (maioria). Acredita-se que o número de espécies já está próximo dos 100.000 (HAWKSWORTH et al. em 1983 citam 64.200), sendo que Kirk et al. (2008) referem 97.861 espécies para o reino Fungi. Há três mil e quinhentos anos atrás, segundo uma das versões da lenda, o heroi grego Perseus, no cumprimento de um oráculo, acidentalmente matou seu avô Acrisius, o qual sucederia no trono de Argos. Então, quando Perseus retornou a Argos, envergonhado pela notoriedade do homicídio, convenceu Megapenthes, filho de Proteus, a trocarde reino com ele, ao que concordou. Assim, quando ele recebeu o reinado de Proteus, fundou Myceneae num local em que, durante a viagem, estando sedento, saciou-se com água obtida de um cogumelo (chamado de “mykes” pelos gregos), que espremeu (ALE- XOPOULOS, 1962). Essa foi uma das mais prósperas civilizações da época, erguida em função de um fungo. Muitos fungos já eram empregados desde a mais longínqua antiguidade, quando o homem descobriu a metodologia e técnica de preparo do pão, do queijo e das bebidas. Na época, ignorando o que provocava a fermentação, fazendo crescer o pão, desenvolvendo o queijo ou fazendo surgir o álcool nas bebidas, o homem conseguiu em pouco tempo controlar os processos, 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 12 11/06/2013 11:26:51 lançando grande número de variantes para cada produto inicial. Tanto que, pelo menos o pão e as bebidas alcoólicas surgiram praticamente em todos os cantos do planeta independentemente. Índios já preparavam bebidas nas Américas quando do descobrimento do continente. Aos poucos, com o avanço das técnicas de microscopia, chega a vi- são de um micólogo amador a fascinante descoberta: minúsculas “bolinhas” estavam presentes sempre que se colocava sob as lentes um substrato em processo fermentativo. Atualmente, sabe-se que grande número de fungos pode ser empregado em fermentações de diversos tipos, mas o mais antigo, Saccharomyces cerevisae, continua sendo o mais empregado, com muitas variedades já desenvolvidas. Durante centenas de anos, várias tribos indígenas aprenderam com a natureza que determinadas espécies de fungos eram comestíveis, e de excelente valor nutritivo. E eram muitas as espécies. Esse conhecimento, infelizmente, foi perdido com o extermínio dos índios nas Américas, especialmente na do sul. Os cogumelos compreendem um grupo de organismos pouco explorado no Brasil, apesar de muito abundantes e representados por grande número de espécies. Putzke (1994) refere a ocorrência de 1.011 espécies no Brasil. Evidentemente, algumas dessas são venenosas, não devendo ser provados por amadores na área, a não ser que tenham boa experiência em identificação de cogumelos e diferenciação entre aqueles venenosos e os comestíveis. Por outro lado, das mais de 14.000 espécies de cogumelos que existem no mundo e conhecidas pela ciência, apenas cerca de 30 são cultivadas. Algumas como Agaricus bisporus e Pleurotus ostreatus já são cultivadas comercialmente no Brasil, oferecendo ao produtor uma excelente fonte de renda. Nossos antepassados, especialmente para os que têm origem europeia, consumiam muito cogumelo em seus países de origem, mas essa tradição não se manteve entre os que aqui se instalaram. Os europeus e asiáticos ainda hoje mantêm cogumelos em suas dietas, especialmente porque a ciência tem descoberto qualidades ignoradas por tanto tempo e que inexistem na maioria dos demais alimentos. Entre as qualidades como alimento dos cogumelos, as seguintes podem ser destacadas: - baixam o nível do colesterol no sangue (especialmente Agaricus bisporus e Lentinus edodes); - têm substâncias anticancerígenas como a lentinina (encontrada em Lentinus edodes e Pleurotus ostreatus) e a substância quinoide (Agaricus bisporus), entre outras; - são fonte de aminoácidos, contendo todos aqueles que são essenciais e alguns não essenciais; - contêm minerais como cálcio, potássio, iodo e fósforo; 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 13 11/06/2013 11:26:51 14 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE - contêm várias vitaminas, entre elas: riboflavina, tiamina, ácido as- córbico, niacina e algumas relacionadas ao complexo B; - nutrem e não engordam: pesquisas indicam que 200g de cogumelos secos são suficientes para alimentar um homem de 70kg, conferindo um balanço nutricional adequado (há necessidade somente da adição de alguns gramas de ferro). Nota-se que, além das qualidades excepcionais como alimento, expostas acima, apresentam ainda aplicações medicinais. Para uma população carente em alimentos com todas essas qualidades, como é a brasileira, os cogumelos representam um ótimo aditivo alimentar e mesmo um ótimo alimento. Os fungos são importantes tanto do ponto de vista ecológico, quanto econômico. Ecologicamente são considerados os lixeiros do mundo, pois de- gradam todo tipo de restos orgânicos, independente da origem, transformando- -os em elementos assimiláveis pelas plantas. A maioria das 100.000 espécies conhecidas é saprófita. Já economicamente, tem implicações em várias áreas: medicina humana e veterinária, farmácia, nutrição, fitopatologia, etc. Durante muito tempo, a humanidade também conviveu com os fungos sob um outro aspecto: o dos malefícios por eles provocados. Por milhões de anos a natureza abrigava espécies que conviviam harmoniosamente, até que o homem descobriu, há cerca de 10 mil anos atrás, que podia cultivar determinados alimentos de origem vegetal em grande quantidade: bastava replicar, sexuada ou assexuadamente, o vegetal, numa área exclusivamente preparada para ele, eliminando os concorrentes. Foi-se quebrando aos poucos a harmonia, selecionaram-se, mesmo que inconscientemente, plantas que pareciam mais produtivas, descuidando-se de um ponto básico: agrupadas nos cultivos, uma espécie de planta qualquer, se vier a ser infestada por um fungo específico, será a fonte de uma “epidemia”, pois há várias plantas susceptíveis em volta, o que não vinha ocorrendo normalmente na natureza. Logo, o homem se deparou com esse problema, quando plantações inteiras foram dizimadas sem que se conhecesse a causa. Povoados, civilizações, países inteiros sofreram com os ataques dos fungos patógenos, que somam atualmente 8.000 espécies, causando cerca de 95% das doenças de plantas e que continuam assolando nossas plantações. A requeima da batata na Europa, que surgiu em 1845, é um dos exemplos mais assustadores do poder dos fungos. As plantações dessa cultura foram completamente destruídas especialmente na Irlanda, onde a falta de alimento causou a morte de centenas de milhares de habitantes e a migração de mais de 1,5 milhão de pessoas para os Estados Unidos. Também no século XIX ocorreu o ataque de Plasmopara viticola em sequência ao do afídio Phylloxera, ambos trazidos dos Estados Unidos e introduzidos na França, quando da importação de mudas de videira daquele 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 14 11/06/2013 11:26:51 15OS REINOS DOS FUNGOS país (EUA). A destruição foi enorme e o prejuízo econômico muito grande para os franceses que dependiam, em sua maioria, dessa cultura (veja descri- ção detalhada junto a Peronosporaceae). A calda bordaleza, acidentalmente descoberta, resolveu o problema com o fungo. Acredita-se que em 1868 tenha surgido no Sudeste Asiático, mais especificamente na Índia ou países vizinhos, o fungo Hemileia vastatrix, o qual dizimou a cultura de café no Sudeste Asiático. Aos poucos o fungo foi atingindo os cafezais por todo o mundo. Em 1870 já era encontrado na costa oeste africana, e em 1910 nas ilhas do continente Australiano. Em 1930 já estava do outro lado da África (Leste), causando declínio da cultura na região. Lacaz et al. (1970) fazem um relato interessante em seu livro, preparado anos antes, dizendo que, pelo que se sabia das áreas afetadas em outros pontos do mundo, era de se esperar uma catástrofe quando da chegada do fungo ao Brasil, um dos grandes produtores de café na época. Um adendo de última hora dos autores relata que o fungo já havia sido registrado naquele ano (1970) no Brasil. O resultado foi catastrófico realmente, causando o declínio da era áurea do café em nosso país. Em 1943 a Mancha Marrom do arroz na Ásia causou falta de alimento, fome e mortes naquele continente. Entre 1950-60 a epidemia do mofo-azul do tabaco (Peronospora tabacina - Peronosporales - Oomycota) causou severas perdas na Europa, e muitos problemas quando da introdução nos Estados Unidos em 1979. A requeima da castanheira acaboucom as árvores americanas entre 1904 - 1940 e a doença do “Dutch elm” desde 1930 vêm dizimando o olmo nos Estados Unidos e Europa. A requeima da folha do milho no sul dos Estados Unidos, em 1970, proporcionou prejuízos da ordem de 1 bilhão de dólares. Esses foram alguns dos exemplos (há muitos outros) mais severos do ataque fúngico a culturas economicamente importantes no passado. Deve-se considerar, também, doenças que estão se alastrando atualmente pelo mundo e que poderão vir a causar enormes prejuízos no futuro. É o caso do míldio do sorgo e do milho e da ferrugem da soja, que se alastram pelo sudeste asiático; da ferrugem da cana-de-açúcar pelas Américas e da podridão causada por Monilia nos cacaueiros da América do Sul. Os dados de produção de 1982 da FAO e de perdas, segundo Cramer (1967), estão expostos na Tabela 01, indicando que o impacto das doenças sobre a produção mundial ainda é enorme, mesmo com anos de tentativa de controle. O total de perdas por pestes (doenças, insetos e ervas daninhas) varia de cultura para cultura, mas em geral está acima dos 20%, chegando a 55% na cana-de- açúcar. Para a batata, frutas, tabaco e borracha natural, a perda por doenças foi maior do que por insetos ou por ervas daninhas. Com base 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 15 11/06/2013 11:26:51 16 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE nos dados, podemos constatar que o mundo teria realmente maior produção de alimentos e de outros subprodutos vegetais se não fosse pelas moléstias. Tabela 01 - Estimativa da produção mundial segundo a FAO (1982) e perdas pré-armazenagem (em milhões de toneladas) e percentagem de perda na produção em virtude de doenças, insetos e ervas daninhas. % de perda em função de Cultivar Cereais Batatas Legumes Frutas Tabaco Borracha Cana A fitopatologia por fungos é discutida em capítulo à parte mais adiante. Ao contrário das espécies fitopatogênicas, que são muitas, as que causam problemas para humanos mal passam de 50. Essas espécies atacam desde pele e anexos, até órgãos internos, podendo causar inclusive a morte do indivíduo acometido. Os fungos também são utilizados como fonte para produção de vitaminas [como a B2 (riboflavina) e a B5 (biotina)], esteroides, cortisona e antibióticos. Nesse último grupo, destaca-se a Penicilina, que foi um dos primeiros e mais revolucionários antibióticos dentro da medicina. A ciclosporina A, encontrada inicialmente em Pachybasidium niveum Rostr. (= Tolypocladium infl atum W. Gams.) e depois em vários outros fungos Hyphomycetes filoconidiais e inclusive em um Ascomycete, é uma substância que finalmente permitiu a realização de transplantes sem o problema de re- jeição. Além disso, esta substância serve no tratamento de artrite reumatoide, síndrome nefrotóxica, psoríase e uveite, sendo que já foram isolados outros 25 análogos da ciclosporina A de T. infl atum (DREYFUSS; GAMS, 1994). Como produtores de toxinas, várias espécies têm causado problemas e inclusive a morte a animais e humanos, tanto pela ingestão de alimentos contaminados como pela ingestão de cogumelos venenosos. Ergotina é um alcaloide tóxico produzido pelo fungo Claviceps, o qual ataca ovários de Gramíneas, formando um esclerócio que toma o lugar do grão (inclusive na forma, apesar de mais alongado e negro); antigamente muitos problemas foram Perdas por do. in. e.d.* 893 121 22 92 3 1 991 Produç. 1.695 255 45 302 6 4 811 Produ- ção Po- tencial 2.588 376 67 394 9 5 1.802 Perda por doenças 238 82 8 50 1 0,6 346 Doenças % 9,2 21,8 11,3 12,6 12,3 15,0 19,2 Insetos % 13,9 6,5 13,2 7,8 10,4 5,0 20,1 Ervas Dani- nhas % 11,4 4,0 8,7 3,0 8,1 5,0 15,7 * do. = doenças, in. = insetos, e.d. = ervas daninhas Total Perdas % 34,5 32,3 27,7 23,4 30,8 25,0 55,0 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 16 11/06/2013 11:26:51 17OS REINOS DOS FUNGOS causados pela ingestão de subprodutos de gramíneas, como a farinha, com altos graus de ergotina, oriundos do beneficiamento do grão com os esclerócios; a ingestão levava a pessoa a ter fortes dores de cabeça, a apresentar necrose nas extremidades do corpo e à demência. Paralelamente descobriu-se ainda que o mesmo fungo é fonte de ergotamina, utilizada com eficiência para acelerar o trabalho de parto de mulheres, por aumentar as contrações e reduzir o fluxo de sangue, o que fez surgir o cultivo de cevada inoculada pelo Claviceps, que dá melhores lucros do que o cultivo do grão apenas. Entre as toxinas fúngicas, as aflatoxinas são as mais importantes, ocorrendo em muitos grãos em armazenamento. Mesmo na ausência do fungo que a produziu (por exemplo: Aspergillus fl avus), ela fica estável na semente, podendo levar à morte ou à ocorrência de câncer nos animais que se alimentarem dela. É comum em milho e amendoim, sendo termoestável (simples fervura ou aquecimento não a eliminam) e podendo passar à ração e ao leite. Leis internacionais regulamentam os níveis de aflatoxina nos produtos. Várias espécies são de grande valor no estudo da genética, sendo que Neurospora foi um dos que mais contribuiu. Algumas espécies de fungos são produtoras de substâncias alucinógenas, como cogumelos dos gêneros Psilocybe e Copelandia, em que os princípios ativos são psilocibina e psilocina. Esses são atualmente utilizados no estudo da mente, além de apreciados por “um grupo seleto de admiradores”. Posteriormente serão relatados aspectos específicos referentes aos fungos de forma mais aprofundada, oferecendo mais subsídios para pesquisas ou mesmo para outros fins como, por exemplo, para iniciar um cultivo expe- rimental de cogumelos comestíveis. Capítulos específicos do volume 1 são: Capítulo 1- GENERALIDADES SOBRE FUNGOS Capítulo 2- ORGANIZAÇÃO TAXONÔMICA DOS FUNGOS Capítulo 3- CULTIVO DE COGUMELOS COMESTÍVEIS Capítulo 4- MICORRIZAS: DEFINIÇÃO, METODOLOGIA E TÉCNICA DE TRABALHO Capítulo 5- PRESERVAÇÃO DE FUNGOS Capítulo 6- FUNGOS FITOPATOGÊNICOS (primeira parte) 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 17 11/06/2013 11:26:51 18 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Escala = 1cm Figura 01 - Representação esquemática de ambiente “tipicamente criptogâ- mico”, dominando fungos os mais diversos (Myxomycetes e Micorrizas não estão em escala), estando representados pelo menos uma espécie de cada grupo importante: a - b=Myxomycota; c= micélio; d - m = Ascomycota; n - p = Liquens; q - s = Zygomycota; t - z = Basidiomycota (Gasteromycetes); 1 - 15 = Basidiomycota (Outros). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 18 11/06/2013 11:26:51 19OS REINOS DOS FUNGOS 1 GENERALIDADES SOBRE FUNGOS Os fungos constituem um grupo de organismos em que não ocorre clorofila (são heterótrofos). São geralmente filamentosos e multicelulares. O crescimento é em geral apical, mas normalmente qualquer fragmento hifálico pode dar origem a outra formação micelial quando destacado e colocado em meio apropriado. As estruturas reprodutivas são diferenciadas das vegetativas, o que constitui a base da sistemática dos fungos. É claro que a variação mor- fológica de cada estrutura é muito grande, diferindo de espécie para espécie, o que dificulta uma compilação. ESTRUTURAS SOMÁTICAS: O talo dos fungos geralmente é formado por um emaranhado de fila- mentos, denominados hifas, as quais variam no diâmetro, espessura da parede, localização do pigmento, etc. Ao conjunto de hifas dá-se o nome de micélio. Dependendo do grupo considerado, as hifas podem apresentar separação entre as células (=septos) ou não (denominados então de cenocíticas). Nas espécies septadas, ocorrem poros centrais que permitem trocas entre os dois compartimentos isolados.Nas espécies cenocíticas o movimento citoplas mático é livre, enquanto que nas plasmodiais ocorrem correntes citoplasmáticas rít- micas (Myxomycetes). Em praticamente todos os grupos de fungos, existem espécies unicelulares (leveduras ou leveduroides) ou formadas por união de poucas dessas células, dando origem ao chamado pseudomicélio. Entre os Ascomycota o exemplo mais típico é Saccharomyces cerevisae entre vários outros Hemiascomycetidae (atualmente Saccharomycetales); em Oomycota tem-se as Olpidiaceae com vários representantes; em Protozoa, no gênero Amoebidium; em Basidiomycota, Ustilaginales em cultura apresentam-se como massas de células leveduriformes. As hifas de fungos parasitas normalmente apresentam estruturas espe- cializadas para fixar-se ao hospedeiro ou penetrar em seus tecidos e células, sendo comuns haustórios (um órgão de absorção originado em hifas de parasitas e que penetra a parede da célula hospedeira e invagina a membrana plasmática), apressórios (órgão achatado, hifálico e de pressão, a partir do qual um plugue de infecção minúsculo é formado e que acaba penetrando no hospedeiro) e hifopódios (pequeno apêndice sobre uma hifa, característico 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 19 11/06/2013 11:26:51 20 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE de Meliolales - Ascomycota - o qual funciona como célula conidiógena e/ou como formadora de haustórios). Durante determinados estágios do ciclo, o micélio pode organizar-se em pseudotecidos (termo geral: plectênquima) mais compactos ou frouxos, denominados de prosênquima (as hifas se organizam mais ou menos paralela e frouxamente umas às outras, ficando sua forma alongada ainda distinta) e pseudoparênquima (com células proximamente dispostas, isodiamétricas, ovais ou poligonais, lembrando o parênquima de células vegetais). Para enfrentar mudanças climáticas abruptas ou mesmo sazonais, muitas espécies desenvolveram estruturas especializadas como clamidosporos (células de parede grossa, formando um esporo de resistência) e esclerócios (conjunto de hifas intimamente ligadas, pseudoparenquimato- sas, formando um corpo de resistência duro, que fica dormente por um bom período e depois germina, sob condições favoráveis). Alguns grupos, como vários Ascomycota, formam um estroma, que consiste de pseudoparenquima, organizado para servir de sustentação e proteção às estruturas reprodutivas formadas em seu interior ou que ficam sobre ele. A célula fúngica apresenta núcleo envolto em membrana, diminuto, difícil de estudar na maioria, com um nucléolo e cromatina, a qual evidencia cromossomos durante as divisões celulares. Nas espécies septadas, cada compartimento pode conter de um a muitos núcleos. Nas espécies cenocíticas, eles estão distribuídos mais ou menos uniformemente. Nos zoosporos e planogametas geralmente ocorrem centríolos. A parede celular consiste de várias lamelas com fibrilas orientadas diferentemente, compostas principalmente de polissacarídeos, mas podendo ocorrer lipídios e proteínas, entre outras substâncias. Na Tabela 02 estão enu- merados alguns dos constituintes da parede de determinados representantes de diferentes classes, demonstrando que existem relações entre essas, sendo quitina o mais comum. Entretanto, vários fatores como a idade do fungo e as condições do meio, onde esse se desenvolve, podem influenciar na com- posição da parede. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 20 11/06/2013 11:26:51 21OS REINOS DOS FUNGOS Tabela 02 - Composição da parede celular em alguns fungos _____________________________________________________________ Fungo Classe Composição principal Dictyostelium Blastocladiella Phytophthora Apodachlya Rhizidiomyces Mucor Amoebidium Neurospora Saccharomyces Polyporus Aspergillus Candida _____________________________________________________________ REPRODUÇÃO: Todos os fungos podem propagar-se por fragmentos do talo, mas a forma usual de reprodução é a formação de esporos. Apesar de muitos reproduzirem-se apenas assexuadamente (não se co- nhece a sua fase sexuada, pelo menos, nos Deuteromycota, também chamados Fungos Mitospóricos - Figura 02, e-k), formando conídios, esporangiosporos ou zoosporos, muitos reproduzem-se por via sexuada, resultando na formação de oosporos, zigosporos, ascosporos e basidiosporos. Em ambos os casos, um grande número de estruturas é formado, dependendo da espécie, sendo a nomenclatura diversa. Tanto as estruturas assexuadas como as sexuadas podem ser formadas isoladamente ou em grupos, neste caso com alto grau de especialização de células, formando os corpos de frutificação. Assim, conídios podem ser formados em conidióforos isolados ou agrupados e constituindo, então, os chamados conidiomas. Estes podem ser dos seguintes tipos: - Conidioma hifal; - Conidioma esporodoquial (vários conidióforos curtos, unidos pelas bases); - Conidioma sinematal (vários conidióforos longos, unidos pelas laterais); - Conidioma acervular [o conidioma tem forma de prato (embebido nos tecidos do hospedeiro) no qual o himênio de células conidiógenas desenvolve- -se no fundo da cavidade, a partir de um estroma pseudoparenquimatoso, que Acrasiomycetes Chytridiomycetes Oomycetes Oomycetes Hyphochytridiomycetes Zygomycetes Protozoa Ascomycetes Ascomycetes Basidiomycetes Deuteromycetes Deuteromycetes Celulose-glicogênio Quitina-β-glucano Celulose-β-glucano Quitina-β-glucano Celulose-quitina Quitina-quitosano Galactosamina-polím. de galactose Quitina-β-glucano Manana-β-glucano-quit. Quitina-β-glucano Quitina-β-glucano Manana-β-glucano 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 21 11/06/2013 11:26:51 22 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE fica por baixo de um integumento de tecido do hospedeiro, o qual rompe-se com o amadurecimento dos conídios]. - Conidioma picnidial (com envoltório próprio, formando picnidios- poros = conídios). Esporos de origem sexuada podem ser formados em ascoma (onde são formados os ascos) ou basidioma (onde formam-se basídios - Figura 02). Ascoma pode ser do tipo cleistotécio (Figura 2a - totalmente fechados, com ascos dispersos no interior da estrutura e em diferentes níveis), peritécio (Figura 2b - com uma abertura para a liberação dos esporos, o ostíolo, e ascos em himênio), apotécio (Figura 2c - em camada himenial totalmente exposta) ou ascostroma (pseudoparênquima amorfo formando um estroma no interior ou sobre o qual os ascos são produzidos). Quanto ao basidioma, vários tipos morfológicos distintos podem ser encontrados. Nos casos em que um mesmo talo fornece os gametas para a fecun- dação, têm-se as espécies denominadas monoicas e homotálicas (exemplo: muitos Oomycota). Se participarem talos diferentes, são denominadas dioicas e heterotálicas (Explo.: Rhizopus stolonifer - Zygomycota). Há casos em que todo o talo transforma-se em estrutura reprodutiva, sendo denominados ho- locárpicos, e outros em que ocorre a formação de uma estrutura diferenciada do talo principal, a qual servirá para a reprodução, ou em que pelo menos uma parte do talo se diferencia para a formação de estruturas de reprodução, sendo este grupo então denominado eucárpico. A reprodução sexuada envolve três processos principais: - plasmogamia: a união de dois protoplastos, ou de duas células, junta os núcleos (procedentes de células do mesmo indivíduo ou de indivíduos diferentes), dentro de uma mesma célula; - cariogamia: é a fusão dos dois ou mais núcleos, reunidos quando ocorreu a plasmogamia (sempre de dois a dois), formando um núcleo-zigoto diploide. - meiose: reduz o número de cromossomos ao haploide, produzindo quatro núcleos, a partir do núcleo originado pela cariogamia. A plasmogamia pode ocorrer através de: - Copulação planogamética: ocorre a fusão ou conjugação de ele- mentos sexuais (gametas) móveis por flagelos; - Contato gametangial: contato entre dois órgãos sexuais; - Copulação gametangial: fusão entre doisórgãos sexuais; - Espermatização: formação de gameta imóvel (espermácio) que deverá contactar uma hifa receptiva para a diploidização. - Somatogamia: fusão de células somáticas (vegetativas) ou hifas, desde que só envolvam plasmogamia, não cariogamia. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 22 11/06/2013 11:26:51 23OS REINOS DOS FUNGOS Se ocorrer apenas um tipo de hifa ou talo no ciclo de vida de um fungo, ou haploide ou diploide, tem-se o chamado ciclo haplobiôntico. Se ocorrer alternância entre um talo haploide e posteriormente um diploide para a mesma espécie, tem-se um ciclo diplobiôntico. Geralmente tem-se hifas denominadas heterocarióticas, isto é, que apresentam núcleos de diferentes tipos, havendo casos em que núcleos ha- ploides e diploides coexistem. Elas são formadas por um dos seguintes meios: - da germinação de um esporo heterocariótico; - introdução de núcleos geneticamente diferentes em uma hifa ho- mocariótica; - mutação de um núcleo, mantida e multiplicada quando da mitose desse; - cariogamia entre alguns núcleos, originando diploides entre haploides e que se multiplicam normalmente. NUTRIÇÃO E CRESCIMENTO: Os fungos obtêm seu alimento de outras fontes (são heterótrofos), como saprófitas, a partir de matéria orgânica morta ou como parasitas, in- fectando organismos vivos, que são então denominados hospedeiros. Esses subdividem-se em: - saprófitas obrigatórios: fungos que vivem exclusivamente em matéria orgânica morta, não podendo parasitar organismos vivos; - parasitas facultativos (ou saprófitas facultativos): fungos capazes de causar doenças ou de viver em restos orgânicos, de acordo com as circunstâncias; - parasitas obrigatórios: que vivem exclusivamente atacando organismo(s) vivo(s). (Figura 03) Vários fungos podem viver em simbiose com outros organismos. Como exemplos têm-se as micorrizas (fungos associados a raízes e rizoides de plan- tas - Figura 01r-s, desenhados esquematicamente no solo) e os líquens (fungo associado a(s) alga(s) ou cianobactérias formando uma unidade morfológica diferente da de seus talos - Figura 01 o,p,n). De acordo com pesquisas acumuladas quanto às necessidades nutri- cionais dos fungos, sabe-se que a maioria requer C, O, H, N, P, K, Mg, S, B, Mn, Cu, Mo, Fe e Zn. Outros elementos, é claro, são requeridos por outras espécies. Algumas espécies, como várias dos gêneros Penicillium e Asper- gillus, são onívoras, podendo sobreviver em qualquer tipo de substrato que contenha matéria orgânica e um pouco de umidade. Muitas espécies não necessitam de luz para o seu desenvolvimento, sendo espécies comestíveis de Agaricus cultivadas em grutas na Europa, desenvolvendo-se normalmente nessas condições. Já algumas espécies de Psilocybe, por exemplo, necessitam de luz para formar pelo menos o basi- 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 23 11/06/2013 11:26:51 24 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE diocarpo. Muitos são fototróficos, liberando inclusive seus esporos na direção da luz, como nas espécies de Pilobolus. A temperatura para o crescimento dos fungos fica entre 0° e 35°C, mas o ótimo para a maioria fica entre 20 e 30°C. Entretanto, muitas espécies como Omphalina antarctica, Lamprospora miniatopsis e Galerina spp. desenvolvem- -se bem no clima Antártico (PUTZKE; PEREIRA, 1995). Esporos de alguns fungos podem resistir a menos 196°C por vários anos, para depois germinar assim que as condições forem adequadas. O pH gira em torno de 6 como ótimo para a maioria das espécies, mas algumas dos gêneros Plasmodiophora e Fusarium, por exemplo, preferem a faixa entre 4,5 - 5, enquanto outras, como as de Verticillium, preferem de 7 - 8. A modificação do pH do solo pode eliminar esses fungos, servindo como uma medida de controle ou erradica- ção. A umidade ideal para a maioria das espécies fica em torno da saturação, sendo que muitas das Agaricales só formam basidiomas em clima úmido. Como sempre, existem exceções, já que há registro de fungos para desertos. Os fungos ocorrem nos mais variados habitats, podendo ser encontrados no solo, água (doce e salgada), ar, gelo dos polos, e todo e qualquer resto de matéria orgânica em decomposição, quando competem com bactérias pelo alimento. Tópicos especiais sobre cada assunto podem ser encontrados nos capítulos subsequentes. CICLOS DE VIDA: Este é um assunto muito amplo para ser discutido em conjunto, num único tópico. Para facilitar a compreensão, foi reunida em uma mesma ilustração (Figura 04) um ciclo resumido de cada grupo, entre os que formam micélio verdadeiro. Interpretando a Figura 04, constata-se que, no alto, tem-se a fase assexuada, que serve para todos os grupos, exceto para Oomycota, que tem sua fase assexuada representada junto ao seu ciclo, no alto à direita, onde são for- mados zoosporos. O ciclo à esquerda (Deuteromycota ou fungos mitospóricos) representa os fungos que pertencem aos Mycelia Sterilia, isto é, não formam estruturas típicas de reprodução, tais como conídios, neste estágio. O ciclo da direita (Deuteromycotina ou fungos mitospóricos) representa o dos fungos que formam estruturas especializadas durante o estágio assexuado. Os ciclos dos demais grupos são melhor discutidos junto a cada grupo, mais adiante. O que deve ficar claro é que no ciclo dos Zygo, são formados zigosporos, no dos Oomycota, zoosporos e oosporos, nos Basídio basídios e basidiosporos, e, nos Ascomycota, ascos e ascosporos em seu interior. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 24 11/06/2013 11:26:51 25OS REINOS DOS FUNGOS Figura 02 - Principais estruturas reprodutivas em fungos e forma como ocor- rem (em frutificação ou não): a - d= Ascomycota; a- cleistotécio; b- peritécio; c- apotécio; d- ascos livres. e-k= Deuteromycota (Fungos Mitospóricos); e- conidióforo isolado com 3 conídios; f- três conidióforos agrupados; g- clamidosporo (estrutura de resistência); h- conidióforos curtos agrupados (esporodóquio); i- conidióforos longos agrupados (sinêmio); j- picnídio; k- acérvulo. l-o= Basidiomycota/Uredinales: l- pícnio (espermogônio); m- aécio; n- uredo; o- télio. p= Diferentes tipos de basídios (Basidiomycota). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 25 11/06/2013 11:26:51 26 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Figura 03 - Exemplos de fungos parasitas: a- Myzocitium megastomum de Willd. (Pythiales - Oomycota) em Micrasterias sp. (Alga); b- Mycopara shawii Bat. & Bez.(Ascomycota), parasita de peritécio de Dimerosporopsis macrospora Bat. & Bez.; c- Ustilago maydis (Basidiomycota - Ustilaginales), causador do carvão do milho; d- Hemileia vastatrix (Basidiomycota - Uredinales) , agente causal da ferrugem do cafeeiro (árvore desfoliada e pústulas nas fo- lhas); e- Exobasidium sp. (Basidiomycota) causador de galhas; f- Cordyceps sp. (Ascomycota) parasita de larva de inseto. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 26 11/06/2013 11:26:52 27OS REINOS DOS FUNGOS Figura 04 - Ciclos de vida resumidos de alguns Filos de fungos que formam micélio (ver texto Ciclos de vida, mais acima). FUNGOS MITOSPÓRICOS FUNGOS MITOSPÓRICOS BASIDIOMYCOTA ZYGOMYCOTA OOMYCOTA ASCOMYCOTA 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 27 11/06/2013 11:26:52 28 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE 2 ORGANIZAÇÃO TAXONÔMICA DOS FUNGOS A aplicação de nomes aos grupos nos quais os fungos podem ser reuni- dos e a ordenação dessas categorias são regidas pelo Código Internacional de Nomenclatura Botânica que, em reuniões periódicas, propõe modificações ou adições às leis que regulamentam o estudo sistemático de fungos. Entre essas pode-se destacar a obrigatoriedade de descrever um fungo recém-descoberto (espécie nova) em latim. Mas para que o nome proposto para o fungo novo seja considerado apropriado ou válido, a descrição deve seguir ainda outras normas, como: - ser publicado em jornais, revistas ou livros botânicos; - aparecer, na publicação, o número de herbário da espécie na qual está baseada a descrição (espécie-tipo) e os dados sobre coletor, datae local de coleta. Assim, para todos os países do mundo, a classificação dos fungos segue uma mesma metodologia, tal como para outros grupos botânicos. Entretanto, existem alguns problemas referentes às categorias hierárquicas acima do nível de gênero em que os fungos são distribuídos segundo suas similaridades, especialmente quanto à aceitação de um sistema universal. Essas categorias são reconhecidas porque, para muitas delas, de Divisão à Subtribo, uma terminação igual deve ser utilizada. A seguir cita-se, por ordem hierárquica, as categorias utilizadas para fungos, com a respectiva terminação (quando existe) em negrito: Domínio................eukarya Reino.................... Sub-reino............... Divisão (Filo).......mycota Subdivisão............mycotina Classe...................mycetes Subclasse.............mycetidae Ordem...................ales Subordem.............ineae Família...................aceae Subfamília.............oideae Tribo......................eae Subtribo................inae Gênero................... 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 28 11/06/2013 11:26:52 29OS REINOS DOS FUNGOS Subgênero.............. Seção..................... Subseção................ Espécie.................. Subespécie........... Variedade.............. Subvariedade........ Forma.................... Forma especial (Formae specialis) Raça Fisiológica..... Indivíduo............... O exemplo que se propõe é o do cogumelo Oudemansiella canarii (Jungh.) Hoehnel, cuja classificação apresenta-se a seguir: Reino....................Fungi Sub-reino...............——- Divisão (Filo).......Basidiomycota Subdivisão............Agaricomycotina Classe...................Agaricomycetes Subclasse..............Agaricomycetidae Ordem...................Agaricales Subordem.............——- Família............Tricholomataceae Subfamília.............——- Tribo......................Marasmieae Subtribo................Oudemansielliinae Gênero...................Oudemansiella Subgênero..............Oudemansiella Seção.....................——- Subseção................——- Espécie..................O. canarii Subespécie........... ——- Variedade.............. ——- No exemplo foi citado o nome da espécie, mais acima e antes da classificação, utilizando dois nomes em itálico, o primeiro iniciando em maiúsculo refere-se ao gênero. Essa é a forma correta de citar-se um nome específico: se não em itálico, pelo menos grifado ou destacado, de alguma forma, do estilo de escrita utilizado no texto. Nota-se, com frequência, o uso de nomes de espécies sem destaque algum, o que é um erro gravíssimo. Após tentando desmembrá-lo em outros gêneros. E esse é só um exemplo do que está ocorrendo com muitos gêneros, famílias, ordens, etc. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 29 11/06/2013 11:26:52 30 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Ao descobrir uma espécie nova, é possível conferir-lhe o nome que se quiser, inclusive o de “um amigo, ou de uma namorada”, de quem o coletou ou, melhor ainda, referindo-se a uma estrutura que foi encontrada no fungo e que tem valor taxonômico. Oudemansiella foi proposto por Spegazzini em homenagem a um grande botânico: C. A. J. A. Oudemans. A terminação para esses casos também é regulamentada pelo Código Internacional de Nomen- clatura Botânica. Antes de descrever um taxon (plural taxa: um grupo taxonômico de qualquer categoria) novo, porém, deve-se verificar a qual gênero pertence a espécie que foi encontrada . Ocorre, às vezes, que as características do fungo novo são tão diferentes, que você precisa descrever um gênero novo ou mesmo uma outra categoria supragenérica também nova (subtribo, tribo, subfamília, família etc.). Junghuhn, em nosso exemplo, utilizou um nome que se imortalizou; mesmo que algum autor trasfira-o algum dia (esta espécie para outro gênero), o nome será mantido. Claro que cada uma das demais categorias também teve um propositor e, em trabalhos taxonômicos profun- dos, esse também é citado. Entretanto, muitos não citam o nome do autor em trabalhos de outro cunho. Neste livro citam-se os autores de gêneros e espécies, em várias ocasiões e sempre que possível, para acostumá-los com esta forma de apresentação. A seguir são enumerados os micólogos mais importantes (já falecidos) pelo volu- me de trabalho desenvolvido com fungos e que você frequentemente encontra junto a nomes científicos. Abaixo a forma correta de como são abreviados (quando o são), inicial do(s) primeiro(os) nome(s), ano de nascimento e morte: - Ach. : E. Acharius, 1757-1819. - Alexo.: C. J. Alexopoulos, 1907-1986 - Arx: J. A. von Arx, 1922-1988. - Atk.: G. F. Atkinson: 1854-1918. - Bat.: A. C. Batista: 1916-1967. - Berk.: M. J. Berkeley: 1803-1889. - Bessey: E. A. Bessey: 1887-1957. - Bisby: G. R. Bisby: 1889-1958. - Boedijn: K. B. Boedijn: 1893-1964. - Boud.: J. L. E. Boudier, 1828-1920. - Bres.: D. G. Bresadola, 1847 - 1929. - Buller: A. H. R. Buller, 1874-1944. - Bull.: J. B. F. P. Bulliard, 1752-1793. - Cif.: R. Ciferri, 1897-1964. - Cooke: M. C. Cooke, 1825-1914. - Corda: A. K. J. Corda, 1809-1849. - de Bary: A. de Bary, 1831-1888. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 30 11/06/2013 11:26:52 31OS REINOS DOS FUNGOS - de Not.: G. de Notaris, 1805-1877. - Dill.: J. J. Dillenius, 1684-1747. - Doidge: E. M. Doidge, 1887-1965. - Donk: M. A. Donk, 1908-1972. - Farlow: W. G. Farlow, 1844-1934. - Fitzp.: H. M. Fitzpatrick, 1866-1949. - Fr.: E. M. Fries, 1794-1878. - Th. Fr.: Th. M. Th. Fries, 1832-1913. - Gäum.: E. A. Gäumann, 1893-1963. - R. Heim: R. J. Heim, 1900-1979. - Henn.: P. C. Hennings: 1841-1908. - Höhnel: F. X. R. von Höhnel,1852-1920. - Jacz.: A. L. A. Jaczewski, 1863-1932. - P. Karsten: 1834-1917. - Kühn: J. G. Kühn, 1825-1910. - Lange: J. E. Lange, 1864-1941. - Lév.: J. H. Léveillé, 1796-1870. - Lister: A. Lister, 1830-1908. - G. Lister: 1860-1949. - C. Lloyd: C. G. Lloyd, 1859-1826. - Maire: R. C. J. E. Maire, 1878-1949. - Martin: G. W. Martin 1886-1971. - Masseé: G. E. Masseé, 1850-1917. - Micheli: P. A. Micheli, 1679-1737. - Mont.: J. P. F. C. Montagne, 1784-1866. - Müll. Arg.: J. Müller Argoviensis, 1828-1896. - Murrill: W. A. Murrill, 1869-1957. - Nees: T. F. L. von Esenbeck Nees, 1787-1837. - Nyl.: W. Nylander, 1822-1899. - Pat.: N. T. Patouillard, 1854-1926. - Peck: C. H. Peck, 1833-1917. - Petch: T. Petch, 1830-1948. - Petrak: F. Petrak, 1886-1973. - Pilát: A. Pilát, 1903-1974. - Quélet: L. Quélet, 1832-1899. - Rabenh.: G. L. Rabenhorst, 1806-1881. - Racib.: M. Raciborski, 1863-1917. - Rea: C. Rea, 1861-1946. - Sacc.: P. A. Saccardo, 1845-1920. - Schwein.: L. D. von Schweinitz, 1780-1830. - Singer: R. Singer, 1906-1994. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 31 11/06/2013 11:26:52 32 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE - A. L. Sm.: A. L. Smith, 1854-1937. - E. F. Sm.: E. F. Smith, 1854-1927. - Speg.: C. L. Spegazzini, 1858-1926. - Sydow: P. Sydow, 1851-1925. - H. Sydow: 1879-1946. - Theiss.: F. Theissen, 1877-1919. - Viégas: A. R. Viégas, 1906-1986. - Woronin: M. S. Woronin, 1838-1903. - Zahlbr.: A. Zahlbrückner, 1860-1938. Existem muitos sistemas de classificação propostos para fungos, e ainda hoje os sistemas sofrem adições e alterações. Pode-se considerar que os sistemas mais apropriados surgiram a partir de 1950 com o trabalho de Bessey, que considerou os fungos como pertencentes a três classes: Phy- comycetes, Ascomycetes e Basidiomycetes, além dos Fungos Imperfeitos. Essa classificação foi muito aceita no Brasil, mas com os avanços nos estudos morfológicos, fisiológicos e de microscopia eletrônica, entre outros, surgiram novas propostas, sempre aceitas por alguns e rejeitadas por outros. Kreisel (1969) reúne os fungos no Reino Protobionta, excluindo porém os Myxomycota, Chytridiomycetes e Oomycetes (este último foi inclu ído nas Algas). No “The Fungi” (1973) aceita-se a seguinte proposta: Reino Mycota, com Divisões Myxomycota e Eumycota [nesta última incluindo as subdivisões Mastigomycotina (com Chytridio-, Hyphochytridio-e Oomycetes], Zygomy- cotina, Ascomycotina, Basidiomycotina e Deuteromycotina). Moore (1970) reúne os fungos no reino Fungi, dividindo-os em Infe- riores e Superiores, uma proposta inovadora que muitos ainda aceitam, mas informalmente. Alexopoulos & Mims (1979) sugerem um Super-Reino Eukaryonta, com Reino Myceteae e divisões Gymnomycota, Mastigomycota e Amastigomycota. A seguir está listada a classificação completa dos fungos de acordo com a proposta de Alexopoulos & Mims (1979): SUPER-REINO EUKARYONTA REINO MYCETEAE DIVISÃO 1: GYMNOMYCOTA SUBDIVISÃO 1: ACRASIOGYMNOMYCOTINA CLASSE 1: ACRASIOMYCETES 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 32 11/06/2013 11:26:52 33OS REINOS DOS FUNGOS SUBDIVISÃO 2: PLASMODIOGYMNOMYCOTINA CLASSE 1: PROTOSTELIOMYCETES CLASSE 2: MYXOMYCETES SUBCLASSE 1: CERATIOMYXOMYCETIDAE SUBCLASSE 2: MYXOGASTROMYCETIDAE SUBCLASSE 3: STEMONITOMYCETIDAE DIVISÃO 2: MASTYGOMYCOTA SUBDIVISÃO 1: HAPLOMASTIGOMYCOTINA CLASSE 1: CHYTRIDIOMYCETES CLASSE 2: HYPHOCHYTRIDIOMYCETES CLASSE 3: PLASMODIOPHOROMYCETES SUBDIVISÃO 2: DIPLOMASTIGOMYCOTINA CLASSE ÚNICA: OOMYCETES DIVISÃO 3: AMASTIGOMYCOTA SUBDIVISÃO 1: ZYGOMYCOTINA CLASSE 1: ZYGOMYCETES CLASSE 2: TRICHOMYCETES SUBDIVISÃO 2: ASCOMYCOTINA CLASSE 1: ASCOMYCETES SUBCLASSE 1: 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 33 11/06/2013 11:26:52 34 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE HEMIASCOMYCETIDAE SUBCLASSE 2: PLECTOMYCETIDAE SUBCLASSE 3: HYMENOASCOMYCETIDAE SUBCLASSE 4: LABOULBENIOMYCETIDAE SUBCLASSE 5: LOCULOASCOMYCETIDAE SUBDIVISÃO 3: BASIDIOMYCOTINA CLASSE ÚNICA: BASIDIOMYCETES SUBCLASSE 1: HOLOBASIDIOMYCETIDAE SUBCLASSE 2: PHRAGMOBASIDIO- MYCETIDAE SUBCLASSE 3: TELIOMYCETIDAE SUBDIVISÃO 4: DEUTEROMYCOTINA CLASSE-FORMA 1: DEUTEROMYCETES SUBCLASSE-FORMA 1: BLASTOMYCETIDAE SUBCLASSE-FORMA 2: COELOMOMYCETIDAE SUBCLASSE-FORMA 3: HYPHOMYCETIDAE Von Arx (1981) refere os fungos em reino próprio, com as Divisões Myxomycota, Oomycota, Chytridiomycota, e Eumycota. Hawksworth et al. (1983) propõem um dos melhores sistemas pela praticidade, apresentando a seguinte organização: REINO FUNGI Divisão Myxomycota Classes Protosteliomycetes Ceratiomyxomycetes 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 34 11/06/2013 11:26:52 35OS REINOS DOS FUNGOS Dictyosteliomycetes Acrasiomycetes Myxomycetes Plasmodiophoromycetes Labyrinthulomycetes Divisão Eumycota Subdivisões: Mastigomycotina Classes: Chytridiomycetes Hyphochytridiomycetes Oomycetes Zygomycotina Classes: Zygomycetes Trichomycetes Ascomycotina (não reconhecem classes) Basidiomycotina Classes: Hymenomycetes Gasteromycetes Urediniomycetes Ustilaginomycetes Deuteromycotina Classes Coelomycetes Hyphomycetes No trabalho de Hawksworth et al. (1995), foram apresentados os re- sultados das pesquisas realizadas até então e, compilando os dados, os autores aceitam a classificação dos fungos em pelo menos três reinos como segue: REINO CHROMISTA FILO HYPHOCHYTRIDIOMYCOTA FILO LABYRINTHULOMYCOTA FILO OOMYCOTA 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 35 11/06/2013 11:26:52 36 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE REINO PROTOZOA FILO ACRASIOMYCOTA FILO DICTYOSTELIOMYCOTA FILO MYXOMYCOTA FILO PLASMODIOPHOROMYCOTA REINO FUNGI FILO CHYTRIDIOMYCOTA FILO ZYGOMYCOTA FILO ASCOMYCOTA FILO BASIDIOMYCOTA FUNGOS MITOSPÓRICOS Já Alexopoulos et al. (1996) aceitam a seguinte proposta: REINO STRAMENOPILA FILO OOMYCOTA FILO HYPHOCHYTRIDIOMYCOTA FILO LABYRINTHULOMYCOTA REINO PROTISTAS FILO DICTYOSTELIOMYCOTA FILO ACRASIOMYCOTA FILO MYXOMYCOTA FILO PLASMODIOPHOROMYCOTA REINO FUNGI FILO CHYTRIDIOMYCOTA FILO ZYGOMYCOTA FILO ASCOMYCOTA FILO BASIDIOMYCOTA As duas últimas classificações discutidas acima acabaram separando o grande grupo dos fungos entre pelo menos três reinos. Com certeza essas classificações também não serão estáveis por muito tempo, visto que em um ano já ocorreram muitas modificações. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 36 11/06/2013 11:26:52 37OS REINOS DOS FUNGOS SISTEMÁTICA DOS FUNGOS Nas páginas que se seguem discute-se a taxonomia dos fungos, onde são expostas informações até o nível genérico, quando possível, oferecendo chaves que permitirão a identificação de um material coletado e/ou a descrição básica de alguns taxa. Mas o que vem a ser uma chave? Como o próprio nome diz, e como discute-se mais tarde, no capítulo específico sobre fitopatologia, a chave dicotômica permite a abertura de “portas” que o levarão à melhor saída. Como isso é feito? Simples! Tem-se à disposição, sempre, duas opções, das quais deve-se escolher uma, isto é, a que melhor descreve o material encontrado. Veja um exemplo, utilizando a primeira chave que segue, para filos e classes de fungos: inicialmente compara-se o que está escrito em 1.1 e em 1.2; se o fungo formar plasmódio, deve-se aceitar a proposta 1.1 e seguir diretamente (como mandam os pontinhos) ao item 2; chegando até ele, compara-se agora o 2.1 com o 2.2; imagine-se que o fungo tenha um plasmódio verdadeiro; logo, como mandam os pontinhos após o item 2.2 (onde ocorre plasmódio verdadeiro), deve-se seguir ao item 3; compara-se o 3.1 e o 3.2 agora; deve- -se seguir pelo 3.2, que leva ao 5; compara-se o 5.1 e o 5.2; se o plasmódio do fungo é ou foi de vida livre, já se tem o nome do filo, isto é, Myxomycota. Agora é só seguir até ela no texto e identificar as demais categorias (Classe, Ordem, Família, etc.). É relativamente fácil. Basta comparar sempre os dois itens com cuidado, procurando observar minuciosamente a coleta para não errar. Essa primeira chave é a mais complicada, uma vez que oferece, como principal característica, eventos da reprodução sexuada e tipo de esporo formado. Para um amador fica difícil identificar um fungo com base nesses dados, pois a falta de experiência dificulta uma interpretação mais direta do que se tem em mãos. Só a experiência ajudará a seguir direto para a ordem ou família, eliminando a penosa caminhada pelos estágios hierárquicos mais superiores. A prática é fundamental para agilizar uma identificação. Para isto deixa-se à disposição o conjunto de chaves que segue, mas dados de outras bibliografias também deverão ser utilizados para a identificação até o nível específico. CHAVE PARA FILOS DE FUNGOS EM GERAL: 1.1 Fase somática constituída inteiramente por amebas simples (Figura 5 A-a) ou por fase ameboide intercalando uma plasmodial, ou com fase plasmodial predominante (Figura 07 a) ...........................................................................2 1.2 Fase somática unicelular ou pluricelular e filamentosa, formando hifas longas, septadas ou não (Figura 04-centro) ......................................................6 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 37 11/06/2013 11:26:52 38 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE 2.1 Amebas vagando sobre uma rede de filamentos gelatinosos (Figura 12 i) ...... .................................................Filo LABYRINTHULOMYCOTA (Chromista) 2.2 Amebas agregando-se para formar um pseudoplasmódio, ou plasmódio ver- dadeiro presente (Figura 05; 07).................................................................... 