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Apostila de Criminologia

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APOSTILA DE 
CRIMINOLOGIA 
JULIANA FRANÇA DAVID 
JFDAVID@ADV.OABRJ.ORG.BR 
Introdução ao curso 
As ciências criminais compõem-se de Direito 
Penal, Processo Penal (ambas dogmáticas, atreladas 
à norma), Criminologia, Política Criminal, Execução 
Penal, etc. 
 Ela se propõe a estudar porque existe o crime, 
porque certa conduta é criminalizada e outra não, 
etc. De uma maneira geral, a criminologia estuda 
teorias que permitem entender como funciona o 
sistema penal e porque ele age de determinada 
forma, com qual propósito e qual função. 
 “Sistema penal” – funcionamento das 
instituições que compõem essa estrutura penal 
(delegacias policiais, varas criminais, sistema 
penitenciário) e autores entendem que outros atores 
também integram o sistema penal apesar de não 
participarem destas instituições (ex. Mídia, que é um 
ator protagonista no sistema penal). 
A criminologia permite entender de uma 
maneira crítica o sistema penal. Tratará da dinâmica 
das instituições policiais, penitenciárias, etc. A 
criminologia lida também com teorias sociológicas 
que permitem entender maneira crítica o sistema 
penal. 
CONCEITOS DE CRIMINOLOGIA 
A criminologia é aquele ramo do 
conhecimento que busca estudar a questão criminal, 
em síntese. 
SURGIMENTO DA CRIMINOLOGIA 
Topinard, 1879 – primeiro autor que usa o 
termo Criminologia (ainda que isso não signifique 
que seja um estudo criminológico) 
O reconhecimento da efetiva criminologia 
veio em 1885 com a obra “Criminologia” de 
Garofalo. 
Contudo, estudos sobre a questão criminal já 
eram desenvolvidos antes disso. Por isso, há três 
visões sobre a origem da criminologia: 
1a corrente: 1764 – Reconhece que a 
criminologia surgiu com Beccaria, a escola clássica 
da criminologia. Os primeiros estudos criminológicos 
teriam surgido com ele segundo essa corrente. Essa 
corrente é defendida pelos criminólogos da reação 
social com perspectiva histórica para críticos como: 
Roberto Bergalli, Juan Bustos Ramirez. 
2a corrente: afirma que os primeiros estudos 
criminológicos surgiram com Lombroso e outros 
adeptos da escola positivista. Isso seria no final do 
século XIX (1876). Garcia Pablos de Molina defende 
essa corrente. 
3a corrente: defende que os primeiros 
discursos criminológicos remetem ao final do século 
XV, em 1484, na inquisição. Quem adota esse 
entendimento é o Zaffaroni e o Nilo Batista. 
ESCOLAS DA CRIMINOLOGIA: 
INTRODUÇÃO 
Não é possível falar em uma criminologia, 
uma vez que existem escolas com entendimentos 
absolutamente contrários dentro desta área 
científica. 
1A ESCOLA: CLÁSSICA (1764) 
É a de Cesare Beccaria que é influenciada 
pelo iluminismo e surge no final do séc. XVIII, 
relacionada com a transição do antigo regime para a 
modernidade. Também conta com o movimento 
codificador, a criação de um código penal (o que não 
existia na Idade Média onde o Estado era absoluto e 
exercia seus poderes sem limites). Essa escola 
também se caracteriza pela humanização das penas. 
Essa reforma que vai permear o sistema penal 
não está desconectada com o que está ocorrendo no 
mundo naquela época (o Estado absoluto tornando-
se um Estado de Direito, a alteração de uma 
sociedade teocêntrica para uma sociedade 
antropocêntrica onde a igreja perde o poder e a razão 
passa a ser a explicação para as coisas, transição de 
um modelo feudal para um mercantilismo e 
posteriormente o surgimento da indústria, etc). 
Nessa escola há também uma priorização dos 
princípios penais. Pretende-se alterar as formas de 
punição, acabar com os suplícios, impedir processos 
sem defesa, etc. 
Essa escola é a base do Direito Penal 
moderno. 
2A ESCOLA: POSITIVISTA (1876) 
Cesare Lombroso é o principal adepto dessa 
escola. 
Neste momento, o mundo era permeado pelo 
cientifismo – as ciências passam a ganhar uma 
dimensão onde, um saber para ser respeitado e 
legítimo, precisava ser uma ciência e, para ter esse 
status, ele precisava poder ser comprovado através de 
experiências repetidas. 
Outra questão importante foi a contribuição 
de Darwin com a teoria da evolução. Lombroso 
afirma que criminosos (ou ao menos parte deles) 
representam uma parcela inferior de seres humanos. 