3 3.1 Amebas agregando-se em um pseudoplasmódio ......................................43.2 Plasmódio verdadeiro formado................................................................5 4.1 Amebas do tipo Limax (Figura 05 A-a), com um único pseudópode grande, com endoplasma granular e ectoplasma não granular; pseudoplasmódio forma diretamente o sorocarpo, sem período migratório ............................................. .................................................Filo ACRASIOMYCOTA (=Filo Percolozoa) 4.2 Amebas deslocando-se através de vários pseudópodos filosos; pseudo- -plasmódio com período migratório (Figura 05B)........................................... ............................Filo DICTYOSTELIOMYCOTA (= Classe Dictyostelida) 5.1 Fase somática formada por um plasmódio de vida livre (Figura 06; 07) ... ...............................................Filo MYXOMYCOTA (= Classe Myxogastrea) 5.2 Fase somática formada por um plasmódio parasita (Figura 21)............. ...... ...................................Filo PLASMODIOPHOROMYCOTA (= Filo Cercozoa) 6.1 Células flageladas (= zoosporos) caracteristicamente formadas (Figura 10) .......................................................................................................................7 6.2 Células flageladas não formadas.................................................................10 7.1 Zoosporos uniflagelados (Figura 10 a-c) .....................................................8 7.2 Zoosporos biflagelados (Figura 10 d - f) .................................................... 9 8.1 Flagelo posterior, do tipo chicote (Figura 10 a) ...................................... ..... ..............................................................................Filo CHYTRIDIOMYCOTA 8.2 Flagelo anterior, do tipo franjado (Figura 10 c).......................................... . ............................................................Filo HYPHOCHYTRIDIOMYCOTA 9.1 Flagelos de tamanho desigual, ambos do tipo chicote; parasitas de angios- permas, especialmente Crucíferas (Figura 21) ......................................... ......... ...................................Filo PLASMODIOPHOROMYCOTA (= Filo Cercozda) 9.2 Flagelos de tamanho aproximadamente igual, um do tipo chicote e outro franjado (Figura 10 e) ........................................................Filo OOMYCOTA 10.1 Hifas sem septos ou, se septos presentes, então reprodução sexuada formando esporos de resistência (Figura 04 b) .............. Filo ZYGOMYCOTA 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 38 11/06/2013 11:26:52 39OS REINOS DOS FUNGOS 10.2 Hifas caracteristicamente septadas; reprodução sexuada não formando esporos de resistência (Figura 04 a) ..................................................................11 11.1 Reprodução sexuada desconhecida .......................................................... .. ...................................................DEUTEROMYCOTA (Fungos Mitospóricos) 11.2 Reprodução sexuada presente, formando ascos (Figura 02 a - d) ou ba- sídios (Figura 02 p) visíveis ao microscópio ..............................................12 12.1 Formando basídios (Figura 02 p) .........................Filo BASIDIOMYCOTA 12.2 Formando ascos (Figura 02 a - d) ..............................Filo ASCOMYCOTA Para facilitar a identificação de alguns grupos desses fungos, geralmente comuns em ambientes naturais, utilize a chave abaixo: CHAVE PARA AS DIVISÕES E OUTROS GRUPOS MAIS COMUNS DE FUNGOS (BASEADO EM CARACTERES MAIS COMUNS): 1.1 Micélio verdadeiro ausente e estruturas de reprodução sem células dife- renciadas constituindo a parede; apenas os esporos são individualizados .. ..... .............................. .......................................................................Myxomycota 1.2 Formam hifas ou células bem individualizadas nas frutificações .............2 2.1 Hifas do fungo apresentam-se cenocíticas, isto é, sem septos sob o micros- cópio ........................................................................................... Oomycota Zygo-, Chytridio-, Hyphochytridio- e Plasmodiophoromycota) 2.2 Hifas com septos bem evidentes quando observadas ao microscópio.....3 3.1 Frutificações com forma de prato ou taça; em cortes transversais destas, observa-se esporos formados no interior de estruturas fechadas com forma de clava ou cilíndricas (raro arredondadas).........................................Ascomycota 3.2 Frutificações com forma de cogumelo, orelha, leque, coral, etc.; em corte transversal observa-se que os esporos formam-se aderidos a espinhos externos (esterigmas) e estruturas com forma de clava ou cilíndricas ..........................4 4.1 Frutificações do tipo cogumelo, gelatinosas ou carnosas; formando lamelas na parte inferior do chapéu .....................Basidiomycota (Agaricales) 4.2 Frutificações, se do tipo cogumelo e com lamelas, apresentam-se duras, rígi- das, coriáceas....................................................................................................5 5.1 Frutificações com forma de clava, coral, cogumelo coriáceo ou orelha-de- pau, geralmente com zonações concêntricas.............................................. ..... ...................................................................Basidiomycota (Aphyllophorales) 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 39 11/06/2013 11:26:52 40 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE 5.2 Frutificações no início fechadas, com forma de bola, ovo ou elipse, regular ou irregular, que se abrem de diversas formas para liberar os esporos direta- mente na forma de pó, ou estruturas internas discoides contendo os esporos, ou ainda colunas com esporos em uma gelatina colorida que fede muito ....... ...............................................................................................Gasteromycetes Em função de progressos em diversas áreas do conhecimento, es- pecialmente em ultraestrutura celular na década de 90, teve-se progressos significativos nos estudos sistemáticos de grupos hierárquicos superiores a família. A proposta que aceitamos neste livro segue a de Kirk et al. (2008), que reúne os fungos nos seguintes reinos: - REINO PROTOZOA - REINO CHROMISTA - REINO FUNGI Os fungos incluídos nos reinos Stramenopila (=Straminipila) corres- pondem ao reino Chromista, e os do reino Protista aos de Protozoa, se forem confrontadas as classificações de Alexopoulos et al. (1996) e Hawksworth et al. (1995), respectivamente. Na Tabela 03 estão reunidas as características que permitem a diferenciação destes três reinos. Tabela 03 - Características que permitem a diferenciação dos três reinos que contêm representantes do grande grupo dos fungos (montada a partir de vários trabalhos). CARACTER PROTOZOA OU PROTISTA STRAMENOPILA OU CHROMISTA FUNGI OU MYCETES Parede celular Fase trófica sem Nas outras é variada Celulose frequente. Quitina e β-glucano ausentes Quitina e β-glucano Nutrição Heterotrófica (fun- gos - fagotrófica) Autotrófica (outros grupos) Autotrófica (absorp- tiva em fungos; fotossintetizante em outros) Heterotrófica (absorptiva ou osmotrófica Cristas mitocondriais Tubulares Tubulares Laminares Mastigonemas fl agelares Não tubulares Tubulares Ausentes Talo Fase ameboide e/ou plasmodial Fase ameboide rara; uni a pluricelulares filamentosos Sem fase ameboide; uni a pluricelulares filamentosos 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 40 11/06/2013 11:26:52 41OS REINOS DOS FUNGOS FUNGOS DO REINO PROTOZOA A análise molecular tem demonstrado que o reino é excepcionalmente heterógeno, sendo aceito por vários autores os reinos Protozoa e Chromista como mais adequados para esses fungos. Na concepção de Alexopoulos et al. (1996), Chromista seria equivalente ao reino Stramenopila, o que reduz a abrangência do reino Protista, viabilizando a aceitação do mesmo. São predominantemente unicelulares, ameboides ou não, plasmodiais ou coloniais, fagotróficos; não apresentam parede celular na fase trófica; pelos ciliares nunca rígidos ou tubulares. São distribuídosem pelo menos 4 filos, além dos outros grupos (não tipicamente fungos), agrupados neste reino. Em virtude de apresentarem uma série de características que podem ser encontradas nos reinos vegetal e animal, os fungos plasmodiais têm ainda uma posição sistemática duvidosa. A própria organização em grupos infraordem ainda é motivo de muita controvérsia. Logo abaixo, apresenta-se uma listagem de alguns autores que trabalharam a organização destes seres nos grandes grupos e de como trataram os plasmodiais. de BARY (1859; 1887) Mycetozoa Acrasiae Mycetozoa ? (Labyrinthula e Plasmodiophora) Não pertencentes ao reino Vegetal HAECKEL (1868) Reino Protista Myxomycetes Labyrinthulomycetes Protozoários Fungos em geral LANKESTER (1885) Filo Protozoa Gymnomixa Classe Proteomyxa COPELAND (1956) Propõe sistema de quatro reinos. No Reino Protoctista Filo Protoplasta Myxomycetes e 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 41 11/06/2013 11:26:52 42 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Plasmodiophoromycetes Acrasiomycetes e Labyrinthulomycetes + Protozoários WHITTAKER (1969) Propõe 5 Reinos: 1-Monera (Bactérias e algas cianofíceas) 2-Protista (Hyphochytridiomycota, Plasmodiophoromycota, protozoários e algas simples) 3- Plantae (plantas multicelulares) 4- Animalia (animais multicelulares) 5- Fungi (incluindo Myxomycetes) Sub-reino Gymnomycota Filo Myxomycota Filo Acrasiomycota Filo Labyrinthulomycota Sub-reino Dimastigomycota Filo Oomycota Sub-reino Eumycota Ramo Opistomastigomycota Filo Chytridiomycota Ramo Amastigomycota Filos Zygomycota, Ascomycota Basidiomycota ALEXOPOULOS (1969) Classe Myxomycetes (com 6 ordens) entre os fungos. OLIVE (1967) Propôs a transferência de Gymnomycota para Protista. OLIVE (1970) Filo Protozoa Subfilo Sarcomastigophora Superclasse Sarcodina Classe Mycetozoa Subclasse Protostelia Subclasse Dictyostelia Subclasse Acrasia 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 42 11/06/2013 11:26:52 Subclasse Myxogastria AINSWORTH (1972) Fungi divididos: Myxomycota Eumycota OLIVE (1975) Reino Fungi com filos: Plantonemomycota e Eumycota Reino Protista Filo Euprotista (com a maioria dos protozoários e algas simples) Filo Gymnomyxa Subfilo Mycetozoa Classe Eumycetozoa Subclasse Protostelia Subclasse Dictyostelia Subclasse Myxogastria Classe Acrasea Subfilo Plasmodiophorina Classe Plasmodiophorea Subfilo Labyrinthulina Classe Labyrinthulea Os Protozoa têm sido diferenciados em pelo menos 18 filos, mas destes o Filo Mycetozoa é o mais estudado pelos micólogos. Reunindo todas as classificações para Protozoa, Kirk et al. (2008) referem a este filo 3 classes, já nominadas pelas regras de classificação zoológica, assim hierarquizados: FILO PERCOLOZOA CLASSE HETEROLOBOSEA - ORDEM ACRASIDA (ACRASIALES) FAMÍLIA ACRASIACEAE FAMÍLIA COPROMYXACEAE FAMÍLIA FONTICULACEAE FAMÍLIA GUTTULINACEAE FILO MYCETOZOA CLASSE DICTYOSTELEA - ORDEM DICTYOSTELIDA (= DICTYOSTELIALES) FAMÍLIA ACYTOSTELIACEAE FAMÍLIA DICTYOSTELIACEAE CLASSE MYXOGASTREA – ORDEM ECHINOSTELIDA 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 43 11/06/2013 11:26:52 (= ECHINOSTELIALES) FAMÍLIA CLASTODERMATACEAE FAMÍLIA ECHINOSTELIACEAE ORDEM LICEIDA (= LICEALES) FAMÍLIA CRIBRARIACEAE FAMÍLIA DICTYAETHALIACEAE FAMÍLIA LICEACEAE FAMÍLIA LISTERELLACEAE FAMÍLIA TUBIFERACEAE ORDEM PHYSARIDA (= PHYSARALES) FAMÍLIA DIDYMIACEAE FAMÍLIA ELAEOMYXACEAE FAMÍLIA PHYSARACEAE ORDEM STEMONITIDA (= STEMONITALES) FAMÍLIA STEMONITIDACEAE ORDEM TRICHIIDA FAMÍLIA TRICHIACEAE FAMÍLIA DIANEMACEAE CLASSE PROTOSTELEA - ORDEM PROTOSTELIDA (= PROTOSTELIALES) FAMÍLIA CAVOSTELIACEAE FAMÍLIA CERATIOMYXACEAE FAMÍLIA ECHINOSTELIOPSIDACEAE FAMÍLIA PROTOSTELIACEAE FILO CERCOZOA CLASSE PHYTOMYXEA - ORDEM PLASMODIOPHORIDA FAMÍLIA ENDEMOSARCACEAE FAMÍLIA PLASMODIOPHORACEAE CHAVE PARA AS CLASSES DO REINO PROTOZOA: 1.1 Amebas vagando sobre uma rede de filamentos gelatinosos................. ...............................LABYRINTHULOMYCOTA (=REINO CHROMISTA) 2.2 Amebas agregando-se para formar um pseudoplasmódio, ou plasmódio ver- dadeiro presente ............................................................................................ 3 3.1 Amebas agregando-se em um pseudoplasmódio .......................................4 3.2 Plasmódio verdadeiro formado, mas com diferentes graus de desenvol- 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 44 11/06/2013 11:26:52 45OS REINOS DOS FUNGOS vimento..........................................................................................................5 4.1 Mixamebas com pseudópode loboso, agregando-se sem formação de uma corrente em um pseudoplasmódio, o qual não tem período de migração, for- man do imediatamente um sorocarpo; núcleo com um único nucléolo central .......................................................................CLASSE HETEROLOBOSAE 4.2 Mixamebas com pseudópode filoso, agregando-se, com formação de correntes contínuas e convergentes, para formar um pseudoplasmódio que migra por um tempo antes de formar sorocarpos; núcleos com dois ou mais nucléolos periféricos .........................................CLASSE DICTYOSTELEA 5.1 Fungo parasita, com fase fagotrófica intracelular ........................................ .............................................................................CLASSE PHYTOMYXEA 5.2 Fungo saprófita, com fase fagotrófica extracelular ................................. ...........................CLASSE MYXOGASTREA E CLASSE PROTOSTELEA REINO PROTOZOA FILO PERCOLOZOA (= FILO ACRASIOMYCOTA) Compreende os fungos acrasídeos com fase trófica ameboide, formando pseudópodes lobosos; a agregação ocorre sem formação de correntes; núcleos apresentam um nucléolo compacto e central; células flageladas ausentes e reprodução sexual ainda desconhecida. Ocorrem em solo, restos vegetais e esterco. Para mais detalhes ver descrição da ordem. Compreendem uma única classe (Heterolobosae) com uma ordem (Acrasida) cuja posição sistemática tem sido motivo de muitas controvérsias. ORDEM ACRASIDA (ACRASIALES) São organismos muito simples, raramente vistos na natureza, apesar de comuns, especialmente porque não procurados. São muito delicados, formando um pseudoplasmódio por associação de amebas (mixamebas) nuas, haploides, uninucleadas e frutificações muito efêmeras, denominadas sorocarpos (Figura 08). Apesar da junção das amebas e posterior formação do pseudoplasmódio, cada ameba mantém sua individuali- dade, contribuindo no conjunto, em comunidade, para a formação dos esporos. As amebas deste grupo apresentam algumas particularidades únicas entre os organismos considerados fungos. Apresentam forma cilíndrica e 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 45 11/06/2013 11:26:52 46 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE exibem uma nutrição fagotrófica, sendo consideradas como tipo Limax. Este tipo de ameba exibe um único pseudópode grande e loboso, com uma separação distinta de um endoplasmagranular e um ectoplasma não granular. A locomoção ocorre por um movimento explosivo para diante. Em função deste movimento lembrar o de lesmas do gênero Limax, recebeu este nome. Na parte posterior da ameba tem-se um vacúolo contráctil, podendo ocorrer a formação de pequenos pseudopódios foliosos. Esta região é denominada de uroide. Em Acrasis rosea as mitocôndrias contêm cristas na forma de lâminas envoltas por retículo endoplasmático rugoso e uma organela exclusiva denominada corpo-p, cuja função é desconhecida, parecendo corresponder, entretanto, a um grânulo de pigmento (a espécie é rosada). Apesar de conhecidos desde meados do século XIX, somente no primeiro terço do século XX esse filo recebeu maiores atenções, especialmente porque são fáceis de isolar. Utiliza-se meio de cultura sólido com glucose-peptona-agar geralmente, onde se inocula pequenas partículas de solo, preferencialmente proveniente de áreas de utilização agrícola ou matas. A dificuldade maior reside no fato de os Acrasiales alimentarem-se exclusivamente de bactérias, células de levedura e esporos, sendo necessário adicionar-se os mesmos ao meio, utilizando-se principalmente colônias de Aerobacter aerogens ou Escherichia coli. CICLO DE VIDA: As amebas são de vida livre (Figura 05 A-a), alimentando-se de bac- térias, células de levedura e esporos, reproduzindo-se por divisões mitóticas até formarem grandes populações; Acrasis rosea pode apresentar estágio flagelado (dois flagelos do tipo chicote) e microcistos (Figura 05 A-b), que também são observados em outras espécies. As amebas agregam-se de maneira isolada ou em pequenos grupos (não formam corrente contínua como nos Dyctiosteliomycota) para formar o sorocarpo (Figura 05 A-c,d). Forma-se um pseudoplasmódio e este forma sorocarpos diretamente, sem período de migra- ção. O pedicelo levanta uma estrutura apical alargada, que formará esporos com hilo. As células do pedicelo não têm celulose em suas paredes, podendo também germinar posteriormente para formar novas amebas. A germinação do esporo produz diretamente uma ameba (Figura 05 A - f). Blanton (1990) separa o filo em 3 famílias: Acrasidae, Copromyxidae e Guttulinopsidae (terminação segue o Código de nomenclatura zoológica). Uma quarta família, Fonticulidae, apresenta algumas afinidades e poderá ser mantida neste filo. Hawksworth et al. (1995) aceitam as famílias. Dados de ultraestrutura e moleculares não permitem, em alguns casos, a inclusão do Filo Acrasiomycota entre os Mycetozoa (Amoebozoa) como proposto por alguns autores. O grupo foi incluído portanto, no infrarreino 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 46 11/06/2013 11:26:53 47OS REINOS DOS FUNGOS Excavata. Para alguns autores este grupo ainda é mantido entre os Protista” em especial Bisby et al. (2007). Patterson (1999) e Simpson & Patterson (2001) descrevem um sulco alimentar, uma escavação que vários gêneros possuem. Este sulco percorre longitudinalmente as células destes organismos e está associado com um flagelo, que gera correntes concentrando partículas suspensas e movendo-as para o cistossoma. Simpson (2003) reconhece 7 grupos com este sulco: os Jakobids, Malawimonas, Trimastix, Carpediemonas, Retortomonads, Diplomonads e os Heterolobosideos (amoeboflagelados). Muitos dos excavados apresentam mitocôndrias mas outros não, indicando serem mais primitivos. Simpson (2003) e Cavalier-Smith (2003) reconhecem pelo manos 10 grupos para o Excavata. São duas as características morfológicas que foram utilizadas para agrupar todos os tipos de flagelados heterótrofos sob o nome de excavados: a presença de um sulco ventral longitudinal alimentício e uma determinada organização do aparato proximal. Mais tarde outros tipos foram incluídos. Através de análises moleculares verificou-se que os grupos não eram completamente monofiléticos. Alguns excavados “típicos” (Malawimonas) não apareciam agrupados com os demais, enquanto que protistas não excavados como Euglenozoa (Euglena, Trypanosoma) e Parabasalia (Trichomonas) eram agrupados a estes. Resultado: nova reorganização do grupo. Rodríguez-Ezpeleta et al. (2007) descreveram uma sinapomorfia para o grupo: uma curta inserção de aminoácidos em uma das proteínas (RpI24A) da subunidade ribossômica grande, que parece encontrada somente entre os excavados. Surge nova reorganização do grupo. Estrutura fi logenética: 1. Grupo JEH (RpI24A) Jakobida: Jakoba, Histiona, Reclinomonas, Seculamonas, etc. Heterolobosa: Naegleria, Vahlkampfi a, Acrasis, etc. Euglenozoa: Euglena, Bodo, Trypanosoma, Leishmania, etc. 2. Malawimonas 3. Preaxostyla Oxymonada: Oxymonas, etc. Trimastix 4. Fornicata Diplomonada: Giardia, Spironucleus, etc. Retortamonada: Retortamonas, etc. Carpediomonas 5. Parabasalia: Trichomonas, Joenia, Spironympha, Trichonympha, etc. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 47 11/06/2013 11:26:53 48 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Baldauf (2003) reorganiza mais ainda o grupo, mantendo os Acrasidae em um reino à parte: os Discicristatae. Holt (2008) reconhece o Filo Heterolobosae no reino Discicristatae, incluindo nele a ordem Acrasiales. FAMÍLIA ACRASIACEAE Formam amebas uninucleadas com pseudópodes lobosos que podem agregar para formar um esporocarpo multicelular. As mixamebas de Acrasis rosea claramente diferem das de Dictyostelium na estrutura da mitocôndrica, na presença de estruturas lameladas no nucléolo e na ausência de vacúolos no présporo. Também diferem no tamanho e na velocidade do deslocamento. O esporocarpo lembra uma árvore ou um coral, pois tem coloração rosada, formando esporos ou cistos em cadeias, que germinam individualmente e em tempos diferentes para formar as mixamebas. Foram originalmente isolados de uma associação com a levedura rósea Rhodotorula mucilaginosa e de uma espécie de Flavobacterium, das quais se alimentavam. Os esporos de Acrasis granulata são minusculamente punctulados. Compreende o gênero Acrasis Tiegh. (Figura 08 b) com duas espécies conhecidas: Acrasis rosea e A. gutulata. FAMÍLIA COPROMYXACEAE Esporocarpos com 1 – 2 mm de altura, com formato de árvore, branco-amarelado; esporos de 14 x 9 micrômetros, elipsoides a faseoliformes, hialinos, lisos, germinando para formar uma ameba do tipo Lymax; crescem em esterco. Compreende o gênero Copromyxa Zopf (uma espécie europeia e da América do Norte) e talvez Copromyxella (4 espécies da Costa Rica e EUA). FAMÍLIA FONTICULACEAE As mixamebas são pequenas e versiformes, tipicamente estendem pseudopódios filosos e contêm um núcleo vesicular e nucléolo periférico indistinto; mixamebas não formam correntes, mas agregam-se para formar um esporocarpo com formato de vulcão com até 1 mm de altura; a camada de cobertura rompe-se no ápice e expõe uma massa mucosa globosa que parecia estar presa dentro do pedicelo sob pressão e onde formam-se então os esporos; o pedicelo permanece vazio e hialino; numerosos dictiossomos formados nas células esporogênicas estão envolvidos no acúmulo e depósito de material do pedicelo; mixamebas que não se agregam podem formar esporocistos individualizados. Compreende uma espécie: Fonticula alba encontrada nos EUA. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 48 11/06/2013 11:26:53 49OS REINOS DOS FUNGOS FAMÍLIA GUTTULINACEAE Mixamebas com psudópodes lobosos, formando às vezes um pseudoplasmódio pouco desenvolvido; esporocarpo formado por um pedicelo, constituído por células com formato de cunha pouco diferenciadas (Guttulina) ou levemente alongadas (Guttulimnopsis), que eleva uma massa globoide ou elipsoide onde são formados os esporos; esporos arredondados ou angulosos com paredes verdadeiras; Compreende os gêneros Guttulina Cienk. (Figura 08a – duas espécies de ampla dispersão) e Guttulinopsis Olive (Figura 08 d – duas espécies na América do Norte). REINO PROTOZOA FILO MYCETOZOA Corpo plasmodial, acelulares ou de vida livre e unicelulares, não flagelados e em estágios fagotróficosunicelulares a multicelulares; esporocarpos uni a multicelulares, formando um a muitos esporos que germinam formando células uni ou biflageladas. O filo compreende 3 classes (Dictiostelea, Myxogastrea e Protostelea) CLASSE DICTYOSTELEA (antiga Classe Dictyosteliomycetes) A estrutura somática inicial destes fungos é uma ameba (mixameba) que se desloca pela formação de pseudópodes filosos (às vezes com alguns lobosos), podendo agregar-se através de formação de correntes convergen- tes e formar um pseudoplasmódio. Ao contrário dos Acrasiomycota, este pseudoplasmódio pode migrar por um período de tempo antes de formar o esporocarpo. Esporocarpos geralmente apresentam por volta de um mm de altura, mas Polysphondylium podem atingir até um centímetro ou pouco mais; são pedicelados e os pedicelos podem ser simples ou ramificados, formados por células vacuoladas compactadas em tubos celulósicos; esporos negros e de parede grossa. Células flageladas ausentes. Algumas espécies apresentam reprodução sexuada, que ocorre pela formação de macrocistos. O núcleo da mixameba tem dois ou mais nucléolos periféricos (Acrasiomycota tem um único e central) e uma carioteca que persiste durante quase todo o processo mitótico, ocorrendo formação de fuso extranuclear. Após formação do soro- carpo pelo pseudoplasmódio, as células pré-espóricas formam a parede dos 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 49 11/06/2013 11:26:53 50 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE esporos com a participação de vacúolos onde ocorre a síntese deste material. Somente os esporos são capazes de germinar em ambiente apropriado (nos Acrasiomycota inclusive células do pedicelo são capazes de germinar). Os organismos desta classe tem uma ampla distribuição, utilizando outros organismos como fonte de alimento (bactérias, fungos, esporos...) CICLO DE VIDA (Figura 05): Quando uma população de amebas atingiu certo número de indivíduos (em algumas espécies, até 100 amebas são suficientes), as mesmas param de alimentar-se e iniciam migração em série a centros de agregação, formando correntes comuns (Figura 05a). Nos centros, algumas células secretam uma substância denominada acrasina (que é composta por AMP-cíclico nas espécies Dictyostelium discoideum, D. mucoroides, D. purpureum e D. rosarium; por um dipeptídeo em Polysphondylium violaceum; por pterinas em D. lacteum e outras espécies de Polysphondylium), a qual é o atrativo (o chamado fe- romônio) para as demais amebas migrarem em sua direção. Nestes, inicia-se a formação do pseudoplasmódio pela agregação das amebas (Figura 05b), o qual pode migrar até outros pontos antes de frutificar. O pseudoplasmódio diferencia-se, então, em duas massas: a) parte anterior, com células que formarão o pedicelo; b) parte posterior, com células esporógenas (Figura 05c). Quando a migração terminou e o pseudoplasmódio já encontrou o local e ambiente ideais para frutificar, ele assume forma globosa e logo se estrangula na base, formando uma papila (Figura 05c). Um cilindro de celu- lose é formado, e dentro dele as células continuam a construir o pedicelo, levantando, do centro de agregação, um conjunto mais ou menos esférico, que constituirá a cabeça do sorocarpo (Figura 05d). Sob certas condições ainda não compreendidas, o pseudoplasmódio divide-se em massas esféricas de determinado número de células, cada uma formando uma parede celu- lósica espessa em sua volta, originando estrutura denominada macrocisto, cuja função é desconhecida. A frutificação formada pode ser simples, quase microscópica, ou ramificada e em algumas espécies atingindo até um centí- metro ou pouco mais, formando uma cabeça alargada no ápice (Figura 05e), onde são formados os esporos (Figura 05f). Acredita-se que duas amebas, no interior da frutificação, fusionam-se e formam a célula inicial de esporos ou o zigoto, o que é contestado por vários autores. O que se sabe é que as células esporógenas, localizadas na parte posterior, migram à periferia da esfera, transformando-se em esporos. Esses são globosos a ovoides, envoltos por uma parede celular lisa constituída também por celulose, ou não formam parede, caso em que recebem o nome de pseudosporos. Ao germinar, o esporo libera uma única ameba haploide e uninucleada (Figura 05g), a qual ingere 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 50 11/06/2013 11:26:53 51OS REINOS DOS FUNGOS bactérias por fagocitose. Essa ameba, sob condições ambientais desfavoráveis, forma uma parede rígida de celulose, encistando-se, formando o que se deno- mina microcisto (Figura 05h). A ameba sai do cisto por um poro, assim que as condições melhorarem. Para muitas espécies já foi observada a formação de um zigoto gigante pela fusão de duas amebas; ocorrendo a fusão, grande número de amebas são atraídas para o zigoto, as quais secretam uma parede primária, envolvendo tanto a célula gigante como as amebas agregadas. O zigoto então passa a engolfar e alimentar-se das mixamebas associadas e forma outras camadas internamente à parede primária, dando origem ao que se denomina macrocisto (Figura 05i). Ainda existem muitas controvérsias sobre a real posição taxonômica desse grupo, mas um consenso sobre o número de famílias já existe. O filo é apresentado com uma única classe Dictyostelia, com uma Ordem Dictyostelida composta pelas famílias Acytosteliaceae e Dictyoste- liaceae. CHAVE PARA AS FAMÍLIAS DE DICTYOSTELEA: 1.1 Esporóforos ou esporocarpos constituídos por células fortemente vacuo- ladas, envolvidas por um manto ou tubo celulósico................................ ......... ....................................................................................DICTYOSTELIACEAE 1.2 Esporóforos muito finos e constituídos por tubos celulósicos acelulares ....... ......................................................................................ACYTOSTELIACEAE FAMÍLIA ACYTOSTELIACEAE As mixamebas vegetativas de vida livre, uninucleadas, com pseudópodes pontegaudos (radiados), 12 – 18 x 7,5 – 10 micrômetros, que alimentam-se de células de bactérias. Compreende os menores dictiostelída, com esporocarpos de 0,1 – 1,5 mm, formados por tubos celulósicos acelulares, em grupos frouxos ou isolados, levantando um soro terminal, globoso de 30 – 50 micrômetros de diâmetro; esporos esféricos com 5 – 7 micrômetros de diâmetro; mix amebas podem encistar individualmente formando microscistos. É isolado em cultura pura adicionando-se bactérias como Escherichia coli. Compreende o gênero Acytostelium Raper com 4 espécies. FAMÍLIA DICTYOSTELIACEAE Esporocarpos formados por células fortemente vacuoladas , envolvidas por um manto ou tubo celulósico. Dictyosteliaceae: Com 4 gêneros: Coenonia Tiegh. (com C. denticu- lata Tiegh.), Dictyostelium Bref. (com 35 espécies, figura 08 c), Hyalostilbum Oudem. (H. sphaerocephalum) e Polysphondilium Bref. (com 6 espécies, das quais P. pallidum é cosmopolita). Com Dyctiostelium Bref. (Figura 08 c - 35 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 51 11/06/2013 11:26:53 52 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE spp. cosmopolitas), Coenonia Tiegh. (uma espécie europeia, C. denticulata Tiegh., encontrada somente uma vez, em 1884) e Polysphondylium Bref. (com 6 spp. de ampla dispersão). Figura 05- Ciclos de vida de Acrasis (Acrasiomycota - A) e Dictyostelium (Dictyosteliomycota - B) descritos no texto. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 52 11/06/2013 11:26:53 53OS REINOS DOS FUNGOS CLASSE PROTOSTELEA Fase trófica representada por amebas uninucleadas ou ameboflageladas que se movem pela formação de pseudópodes filosos. Pode ocorrer formação de plasmódio verdadeiro, mas esse não apresenta o movimento típico e pul- sátil do protoplasma, como ocorre com os Myxomycetes. Células flageladas podem ser formadas ou não. Formam esporocarpos pedicelados (com celulose no pedicelo) mi- núsculos acelulares (5 a 100 micrômetros) a partir de amebas isoladas ou de fragmentos nucleados de amebas obrigadas multinucleadas.Formam de 1 – 8 esporos monoclonais a partir de divisões celulares seguidas à formação do pedicelo. Células tróficas exclusivamente do tipo ameboflageladas ou amebo- flageladas e amebas obrigadas ou somente amebas obrigadas. ADL et al. (2005) consideram esta classe como Supergrupo Amoebozoa e em Eumycetozoa. Estes fungos são isolados principalmente de restos vegetais, podendo- -se obtê-los facilmente em câmaras úmidas de cascas de árvores. Podem ser encontrados também em esterco. A classe contém uma única ordem, Protosteliales (=PROTOSTELIDA) a qual agrupa 4 famílias: Cavosteliaceae, Ceratiomyxaceae, Echinosteliopsi- daceae e Protosteliaceae. O problema maior reside nos protostelidas que não formam células flageladas e cuja posição entre os mixomicetes não seria justificada. Dessa forma, mais estudos são necessários para elucidar a posição taxonômica deste grupo. CHAVE PARA AS FAMÍLIAS DE PROTOSTELIALES: 1.1 Esporos formados externamente ao esporocarpo ...CERATIOMYXACEAE 1.2 Esporos formados internamente em cabeças do esporocarpo ...................2 2.1 Células flageladas são formadas ................................. CAVOSTELIACEAE 2.2 Células flageladas não são formadas .......................................................3 3.1 PROTOSTELIACEAE 3.2 ECHINOSTELIOPSIDACEAE FAMÍLIA CAVOSTELIACEAE Esporocarpos variam muito em tamanho, mas em geral ocorrem agrupados; pedicelos curtos e largos com apófise (Cavostelium apophysatum) a longos (até 200 micrômetros) em relação ao tamanho da cabeça e às vezes flexuosos; esporocarpos formam de 1 a 4 esporos; esporos lisos, decíduos a rugosos ou espinhosos, globosos a algo comprimidos, uni a bicelulares. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 53 11/06/2013 11:26:53 54 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Ocorrem em restos vegetais ou sobre plantas vivas e esterco. Compreende os gêneros Cavostelium (duas espécies), Planoprotostelium (P. aurantium, inclusive do Brasil), Protosporangium (4 espécies) e Ceratiomyxella (Ceratiomyxella tahitiensis, com var. tahitiensis e var. neotropicalis, ambas sinonímia - Spiegel & Feldman,1991 e 1996 apresentam estudos de ultraestrutura desta espécie que ocorre no Brasil). Ceratiomyxella tahitiensis (com var. tahitiensis e var. neotropicalis, ambas sinonímia). Spiegel & Feldman (1991 e 1996) apresentam estudos de ultraestrutura desta espécie. FAMÍLIA CERATIOMYXACEAE Esporóforos com 1-2 mm de altura, sésseis e globosas a elipsoides ou levantando do substrato em colunas ramificadas como uma árvore, com ramos eretos ou prostrados, ou ainda como uma estrutura globosa e alveolada, ou morcheloide, branco leitoso, raramente creme amarelado; esporos elipsoides a subglobosos, hialinos e lisos, presos em pedicelos de um mesmo comprimento sobre quase todo o esporóforo ou com alguns de comprimento diferente apenas no ápice dos ramos (C. sphaerosperma). Compreende um gênero (Ceratiomyxa) com 4 espécies. Lado (2001) estabeleceu o gênero Famintzinia em substituição a Ceratiomyxa por ter sido publicado pelo menos 22 anos antes. Mas posteriormente o mesmo autor em Lado et al. (2005) admitiu que esta proposição causaria muita confusão e sugeriram a manutenção do nome em uso. Cavalcanti et al. (2008) descrevem as 3 espécies de Ceratiomyxa encontradas no Nordeste do Brasil. Ciclo de vida (Figura 09A): O plasmódio é extenso e reticulado, envolto em matriz mucilaginosa, sobe à superfície do substrato quando está prestes a frutificar (Figura 09A-a); nessa ocasião muda de cor tornando-se esbranquiçado e formando fina camada sobre o substrato; formam-se colunas (Figura 09A-b), dentro das quais os ele- mentos celulares assumem posição periférica dentro da matriz mucilaginosa, desconectando-se uns dos outros; ocorre divisão mitótica síncrona, formando células uninucleadas que originam pedicelos delgados na superfície das colunas (Figura 09A-c); ao atingir um comprimento determinado, o protoplasto secreta uma parede em seu redor, sofre uma divisão meiótica (ficando tetranucleado) e já é considerado um esporo; cada esporo forma um protoplasto único após a germinação (Figura 09A-d), o qual é ameboide e quadrinucleado; depois de fase de filamento (Figura 09A-e), quando movimenta-se à maneira de um verme, passa por um estágio de tétrade e octeto (Figura 09A-f,g), libera 8 células flageladas haploides (Figura 09A-h) com um ou dois flagelos (que 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 54 11/06/2013 11:26:53 55OS REINOS DOS FUNGOS podem ser iguais ou diferentes em tamanho). Ocorre plasmogamia e finalmente desenvolve-se o plasmódio, novamente (Figura 09A-i). Ceratiomyxa fruticulosa é a espécie mais comum e a mais amplamente distribuída entre as espécies de Myxomycetes. Apresentam grande afinidade com os Protostelídeos, especialmente pelo tipo de esporulação, mas a sua inclusão nos Myxomycota parece mais plausível, em virtude da amplitude do plasmódio e pela presença de matriz mucilaginosa (OLIVE; STOIANOVITCH, 1971). FAMÍLIA ECHINOSTELIOPSIDACEAE Esporocarpos minúsculos, simples, estipetados; pedicelo longo, afinando muito a partir da base mais larga, levemente curvado; esporângios multisporados; esporos de 1 – 8, em geral 4, esféricos a lateralmente comprimidos e de tamanhos diferentes dentro de um mesmo esporângio, lisos, com um manto higroscópico; célula présporal arredondada; mixamebas não formam flagelos, apenas pseudópodes. Compreende os gêneros Bursula (com B. crystallina) e Echinosteliopsis (E. oligospora). FAMÍLIA PROTOSTELIACEAE Esporocarpos variáveis em tamanho mas em geral constante nas proporções; esporos decíduos (às vezes balistospóricos) ou não; pedicelo longo, persistente ou não após a descarga, afinando até o ápice, flexuoso, às vezes com apófise pequena ou bem evidente e bulbosa ou hastada (Soliformovum irregularis) ou todo catenulado pela formação de várias vesículas e internódios mais finos (Endostelium zonatum); esporo único ou múltiplos (Calstostelium), esférico a ovado, elipsoide a obpiriforme (Protostelium pyriformis), liso, hialino a algo alaranjado, às vezes com hilo; microscisto irregular a estelado; fase vegetativa formada por amebas de vida livre, que necessitam pelo menos de um filme de água para movimentar-se, mas também sobrevivem em corpos d´água maiores em restos vegetais ou sobre macrófitas aquáticas. Ocorrem em superfícies diversas, tendo sido registrados para troncos e folhas vivas e mortas de árvores e outros vegetais em interior de florestas. Com 9 gêneros, além de Soliformovum, um gênero criado por Spiegel et al. (2007) para abrigar espécies de Protostelium (P. irregularis e P. expulsum). Clastostelium L.S. Olive & Soian. (uma espécie na Guatemala), Endostelium L. S. Olive, W. E. Benn. & Deasey (uma espécie de Papua e Nova Guiné), Microglomus L.S. Olive & Stoian. (uma espécie do Hawaí), Nematostelium L. S. Olive & Stoian.(duas espécies de ampla dispersão), Protosteliopsis L. S. Olive & Stoian. (duas espécies de ampla dispersão por regiões mais quentes), Protostelium L. S. Olive & Stoian. (cinco espécies de 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 55 11/06/2013 11:26:53 56 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE ampla dispersão), Schizoplasmodiopsis L. S. Olive (quatro espécies de ampla dispersão), Schizoplasmodium L. S. Olive & Stoian. (três espécies de ampla dispersão), Tychosporium Spiegel (T. acutostipes foi encontrada nos EUA). CLASSE MYXOGASTREA Por muito tempo os únicos reinos que podiam ser definidos eram o Ani- mal e o Vegetal. Quando foram descobertos os primeiros fungos que formavam plasmódio, surgiu um problema sério: em que reino colocá-los. Surgiu a ideia de separar todos os fungos em reino a parte, o Reino Fungi (Myceteae), mas, segundo a definição, os Myxomycetes, na verdade, não teriam espaço entre eles. Eram primitivos demais e tinham muita afinidade com grupos animais, como os protozoários. A perplexidade aumentava à medida que seus ciclos de vida e aspectos fisiológicosforam sendo desvendados. Segundo Alexopoulos & Mims (1979), os Myxomycetes compreen- dem organismos com fase assimilativa constituída de uma massa móvel de protoplasma sem parede celular e multinucleada, denominada plasmódio, e fase propagativa formando esporos em estrutura não celular, simples ou complexa, de tamanho e forma diversas, com ordem de complexidade relativa ao tipo de plasmódio. O plasmódio (Figura 07 A) pode ser de três tipos: - protoplasmódio (muito pequeno, ameboide, multinucleado, sem fluxo rítmico de protoplasto, típico de Liceales e Echinosteliales); - afanoplasmódio: delgado, macroscópico mas muito incospícuo, reticulado; - faneroplasmódio: bem conspícuo, reticulado, espesso, colorido, sendo o mais frequente entre as espécies desta classe. Esses dois últimos apresentam o fluxo rítmico do protoplasma (Figura 07). São formados corpos de frutificação versiformes e de tamanho muito variável (Figura 06), podendo-se distinguir 4 tipos básicos: - Esporângio: constitui-se de uma massa de esporos (envolta por uma membrana, o perídio), a qual é erguida do substrato por um pedicelo (Figura 07 - g) ou completamente séssil. Associado aos esporos pode-se encontrar uma “teia” estéril, filiforme, lisa ou ornamentada, que eventualmente pode formar uma rede muito intrincada, que se denomina capilício (Figura 07 - a - f); em algumas espécies têm-se a formação, dentro do esporângio (parte esporífera), de um eixo central, originado pela extensão do pedicelo (quando este está presente), o qual denomina-se columela (pode ser sólida ou oca, clavada, cilíndrica, cônica, convexa ou discoide). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 56 11/06/2013 11:26:53 57OS REINOS DOS FUNGOS - Plasmodiocarpo: formado a partir das veias principais do plasmódio e, portanto, séssil; é irregular e reticulado (Figura 06 - Hemitrichia). - Etálio: é derivado do todo ou da parte principal do plasmódio, tem tamanho relativamente grande, com forma de almofada ou globosa (Figura 06 - Lycogala). - Pseudoetálio (Figura 06): é intermediário entre o esporângio séssil e o etálio, pois nota-se ainda uma certa individualidade dos corpos frutíferos. Muitas espécies são cosmopolitas, ocorrendo inclusive no continente Antártico. Apesar de serem considerados holozoicos, quanto à nutrição, parecem degradar também celulose. A grande maioria das espécies alimenta-se de bactérias, fungos e esporos. Atualmente aceita-se os Myxogastrea (=MYXOMYCETES) subdivididos em 5 ordens: ORDEM ECHINOSTELIDA (= ECHINOSTELIALES) FAMÍLIA CLASTODERMATACEAE FAMÍLIA ECHINOSTELIACEAE ORDEM LICEIDA (= LICEALES) FAMÍLIA CRIBRARIACEAE FAMÍLIA DICTYAETHALIACEAE FAMÍLIA LICEACEAE FAMÍLIA LISTERELLACEAE FAMÍLIA TUBIFERACEAE ORDEM PHYSARIDA (= PHYSARALES) FAMÍLIA DIDYMIACEAE FAMÍLIA ELAEOMYXACEAE FAMÍLIA PHYSARACEAE ORDEM STEMONITIDA (= STEMONITALES) FAMÍLIA STEMONITIDACEAE ORDEM TRICHIIDA FAMÍLIA TRICHIACEAE FAMÍLIA DIANEMACEAE Ciclo de Vida (Figura 09B): O ciclo de vida é similar ao de Stemonitomycetidae. Ocorre uma ha- plofase e uma diplofase. O esporo, ao germinar, (Figura 09a) dá origem a um mixoflagelado (com um ou dois flagelos) ou a uma mixameba uninucleados (Figura 09b,c). Tanto a mixoameba como o mixoflagelado funcionam como gametas, fusionando-se aos pares (Figura 09d,e), ocorrendo plasmogamia e cariogamia 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 57 11/06/2013 11:26:53 58 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE a seguir, quando tem-se o início da diplofase. O zigoto sofre mitoses suces- sivas, mas sem sofrer divisão celular, formando o plasmódio multinucleado (Figura 09f), que vai crescendo e posteriormente frutifica (Figura 09g,h,i). Muito ainda tem-se por conhecer das espécies dessa subclasse, apesar de uma delas, Physarum polycephalum, ser já muito bem estudada. Faltam investigações citológicas e fisiológicas além de, é claro, levantamentos taxo- nômicos em grandes áreas, especialmente no Brasil. MYXOGASTREA ENCONTRADAS NO BRASIL De acordo com levantamento preliminar dos autores, constatou-se a ocorrência de, pelo menos, 11 famílias de Myxogastrea no Brasil. A seguir apresenta-se uma chave para oferecer condições de identificar os Myxos de sua região até o nível de ordem e família. Apresenta-se também, dentro de cada família, mais abaixo, chave para a identificação de alguns dos gêneros que já foram citados para o Brasil. Esses dados foram obtidos de trabalhos indispensáveis aos estudos com este grupo, como Martin & Alexopoulos (1969), Lister (1925), além dos trabalhos específicos do Brasil, como Farr (1960), Cavalcanti (1974; 1976; 1982), Cavalcanti et al. (1982; 1985; 1993), Cavalcanti & Silva (1985); Farr & Martin (1958); Santos & Cavalcanti (1988); Santos (1988); Santos et al. (1986); Silva & Cavalcanti (1988); Rodrigues & Guerrero (1990), entre outros. Como é possível observar pela bibliografia citada acima, o trabalho de L. H. Cavalcanti, da Universidade Federal de Pernambuco, é um dos que mais vem contribuindo ao conhecimento dos Myxomycetes que ocorrem no Brasil; a pesquisadora já orientou vários trabalhos de mestrado na área e apenas uma fração dos seus trabalhos publicados está exposta aqui. Mais especialistas são necessários, uma vez que extensas áreas não foram ainda exploradas quanto à ocorrência de Myxo, deixando grandes lacunas na fitogeografia de várias espécies. Mais detalhes sobre as espécies encontradas no Brasil podem ser encontrados em Putzke (1996) e Lado & Basanta (2008). CHAVE PARA ORDENS E FAMÍLIAS DE MYXOGASTREA- BRASIL (sem Clastodermataceae) 1.1 Esporos localizados externamente à frutificação...........Ceratiomyxaceae (PROTOSTELEA) 1.2 Esporos internos à frutificação .....................................................................2 2.1 Esporos pálidos ou de colorido claro (em massa), geralmente hialinos, amarelados ou amarelo-amarronzados sob luz transmitida ............................ 3 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 58 11/06/2013 11:26:53 59OS REINOS DOS FUNGOS 2.2 Esporos pretos ou fortemente marrom-púrpura (em massa), marrom ou marrom-púrpura sob luz transmitida .............................................................8 3.1 Capilício verdadeiro tipicamente presente, raramente ausente, mas então columela presente...........................................................................................4 3.2 Capilício verdadeiro ausente; pseudocapilício às vezes presente, formado de tubos ou placas perfuradas que algumas vezes se desmancham em filamentos; columela ausente.........................................Liceales ....................................6 4.1 Pedicelado, minúsculo, pálida ou vivamente colorido, columela usualmente presente, algumas vezes dando origem a um capilício na forma de rede frouxa, aberta, muitas vezes incompleta; perídio delicado, logo fugáceo; esporada branca, acinzentada, rosada, amarelada ou ocrácea, raro castanho; esporos hialinos a palidamente coloridos quando vistos por transparência ................ ..............................................................Echinosteliales (Echinosteliaceae) 4.2 Pedicelado ou séssil, usualmente grande; columela ausente; capilício usualmente abundante, ou com filamentos esculpidos; perídio usualmente firme, muitas vezes persistindo embaixo, pelo menos até um estágio mais avançado; esporada vivamente colorida; esporos sub-hialinos ou vivamente coloridos quando observado por transparência ...................Trichiales ..........5 5.1 Capilício formado por filamentos sólidos, fixos à base e comumente às paredes do esporângio, nunca unidos formando rede .............. Dianemaceae 5.2 Capilício formado por filamentos tubulares, livres ou fixos à base do esporângio, comumente unidos, formando rede ............................ Trichiaceae 6.1 Frutificação com esporângios pequenos a diminutos, ou com plasmodio- carpos pequenos, simplesou esparsamente ramificados, raramente efusos; nem pseudocapilício nem grânulos dictidinos presentes; esporada na maioria esfumaçada ou denegrida; esporos esfumaçados por transparência; esporada algumas vezes vivamente colorida, e então esporos levemente amarelados ou ocráceos por transparência.........................................Liceaceae 6.2 Frutificação esporangiada a etalioide, muitas vezes grande e conspícua; esporada pálida a variadamente colorida, porém nunca esfumaçada ou dene- grida .............................................................................................................. 7 7.1 Grânulos dictidinos presentes; principalmente esporangiado, raro etálio ou pseudoetálio; nas esporangiadas, porções do perídio persistem como uma rede pré-formada ............................................................................. Cribrariaceae 7.2 Grânulos dictidinos ausentes; principalmente etalioide ou pseudo-etalioides, mas se plasmodiocárpicos ou esporangiados, porções do perídio não persis- 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 59 11/06/2013 11:26:53 60 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE tem como uma rede pré-formada ............................................. Enteridiaceae 8.1 Carbonato de cálcio ausente no perídio e capilício; quando presente ocorre no hipotalo, base do perídio, pedicelo ou columela.................... Stemonitales Stemonitaceae 8.2 Carbonato de cálcio presente na frutificação, em todo o perídio e/ou capi- lício ...................................Physarales............................................................9 9.1 Capilício calcário; carbonato de cálcio em nódulos conectados por fila- mentos hialinos ou em túbulos.... ..............................................Physaraceae 9.2 Capilício não calcário......... ......................................................Didymiaceae 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 60 11/06/2013 11:26:53 61OS REINOS DOS FUNGOS Figura 06 - Frutificações de alguns Myxomycetes (NÃO EM ESCALA). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 61 11/06/2013 11:26:53 62 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Figura 07 - A - Plasmódio de Myxomycetes sobre fundo escuro. B - Estrutura geral de um esporângio de Myxomycete - a: capilício; b - f: tipos de filamentos de capilício (b- liso; c- rugoso; d- com espirais duplas; e- com semianéis ou anéis completos; f- truncado); g- pedicelo; h- hipotalo; i- columela. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 62 11/06/2013 11:26:54 63OS REINOS DOS FUNGOS Figura 08 - Sorocarpos de alguns fungos Protista: a- Guttulina; b- Acrasis; c- Dictyostelim; d- Guttulinopsis; e- Acytostelium; f-g- Polymyxa; h- Woronina; i- Octomyxa; j- cistosoros de Sorodiscus. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 63 11/06/2013 11:26:54 64 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Figura 09 - Estágios do ciclo de vida de Ceratiomyxaceae (A); Myxogastro- e Stemonitomycetidae (B). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 64 11/06/2013 11:26:54 65OS REINOS DOS FUNGOS FAMÍLIA CERATIOMYXACEAE (PROTOSTELEA) É representada no Brasil por 4 espécies de um mesmo gênero: Cera- tiomyxa fruticulosa (Muell.) Macbr. e C. sphaerosperma Boedjin, essa última citada por Martin & Alexopoulos (1969). Descrição completa da primeira aparece em Martin & Alexopoulos (1969) e em Rodrigues & Guerrero (1990). Cavalcanti et al. (2009) descrevem as 3 espécies aqui encontradas. FAMÍLIA LICEACEAE Somente um gênero desta família é conhecido: Licea Schrad., repre- sentado no Brasil por pelo menos 10 espécies: Licea biforis Morgan, Licea denudescens Keller & Brooks, Licea erecta Thind & Dhillon, Licea kleisto- bolus Martin, L. castanea Lister, L. operculata (Wing.) Martin, L. parasitica (Zukal) Martin, L. pedicellata (H. C. Gilbert) H. C. Gilbert, L. tenera Jahn e L. variabilis Schrad. FAMÍLIA ENTERIDIACEAE (=RETICULARIACEAE) São citados para o Brasil os gêneros Dictydiaethalium (D. plum-beum), Enteridium (pelo menos duas espécies), Lycogala (4 espécies), Tubifera (4 espécies) e Reticular: A (duas espécies). CHAVE PARA OS GÊNEROS DE ENTERIDIACEAE NO BRASIL: 1.1 Frutificações do tipo etálio ......................................................................2 1.2 Frutificações tipicamente esporangiadas, mas esporângios unidos em um pseudoetálio ..................................................................................................3 2.1 Aetálio subgloboso a cônico ou pulvinado, frequentemente sobre base restrita; pseudocapilício formado por tubos ramificados sem cor; esporos rosados pálidos em massa .....................................................................Lycogala 2.2 Aetálio pulvinado, sobre base ampla; pseudocapilício formado por mem- branas perfuradas ou desfiadas; esporos marrons, amarelados ou oliváceos em massa ...............................................................Enteridium (=Reticularia) 3.1 Esporangiados ou pseudoetalioides, com paredes esporangiais persisten- tes; hipotalo massivo, fibroso ou esponjoso .......................................Tubifera 3.2 Esporângios proximamente dispostos (comprimidos um contra o outro), formando um pseudoetálio; paredes esporangiais desaparecem em parte na maturidade; hipotalo não massivo ou esponjoso (Figura 06) ........................ ...... ................................................................................................Dictydiaethalium 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 65 11/06/2013 11:26:54 66 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE FAMÍLIA CRIBRARIACEAE Esta família está representada no Brasil por dois gêneros: Dictydium Schrad. com uma espécie, D. cancelatum (Batsch) Macbr. e Cribraria Pers., o maior da família, com pelo menos 16 espécies conhecidas no Brasil. Lind- bladia Fr. (L. tubulina Fr. conhecida apenas da Alemanha), também pertence a Cribrariaceae, mas ainda não foi citado para nosso País. CHAVE PARA OS GÊNEROS DE CRIBRARIACEAE DO BRASIL: 1.1 Perídio persistindo na forma de rede com filamentos curtos que se en- contram formando um alargamento (nó)............................Cribraria (fig. 06) 1.2 Perídio com filamentos longos, subparalelos pelo menos na metade basal, conectados por filamentos transversais muito delicados, às vezes reticulado no ápice ............................................................................ Dictydium (fig. 06) FAMÍLIA DIANEMACEAE Apenas o gênero Calomyxa Nieuwl. é conhecido do Brasil, sendo encontrado apenas C. metallica (Berk.) Nieuwl. FAMÍLIA TRICHIACEAE Os gêneros Arcyria (14 espécies citadas para o Brasil), Hemitrichia (7 espécies), Metatrichia (duas), Oligonema (apenas O. schweinitzi), Perichaena (5 espécies) e Trichia (7 espécies) são referidos para o Brasil. CHAVE PARA OS GÊNEROS DE TRICHIACEAE NO BRASIL: 1.1 Capilício com duas a seis bandas em espiral bem definidas, as espirais or- namentadas com espinhos ou lisas...................................................................2 1.2 Capilício com espinhos, nódulos ou anéis, ou liso a mais ou menos reticu- lado, ou com espirais pouco aparentes ocorrendo junto a outros ornamentos .......................................................................................................................4 2.1 Perídio cartilagíneo, grosso, brilhante, abrindo por um opérculo perfurado; elatérios espinhosos (Figura 06) ....................................................Metatrichia 2.2 Perídio membranoso ou com parede grossa e então escura, abrindo irre- gularmente ou por lóbulos ou, se por um opérculo, então tanto este como a taça são membranosos; elatérios espinhosos ou lisos....................................3 3.1 Filamentos do capilício unidos em uma rede intrincada, com poucas pontas livres ....................................................................................Hemitri- chia (Fig. 06) 3.2 Filamentos do capilício quebrados em elatérios relativamente curtos, não ou esparsamente ramificados,deixando numerosas pontas livres .......Trichia 4.1 Capilício com filamentos longos, profusamente ramificados e anastomo- 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 66 11/06/2013 11:26:54 67OS REINOS DOS FUNGOS sados, tipicamente unidos em uma rede (Figura 06) .........................Arcyria 4.2 Capilício com elatérios livres, estes usualmente curtos, simples ou esparsa- mente ramificados; se longos, raramente formam uma rede.............................5 5.1 Elatérios espinhosos a minusculamente anelados ou quase lisos; espo- rangiado a plasmodiocárpicos ou, se densamente agrupados, não formando montículo; parede um tanto espessa, usualmente impregnada com material granular, parecendo dupla, raramente com CaCO3 (Figura 06)....Perichaena 5.2 Elatérios contendo espirais finas ou irregulares ou quase lisas; esporângios densamente agregados, usualmente em montículo; parede fina, membranosa, frequentemente iridescente ............................................................Oligonema FAMÍLIA ECHINOSTELIACEAE Compreende 3 espécies no Brasil; Echinostelium minutum de Bary, citada para São Paulo e Pernambuco por Farr (1960) e Cavalcanti (1974), respectivamente. FAMÍLIA CLASTODERMATACEAE Clastoderma debaryanum Blytt e C. pachypus são citadas para o Brasil. Esta família não está na chave descrita acima, uma vez que se acredita tratar-se de um gênero que deva fazer parte de Stemonitaceae, como referem Martin & Alexopoulos (1969). Portanto, incluiu-se a mesma na chave para diferenciar gêneros desta família (ver abaixo). FAMÍLIA PHYSARACEAE Os gêneros Leocarpus (uma) Badhamia (com 7 espécies no Brasil), Craterium (4 espécies), Fuligo (com três), Physarella (P. oblonga apenas), Physarum (o maior com 48 espécies referidas para o país) e Willkommlangea (apenas W. reticulata) são encontrados no Brasil. CHAVE PARA OS GÊNEROS DE PHYSARACEAE NO BRASIL: 1.1 Capilício composto por dois sistemas distintos ......................................2 1.2 Capilício essencialmente homogêneo ....................................................3 2.1 Primariamente plasmodiocárpico, às vezes frutificando como esporângios pulvinados ou pseudoetálio; capilício formado por placas de CaCO3, juntadas transversalmente, conectadas com uma rede de tubos finos quase sem CaCO3, mas com numerosos espinhos ................. Willkommlangea (=Cienkowskia) 2.2 Primariamente esporangiados; capilício não espinhoso ....Physarella (Figura 06) 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 67 11/06/2013 11:26:54 68 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE 3.1 Capilício formado por uma rede de tubos calcários de diâmetro aproxima- damente uniforme; túbulos conectantes sem CaCO3, poucos ou ausentes ..... ........................................................................................................ Badhamia 3.2 Capilício formado por uma rede de túbulos hialinos sem CaCO3, apenas com nódulos calcários em todas ou na maioria das junções .........................4 4.1 Etálio com pseudocapilício, este frequentemente mais conspícuo que o capilício ................................................................................................Fuligo 4.2 Esporangiados ou plasmodiocárpicos, raramente quase um etálio; pseu- docapilício ausente ........................................................................................5 5.1 Esporangiados; deiscência circunséssil, frequentemente por um opérculo perfurado, persistindo a porção mais abaixo na forma de uma taça funda ....... ......................................................................................Craterium (Figura 06) 5.2 Esporangiados ou plasmodiocárpicos, raro algo etalioides; deiscência irregular ou lobada; porção inferior do perídio remanescendo como uma taça irregular e rasa .............................................................Physarum (Figura 06) FAMILIA DIDYMIACEAE Diderma (com 9 espécies no Brasil) e Didymium (cerca de 15 espécies) são referidos para o Brasil. Diachea (Duas espécies) é referida às vezes como pertencendo a esta família, mas prefere-se mantê-la entre as Stemonitaceae, tal como fizeram Martin & Alexopoulos (1969), e seguindo a proposta da chave para famílias. CHAVE PARA OS GÊNEROS DE DIDYMIACEAE NO BRASIL: 1.1 Calcário peridial cristalino, sendo que os cristais dão uma aparência pulverulenta à superfície e apresentam-se escassos ou formando uma crosta contínua .............................................................................................Diderma 1.2 Calcário peridial amorfo, granular .............................Didymium (fig. 06) FAMÍLIA STEMONITIDACEAE Está representada no Brasil pelos seguintes gêneros: Diachea, Co- matricha (7 espécies no Brasil), Lamproderma (3 espécies), Stemonitis (8 espécies), Collaria (uma espécie=Comatricha), Enerthenema (uma espécie), Stemonitopsis (6 espécies), Stemonaria (duas), Symphytocarpus (duas) e Macbrideola (duas). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 68 11/06/2013 11:26:54 69OS REINOS DOS FUNGOS CHAVE PARA OS GÊNEROS ENCONTRADOS NO BRASIL DE STE- MONITACEAE: 1.1 Columela, pedicelo quando presente e usualmente o hipotalo conspicu- amente calcários ............................................................ Diachea (Figura 06) 1.2 Calcário ausente, raro presente na forma de grupos de cristais inconspícuos embebidos na base do hipotalo ......................................................................2 2.1 Perídio evanescente, mas tipicamente substituído por uma rede superficial desenvolvida na periferia, que permanece conspícua depois do perídio ter-se desprendido e que se fixa ao capilício ............................Stemonitis (Figura 06) 2.2 Perídio persistente ou, se evanescente, sem deixar uma rede superficial ao se desprender; capilício escasso ou, se abundante, não ligado à rede superficial .. .........................................................................................................................3 3.1 Perídio ocráceo, delicado, persistente, mas quebrando-se em pequenos fragmentos, os quais permanecem aderidos aos ápices dos filamentos capiliciais ........................................................................................................Clastoderma 3.2 Perídio de colorido como acima ou diferente; se persistente não como acima ........................................................................................................................4 4.1 Perídio duro, metálico, brilhante, todo ele muito persistente .................. .... ......................................................................................................Lamproderma 4.2 Perídio usualmente logo evanescente, mas se persistente, membranoso e de- licado ..............................................................................................Comatricha Cerca de 206 espécies de Myxo são conhecidas como ocorrendo no Brasil, além de outras 16 espécies duvidosas, de acordo com o Lado & Basanta (2008). REINO PROTOZOA FILO CERCOZOA (ANTIGO FILO PLASMODIOPHORAMYCOTA) Caracteriza-se por apresentar espécies de fungos que formam plasmó- dio pelo menos em uma parte do seu ciclo vital. O plasmódio desenvolve-se dentro das células do hospedeiro, o qual é infestado por zoosporos encistados em sua parede. Segundo Alexopoulos & Mims (1979), são reconhecidos dois tipos de plasmódios na maioria das espécies conhecidas (ver ciclo de vida na Figura 29): 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 69 11/06/2013 11:26:54 70 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE a- Plasmódio esporangiógeno: originado por mixamebas formadas após a infestação do hospedeiro. Essa ocorre com o encistamento do zoosporo junto ao fungo ou a plantas específicas. É importante notar-se o fato de que este zoosporo foi formado após a germinação do esporo de resistência ou cisto. b- Plasmódio cistógeno: é formado na fase diploide do fungo, dentro do hospedeiro. Forma os esporos de resistência após a meiose. É característico no grupo, a formação decélulas flageladas denominadas também de zoosporos. Essas células apresentam dois flagelos anteriores, lisos e de tamanhos diferentes. Os esporos de resistência (cistos) são formados em grupos, denominados cistosoros ou simplesmente soros. Não ocorre a formação de esporóforos. Essa classe apresenta dois estágios, precedendo as divisões nucleares, que são exclusivos do grupo: - fase acariótica: foi observada em plasmódios cistógenos e esporan- giógenos de algumas espécies; o núcleo parece desaparecer nesta fase, uma vez que a cromatina não se cora pelos corantes usuais. - divisão cruciforme: recebe este nome porque a cromatina, antes da divisão do núcleo, durante a metáfase, forma um anel em torno do nucléolo que, visto lateralmente, parece ter a forma de cruz; segue-se a duplicação do anel e a migração desses, um para cada polo da célula; após, completa-se a divisão. Esse tipo de divisão é tipicamente encontrado em Protozoários, o que fez com que muitos considerem Plasmodiophoromycota neste reino. Essa divisão cruciforme não ocorre na família Endemosarcaceae, entretanto. Braselton et al. (1975) apresentam o resultado de estudos ultraestru- turais da divisão nuclear cruciforme de uma espécie do gênero Sorosphaera, onde mais dados podem ser encontrados sobre este tipo peculiar de divisão. Muitas perguntas ainda remanescem acerca do ciclo de vida, o que se deve ao fato de existirem poucas pesquisas sobre o assunto. Mesmo nos gêneros mais conhecidos, Plasmodiophora e Spongospora, alguns pontos do ciclo de vida ainda são desconhecidos. Este é um dos motivos pelo qual muitos dos gêneros, que são incluídos na classe, ainda são de posição incerta. Futu- ros estudos são urgentes e demonstrarão com clareza a real afinidade dessas espécies. Trabalhos como o de Miller (1959) e Williams & Mcnabola (1967) são exemplos de pesquisas que visaram elucidar problemas taxonômicos de gêneros dessa classe. Quanto à distribuição e ao habitat, os Plasmodiophoromycetes são classificados como parasitas obrigatórios (endoparasitas) de plantas vascu- lares, algas, fungos, causando hipertrofia ou hiperplasia ao hospedeiro, com posterior rompimento dos vasos condutores da seiva, se o hospedeiro for uma Angiospermae. Sendo endoparasitas obrigatórios, sua distribuição geográfica é a mesma dos seus hospedeiros. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 70 11/06/2013 11:26:54 71OS REINOS DOS FUNGOS Entre os fungos atacados, há espécies dos gêneros Achlya, Saprolegnia e Pythium. Woronina é o parasita dos dois primeiros citados. Entre as algas parasitadas, têm-se espécies de Chara (atacado por Sorodiscus) e Vaucheria (por Woronina). Como exemplos de Angiospermas atacadas têm-se os seguintes gêneros: - Nasturium: parasitado por Spongospora; - Beterraba e trigo: por Polymyxa; - Juncus e Veronica: por Sorosphaera; - Triglochin: por Tetramyxa; - Callitriche e Heteranthera: por Sorodiscus; - Solanum: por Spongospora; - várias espécies de Cruciferae: por Plasmodiophora. Ainda existem vários problemas que impedem o delineamento completo de um ciclo de vida para os Plasmodiophoromycetes. Ainsworth et al. (1973) apresentam uma representação diagramática da sequência de eventos dos ciclos de vida de Plasmodiophora brassica (ver Figura 29) e Spongospora subterranea. Associando o que discutem Alexo- poulos & Mims (1979), pode-se discutir o ciclo com base nos estudos já feitos em Spongospora subterranea, Sorosphaera veronicae e Plasmodiophora brassica. Deve-se levar em consideração que estes ciclos ainda não podem ser generalizados, uma vez que muitas espécies têm determinados pontos ainda desconhecidos. Pode-se começar com a germinação do esporo de resistência, o que ocorre no solo e resulta na formação de um zoosporo. De acordo com Macfarlane (1970), essa germinação ocorre pela presença de um hospedeiro susceptível ou por alguns dos seus metabólitos. Aist & Williams (1971) descrevem o processo de penetração de Plasmodiophora brassica nos pelos radiculares da couve. Segundo eles, ocorre da seguinte forma: quando o zoosporo encontra o pelo radicular de couve, forma um cisto que permanece preso ao apêndice radicular do hospedeiro. Através de sistema especial de penetração, a parede da célula da planta é perfurada (no local onde está o cisto) e o protoplasto do fungo penetra, ficando na parte externa apenas a parede do cisto. A penetração leva cerca de 1 segundo. Este sistema não é conhecido para todas as espécies, mas, nas já estudadas, consiste de um tubo que aloja um espinho. O tubo encarrega-se da perfuração do cisto e o espinho perfura a parede da célula. No hospedeiro, o protoplasto do fungo assume a forma de uma mixameba e acaba formando o plasmódio. Este vai aumentado de tamanho e multiplicando mitoticamente os núcleos por divisão cruciforme. Dependendo do tamanho da célula, o plasmódio para de crescer e segmenta-se, formando zoosporângios isolados ou em grupos. Nestes formam-se zoosporos, que passam ao tecido do hospedeiro ou ao exterior; a saída pode ocorrer por um tubo formado pelo 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 71 11/06/2013 11:26:54 72 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE zoosporângio ou pela desagregação das células parasitadas do hospedeiro. A função desses zoosporos ainda não foi completamente compreendida: para alguns são gametas, mas para outros autores, são apenas estruturas de reinfestação. D’ambra & Mutto (1977) descrevem a diferenciação do tubo de descarga em Polymyxa betae. O gênero Polymyxa é o único que forma esta estrutura. O que ocorre após a liberação dos zoosporos (gametas?) ainda não se sabe ao certo. A teoria mais aceita é a de que a formação dos plasmódios cistógenos ocorre após a plasmogamia entre zoosporos ou mixamebas que conjugaram-se, ou após a união de dois plasmódios jovens e compatíveis (ALEXOPOULOS; MIMS, 1979). Esta plasmogamia ocorreria no solo se zoosporos fossem envolvidos. Após isso, segue-se a reinfecção do hospedeiro e a cariogamia. Com a cariogamia ocorre a formação de muitas mixamebas no interior da célula parasitada e, com a agregação dessas, forma-se um plasmódio. Esse parece sofrer meiose e acaba formando esporos de resistência isolados ou em soros, característicos de gênero para gênero. A liberação ocorre, como já foi dito, pela desagregação da célula do hospedeiro que foi infestada. Muito ainda é desconhecido sobre a vida dos indivíduos dessa classe, podendo o ciclo sofrer alterações significativas com o avanço das pesquisas. Quanto à importância econômica, eles causam: - hipertrofia e/ou hiperplasia em várias Angiospermae, inclusive al- gumas importantes economicamente, como várias Cruciferae e Solanaceae; - grandes prejuízos à horticultura, especialmente quando atacada por Plasmodiophora spp; - o solo fica inválido para o cultivo das plantas susceptíveis. Um exemplo típico de doença causada é a Hérnia da couve, que tem como agente etiológico a Plasmodiophora brassicae. Essa doença já foi citada na Europa, Austrália, Nova Zelândia, Índia; no Japão e no Uruguai; na Argentina e no Chile. No Brasil ocorre nas regiões de clima mais frio e chuvoso (úmido), como Sul e Sudeste. Dentre os sintomas podem-se destacar: - forma galhas nas raízes (com até 10 ou mais centímetros de diâmetro); - murcha nas horas mais quentes do dia; - provoca enfezamento da planta. Plasmodiophora brassicae parasita também cerca de 300 outras espécies de Cruciferae, além de nove espécies de outras famílias de Angiospermae, havendo pelo menos 7 raças fisiológicas desta espécie. O filo inclui um grupo de fungos cuja posição taxonômica ainda é muito discutida pelos especialistas. O fato de formarem plasmódio verdadeiro em sua fase assimilativa, coloca-os próximos aos Myxomycota. Entretanto, a diferenciação entre esses dois filos é bastante clara, especialmente porque os mixo são saprófitas e os Plasmodiophoromycota são parasitas e porque 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 72 11/06/2013 11:26:5473OS REINOS DOS FUNGOS ambos os grupos são muito homogêneos. Outros grupos próximos são os Acrasiomycota e os Labyrinthulomycota. Em Ainsworth et al. (1973) encontra-se chave para a diferenciação desses quatro grupos, entretanto, como classes. Alexopoulos & Mimis (1979) apresentam os Myxomycetes, Pro- tosteliomycetes e Acrasiomycetes na divisão Gymnomycota, sendo os Plasmodiophoromycetes posicionados entre os Mastigomycota, subdivisão Haplomastigomycotina e reconhecidos como uma ordem - Plasmodiophorales, com uma família- Plasmodiophoraceae. Waterhouse (1973) reconhece dez gêneros, a saber: Plasmodiophora Woronin, Tetramyxa Goebel, Octomyxa Couch, Leitner & Whiffen, Sorospha- era Shroet., Sorodiscus Lagerheim & Winge, Spongospora Brunch, Ligniera Maire & Tayson, Woronina Cornu, Polymyxa Ledingh. e Membranosorus Ostenf. & Peters. (este último é de posição duvidosa). Hawksworth et al. (1983) citam 16 gêneros (além de 9 sinonímias) na família e um total de 45 espécies. Karling (1968) apresenta um estudo geral de todas as espécies descritas para o grupo até a data. Hawksworth et al. (1995) consideram os Plasmodiophorales subdivi- didos em duas famílias: - Endemosarcaceae: somente Endemosarca L. S. Olive & Erdos, com três espécies de ampla distribuição. - Plasmodiophoraceae: com 13 gêneros e 42 espécies. Nove destes gêneros são diferenciados na chave abaixo. Kirk et al. (2008) reconhecem as mesmas famílias. CHAVE PARA AS FAMÍLIAS DE PLASMODIOPHORACEAE: 1.1 Endoparasitas de protozoas ciliados; inicialmente osmotróficos; divisão nu- clear não cruciforme ..........................ENDEMOSARCACEAE (1 gên, 3 spp.) 1.2 Endoparasitas de células vegetais e fúngicas; fagotróficos desde o início; divisão nuclear cruciforme .................................. PLASMODIOPHORACEAE (13 gên., 44 spp.) CHAVE PARA GÊNEROS PRINCIPAIS DE PLASMODIOPHORACEAE: 1.1 Cistos (esporângios de resistência) não unidos em cistosoros, mas per- manecendo isolados na célula do hospedeiro, lisos ou ornamentados (Figura 21); causam hipertrofia ........................................................Plasmodiophora 1.2 Cistos unidos em cistosoros ou não formados; causam hipertrofia ou não .......................................................................................................................... 2 2.1 Cistos ausentes............................................................................................ 3 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 73 11/06/2013 11:26:54 74 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE 2.2 Cistos presentes e em cistosoros ................................................................ 4 3.1 Parasita de várias plantas vasculares marinhas, causando hipertrofia .......... ........................................................................................................... Tetramyxa 3.2 Em vários hospedeiros, mas não causando hipertrofia ............... Ligniera 4.1 Cistos em grupos de dois a oito, raramente alguns simples .................. 5 4.2 Cistos unidos em cistosoros multiesporados ......................................... 6 5.1 Cistos em grupos de dois a quatro, parasitas de Angiospermae aquáticas marinhas .........................................................................................Tetramyxa 5.2 Cistos em grupos de oito, parasitas de Saprolegniales (Figura 08 i) .......... ..... ............................................................................................................ Octomyxa 6.1 Cistosoros discoides, esféricos ou elipsoides, com cistos proximamente dispostos ...................................................................................................... 7 6.2 Cistos se proximamente dispostos, formando cistosoros irregulares ou perfurados .................................................................................................... 8 7.1 Cistosoros predominantemente esféricos ou elipsoides ......Sorosphaera 7.2 Cistosoros discoides, formando esfera achatada em ambos os polos (Fi- gura 08 j) .......................................................................................Sorodiscus 8.1 Cistosoros perfurados por fissuras ou canais ....................... Spongospora 8.2 Cistosoros inteiros .......................................................................................9 9.1 Parasitas de fungos ou algas (Figura 08 h) ............................... Woronina 9.2 Parasitas de Angiospermae ...................................................................10 10.1 Esporângios com 4 - 10µm de diâmetro, numerosos, não formando tubos de descarga........................................................................................ Ligniera 10.2 Esporângios maiores, formando longos tubos de descarga (Figura 08 f-g) ..........................................................................................................Polymyxa 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 74 11/06/2013 11:26:54 75OS REINOS DOS FUNGOS ORDENS DE POSIÇÃO INCERTA ORDEM ECCRINALES A estrutura somática dos Eccrinales é pouco desenvolvida. É formada por uma hifa cenocítica larga, ramificada ou não, reta ou espiralada, com parede apresentando celulose. A parte basal da hifa tem “holdfast” em forma de disco, por meio do qual se fixa ao trato intestinal de artrópodos de água doce e marinha. A reprodução assexuada ocorre por meio de esporangiosporos. Estes podem ser: - multinucleados: formados em esporângios que se dispõem livre- mente e se acham separados por paredes transversais. Os esporos maduros são multinucleados (4 - 8) e cada um sai através de uma papila da parede do esporângio. Podem germinar dentro do intestino do hospedeiro, servindo assim como meio para formar endogenamente muitos talos. - uninucleados: se formam similarmente aos multinucleados, porém são mais curtos e permanecem uninucleados. Alguns produzem uma parede grossa. Estes esporos percorrem o trato digestivo e podem infectar outros indivíduos que os ingerirem (após serem liberados). A reprodução sexual é desconhecida. Alexopoulos (1971) refere que em algumas espécies se fala de fusão de protoplastos. Esta ordem é delimitada em três famílias. CHAVE PARA AS FAMÍLIAS DE ECCRINALES: 1.1 Talo produzindo diretamente apenas um tipo de esporo; esporângio às vezes germinando "in situ" .......................................... PALAVASCIACEAE 1.2 Talo produzindo pelo menos dois tipos de esporos; esporângio não germinando "in situ" .................................................................................... 2 2.1 Esporos de infestação primária produzidos em talos que convertem-se inteiramente ou parcialmente em esporângios multisporados ....................... .............................................................................. PARATAENIELLACEAE 2.2 Esporos de infestação primária produzidos isoladamente em séries de esporângios terminais .............................................................ECCRINACEAE FAMÍLIA PALAVASCIACEAE O talo produz um só tipo de esporo; esporângios sempre germinando “in situ”. Compreende um só gênero: Palavascia Tuzet & Manier ex Lichtw., com 3 spp. encontradas em Isopoda e de ampla dispersão. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 75 11/06/2013 11:26:54 76 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE FAMÍLIA ECCRINACEAE Esporos produzidos isoladamente, em séries de esporângios terminais. Abaixo estão relacionados alguns gêneros desta família (total de 14), hospedeiro, dispersão e número de espécies: - Ramacrinella Manier & Ormières (uma espécie em Aphipoda); - Astreptonema Hauptfl. (com 5 spp. em Amphipoda na Europa e USA); - Taeniellopsis R. A. Poiss (3 spp. em Amphipoda, ampla dispersão); - Alacrinella Manier & Ormières ex Manier (2 spp. em Isopoda na França e EUA); - Enteromyces Lichtw. (uma espécie em Decapoda no Chile, Europa EUA e Japão); - Enterobryus Leidy (24 spp. em oleoptera, Diplopoda e Decapoda de ampla dispersão; Eccrina é sinonímia - Figura 33i);- Eccrinidius Manier (uma em Diplopoda na França); - Arundinula L.Léger & Duboscq (6 spp. em Decapoda e de ampla dispersão); - Taeniella L.Léger & Duboscq (uma espécie em Decapoda e de ampla dispersão); - Eccrinoides L.Léger & Duboscq (4 spp. em Isopoda e Diplopoda na Europa); - Enteropogon Hibbits (duas espécies em Decapoda nos EUA); - Paramacrinella Manier & Grizel (uma espécie em Amphipoda na França). FAMÍLIA PARATAENIELLACEAE O talo converte-se parcial ou inteiramente em esporângios multies- porados. Compreende 3 gêneros, a saber: - Parataeniella P. Poiss (6 spp. em Isopoda); - Lajassiella Tuzet & Manier ex Manier (uma espécie em Coleoptera na França). - Nodocrinella Scheer: uma espécie em Isopoda na Alemanha (nomen dubium). ORDEM AMOEBIDIALES Apresentam talo simples, com hifas cenocíticas. São holocárpicas, parede sem celulose e sem quitina. No gênero Amoebidium, ocorrem galac- tose, proteínas e talvez hemicelulose na parede. Produzem células ameboides e geralmente esporangiosporos rígidos. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 76 11/06/2013 11:26:55 77OS REINOS DOS FUNGOS São encontrados no reto de vários insetos aquáticos (de água doce) e exter- namente, presos ao exoesqueleto. É formada por uma única família, Amoebidiaceae e dois gêneros: Amo- ebidium Cienk. (5 spp. em Crustacea e Insecta - Figura 33-g) e Paramoebidium L. Léger & Duboscq (10 spp. em Diptera, Ephemeroptera e Plecoptera e de ampla dispersão - Figura 33-f). O primeiro é caracterizado pela presença de células ameboides e esporangiosporos rígidos, enquanto que o segundo só possui células ameboides. Figura 33- Esporângios e esporangiosporos ou tricosporos de alguns gêneros de Trichomycetes. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 77 11/06/2013 11:26:55 78 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE REINO CHROMISTA O Reino Chromista compreende os filos Hyphochytridiomycota, La- byrinthulomycota e Oomycota. Esses são agrupados nesse reino em função do tipo de constituintes da parede celular (celulose frequente e ausência de β-glucano e quitina), do tipo de nutrição (absorbtiva nos fungos) e por apre- sentarem cristas mitocondriais e mastigonemas flagelares tubulares. A água é ambiente apropriado ao desenvolvimento de fungos. Dentre esses, a grande maioria pertence aos chamados “fungos aquáticos”, antiga- mente denominados Phycomycetes ou, mais recentemente, Mastigomycota. Muitas espécies desta antiga Divisão são também encon tradas em solo e restos orgânicos. Podem ser saprófitas ou parasitas; neste último caso tanto de plantas e animais aquáticos, como de terrestres. Fungos também podem ser parasitados (Figura 13 - Rozella, Rozellopsidales). Como parasitas de algas (Figura 03a; 13) são considerados muito importantes, visto que podem provo- car epidemias que reduzem drasticamente as populações (CANTER; LUND, 1948; CANTER, 1951, 1953). Myzocitium (Myzocitiopsidales - Oomycota) é um exemplo de fungo parasita de algas e também encontrado no Brasil. A divisão Mastigomycota reconhecida por Alexopoulos & Mims (1979) tem representantes atualmente agrupados em 3 reinos diferentes. Englobava os fungos que formam zoosporos (esporos móveis por flagelo - Figura 10) e reproduzem-se sexuadamente por diversas formas (ver ciclo resumido, Figura 04), resultando na formação de um oosporo, apesar de muitas espécies ainda não terem esta conhecida (Figura 11a-d). A metodologia para a obtenção desses organismos é explicada na Figura 11-B. Utilizando-se exclusivamente água de diversas fontes, ou mesmo de água “enriquecida” com restos vegetais e/ou animais imersos ou flutuantes, consegue-se isolar facilmente fungos aquáticos. Levando o material ao laboratório, coloque-o em placas de petri ou outro recipiente qualquer, adicionando uma ou mais das seguintes “iscas”, dependendo do tipo de fungo que se pretende isolar: cabelo de crianças (de preferência loiro), papel celofane, sementes de sorgo ou outras, ecdizes de artópodos ou mesmo de cobras, etc. (Figura 11B). A grande maioria das espécies é cosmopolita, sendo o endemismo pouco frequente (MILANEZ, 1982). Assim sendo, em trabalhos com taxo- nomia com fungos Chromista do Brasil, pode-se utilizar pesquisas realizadas em qualquer continente, pois a maioria das espécies será a mesma (talvez apenas com proporções de ocorrência diferentes). Dentre essas, são impor- tantíssimas as publicações de Sparrow (1959; 1960; 1968a; 1968b; 1973a; 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 78 11/06/2013 11:26:55 79OS REINOS DOS FUNGOS 1973b; 1973c), Johnson (1956; 1976), Scott (1961), Karling (1964; 1977), Dick (1973a; 1973b), Waterhouse (1963; 1967; 1968; 1970; 1973a; 1973b), Seymour (1970), entre outros. Infelizmente o grupo tem sido pouco estudado no mundo, sendo essa realidade a mesma no Brasil. Em nosso País, a grande maioria dos trabalhos publicados foram desenvolvidos pelo Dr. Adauto Ivo Milanez no Instituto de Botânica de São Paulo, alguns em coautoria com outros micólogos. Dentre esses pode-se citar: Milanez (1965; 1968; 1969; 1970; 1977; 1981; 1984a; 1984b; 1984c; 1986), Lyra & Milanez (1974), Milanez & Trufem (1981; 1984), Schoenlein - Crusius & Milanez (1989), Grandi & Milanez (1983), Pelizon & Milanez (1979), Milanez & Do Val (1969). Outros pesquisadores que se dedicaram ao estudo de fungos aquáticos brasileiros foram Beneke & Rogers (1962; 1970), Rogers & Beneke (1962), Rogers et al. (1970), Furtado (1965), Joffily (1947), Upadhyay (1967), Viegas & Teixeira (1943), Valdebenito-Sanhueza et al. (1984), entre outros. A diferenciação dos filos dessa ordem está na chave para filos de fungos em geral, apresentada no início deste livro. Milanez et al. (2007) apresentam lista de fungos zoospóricos citados para o Brasil, referindo a ocorência de 4 espécies de Hyphochytridiomycota, 4 de Labyrinthulomycota e 187 de Oomycota. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 79 11/06/2013 11:26:55 80 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Figura 10- A- Diferentes tipos de zoosporos de Hyphochytridiomycota, Oomy- cota e Chytridiomycota; a - b: posteriormente uniflagelados (flagelo tipo chicote de Chytridiomycota); c- anteriormente uniflagelado (flagelo tipo franjado de Hyphochytridiomycota); d- biflagelado, flagelos inseridos lateralmente (um do tipo chicote e outro franjado de Oomycota); e- biflagelado, com flagelos inseridos apicalmente (zoosporo primário de Saprolegniales); f- biflagelado, com flagelos de tamanhos diferentes, anteriores, do tipo chicote. B- Relações oogônio (esfera apical) / anterídio (pontilhado): a- hipógino ou andrógino (com oosporo plerótico = círculo com linha mais larga); b- paragino (com oosporo aplerótico); b-c-e- monóclino; d- díclino; f- anfígeno; g- com dois monóclinos, um deles andrógino. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 80 11/06/2013 11:26:55 81OS REINOS DOS FUNGOS Figura 11 - A - Estruturas formadas na reprodução sexuada e/ou assexuada dos Oomycota e Chytridiomycota: a-d- reprodução sexuada com formação de oogônio (esfera - feminino) e anterídio (braço lateral conectante - mascu- lino) em quatro tipos de fecundação. e-m: diferentes formas de esporângios, produção e liberação de zoosporos; e- Rhizophydium; f- Novakowskiella; g- Plasmodiophora; h-Monoblepharis; i-Dictyuchus; j- Rhizidiomyces; k- Pythium; l- Plasmopara. B- Metodologia de coleta e isolamento de fungos aquáticos utilizando-se iscas: a- coleta de água e de restos vegetais e animais (artrópodos) submersos ou flutuantes; b- transporte ao laboratório; c- transferência da água e dos restos para placas de petri; d- adição de sementes (sorgo) previamente cozidas (em “e”) e partidas (em “f ), de fios de cabelo (de crianças e claros- ver “g”) e/ou pequenos quadrados (2mm) de papel celofane (ver “h”) lavados previamente em álcool (em “i”). Ecdizes de artrópodos e de cobras; folhas de grama secas também podem ser utilizadas para o isolamento (em “j”); sempre ferver. Re- piques para placas novas com mais isca garantemmaterial para mais tempo. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 81 11/06/2013 11:26:56 82 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Figura 12 - a-c Tipos de talo: a: talo monocêntrico sem rizoides; b: talo monocêntrico com rizoides; c: talo policêntrico. d- talo epibiótico (estrutura reprodutiva fora do substrato que está representado pelo retângulo); e- talo endobiótico (talo todo dentro do substrato); f- talo holocárpico (todo o talo se transforma em estrutura reprodutiva); g- talo eucárpico; h-i- zoosporângio imaturo e maduro de Endochytrium (notar o opérculo em “i”); j- com apófise (seta). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 82 11/06/2013 11:26:56 83OS REINOS DOS FUNGOS FILO HYPHOCHYTRIOMYCOTA A característica deste grupo é a presença de um flagelo anterior do tipo tinsel. O talo pode ser holocárpico ou eucárpico, muito similar às espécies de Chytridiomycetes. Nos holocárpicos o talo é endobiótico e converte-se em um zoosporângio. Nos eucárpicos, o talo é formado por um órgão reprodutivo único, com rizoides, ou pode ser policêntrico, quando também pode apresen- tar hifas ramificadas com alguns septos (Figura 21c). Os zoosporângios são inoperculados, formando tubos de descarga para liberar os zoosporos (Figura 21b). Estes germinam formando novo talo. A parede celular contém quitina, apesar de encontrar-se celulose em alguns. A reprodução sexuada é conhecida apenas em 60 % das espécies segundo Dick (2001). Os Hyphochytridiomycetes têm uma ordem, Hyphochytriales, dividida em três famílias, de acordo com Alexopoulos & Mims (1979): Anisolpidia- ceae, Rhizidiomycetaceae e Hyphochytriaceae. Hawksworth et al. (1995) reconhecem somente as famílias Hyphochytriaceae (com 3 gêneros e 8 spp.) e Rhizidiomycetaceae (com 3 gêneros e 15 spp.). São principalmente sapró- fitas ou parasitas de fungos aquáticos, de algas de água doce e marinhas. Esses autores enquadram as Anisolpidiaceae em Oomycota, exceto o gênero Canteriomyces, mantido entre as Hyphochytriaceae. São fungos de ampla dispersão. Hyphochytrium Zopf, o gênero-tipo, tem 6 espécies conhecidas de áreas temperadas do Hemisfério Norte. Latrostium Zopf (Rhizid.) é monotípico, sendo o único da família Rhizidiomycetaceae a formar esporo de resistência; é encontrado apenas na Europa. Rhizidiomyces Zopf tem 12 espécies parasitas de fungos e algas, sendo de ampla dispersão. O caracter que unifica o grupo é o flagelo straminipilo anteriormente inserido e único. O autor sugere duas ordens para o filo (Hyphochytriales com as famílias Hyphochytriaceae e Rhizidiomycetaceae e a ordem Anisolpidiales com Anisolpidiaceae) sugerindo uma classe (Hyphochytriomycetes) e uma subclasse (Hyphochytriomycetidae) de acodo com o que a biologia molecular tem obtido em resultados. A subclasse poderia ser abrigada em Peronosporomycetes segundo o mesmo autor. Rhizidiomyces apophysatus é uma das espécies melhor conhecidas, tendo sido isolada de águas de nossa Amazônia, inclusive (ver cilco de vida na Figura 28 B). Nessa espécie, os zoosporos, de origem assexuada, nadam por algum tempo, arredondam-se, formam um inchaço junto ao flagelo (o qual é retraído) e encistam. Ocorrem divisões nucleares resultando no alargamento do talo, que germina sobre o hospedeiro (que pode ser fungo Saprolegniaceae ou alga Vaucheria). O tubo germinativo penetra no mesmo e ramifica-se, 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 83 11/06/2013 11:26:56 84 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE formando rizoides. Um inchaço é então formado no tubo germinativo, dentro da célula do hospedeiro, junto à parede onde ocorreu a penetração. Com o amadurecimento do zoosporângio, o qual constitui-se apenas no cisto original do zoosporo, ocorre a formação de uma papila e dessa um tubo germinativo longo. Todo o protoplasto segue por esse tubo formando uma vesícula em seu ápice. Nessa vesícula ocorre finalmente a diferenciação dos zooporos. Somente Rhizidiomycetaceae ocorre no Brasil (MILANEZ et al. 2007). CHAVE PARA AS FAMÍLIAS DE HYPHOCHYTRIALES: 1.1 Talo holocárpico, endobiótico; zoosporos formados dentro ou fora do zoosporângio (Figura 21g,h)..............ANISOLPIDIACEAE (=OOMYCOTA?) 1.2 Talo eucárpico .............................................................................................2 2.1 Talo monocêntrico; zoosporos formados dentro ou fora do esporângio (Fi- gura 11 A - j; 21 a,e) .............................................RHIZIDIOMYCETACEAE 2.2 Talo policêntrico (Figura 21 b,c,d,f) .....................HYPHOCHYTRIACEAE FAMÍLIA ANISOLPIDIACEAE Talo endobiótico, holocárpico, sem um sistema vegetativo especializado, convertido inteiramente em zoosporângio ou esporo de resistência; zoospo- ros formados dentro ou fora do zoosporângio, anteriormente uniflagelados, descarregados através de um ou mais tubos; esporo de resistência de parede grossa, endobiótico, formado via sexual ou assexual. HAWKSWORTH et al. (1995) incluem Canteriomyces entre as Hypho- chytriaceae e a família Anisolpidiaceae entre os Oomycota. A família contempla dois gêneros: Anisolpidium com 6 espécies e Canteriomyces com uma (C. stigeoclonii crescendo sobre Drapanaldia). Melhoa em Hyphochytriaaceae. Kirk et al. (2008) referem Anisolpidiaceae como Chromista de posição incerta. CHAVE PARA OS GÊNEROS DE ANISOLPIDIACEAE: 1.1 Zoosporos formados dentro do zoosporângio; parasitas de algas ma- rinhas (Figura 21 g)....................................................................................... Anisolpidium 1.2 Zoosporos formados fora do zoosporângio; parasita de algas de água doce (Stigeoclonium e Draparnaldia) (Figura 21 h) .......................Canteriomyces (=Hyphochytriaceae) 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 84 11/06/2013 11:26:56 85OS REINOS DOS FUNGOS FAMÍLIA RHIZIDIOMYCETACEAE Talo eucárpico, monocêntrico, composto de uma parte fértil extrama- trical apofisada ou não apofisada contendo um sistema rizoidal ramificado; zoosporângio apofisado ou não, liso ou ornamentado com espinhos, em geral formando um tubo de descarga de 40 micrômetros em média; zoosporos an- teriormente uniflagelados, formados dentro ou fora do zoosporângio, neste último caso às vezes ficando dentro de uma vesícula e/ou no orifício do tubo de descarga; esporo de resistência, quando conhecido, de parede grossa. Engloba 3 gêneros parasitas de oogônios de fungos aquáticos e es- truturas reprodutivas de algas, além de algumas espécies ocorrerem como saprófitas no solo. Têm sido isolados utilizando-se iscas como sementes de cânhamo, grãos de pólen, esporos de samambaias ou observando-se diretamente fungos e algas parasitados de acordo com Czeczuga e Muszycska (1999). Para Rhizidiomyces são reconhecidas 13 espécies de acordo com Marano & Steciow (2006). Hawksworth et al. (1995) consideram Rhizidiomy copsis sinonímia de Rhizidiomyces, e reconhecem ainda o gênero Reessia C. Fisch (duas spp. europeias) - em Lemna. Entre 4 espécies citadas para o Brasil no gênero Rhizidiomyces, Rhizidiomyces apophysatus é citada para São Paulo por Milanez (1965) parasitando oogônio de fungo Saprolegniaceae e R. hirsutus foi isolado no Acre por Karling (1945) utilizando-se sementes de cânhamo. As mesmas espécies são citadas para a Argentina por Marano & Steciow (2006) parasitando oogônios de Achlya. Rhizidiomyces Bivellatus (AM, RO) e R. Hansonii (AM, RO) também ocorrem no Brasil (MILANER et al., 2007). CHAVE PARA GÊNEROS DE RHIZIDIOMYCETACEAE: 1.1 Zoosporos sofrem clivagem no orifício apical de um estreito tubo de des- carga (Figura 11 A-j; 28 B - ciclo) .............................................Rhizidiomyces 1.2 Zoosporos formados dentro do zoosporângio .........................................2 2.1 Zoosporângio epibiótico sobre o oogônio de fungos aquáticos, apofisado, com um poro apical (Figura 21 e) ....... Rhizidiomycopsis (Sinonímia do anterior) 2.2 Zoosporângios formados sobre oogônios de Vaucheria; apófise não for- mada; com poro lateral grande (Figura 21 a) ..............................LatrostiumFAMÍLIA HYPHOCHYTRIACEAE Talo eucárpico, policêntrico, consistindo de hifas largas, ocasionalmente com paredes transversais; zoosporângios inoperculados, terminais ou interca- lares; zoosporos formados dentro ou fora do zoosporângio, neste último caso junto ao orifício do tubo de descarga; esporos de resistência de parede grossa. Um único gênero pertence a esta família, Hyphochytrium (Figura 21 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 85 11/06/2013 11:26:56 86 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE b,c,d,f), cujas espécies parasitam algas (Chara, Nitella), fungos superiores (Helotium), podendo ser também saprófitas em restos vegetais. Hawksworth et al. (1995) incluem nesta família os gêneros Canteriomyces Sparrow com uma espécie parasita de algas de água doce na Europa e América do Norte e Cystochytrium Ivimey Cook, com uma espécie parasita de raízes de Veronica na Europa, ao que concordam Kirk et al. (2008). FILO LABYRINTHULOMYCOTA “(Labyrinthista)” São organismos com forma de fuso ou ovoides interconectados por fila- mentos gelatinosos dentro ou sobre os quais migram. São os únicos organismos que têm como organela os botrossomos (sagenogen ou sagenogenetossomo). Essa organela encontra-se invaginada na superfície da célula permitindo a conexão da membrana plasmática à membrana da rede e é duplicada a cada mitose e citocinese da célula durante a reprodução sexuada. Zoosporos quando presentes, com dois flagelos, um com mastigonemas. Reprodução sexuada conhecida para algumas espécies. Células uni a multinucleadas. São aquáticos, principalmente marinhos, associados como parasitas ou saprófitos de algas (como Ulva) ou parasitas de Angiospermas (como Labyrinthula em Zostera spp. no Atlântico Norte) ou mesmo terrestres. Já foram cultivadas utilizando-se meios agar com bactérias e leveduras. A posição sistemática deste filo foi muito controversa, havendo posicio- namentos em filos, reinos e grupos diferentes de autor para autor. Honigberg et al. (1964) consideraram o grupo uma ordem (Labyrinthulida) na classe Rhizopodea. Corliss (1984) considera o filo Labyrinthulea de Cienkowski (1867) o válido entre 45 filos reconhecidos para Protista. Cavalier-Smith (1993) reconhece neste reino (Protozoa) 18 filos, incluindo Heterokonta, no qual reconhece um Subfilo Labyrinthista com a classe Labyrinthulea e Subclasses Thraustochytridae e Labyrinthulidae. Cavalier-Smith et al. (1994) clonaram e sequenciaram o gene 18s RNAr de Thraustochytrium kinnei e concluiram que o grupo constitui-se num ramo muito divergente do Filo Heterokonta do Reino Chromista. Cavalier-Smith (1998) reconhece o Filo Sagenista com o Subfilo Labyrinthista, mostrando como um mesmo autor modifica rapidamente sua visão deste grupo. Patterson (1999) coloca o grupo entre os Straminipila, nos clados Labyrinthulida e Thraustochytrida. Kirk et al. (2008) identificaram duas ordens. De acordo com Hawksworth et al. (1995), esse filo apresenta uma única ordem e duas famílias: Labyrinthulaceae e Thraustochytriaceae. (Esta ocorre no Brasil) CHAVE PARA AS FAMÍLIAS DE LABYRINTHULOMYCOTA: 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 86 11/06/2013 11:26:56 87OS REINOS DOS FUNGOS 1.1 Células tróficas embebidas no interior de uma rede ectoplásmica, uni- nucleadas (Figura 21 i) ........................................ LABYRINTHULACEAE (Labryrinthulales) 1.2 Células tróficas superficiais à rede ectoplásmica, multinucleadas (Figura 21 j) ....................................................................THRAUSTOCHYTRIACAEAE (Thraustochytriales) ORDEM LABYRINTHULALES FAMÍLIA LABYRINTHULACEAE As células fusoides ou ovadas migram neste grupo, por entre os fila- mentos da rede. Reprodução assexuada ocorre por fissão binária, com o aparato de clivagem no princípio sendo transversal e então mudando de posição para tornar-se diagonal. A célula aumenta e pode romper o filamento da rede onde se encontra, assim que a clivagem for completada, sendo as células resultantes dispersas pela água e podendo formar, então, novas colônias. As células são cobertas por escamas ultramicroscópicas, derivadas do complexo de Golgi, formando uma a duas camadas. Esses organismos têm sido isolados primariamente de ambientes ma- rinhos, apesar de alguns já terem sido encontrados em ambientes terrestres. No ambiente marinho são encontrados associados com Angiospermas como Thallasia, Spartinia e Zostera, com algas e com detritos. Uma das maiores importâncias relativas a esses fungos é o ataque à Angiosperma Zostera mari- tima, por Labyrinthula zosterae. Essa planta serve como ponto de reprodução e alimentação para estágios larvais de camarão, ostras e outros organimos aquáticos. Entretanto, na década de 30 ocorreu um rápido e catastrófico declínio dessa planta em função do ataque desse fungo e os estudos conclusivos, que só surgiram em 1988, culminaram com a identificação da espécie causadora: L. zosterae (MUEHLSTEIN et al., 1991). Compreende o gênero Labyrinthula com 12 espécies. CICLO DE VIDA: As células fusiformes ou ovais (assim apenas em Labyrinthula minuta), uninucleadas (núcleo com um nucléolo), iniciam divisões mitóticas transver- sais ou oblíquas formando uma massa de poucas células, cada uma iniciando secreção de um filamento longo e gelatinoso, o qual se interconecta com outros, originados por outras células, até formar um reticulado característico. Através dos filamentos as células vão se deslocando, geralmente numa mesma direção. Ao acumularem-se na periferia da rede, secretam novos filamentos e continuam a deslocar-se perpetuando o retículo. Num determinado estágio as células se agregam e formam um envoltório rígido, originando o chamado 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 87 11/06/2013 11:26:56 88 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE soro. Ao romper-se a parede, são liberadas algumas células esféricas, as quais se alongam, dividem, formam os filamentos e originam novos retículos. Em Labyrinthula algeriensis foram encontrados zoosporos biflagelados, um flagelo mais curto em relação ao outro. Nessa espécie, numerosas células se acumulam em certos locais dos filamentos, alargando-se e formando um esporocisto, no qual são formados grupos de seis, oito ou mais esporos. Esses são liberados na forma de zoosporos, os quais originam novas colônias. ORDEM THRAUSTOCHYTRIALES FAMÍLIA THRAUSTOCHYTRIACEAE Talo epi- e endobiótico, monocêntrico, eucárpico, com características quitridiáceas (que lembram Chytridiomycota - Figura 21 j), com a parte epibi- ótica composta pelo esporângio e a parte endobiótica composta por “sistema rizoidal” (nome que não é mais apropriado - ver abaixo) e às vezes também por uma apófise; na maioria das espécies o talo é uma pequena estrutura globosa envolta por uma parede que é composta por camadas de escamas ultrafinas derivadas do complexo de Golgi; o talo fixa-se ao substrato através de filamentos formados a partir da rede ectoplásmica; esta emana da parte basal do talo e parece ser formada a partir de um ou mais botrossomos, estes similares aos encontrados em Labyrinthulaceae (só não envolvem todo o talo como ocorre nesta família); zoosporos formados dentro do esporângio (derivado diretamente do talo somático), liberados como corpos flagelados (lateralmente biflagelados); depois de nadarem por determinado tempo, instalam-se sobre um substrato adequado, perdem os flagelos e alargam-se para formar um talo novo. Em Aplanochytrium e Labyrinthuloides os esporos formados não têm flagelos, movendo-se por sobre a superfície de redes ectoplásmicas individuais que cada um produz. Esporos de resistência e reprodução sexuada ainda não foram encontrados entre os seus representantes. Algumas espécies são bactívoras e outras ocorrem sobre algas mari- nhas; outras são saprófitas em restos orgânicos ou ocorrem como parasitas necrotróficos de moluscos sem concha, como nudribrânquios e polvos. As espécies são cosmopolitas ocorrendo em todos oshabitats marinhos e estua- rinos. São quimio-organotróficos, cuja taxonomia é baseada em grande parte nos diferentes estágios de desenvolvimento do ciclo de vida. Diferem dos fungos verdadeiros também por apresentar paredes celulares multilameladas formadas por escamas circulares derivadas dos dictiossomos e consistindo de polissacarídeos sulfatados ao invés de microfibras de quitina dos fungos. Seus rizoides são extensões da membrana plasmática associados com a or- ganela sagenogenetessoma (=bothrossoma) e são denominados de elementos de rede ectoplásmica. Goldstein (1973) já reporta o grupo como importante 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 88 11/06/2013 11:26:56 89OS REINOS DOS FUNGOS no ecossistema marinho em especial por serem comuns em águas litorâneas poluídas, pela competição com bactérias marinhas e por serem parte integrante dos ciclos da tiamina e da vitamina B12 nos oceanos.” As traustoquitrídeas geralmente têm um estágio séssil que é fixo a superfíceis marinhas onde elas se alimentam utilizando-se da rede ectoplásmica. São componentes impor- tantes do microplânkton, podendo atingir 43% do volume total deste. Por consumirem bactérias são importantes na cadeia alimentar, também pelas decomposição de matéria vegetal e de sedimentos e pela bioerosão de carbo- natos. Recentemente descobriu-se que as traustoquitrídeas contêm substâncias nutricionalmente importantes como carotenos e ácidos graxos poliinsaturados omega 3 (AMON; FRENCH, 2004). Porter (1990) reconhece 7 gêneros e pelo menos 30 espécies, ao passo que Hawksworth et al. (1995) reconhecem 10 gêneros e 36 spp., a saber: Althornia E. B. G. Jones & Alderman (uma espécie do Reino Unido, Althornia crouchii, a única do grupo que não forma rede ectoplásmica), Aplanochytrium Bahnweg & Sparrow (com 8 espécies marinhas, inicialmente encontradas nas Ilhas Kerguellen e do continente An- tártico), Coralochytrium Raghuk (uma espécie do Mar da Arábia), Diplophrys J. S. F. Barker (duas espécies do Norte temperado), Elina N. J. Artemczuk (duas spp. coletadas na antiga União Soviética), Japonochytrium Kobayasi & M Ôkubo (uma espécie sobre Gracilaria no Japão), Labyrinthuloides F. O. Perkins (4 spp. da América do Norte), Schizochytrium S. Goldst & Belsky (4 spp. marinhas de ampla dispersão), Thraustochytrium Sparrow [16 spp. sobre algas marinhas, de ampla dispersão, com chave para 14 espécies encontradas em Bongiorni et al. (2005)], Ulkenia A. Gaertn. (6 spp. coletadas na Europa). Labyrinthuloides é considerado sinonímia de Aplanochytrium de acordo com Leander & Porter (2000). Coralochytrium talvez pertença aos Choanozoa e Diplophris ainda é considerado nesta família de acordo com Kirk et al. (2008). Yokoyama et al. (2007) reportam que Ulkenia não é um taxa natural, mas forma 4 grupos monofiléticos, os quais foram separados em outros três gêneros: Ulkenia sensu stricto, Botryochytrium, Parietichytrium, e Sicyoidochytrium. Além destes, outros 5 gêneros são reconhecidos na família, a saber Althornia, Japonochytrium, Schyzochytrium, Thraustochytrium e Ulkenia (DICK, 2001). Milanez et al. (2007) referem Schyzochytrium aegaecatum (SA) e 3 espécies de Thraustochytrium para o Brasil. CHAVE PARA ALGUNS GÊNEROS DE THRAUSTOCHYTRIACEAE: 1.1 Rede ectoplásmica ausente .......................................................... Althornia 1.2 Rede ectoplásmica presente ........................................................................ 2 2.1 Apófise presente ................................................................. Japonochytrium 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 89 11/06/2013 11:26:56 90 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE 2.2 Apófise ausente ........................................................................................ 3 3.1 Células maduras formam primeiro uma célula ameboide, antes da divisão em zoosporos ............................................................ Ulkenia (e demais gêneros) 3.2 Células maduras não formam uma célula ameboide antes dos zoosporos ....4 4.1 Células maduras dividem-se diretamente em zoosporos biflagelados ........... ................................................................................... Thraustochytrium 4.2 Células maduras apresentam repetidas divisões binárias.....Schyzochytrium FILO OOMYCOTA O filo Oomycota é o único da subdivisão Diplomastigomycotina re co- nhecida por Alexopoulos & Mims (1979), diferenciando-se da Haplomasti- gomycotina (que engloba Chytridiomycetes na concepção desses autores) por apresentar ciclo de vida haplobiôntico-diploide e meiose gametangial. Outro caracter marcante é a presença de dois flagelos nos zoosporos (Figura 10). Dados sobre representantes deste grupo podem ser encontrados em Sparrow (1969). Ilustrações de algumas espécies estão expostas na Figura 13. Os ciclos de vida estão no conjunto de ilustrações, por ordem. O talo dos representantes deste filo pode ser micelial, polar, blástico, coraloide, alantoide ou elipsoide, raramente formando um plasmódio ou pseudomicélio. Os Oomycetes são fungos cosmopolitas encontrados nos ambientes terrestres e aquáticos (principalmente), tanto marinho como continental. Umas poucas espécies são anaeróbicas, a maioria são saprófitas e algumas podem ser parasitas principalmente de seres aquáticos, especialmente algas, outros fungos, nematoides, larvas de mosquito e de outros artrópodes, além de peixes (poucas espécies) e seus ovos. Pythium insidiosum (isolado do solo) causa a pitiose em mamíferos (cavalos, cães, gatos e humanos). Entre os fitopatógenos têm-se, como mais importantes, os míldios, podridões de vários órgãos de plantas como raízes e frutas, tombamento em mudas, a ferrugem branca e a requeima. Nesses parasitismos as hifas podem ser intra e/ou intercelulares no crescimento. Formam ou não haustórios. Incluem organismos uni ou pluricelulares, holocárpicos ou eucárpicos, formados por hifas cenocíticas; septos raramente presentes e para delimitar estruturas de reprodução ou em hifas velhas (grupos como Myzocitiopsidales tem septos que desarticulam as células). Apesar de serem microscópicas, o seu crescimento pode ser tão extensivo que a massa micelial pode ser perfeitamente visível à vista dasarmada sobre o substrato em que se desenvolve a espécie. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 90 11/06/2013 11:26:56 91OS REINOS DOS FUNGOS Grande número de vesículas são encontradas nos ápices hifálicos, provavelmente estando envolvidos no crescimento apical, onde encontra-se também um sistema citoesquelético de microtúbulos e filamentos de actina. As mitocôndrias apresentam cristas tubulares e os complexos de Golgi con- sistem de cisternas achatadas múltiplas. Vacúolos especializados também estão presentes, típicos deste filo por apresentarem, em certos estágios do desenvolvimento, um material eletrodenso que forma ranhuras lamelares paracristalinas que lembram um padrão de impressão digital. Divisões mitóticas são intracelulares e cêntricas, mantendo-se a carioteca íntegra até o fim da divisão. A parede celular é composta principalmente por β- 1,3 e β-1,6 glucano e celulose, mas quitina já foi referida para espécies de “Leptomitales”, Achlya e Saprolegnia. Além desses, a hidroxipolina (um aminoácido) também é encontrada na parede celular. A reprodução sexual ainda é desconhecida em algumas, mas nas demais quase sempre é heterogâmica, podendo todo o talo agir como game tângio, ou porções desse diferenciar-se em estruturas hifálicas globosas ou quase assim, denominadas oogônios (feminino). O anterídio conecta-se ao oogônio (com a participação de hormônios) pela formação de tubos de fertilização. O núcleo masculino é injetado na oosfera, fundindo-se ao núcleo feminino. Forma-se um oosporo de parede grossa, ornamentado ou não. Segundo a forma como o anterídio conecta-se ao oogônio têm-se os seguintes tipos: hipógino, mo- nóclino, díclino e anfígeno (Figura 10 B). A reprodução assexual ocorre por zoosporos heterocontes(=flagelo franjado, ou do tipo tinsel) na maioria das espécies, os quais são formados em zoosporângios ou em vesícula. Os flagelos são denominados de anisocontes, quando têm tamanhos diferentes. Os zoosporângios podem ser formados a partir de porções intercalares das hifas, as quais apenas se isolam por septos e incham, até a partir de porções apicais com forma definida e que, inclusive, podem formar mais de um esporângio no mesmo ponto do 1° (proliferação); podem ser unicamente apicais, sobre esporangióforos longos ou em cadeias sobre esporangióforos curtos, mas sempre delimitados por septo. Dois tipos de zoosporos podem ser formados (Figura 14): - piriforme com flagelos inseridos na região anterior (= zoosporos primários); - reniforme (ou faseoliforme) com dois flagelos inseridos lateralmente e em direções diferentes (= zoosporos secundários ou principal), a 130°, um do tipo tinsel dirigido para a frente e outro, tipo chicote, para trás. Quando a zoosporogênese ocorrer em vesícula, isto é, numa estrutura extraesporangial na qual ocorre a diferenciação dos zoosporos, pode-se clas- sificar a mesma em três tipos: 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 91 11/06/2013 11:26:57 92 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE - vesícula homo-hílica, isto é, sua parede é contínua e do mesmo material que a esporangial ou corresponde a uma das camadas da parede da mesma; - plasmamembranal: a membrana da vesícula é a mesma membrana que limita o protoplasma dentro do esporângio; - precipitativa: vesícula cuja membrana é formada após a extrusão do protoplasma esporangial nu, mesmo se parcialmente clivado em planon- tes ou não, possivelmente como uma reação de precipitação entre coloides periprotoplásmicos e o ambiente. Cada zoosporo contém um único núcleo piriforme, ocorrendo um par de quinetossomos junto à extremidade afilada, de onde saem os flagelos. Do quinetossomo radiam, para o citoplasma, numerosos microtúbulos e fibras. Um ou dois complexos de Golgi encontram-se localizados na superfície da membrana nuclear. No citoplasma encontram-se também ribossomos, mitocôndrias, corpos lipídicos e vacúolos morfologicamente muito caracte- rísticos por apresentarem-se com um aspecto de “impressão digital”. Livres no citoplasma ou associados a quinetossomos têm-se organelas semelhantes aos microcorpos com matrizes altamente estruturadas. Os zoosporos de algumas espécies são particularmente interessantes. Um exemplo é o de Haptoglossa (incluída por alguns autores na ordem En- tomophthorales de Zygomycota - Figura 28 A-a), que encista e, ao germinar, forma uma estrutura com forma de pera alongada, que funciona como um canhão na captura do hospedeiro específico: rotíferas. Ao contatar com esses organismos pelo cone apical, um projétil é disparado contra o mesmo, inse- rindo uma massa de protoplasma que estabelece um novo sítio de infecção. Nem todos os Oomycota formam zoosporos, visto que em algumas espécies parecem ter sido eliminados de seu ciclo, especialmente nas parasitas obrigatórias de Angiospermas. Entre as características que contribuem para a separação de Oomycota do Reino dos Fungos, têm-se ainda os aspectos bioquímicos. Como exemplos pode-se citar os seguintes: - os Oomycota obtêm o aminoácido lisina via ciclo do ácido diamino- pimélico, tal como as plantas, enquanto que o Reino dos Fungos obtém lisina via ciclo do ácido alfa-aminoadípico; - o filo tem dois grupos quanto à síntese de esterois: os que têm a capacidade de sintetizar esterol a partir de mevalonato e os que não têm essa capacidade. Fucosterol é o principal esterol produzido, o que aproxima esse grupo ao das algas pardas. No Reino Fungi o esterol produzido é o ergosterol, o qual ainda não foi encontrado entre os Oomycota; - a substância de reserva de Oomycota é a micolaminarina (β- 1,3-glu- cano), substância semelhante a laminarina e leucosina, encontradas em alguns 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 92 11/06/2013 11:26:57 93OS REINOS DOS FUNGOS grupos de algas; - Oomycota não formam poliois acíclicos, enquanto os fungos verda- deiros os formam. Alexopoulos & Mims (1979) apresentam os seguintes caracteres como marcantes desse filo: 1- produzem zoosporos biflagelados (com poucas exceções), um deles do tipo franjado, dirigido para frente e outro do tipo chicote, para trás (Figura 10 A-d); 2- suas paredes celulares são constituídas principalmente de glucano, mas também contêm celulose; em algumas espécies há pequenas quantidades de quitina; 3- a reprodução sexuada é oogâmica por contato gametangial (Figura 11 A: a-d); 4- a meiose é gametangial (pelo menos em todas as espécies já estudadas por métodos modernos), com seu núcleo somático sendo, por isso, diploide. Os Oomycota apresentam-se muito diferentes, se relacionados ao reino dos Fungos (Mycetes). Desde o trabalho de Pringsteim (1858) já havia uma tendência a “isolar” o filo, visto que o autor os classifica como algas. Vários outros trabalhos apresentaram tratamento sistemático diferente, a saber: - Copeland (56): relacionados a ALGAS HETEROCONTES. - Cavalier-Smith (1986, 87): Reino Chromista Filo Heterokonta Subdivisão Psedofungi. - Dick (1976, 1990a): Reino Heterokonta Subdivisão Heterokontomycotina. - Margulis et al. (1989): Reino Protista. - Patterson & Sogin (92): Reino Stramenopila. Segundo Sparrow (1960) e Alexopoulos & Mims (1979), a classe Oomycetes é subdividida em 4 ordens: Pythiales, Saprolegniales, Peronos- porales e Lagenidiales. Para Hawksworth et al. (1995), o filo reúne 9 ordens: Leptomitales, Myzocytiopsidales, Olpidiopsidales, Peronosporales, Pythiales, Rhipidiales, Salilagenidales, Saprolegniales, Sclerosporales. Lagenidiales de Sparrow (1960) é atualmente sinonímia de Pythiales. Para Kirk et al. (2008) e reunindo os dados de biologia molecular 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 93 11/06/2013 11:26:57 94 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE mais recentes, entre outros, os Oomycota estão divididos em uma Classe (Peronosporomycetes), subdividida em 3 subclasses (Peronosporomycetidae, Rhipidiomycetidae e Saprolegniomycetidae) e em 8 ordens a saber: Albuginales, Leptomitales, Myzocytiopsidales, Olpidiopsidales, Peronosporales, Pythiales, Rhipidiales e Saprolegniales. Dick (2001) reconhece também as ordens Lagenismatales, Rozellopsidales, Haptoglossales e Salilagenidiales, como exposto no dicionário. Muitos estudos provaram que a análise da sequência da região ITS do nrDNA (CHOI et al., 2003; VOGLMAYR, 2003; GÖKER et al., 2004; THINES and SPRING, 2005; SPRING et al., 2006) e o gene mitocondrial COX2, que codifica a subunidade II do complexo citocromo c oxidase (HUDSPETH et al., 2003; MARTIN; TOOLEY, 2003) são úteis para separar espécies proximamente relatadas entre os Oomycota. Análises moleculares baseadas no LSU nrDNA foram recentemente usadas para descobrir as relações filogenéticas entre muitas espécies de Albuginaceae (VOGLMAYR and RIETHMÜLLER, 2006). CHAVE PARA AS ORDENS DA CLASSE OOMYCETES DE ACORDO COM SPARROW (1960): 1.1 Esporos sempre formados dentro do esporângio, mono ou diplanéticos, raro aplanéticos .................................................................................................... 2 1.2 Esporos formados dentro do esporângio ou, se não, então usualmente dentro de uma vesícula evanescente formada pelo esporângio; monoplanéticos, reniformes ........................................................................................................ 3 2.1 Holocárpicos ou eucárpicos; hifas quando presentes sem constrições; oosporo sem periplasma (raro em Ectrogellaceae, mas estes são unicelulares) ..................................................................................................Saprolegniales 2.2 Eucárpicos; hifas com constrições; oosporo com periplasma espesso, envolvendo-o desde o primórdio .............................................. Leptomitales 3.1 Unicelulares holocárpicos ou, se hifálicos, hifasseptando-se para formar estruturas de reprodução; parasitas de seres aquáticos ou semiaquáticos ....... .................................................................................................... Lagenidiales 3.2 Eucárpicos; parasitas de plantas terrestres ou sapróbios em água ou solo .................................................................................................. Peronosporales CHAVE PARA AS ORDENS ATUAIS DE OOMYCOTA*: 1.1 Células móveis com um ou dois flagelos anisocontes; talo sem parede na fase assimilativa .....................................................ROZELLOPSIDALES 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 94 11/06/2013 11:26:57 95OS REINOS DOS FUNGOS (posição correta ainda indefinida) 1.2 Células móveis com um flagelo stramenipilo ou 2 isocontes ou anisocontes, um dos quais stramenipilo; talo com parede durante a fase assimilativa ou plas- modial ...........................................................................................................2 2.1 Talo plasmodial durante a fase assimilativa; marinhos, ocorrendo sobre Cos- cinodiscus ....................................................................LAGENISMATALES 2.2 Talo não plasmodial, com uma parede diferenciada pelo menos no final da fase assimilativa; geralmente em água doce, mas também com espécies marinhas ...........................................................................................................3 3.1 Talo filamentoso, micelial, com hifas ramificadas .....................................4 3.2 Talo polar, blástico, coraloide, alantoide ou elipsoide, raramente formando um pseudomicélio................................................................................................7 4.1 Parasitas de plantas; esporângio-conidióforos bem diferenciados; oosporo- gênese centrípeta, com periplasma persistente .............PERONOSPORALES 4.2 Parasitas de plantas ou não; esporângio-conidióforos raro diferenciados; oosporogênese centrífuga ou centrípeta com periplasma insignificante .......5 5.1 Hifas largas, com pelo menos 20µm de diâm., aumentando o mesmo com a idade até 150µm e irregularmente ............................SAPROLEGNIALES 5.2 Hifas finas, com menos de 20µm e de diâmetro uniforme ...........................6 6.1 Hifas com menos de 5µm de diâm.; zoosporogênese intrasporangial ou ausente; parede oogonial grossa, frequentemente verrucosa; oosporos pleróticos ou quase assim, com ooplasto homogêneo; parasitas de gramíneas ................ ................................................. PERONOSPORALES (SCLEROSPORLA) 6.2 Hifas usualmente com 6-10µm de diâmetro; zoosporogênese intraesporan- gial com uma vesícula plasmamembranal, ou extrasporangial em uma vesícula homo-hílica, raramente ausente; parede oogonial usualmente fina; oosporos não estritamente pleróticos; oosporos com um ooplasto hialino; parasitas ou saprófitos......................................................................PYTHIALES 7.1 Talo polar, com uma célula basal inflada e rizoides; gametângios diferen- ciados em anterídio e oogônio; zoosporogênese intrasporangial ou com vesí- cula plasmamembranal; oosporogênese com periplasma nucleado; saprófitas .................................................................................................RHIPIDIALES 7.2 Talo blástico, alantoide, coraloide, tubular, sacado, olpidioide ou pseudo- micelial; gametângios diferenciados ou não; zoosporogênese intrasporangial 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 95 11/06/2013 11:26:57 96 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE ou com vesícula precipitativa; saprófitas ou não ..........................................8 8.1 Talo blástico, alantoide ou coraloide a pseudomicelial, famílias de água doce ou terrestre com raras espécies marinhas .............................................9 8.2 Talo tubular, sacado ou olpidioide, raramente lobado, mas não blástico ou coraloide; famílias marinhas ........................................................................12 9.1 Talo olpidioide ou alantoide, nunca septado; zoosporos com inserção flagelar subapical, pequenos (<60µm3 de volume); parasitas endobióticos obrigatórios .................................................................................................10 9.2 Talo usualmente alongado, frequentemente compartimentado por cons- tricções ou septos, raramente olpidiópide (em Eurychasmidium); zoosporos com flagelos de inserção lateral pelo menos no segundo estágio em espécies poliplanéticas, grandes (>60µm3 de volume); saprófitas ou parasitas ........11 10.1 Zoosporângios com um tubo de descarga; teleomórficos; parasitas de Peronosporales e Chlorophyceae ......................................OLPIDIOPSIDALES 10.2 Zoosporângios frequentemente com mais de um tubo de descarga; ana- mórficos; parasitas de Bacillariophyceae e Aschelmynthes .... ................. ...... ...............................MYZOCYTIOPSIDALES (FAM. ECTROGELLACEAE) 11.1 Talo inicialmente tubular, tornando-se septado e frequentemente desarti- culando-se; zoosporos médios a pequenos (<150µm3 de volume); reprodução homotálica ou automítica, com gametângios de volume aproximadamente igual; parasitas de nematoides, rotíferas ou algas .......................................... ...............................................................................MYZOCYTIOPSIDALES 11.2 Talo blástico, coraloide, lobado, raramente olpidioide, raro septado, segmentos não desarticulando-se; zoosporos médio a grandes (>175µm3 de volume); reprodução homotálica, automítica ou heterotálica; gametângio doador (se presente) menor que o oogônio; parasitas ou saprófitas ................ ............................................................................................LEPTOMITALES 12.1 Parasitas de animais marinhos ou saprófitas (se parasitas de Aschelminthes ver números 10.1 e 10.2); zoosporos com mais de >60µm3 de volume ......... .....................................................................................SALILAGENIDALES 12.2 Parasitas de algas marinhas ou de fungos parasitas de algas marinhas; zoosporos pequenos, com <25µm3 de volume ...........................................13 13.1 Zoosporos uniflagelados; parasitas de Phaeophyceae............................ .....................................................................................ANISOLPIDIACEAE 13.2 Zoosporos biflagelados; parasitas de diversos fungos e algas ....................... 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 96 11/06/2013 11:26:57 97OS REINOS DOS FUNGOS ................................................................................. MYZOCYTIOPSIDALES * Haptoglossales não está na chave. Diferencia-se pela formação de célula Glossoide. ORDEM LAGENISMATALES Talo holocárpico, sem parede celular em grande parte da vida (plas- modial ou pseudomicelial) exceto na maturidade, sem septos, transformando- -se em gametângio ou esporângio; zoosporos com flagelos laterais, hetero e isocontes; reprodução sexual por oogamia, (contato entre cistos gaméticos); isogametas flagelados formados, formando esporo de resistência no cisto receptor, aplerótico. São marinhos, ocorrendo sobre a diatomácea cêntrica Coscinodiscus. Compreende uma família Lagenismataceae, com um gênero Lagenisma e uma espécie L. coscinodisci, de ampla dispersão e cujo desenvolvimento e ultraestrutura estão descritos em Schnepf et al. (2004). ORDEM OLPIDIOPSIDALES FAMÍLIA OLPIDIOPSIDACEAE Talo endobiótico, holocárpico, sem sistema vegetativo especializado, parecendo plasmodiais ou ameboides no primórdio, mas logo a parede fica bem evidente; geralmente formam uma só estrutura reprodutiva. Zoosporos mono ou diplanéticos, formando-se no esporângio. Esporo de resistência endobiótico, eventualmente ausente. Saprófitas ou parasitas de seres aquáticos. A família engloba 2 gêneros (3 de acordo com KIRK et al., 2008): Olpidiopsis Cornu [16 espécies, parasitas de Oomycota e algas como citadoem West et al. (2006), de ampla dispersão com G no Brasil] e Pleocystidium C. Fisch (com 4 espécies parasitas de algas de água doce e de ampla dispersão), apesar de SPARROW (1960) reconhecer cinco. Pseudolpidium é atualmente considerado sinonímia de Olpidiopsis. Petersenia pertence a Pontismaceae (família de posição incerta entre os Oomycota), Pseudosphaerita pertence a Pseudosphaeritaceae (Rozellopsidales) e Rozella pertence ao Reino Fungi, representando uma linhagem ancestral divergente do grupo. Gomes & Pires-zottarelli (2008) citam Olpidiopsis saprolegniae para São Paulo. CHAVE PARA OS GÊNEROS DE OLPIDIOPSIDACEAE: 1.1 Parasita de Oomycota (Figura 13).............................................. Olpidiopsis 1.2 Parasita de algas de água doce .............................................Pleocystidium 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 97 11/06/2013 11:26:57 98 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE ORDEM MYZOCYTIOPSIDALES Talo endobiótico holocárpico, pseudomicelial ou raro micelial, ramificado ou não, coraloide, septado, sem rizoides, formando uma série linear de esporângios. São marinhos, saprófitas ou parasitas obrigados de algas, artrópodes, larvas de moluscos (Sirolpidium) e asquelmintos. Kirk et al. (2008) reconhecem apenas duas famílias, Crypticolaceae e Myzocytiopsidaceae. Os mesmos autores consideram Pontismaceae, Ectrogellaceae, Eurychasmataceae e Sirolpidiaceae de posição incerta. Para facilitar a identificação estas famílias são mantidas na discussão desta ordem e na chave exposta abaixo. CHAVE PARA AS FAMÍLIAS DE MYZOCYTIOPSIDALES: 1.1 Talo blástico, alantoide ou coraloide a plasmodial; terrestres ou de água doce (raro marinhos) .............................................................................................2 1.2 Talo tubular, sacado ou olpidioide, raro lobado mas não blástico ou cora- loide; marinhos .............................................................................................3 2.1 Flagelos com duas fileiras de pelos tripartites .............................................. .............................................................................. MYZOCYTIOPSIDACEAE 2.2 Flagelos com apenas uma fileira de pelos .................CRYPTICOLACEAE 3.1 Parasitas em animais marinhos ou saprófitas; zoosporos com mais de 60µm3 de volume .....................................................................................................4 3.2 Parasitas em algas marinhas ou fungos que estiverem parasitando estas algas; zoosporos muito pequenos, com menos de 25µm3 de volume..............5 4.1 Talo tornando-se septado; segmentos taloides comportando-se como esporângios, usualmente com um tubo de descarga ou gametângio ............... .............................................................................MYZOCYTIOPSIDACEAE 4.2 Talo nunca septado, comportando-se como um esporângio com um a vários tubos de descarga; esporangiosporos transformados em esporos glossoides (cé- lula-canhão) ................................................................ ECTROGELLACEAE 5.1 Causando hipertrofia nas células do hospedeiro; parasitas de Phaeophyceae e Rhodophyceae ..........................................................EURYCHASMIACEAE 5.2 Não causando hipertrofia; parasitas de algas Rhodophyceae, Phaeophyce- ae, Chlorophyceae ou sobre fungos ou moluscos .........................................6 6.1 Parasitas de Rhodophyceae ou fungos .......................PONTISMACEAE 6.2 Parasitas de Phaeophyceae, Chlorophyceae, Bacillariophyceae ou sobre fungos parasitas destas algas, ou sobre moluscos ........................................7 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 98 11/06/2013 11:26:57 99OS REINOS DOS FUNGOS 7.1 Talo septado, desarticulando-se nos septos; parasitas de Chlorophyceae e moluscos ..................................................................... ......SIROLPIDIACEAE 7.2 Talo não septado; parasitas de Bacillariophyceae .......................................... ........................................................................................ECTROGELLACEAE FAMÍLIA PONTISMACEAE (de posição incerta) Talo lobado e não septado ou largo tubular e mais ou menos septado, frequentemente com ramos curtos irregulares, mas não desarticulando-se. Esporângios irregularmente lobados ou tubulares, com um ou mais tubo de descarga. São parasitas de Rhodophyceae, ocorrendo dois gêneros: Petersenia Sparrow, com 3 espécies marinhas de ampla dispersão, e Pontisma H. E. Petersen, com 7 espécies ocorrendo na Europa, Ásia e Japão. Pontisma la- genioides é encontrada parasitando Chaetomorpha media, situação que pode ser reproduzida em laboratório utilizando-se água do mar, tal como exposto por Raghukumar (2006). A infecção progride do ápice para a base, com a célula infectada ficando amarronzada e com perda de turgicidade. Segundo Dick (2001) estes gêneros raramente causam hipertrofia e faltam mais estudos de ultraestrutura para elucidar o posicionamento da família. CHAVE PARA OS GÊNEROS DE PONTISMACEAE: 1.1 Talo lobado e não-septado (Figura 13).......................................Petersenia 1.2 Talo tubular e mais ou menos septado (Figura 21 l) .................. Pontisma FAMÍLIA SIROLPIDIACEAE (de posição incerta) Talo estreitamente tubular, tornando-se septado e os fragmentos desarticulando-se. Não forma vesícula e apresenta curtos tubos de descarga. São primariamente parasitas de algas Chlorophyceae, moluscos (como em ostras) e larvas de crustáceos (LIGHTNER, 1993). A família apresenta um único gênero, Sirolpidium H. E. Petersen (Figura 21m), com 6 espécies marinhas de ampla dispersão. S. zoophthorum Vishniac ocorre sobre moluscos do gênero Venus e larvas de ostra. O gênero Pontisma era agrupado sob esta família, mas atualmente pertence a Pontismaceae. FAMÍLIA CRYPTICOLACEAE A família apresenta como característica principal o fato de que seus zoosporos têm flagelo straminipilo, com pelos tubulares tripartite arranjados em uma única fileira. Apresenta um único gênero descrito em 1989, Crypticola Humber, Frances & A. W. Sweeney, com duas espécies Australianas. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 99 11/06/2013 11:26:57 100 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE FAMILIA ECTROGELLACEAE (de posição incerta) Talo endobiótico, às vezes mais ou menos extramatrical na maturida- de, unicelular, não septado, não ou pouco ramificado, holocárpico; paredes celulares ficam azuladas com clorido de zinco; esporângio inoperculado com um ou mais poros de descarga os quais são sésseis ou no ápice de tubos; zoosporos segmentados dentro do esporângio, diplanéticos (dimórficos); zoosporos primários biflagelados, encistando logo após a descarga ou após breve estágio natante; zoosporos secundários lateralmente biflagelados; esporos de resistência de parede grossa, célula anteridial presente ou não e, quando conhecida, não formando um tubo de fertilização. São parasitas de rotíferas, Aschelminthes e Bacillariophyceae. Um gênero atualmente é reconhecido na família: Ectrogella Zopf (Figura 21 h-o), com 5 espécies do Norte temperado. Na chave a seguir incluiu-se Pythiella Couch que, apesar de pertencer a outra família, Lagenaceae, não pôde ser ainda enquadrado em nenhuma ordem. A inclusão na chave visa permitir a fácil diferenciação do gênero e evitar confusão no reconhecimento de Ectrogella. CHAVE PARA OS GÊNEROS DE ECTROGELLACEAE: 1.1 Com a germinação do cisto forma-se estrutura alongada (célula glossoide), a qual dispara uma espécie de harpão nos hospedeiros que encostarem no cone apical, infectando-os (Figura 28 A-a)............Haptoglossa (Chaptoglossales) 1.2 Não formam a estrutura acima descrita ........................................................2 2.1 Parasitas em diatomáceas; célula anteridial, quando conhecida, não for- mando um tubo de fertilização (Figura 21 n, o) ...........................Ectrogella 2.2 Parasita de fungos aquáticos; célula anteridialformando um tubo de fer- tilização bem definido (Figura 21 p) ..... Pythiella (família LAGENACEAE) FAMÍLIA EURYCHASMATACEAE (de posição incerta) Estes organismos causam hipertrofia à célula hospedeira. O primeiro estágio planético tem encistamento intrasporangial; esporângio tornando-se extramatrical na maturidade, ou permanecendo endobiótico todo o tempo, com um ou dois tubos de descarga largos ou vários estreitos; zoosporos encistando dentro do esporângio ou emergindo dele e encistando fora. Anamórficos. Parasitas de algas Rodophyta e Phaeophyta, causando marcada hiper- trofia (DICK, 2001). Apresenta dois gêneros: Eurychasma Magnus (Figura 28 A-a) com uma espécie sobre Octocarpus na Europa e Groenlândia, e Eurychasmidium Sparrow, com 3 espécies sobre Rhodophyceae na Europa e América do Norte. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 100 11/06/2013 11:26:58 101OS REINOS DOS FUNGOS Sparrow (1960) coloca os gêneros em Saprolegniales baseado no comporta- mento dos zooporos, mas Dick (2001) não concorda com este posicionamento pela inexistência de dimorfismo, pela grande variação na zoosporogênese e comportamento de zoosporos e pela falta de estudos de ultraestrutura. CHAVE PARA GÊNEROS DE EURYCHASMATACEAE 1.1 Esporângio tornando-se extramatrical na maturidade, com um ou dois tubos de descarga largos; zoosporos encistando dentro do esporângio ou emer- gindo dele (Figura 28 A-a) ..........................................................Eurychasma 1.2 Esporângio permanecendo completamente endobiótico na maturidade, com numerosos tubos de descarga estreitos; zoosporos encistando fora (Figura 28 A-c) .................................................................................Eurychasmidium FAMÍLIA MYZOCYTIOPSIDACEAE Talo inicialmente tubular, ramificado ou não, tornando-se septado e po- dendo desarticular-se; segmentos taloides comportando-se como esporângios, usualmente com um único tubo de descarga, ou gametângios. Reprodução sexual homotálica ou automítica com gameângios de tamanho aproximada- mente igual; fertilização por copulação através de um poro. Tipo de ooplasto e distribuição da reserva de lipídios ainda não estabelecida. A família é composta por 4 gêneros e cerca de 33 espécies. Myzocytiopsis M. W. Dick é endobiótica em Aschelminthes e de ampla dispersão, contando-se 19 espécies. Chlamydomyzium M. W. Dick apresenta 4 espécies de ampla dispersão e parasitas de Aschelminthes. Gonimochaete Drechsler tem 4 espécies de ampla dispersão. Syzygangia M. W. Dick, com 8 espécies de ampla dispersão e parasitas intracelulares de algas de água doce. Septolpidium Sparrow com uma espécie Europeia, S. lineare Sparrow, parasita de Shynedra (diatomácea - Figura 24 A-l) também é incluído nesta família por Hawksworth et al. (1995), apesar de tratada por muitos autores em Chytridiomycota (KIRK et al. 2008), na família Achlyogetonaceae (ver chave nesta família). Ainda permanecem dúvidas sobre o seu real posiciona- mento. Sua descrição resumida é: talo endobiótico, cilíndrico, não ramificado, holocárpico, sem sistema vegetativo especializado, sucessivamente dividido na maturidade por paredes transversais, cujos segmentos tornam-se espo- rângios inoperculados com um único tubo de descarga; formam zoosporos posteriormente uniflagelados. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 101 11/06/2013 11:26:58 102 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE ORDEM HAPTOGLOSSALES FAMÍLIA HAPTOGLOSSACEAE Os zoosporos encistados de Haptoglossa (Figura 28) são muito característicos por formarem uma espécie de canhão (célula glossoide), que contribui para infectar hospedeiros. Este “canhão” é originado diretamente do cisto e fixa-se ao substrato pelo lado mais alargado, contendo em seu interior um harpão; a célula tem forma de pera bastante alongada e dispara o harpão assim que um rotífera, por exemplo, encostar no cone apical, possibilitando, assim, a infecção do mesmo. Haptoglossa Drechsler, com 6 espécies da Amércia do Norte e Europa (Figura 28 A-a), H. Heterospora ocorre no Brasil (MILANEZ et al. 2007). ORDEM SAPROLEGNIALES FAMÍLIA SAPROLEGNIACEAE e LEPTOLEGNIACEAE Fungos que formam micélio cenocítico, com parede celulósica, sapró- fitos, facilmente isolados utilizando-se iscas (como sementes de gramíneas previamente fervidas ou restos de carapaças de insetos) inoculadas em porções de água coletada em algum riacho ou lago, ou em porções de solo com água destilada (Figura 11 - B). A reprodução assexuada ocorre com formação de esporângios longos, cilíndricos e usualmente terminais, geralmente algo mais alargado do que a hifa principal. Em Dictyuchus, o esporângio cai na maturidade. Em Saprolegnia o esporângio velho permanece ligado à hifa generativa após liberar os zoosporos por um poro apical, podendo ser formado sempre outro esporângio interna- mente às paredes do velho, e assim sucessivamente, cada um formando nova leva de zoosporos (Figura 14). Pode ocorrer a formação de um (monomórficos) ou dois (dimórficos) tipos de zoosporos (Figura 14): - o primário: piriforme com flagelos apicais; - o secundário: reniforme com flagelos laterais fixos na depressão e de direção oposta. Pythiopsis (Figura 28 A-d) é monoplanético, isto é, os zooporos libe- rados pelo zoosporângio nadam por determinado tempo e depois encistam-se. Ao germinar o cisto, forma-se diretamente o micélio. Isoachlya (Figura 28 A-f), Saprolegnia, Leptolegnia (Figura 13) e Leptolegniella (Figura 13) produzem ambos os tipos de zoosporos, o segundo sendo formado após a germinação do cisto do primeiro (Figura 14). Em Achlya, o encistamento primário ocorre na boca do poro do espo- rângio, assim que são liberados os zoosporos primários. Ao germinar o cisto, 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 102 11/06/2013 11:26:58 103OS REINOS DOS FUNGOS formam-se diretamente esporos secundários (Figura 14). Em Dictyuchus, o encistamento ocorre dentro do zoosporângio, sendo que cada cisto germina independentemente por um poro produzido na parede lateral, saindo ao meio aquático originando, diretamente, um zoosporo se- cundário. Este encista, forma por germinação outro zoosporo secundário, que pode encistar-se novamente. Já este cisto, ao invés de dar origem ao micélio quando germina, tal como nos casos acima referidos, forma outra vez um zoosporo secundário, o que pode se repetir várias vezes. Este caso recebe o nome de poliplanetismo (Figura 14). Em Thraustotheca, ocorrem eventos idênticos a Dictyuchus: o zoos- poro secundário encista, o cisto germina formando outro zoosporo secundário; este, por sua vez, encista novamente, mas o cisto, ao germinar, finalmente dará origem ao micélio (Figura 27 A-e). Geolegnia é uma grande exceção entre os Oomycota, pois não forma zoosporos (são aplanéticos). O aplanosporo é liberado e logo germina, dando origem ao micélio cenocítico. Ocorre também formação de gemas (clamidosporos) terminais (geral- mente) simples ou em cadeias, que separam-se da hifa e germinam por tubo, formando logo um esporângio ou o micélio. Estes fungos são Monoicos ou Dioicos. A reprodução sexuada ocorre por contato gametangial, formando um tubo de fertilização (anterídio) para encaminhar o anterozoide (em algumas espécies não foi encontrado anterí- dio diferenciado) ao oogônio terminal ou intercalar, que forma uma ou mais oosferas globulares, as quais, após fecundadas, formam oosporos de parede grossa. Estes após um período de repouso, germinam por um tubo hifálico, originando posteriormente zoosporângios (ver ciclo de vida de Saprolegnia sp. na Figura 15A). Ocorrem em ambiente aquático, preferencialmente doce e raro onde a salinidade não atinge mais de 2,8 %, ou terrestre, como saprófitas ou raro como parasitas. Como exemplo deste último caso tem-se Saprolegnia para- sitica, que parasita peixes e seus ovos, podendo causar enormes prejuízos aos criadores comerciais. Outro exemplo é Aphanomyces, o qual parasita ervilha, feijão, cana-de-açúcar, alfafae lentilha, além de peixes, entre muitos outros hospedeiros. (Figura 27 A-b). A Ordem reúne 24 gêneros divididos em duas famílias Saprolegniaceae e Leptolegniaceae. Dick et al. (1999) apresentam os resultados dos estudos feitos com 18S rDNA que suportam a separação de Saprolegniales nestas duas famílias. Como os gêneros de ambas foram tratados por muito tempo sob a família Saprolegniaceae, incluiu-se os gêneros todos em uma mesma chave a seguir exposta. A família Leptolegniaceae é composta pelos gêneros: Aphanomyces, Leptolegnia e Plectospira. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 103 11/06/2013 11:26:58 104 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Na chave abaixo não inclui-se os seguintes gêneros: - Aplanopsis Höhnk: com duas espécies europeias, caracterizado por: micélio intra ou extramatricial, com hifas lembrando gêneros como Leptoleg- nia e Geolegnia; zoosporângios não observados; oogônios com um oosporos simples, cêntrico ou subcêntrico, o qual não o enche por completo; anterídios muito raros, andróginos (SPARROW, 1960 - o qual coloca o gênero como não bem conhecido de Saprolegniaceae); A. terrestris Höhnk ocorre em substrato animal, em solos salinos. - Hydatinophagus Valkanov, com duas espécies europeias, “carní- voras”, o qual Sparrow (1960) refere como provável sinonímia de Zoophagus (Zoopagales - Zygomycota). - Couchia W. W. Martin com três espécies dos Estados Unidos. - Scoliolegnia M. W. Dick, com 5 espécies europeias. VERRUCALVACEAE É SINONÍMIA DE SAPROLEGNIACEAE. CHAVE PARA GÊNEROS DAS FAMÍLIAS SAPROLEGNIACEAE E LEPTOLEGNIACEAE: (incluindo alguns Leptolegniellaceae) 1.1 Zoosporos apenas do tipo primário, monoplanéticos (monomórficos); esporângios esféricos a algo alongados (Figura 28 A-d) ...............Pythiopsis 1.2 Zoosporos exibindo vários graus de diplanetismo; esporângios como acima ou diferentes .................................................................................................2 2.1 Zoosporo emergindo do esporângio sem encistamento prévio ...............3 2.2 Zoosporos encistando dentro do esporângio antes da liberação............11 3.1 Zoosporos primários com flagelos já no momento da descarga e iniciando logo o período natante ...................................................................................4 3.2 Zoosporos primários, quando formados, encistando logo após a emergência .......................................................................................................................7 4.1 Zoosporos em mais de uma fileira no esporângio ...................................5 4.2 Zoosporos em uma fileira dentro do esporângio .....................................6 5.1 Zoosporângios renovados primariamente por proliferação interna (Figura 28 A-e; 14; 15 A) ........................................................................ Saprolegnia 5.2 Zoosporângios renovados por ramificação cimosa bem como por proliferação interna (Figura 28 A-f) ................................................Isoachlya 6.1 Zoosporângios na maioria não ramificados; oosporos formados isolados dentro de oogônio distinto (Figura 13) ..........................................Leptolegnia 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 104 11/06/2013 11:26:58 105OS REINOS DOS FUNGOS 6.2 Zoosporângios geralmente ramificados; estruturas de resistência assexu- almente formadas em porções não diferenciadas das hifas, numerosas (Figura 13) ............................................................................................Leptolegniella (= LEPTOLEGNIELLACEAE, em LEPTOMITALES) 7.1 Zoosporos em mais de uma fileira dentro do zoosporângio (Figura 14)...8 7.2 Zoosporos em uma fileira no zoosporângio ou em um tubo de ejaculação......................................................................................................9 8.1 Alguns dos zoosporos primários nadando para longe do zoosporângio após a descarga e outros encistando em cacho irregular (Figura 13)............... ...................................................................................................... Protoachlya 8.2 Todos os zoosporos primários encistando após a descarga e formando uma esfera oca no orifício do zoosporângio (Figura 14) .............................Achlya 9.1 Esporângios consistindo de um tubo de evacuação cilíndrico formado a partir de um corpo basal lobulado complexo (Figura 27 A-a)........Plectospira 9.2 Esporângio simples, completamente cilíndrico ....................................10 10.1 Sistema hifálico extensivo, sem elementos de captura espinescentes diferenciados (Figura 27 A-b)....................................................Aphanomyces 10.2 Sistema hifálico muito esparso composto de uns poucos ramos termi- nados por espinhos para a captura de animais microscópicos (Figura 27A- c)..............................................................................................Sommerstorffi a 11.1 Oogônio com mais de um oosporo .....................................................12 11.2 Oogônio com um oosporo ...................................................................15 12.1 Zoosporângios raros, usualmente ausentes; zoosporos geralmente ger- minando dentro do esporângio e tubo germinativo penetrando em sua parede (Figura 27 A - d) .................................................................................Aplanes 12.2 Zoosporângios frequentes; zoosporos emergindo de cistos e móveis.......13 13.1 Cistos não liberados do esporângio; os zoosporos emergem através da parede do esporângio como corpos móveis; micélio delicado ....................... .............................................Aphanodictyon (= LEPTOLEGNIELLACEAE) 13.2 Cistos liberados do esporângio; micélio bem evidente .........................14 14.1 Cistos liberados por deliquescência ou por afinamento da parede espo- rangial (Figura 27 A-e) ............................................................Thraustotheca 14.2 Cistos liberados por deliquescência de uma tampa apical no esporângio .... 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 105 11/06/2013 11:26:58 106 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE ....................................................................................................Calyptralegnia 15.1 Micélio bem desenvolvido; zoosporos emergindo de seus cistos através da parede esporangial, deixando dentro do esporângio a parede do cisto (Fi- gura 14, 11 A-i) ...............................................................................Dictyuchus 15.2 Micélio depauperado, denso e opaco ......................................................16 16.1 Esporos encistados de tamanho geralmente maior que 15µm de diâmetro em uma a muitas fileiras, de parede fina, liberados por deliquescência da parede esporangial ou, em algumas espécies, formando tubo germinativo ou zoosporos móveis (Figura 24 A-h) ................................................................Brevilegnia 16.2 Esporos encistados na maioria com menos de 15µm, em uma única fileira, de parede grossa, nunca originando zoosporos móveis .................Geolegnia ORDEM LEPTOMITALES Compreende espécies aquáticas, sapróbias ou parasitas, próximas a Saprolegniales. O micélio é formado por hifas cenocíticas mas com cons- trições, lembrando septos ainda incompletos com correntes citoplasmáticas evidentes (Figura 15B-a). A reprodução assexuada ocorre por formação de zoosporângios ter- minais, isodiamétricos com o talo ou piriformes (Figura 15B-b), podendo ser mono ou diplanéticos. Zoosporogênese intrasporangial e liberação de zoosporos por deiscência. A reprodução sexuada ocorre por contato gametangial (Figura 15B-d- -h). Possuem uma única oosfera por oogônio (Figura 15B-f-g), a qual, após fecundada, forma um oosporo. É subdividida nas famílias: Apodachlyellaceae, Ducellieraceae, Lep- tolegniellaceae e Leptomitaceae. CHAVE PARA AS FAMÍLIAS DE LEPTOMITALES: 1.1 Talo blástico, raro olpidioide, composto de segmentos alantoides conectados por constricções simples,ocasionalmente com uns poucos rizoides; game- tângios doador e receptor diferenciados; gametângio intercalar ou terminal, aparentemente delimitado por parede na constrição; taxa olpidioides são heterotálicos ..................................................................................................2 1.2 Talo tubular, com alargamentos ou coraloides, raramente de hifas não constrictas e finas, com menos de 5µm de diâmetro; gametângios pouco diferenciados .................................................................................................3 2.1 Oosporos simples e pleróticos {oogônios raramente pluriovulados (Ple- 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 106 11/06/2013 11:26:58 107OS REINOS DOS FUNGOS rogone) raramente anamórficos (Leptomitus)}; fertilização por meio de tubo curto; frequente em galhos mergulhados em água ........................................ ........................................................................................LEPTOMITACEAE 2.2 Oosporos apleróticos; fertilização por meio de hifa fertilizadora; saprófitas ou, às vezes, parasitas de protistas aquáticos ................................................. ............................................................................APODACHLYELLACEAE 3.1 Homotálicos; frequentemente automíticos; oosporos apleróticos; saprófitas queratinofílicos ou parasitas de algas (Aphanomycopsis) ou nematoides (Ne- matophthora)......................................................LEPTOLEGNIELLACEAE 3.2 Heterotálicos; oogônio uniovulado; oosporos pleróticos (?); saprófitas em grãos-de-pólen submersos em lagos ..........................DUCELLIERIACEAE FAMÍLIA APODACHLYELLACEAE Micélio filamentoso, ramificado, segmentado por numerosas constric- ções, sem corpo basal. Segmentos hifálicos cilíndricos sem grânulos de celulina; membrana hifálica corável de azul com cloridro-iodino de zinco. Oogônios multisporados; oosporos apleróticos, sem membrana periplásmica; anterídios com muitas células anteridiais; fertilização por um tubo de cada célula. Saprófitas na água doce ou solo (Apodachlyella Indoch - Figura 13 - com A. completa (Hump.) Indoch ocorrendo no Japão, América do Norte e Europa), ou parasitas de protistas de água doce (Eurychasmopsis Canter & M. W. Dick, com uma espécie do Reino Unido). FAMÍLIA DUCELLIERIACEAE Talo unicelular, formando agregados, crescendo no interior do grão de pólen, onde forma o esporângio. Zoosporos biflagelados, liberados por tubo de descarga. Podem formar esporo de resistência. São saprófitas crescendo sobre grãos de pólen flutuantes em água doce. Hesse et al. (1989) descrevem o ciclo de vida e a ultraestrutura de Ducellieria chodati, a única espécie da família. FAMÍLIA LEPTOLEGNIELLACEAE Micélio geralmente delicado, desenvolvendo-se intramatricialmente ou endobiótico, geralmente com rizoides finos e ramificados. Esporângios geralmente ramificados; estruturas de resistência assexualmente formadas em porções não diferenciadas das hifas. Zoosporo emergindo do esporângio sem encistamento prévio ou encistando dentro do esporângio (cistos não liberados do esporângio) antes da liberação e emergindo destes cistos já móveis. Zoos- poros primários com flagelos já no momento da descarga e iniciando logo o período natante; zoosporos geralmente em uma fileira dentro do esporângio. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 107 11/06/2013 11:26:58 108 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Oogônio com um ou mais de um ovo. Agrega os seguintes gêneros: - Aphanodyctyon Huneycutt ex M. W. Dick com uma espécie, A. papillatum do EUA, que ocorre sobre substrato queratínico (Figura 24 A-g). - Aphanomycopsis Scherff., com 8 espécies da Europa, América do Norte. - Brevilegniella Coker & Couch, com 13 espécies de ampla dispersão. - Leptolegniella Honeycutt, com 5 spp. dos EUA (Figura 13). - Nematophthora Kerry & D. H. Crump, com uma espécie parasita de nema- toides no Reino Unido. CHAVE PARA OS GÊNEROS DE LEPTOLEGNIELLACEAE: 1.1 Zoosporos encistando dentro do zoosporângio antes da liberação; oogônio formando um oosporo; micélio depauperado, denso e opaco.... Brevilegniella 1.2 Não combinando as características acima ..............................................2 2.1 Saprófitas queratinofílicos ......................................................................3 2.2 Parasitas de algas ou nematoides.............................................................4 3.1 Zoosporo emergindo do zoosporângio sem encistamento prévio (Figura 13) ..................................................................................................Leptolegniella 3.2 Zoosporo encistando dentro do zoosporângio antes da liberação; ocorrendo em substrato queratínico (Figura 24 A-g) ............................. Aphanodyctyon 4.1 Parasitas de algas ...........................................................Aphanomycopsis 4.2 Parasitas de nematoides ...................................................Nematophthora FAMÍLIA LEPTOMITACEAE Talo inteiramente filamentoso, pseudoseptado, de crescimento ilimitado; zoosporângios constituídos de segmentos de hifas não diferenciadas ou de estruturas pediceladas de paredes finas; zoosporos diplanéticos, os primários apicalmente biflagelados, os secundários lateralmente biflagelados; oogônio formando geralmente uma oosfera; oosporo de parede lisa, formando vários tubos ao germinar. Saprófitas de água doce. Além dos gêneros citados na chave abaixo, tem-se ainda Plerogone M. W. Dick, com uma espécie descrita em 1986 dos Estados Unidos. Apodachlya Pringsh. (Figura 15 B - ciclo de vida; 13) tem três espécies de ampla dispersão (uma no Brasil). Leptomitus C. Agardh. tem uma espécie na Europa e EUA, sendo denominado o “fungo do esgoto marinho”. CHAVE PARA OS GÊNEROS DE LEPTOMITACEAE: 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 108 11/06/2013 11:26:58 109OS REINOS DOS FUNGOS 1.1 Órgãos sexuais nunca formados; zoosporângios formados a partir de seg- mentos não diferenciados do micélio (Figura 24 A-j) ..................Leptomitus 1.2 Órgãos sexuais raro formados em cultura; zoosporângio bem definido, pedicelado (Figura 15 B, 13).............................................................Apodachlya ORDEM RHIPIDIALES Uma família com os caracteres da ordem. FAMÍLIA RHIPIDIACEAE Talo sempre bem diferenciado em uma parte basal fixa (“Holdfast”) e hifas ramificadas a partir deste (estas podem estar ausentes, sendo que, então, as estruturas reprodutivas formam-se diretamente), as quais formam os órgãos reprodutivos pedicelados; talo eucárpico, monocêntrico, sacado ou pseudo- plasmodial, com rizoides; zoosporogênese intrasporangial, às vezes com uma vesícula plasmamembrânica, com zoosporângios terminais; zoosporângios lisos ou espinhosos; zoosporos somente do tipo secundário, lateralmente bi- flagelados; oogônio formando uma oosfera, de parede relativamente grossa; com um só oosporo de periplasma persistente, aplerótico,de parede rugosa. Saprófitas de restos vegetais submersos e frutos, fermentativos obrigados ou facultativos. Os seguintes gêneros fazem parte desta família: – Aqualiderella R. Emers. & W. Weston: uma espécie anaeróbia. CZE- CZUGA et al. (2004) descrevem e apresentam ilustrações de Aqualiderella fermentans, ao encontrarem material desta espécie na Polônia, ampliando sua distribuição que era originalmente da Costa Rica, Egito, Arábia Saudita e Alemanha. - Araiospora Thaxter: com 4 spp. na América e Europa (Figura 13); - Mindeniella Kanouse, com duas spp. da América do Norte (Figura 13); - Nellymyces Batko: com uma espécie ocorrendo na Polônia (não incluída na chave abaixo); - Sapromyces Fritsch: 3 spp. de ampla dispersão (Figura 13); - Rhipidium Cornu (não Wallr. Que é = Schizophyllum - Basidiomycota) 4 espécies de ampla dispersão (Figura 13); CHAVE PARA GÊNEROS DE RHIPIDIACEAE: 1.1 Fungo anaeróbico (Figura 13) ................................................Aqualinderella 1.2 Fungo aeróbico .......................................................................................22.1 Órgãos reprodutivos formados diretamente da célula basal, que não origina 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 109 11/06/2013 11:26:58 110 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE ramos hifálicos; partenosporos formados (Figura 13) .................Mindeniella 2.2 Ramos hifálicos e oosporos são formados ..................................................3 3.1 Célula basal pequena, pouco definida; esporângios de parede lisa; oosporo com parede externa ondulada (Figura 13) ......................................Sapromyces 3.2 Célula basal bem definida; esporângios de parede lisa e/ou espinhosa; oosporo com parede externa reticular ou celulosa ...........................................4 4.1 Parede do oosporo reticulada; esporângios de parede lisa (Figura 13)..... .........................................................................................................Rhipidium 4.2 Parede do oosporo celulosa; esporângios de parede lisa ou espinhosa (Figura 13) ....................................................................................Araiospora ORDEM PERONOSPORALES Apresentam micélio cenocítico, com hifas firmes que se ramificam livremente, geralmente hialino, parede composta de um complexo gluca- nacelulose mais hidroxiprolina contendo proteínas. São parasitas de plantas (causam tombamento, ferrugens brancas e míldios) ou sapróbios em água ou solo. Nas espécies parasitas, o micélio cresce entre as células do hospedeiro e produz haustórios de várias formas. Esta é a ordem mais especializada dos Oomycetes. Reprodução assexual por conídios (conidiosporângios), esporângios ou zoosporângios (com um ou poucos esporos), com ou sem papila. Reprodução sexuada ocorre pela fertilização de um oogônio, de parede fina ou espessa, liso ou ornamentado, hialino ou pigmentado, por núcleo proveniente de um anterídio. A ordem Sclerosporales é sinonímia. As Peronosporales abrigavam originalmente duas famílias, Pero- nosporaceae e Albuginaceae, sendo que esta última foi rearranjada entre as Albuginomycetidae em Thines & Spring (2005). Para facilitar a diferenciação a família Albuginaceae é apresentada na chave junto com Peronosporaceae e é discutida a seguir. CHAVE PARA AS FAMÍLIAS DA ORDEM PERONOSPORALES: 1.1 Esporângios formados em cadeias, periplasma conspícuo; parasitas obri- gatórios de plantas .............................................. Albuginaceae (Albuginales) 1.2 Esporângios formados isoladamente ou em grupos, mas não em cadeias; periplasma conspícuo ou não; parasitas ou sapróbios...........Peronosporaceae 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 110 11/06/2013 11:26:58 111OS REINOS DOS FUNGOS FAMÍLIA PERONOSPORACEAE É a mais especializada da ordem. Apresenta micélio intercelular e cenocítico, com haustórios de vários tipos (Figura 20 a-b-c), penetrando na célula hospedeira. Todas as espécies são parasitas obrigatórias de plantas incluindo um grande número de famílias de Angiospermae (a maioria de ampla dispersão e de cultivo extensivo). Causam doenças conhecidas como míldios. Em geral as plantas afetadas apresentam manchas verde amareladas na face superior e, na face inferior da folha, podem ser observadas as estruturas do fungo, de coloração geralmente esbranquiçada, representada pelos esporangióforos e esporângios. O mofo-azul do fumo apresenta, associado às manchas, estrutu- ras do patógeno de coloração azulada. Plantas de qualquer idade podem ser parasitadas pelas espécies de Peronosporaceae, ocorrendo maior destruição quando estas são mais jovens. Os esporângios são produzidos em esporangióforos distintos e ra- mificados, de crescimento determinado (Figura 20, d-h). O micélio produz um esporangióforo que cresce, alcança a maturidade e produz um grupo de esporângios sobre os esterigmas situados nos ápices dos ramos. Os esporân- gios têm aproximadamente a mesma forma, sendo arredondados, ovais ou limoniformes, descíduos e disseminados pelo vento. Na maioria das Peronosporaceae, a germinação ocorre por zoosporos ou por tubo germinativo, dependendo das condições ambientais. No gênero Peronospora, os oosporos são liberados dentro de uma vesícula gelatinosa. A família divide-se em 20 gêneros de acordo com a ramificação de seus esporangióforos (Figura 20). O gênero Peronospora tem 75 nomes válidos, parasitas de 48 diferentes famílias de fanerógamas (CONSTANTINESCU, 1991; KIRK et al., 2008), 14 ocorrendo no Brasil (MILANEZ et al. 2007). O ciclo de vida é semelhante ao encontrado em Pythium (ver ciclo de Plasmopara viticola, Figura 18). Plasmopara viticola é um fungo nativo da América do Norte. Provavel- mente tenha atacado por milhões de anos as videiras nativas deste continente. Durante este tempo, a seleção natural produziu um equilíbrio entre o parasita e o hospedeiro, de tal modo que esta espécie podia viver sobre as videiras americanas sem que estas fossem seriamente afetadas. O mesmo equilíbrio existia entre a videira americana e a Phylloxera, um áfidio de raízes também originário deste continente. De alguma maneira, por volta de 1865, a Phylloxera foi introduzida na França. A videira Europeia (Vitis vinifera), que não havia tido oportunidade de desenvolver sua capacidade "anti - Phylloxera", era extremamente suceptível. Esse foi um grave proble- ma, já que milhões de franceses dependiam economicamente da indústria de derivados da uva. O problema pôde ser resolvido com a importação de mudas 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 111 11/06/2013 11:26:58 112 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE resistentes a Phylloxera da América, no sentido de substituir Vitis vinifera. As mudas introduzidas trouxeram micélio ou esporos de Plasmopara viticola, e justamente quando os franceses estavam começando a gozar novamente de seus vinhos, o fungo deslanchou, atacando as videiras. Nos anos secos o ataque não era muito sério, mas em anos úmidos era desastroso. Até 1870, a uva francesa e a indústria do vinho pareciam condenadas, porque todos os vinhedos estavam infectados e não havia tratamento. Só em 1882, segundo a história, Alexis Millardet, enquanto passeava pelos parreirais, observou que os que margeavam o caminho pareciam borrifados por substância branca de aparência venenosa e estavam mais saudáveis que os não borrifados. O pesquisador descobriu que o proprietário havia aplicado uma calda de sul- fato de cobre e cal para evitar que estranhos apanhassem suas uvas, já que a substância conferia às mesmas um aspecto de envenenadas. Tratava-se do primeiro fungicida eficiente para controle da P. viticola, o qual foi chamado, posteriormente, de Calda Bordalesa, que ainda hoje é utilizado com sucesso. Outros países mediterrâneos, aproveitando-se do declínio da produção vinícola francesa, iniciaram seus próprios cultivos, sendo que, ao resolver-se o problema do míldio da videira e da Phylloxera, ocorreu uma superprodução de uva, criando outra crise econômica, de proporções continentais. Como exemplos de outras doenças causadas por Peronosporaceae, podem ser citados: - Peronospora destructor: míldio da cebola. - Peronospora farinosa: míldio da beterraba. - Peronospora tabacina: mofo-azul do fumo (figura 20i). - Peronospora parasitica: míldio das crucíferas. - Peronospora mashurica: míldio da soja. - Peronospora effusa: míldio do espinafre. - Peronospora trifoliorum: míldio da alface e do trevo. - Plasmopara nivea: parasita cenoura. - Plasmopara halstedii: parasita girassol. - Plasmopara pusilla: parasita gerânio. - Bremia lactucae: míldio do alface, sendo que outras espécies deste gênero parasitam também Compositae (Figura 20-h). Escolheu-se descrever o ciclo de vida de Plasmopara viticola, ilustrando esta família (Figura 18). O zooporo encistado, ao cair na folha do hospedei- ro, germina (Figura 18a-b-c), penetra pelo estômato, invadindo os espaços intercelulares, formando haustórios ao penetrar na célula viva (Figura 18d), a qual morre. Após um período de crescimento, ocorre a formação de longosesporangióforos por entre os estômatos (Figura 18e). Os esporângios são formados nos ápices dos esporangióforos, que se desprendem ao amadurecer e germinam liberando zoosporos biflagelados (Figura 18f). Esses nadam por 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 112 11/06/2013 11:26:58 113OS REINOS DOS FUNGOS algum tempo e encistam (Figura 18a-b). O cisto germina recomeçando a fase assexual. O processo sexual ocorre no interior da planta com formação de anterídios e oogônios (Figura 18g a k). Em cada um desses ocorre meiose, passando o fungo da diplo - para a haplofase, enquanto ocorre o contato gametangial. O anterídio joga o seu protoplasma no oogônio, o que carac- teriza a plasmogamia, isso após terem-se desintegrados todos menos um, os núcleos do oogônio e anterídio (Figura 18g-h-i). Ocorre cariogamia (Figura 18j) e inicia-se a diplofase, com formação do oosporo. Este é liberado e, em condições apropriadas, germina (Figura 18k) formando um zoosporângio que libera zoosporos (Figura 18a). Estes encistam-se e recomeçam o ciclo ao germinarem na superfície de seu hospedeiro. Abaixo apresenta-se uma chave para 7 gêneros de Peronosporaceae Phytophthora que pertence a esta família. CHAVE PARA GÊNEROS DE PERONOSPORACEAE (adaptada de WA- TERHOUSE, 1973b): 1.1 Esporangióforo primário aéreo emergindo da superfície do hospedeiro na forma de um “tronco” com 10µm ou mais de diâmetro, usualmente com 15-25µm; parede oogonial grossa e rugosa ou ornamentada .......................2 1.2 Esporangióforo primário emergente mais estreito, com não mais do que 15µm de diâmetro, usualmente 8 - 10µm; parede oogonial não ornamentada (exceto em Bremiella) ..................................................................................3 2.1 Esporangióforos não ramificados; ápice com esterigmas curtos susten- tando esporângios papilados que germinam formando zoosporos; oosporos apleróticos........................Basidiophora Roze & Cornu - 3 spp. (Figura 20d) 2.2 Esporangióforos repetida - (2-3 vezes) e dicotomicamente ramificados na parte superior; esporângios usualmente não papilados, os quais germinam formando zoosporos ou tubo germinativo; oosporos pleróticos................... ............Sclerospora J. Schröt. - 16 spp. patógenos de Gramineae (Figura 20e) 3.1 Parede do esporo de espessura uniforme (não poroide), germi- nando apenas por tubo germinativo que emerge em qualquer parte da superfície..................................... Peronospora Corda - 4 spp. (Figura 20f,i) 3.2 Parede do esporo poroide, germinando por zoosporos ou plasma emergindo através de um poro apical com ou sem papila ..................................................4 4.1 Ramos secundários e tardios do esporangióforo em ângulos retos (ou quase) em relação ao eixo principal ............Plasmopara J. Schröt. - 20 spp. (Figura 20g, 18) 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 113 11/06/2013 11:26:58 114 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE 4.2 Ramos formados a partir de ângulos agudos ..........................................5 5.1 Pontas dos ramos agudas ......... Pseudoperonospora Rostovzev - 7 spp. 5.2 Pontas dos ramos não agudas ..................................................................6 6.1 Pontas dos ramos muito alargadas e contendo 3 - 4 esterigmas periféricos; parede oogonial e parede do oosporo um tanto fina e não ornamentada .......... .....................................Bremia Regel - 2 spp. Norte temperadas (Figura 20h) 6.2 Pontas dos ramos pontiagudas e levemente alargadas; parede oogonial grossa e ornamentada ........Bremiella G. W. Wilson - 3 spp. Europa e Am. do Norte. ORDEM ALBUGINALES FAMÍLIA ALBUGINACEAE Nesta família incluem-se os fungos conhecidos como “ferrugens bran- cas”. Todos são parasitas obrigatórios de plantas vasculares. Compreende 3 gêneros, sendo o mais importante Albugo (Pers.) Roussel ex Gray, com 30 espécies das quais 9 ocorrem no Brasil. Entre estas, as seguintes podem ser apresentadas como importantes: - Albugo candida: ataca Crucíferas, causando a ferrugem branca, cujos sintomas são caracterizados pela presença de pústulas brancas e, em geral, com hipertrofia nos pontos afetados. Estudos moleculares têm demonstrado um alto grau de diversidade genética entre coletas desta espécie, sendo que várias espécies novas tem sido descritas a partir destes trabalhos (ver Choi et al., 2007). - Albugo ipomoeae-panduranae: ataca batata-doce. - Albugo portulacae: ataca Portulaca spp. - Albugo occidentalis: ataca espinafre. - Albugo bliti: ataca membros da família Amaranthaceae. O ciclo de vida de Albugo candida (Figura 19) é um dos mais conhe- cidos, sendo escolhido para ser discutido a seguir. O micélio é intracelular e nutre-se por meio de haustórios (Figura 19a) que atravessam as paredes das células do hospedeiro, formando es- truturas globosas. Após o micélio atingir a maturidade, ocorre a produção de esporangióforos curtos, claviformes, dentro dos tecidos do hospedeiro. Cada esporangióforo origina vários esporângios em cadeia, ficando o mais velho na extremidade e o mais novo na base da cadeia (Figura 19b). Com o desenvolvimento dessas estruturas, há rompimento da epiderme e liberação dos esporângios (Figura 19c) sobre a superfície do hospedeiro, formando uma crosta branca. A forma dos esporângios pode ser globosa, às vezes po- liédrica, conforme a pressão sofrida durante a sua formação. Dependendo da 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 114 11/06/2013 11:26:58 115OS REINOS DOS FUNGOS temperatura e da umidade, germinam por meio de zoosporos, ou através de tubo germinativo (Figura 19d). Os zoosporos (Figura 19e-f-g), ao serem liberados, nadam por algum tempo e encistam-se para depois formar um tubo germinativo. Este penetra na epiderme do hospedeiro para iniciar a infecção, a qual pode ser localizada ou sistêmica. Os esporângios são formados no período de 10 dias. Os oogônios crescem nos espaços intercelulares do caule e folhas. O anterídio e o oogônio (Figura 19h) são multinucleados, podendo este último conter até 200 núcleos. Entretanto, há somente um núcleo, masculino e um feminino funcionais. No oogônio todos os núcleos, com exceção de um, mi- gram para a periferia e são incluídos no periplasma. Segue-se a fusão nuclear (Figura 19i-j) e uma membrana delgada desenvolve-se em torno do oosporo formado (Figura 19k). Ocorre a divisão do núcleo do zigoto, de modo que um oosporo pode conter 32 núcleos. Os oosporos germinam após período de repouso de até vários meses. Em condições favoráveis, a parede mais externa do oosporo rompe-se e o endospório fica exposto, formando uma vesícula esférica e delgada, que pode ser séssil ou formada na extremidade de tubo cilíndrico. Nessa vesícula são diferenciados os zoosporos (40 - 60), os quais são liberados após o rompimento da vesícula (Figura 19-l-m-n). Kirk et al. (2008) referem que a família faz parte de Albuginomyce- tidae ou Peronosporomycetidae. ORDEM PYTHIALES A ordem originalmente era composta por somente uma família, mas Dick (2001) reconhece também Pythiogetonaceae (com dois gêneros). FAMÍLIA PYTHIOGETONACEAE Micélio com hifas muito finas ( 1 – 3,5 micrômetros de diâmetro) uma vesícula homoílica destacável e oosporos com paredes muito grossas (quando formados). São fungos fermentativos obrigados ou facultativos. Compreende 2 gêneros e 10 espécies. Pythiogeton tem 9 espécies conhecidas. FAMÍLIA PYTHIACEAE Aqui são incluídos fungos com micélio bem desenvolvido, algumas vezes com haustórios e atacando plantas, formando (e então de crescimento indeterminado) ou não esporangióforos definidos, ou talo filamentoso mas pouco extenso, ramificado ou não, parasita de algas ou animáculos aquáticos. Os esporângios são decíduos (germinando por um tubo) ou não, e então formam 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 115 11/06/2013 11:26:58 116 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE diretamente zoosporos. Em alguns gêneros parasitas de seres aquáticos, quando o taloestá maduro, surgem septos na hifa, sendo que cada compartimento transforma-se em esporo ou gametângio; o conteúdo é liberado por tubos de descarga que furam a parede do hospedeiro e atingem o exterior, onde for- mam uma vesícula, no interior da qual se diferenciam os zoosporos que são liberados por ruptura da vesícula. Reprodução sexuada tem eventos similares a Peronosporaceae (ver ciclo de Pythium na Figura 16 e de Phytophthora na Figura 17 que é Peronosporaceae). A reprodução sexuada, nas espécies parasitas de seres aquáticos, onde ela é conhecida, ocorre por copulação de dois gametângios, originados no mesmo talo ou em talos diferentes, sendo que o protoplasto passa de um para outro por um poro ou tubo. Em Myzocytium vermicolum ocorre formação de esporos de resistência, que liberam zoosporos quando germinam (Figura 13). Pythium e Phytophthora são os gêneros mais importantes por ataca rem vegetais importantes economicamente. Pythium causa podridão em sementes e raízes, tombamento de mudas e podridão mole. A doença denominada tom- bamento tem ampla ocorrência pelo mundo, atacando plantas no ambiente natural e no cultivado, infectando desde sementes no início da germinação até plantas jovens e adultas de várias espécies. O maior prejuízo ocorre quando o ataque é sobre sementes em germinação e/ou plântulas, sendo esta a doença mais comum em cultivares onde houve pouco sucesso na germinação ou emergência da planta. Sintomas variam com a idade e estágio da planta quando ocorre a infecção. As sementes falham ao germinar, ficam moles e amarronzadas, encolhem e finalmente desintegram-se. Se o ataque ocorreu na plântula antes de sair do solo, surgem manchas escuras e aquosas em vários pontos, que alargam-se rapidamente, colapsando as células e matando as mesmas, quando temos o tombamento denominado de pré-emergência. Mudas já emergidas são infectadas nas partes abaixo do nível do solo, ficando as áreas afetadas descoloridas e aguadas, colapsando as células. A área fica então mais fina em relação à não afetada. Por falta de sustentação, a parte aérea da muda tomba e, com o avanço do patógeno, morre. Em plantas adultas, apenas pequenas lesões caulinares podem ocorrer, necrosando a área ou, o que é mais frequente, pequenas raízes e radicelas são atacadas e mortas, causando que murchem ou morram as partes aéreas associadas. O pepino, feijão verde, batata e repolho podem ser atacados por Pythium no armazém, no transporte ou mesmo no campo, o que é facilmente identificado pela presença do micélio cotonoso do fungo na superfície e pela massa mole, aquosa e podre que se forma internamente. Pythium aphanidermatum, P. debaryanum, P. irregulare e P. ultimum 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 116 11/06/2013 11:26:58 117OS REINOS DOS FUNGOS são algumas das espécies envolvidas, apresentando todos, sintomas idênticos. Claro que outros fungos, tais como Cercospora, Septoria, Mycosphaerella, Glomerella, Colletotrichum, Helminthosporium, Alternaria e Botrytis, além de bactérias como Pseudomonas e Xanthomonas, podem também, eventual- mente, causar o tombamento, com sintomas semelhantes. O controle pode ser realizado tomando-se as seguintes medidas: - tratar o solo a ser utilizado para a produção das mudas com vapor ou calor seco; - lavar com solução de Sulfato de Cobre (1%) os equipamentos e instalações; - usar práticas culturais como: aumentar a drenagem do solo; aumentar a circulação de ar entre as plantas; plantar em época favorável ao desenvolvi- mento rápido; evitar a adição de fertilizantes que tenham Nitrogênio em sua composição, em quantidade excessivas; fazer rotação de culturas. Mais recentemente foi aceita a inclusão de alguns gêneros de Lage- nidiaceae nesta família. Além dos gêneros tratados na chave abaixo tem-se ainda, como per- tencentes a esta família, os seguintes: - Cystocyphon Roze & Cornu (sin.= Lagenidiopsis): com 5 espécies de ampla dispersão; - Halophytophthora H. H. Ho & S. C. Jong: 11 spp. de ampla dispersão. - Trachysphaera Tabor & Bunting: somente T. fructigena que parasita cacau na África. As Peronophytoraceae (=PYTHIACEAE) receberam este nome em virtude das semelhan ças com Peronosporaceae e Pythiaceae. Parecem com Peronospora da primeira família, por terem esporangióforos de crescimento determinado. São semelhantes a Pythiaceae pelos seguintes caracteres: - crescem facilmente em cultura artificial; - têm hifas finas, com 2 - 5µm de diâmetro; - os esporangióforos têm de 5 -7µm de diâmetro; - os esporângios são papilados; - têm clamidosporos; - anterídio anfígeno. Uma diferença marcante é o grande diâmetro dos zoosporos, que po- dem ter 33 x 18µm. Tem um único gênero e uma única espécie nesta família: Peronophythora litchii, conhecida somente do Taiwan, a qual ataca frutos de Litchi. Atualmente esta família é considerada como sinonímia de Pythiaceae. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 117 11/06/2013 11:26:58 118 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE CHAVE PARA ALGUNS GÊNEROS DE PYTHIALES: 1.1 Talo unicelular holocárpico ou se hifálicos, hifas septando-se para for- mar estruturas de reprodução; parasitas de seres aquáticos ou semiaquáticos (antiga Lagenidiaceae)...................................................................................2 1.2 Eucárpicos; parasitas de plantas terrestres ou sapróbios em água ou solo ......4 2.1 Talo unicelular, fixo a parede interna do hospedeiro por um calo grosso; parasita de raízes de cereais ...............................Lagena (alguns aceitam a fam. Lagenaceae, cuja posição é ainda muito discutida) 2.2 Talo uni ou multicelular, livre dentro da célula do hopedeiro ou aderente ao tubo de penetração persistente; parasitas de algas, animáculos, etc.........3 3.1 Talo não ramificado, ocupando uma célula do hospedeiro, fortemente constricta nas paredes transversais; célula anteridial pouco diferenciada (Fi- gura 3-a; 13) ................................................................................Myzocytium 3.2 Talo ramificado ou não, ocupando uma ou mais células do hospedeiro, pouco ou não muito constrictos no septo, segmentos frequentemente irregu- lares; célula anteridial frequentemente bem diferenciada (Figura 13) ........... ......................................................................................................Lagenidium 4.1 Zoosporângios correspondendo a uma porção não diferenciada do micélio ... ..........................................................................................................................5 4.2 Zoosporângios bem diferenciados do micélio ........................................6 5.1 Hifas com ramos curtos laterais adaptados para a captura de nematoides .........Zoophagus (INCLUÍDO PARA DIFERENCIAR; É ZOOPAGALES - ZYGOMYCOTA) 5.2 Hifas sem estes ramos..................................................................Pythium 6.1 Zoosporos produzidos no ápice de tubo de evacuação; anterídios nunca anfígenos; oosporos com uma parede grossa ....................................Pythium 6.2 Zooporos não produzidos em vesícula (eventualmente em vesícula longa e logo evanescente); anterídios anfígenos ou não; parede do oosporo grossa ou não ............................................................................................................7 7.1 Zoosporos evacuados em vesícula longa e logo evanescente; parede oosporal muito grossa ..................................................................Pythiogeton 7.2 Zoosporos diferenciados dentro do zoosporângio; parede oosporal geral- mente fina ......................................................................................................8 8.1 Zoosporângios formados em grupos ................................Diasporangium 8.2 Zoosporângios isolados (Figura 17) ...........Phytophthora (Peronosporaceae) 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 118 11/06/2013 11:26:59 119OS REINOS DOS FUNGOS ORDEM SALILAGENIDIALES Talo mais ou menos tubular ousacado, raramente septado, pseudo- micelial ou coraloide. Oosporo com paredes múltiplas e ooplasto granular. Citoplasma frequentemente com uma granulação bem proeminente. Anamórficos ou teleomórficos. Parasitas de crustáceos ou outros seres, ou saprofíticos. A ordem engloba duas famílias. CHAVE PARA FAMÍLIAS DE SALILAGENIDIALES: 1.1 Talo mais ou menos tubular, raramente septado; zoosporos com > 275µm3 de volume; teleomórficos; parasitas de crustáceos marinhos.............................. ................................................................................SALILAGENIDIACEAE 1.2 Talo tubular ou sacado, às vezes septado; zoosporos com <275µm3 de volume; anamórficos; parasitas facultativos ou saprofíticos .......................... .......................................................HALIPHTHORACEAE (Posição incerta) FAMÍLIA SALILAGENIDIACEAE Talo mais ou menos tubular, raro septado. Zoosporos de tamanho médio. Parasitas de crustáceos marinhos e de ampla dispersão. Salilagenidium com 6 espécies conhecidas de ampla dispersão. FAMÍLIA HALIPHTHORACEAE Talo holo ou eucárpico, tubular ou sacado, formado por um complexo de elementos inchados e lobulados, às vezes septados; anamórficos; parasitas facultativos ou saprófitas. São parasitas holocárpicos de diatomáceas e invertebrados marinhos ou saprófitas. Reúne dois gêneros: - Atkinsiella Vishniac: duas espécies em crustáceos na Europa e América do Norte (Posição incerta); - Haliphthoros Vishniac: com 3 espécies em ovos de Urosalpinx nos EUA e ovos e larvas de crustácea e molusca. ORDEM ROZZELOPSIDALES Talo nu durante a fase assimilativa, do tipo plasmódio, o qual pode preencher completamente ou não a célula do hospedeiro. Zoosporos com um ou dois flagelos anisocontes. Esporo de resistência às vezes formado, frequen- temente com ornamentação espinhosa, apleróticos no compartimento celular. São parasitas de Protozoa, fungos ou algas. A ordem é de posição incerta, acreditando alguns autores que a mesma 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 119 11/06/2013 11:26:59 120 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE deva fazer parte de Chytridiomycota. De acordo com Hawksworth et al. (1995) a ordem reúne duas famílias Pseudosphaeritaceae (com Sphaerita e Pseudosphaerita) e Rozellopsidaceae Rozella (Figura 13) pertencia a esta ordem, mas estudos moleculares con- cluiram que o gênero é na verdade do reino fungi, possivelmente a linhagem mais ancestral do grupo. (Rozellopsis). Kirk et al. (2008) a consideram em Oomycota. Dictyomorpha é considerado Chytridiales de posição incerta. Na chave abaixo diferencia-se, pelo parasitismo, um gênero de cada família: 1.1 Parasitas de Euglenophyceae ou Cryptophyceae ...........Pseudosphaerita 1.2 Parasita de outros seres.............................................................Rozellopis Figura 13- Alguns zoosporângios, oogônios, oosporos , esporos de resistência e zoosporos de diferentes gêneros de Oomycota. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 120 11/06/2013 11:26:59 121OS REINOS DOS FUNGOS Figura 14 - Ciclo de vida do estágio assexuado de três gêneros de Sapro- legniaceae. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 121 11/06/2013 11:27:00 122 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Figura 15 - Ciclos de vida da parte sexuada de Saprolegnia sp. (Saproleg- niaceae - A) e de ambos os estágios de Apodachlya pyrifera (Leptomitales- B). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 122 11/06/2013 11:27:01 123OS REINOS DOS FUNGOS Figura 16 - Ciclo de vida de Pythium sp. (Pythiaceae). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 123 11/06/2013 11:27:01 124 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Figura 17 - Ciclo de vida de Phytophtora infestans (Peronosporaceae). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 124 11/06/2013 11:27:01 125OS REINOS DOS FUNGOS Figura 18 - Ciclo de vida de Plasmopara viticola (Peronosporaceae). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 125 11/06/2013 11:27:01 126 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Figura 19 - Ciclo de vida de Albugo candida (Albuginaceae). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 126 11/06/2013 11:27:01 127OS REINOS DOS FUNGOS Figura 20 - Haustórios e esporangióforos de alguns gêneros de Peronosporales. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 127 11/06/2013 11:27:01 128 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Figura 21 - Exemplos de Hyphochytridiomycota, Labyrinthulomycota e Oomycota: a- Latrostium: a’-esporângio em oogônio de alga e a”- esporângio liberando esporos e com papila lateral; b- Hyphochytrium: talo com forma- ção de zoosporos junto ao orifício do tubo de descarga; c- Hyphochytrium: talo com septos e parte inflada; d- Hyphochytrium: esporos de resistência; e- Rhizidiomycopsis: zoosporângios liberando zoosporos; f- Hyphochytrium: zoosporângio apical com poro lateral; g- Anisolpidium: zoosporângio vazio com tubo de descarga, parasitando alga e causando hipertrofia; h- Cante- riomyces: protoplasto emergindo do zoosporângio; i- Labyrinthula: células fusoides com rede; j- Thraustochytrium: zoosporângio; k- Japonochytrium: zoosporângio com poro apical; l- Pontisma: talo septado no interior de alga; m- Sirolpidium: zoosporângio olpidioide em alga; n-o- Ectrogella: n- zoosporos primários encistados; o- esporo de resistência; p- Pythiella: célula anteridial e tubo de fertilização. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 128 11/06/2013 11:27:01 129OS REINOS DOS FUNGOS FUNGOS ORIGINALMENTE CLASSIFICADOS NO FILO CHYTRIDIOMYCOTA O antigo Filo Chytridiomycota está atualmente dividido em vários ou- tros filos, os quais tem como definição comum o que se descreve mais abaixo. A produção de zoosporos posteriormente uniflagelados (flagelo tipo chicote), caracteriza perfeitamente o filo Chytridiomycota. O talo cenocíti- co pode ser unicelular (espécies holocárpicas = todo o talo transforma-se em uma ou mais estruturas reprodutivas - Figura 12 f) globoso ou oval, ou pode desenvolver um micélio verdadeiro (espécies eucárpicas = somente uma porção do talo transforma-se em estrutura de reprodução - Figura 12 g). O talo pode ser monocêntrico (= apresentam um centro de crescimento, desenvolvimento e reprodução - Figura 12 a-b) ou policêntrico (têm vários centros de crescimento e desenvolvimento e dois ou mais órgãos reproduti- vos - Figura 12 c). Zoosporos contêm um único núcleo, cuja localização e forma variam de espécie para espécie. O zigoto formado pode converter-se em esporo ou esporângio de resistência, ou ainda formar, após a germinação, um talo cenocítico diploide. A parede celular é composta de quitina. Quanto a sua relação com o substrato, as espécies podem ser epibióticas (= vivem na superfície de outro organismo - Figura 12 d) ou endobióticas (= crescendo dentro do organismo - Figura 12 e). Uma série de estruturas celulares parecem exclusivas de alguns repre- sentantes deste filo, a saber: - rumpossomo: estrutura complexa composta por túbulos interconec- tantes localizados na extremidade posterior do zoosporo de Monoblepharidella e outros; - corpo-lateral: sistema de membranas duplas, localizado próximo ao flagelo, associado a microcorpos e corpos lipídicos, de função desconhecida; ocorre nas Blastocladiales; - capa nuclear: ribossomos aglomeram-se junto ao núcleo e são en- voltos por capa, a qual quase envolve o núcleo, ficando mais estreita próximo ao ponto de inserção do flagelo e, assim, parecendo formar um “chapéu” sobre o núcleo; - partículas gama: estruturas com 0,5µm diâmetro, com corpo ele- trodenso, da mesma constituição da membrana, envolvidas provavelmente na formação da parede do cisto de Blastocladiella emersonii. A reprodução assexuada ocorre com a formação de esporângio e de zoosporos, podendo ser por: 1. Copulação planogamética: dois gametas flagelados morfologica- mente idênticos (=copulação de planogametas isógamos) ou um deles bem 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 129 11/06/2013 11:27:01 130 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE maior (=conjugação deplanogametas anisógamos), se unem no ambiente aquático formando um zigoto. 2. Copulação gametangial: ocorre pela transferência do protoplasto de um gametângio para outro. 