Isso foi importado pelo Brasil para desenvolver uma 
teoria que versava que os negros eram uma raça 
inferior e por isso eram mais propensos a cometer 
crimes. 
O movimento do positivismo filosófico 
também contribuiu para essa escola que busca uma 
explicação racional para entender a realidade. 
Essa escola trata do “criminoso nato”, aquele 
que nasce com propensão a cometer crimes, e isso 
poderia ser percebido através de aspectos físicos e 
psicológicos (que eram especialmente traços de 
muçulmanos e negros, diga-se de passagem). 
3A ESCOLA: CRIMINOLOGIA CRÍTICA 
Surgiu na segunda metade do séc. XX na 
Europa. Um dos seus principais autores é Alessandro 
Baratta. Vários outros autores podem ser citados, tais 
como Juarez Cirino dos Santos, Nilo Batista, Vera 
Malaguti, Zaffaroni, etc. 
Referenciais teóricos que influenciaram essa 
escola: 
- Movimento pacifista, contra, principalmente, a 
guerra do Vietnã e a WWII. 
- Luta por direitos civis das mulheres, dos negros, etc 
do séc. XX. 
- Influência das ideias marxistas. 
A escola crítica aponta que todas as pesquisas 
criminológicas feitas antes desta escola tinham como 
característica a busca sobre as explicações de o que é 
o crime e que essa criminologia tradicional, então, 
estava presa ao chamado “paradigma etiológico”. 
Paradigma etiológico: etiologia é o estudo das 
causas. Buscava-se explicar as causas do crime. 
Essa escola afirma que um paradigma 
etiológico é problemático e que é necessário romper 
com ele, propondo um paradigma diferente – o 
paradigma da reação social. 
Paradigma da reação social: de acordo 
com ele, o importante, a partir de uma visão crítica, 
não é buscar a raiz do crime mas sim entender os 
processos de criminalização – não é entender porque 
alguém praticou um crime mas sim porque essa 
pessoa foi criminalizada, alvo do sistema penal. 
De acordo com essa escola, o sistema penal 
está relacionado ao sistema econômico, afirmando 
que, ao longo da história, sempre foi assim – 
determinado modelo de punição sempre esteve a 
serviço de um determinado modelo de sociedade, 
fosse medieval, fosse o atual. Por exemplo, era 
importante punir os crimes contra a fé na época 
medieval para que a igreja fosse capaz de manter sua 
hegemonia. No capitalismo, há pessoas que não têm 
como ser empregadas e a prisão se tornou depósito 
das mesmas. Ou seja, a criminologia guarda relação 
com a estrutura econômica. 
4A ESCOLA: CIENTÍFICA MODERNA 
O principal autor dessa escola é García 
Pablos de Molina. 
Essa escola defenderá a necessidade de 
políticas de prevenção ao crime e à violência, ou seja, 
implementação de programas ou políticas capazes de 
reduzir o crime e a violência. 
DEFINIÇÃO DE CRIMINOLOGIA 
Escola positivista: A criminologia é um 
saber sobre a questão criminal que busca uma visão 
interdisciplinar (sociologia, filosofia e direito) para 
entender como funciona o sistema penal e a questão 
criminal. 
Escola crítica: a criminologia vincula o 
fenômeno criminoso à estrutura das relações sociais. 
O crime não é uma questão isolada, ele se insere 
numa estrutura de sociedade que é excludente, 
segregadora e opressora e, portanto, o modelo de 
punição está intrinsecamente ligado ao poder 
econômico. 
Criminógeno – algo que produz crime, cria 
condições para que o crime se propague (ex. Prisões). 
Escola científica moderna: criminologia 
é ciência empírica e interdisciplinar com informação 
válida e segura relacionada ao fenômeno delitivo, 
entendido sob o prisma individual e de problema 
social como também formas de preveni-lo, portanto, 
o crime é um fenômeno humano, cultural e 
complexo. 
MÉTODOS DA CRIMINOLOGIA 
Escola clássica: método dedutivo – se 
entende o aspecto mais abrangente e depois se parte 
para o aspecto menor, micro. Saíam dos princípios 
doiluminismo para a conduta do criminoso. 
Escola positivista: método indutivo-
experimental – se sai de um caso particular para 
explicar a parte geral. Verificava-se quem era que 
tinha praticado crimes, verificavam-se as 
características da massa carcerária e disso definia-se 
as características do criminoso. O problema dessa 
visão era que ela considerava como criminoso apenas 
aqueles que estavam presos. 