3. Somatogamia: ocorre por fusão de filamentos dos rizoides, o que precede a formação do esporo de resistência. Desenvolvem-se principalmente em ambiente aquático, podendo ser também encontrados no solo, sendo geralmente saprófitas. Há, entretanto, espécies parasitas de algas e de outras plantas economicamente importantes. Coelomomyces é parasita larvas de mosquito. A classificação deste filo em ordens tem sido motivo de muitos estudos, sendo que ainda não se tem uma organização definitiva. A classificação tradicional utiliza caracteres morfoló- gicos de estruturas somáticas e reprodutivas, o que parece apresentar muita plasticidade, inclusive em cultivos sob condições de laboratório. Grande parte destas características, portanto, não podem ser utilizadas para caracterização geral de ordens. Spizellomycetales foram atualmente separadas de Chytridiales (levando uma de suas principais famílias, as Olpidiaceae) baseando-se principalmente em caracteres da ultraestrutura de zoosporos, a saber: microtúbulos extendendo-se a partir de um lado do quinetossomo em uma ordenação paralela; centríolo não flagelado, paralelo e conectando-se ao quinetossomo; rumpossomo geralmente presente e sobre um glóbulo lipídico; ribossomos usualmente em massa, a qual é mais ou menos envolta pelo retículo endoplasmático; mitocôndrias usualmente associadas com o complexo glóbulo-microcorpo-lipídio (sigla inglesa MLC - “microbody-lipid globule complex”). O filo Chytridiomycota é dividido em 5 ordens, 18 famílias, cerca de 112 gêneros e 793 espécies de acordo com Hawksworth et al. (1995) e Alexopoulos et al. (1996). Cerca de 18 gêneros são de posição incerta. O filo Chytridiomycota teve suas ordens desmembradas em filos, sendo que a chave abaixo foi adaptada da original para ordens no sentido de permitir sua diferenciação: CHAVE PARA FILOS DE FUNGOS ORIGINALMENTE MANTIDOS EM CHYTRIDIOMYCOTA: 1.1 Fungos obrigatoriamente anaeróbicos, habitando o rúmen e o seco de animais herbívoros; zoosporos mono ou poliflagelados ................................. ....................................................................NEOCALLISMATIGOMYCOTA 1.2 Fungos saprófitas ou parasitas, predominantemente aeróbicos, não en- contrados no rúmen ou seco de herbívoros ...................................................2 2.1 Formam esporos de resitência de parede grossa e ornamentada; zoosporos 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 130 11/06/2013 11:27:01 131OS REINOS DOS FUNGOS sem glóbulos lipídicos .....................................BLASTOCLADIOMYCOTA 2.2 Se formam esporos de resistência, estes não apresentam parede ornamentada e grossa; glóbulos lipídicos usualmente formados nos zoosporos ................3 3.1 Talo não ramificado, eucárpico, com disco de fixação basal ou sub-basal, ou talo diferenciado em um sistema vegetativo com estruturas semelhantes a hifas e bem desenvolvidas, com sexualidade oogâmica; zoosporos algo ponteagudos na parte apical, com glóbulos lipídicos anteriormente posiciona- do.......CHYTRIDIOMYCOTA - CLASSE MONOBLEPHARIDOMYCETES 3.2 Não combinam as características acima .................................................4 4.1 Zoosporos com um a vários glóbulos lipídicos, às vezes com movimen- tos ameboides; rizoides quando presentes com pontas de mais de 0,5µm de diâmetro; predominantemente do solo.........FILO CHYTRIDIOMYCOTA - ORDEM SPIZELLOMYCETALES 4.2 Zoosporos usualmente com um glóbulo lipídico (às vezes vários), sem movimentos ameboides; rizoides quando presentes com pontas afinando gadativamente atingindo menos de 0,5µm de diâmetro; ocorrem em vários ambientes.......FILO CHYTRIDIOMYCOTA - CLASSE CHYTRIDIOMY- CETES FILO NEOCALLIMASTIGOMYCOTA Talo monocêntrico ou policêntrico, formando zoosporos posteriormente uniflagelados ou multiflagelados; são organismos anaeróbicos encontrados no trato digestivo de ruminantes e possivelmente em outros substratos anaeró- bicos do ambiente. Não apresentam mitocôndrias mas têm hidrogenossomos de origem mitocondrial; kinetossomo presente mas não funcional; centríolos ausentes; apresentam um complexo anel circunflagelar associado ao kinetosso- mo; microtúbulos formados a partir deste anel e radiando em volta do núcleo, formando um flabelo posterior. Envelope nuclear permanece intacto durante toda a mitose.O filo apresenta uma única Classe (Neocallismastigomycetes) e ordem (Neocallismatigales), descrita abaixo. ORDEM NEOCALLIMASTIGIALES Consiste de quidrídias anaeróbicas que habitam o rúmen e o seco de animais herbívoros, com talo mono- ou policêntrico. Formam zoosporos uniflagelados e, como exceção dentro deste filo, algumas espécies podem ter 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 131 11/06/2013 11:27:02 132 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE até 10 flagelos; o quinetossomo (organela não ligada a membrana, formada por microtúbulos) é envolto por um aparato flagelar que inclui um anel cir- cunflagelar característico; os zoosporos tem ribossomos agregados mas não apresentam rumpossomos. Não apresentam mitocôndrias, o que é normal para organismos anaeróbicos. Tem uma única família, Neocallimastigiaceae, com 5 gêneros: Ana- eromyces Breton et al. (=Ruminomyces; tem duas spp. da França e Áustria), Caecomyces J. J. Gold (duas spp., do Reino Unido e Canadá); Neocallimastix Vavra & Joyon ex I. B. Health (4 spp. de ampla dispersão), Orpinomyces Sur & G. R. Ghosh (uma espécie da Índia com anamorfo semelhante a Chrysospo- rium) e Piromyces J. J. Gold, Heath & Bauchop (6 spp. de ampla dispersão). FILO MICROSPORIDA Organismos parasitas, formadores de esporos, mas sem flagelos e sem peroxissomos. Apresentam duas vesículas polares (mitossomos) interpretadas como sendo remanescentes da mitocôndria, além de enzimas mitocondriais e genes relatados a funções da mitocôndria. Ribossomos do tipo 70S e apa- rato de Golgi atípico. Apresentam quitina na parede celular. Ciclo de vida compreendendo uma reprodução vegetativa denominada de merogonia e uma esporogonia. Núcleos isolados (monocarióticos) em em duplas (diplocarió- ticos). Os microsporídios são parasitas de todos os grupos de animais e de alguns protozoas. Alguns são de importância econômica, em especial Nosema apis que parasita abelhas. Pelo menos 8 espécies ocorrem causando doenças em humanos imunocomprometidos. Compreende 170 gêneros e pelo menos 1.300 espécies. A posição sistemática do grupo é muito controversa, tendo sido estudada basicamente por zoólogos. Mas estudos de ultraestrutura e de genética tem revelado sua posição entre os fungos verdadeiros, devendo-se definir qual código comandará a organização hierárquica da classificação. Originalmente considerados organismos primitivos, são atualmente reconhe- cidos como mais evoluídos (KIRK et al., 2008). FILO CHYTRIDIOMYCOTA Talo cenocítico, eucárpico ou holocárpico, monocêntrico a policêntrico ou hifálico; zoosporos posteriormente uniflagelados (flagelo liso) ou poliflagelados, sem mastigonemas ou escamas, com um sistema raiz flagelar único. Cristas mitocondriais planas e parede celular com quitina. Com kinetossomo, um centríolo não funcional e um complexo de microcorpos 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 132 11/06/2013 11:27:02 133OS REINOS DOS FUNGOS lipídicos globulares. Envelope nuclear fenestrado nos polos durante a divisão mitótica. São saprófitas ou parasitas sobre vários substratos, em água doce (raro marinhos) e solo, com algumas espécies anaeróbicas facultativas no trato digestório de mamíferos herbívoros. Compreende em torno de 700 espécies reunídas em 4 ordens e estas separados em duas Classes Chytridiomycetes (ordens Chytridiales, Rhizophydiales e Spizellomycetales) e Monoblepharomycetes (ordem única Monoblepharidiales) cuja separação está exposta na chave mais acima. CLASSE CHYTRIDIOMYCETESA classe é subdividida em 3 ordens de acordo com a revisão do dicio- nário de Kirk et al. (2008), Simmons (2007) e Simmons et al. (2009) criam a nova ordem Lobulomycetales a partir de espécies segregadas da ordem Chytridiales, em especial do gênero Chytriomyces segundo resultados de estudos moleculares. ORDEM CHYTRIDIALES Talo formado por estrutura holocárpica ou eucárpica. Neste último caso, pode ocorrer formação de um sistema de rizoides indistinto ou distinto (cujas terminações afinam gradualmente e atingem tamanho inferior a 0,5µm de diâmetro), o qual serve para fixar o organismo ao substrato. Neste caso tem-se um fungo epibiótico, mas a maioria das Chytridiales são endobióticos, desenvolvendo-se dentro das células do hospedeiro. A partir dos rizoides pode ser formado uma única estrutura de reprodução, quando o talo é denominado monocêntrico, ou várias estruturas de reprodução, quando é denominado policêntrico, sendo as estruturas interconectadas por um rizomicélio. A reprodução assexuada ocorre por formação de zoosporos (que apresentam principalmente um glóbulo lipídico conspícuo) descarregados por uma ou mais papilas, formadas a partir da parede do zoosporângio ou a partir de um tubo formado por esta; algumas espécies apresentam um opérculo característico (operculados). Muitas outras espécies liberam os zoosporos por um poro, sendo então denominadas inoperculadas. A reprodução sexuada é desconhecida para muitas espécies. Nas espécies em que já foi experimentada, resulta na formação de um esporo ou esporângio de resistência, apesar de alguns autores terem relatado esta estrutura como resultante de uma reprodução assexuada. Os zoosporos contêm um plugue elétron-opaco na base do flagelo; 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 133 11/06/2013 11:27:02 134 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE microtúbulos extendendo-se a partir de um lado do kinetossomo em linhas paralelas; ribossomos agregados próximo ao núcleo; kinetossomo paralelo ao centríolo não flagelado e conectado a ele por material fibroso; núcleo não associado ao kinetossomo, cisternas fenestradas (rumpossomo) adjacentes ao glóbulo lipídico. A maioria das espécies é aquática, mas também ocorrem em solos. A ordem Chytridiales é dividida em várias famílias, as quais podem ser agrupadas segundo a liberação dos zoosporos em Inoperculadas e Oper- culadas (SPARROW, 1960). Hawksworth et al. (1995) aceitam 5 famílias. Foi adaptada uma chave (CHAVE 01) de Sparrow (1960) para ilustrar algumas das modificações na classificação e para facilitar a identificação de famílias de outras ordens próximas. Harpochytriales é atualmente considerada família Harpochytriaceae da ordem Monoplepharidales. As 4 famílias mais Harpochytridiaceae estão ex- postas na CHAVE 02 para fácil diferenciação. Hibbett et al. (2007) consideram que a monofilia do grupo ainda não é certa, sendo que o gênero Polychytrium e Chytriomyces angularis devem ser excluídos da ordem. CHAVE 01 - SPARROW (1960) CHAVE PARA AS FAMÍLIAS DE CHYTRIDIALES E FAMÍLIAS PRÓ- XIMAS DE OUTRAS ORDENS: 1.1 Holocárpicos, parasitas ou eucárpicos e então parasitas ou sapróbios; parede zoosporangial tipicamente formando uma tampa (ou mais), a qual se abre sem se despreender em um dos lados, formando um opérculo típico ..... .......................................................................................OPERCULADAS.. 2 1.2 Holocárpicos ou eucárpicos, parasitas ou sapróbios em ambos; espécies inoperculadas, liberando os zoosporos por um poro ou por deliquescência da membrana, ou se operculadas, então eucárpicas..........INOPERCULADAS ...3 2.1 Policêntricos e saprófitas; talo completamente endobiótico ou endo-biótico e extramatrical .... MEGACHYTRIACEAE (= CLADOCHYTRIACEAE) 2.2 Parasitas ou saprófitas, monocêntricos; talo epi e/ou endobióti- co.....................................................................................CHYTRIDIACEAE 3.1 Talo holocárpico, sem estruturas vegetativas especializadas, endobiótico ..........................................................................................................................4 3.2 Talo eucárpico, diferenciado em um sistema vegetativo e em órgãos repro- dutivos, monocêntrico ou policêntrico; epi e endobiótico, só endobiótico, ou extramatrical................................................................................................. 6 4.1 Talo holocárpico desenvolve-se em um único esporângio ou esporângio 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 134 11/06/2013 11:27:02 135OS REINOS DOS FUNGOS de resistência, não formando soro........................................ OLPIDIACEAE 4.2 O talo holocárpico divide-se em muitos órgãos reprodutivos ................5 5.1 Talo converte-se em uma série linear de esporângios ..................................... .................................................................................ACHLYOGETONACEAE 5.2 Esporângios e gametângios envolvidos em membrana comum, formando o que se denomina pró-soro ou soro; parasitas ........... SYNCHYTRIACEAE 6.1 Talo inteiramente monocêntrico .................................................................. 7 6.2 Talo pelo menos em algumas fases policêntrico ....................................... 8 7.1 Talo formado por um único zoorporo encistado do qual se desenvolvem rizoides.......................................................................PHLYCTIDIACEAE (=CHYTRIDIACEAE) 7.2 Formam um sistema rizomicelial extensivo, que é endobiótico, formando estruturas de reprodução epibióticas..... ............................... RHIZIDIACEAE (=CHYTRIDIACEAE) 8.1 Esporângios e esporos de resistência formados sobre o mesmo talo poli- cêntrico endobiótico .............................................CLADOCHYTRIACEAE 8.2 Esporângios e esporos de resistência formados sobre talos separados; esporângios epibióticos, talo monocêntrico; esporos de resistência endobió- ticos, talo policêntrico ........... .............................PHYSODERMATACEAE (POSIÇÃO ATUAL NA ORDEM BLASTOCLADIALES) CHAVE 02 CHAVE PARA AS FAMÍLIAS ATUALMENTE RECONHECIDAS EM CHYTRIDIALES: 1.1 Talo uniaxial, eucárpico com "holdfast" basal ou sub-basal, compreenden- do uma região superior que forma zoosporos e uma inferior vegetativa; são capazes de realizar repetitivas esporulações ..............HARPOCHYTRIACEAE (PERTENCE À ORDEM MONOBPLEPHARIDALES) 1.2 Talo eucárpico ou holocárpico, monocêntrico ou policêntrico, mas não como acima ............................................................................................................ 2 2.1 Talo holocárpico, na maturidade desenvolvendo um soro, pró-soro ou es- poro de resistência ........................... ............................ SYNCHYTRIACEAE 2.2 Talo eucárpico ou holocárpico, não formando soro ..................................3 3.1 Talo eucárpico, policêntrico, compreendendo um rizomicélio e corpos repro- 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 135 11/06/2013 11:27:02 136 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE dutivos ...................................................................CLADOCHYTRIACEAE 3.2 Talo eucárpico ou holocárpico, monocêntrico ............................................4 4.1 Talo eucárpico, monocêntrico; cisto zoospórico expandindo para formar um esporângio (desenvolvimento endógeno) ...................CHYTRIDIACEAE 4.2 Talo eucárpico ou holocárpico, monocêntrico; núcleo sai do cisto zoospórico e incha o tubo germinativo para formar aí um esporângio ou prosporângio (de- senvolvimento exógeno) ......................................... ENDOCHYTRIACEAE FAMÍLIA ENDOCHYTRIACEAE Talo eucárpico ou holocárpico, monocêntrico. Esporângio exógeno ao cisto zoospórico, operculado ou inoperculado. Esporo de resistência exógeno. Esta família reúne 10 gêneros e 56 espécies. Destes, 7 são delimitados nas chaves de outras famílias em que eram encaixados antes da aceitação geral da família, como Chytridiaceae e Phlyctidiaceae (maisabaixo). Endochytrium Sparrow tem 7 spp. de clima temperado (Figura 12 h-i). No Brasil ocorrem Catenochytridium (3 espécies), Diplophlyctis (com 3), Endochytrium (uma), Entophlyctis (uma), Nephrochytrium (uma) e Truitella (MILANEZ et al., 2007). FAMÍLIA SYNCHYTRIACEAE Talo endobiótico, holocárpico sem um sistema vegetativo especiali- zado, na maturidade convertido em um soro de esporângios inoperculados, um pró-soro ou um esporo de resistência; esporângios formados dentro ou fora, mas sempre envoltos primariamente por uma membrana soral comum. Zoosporos posteriormente uniflagelados, com um único glóbulo. Synchytrium é parasita de plantas com flor, com 4 espécies no Brasil, enquanto os outros dois gêneros são parasitas de algas (ver ciclo de vida, Figura 22B) Carpenterella Tehon & H. A. Harris, com duas espécies (da Índia e EUA) e Johnkarlingia Pavgi & S. L. Singh (com uma espécie da Índia que ocorre em raízes de Brassica) não foram incluídas na chave abaixo. CHAVE PARA OS GÊNEROS DE SYNCHYTRIACEAE: 1.1 Parasita de plantas com flor; talo grande nunca ameboide, formando um soro simples ou envolto por uma membrana soral comum, pró-soro ou esporo de resistência; pró-soro nunca formando um tubo de descarga (Figura 22 B) .... ........................................................................................................ Synchytrium 1.2 Parasita em algas; talo pequeno, sempre formando um pró-soro ou um esporo de resistência; soro simples ou composto, séssil ou no ápice de um tubo de descarga ....................................................................................................2 2.1 Soro séssil sobre o pró-soro, parede não dividida em segmentos; espo- 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 136 11/06/2013 11:27:02 137OS REINOS DOS FUNGOS rângios pequenos, esféricos, ameboides, ocasionalmente uniflagelados ........ .................................................................................................. Endodesmium 2.2 Soro séssil sobre o pró-soro ou formado no ápice de um tubo de descarga; parede sempre dividida em número variado de segmentos, não envolta por uma membrana soral comum na maturidade, simples ou composta .... Micromyces FAMÍLIA PHLYCTIDIACEAE (=CHYTRIDIACEAE) Talo epi e endobiótico, monocêntrico, eucárpico, o cisto epibiótico ou expandindo-se e tornando-se um esporângio inoperculado, um prosporângio, ou um esporo de resistência de parede grossa e a parte endobiótica funcionando como um sistema vegetativo, ou o cisto não alargando-se e ou evanescente ou persistente, em cujo caso a parte endobiótica forma o órgão reprodutivo bem como o sistema vegetativo; zoosporos posteriormente uniflagelados, geralmente com um único glóbulo. Nas espécies em que é conhecida, a repro- dução sexuada ocorre por fusão de aplanogametas formados no talo; o esporo de resistência, quando germina, funciona como esporângio ou prosporângio (ver ciclo de Rhizophydium, Figura 22 C). Compreende parasitas e saprófitas de algas, animáculos ou grãos-de- -pólen submersos em água doce. CHAVE PARA OS GÊNEROS DE PHLYCTIDIACEAE: 1.1 Esporângio epibiótico ou extracelular; esporo de resistência epi ou endobiótico.....................................................................................................2 1.2 Esporângio e esporo de resistência endobióticos ....................................13 2.1 Corpo do zoosporo encistado ou séssil ou alargando-se para formar um prosporângio ou remanescendo livre na água, não alargando-se e produzindo, no ápice do tubo germinativo, um apressório, o qual expande-se para formar o esporângio; base estéril nunca formada.......................................................3 2.2 Corpo do zoosporo encistado alargando-se inteiramente ou em parte para formar um esporângio, o último usualmente séssil, com ou sem uma base estéril ........................................................................................................................5 3.1 Corpo do zoosporo encistado séssil, alargando-se para formar um pró- esporângio; a parte endobiótica consiste de uma série de lobos largos inter- comunicantes ..............................................................................Saccomyces 3.2 Corpo do zoosporo encistado produzindo, no ápice do tubo germinativo, um apressório, o qual expande-se para formar o esporângio; parte endobiótica completamente rizoidal ou apofisada e contendo um complexo distal de apên- 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 137 11/06/2013 11:27:02 138 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE dices curtos....................................................................................................4 4.1 Parte endobiótica não apofisada .......................................Scherffeliomyces 4.2 Parte endobiótica apofisada........................Corallochytrium (considerado sinonímia de Scherffeliomyces) 5.1 Parte epibiótica apresentando tipicamente uma base estéril septada ou uma estrutura pequena, com forma de botão, sobre a qual o esporângio está instalado; parte endobiótica rizoidal ou com forma de botão ......................6 5.2 Parte epibiótica ou extraceluar completamente fértil; parte endobiótica variada ...........................................................................................................7 6.1 Parte estéril formada por um botão inconspícuo sobre o qual o esporângio está instalado; parte endobiótica com forma de botão .... Physorhyzophidium 6.2 Parte estéril conspícua e como um componente íntegro ou como continuação da base da porção fértil, raramente faltando; parte endobiótica rizoidal ou em forma de correia .......................................................................Podochytrium 7.1 Parte endobiótica formada por um tubo distintamente duplo-contorcido, por um saco irregular, esfera, digitação ou papila, nunca ramificada ou afinando gradualmente .................................................................................................8 7.2 Parte endobiótica formada por um rizoide simples afinando gradualmente ou por um sistema de rizoides ramificados, formados a partir de uma apófise, ou diretamente a partir do ápice do tubo germinativo, ou uma prolongação dele .....................................................................................................................10 8.1 Parte endobiótica formada por um complexo de apêndices digitados ponteagudas saindo de um botão central.........................................Loborhiza 8.2 Parte endobiótica não digitada ................................................................9 9.1 Esporo de resistência preenchendo completamente seu container............... ......................................................................................................Phlyctidium 9.2 Esporo de resistência formado apenas na parte distal de seu container ... .....................................................................................................Septosperma 10.1 Parte endobiótica formada por um rizoide que afina gradualmente ou por um sistema de rizoides saindo do ápice de um tubo germinativo ..................11 10.2 Parte endobiótica com os rizoides saindo de uma apófise .....................12 11.1 Esporângio e esporo de resistência epibióticos; parasitas ou saprófitas de vários substratos (Figura 24; 11 A-e)... .....................................Rhizophydium 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 138 11/06/2013 11:27:02 139OS REINOS DOS FUNGOS 11.2 Esporângio e esporo de resistência extracelular; parasita de algas planctô- nicas ................................................................................................Dangeardia 12.1 Esporângio sem um apículo, com poro de descarga usualmente apical; esporo de resistência epibiótico ..............................................Phlictochytrium 12.2 Esporângio com um apículo e poro de descarga lateral; esporo de resis- tência endobiótico .....................................................................Blyttiomyces13.1 Parte vegetativa formada por um tubo septado ou cenocítico isodiamétrico, geralmente estendendo-se através de muitas células do hospedeiro..........14 13.2 Parte vegetativa rizoidal, geralmente monófaga (em uma só célula)......15 14.1 Parte vegetativa largo-tubular, não septada ...........................Rhizosiphon 14.2 Parte vegetativa formada por um tubo estreito e septado .......Aphanistis 15.1 Esporângio fortemente tubular, formando um ou mais tubos de descar- ga..........................................Mitochytridium (= ENDOCHYTRIACEAE) 15.2 Esporângio esférico, irregular ou piriforme, nunca fortemente tubular, tipicamente formando um único tubo de descarga ou poro ........................16 16.1 Esporângios formados pela formação de vesículas do lado dorsal dos rizoides, bem diferenciados dorsiventralmente.............................Phlyctorhiza 16.2 Não como acima .................................................................................17 17.1 Rizoides ou eixo rizoidal saindo diretamente do esporângio ........... ....... .................................................. Entophlyctis (= ENDOCHYTRIACEAE) 17.2 Rizoides formados de uma apófise. Diplophlyctis (=ENDOCHYTRIA- CEAE) FAMÍLIA ACHLYOGETONACEAE (posição incerta) Talo endobiótico, holocárpico, tornando-se transversalmente septado na maturidade e formando de dois a muitos esporângios inoperculados, line- armente arranjados. Ocorrem como parasitas em algas de água doce. Achlyogeton Schenk tem uma espécie norte temperada. CHAVE PARA OS GÊNEROS DE ACHLYOGETONACEAE: 1.1 Talo formando dois esporângios, separados por um istmo mais ou menos bem definido...........................................................................................Bicricium 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 139 11/06/2013 11:27:02 140 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE 1.2 Talo formando tipicamente uma série linear de mais do que dois esporângios .......................................................................................................................2 2.1 Zoosporos encistando-se no orifício do tubo de descarga ........Achlyogeton 2.2 Zoosporos formando um aglomerado no orifício do tubo de descarga, não encistando, eventualmente nadando diretamente a partir dele ................. .... .......................................Septolpidium (Figura 24) (= Myzocitiopsidaceae? ) FAMÍLIA RHIZIDIACEAE (=CHYTRIDIACEAE) Talo predominantemente interbiótico, monocêntrico, eucárpico, consis- tindo de um sistema rizoidal bem desenvolvido do qual pelo menos as pontas são endobióticas, e um rudimento reprodutivo, o qual pode ser convertido em um esporângio, pró-esporângio, gametângio ou esporo de resistência; esporângios inoperculados; zoosporos posteriormente uniflagelados (às vezes aplanosporos), frequentemente com um único glóbulo. Esporo de resistência formado assexualmente ou por via sexuada, a partir de aplanogametas iso ou anisogâmicos, os quais nunca são liberados ao meio exterior, funcionando como esporângio ou pró-esporângio quando germinam (ver ciclo de vida de Polyphagus euglenae, Figura 23A). São parasitas de algas, saprófitas de exsuvias de insetos aquáticos e muitos, inclusive, ocorrendo no solo. A posição da família é muito controversa, apesar de muitos autores a sinonimizarem com Chytridiaceae. CHAVE PARA OS GÊNEROS DE RHIZIDIACAEAE: 1.1 Corpo do zoosporo ou aplanosporo formando o rudimento do esporângio ..........................................................................................................................2 1.2 Corpo do zoosporo formando o rudimento de um pró-esporângio ou um tubo germinativo, o qual expande-se em parte para produzir um pró-esporângio .......................................................................................................................... 9 2.1 Parte vegetativa consistindo de um tubo não ramificado, duplo contorcido; aplanosporos formados........................ ...................................Sporophlyctidium 2.2 Parte vegetativa com rizoides ricamente ramificados; zoosporos são forma- dos..................................................................................................................3 3.1 Sistema rizoidal saindo de um eixo simples do esporângio ........................4 3.2 Sistema rizoidal saindo de uma porção basal do esporângio em forma de taça, de parede grossa ou de uma apófise, ou de muitos locais sobre o espo- rângio .............................................................................................................6 4.1 Parede esporangial espinescente ...... ......................................Solutoparies 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 140 11/06/2013 11:27:02 141OS REINOS DOS FUNGOS 4.2 Parede esporangial lisa ............................................................................5 5.1 Eixo rizoidal principal predominantemente alongado; esporos de resistên- cia assexualmente formados ou sexualmente por anastomose rizoidal ......... .........................................................................................................Rhizidium 5.2 Eixo rizoidal principal predominantemente curto, ocasionalmente algo expandido; esporo de resistência sempre sexualmente formado por anastomose rizoidal ..........................................................................................Siphonaria 6.1 Rizoides formados a partir de uma porção com forma de taça ou apófi- se......................................................................................................................7 6.2 Rizoides originados em vários locais sobre a superfície do esporângio ........ ..........................................................................................................................9 7.1 Rizoides formados a partir de uma porção com forma de taça.............. ...... ...........................................................................................................Obelidium 7.2 Rizoides formados a partir de uma apófise ...................................................8 8.1 Esporângio esférico....................... ....................................Rhizoclosmatium 8.2 Esporângio irregularmente lobado, estelado (Figura 24) .....Asterophlyctis 9.1 Corpo do zoosporo encistado produzindo um tubo germinativo, parte do qual expande-se para formar o prosporângio .........................Endocoenobium 9.2 Corpo do zoosporo encistado alargando-se em um rudimento de pró-espo- rângio ...........................................................................................................10 10.1 Esporângio com orifício apical para a saída dos zoosporos ................. ......................................................................................................Polyphagus 10.2 Esporângio com orifício lateral ou subapical .................... Sporophlyctis FAMÍLIA CLADOCHYTRIACEAE Talo epi e endobiótico, ou livre no meio (somente os ápices entrando no substrato), em ambos os casos eucárpico, usualmente policêntrico, com sistema vegetativo extensivo, muito ramificado, rizoidal, septado ou não, frequentemente com inchaços irregulares e células septado-turbinadas. Es- porângios inoperculados, terminal ou intercalares; zoosporos posteriormente uniflagelados (ausente em Amoebochytrium), com um único glóbulo. Esporos de resistência de parede grossa, aparentemente de origem assexuada, formados como os esporângios sobre o sistema rizoidal, na germinação funcionando como um pró-esporângio ou zoosporângio (ver ciclo de vida de Nowakowskiella ramosa, Figura 24B). Compreende 10 gêneros e 38 espécies. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 141 11/06/2013 11:27:02 142 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Saprófitas ou parasitas de ovos de animais microscópicos e algas de água doce. Um gênero é parasita em algas marinhas e outro provavelmente parasita de Elodea (Megachytrium). Nesta família foi incluída Megachytriaceae,considerada distinta por vários autores. Cladochytrium (com 4), Nowakowskieua (com 8), Polychytrium (uma) e Septochytrium (com 5 espécies) são citados para o Brasil (MILANEZ et al., 2007). Além dos 8 gêneros incluídos na chave abaixo temos outros 3, a saber: Lacustromyces Longcore (com uma espécie dos EUA), Nephromyces Giard (três spp. da Europa), Saccopodium Sorokin (uma espécie da antiga URSS). CHAVE PARA GÊNEROS DA FAMÍLIA CLADOCHYTRIACEAE 1.1 Zoosporângios operculados .........................................................................2 1.2 Zoosporângios inoperculados ......................................................................4 2.1 Talo formando um sistema vegetativo largo-tubular, não afinando gra- dualmente na parte distal ........................................................Megachytrium 2.2 Talo formando rizoides tênues, afinando fortemente ...............................3 3.1 Rizoides septados apenas onde delimitam os órgãos reprodutivos (Figura 24 B; 11 A-f) ................... ...........................................................Nowakowskiella 3.2 Rizoides septados e constrictos em vários intervalos e no ponto de delimi- tação dos órgãos reprodutivos ....................................................Septochytrium 4.1 Sistema vegetativo predominantemente tubular, septado ou não ...........5 4.2 Sistema vegetativo predominantemente rizoidal, não septado exceto nas células turbinadas ..........................................................................................6 5.1 Sistema vegetativo intra e extramatrical, micelioide, com um ou mais eixos, não septado ou ocasionalmente septado; esporângios de dois tipos, lisos e tu- berculados ........... ........................................................................Polychytrium 5.2 Sistema vegetativo extramatrical ou endobiótico, sem eixos rizoidais secun- dários, tubular e septado; esporângios extramatricais de um tipo .................... ........................................................................................................Coenomyces 6.1 Zoosporos não flagelados, fortemente ameboides, esporângios não pro-life- rando ......................................................................................Amoebochytrium 6.2 Zoosporos flagelados; esporângios internamente proliferantes ..................7 7.1 Esporângios e rizoides predominantementes endobióticos, o esporângio terminal ou intercalar, frequentemente apofisado, com um tubo de descarga; 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 142 11/06/2013 11:27:02 143OS REINOS DOS FUNGOS zoosporos ao serem descarregados formam um grupo temporariamente imóvel (fig. 24a)...................................................................................Cladochytrium 7.2 Esporângios e rizoides predominantemente extramatricais, esporângios sem tubo de descarga, formados no ápice de rizoides; zoosporos, ao serem descarregados, nadando por algum tempo em uma vesícula formada no orifício ......................................................................................................Physocladia FAMÍLIA CHYTRIDIACEAE Talo epi e endobiótico, monocêntrico, eucárpico, a parte epibiótica ou expandindo-se e tornando-se um esporângio operculado e a parte endo- biótica formando o sistema vegetativo, ou não se alargando e formando um cisto evanescente; a parte endobiótica formando então órgãos reprodutivos como vegetativos, ocasionalmente interbióticos; zoosporos produzidos em esporângios, posteriormente uniflagelados, geralmente com um único gló- bulo, liberados com a deiscência do opérculo; reprodução sexuada quando conhecida, por fusão de aplanogametas; esporos de resistência inter, epi ou endobióticos, na germinação produzindo um esporângio epibiótico (ver ciclo de vida de Chytriomyces hyalinus, Figura 23B). Parasitas e saprófitas de algas de água doce e marinhas, também de outros fungos aquáticos, pólen e protozoa. A família Chytridiaceae agrupa cerca de 33 gêneros e 238 spp., sendo que 49 ocorrem no Brasil (MILANEZ et al., 2007). CHAVE PARA ALGUNS GÊNEROS DA FAMÍLIA CHYTRIDIACEAE: 1.1 Esporângios formados no ápice de um tubo germinativo do zoosporo, dentro do substrato; esporo de resistência sempre endobiótico.....................2 1.1 Esporângio epi ou interbiótico, formado do corpo do zoosporo encistado ou como um broto lateral do eixo principal, externo ao substrato; esporo de resistência endo, epi ou interbiótico ..................................................................5 2.1 Sistema rizoidal não catenulado ..............................................................3 2.2 Sistema rizoidal catenulado.....................................................................4 3.1 Esporângios presos diretamente ao sistema rizoidal........Endochytrium (= ENDOCHYTRIACEAE) 3.2 Esporângios formados como um broto da apófise, na qual está preso o sis- tema rizoidal .......................................................................... Nephrochytrium (= ENDOCHYTRIACEAE) 4.1 Rizoides formados de um único local sobre o esporângio, que é cilíndrico e pedicelado .........................................................................Cylindrochytridium 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 143 11/06/2013 11:27:02 144 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE 4.2 Rizoides formados de muitos locais do esporângio esférico, oval ou irre- gular, mas não como acima .................................................................Truittella (=ENDOCHYTRIACEAE) 5.1 Esporângio ou esporo de resistência formado a partir de um broto lateral de uma parte externa distal do eixo cilíndrico principal; rizoides largos e tu- bulares; todo o fungo de tamanho consideravelmente grande.......................... ..................................................................................................Macrochytrium 5.2 Esporângio formado a partir de todo ou de parte do corpo expandido do zoosporo encistado, externo ao substrato; partes de tamanho variável.........6 6.1 Sistema rizoidal formado a partir de mais de uma área da superfície do esporângio, que tem uma ou mais papilas de descarga .........Karlingiomyces 6.2 Sistema rizoidal formado de uma área somente, da base do esporângio, que tem uma única papila de descarga ......................................................................7 7.1 Esporângio com uma apófise consistindo de uma célula primária embaixo do esporângio e uma série de segmentos catenulados intercomunicantes, os quais dão origem distalmente a rizoides; uma porção não expandida do cisto do zoosporo sempre presente no esporângio.....................Catenochytridium 7.2 Esporângio com ou sem uma apófise, desenvolvendo-se de todo ou de par- tes do cisto zoospórico ...................................................................................8 8.1 Esporângios frequentemente com um pedicelo basal estéril ..................... ................................................................................................Rhopalophlyctis 8.2 Esporângios sempre completamente férteis................................................9 9.1 Esporo de resistência dentro do substrato ...............................Chytridium 9.2 Esporos de resistência externos ao substrato ...........................................10 10.1 Esporo de resistência formado por via sexuada após deslocamento do gameta masculino, por meio de um tubo, para dentro do gametângio feminino .....................................................................................................Zygorhizidium 10.2 Esporo de resistência formado assexuadamente; zoosporos logo natantes após a descarga .............................................................................................11 11.1 Rizoides completamente endobióticos ................................Chytriomyces 11.2 Apenas os ápices dos rizoides endobióticos .................... Amphicypellus 2013fungos_v1_3ed_part1.indd144 11/06/2013 11:27:02 145OS REINOS DOS FUNGOS ORDEM LOBULOMYCETALES Talo monocêntrico, eucárpico, com desenvolvimento endógeno; rizoi- des isodiamétricos, com 0,5 – 1,5 micrômetros de diâmetro. Zoosporângio esférico ou alongado e largo, mas então também lobulado, eventualmente com cúpulas, operculados (Lobulomyces) ou não. Zoosporos não ficam em vesícula depois de liberados do zoosporângio, apresentando plugue flagelar opaco e com extensões anteriores e/ou posteriores ao plugue; contem um ou dois glóbulos lipídicos; raiz de microtúbulo ausente, com aparato de Golgi, inclusões estriadas e os corpos elétron opacos próximos ao kinetossomo e cisternas associadas com os glóbulos lipídicos. De acordo com Simmons (2007) esta ordem constitui-se em um clado monofilético. Simmons et al. (2009) confirmam a ordem com uma família e incluem nela as espécie Chytriomyces angularis e C. poculatus, criando o novo gênero Lobulomyces, além de descrever como novos Clydaea vesícula e Maunachytrium keaense. Chytriomyces poculatus agora como Lobulomyces poculatus é citado para São Paulo (Cananeia) segundo a revisão de Milanez et al. (2007). ORDEM RHIZOPHYDIALES Zoosporos apresentam ou não uma raiz microtubular de um ou mais microtúbulos, mas quando presente, extende-se de um lado do kinetossomo, usualmente em fileiras paralelas, até uma cisterna da superfície do glóbulo lipídico; ribossomos são envoltos por um sistema de dupla membrana; mi- tocôndrias, microcorpos, glóbulos lipídicos e sisternas das membranas são tipicamente associadas como um MLC. Os centríolos não flagelados e o kinetossomo dispõe-se paralelamente ou em um ângulo pequeno entre si e são conectados por material fibrilar. Um estrutura associada ao kinetossomo pode estar ou não presente e adjacente ao kinetossomo. Falta um plugue elétron-opaco na base do flagelo. Compreende 3 famílias, 5 gêneros e 104 espécies, sendo descritos em Letcher et al. (2006). FAMÍLIA KAPPAMYCETACEAE Talo eucárpico, monocêntrico. Esporângio esférico, descarregando zo- osporos por um poro único e amplo; zoosporos germinam em grupos em agar, sendo dos mais simples em estrutura entre os Chytridiomycetes. Esporângio e esporo de resistência endógeno ao cisto do zoosporo. Rizoides ramificados e compactos. Zoosporos contem massa ribossomal, um único glóbulo lipídi- co, sem microcorpos, um núcleo e uma única mitocôndria. Kinetossomo e o centríolo não flagelado ficam dispostos paralelos ou em ângulo leve um do 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 145 11/06/2013 11:27:02 146 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE outro e contêm uma região densamente granular localizada centralmente em cada estrutura. Ocorrem em solo e saprotróficos em grãos de pólen. Compreende somente o gênero Kappamyces com uma única espécie dos EUA. FAMÍLIA RHIZOPHYDIACEAE Zoosporângio formando um a muitos zoosporos e um rizoide que afina gradualmente e que frequentemente é ramificado. Zoosporos contem um único glóbulo lipídico coberto parcialmente por cisterna. O kinetossomo e o centríolo não flagelado são paralelos e conectados por material fibrilar com uma zona de convergência de aproximadamente 0.075 mm de largura centralmente localizada entre as duas estruturas. Estrutura associada aos ki- netossomo presentes e lembrando um esporão laminado e curvo. Esporângio esférico na maturidade, com múltiplos poros ou papilas de descarga. Rizoides ramificados. Compreende somente o gênero Rhizophydium com 100 espécies de ampla dispersão, 21 das quais encontradas no Brasil (Milanez et al. , 2007). FAMÍLIA TERRAMYCETACEAE Esporângios esféricos quando imaturos e angulares na maturidade pela formação de muitas papilas de descarga formados além da superfície do mesmo (Terramyces) ou esféricos a angulosos. Zoosporos com um único corpo lipídico, parcialmente coberto por uma cisterna. O kinetossomo e o centríolo não flagelado são conectados por material fibrilar com uma zona de convergência de fibrilas de aproximadamente 0.010–0.025 mm em largura, centralmente localizada entre as duas estruturas. Estruturas associadas ao kinetossomo presentes como esporões sólidos, não laminares e curvos. Es- porângios são esféricos a angulares na maturidade, com papilas múltiplas e pouco a muito elevadas. Rizoides são robustos e ramificados. Saprotróficos em pólen ou queratina; primariamente de habitats terrestres. Compreende os gêneros Terramyces (dos EUA) e Boothiomyces (da Austrália), com espécies desmembradas de Rhizophydium. ORDEM SPIZELLOMYCETALES Policêntricos ou Monocêntricos, com desenvolvimento endógeno ou exógeno; zoosporos com um a vários glóbulos lipídicos, às vezes com mo- vimentos ameboides; rizoides quando presentes com pontas de mais de 0,5 µm de diâmetro; predominantemente do solo, sapróbicos ou parasitas. Compreende 4 famílias (Olpidiaceae, Caulochytriaceae, Spizellomy- cetaceae e Urophlyctidaceae), 13 gêneros e 66 spp. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 146 11/06/2013 11:27:02 147OS REINOS DOS FUNGOS Hibbett et al. (2007) consideram Caulochytrium, Olpidium, Rozella ou o Clado de Rhizophlyctis rosea de posição incerta, não nesta ordem, apesar de apresentarmos gêneros na chave. CHAVE PARA FAMÍLIAS DE SPIZELLOMYCETALES: 1.1 Talo policêntrico; parasitas de plantas superiores .................................... ................................................................................UROPHLYCTIDACEAE 1.2 Talo monocêntrico; vários substratos.. ................................................... 2 2.1 Esporangiocarpo aéreo presente; sobre conídios de Cladosporium e Glo- eosporium ............................................................. CAULOCHYTRIACEAE 2.2 Esporangiocarpo aéreo ausente; substratos variados ..............................3 3.1 Zoosporângio desenvolvendo-se a partir da expansão do cisto zoospórico (desenvolvimento endógeno) ................................ SPIZELLOMYCETACEAE 3.2 Zoosporângio desenvolvendo-se no exterior do cisto zoospórico (desen- volvimento exógeno) ........................................................... OLPIDIACEAE FAMÍLIA OLPIDIACEAE O talo destes fungos é endobiótico, holocárpico, inteiramente convertido em um esporângio simples, inoperculado ou em esporo de resistência; zoos- poros são formados dentro do esporângio, apresentando geralmente um único glóbulo; reprodução sexuada por fusão de planogametas. O zigoto penetra no hospedeiro, forma um esporo de resistência, o qual germina, formando diretamente um zoosporângio (ver ciclo de vida, Figura 22A). Parasitas ou saprófitas de algas de água doce, fungos aquáticos (in- clusive marinhos), animáculos, esporos de plantas e de vegetais superiores. Neste último caso, Olpidium brassicae (Woronin) Dang é parasita importante. Compreende 5 gêneros e 45 espécies, 5 espécies de Olpidium ocorrem no Brasil (MILANEZ et al., 2007). CHAVE PARA GÊNEROS DA FAMÍLIA OLPIDIACEAE: 1.1 Zoosporos com flagelo fixo subapicalmente, o corpo contendo um anel anterior de grânulos refrativos (Figura 24) ..............................Olpidiomorpha 1.2 Zoosporos com flagelo posteriormente fixo, raro anterior mas dirigido para trás.................................................................................................................2 2.1 Esporângio nunca preenchendo toda a célula do hospedeiro, com uma papila de descarga muito curta ou aparato de descarga ausente; parasitas em Euglenophyceae ou amebas ..........................................................................3 2.2 Esporângios enchendo ou não a célula do hospedeiro, com um ou mais 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 147 11/06/2013 11:27:02 148 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE tubos de descarga bem definidos; parasita em algas, fungos ou animais mi- croscópicos .......................................................................................................4 3.1 Parasitas no núcleo de amebas ............................Nucleophaga (Figura 24)3.2 Parasita em protoplasma de Euglenophyceae e amebas.......................... .... .........................................................................................Sphaerita (Figura 24) 4.1 Esporângios preenchendo praticamente toda a célula do hospedeiro e as- sumindo a sua forma .........................................................................................5 4.2 Esporângios mais ou menos ovoides, esféricos ou tubulares, nunca enchen- do completamente a célula do hospedeiro ou perdendo sua individualidade .......................................................................................................................6 5.1 Esporângios nunca preenchendo a célula do hospedeiro; suas paredes en- -tretanto, nunca completamente fusionadas às do hospedeiro ...Plasmophagus 5.2 Esporângios preenchendo completamente órgãos reprodutivos ou partes hipertrofiadas do hospedeiro; as paredes do hospedeiro e do parasita fusio- nadas pelo menos lateralmente ...........................................................Rozella [ROZELLOPSIDACEAE (Figura 24) - POSIÇÃO INCERTA] 6.1 Esporângios com numerosos tubos de descarga (Figura 24) ... Pleotrachelus 6.2 Esporângios com um (raramente mais) tubo de descarga ...........................7 7.1 Esporângios geralmente escassos; esporos de resistência não soltos no interior de um invólucro (Figura 24). ....................................................Olpidium 7.2 Esporângios formados em densos cachos; esporos de resistência soltos no interior de um invólucro ....................................................... Pringsheimiella FAMÍLIA CAULOCHYTRIACEAE Talo monocêntrico. Esporangiocarpo aéreo presente. Compreende um gênero, Caulochytrium Voos & L. S. Olive, com duas espécies sobre conídios de Cladosporium e Gloeosporium nos EUA. FAMÍLIA UROPHLYCTIDACEAE Talo policêntrico, parasitas de plantas superiores. Compreende um gênero, Urophlyctis J. Shroet. com 5 spp. de ampla dispersão. FAMÍLIA SPIZELLOMYCETACEAE Talo eucárpico, monocêntrico; desenvolvimento do esporângio, pró- esporângio e esporo de resistência endógeno, dentro do cisto zoospórico; 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 148 11/06/2013 11:27:02 149OS REINOS DOS FUNGOS saprófitas ou parasitas, predominantemente do solo. Compreende 6 gêneros e 31 spp. Spizellomyces D. J. S. Barr tem 8 spp. da Europa, África do Sul e Canadá, 5 Punctatus no Brasil. Gaertneriomyces D. J. S. Barr duas espécies de solos Europeus; Karlingia A. E. Johanson tem 10 spp. de ampla dispersão, 5 no Brasil; Kochiomyces D. J. S. Barr tem uma espécie dos EUA. Rhizophlyctis A. Fisch. tem 9 spp. cosmopolitas, 4 no Brasil. Triparticalcar D. J. S. Barr tem uma espécie no Ártico. CLASSE MONOBLEPHARIDOMYCETES Talo filamentoso, extensivo ou simples e não ramificado, frequetemente com um “holdfast” basal; reprodução assexuada por zoosporos ou autosporos; zoosporos com kinetossomo paralelo a um centríolo não flagelado, com um disco estriado estendendo-se parcialmente em torno do kinetossoma, microtúbulos radiando anteriormente a partir do disco estriado, com agregação ribossomal; com rumpossomo (cisternas fenestradas) adjacente ao microcorpo; reprodu- ção sexuada por meio de oogâmica por meio de anterozoides posteriormente uniflagelados formados em anterídios e por gametas femininos não flagelados formados em oogônios. ORDEM MONOBLEPHARIDALES É a ordem mais evoluída dentre os Chytridiomycota. Diferencia-se das Blastocladiales, da qual é próxima, por apresentar reprodução sexuada (oogâmica) por fusão de um gameta masculino móvel (anterozoides posteriormente uniflagelados formados em anterídios) com um gameta feminino imóvel (o oogônio), formando uma ou mais oosferas imóveis por oogônio. A oosfera fecundada torna-se um oosporo de parede grossa. Órgão sexuais e zoosporângios ocorrem no mesmo talo, o qual é eucárpico e micelial. Não formam esporângio de resistência. Apresentam estruturas somáticas altamente vacuolizadas, dando a aparência de segmentado. Hifas não septadas ou pseudoseptadas. Zoosporângio alongado, semelhante a uma hifa, formando zoosporos, que frequentemente têm um grupo de grânulos refrativos anteriores. São conhecidas poucas espécies, a maioria aquáticas, distribuídas em duas famílias: Monoblepharidaceae e Gonapodyaceae. Uma diferença marcante entre as famílias é que quando da fertilização da oosfera, na última, o gameta masculino é apenas parcialmente engolfado pelo femi- nino, sendo que o zigoto sai do oogônio e nada livremente impulsionado pelo flagelo que antes era do anterozoide. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 149 11/06/2013 11:27:02 150 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE CHAVE PARA FAMÍLIAS DE MONOBLEPHARIDALES: 1.1 Talo formado por filamento não ramificado, fixo ao substrato por um “holdfast”; esporângio amadurecendo em sucessão basipetal, formando seg- mentos com forma de “H”; saprofíticos ...... OEDOGONIOMYCETACEAE 1.2 Talo diferenciado em uma estrutura hifálica bem desenvolvida e contendo numerosas estruturas reprodutivas; saprofítico ou não ................................ 2 2.1 Zigoto móvel por algum tempo, antes do encistamento, sendo impulsio- nado pelo flagelo do gameta masculino; micélio com ou sem pseudosepto; oogônio com uma ou mais oosferas .................................GONAPODYACEAE 2.2 Zigoto usualmente 1 só, que permanece no oogônio ou fixa-se externamente nele, quando se encista; gameta masculino completamente incorporado na fertilização; micélio nunca pseudosseptado .......MONOBLEPHARIDACEAE FAMÍLIA HARPOCHYTRIACEAE O talo é epibiótico (não penetra no substrato), uniaxial, formando um esporângio na parte superior, ocorrendo reesporulação, isto é, formação de um novo esporângio dentro do velho. A base fixa-se ao substrato por um “holdfast” (estrutura adesiva), lembrando, por estas características, um Trichomycete típico, sendo talvez um elo de ligação entre Oomycota e Zygomycota. A parede é formada por quitina. Zoosporos posteriormente uniflagelados, com capa nuclear. Esta família agrupa sapróbios de água doce, com um gênero (Harpo- chytrium Lagerh.), e cerca de 6 espécies do norte temperado. Já foi considerada ordem, sendo atualmente pertencente a Monoblepharidales. Oedogoniopsis também era considerado como pertencente a esta família mas foi separado e transferido para a ordem Monoblepharidales. FAMÍLIA MONOBLEPHARIDACEAE Fungos macroscópicos eucárpicos com um micélio filamentoso bem desenvolvido, não septado exceto junto aos órgãos reprodutivos, ou possuindo pseudosseptos. Um único gênero, Monoblepharis Cornu, com 11 espécies da Europa e América do Norte. Monoblepharis polymorpha e M. insignis, vivem em restos vegetais imersos na água (SPARROW, 1973; HAWKSWORTH et al., 1995). M. Regignens ocorre no Brasil (MILANEZ et al., 2007). Ciclo de vida de Monoblepharis polymorpha (Figura 27): esporângios são formados nos ápices das hifas bem desenvolvidas, apresentando diâme- tro igual e sendo alongados e delimitados por septo. A partir do protoplasto uninucleado, formam-se vários zoosporos posteriormente uniflagelados que são liberados pelo ápice. Após nadarem por certo tempo, germinam por poro 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 150 11/06/2013 11:27:02 151OS REINOS DOS FUNGOS germinativo, formando um novo micélio. O talo pode produzir gametângios e esporângios dependendo da temperatura. Quando os gametângios são forma- dos, nota-se claramente a diferença do anterídio, pequeno e estreito, formado sobre o gametângio feminino, o qual é largo e arredondado. Os anterozoides são liberados pelo ápice e apenas um penetra na oosfera, ocorrendo plasmo- gamia, alargando-se a parede e formando um oosporo (enquanto este ainda está preso à parede oogonial por um fino colar hialino). A cariogamia ocorre logo após a formação da parede. Após germinar, o oosporo produz um novo talo, sendo que a meiose deve ocorrer com a germinação. FAMÍLIA GONAPODYACEAE O micélio pode serpseudosseptado, acompanhado por constricções (Gonapodya - frequentemente catenulados) ou não (Monoblepharella). Espo- rângios ovoides ou com forma de legume. Gametângios internamente prolí- feros ou não. Em Monoblepharella foi descrita uma estrutura citoplasmática presente apenas nos zoosporos, denominada rumpossomo. Este é composto por túbulos interconectantes e encontrado próximo à membrana celular, na parte posterior da célula. Sua função é desconhecida. Estruturas similares foram encontradas em Nowakowskiella (Chytridiales) e Oedogonomyces separado na família Oedogoniomycetaceae. A família inclui dois gêneros: Monoblepharella Sparrow (com 5 spp. da América Central e do Norte, destacando-se M. taylori e M. mexicana, esta última ocorre no Brasil) e Gonapodya A. Fisch (G. prolifera e G. polymorpha de clima temperado, ambas ocorrem no Brasil). CHAVE PARA OS GÊNEROS DE GONAPODYACEAE: 1.1 Micélio com constrições e pseudoseptos; esporângios com forma de va- gem ou ovoides; gametângios internamente prolíferos; gametângio feminino contendo mais de um gameta .... ......................................................Gonapodya 1.2 Micélio sem constrições ou pseudosseptos; esporângios estreitamente alongados; gametângios não prolíferos; gametângio feminino tipicamente contendo um gameta ...............................................................Monoblepharella FAMÍLIA OEDOGONIOMYCETACEAE Talo formado por filamento não ramificado, fixo ao substrato por um pé basal; esporângio amadurecendo em sucessão basipetal, formando segmentos com forma de “H”; saprofíticos. Compreende um só gênero, Oedogoniomyces Tak. Kobay. & M. Ôkubo, com uma espécie tropical norte. Era incluída nas Harpochytriales. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 151 11/06/2013 11:27:03 152 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE FILO BLASTOCLADIOMYCOTA CLASSE BLASTOCLADIOMYCETES ORDEM BLASTOCLADIALES São habitantes restritos de água e solo, caracterizados pela produção de esporângio de resistência com parede grossa e perfurações. Os zoosporos têm núcleo de membrana dupla (tal como nos planogametas) e um corpo lateral, localizado abaixo da membrana celular, próximo à parte posterior do esporo, o qual consiste de um sistema de dupla membrana, com o qual corpos microscópicos e corpos lipídicos estão associados. A função desse corpo lateral ainda é desconhecida. A ordem é dividida nas famílias Coelomomycetaceae, Catenariaceae e Blastocladiaceae (ALEXOPOULOS; MIMS, 1979), sendo a última a melhor conhecida. Hawksworth et al. (1995) consideram a ordem com outras duas famílias, além das três acima citadas: Physodermataceae e Sorochytriaceae. Hibbett et al. (2007) consideram a ordem em um filo à parte a partir dos trabalhos moleculares publicados por James et al. (2007) e Liu et al. (2006). CHAVE PARA FAMÍLIAS DE BLASTOCLADIALES: 1.1 Talo sem parede, sem rizoides, parasita de larvas de insetos aquáticos (mosquitos); numerosos esporos de resistência de parede grossa e variada- mente ornamentada ............................................COELOMOMYCETACEAE 1.2 Talo com parede, formando rizoides, não confinado a larvas de insetos ........ ..........................................................................................................................2 2.1 Estágio endobiótico colonial, parasítico em tartígrades; estágio epibiótico policêntrico, ramificado, contendo rizoides, extramatricial em tartígrades pre- viamente infectados .................................................. SOROCHYTRIACEAE 2.2 Sem estado colonial e não combinando as demais características acima ....... .......................................................................................................................... 3 3.1 Talo com um zoosporângio epibiótico monocêntrico e um sistema endo- biótico policêntrico contendo células turbinadas, septadas, das quais podem ser formadas esporos de resistência; parasitas de fanerógamas ... .................. ..................................................................... PHYSODERMATACEAE 3.2 Talo policêntrico ou monocêntrico; não parasitas de fanerógamas ...... 3 3.1 Talo tubular, catenulado, ramificado ou não, formando rizoides ao longo de seu comprimento, com septos verdadeiros ou falsos delimitando estruturas 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 152 11/06/2013 11:27:03 153OS REINOS DOS FUNGOS reprodutivas e istmos estéreis ..........................................CATENARIACEAE 3.2 Talo de vários graus de complexidade, tipicamente com célula basal e ri- zoides na sua extremidade proximal ..........................BLASTOCLADIACEAE FAMÍLIA PHYSODERMATACEAE Formam talos de dois tipos: a- monocêntrico e consistindo de um sistema rizoidal endobiótico e um es- porângio epibiótico de parede fina; b- policêntrico, completamente endobiótico, formando células turbinadas e numerosos esporos de resistência de parede grossa, os quais germinam por zoosporos para formar o esporângio epibiótico de parede fina. São parasitas obrigatórios, primariamente de Angiospermas aquáticas e pteridófitas. Consiste de um único gênero, Physoderma (50 espécies), considerado por alguns como pertencente a Blastocladiales e por outros como separado. Physoderma maydis causa a mancha marrom do milho e P. hydrocotylidis ocorrem no Brasil (MILANEZ et al., 2007). FAMÍLIA BLASTOCLADIACEAE Apresentam micélio bem desenvolvido, geralmente consistindo de um conjunto de rizoides bem formados, ramificados, por meio dos quais o fungo se prende ao substrato; formam um corpo grosso ou fino, semelhante a um tronco, e numerosas ramificações laterais (geralmente dicotômicas), sobre as quais os órgãos de reprodução são formados. As hifas são pseudosseptadas na forma de anéis engrossados em algumas espécies, sendo perfeitamente cenocíticas nas demais. A parede das hifas é composta de quitina. Nas espécies com reprodução sexuada conhecida, ocorrem dois tipos de talo, distinguidos unicamente pelo tipo de órgãos reprodutores formados: - o gametotalo (haploide): produz gametângios. - o esporotalo (diploide): produz esporângios. O ciclo de vida é diplobiôntico sendo a reprodução sexuada realizada pela copulação planogamética. As células flageladas que se fundem são iso- gâmicas ou anisogâmicas, dependendo da espécie. Comparando as Blastocladiales e as Chytridiales, constata-se aspectos que indicam que a primeira seria mais evoluída, a saber: - o tamanho do talo que, em Blastocladiales, pode ser visto sem aumento enquanto que nas Chytridiales é microscópico. - a estrutura somática composta por hifas verdadeiras que desenvolvem o metabolismo do fungo, formando órgãos reprodutores nos ramos. - zoosporos diploides produzem o esporotalo. - reprodução sexuada por copulação planogamética. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 153 11/06/2013 11:27:03 154 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE - ocorre a formação de anisogametas, pelo menos no gênero Allomyces. - apresentam alternância de gerações bem características (pelo menos Allomyces, Blastocladiella e Coelomomyces). A família Blastocladiaceae é subdividida em cinco gêneros e 40 spp., dos quais Allomyces e Blastocladiella são os mais conhecidos. Os demais são Blastocladia, Blastocladiopsis e Microallomyces. Blastocladia tem 7 spp. no Brasil (MILANEZ et al., 2007). A seguir descrevem-se em detalhes o gênero Allomyces, um dos fungos que mais se prestam para trabalhos em sala de aula entre os Mastigomycotina. Cinco espécies ocorrem no Brasil (MILANEZ et al., 2007). Allomyces: é um gênero cosmopolita, subdividido nos subgêneros Euallomyces, Cystogenes e Brachyallomyces, diferenciados de acordo com o ciclo de vida (ver ciclo de Allomyces macrogynus, Figura 25). As hifas são bem desenvolvidas, ramificadas dicotomicamente, com paredes forma- das por quitina, glucanos e cinzas. Apresenta alternância de gerações, com um gametotalo haploide alternando-se com um esporotalo diploide. Os dois tipos de talosão indistinguíveis até que formem órgãos reprodutivos, e têm as mesmas necessidades nutricionais. Em certo estágio, o gametotalo forma gametângios femininos sem cor, e gametângios masculinos alaranjados (apre- sentam γ-caroteno) próximos um do outro na média de 1:1. Os masculinos são também menores (aproximadamente a metade) que os femininos, podendo ser formados sobre o último (Allomyces macrogynus) ou abaixo deste (Allomyces arbuscula). Ambos os tipos liberam planogametas (posteriormente uniflage- lados) na água. Nos gametas masculinos aparentemente não aparece corpo lateral. Em ambos a membrana nuclear é proeminente e o amadurecimento do masculino ocorre 15 - 20 minutos antes do feminino. Os gametângios e gametas femininos produzem um hormônio denominado sirenina, que atrai os gametas masculinos. Mesmo sendo produzidos no mesmo talo, os game- tângios apresentam-se bioquimicamente diferentes. As características acima são do ciclo de Euallomyces. O esporotalo diploide é formado pela germinação do zoosporo liberado pelo gametângio feminino. Este forma dois tipos de esporângio na maturidade: um de parede fina, alongado e hialino (mitosporângio) e um de resistência, oval, de parede grossa, perfurado (meiosporângio), que contém pigmento de melanina conferindo-lhe cor marrom-avermelhada. O esporângio de resistência requer um período de dormência de duas a oito semanas ou mais, antes da sua germinação. Em algumas linhagens este período foi reduzido para até dois dias, utilizando-se meios de cultura dife- rentes. O esporângio de resistência sofre meiose quando germina, resultando na formação de zoosporos haploides (meiosporos), levemente menores que os zooporos diploides. Os meiosporos, ao germinarem, formam o gametotalo. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 154 11/06/2013 11:27:03 155OS REINOS DOS FUNGOS Tanto os mitosporos como os meiosporos são atraídos pelos aminoácidos licina e leucina. Muitas experiências genéticas vêm sendo conduzidas empregando-se espécies deste gênero (Allomyces). As mesmas são utilizadas, inclusive, para a delimitação das espécies e sinonimização. Um exemplo é Allomyces java- nicus, descrito como espécie distinta a partir de coleta realizada em Java, e que comprovou-se ser um híbrido natural de Allomyces arbuscula e Allomyces macrogynus, através de experiências genéticas. CHAVE PARA 3 GÊNEROS DE BLASTOCLADIACEAE: 1.1 Talo consistindo de um rudimento reprodutivo simples, do qual os rizoides emergem diretamente ou de um rudimento reprodutivo formado no ápice de uma célula basal não ramificada ancorada por rizoides ao substrato........... ..... ...................................................................................................Blastocladiella 1.2 Talo formando um número indeterminado de rudimentos reprodutivos sobre a célula basal ou sobre suas ramificações ..............................................2 2.1 Talo consistindo de uma célula basal e de umas poucas hifas ramificadas dicotomicamente, um tanto depauperadas e distais, sem pseudosseptos; uma das ramificações usualmente rudimentar; esporos de resistência livres dentro de seu container ........................................................................Blastocladiopsis 2.2 Talo consistindo de uma célula basal da qual formam-se hifas pseudos- septadas, dicotomicamente ramificadas, contendo os rudimentos reprodutivos ou de uma célula basal única, os rudimentos reprodutivos sésseis ou sobre lobos ou extensões da célula basal ....................................................Allomyces FAMÍLIA SOROCHYTRIACEAE Fase colonial endobiótica; talo polisporangiado através de septação sequencial, resultando segmentos que formam rizoides, com esporângios dando lugar a zoosporo; um novo talo forma-se intramatricialmente a partir de zoosporos encistados no hospedeiro; se forem crescidos em meio artificial formam um talo policêntrico, ramificado, rizomicelial. Parasitas de tartígrades. Um único gênero, Sorochytrium Dewel, com uma espécies dos EUA. FAMÍLIA COELOMOMYCETACEAE São parasitas obrigatórios das cavidades do corpo de larvas de mos- quito. As hifas não têm parede, lembrando mais ou menos um plasmódio de Myxomycetes. Outro aspecto é o apresentado por Coelomomyces psoroforae, que é heteroécia, necessitando de pelo menos dois hospedeiros completamente diferentes para completar seu ciclo. O heteroecismo é conhecido apenas nos Uredinales (Basidiomycota). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 155 11/06/2013 11:27:03 156 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE O gênero Coelomomyces Keilin (descrito em 1921) com 70 espé- cies de ampla dispersão; apresenta hifas bem desenvolvidas, ramificadas dicotomicamente, sem parede, as quais se formam e crescem em larvas de mosquito. As hifas dentro da hemocele do mosquito convertem-se em espo- rângios de resistência, de parede grossa, lisa ou variadamente ornamentada, ou dão origem, inicialmente, a segmentos multinucleados chamados corpos hifálicos, os quais são convertidos, então, em esporângios de resistência. A formação destes esporângios de resistência é o motivo básico para manter- -se os Coelomomycetaceae nesta ordem, além da presença da capa nuclear, formada por membranas interligadas nos zoosporos e a reprodução sexuada por planogametas. O ciclo de vida de Coelomomyces psoroforae ocorre como segue (ver Figura 26): A espécie é parasita de larvas de mosquito (Culiseta inornata). O mi- célio nu, parasitando as larvas, produz esporângios de resistência. Acredita-se que a meiose ocorra nesta estrutura, tal como em Allomyces. O eporângio de resistência forma zoosporos de dois tipos, geneticamente diferentes (um ‘+’ e outro ‘-’), que são libertados na água. Estes são incapazes de infectar larvas de mosquito novamente, sendo obrigados a encontrar indivíduos susceptíveis do Copepode Cyclops venalis (Crustáceo), os quais invadem, formando hifas somáticas sem parede após a germinação. Com a germinação dos zoosporos “+” é formado um gametotalo “+” e vice-versa. De cada um destes gametotalos são formados planogametas “+” e “-”, respectivamente, os quais são liberados tanto no interior do corpo do Copépode como na água. Com a fusão dos dois planogamentas compatíveis e de tipos sexuais diferentes, forma-se um zigoto móvel (biflagelado) que infesta larvas de mosquito, completando o ciclo. Este grupo de fungos apresenta grande possibilidade de emprego em controle biológico de mosquitos. Compreende dois gêneros: Callimastix (com uma espécie: C. frontalis encontrada em rúmen de mamíferos) e Coelomomyces Keilin, do qual C. Ciferii ocorre no Brasil (MILANEZ et al., 2007). FAMÍLIA CATENARIACEAE A família é composta por poucas espécies, as quais podem ser parasitas de animais microscópicos e de outros fungos ou saprófitas, decompondo restos orgânicos de origem animal e vegetal. O talo é tubular, septado e apresenta parede. Forma numerosos rizoides e reproduz-se tanto sexuada como asse- xuadamente. Catenaria allomyces reproduz-se sexuadamente por meio de planogametas isógamos. Em Catenaria anguillulae (ocorre no Brasil) não foram ainda encontrados gametas nem plasmogamia. Diploidização ocorre durante o desenvolvimento do esporângio de resistência e a meiose ocorre quando ele germina. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 156 11/06/2013 11:27:03 157OS REINOS DOS FUNGOS A família é composta por três gêneros, Catenophlyctis, Catenaria e Catenomyces e 12 spp. Catenophlyctis Variabilis ocorre no Brasil (MILANEZ et al., 2007). CHAVE PARA 2 GÊNEROS DE CATENARIACEAE: 1.1 Talo usualmente com um eixo principal fortemente definido, ao longo do qual são produzidas as estruturas reprodutivas em uma série linear alternando- -se com istmuses estéreis; esporângios com um tubo de descarga ............. ..... ............................................................................................................Catenaria 1.2 Talo muito ramificado, difuso; esporângios frequentementecom mais que um tubo de descarga, endooperculado .........................................Catenomyces 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 157 11/06/2013 11:27:03 158 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Figura 22 - Ciclos de vida de Olpidium viciae (A), Synchytrium endobioticum (B) e Rhizophidium couchi (C). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 158 11/06/2013 11:27:03 159OS REINOS DOS FUNGOS Figura 23 - Ciclos de vida de Polyphagus euglenae (A) e Chytriomyces hyalinus (B). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 159 11/06/2013 11:27:03 160 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Figura 24 - A- Ilustrações de alguns gêneros de Chytridiomycotina: a- Cla- dochytrium; b- Pleotrachelus em esporângio de Pilobolus; c- Asterophlyctis; d- Rhizophidium em grão-de-pólen de Pinus; e- Olpidium em Cosmarium (alga); f- Sphaerita em alga Euglena; g- Aphanodyction: zoosporângios; h- Brevilegnia: zoosporângios já sem parede; i- Nucleophaga em núcleo de Amoeba; j- Leptomitus: talo com zoosporângios vazios. k- Esporo de resistência de Rozella em Saprolegnia; l- Septolpidium em Diatomácea; m- Olpidium em ovo de rotífera, com esporo de resistência e zoosporângio; n- Olpidium em Zygnema (alga); o- zoosporo de Olpidiomorpha. B- Ciclo de vida de Nowakowskiella ramosa. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 160 11/06/2013 11:27:03 161OS REINOS DOS FUNGOS Figura 25 - Ciclo de vida de Allomyces macrogynus. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 161 11/06/2013 11:27:03 162 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Figura 26 - Ciclo de vida de Coelomomyces psorophorae. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 162 11/06/2013 11:27:03 163OS REINOS DOS FUNGOS Figura 27 - A - a- Plectospira: zoosporângios com base lobulada; b- Apha- nomyces: zoosporos encistados no ápice do tubo de descarga; c- Sommers- dorfi a: liberando zoosporos; d- Aplanes: esporos saindo do zoosporângio; e- Thraustotheca: zoosporângio; f- Aphanomycopsis: zoosporângios. B- Ciclo de vida de Monoblepharis polymorpha. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 163 11/06/2013 11:27:04 164 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE Figura 28 - A - a- Haptoglossa: célula-canhão com harpão (seta); b - Eu- rychasma: zoosporos saindo de dois tubos de descarga; c- Eurychasmidium: zoosporos encistados no tubo de descarga; d- Pythiopsis: zoosporângio; e- Saprolegnia: zoosporângio com proliferação interna; f- Isoachlya: renovação de zoosporângio do tipo Achlya. B - Ciclo de vida de Rhizidiomyces apophysatus (Hyphochytridiomycota). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 164 11/06/2013 11:27:04 165OS REINOS DOS FUNGOS Figura 29 - Representação esquemática dos possíveis eventos do ciclo de vida de Plasmodiophora brassicae (Plasmodiophoromycota). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 165 11/06/2013 11:27:04 166 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE METODOLOGIA PARA O ISOLAMENTO DE CHYTRIDIOMYCOTA A metodologia para a obtenção destes organismos é explicada na Fi- gura 11-B. Utilizando-se água com restos vegetais e/ou animais imersos ou flutuantes, consegue-se isolar facilmente fungos deste filo. Levando o material ao laboratório, coloque-o em placas de petri ou outro recipiente qualquer (esterilizado de preferência para evitar as contaminações), adicionando uma ou mais “iscas”: cabelo de crianças (de preferência loiro), papel celofane, sementes de sorgo ou outras, ecdizes de artrópodes ou mesmo de cobras, grãos-de-pólen de milho e Pinus, entre outras (Figura 11B). A grande maioria das espécies é cosmopolita, sendo o endemismo pouco frequente (MILANEZ, 1982). Assim sendo, em trabalhos com taxo- nomia com fungos aquáticos do Brasil, pode-se utilizar pesquisas realizadas em qualquer continente, pois a maioria das espécies será a mesma (talvez apenas com proporções de ocorrência diferentes). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 166 11/06/2013 11:27:04 167OS REINOS DOS FUNGOS REINO FUNGI (MYCETES) Este reino agrupa atualmente Filos antes considerados muito distantes. É o caso de Chytridiomycota e Zygomycota, fungos com hifas cenocíticas (quando presentes). O primeiro grupo (Chytridiomycota) pertence aos cha- mados fungos aquáticos, para os quais apresenta-se uma descrição geral na introdução aos fungos do reino Chromista, visto que o filo era antes incluído nos Mastigomycota juntamente com os Oomycetes e Hyphochytridiomycetes. O que mantém grupos tão diferentes no mesmo reino é a composição da parede (tem β-glucano e quitina), o tipo de nutrição (heterotrófica - absorbtiva ou osmotrófica), a forma das cristas mitocondriais (laminar), o tipo de talo (sem fase ameboide) e a ausência de mastigonemas flagelares nos zoosporos das espécies que os formam. A diferenciação dos fungos do presente reino foi apresentada na chave do início deste livro. A partir de estudos de biologia molecular e de ultraestrutura tem-se rearranjado todo o reino em novos filos e outras categorias hierárquicas, em especial com os resultados reunidos no trabalho de Hibbett et al. (2007), sendo a seguinte classificação ao nível de filos aceita no presente livro: Filo Ascomycota Filo Basidiomycota Filo Blastocladiomycota Filo Chytridiomycota Filo Glomeromycota Filo Microsporida Filo Neocallimastigomycota Filo Zygomycota NOVA CLASSIFICAÇÃO PARA O ANTIGO FILO ZYGOMYCOTA (lato sensu): Os Zygomycota sensu lato são fungos que formam um esporo de re- sistência, de parede grossa, denominado zigosporo, originado a partir de um zigosporângio resultante da fusão de dois gametângios iguais, o que, associado à não formação de zoosporos, diferem o grupo dos Oomycota. Há entretanto, uma série de espécies em que a reprodução sexuada ainda é desconhecida (formam esporangiosporos). Estas eram incluídas entre os Zygomycota em 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 167 11/06/2013 11:27:04 168 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE função de não produzirem esporos móveis por flagelos (zoosporos). O micélio é cenocítico, ocorrendo septo apenas para separar o esporângio ou zigosporo durante o seu amadurecimento. Entre outras características deste antigo filo podem ser enumerados: - as paredes das hifas são constituídas por quitina, quitosano e ácido poliglucurônico; algumas espécies não têm parede; - certas espécies são dimórficas, isto é, podem crescer na forma de levedura e micelial; - assexuadamente podem ser produzidos esporangiosporos, conídios (em Entomophthorales), oídios, clamidosporos e artrosporos; - não tem centríolo. Podem-se evidenciar pelo menos quatro linhas evolutivas entre os componentes deste grupo, a saber: - os fungos que formam micorrizas (Endogonales e Glomales); - as espécies que formam micélio extensivo e um alto nível de dife- renciação de estruturas de reprodução assexuadas (Mucorales - sexuadamente demonstram alto grau de heterotalismo com elaborado sistema hormonal); - espécies homotálicas cujas estruturas de reprodução assexuadas não são bem diferenciadas e se limitam a um crescimento somático (Entomophthorales); - espécies heterotálicas com uma reprodução assexuada bem elaborada e também de hábito parasítico (Zoopagales). A reprodução assexuada é bem evoluída neste filo. O esporângio típico é formado por uma estrutura alargada terminal sobre uma hifa especializada denominada esporangióforo. Pode formar de meia centena até vários milhares de esporos (esporangiosporos). Algumas espécies, entretanto, formam estruturas menores denominadas esporangíolos, que se diferenciam do esporângio por formarem menos esporos (de 1 - 30) e pelo tamanho reduzido. Esporangíolos unisporados podem ser confundidos com conídios de Asco e Basidiomycota, sendo até assim denominados por alguns autores, mas diferenciam-se porque o septo que separa o esporangíolo do conidióforo não é parte da parede. En- tretanto, quando esses esporangíolos forem cilíndricos e contiverem vários esporos em uma única série, são denominados de merosporângios. São espécies muito importantes, especialmente por formarem asconhe- cidas micorrizas com plantas. A maioria é terrestre, mas há representantes de vida aquática, quando geralmente estão associados a artrópodes. São saprófitas ou parasitas fracos de plantas, raramente em animais. Para maiores informações sobre coleta, isolamento e identificação de Zygomycota é importantíssimo o trabalho de O’Donell (1979). Ainsworth (1973) reconhece a divisão do Filo Zygomycota em duas classes: Zygomycetes e Trichomycetes apresentando a seguinte chave para diferenciação das mesmas: 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 168 11/06/2013 11:27:04 169OS REINOS DOS FUNGOS CHAVE PARA CLASSES DE ZYGOMYCOTA (Ainsworth, 1973): 1.1 Saprofíticos ou, se parasitas ou predadores, tendo micélio imerso nos teci- dos do hospedeiro ...................... .......................................ZYGOMYCETES 1.2 Associados com artrópodos, fixos ao exoesqueleto ou ao trato digestivo por “holdfast”, não imersos no tecido do hospedeiro ...TRICHOMYCETES Os Trichomycetes têm sido pouco estudados, provavelmente pelo tipo de habitat onde são encontrados. Apenas recentemente vêm ganhando maior atenção. Nas últimas 4 décadas eles têm sido pesquisados por Lichtwardt e colaboradores, este que é atualmente uma das maiores autoridades no assunto. Martin (1961) aceita a proposição de Lichtwardt (1960; 1961) e con- sidera os Trichomycetes como uma subclasse (Trichomycetidae) constituída por 5 ordens da classe Phycomycetes. Segundo Alexopoulos (1966) essa classe inclui, provavelmente, um grupo bastante heterogêneo, com organismos que não estão relacionados entre si. Benjamin (1979) considera a ordem Harpellales como pertencente aos Zygomycetes. Hawksworth et al. (1995) levantam também a possibili- dade de Asellariales e Harpellales pertencerem a Zygomycetes. Hibbet et al. (2008) reúnem os dados sobre filogenia e biologia molecular que resultaram na inclusão de Asellariales e Harpellales entre os Kickxellomycotina, além de reorganizarem todo o antigo filo Zygomycota. Liu et al. (2006) sugerem que os Zygomycota são monofiléticos usando os loci rpb1 e rpb2. James et al. (2007) ampliaram o rol de locis e os taxa analisados e concluíram que o filo é polifilético. O mesmo acontece com a antiga Classe Trichomycetes, que é considerada polifilética e portanto deve ser abandonada e seus membros foram arranjados em outros subfilos e até em reinos diferentes como Protozoa (ordens Eccrinales e Amoebidiales). O nome tricomicetos deve, portanto, ser empregado apenas como um grupo ecológico e não mais como uma classe. O nome Zygomycota foi sugerido para o filo sem descrição em latim, sendo portanto inválido. Hibbett et al. (2008) consideram que talvez o nome possa ser reutilizado assim que estudos com as linhagens basais de fungos tenham sido feitos e clados como o que resultou no subfilo Mucoromycotina entre outros, poderão ser incluídos neste. Os mesmos autores sugerem a seguinte classificação para o que se conhecia como ZYGOMYCOTA lato sensu: FILO GLOMEROMYCOTA C. Walker & A. Schüßler, in A. Schüßler et al., 2001 Classe Glomeromycetes T. Cavalier-Smith, 1998 Ordem Archaeosporales C. Walker & A. Schüßler, in A. Schüßler et 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 169 11/06/2013 11:27:04 170 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE al., 2001 Ordem Diversisporales C. Walker & A. Schüßler, 2004 Ordem Glomerales J.B. Morton & Benny, 1990 Ordem Paraglomerales C. Walker & A. Schüßler, in A. Schüßler et al., 2001 Subfilos de posição incerta: Subfilo Mucoromycotina G.L. Benny, in D.S. Hibbett et al., 2007 1. Ordem Mucorales Fries, 1832 2. Ordem Endogonales Moreau, 1954 ex R.K. Benjamin, in Kendrick, ed., 1979 3. Ordem Mortierellales T. Cavalier-Smith, 1998 Subfilo Entomophthoromycotina R.A. Humber, in D.S. Hibbett et al., 2007 1. Ordem Entomophthorales G. Winter, 1880 Subfilo Zoopagomycotina G.L. Benny, in D.S. Hibbett et al., 2007. 1. Ordem Zoopagales Bessey, 1950 ex R.K. Benjamin, in Kendrick, ed., 1979 Subfilo Kickxellomycotina G.L. Benny, in D.S. Hibbett et al., 2007 1. Ordem Kickxellales Kreisel, 1969 ex R.K. Benjamin, in Kendrick, ed., 1979 2. Ordem Dimargaritales R.K. Benjamin, in Kendrick, ed., 1979 3. Ordem Harpellales Lichtwardt & Manier, 1978 4. Ordem Asellariales Manier ex Manier & Lichtwardt, 1978 ANTIGO FILO ZYGOMYCOTA São espécies saprófitas, parasitas fracos de plantas e parasitas es- pecializados de animais, além de parasitas obrigatórios de outros animais, especialmente artrópodes. Quando parasitas em plantas ou decompositores de seus produtos, causam as chamadas podridões moles ou mofos, muito frequentes em frutos armazenados e no pão (quando este está velho), onde ocorrem espécies de Mucor e Rhizopus. Este último gênero já foi encontrado inclusive como oportunista, parasitando o homem. São aqui incluídos ainda os fungos que formam micorriza com vegetais, uma relação simbiótica pela qual a planta fornece ao fungo os açúcares essenciais e, em troca, recebe nutrientes que o fungo extrai do solo com maior facilidade do que a planta, tais como Fósforo, Potássio e Nitrogênio, translocando-os às suas raízes. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 170 11/06/2013 11:27:04 171OS REINOS DOS FUNGOS São conhecidas como micorrizas vesículo-arbusculares, por formarem um sistema especial de relação com as células internas da raíz do hospedeiro, não penetrando, propriamente, no citoplasma, mas invaginando a sua membrana e ramificando-se “internamente” para aumentar a área de contato com a mesma. É conhecida também como endomicorriza sendo o grupo das Glomales o que contém as espécies micorrízicas (ver também capítulo sobre Micorrizas). Ectomicorrizas ocorrem em Endogonales. Dois gêneros são conhecidos como patógenos de plantas, a saber: Choanephora, que causa podridão de frutos e podridão mole de abóbora, pimentão e quiabo; Rhizopus, que causa podridão mole em diversos frutos, grãos e sementes. Os esporos são dispersos pelo vento, sendo que o zigosporo pode permanecer latente por longo período de tempo, suportando inclusive grandes modificações climáticas. Os Zygomycetes são reunidos em 7 ordens, de acordo com Hawksworth et al. (1995), a saber: Mucorales, Endogonales, Dimargaritales, Glomales, Kickxelales, Entomophthorales e Zoopagales. Não existe, entretanto, consenso sobre a delimitação das mesmas. A chave abaixo foi adaptada para os grupos reconhecidos para os antigos Zygomycota de acordo com Habbitt et al. (2008). CHAVE PARA FILOS E SUBFILOS DOS ANTIGOS ZYGOMYCOTA: 1.1 Micélio mais ou menos regularmente septado; zigosporos formados sobre hifas não diferenciadas ................................................................................. 2 1.2 Micélio e zigosporos não como acima ....................................................3 2.1 Merosporângios bisporados, plugues septais com protuberância polar, dissolvendo em KOH (2 - 3%)................SUBFILO KICKXELLOMYCOTINA – ORDEM DIMARGARITALES 2.2 Merosporângios unisporados, plugues septais sem protuberância polar, não dissolvendo em KOH .........................................................SUBFILO KICKXELLOMYCOTINA – ORDEM KICKXELLALES 3.1 Fungos de solo, micorrízicos ou não, ou parasitas de fungos..................4 3.2 Fungos associados ou parasitas de artrópodes, protozoários, nematoides ou rizópodes ..................................................................................................7 4.1 Formam esporocarpos hipógeos contendo somente zigosporos, sendo os esporângios desconhecidos; todos são ectomicorrízicos ..........SUBFILO MUCOROMYCOTINA – ORDEM ENDOGONIALES 4.2 Não formam esporocarpos hipógeos e, se formarem simbiose com plantas, esta é do tipo endomicorriza .........................................................................5 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 171 11/06/2013 11:27:04 172 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE 5.1 Fungos simbiontes, formando endomicorrizacom plantas ...... FILO GLOMEROMYCOTA 5.2 Fungos não micorrízicos .........................................................................6 6.1 Micoparasitas; esporângios com dois esporos ........ SUBFILO KI- CKXELLOMYCOTINA – ORDEM DIMARGARITALES 6.2 Saprófitas (Martensella é parasita de fungos); esporângio formando um único esporo ....................SUBFILO KICKXELLOMYCOTINA – ORDEM KICKXELLALES 7.1 Parasitas de insetos ..............SUBFILO ENTOMOPHTOROMYCOTINA – ORDEM ENTOMOPHTHORALES 7.2 Fungos parasitas em protozoários, rizópodes e nematoides... SUBFILO ZOOPAGOMYCOTINA – ORDEM ZOOPAGALES Escolheu-se o ciclo de vida de Rhizopus sp. (Figura 30) para repre- sentar o grupo. A seguir apresenta-se uma chave geral para os gêneros de reprodução assexuada que apresentam micélio cenocítico e, por isto, se enquadram entre os Zygomycota (sensu lato). CHAVE PARA GÊNEROS DE FUNGOS COMUNS DE ZYGOMYCOTA (SENSU LATO): 1.1 Esporangíolos globosos, formados isoladamente...Mortierella (Figura 36) 1.2 Esporangíolos globosos ou não, formados em grupos ............................2 2.1 Formando ramos esporógenos apicais especiais (esporocládios), os quais originam esporangiosporos somente de um lado (superior ou inferior) ........3 2.2 Não formando esporocládios...................................................................9 3.1 Esporocládios formados em ramos recurvados ou enrolados ....................4 3.2 Esporocládios não formados em ramos recurvados ou enrolados ............6 4.1 Esporocládios em umbelas ou ramos recurvados; esporangiosporos obo- voides ...............................................................Martensiomyces (Figura 34) 4.2 Esporocládios em ramos enrolados; esporangiosporos globosos a curto- elip- soides.............................................................................................................5 5.1 Esporocládios em ramos proximamente espiralados; esporangiosporos curto-elipsoides ......................................................... Spirodactylon (Figura 36) 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 172 11/06/2013 11:27:04 173OS REINOS DOS FUNGOS 5.2 Esporocládios em ramos frouxamente espiralados; esporangiosporos globosos a subglobosos ............................................... Spiromyces (Figura 35) 6.1 Esporangíolos formados no lado inferior (externo) do esporocládio ........ ....................................................................................Coemansia (Figura 37) 6.2 Esporangíolos formados no lado superior (interno) do esporocládio, ou lateralmente ...................................................................................................7 7.1 Esporangióforos longos, ramificados, com muitos esporocládios laterias .... .......................................................................................... Linderina (Figura 34) 7.2 Esporangióforos curtos, simples, formando esporangiosporos internamente ou do lado superior, raro laterais ....................................................................... 8 8.1 Esporocládios abundantes e em grupos sobre disco apical .................. ...... ..........................................................................................Kickxella (Figura 34) 8.2 Poucos esporocládios são formados apical ou lateralmente .................... ..... ......................................................................................Martensella (Figura 36) 9.1 Esporangíolos formados em cadeias ..........................................................10 9.2 Esporangíolos não formados em cadeias .................................................. 15 10.1 Esporangióforos não septados, simples ou ramificados .......................11 10.2 Esporangióforos septados, ramificados ...............................................12 11.1 Esporangióforos simples, com rizoides basais ...... Syncephalis (Figura 34) 11.2 Esporangióforos geralmente ramificados, sem rizoides .......................... ............................................................................Syncephalastrum (Figura 36) 12.1 Ramos dos esporangióforos dicótomos ............ Piptocephalis (Figura 36) 12.2 Ramos dos esporangióforos verticilados ou irregularmente dispostos .. .....................................................................................................................13 13.1 Ramos dos esporangióforos verticilados, todos férteis................................. ........................................................................................Dimargaris (Figura 34) 13.2 Esporangióforo ramificando-se irregularmente, com alguns ápices estéreis ......................................................................................................................14 14.1 Ramos férteis alargados no ápice, formando grupos densos de esporan- giosporos cilíndricos .......................................................Dispira (Figura 35) 14.2 Ramos férteis não alargados no ápice, mas repetidamente ramificados e não formando esporangiosporos em grupos densos.......................................... 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 173 11/06/2013 11:27:04 174 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE ............................................................................ Tieghemiomyces (Figura 36) 15.1 Esporangióforos simples .....................................................................16 15.2 Esporangióforos ramificados ..............................................................18 16.1 Esporangíolos produzidos dentro de uma cabeça ou gota gelatinosa ...... ..............................................................................Helicocephalum (Figura 35) 16.2 Esporangíolos secos não produzidos como acima ..................................17 17.1 Esporangíolos formados sobre um ápice alargado e globoso ................... ..................................................................................Rhopalomyces (Figura 35) 17.2 Esporangíolos formados em porção apical cilíndrica ............................. ......................................................................................Mycotypha (Figura 35) 18.1 A cabeça onde se formam os esporangíolos é simples; esporangíolos hialinos, globosos a subglobosos ...................... Cunninghamella (Figura 35) 18.2 Cabeça onde se formam os esporangíolos é composta; esporangíolos hialinos ou não, de elipsoides a reniformes ......................................................19 19.1 Esporangíolos de marrom a purpúreos, elipsoides...................................... ................................................................................Choanephora (Figura 35) 19.2 Esporangíolos hialinos, elipsoides a reniformes .. Radiomyces (Figura 37) SUBFILO KICKXELLOMYCOTINA (Posição incerta) Talo formado a partir de holdfast fixo a outros fungos como um parasita haustorial ou talo com hifas ramificadas, septadas e subaéreas. Micélio não cenocítico, com septos, com hifas ramificadas ou não. Os septos contêm cavidades disciformes medianas que contêm plugues. Reprodução assexuada por merosporângios unisporados a bisporados, por tricosporos ou artrosporos. Reprodução sexuada por zigosporos globosos, bicônicos ou alantoides e agrupados. São parasitas de outros fungos, sapróbios ou simbiontes obrigados. O Subfilo compreende 4 ordens a saber: Asellariales e Harpellales (ambas originalmente pertencendo à Classe Trichomycetes), Kickxellales, Dimargaritales além da família Lageriomycetaceae. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 174 11/06/2013 11:27:04 175OS REINOS DOS FUNGOS FAMÍLIA LAGERIOMYCETACEAE Talo esparso sem “holdfast” conspícuo ou ricamente ramificado e com holdfast conspícuo e às vezes composto por células contorcidas; ramos férteis com 4 - 8 células generativas por ramo, cada uma formando um tricosporo obpiriforme com dois apêndices, sem colar; talo fixo ao intestino de artrópodes. Strongman & White (2008) descrevem nova espéciede Lagerimyces e comparam-na às demais espécies descritas. ORDEM HARPELLALES Apresentam talos simples ou ramificados, com septos transversais. Todos os membros desta ordem encontram-se fixos através de “holdfast” à membrana do intestino anterior de insetos imaturos encontrados em habitats aquáticos (de águas correntes de rios ou de charcos). Os insetos mais fre- quentemente encontrados hospedando este grupo, são as larvas de díptera, subordem Nematocera, como as moscas pretas, mosquitões e moscas de maio. A prevalência de Trichomycetes em muitas populações de hospedeiros aquá- ticos, tanto na quantidade do talo como na variedade de espécies, atesta para o fato de que as Harpellales são bem adaptadas a vida aquática. Por exem- plo, nos EUA, em populações de mosca-preta, poucas larvas estão livres de Trichomycetes e muitos indivíduos abrigam 3 ou 4 gêneros simultaneamente. REPRODUÇÃO ASSEXUADA: Têm estruturas de reprodução assexuada exclusivas, os esporos exó- genos denominados tricosporos. As células que dão origem aos tricosporos, denominadas células generativas, são envolvidas ativamente na formação e liberação destes. Sua parede é contínua com aquela do tricosporo e entre elas são formadas, frequentemente, um ou mais apêndices fixos à parede transver- sal, separando a célula generativa do tricosporo. Apêndices são conhecidos para as espécies de todos os gêneros, exceto Carouxella e Zygopolaris. Estes apêndices ajudam na infestação do hospedeiro talvez por aderirem a algas ou outros restos que servem de alimento aos artrópodes. O esporangiosporo é liberado da parede esporangial (tricosporo), após ser ingerido pelo hospedeiro. Estes se aderem à parede do intestino do hospedeiro geralmente por “holdfast” secretado no poro apical do esporo, o qual torna-se então a base morfológica do talo. Os apêndices das espécies de Genitellospora homothalica e de Sta- chylina grandispora são formados dentro de invaginações do plasmalema com forma de saco, e do próprio plasto da célula generativa. Com base nos estudos feitos, dois padrões básicos de desenvolvimento de apêndices são reconhecidos até o momento: 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 175 11/06/2013 11:27:05 176 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE 1- o (s) apêndice(s) é formado após a formação do septo; podem estar fixos a qualquer ponto da parede transversal e cada um envolto pela sua própria invaginação plasmalêmica pêndula; 2- os apêndices se formam antes do desenvolvimento esporangial, sendo fixos à periferia da parede transversal, e são envoltos por uma inva- ginação plasmalêmica que é contínua e fica adjacente à parede longitudinal da célula generativa. REPRODUÇÃO SEXUADA: Ocorre através de zigosporos, após a conjugação de duas células (fre- quentemente de talos diferentes, sugerindo heterotalismo), que são hialinos, de parede grossa e lisa. Os zigosporos têm sido descritos para quase todos os gêneros de Harpellales. A célula que sustenta o zigosporo é mais ou menos alongada e forma-se diretamente de uma das células conjugantes, ou forma-se de um curto ramo desenvolvido por uma delas. A célula suporte, suspensora ou zigosporóforo é separada do zigosporo por septo transversal. Baseado na sua posição, quatro tipos diferentes de zigosporos podem ser reconhecidos: 1- zigosporo medianamente fixo e perpendicular ao zigosporóforo (em Harpella, Simuliomyces, Spartiella, Stipella); 2- zigosporos sub-medianamente fixos, oblíquos ao zigosporóforo [em Lageriomyces, Glotzia, Smittium (Figura 33-d), Trychozygospora]; 3- zigosporo medianamente fixo, mas posicionado paralelamente ao zigosporóforo (em Genistellospora, Pennella); 4- zigosporos fixos basalmente e em linha com o eixo longitudinal do zigosporóforo (em Carouxella e Zygopolaris). A ordem Harpellales abrange 26 gêneros de duas famílias: - Harpellaceae: talo não ramificado usualmente preso a membrana do intestino médio de larvas de Diptera. Compreende 5 gêneros e 24 spp. Harpella está representada na Figura 33a. - Legeriomycetaceae (sin.: Genistellaceae): talo ramificado e preso ao intestino posterior de muitas ordens de insetos aquáticos imaturos. Engloba 21 gêneros e 77 spp. A reprodução sexuada é a mesma em ambas, exceto que em Harpellaceae todas as células normalmente se tornam reprodutivas e, nas Legeriomyceta- ceae, apenas a série terminal de células é reprodutiva. ORDEM ASELLARIALES Talo ramificado e irregulamente septado, fixo à parte posterior do intestino de insetos por meio de “holdfast”. Este apresenta uma bainha gela- tinosa ou células basais modificadas. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 176 11/06/2013 11:27:05 177OS REINOS DOS FUNGOS Reprodução assexuada por artrosporos e sexuada incerta, sendo que em algumas espécies se observou conjugação, como em Asellaria ligia (Fi- gura 33h). Ocorre no intestino posterior de insetos de água doce e marinhos. Apresentam apenas uma família Asellariaceae com três gêneros, sendo que uma chave para os mesmos pode ser encontrada em Lichtwardt (1971). Hawksworth et al. (1995) adotam Recticharella como sinonímia de Asella- ria. Asellaria R. Poiss compreende 6 spp. ocorrendo em Isopoda e de ampla dispersão. Orchesellaria Manier ex Manier & Lichtw. tem 4 spp. encontradas em Collembola, de ampla dispersão. ORDEM DIMARGARITALES São fungos parasitas de outros fungos que produzem merosporângios (esporangíolos cilíndricos) com apenas dois esporos. As hifas são septadas, produzindo zigosporos de parede grossa dentro de zigosporângios de paredes finas. Compreende uma família, 3 gêneros e 14 spp. Dimargaris (Figura 34), Dispira (Figura 35) e Thieghemiomyces (Figura 36) são os gêneros dessa ordem. Spinalia pode ser ainda incluído nessa família. ORDEM KICKXELLALES Nesta ordem são formados merosporângios em ramos especializados, septados ou não, denominados esporocládios, com um único esporo. O micélio é septado, sendo a estrutura deste septo similar a de alguns Trichomycetes. Zigosporos são similares aos de Dimargaritales. A ordem tem uma só família com 8 gêneros. Kickxella, Linderina, Martensiomyces (Figura 34), Spiromyces (Figura 35), Spirodactylon, Marten- sella (Figura 36) e Coemansia (Figura 37) são exemplos desta família, os quais estão diferenciados na chave geral para gêneros acima. Dipsacomyces R. K. Benjamin é mais um gênero, com uma espécie descrita de Honduras em 1961 (não incluída na chave). Para maiores detalhes sobre a família ver Benjamin (1958; 1959; 1961; 1966). SUBFILO ENTOMOPHTHOROMYCOTINA (Posição incerta) Talo formado por um micélio cenocítico ou septado, com parede celular bem definida ou protoplásticos (protoplasto pode fragmentar-se formando 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 177 11/06/2013 11:27:05 178 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE corpos hifálicos multinucleados; protoplastos hifoides ou ameboides e que modificam sua forma; rizoides e/ou cistídios formados por algumas espécies; conidióforos ramificados ou não. Esporos primários tipo conídio, (1 a muitos núcleos) descarregados à força por diversos meios ou dispersos passivamente; frequentemente formam também conídios secundários. Esporos de resistência com paredes grossas em camada dupla, como zigosporos depois da conjugação ou como gametângios não diferenciados a partir de corpos hifálicos ou hifas diferenciadas ou não, ou como azigosporos formados sem uma conjugação prévia. Os caracteres nucleares são muito utilizados para a diferenciação de famílias. São parasitas obrigados de animais (artrópodes), plantas criptógamas ou saprófitos, às vezes parasitas facultativos de vertebrados. Engloba uma única ordem a qual é descrita mais abaixo. ORDEM ENTOMOPHTHORALES O talo destes fungos é muito reduzido em relação aos demais Zygomyce- tes, sendo parasitas de algas, insetos, cupins, nematoides e outros invertebrados, saprófitos em diversos restos orgânicos e um gênero é parasita de samambaia. O fato de que muitas espécies parasitamsomente uma espécie “x” qualquer, levando-a à morte rapidamente, levou os estudantes de controle biológico a dedicarem-se na pesquisa prática utilizando-se desses organismos. Além disso, o fato de dispersarem seus esporos violentamente, atraiu também a atenção de biólogos interessados em desvendar o funcionamento destes mecanismos. O micélio pode ser cenocítico ou septado, ficando cada compartimento uni ou multinucleado. Eventualmente ele pode fragmentar-se, formando o que se denomina corpos hifálicos. A reprodução assexuada ocorre por meio de propágulos que são deno- minados conídios, apesar de ser um termo melhor aplicado a fungos Asco e Basidiomycota. O conídio formado é ejaculado violentamente do conidióforo através do aumento de pressão ou turgor da célula que lhe deu origem e com o envolvimento de outros aparatos, dependendo do gênero em questão. Caso houver fartura de substrato o conidióforo formará mais conídios, denominados conídios secundários (um pouco menores), descarregados da mesma maneira. Em algumas espécies forma-se um conidióforo muito longo e fino, em cuja parte apical forma-se uma célula alongada denominada capiliconídio, o qual forma um órgão de fixação especialmente desenvolvido para aderir no hospedeiro. A reprodução sexuada não é bem conhecida ainda, mas já se sabe que não há espécies heterotálicas. A ordem apresenta pelo menos 6 famílias de acordo com Hawksworth et al. (1995) e Alexopoulos et al. (1996). A diferenciação das famílias se dá 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 178 11/06/2013 11:27:05 179OS REINOS DOS FUNGOS principalmente com base em estruturação do núcleo, o que inviabiliza um trabalho sistemático rápido. Entomophthora é o gênero melhor conhecido, o qual apresenta esporos cobertos por mucilagem, liberados à força (Figura 34). CHAVE PARA AS FAMÍLIAS DE ENTOMOPHTHORALES: 1.1 Esporóforos com uma vesícula sustentando o esporo (“conídio”); ga- metângios, se presentes, com uma pequena célula assessória; o conteúdo de esporos secundários e hifas somáticas pode dividir-se e produzir, em algumas espécies, pequenas células semelhantes a protoplasto (parecendo multispora- das); todas as células uninucleadas .............BASIDIOBOLACEAE (Posição incerta talvez Chytridiomycota) 1.2 Esporóforos sem vesícula de sustentação; gametângios, se formados, sem célula assessória; células protoplásticas não produzidas; nem todas as células uninucleadas ..................................................................................................2 2.1 Parasitas de gametófitos (prótalos) de Pteridófitas...................................... .......................COMPLETORIACEAE (só Completoria Lohde, com uma sp.) 2.2 Se parasitas, não em gametófito de Pteridófitas .......................................... 3 3.1 Esporóforos erguidos, simples, cada um contendo muitos esporos formados lateralmente; parasitas de invertebrados de solo (nematoides e tartigrades) ........ MERISTACRACEAE (com Balocephala, Meristacrum e Zygnemomyces) 3.2 Esporóforos diferentes e geralmente com hospedeiros diferentes, se para- sitas ..................................................................................................................4 4.1 Esporos (assexuais e sexuais) pigmentados de acinzentado a negro; zi- gosporos brotando a partir do ponto de conjugação de dois corpos hifálicos; parasitas obrigatórios de cupins e insetos (especialmente Homoptera) .............. ........................................................................................... NEOZYGITACEAE 4.2 Não combinando todas as características acima ...........................................5 5.1 Esporos hialinos; zigosporos formados no eixo das hifas parentais como um resultado de conjugação de células adjacentes ou conjugação escalariforme entre duas hifas; saprófitas ou parasitas obrigatórios de algas desmídias, inver- tebrados do solo ou agentes facultativos de micoses em animais ................... ..........................................................................................ANCYLISTACEAE 5.2 Não como acima .........................................ENTOMOPHTHORACEAE CHAVE BASEADA EM CARACTERÍSTICAS DO NÚCLEO: 1.1 Núcleo maior que 10µm, não corando com orceína-acética ...Basidio- bolaceae 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 179 11/06/2013 11:27:05 180 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE 1.2 Núcleo menor que 10µm, geralmente corando com orceína acética............2 2.1 Núcleo com 2 - 15µm, permanecendo visível durante a mitose, com muita heterocromatina; nucléolo não proeminente ........ENTOMOPHTHORACEAE 2.2 Não como acima .....................................................................................3 3.1 Núcleo com mais de 5µm de diâmetro, com nucleoplasma granular (cro- matina condensada na interfase) ............................. COMPLETORIACEAE 3.2 Núcleo com 2 - 5µm diâm., com pouca heterocromatina (não corando com orceína-acética ou marrom-bismark), usualmente inconspícua durante a mitose ............................................................................... FAMÍLIAS RESTANTES SUBFILO MUCOROMYCOTINA (Posição incerta) Talo formado por um micélio ramificado e cenocítico pelo menos quando jovem. Podem ocorrer alguns septos na maturidade, os quais contêm microporos. Reprodução assexuada por esporângios, esporangíolos ou meros- porângios, raramente formando clamidosporos, artrosporos ou blastosporos. Reprodução sexuada por zigosporos mais ou menos globosos. São fungos sapróbios, raramente formando galhas, ou micoparasitas facultativos, às vezes como ectomicorrizas. Engloba 3 ordens: Mucorales, Mortierellales e Endogoniales. ORDEM ENDOGONIALES A maioria dos fungos desta ordem ocorre em solo associados a raízes de plantas, formando o que se conhece por micorrizas (neste grupo somente ecto- micorrizas). Formam esporocarpos hipógeos que contêm somente zigosporos. É composta por uma família, Endogonaceae e três gêneros, a saber: - Endogone Link: cerca de 20 espécies saprofíticas ou formando ectomi- corriza, de ampla disperção, mas principalmente regiões de clima temperado; - Sclerogone Warcup: descrito em 1990, tem uma espécie conhecida da Austrália; - Youngiomyces Y. J. Yao: descrito em 1995, tem 4 espécies conhecidas da Australásia e América do Norte. Mais detalhes sobre esses e outros fungos micorrízicos podem ser encontrados no capítulo específico sobre o tema. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 180 11/06/2013 11:27:05 181OS REINOS DOS FUNGOS ORDEM MUCORALES Formam micélio extenso, cenocítico, produzindo septos na base de órgãos reprodutivos, esporângios ou gametângios, e eventualmente ao longo de micélio muito velho. Em outras espécies ocorrem, já desde o primórdio, septos perfurados com extensões tubulares na direção da corrente citoplasmática ou os chamados plugues. Alguns formam rizoides que ancoram o micélio e os esporângios firmemente, sendo originados onde há contato do micélio com superfícies duras, como o vidro da placa onde está sendo cultivado. A hifa que conecta dois pontos com rizoides é denominada de estolão. A reprodução assexuada ocorre por meio de aplanosporos contidos em esporângios, formados sobre esporangióforos simples ou ramificados. Os esporângios são geralmente globosos, inflados, apresentando uma columela central, contendo geralmente muitas centenas de esporangiosporos. Esses são usualmente globosos ou ovoides, sendo dispersos pelo vento após a dissolução da parede esporangial (ver ciclo de vida de Rhizopus na Figura 30). Essa é a maior ordem da classe, contendo espécies saprófitas ou parasitas fracos. Choanephora, Mycotipha, Cunningamella (Figura 35), Mortierella, Syncephalastrum (Figura 36) e Radiomyces (Figura 37) são exemplos de gêneros desta família cuja fase assexuada está representada. São fungos de interesse econômico por sintetizarem produtos indus- triais importantes como ácidos, etanol e enzimas. Como exemplo tem-se:- Rhizopus stolonifer ( = R. nigricans): utilizado para produção de ácido fumárico e em alguns passos na manufatura da cortisona. - Rhizopus oryzae: empregado na produção de álcool. - Rhizopus sinensis, R. nodosus além das duas citadas acima, são utilizadas no fabrico de ácido lático, cuja pureza é maior do que o produzido por bactérias, que é mais barato. - Ácido succínico, oxálico e cítrico, entre outros, também são produ- zidos por várias espécies de Rhizopus. Várias espécies causam podridão-mole em frutos e outros produtos de plantas durante o transporte e estocagem. Absidia corymbifera, além de muitas espécies de Mucor e Rhizopus, é patógeno humano oportunista, atacando o sistema nervoso interno com consequências fatais. As espécies dessa ordem são facilmente isoladas, servindo de excelente material para aulas práticas, tanto para a observação de estruturas típicas como hifas cenocíticas, esporângios e zigosporos, como para visualizar processos fisiológicos importantes, como as correntes citoplasmáticas e a forma de liberação violenta dos esporos (Pilobolus) (Figura 32). A classificação das Mucorales ainda é motivo de constrovérsias. A proposta aceita por Hawksworth et al. (1995) reconhece 13 famílias. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 181 11/06/2013 11:27:05 182 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE CHAVE PARA AS FAMÍLIAS DE MUCORALES: 1.1 Esporângios mais ou menos lageniformes, multisporados; esporan giosporos hialinos, de parede fina, sem apêndices ........................................................2 1.2 Esporângios globosos a obpiriformes, nunca lageniformes .....................3 2.1 Esporângios formados isoladamente ou em pares; rizoides presentes .......... .............................................................................................SAKSENEACEAE 2.2 Esporângios formados verticiladamente; rizoides ausentes ..................... .............................................................................................MUCORACEAE 3.1 Esporângios formados em um esporocarpo ........... MORTIERELLACEAE 3.2 Esporângios não formados em um esporocarpo .........................................4 4.1 Merosporângios uni ou multisporados são produzidos em uma vesícula fértil .............................................................................SYNCEPHALASTRACEAE 4.2 Merosporângios não são produzidos; esporângios e/ou esporangíolos pre- sentes .............................................................................................................5 5.1 Esporangíolos fusiformes a largo-fusiformes, frequentemente com apêndi- ces polares hialinos piliformes; esporângios não apofisados, parede persistente, fragmentando-se regularmente em 2 ou irregularmente em 3-4 segmentos por uma sutura pré-formada ................................................................................6 3.2 Esporangiosporos não como acima, usualmente de parede lisa, raramente ornamentada ou apendiculada; parede do esporângio deliquescente ou, se persistente, fraturando-se irregularmente; esporângios às vezes ausentes e somente esporângios são produzidos ................................................................7 6.1 Parede dos esporangiosporos hialina ....................... GILBERTELLACEAE 6.2 Parede dos esporangiosporos marrom a marrom-avermelhada .................. .................................................................................. CHOANEPHORACEAE 7.1 Esporângios uni a multisporados, acolumelados; micélio usualmente extre- mamente fino .............................................................MORTIERELLACEAE 7.2 Não como acima; esporângios columelados; esporangíolos acolumelados ou columelados, às vezes formados a partir de uma vesícula; micélio mais robusto .......................................................................................................................8 8.1 Esporângios nunca formados; esporangíolos uni a multisporados, pedi- celados, formados a partir de uma vesícula fértil .........................................9 8.2 Esporângios formados, às vezes inclusive com esporangíolos................14 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 182 11/06/2013 11:27:05 183OS REINOS DOS FUNGOS 9.1 Vesículas férteis produzidas a partir de vesículas primárias, presentes sobre ramo de esporangióforo uniseptado; esporangíolos presentes, uni ou multisporados, pedicelados ou denticulados, acolumelados; zigosporos de parede lisa, suspensores com apêndices .................... RADIOMYCETACEAE 9.2 Não como acima .................................................................................. 10 10.1 Esporangíolos columelados, uni ou multisporados; saprofíticos ou mico- parasitas formadores de galhas; esporóforos às vezes com espinhos estéreis ......................................................................................................................11 10.2 Esporangíolos acolumelados, uni ou multisporados; espinhos estéreis au- sentes sobre o esporóforo ..............................................................................12 11.1 Esporangíolos unisporados; esporóforos com espinhos estéreis ............. ..................................................................................CHAETOCLADIACEAE 11.2 Esporangíolos multisporados; espinhos estéreis ausentes no esporóforo ....................................................................................... THAMNIDIACEAE 12.1 Parede do esporangiosporo marrom-pálido a marrom-avermelhado, estriada; zigosporos com suspensores não opostos.................CHOANEPHO- RACEAE 12.2 Parede do esporangiosporo hialina, lisa ou espinosa; zigosporos com sus- pensores opostos ...........................................................................................13 13.1 Esporóforos principalmente ramificados; vesículas férteis terminais e laterais; esporangíolos unisporados, pedicelo monomórfico; esporangiosporos liberados por fatura ao acaso e/ou dissolução da parede esporangiolar; células leveduriformes ausentes ................................ CUNNINGHAMELLACEAE 13.2 Esporangióforo simples ou raramente ramificado uma ou duas vezes; vesículas férteis terminais; esporangíolos uni ou multisporados; pedicelo mono ou dimórfico; esporangiosporos liberados por fratura do pedicelo na zona circunséssil pré-formada; parede do esporangíolo persistente, separável da parede do esporangiosporo; células leveduriformes produzidas em meio rico após a germinação dos esporos ................................MYCOTYPHACEAE 14.1 Esporângios deliquescentes e eporangíolos de parede persistente presen- tes ................................................................................. THAMNIDIACEAE 14.2 Somente esporângios são produzidos, tanto de parede deliquescente como de parede persistente .................................................................................. 15 15.1 Esporângios mais ou menos apofisados ......................... MUCORACEAE 15.2 Esporângios não apofisados; esporóforo apenas eventualmente algo 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 183 11/06/2013 11:27:05 184 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE constricto .................................................................................................... 16 16.1 Parede esporangial marrom-escura a negra, persistente; trofocisto às vezes produzido; vesícula subesporangial às vezes produzida, globosa a largoelipsoide; esporângio liberado inteiramente pelo colapso da vesícula subesporangial ou por ruptura circunséssil da junção entre a parede do espo- rângio e o esporóforo, ou às vezes forçadamente descarregado; zigosporos usualmente amarelados; suspensores não opostos; zigosporângio fino, hialino ...........................................................................................PILOBOLACEAE 16.2 Liberação do esporângio não como acima; vesículas subesporangiais ausentes ou pequenas e hemisféricas e então com um esporângio deliquescente; suspensoresdo zigosporo opostos ou com forma de língua ..........................17 17.1 Esporóforo não ramificado, usualmente verde-azulado; suspensores do zigosporo com forma de língua, com apêndices ramificados ...................... ..............................................................................................PHYCOMYCE- TACEAE 17.2 Esporóforo ramificado ou não, nunca verde-azulado; suspensores do zigosporo opostos, sem apêndices .......................................... MUCORACEAE FILO GLOMEROMYCOTA – CLASSE GLOMEROMYCETES Fungos simbiontes obrigados (micorrízicos) que formam arbúsculos nas raízes das plantas (uma espécie com cianobactéria Nostoc). As hifas são cenocíticas e formam grandes esporos multinucleados e com parede formada por camadas. Filogenia por rDNA tem demonstrado que o gênero Glomus, por exemplo, é muito polifilético (REDECKER et al., 2000b; SCHWARZOTT et al., 2001). Schüßler et al. (2001) elevaram a ordem à categoria de filo e corrigiram o nome errado de Glomales e amplamente utilizado para Glomerales. Em árvores filogenéticas o filo é grupo irmão de Asco e Basidiomycota. Silva (2004) discute as relações filogenéticas em estudo independente que chegou às mesmas conclusões de outros trabalhos e foi desenvolvido no Brasil como tese de doutorado. Segundo o autor, os resultado obtidos indicaram que o filo é monofilético e que Paraglomeraceae é um grupo basal; Acaulosporaceae e Gigasporaceae estão unidos em um mesmo clado e Glomeraceae é polifilético, como descrito em trabalhos anteriores. O mesmo autor ainda refere que outras espécies precisam ser avaliadas para determinação de grupos ainda não resolvidos no filo. No trabalho também foram analisadas sequências de 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 184 11/06/2013 11:27:05 185OS REINOS DOS FUNGOS possíveis genes mitocondriais para avaliação filogenética de Gigaspora e ao menos uma das sequências se mostrou filogenética-informativa. Vários trabalhos sobre o grupo têm sido desenvolvidos no Brasil, merecendo menção os realizados pela Dra. Leonor Costa Maia, como Mergulhão et al. (2007; 2008), Goto et al. (2008), Silva et al. (2006; 2007; 2008a; 2008b), Aciole-Santos et al. (2008), Lins et al. (2006; 2007), Goto & Maia (2006a; 206b), entre outros. O filo compreende 4 ordens: Archaeosporales, Diversisporales, Glomerales e Paraglomerales. ORDEM ARCHAEOSPORALES Esporos do tipo glomoide ou tanto glomoides como acaulosporoides. Esporos glomoides formados isolados ou em grupos frouxos, pliáveis, formados lateral ou centralmente no interior do pescoço do sáculo esporífero que não tem reação ao regente de Melzer (não amiloides nem dextrinoides); septo do tipo poro aberto ou selados por um septo formado a partir de componentes da parede interna. Sáculo esporífero inicialmente similar na aparência aos esporos glomoides, de natureza pliável e mole, formado blasticamente a partir da ponta da hifa e ficando selados por um septo. Em alguns os esporos acaulosporoides são formados em geral lateralmente, no pescoço do sáculo esporífero; estrutura da parede do esporo complexa e de dois ou três grupos diferentes ou parede do esporo com 2 – 4 camadas, sendo a mais externa contínua com a parede única do pescoço do sáculo esporífero. Camadas mais externas contínuas com a parede do sáculo, envolvendo uma entidade distinta e separada com uma estrutura de parede de mais de um componente flexível em dois grupos. Formam micorrizas arbusculares. Vesículas ainda não foram observadas (talvez ausentes) em alguns, mas outros foram vesículas terminais de 1 – 2 mm de comprimento, multinucleadas onde ficam englobados filamentos multicelulares de tricomas da cianobactéria Nostoc punctifome (associação simbiótica obrigatória para o fungo mas não para a bactéria). Os esporos são formados no solo (às vezes na superfície), raro em raízes e tendem a ficar suspensos na água quando extraídos do substrato. Formam micorriza arbuscular, com arbúsculos corando fracamente no método acídico tradicional. Compreende 3 famílias, 3 gêneros e 6 espécies. FAMÍLIA AMBISPORACEAE Esporos formados no solo, como esporos glomoides somente ou tanto glomoides como acaulosporoides. Esporos glomoides formados isolados no solo ou em grupos frouxos, pliáveis, diferindo da natureza “brittle” de tais 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 185 11/06/2013 11:27:05 186 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE esporos no gênero Glomus; septo do tipo poro aberto ou selados por um septo formado a partir de componentes da parede interna. Sáculo esporífero inicialmente similar na aparência aos esporos glomoides, de natureza pliável e mole, formado blasticamente a partir da ponta da hifa e ficando selados por um septo. Esporos acaulosporoides formados, usualmente lateralmente, no pescoço do sáculo esporífero; estrutura da parede do esporo complexa e de dois ou três grupos diferentes. Camadas mais externas contínuas com a parede do sáculo, envolvendo uma entidade distinta e separada com uma estrutura de parede de mais de um componente flexível em dois grupos. Formam micorrizas arbusculares. Compreende 1 gênero (Ambispora) com 4 espécies. Difere de outras espécies da ordem por características do rDNA. Walker et al. (2007) trazem mais informações sobre os estudos moleculares que realizaram com esta família FAMÍLIA ARCHAEOSPORACEAE Esporos hialinos, pequenos, globosos a subglobosos ou irregulares, formados lateral ou centralmente no interior do pescoço do sáculo esporífero que não tem reação ao regente de Melzer (não amiloides nem dextrinoides). Parede do esporo com 2 – 4 camadas, sendo a mais externa contínua com a parede única do pescoço do sáculo esporífero. Os esporos são formados no solo, raro em raízes e tendem a ficar suspensos na água quando extraídos do substrato. Não formam paredes germinativas finas e flexíveis como ocorre com todas as espécies de Acaulosporaceae. Vesículas ainda não foram observadas (talvez ausentes). Formam micorriza arbuscular, com arbúsculos corando fracamente no método acídico tradicional. Hifas finas com 2 - 3 micrômetros de diâmetro externamente à raiz e 2 -8 intercelularmente. Difere na filogenia pelo rDNA e sequências dos demais membros de Geosiphonaceae e Ambisporaceae. Spain (2003) relata a importância de estudar-se os esporos germinando em meios com água, estudando a espécie tipo desta família. Compreende 2 gêneros Archaeospora (com 4 espécies) e Intraspora com I. schenckii. Walker et al. (2007) trazem mais informações sobre os estudos moleculares que realizaram com esta família FAMÍLIA GEOSIPHONACEAE Fungos formando hifas cenocíticas e que formam vesículas terminais de 1 – 2 mm de comprimento, multinucleadas onde ficam englobados filamentos multicelulares de tricomas da cianobactéria Nostoc punctifome (associação simbiótica obrigatória para o fungo mas não para a bactéria). Esporos são globosos a subglobosos e têm 250 micrômetros de diâmetro. Vive na superfície de solos úmidos ou próximo dela. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 186 11/06/2013 11:27:05 187OS REINOS DOS FUNGOS A família tem 1 gênero e uma espécie: Geosiphon pyriformis (Geosiphonaceae), que forma uma interessante associação simbiótica com cianofíceas. Schüßler (2005) traz mais informações sobre a espécie e sua relação com uma espécie de Nostoc numa chamada endocianose. Análises do gene SSU (rDNA) demonstraram que o gênero é afim às Glomeales, indicando que a espécie talvez tenha relação micorrízica também com plantas, mas isto precisa ainda ser provado (KLUGE, 2002). Ao contatar com uma célula da cianobactéria pela ponta de uma hifa, parte do citoplasma do fungo nesta região envolve algumas células do tricoma da Nostoc, incorporando-as à célula do fungo (exceto o heterocisto do tricoma) formando uma espécie de vesícula em torno do tricoma. Esta vesícula recebe o nome de simbiossomo. A cianofícea serve de fotobionte ao fungo, fornecendo fotossintatos ao mesmo. Estaé a única associação deste tipo registrada para fungos (SCHÜSSLER et al., 2006), tendo sido reportada inicialmente como um ficomiceto liquenizado. Kluge et al. (2002) reportam que é difícil mas possível cultivar o fungo e estudar a associação, desde que pouco fosfato seja adicionado ao meio, que pode ser solo esterilizado onde os esporos e filamentos da alga são adicionados. Foram citadas coletas da Alemanha e Áustria. ORDEM DIVERSISPORALES São micorrizas arbusculares hipógeas ou parcialmente hipógeas, algumas com vesículas para armazenamento de substâncias ou com ou sem células auxiliares, com ou sem célula auxiliar hipógea. Podem formar grande variedade de esporos, daí o nome da ordem e estes são produzidos dentro de um sáculo esporífero (esporos acaulosporoides), ou com o esporo complexo formando-se a partir de uma base bulbosa sobre a hifa esporífera (esporos gigasporoides) ou ainda esporos do tipo glomoide. Difere também das demais ordens do filo por possuir uma assinatura específica da sequência do gene SSU rRNA. Compreende 4 famílias, 6 gêneros e cerca de 74 espécies. Mais detalhes da ordem podem ser obtidos em Walker & Schüßler (2004). FAMÍLIA ACAULOSPORACEAE Fungos que formam micorrizas arbusculares. Arbúsculos geralmente corando de azul pálido, mas podendo ficar de quase tranparentes a azul escuros na reação. Vesículas de forma geralmente mais irregulares, às vezes até oblongas, corando leve ou fortemente de azul. Hifas intraradicais enroladas no ponto de penetração e mais largas que as externas (4-6 µm); estas têm entre 2-4 µm de diâmetro e crescem paralelas ao eixo da raiz e interconectam-se por ramos em ângulos retos ou agudos. Reação de corante é mais forte no ponto de entrada, 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 187 11/06/2013 11:27:05 188 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE mais forte que a vista nos arbúsculos. Hifas extrarradicais são em geral mais finas (2-3 µm). Esporos originados a partir do pescoço de um sáculo esporífero que é formado nas pontas das hifas, isolados ou agregados. Geralmente não apresentam uma hifa presa (são sésseis) quando utilizam-se os métodos de extração do solo. Os esporos tem uma camada externa na parede, parecendo flexível e que é contínua com a parede do pescoço do sáculo. Pelo menos mais uma camada rígida é sintetizada na parede esporal em associação com a camada mais externa e que pode engrossar levemente ou diferenciar-se em subcamadas (=lâminas) com características distintivas (cor, ornamentação). Ocorre a formação de pelo menos uma parede germinativa interna, mas a grande maioria sintetiza duas ou mais; neste caso a primeira parede interna consiste de uma ou duas camadas hialinas e a segunda parede interna consiste de uma camada hialina externa e uma camada aderente interna que pode ser flexível a amorfa. O conteúdo do esporo é separado do pescoço do sáculo pela formação da parede esporal, não ficando evidência de um poro ou abertura. Uma cicatriz fica marcada no ponto de contato da hifa com o esporo. Um tubo germinativo emerge de um “orbe” germinativo em geral esférico, formado a partir da parede interna a partir de duas ou mais camadas internas flexíveis Compreende dois gêneros: Acaulospora e Entrophospora. FAMÍLIA DIVERSISPORACEAE Esporos glomoides com estrutura da parede consistindo de uma camada externa fina, uma parede estrutural laminada e uma parede interna flexível não reagindo com o reagente de Melzer; germinação não precedida pela formação de um escutelo de germinação; a assinatura específica das sequência do gene SSU rRNA é também diferente. Compreende um gênero (Diversispora) com uma espécie: Diversispora spurcum (C. M. PFEIFF., C.WALKER & BLOSS) C. Walker & Schuessler (ver WALKER & SCHÜßLER, 2004). FAMÍLIA GIGASPORACEAE Fungos micorrízicos arbusculares. Esporos usualmente com >200 micrômetros, assexuados (uma espécie apresenta sexuados, Gigaspora descipiens, mas isto não foi ainda confirmado), com ou sem ornamentações. Parede do esporo de dois tipos: 1- em duas camadas: uma camada externa permanente envolvendo uma camada laminada, cada uma com diferente propriedades, o que caracteriza as espécies em Glomus; 2- parede com duas camadas e uma a três camadas flexíveis internas. O poro formado pelo ponto de conexão da hifa com o esporo é fechado por um plugue ou mais raramente por um septo. Tubo de germinação forma-se a partir de uma fina camada papilada (espinhosa) saindo da superfície interna da camada laminada. Células 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 188 11/06/2013 11:27:05 189OS REINOS DOS FUNGOS auxiliares de parede fina com superfície equinulada são produzidas pelas hifas junto às raízes. Compreende dois gêneros (Glomus e Scuttelospora) e cerca de 30 espécies. FAMÍLIA PACISPORACEAE Esporos formados isoladamente nas pontas das hifas em interior de solo. Esporos globosos, subglobosos a elipsoides ou irregulares. Parede externa do esporo com 3 camadas e parede interna usualmente também com 3 camadas. A camada mediana da parede interna reagem positivamente com o reagente de Melzer. O ponto de conexão do esporo com a hifa é cilíndrico ou levemente constricto e a parede da hifa é confluente com as camadas externa e média da parede externa. O poro do ponto de contato da hifa com o esporo é fechado por um septo que é formado pela camada média da parede externa do esporo e pela camada interna da parede mais externa, além de ser separado também pela formação da parede interna do próprio esporo. A germinação ocorre a partir da parede interna através da parede externa com formação de um a vários tubos germinativos. Comporeende um gênero Pacispora, com 7 espécies. Chave de identificação e descrições podem ser encontradas em Oehel & Sieverding (2004). Gerdemannia é considerada sinonímia (homotipo) de Pacispora. ORDEM PARAGLOMERALES FAMÍLIA PARAGLOMERACEAE As características da ordem são as da família. São fungos arbusculares hipógeos, raramente com vesículas. Formam esporos glomoides sem pigmentação. A formação destes é idêntica aos de Glomus, ocorrendo por expansão blástica do ápice de uma hifa. A camada externa do esporo (a primeira formada quando jovem) frequentemente se solta assim que o mesmo amadurece. Hifa e parede do esporo contêm os mesmos componentes. A hifa que forma o esporo pode ser tão fina que é difícil de diferenciá-la. Reações com Melzer ausentes. A sequência do gene SSU rRNA é diferente das demais ordens. Morton & Redecker (2001) poder ser consultado para dados adicionais. Compreende um gênero Paraglomus com duas espécies. Paraglomus brasilianus é uma espécie encontrada no Brasil. ORDEM GLOMERALES Esta ordem também efetua micorriza com vegetais, mas, diferentemente das Endogonales (onde já foram incluídos por alguns autores), realizam so- 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 189 11/06/2013 11:27:05 190 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE mente endomicorriza. Formam o que se denomina de micorriza-VA (micorriza arbuscular) com cerca de 70% das famílias de plantas, entre Angiospermas, Gymnospermas, algumas Pteridophytas, Bryophytas e mesmo com algas. Nas raízes crescem por entre as paredes das células na forma de hifas filamentosas, penetrando na célula através de invaginações da membrana celular, a qual não é rompida, mantendo-se, assim, a integridade da célula, quando são formadas intensas ramificações para dentro da mesma; em virtude de estas formações parecerem um arbusto, ou uma árvore, são denominadas de arbúsculo (daí o nome dos fungos deste grupo). Seis gêneros são ilustrados na Figura 31. Dividem-se em 3 famílias de acordo com Hawksworth et al. (1995), a saber: - Glomaceae: gêneros Glomus e Sclerocystis; - Gigasporaceae: com Gigaspora e Scutellospora; e - Acaulosporaceae: com Acaulospora e Entrophospora. No capítulo sobre micorrizas discute-se mais acerca desse grupo. Kirk et al. (2008) reconhecem somente uma família Glomeraceae. CHAVE PARA FAMÍLIASDE MVA: 1.1 Somente arbúsculos são formados nas raízes micorrizógenas; células semelhantes a azigosporos são formadas no ápice das células esporógenas de hifas férteis; células auxiliares presentes ...................... GIGASPORACEAE 1.2 Arbúsculos e vesículas são formados nas raízes; clamidosporos formados lateral e terminalmente sobre ou dentro de hifas férteis; células auxiliares ausentes .........................................................................................................2 2.1 Clamidosporos formados dentro do “pescoço” a partir de um sáculo esporífero terminal (este esvazia seu conteúdo para dentro do esporo, rema- nescendo vazio) ................................................... ACAULOSPORACEAE 2.2 Clamidosporos formados apicalmente ................................ GLOMACEAE SUB FILO ZOOPAGOMYCOTINA Parasitas ou predadores de amebas, rizópodes, nematoides e fungos, sendo encontrados no solo, água e em material orgânico em decomposição. O micélio pode ser extensivo ou reduzido, com hifa espessa, às vezes ramificada. Os esporos assexuados não são liberados à força. Syncephalis (Figura 34), Helicocephalum, Rhopalomyces (Figura 35) e Piptocephalis (Figura 36) são exemplos de gêneros desta ordem. Compreende 5 famílias de acordo com Hawksworth et al. (1995). 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 190 11/06/2013 11:27:05 191OS REINOS DOS FUNGOS ORDEM ZOOPAGALES Parasitas ou predadores de amebas, rizópodes, nematoides e fungos, sendo encontrados no solo, água e em material orgânico em decomposição. O micélio pode ser extensivo ou reduzido, com hifa espessa, às vezes ramificada. Os esporos assexuados não são liberados à força. Syncephalis (Figura 34), Helicocephalum, Rhopalomyces (Figura 35) e Piptocephalis (Figura 36) são exemplos de gêneros desta ordem. Compreende 5 famílias de acordo com Hawksworth et al. (1995). CHAVE PARA AS FAMÍLIAS DE ZOOPAGALES: 1.1 Esporos solitários, curto pedicelados, formados na superfície de uma ve- sícula ou sésseis e formados em pares ou cadeias, a partir de um esporóforo de ápice espiralado; esporos às vezes largos e marrons ..................................2 1.2 Esporos solitários (unisporados) ou em cadeias (multisporados) e formados em merosporângios, longo ou curto pedicelados, ou sésseis, ou saindo de uma célula-cabeça, ou de um ramo secundário; se formado a partir de uma vesícula, então multisporados; merosporângios unisporados, não grandes nem marrons; ápice do esporóforo não enrolado .................................................................3 2.1 Hifas férteis muitas vezes dicotomicamente ramificadas, septadas, termi- nando em espinhos estéreis; vesículas férteis pediceladas, formando-se em pares a partir da célula no ponto de ramificação da hifa fértil; esporos mais ou menos hialinos, relativamente pequenos; parasitas de fungos ............. ..... ...........................................SIGMOIDEOMYCETACEAE (3 gêneros, 7 spp.) 2.2 Hifas férteis simples, cenocíticas, sem espinhos estéreis; ápice do espo- róforo formando uma vesícula fértil ou não “inchada” e espiralada; esporos marrons, grandes; parasitas de microfauna ou de seus ovos ........................ ..........................................HELICOCEPHALIDACEAE (3 gêneros, 8 spp.) 3.1 Micoparasitas haustoriais, especialmente de Mucorales ........................ ............................................PIPTOCEPHALIDACEAE (3 gêneros, 51 spp.) 3.2 Ectoparasitas haustoriais ou endoparasitas não haustoriais de microfauna de solo ...........................................................................................................4 4.1 Predadores, com material adesivo sobre as hifas para capturar presas; micélio vegetativo formado fora do hospedeiro....................ZOOPAGACEAE (6 gêneros, 63 spp.) 4.2 Ecto ou endoparasitas; micélio vegetativo dentro do hospedeiro; somente os esporóforos são formados externamente ao hospedeiro .............................. .........................................COCHLONEMATACEAE (com 6 gêneros, 29 spp.) 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 191 11/06/2013 11:27:05 192 JAIR PUTZKE E MARISA TEREZINHA LOPES PUTZKE FAMÍLIA COCHLONEMATACEAE Fungos ecto ou endoparasitas, formando um micélio vegetativo dentro do hospedeiro e esporóforos externamente, haustoriais ou não haustoriais. O talo pode ser somente interno e então não produzir haustórios ou o esporo pode se tornar o talo (em Amoebophilus e Bdellospora) e somente o haustório penetra no hospedeiro. O talo pode ser algo micelial (Euryancale) algo inflado e com forma de almofada (Aplectosoma) ou parecendo enrolado ( Cochlonema e Endocochlus). Os esporos principalmente dos taxa catenulados (Aplectosoma, Bdellospora e Cochlonema) podem ser ártricos. Compreende 6 gêneros (Amoebophilus, Aplectosoma, Bdellospora, Cochlonema, Endocochlus, e Euryancale) e 29 espécies. FAMÍLIA HELICOCEPHALIDACEAE Hifas vegetativas muito finas, delicadas, muito ramificadas e sem septos, provavelmente heterotálicos; hifas férteis simples, cenocíticas, sem espinhos estéreis; esporangióforo simples, asseptados, com base rizoidal, formando uma vesícula fértil ou não, com esporos espiraladamente arranjados; esporos relativamente grandes (25-130 µm x 7-39 µm), amarronzados, formados blasticamente; merosporângios formando um esporo grande e pigmentado; zigosporos desconhecidos. São parasitas de ovos (raro adultos) de nematoides ou rotíferas, raro de outros animais. Compreende 3 gêneros (Brachymyces, Helicocephalum e Rhopalomycese) e 8 espécies. Helicocephalum é apresentado na Figura 35. FAMÍLIA SIGMOIDEOMYCETACEAE Hifas férteis muitas vezes dicotomicamente ramificadas, septadas e terminando em espinhos estéreis, desarticulando-se na maturidade; vesículas férteis pediceladas, formando-se em pares a partir da célula no ponto de ramificação da hifa fértil; vesículas férteis contêm esporos pedicelados sobre toda a sua superfície; os ápices dos espinhos estéreis podem estar anastomosados (Reticulocephalis); zoosporos e clamidosporos desconhecidos. Provavelmente heterotálicos. Compreende 3 gêneros (Sigmoideomyces, Reticulocephalis e Thamnocephalis) e 7 espécies, todas parasitas haustoriais de outros fungos, inclusive de Basidiobolus. 2013fungos_v1_3ed_part1.indd 192 11/06/2013 11:27:05 193OS REINOS DOS FUNGOS FAMÍLIA PIPTOCEPHALIDACEAE Esporóforos simples (em Syncephalis) ou ramificados e dicotomicamente assim (3 dimensões), cenocíticos ou não, formando merosporângios diretamente nas pontas de ramos que ficam inflados ou não, ou sobre ápices hifálicos de parede grossa decíduos ou não; merosporângios formando um a muitos esporangiosporos, moniliformes, formados a partir de brotamento acropetal e que se desarticulam ao amadurecerem ou esporos cilíndricos e formados simultaneamente e parede merosporangial evanescente ou persistente e liberada com os esporos por ruptura circunsséssil; zoosporos formados por gametêngios opostos, com eventual formação de brotos lobados a partir de um suspensor. Fungos parasitas de outros fungos, especialmente Mucorales e raro em Ascomycetes e fungos mitospóricos, haustoriais. Compreende 3 gêneros (Syncephalis, Kuzuhaea e Piptocephalis) e 51 espécies. Podem ser isolados de quase qualquer substrato orgânico, como solo e esterco. FAMÍLIA ZOOPAGACEAE Fungos que formam hifas externas ao substrato (micélio vegetativo formado fora do hospedeiro) e altamente ramificadas, extensivas e que dão origem a haustórios ao contatarem com o hospedeiro; são fungos predadores, com substância adesiva sobre as hifas para captura de presas; esta substância pode ser formada apenas no ápice de ramos perpendiculares curtos formados a partir das hifas vegetativas (Zoophagus) ou ao longo de toda a hifa; esporos globosos a versiformes, lisos ou ornamentados, formados em cadeias (Zoopage), isoladamente ou em dois ou mais ao longo da hifa fértil; zoosporos hialinos, com parede