Escola crítica: método materialismo-
histórico dialético – materialismo porque esse 
método busca romper com o tradicional discurso 
idealista (explicar algo que não tem conexão com a 
realidade, é preciso trazer a explicação para o mundo 
real) e histórico porque essa análise é levando em 
consideração o contexto histórico no qual a 
explicação pretende se dar. Ainda, o “dialético” 
porque Marx propôs que o discurso deve sempre se 
pautar pela crítica para que não haja a reprodução 
acrítica e vazia de discursos. 
Na dialética, há uma tese (discurso inicial) que 
é refutada, contraposta por uma antítese (crítica) e 
dessa contraposição surgirá a síntese, a conclusão. 
Escola científica moderna: empirismo e 
a interdisciplinariedade – empirismo busca explicar 
algo com fundação numa experiência real, com a 
realidade social. 
Multi x Inter x Trans (disciplinariedade) 
Um ensino multidisciplinar é aquele onde há 
várias disciplinas mas elas não se comunicam. 
Na interdisciplinariedade as disciplinas se 
comunicam. 
Já na transdisciplinariedade não há a divisão 
entre as disciplinas mas sim a discussão de temas (Ex. 
Alguns mestrados e doutorados). 
OBJETOS DA CRIMINOLOGIA 
Escola clássica: a preocupação principal 
da criminologia deve ser estudar o crime. 
Escola positivista: o objeto principal da 
criminologia é o criminoso e seu perfil físico e 
psicológico. 
Escola crítica: o objeto principal da 
criminologia é o controle social pois através dele se 
entende a dinâmica de funcionamento do sistema 
penal que encontra-se conectada ao sistema 
econômico. 
Escola científica-moderna: o objeto da 
criminologia serão todos aqueles estudados pelas 
escolas anteriores, inserindo-se também neste rol o 
estudo sobre a vítima (até porque essa escola trabalha 
a ideia de prevenção). 
 
 
CRIME 
PARA O DIREITO PENAL 
Há três conceitos sobre o crime para o direito 
penal. 
1o conceito – Formal: Crime é aquela 
conduta que colide com a lei penal. 
2o conceito – Material: O crime é aquela 
conduta que possui uma reprovabilidade social, 
violando um bem jurídico valioso para a sociedade. 
Ou seja, lida com uma reprovação não só formal mas 
também social. 
3o conceito – Analítico: Crime é o fato típico, 
antijurídico e culpável. 
PARA A CRIMINOLOGIA 
Para a escola clássica: o crime é um ente 
jurídico que prevê a reprovação de determinada 
conduta. 
Para a escola positivista: Crime consiste 
em uma qualidade do ato do delinquente, pois 
trabalham com a ideia de criminoso nato. O crime 
seria fruto de aspectos físicos e psicológicos pré 
determinados. É a ideia de um crime ontológico, não 
importa o fato importa o sujeito, é o chamado direito 
penal do autor (aquele indivíduo é propenso ao crime 
não estando em questão a conduta que ele pratica e 
sim o seu perfil). 
Para a escola crítica: a questão não é 
definir o que é crime mas sim os processos de 
criminalização. 
Para a escola científica moderna: o 
crime tem relação com a cultura e as estruturas 
sociais (a desigualdade é importante para a 
criminalidade por exemplo). 
CRIMINOSO 
Para a escola clássica: sujeito que possui 
o livre arbítrio, pode escolher entre o bem e o mal e 
escolhe o mal. Contudo, a equação não é tão simples, 
o livre arbítrio do delinquente não é completo (ele 
não escolheu nascer onde nasceu, por exemplo). É 
uma visão maniqueísta. 
Para a escola positivista: aquele que já 
tem propensões genéticas, físicas e psicológicas para 
o delito independente das circunstâncias. 
Para a escola crítica: como trabalham 
com a questão da criminalização, colocam que na 
verdade o criminoso é aquele que foi rotulado como 
tal, que sofreu uma estigmatização e é alvo 
preferencial e sofre com a seletividade (no Brasil, por 
exemplo, homens de 18 a 29 anos negros ou pardos 
e com baixa escolaridade). 
Para a científica-moderna: criminoso é 
aquele que pratica o delito. O criminoso é marcado 
por aspectos culturais e sociais. Para essa escola, se 
colocará ênfase na figura da vítima que 
historicamente para o Direito Penal nunca teve um 
lugar de importância – a pessoa da vítima ganha um 
lugar central. 
CIÊNCIAS CRIMINAIS 
Criminologia: analisa, conforme a escola, 
o crime, o criminoso, a vítima ou o controle social. 
Política criminal: pressupõe adoção de 
programas governamentais direcionados a reduzir a 
criminalidade, podendo ela ser progressista ou 
conservadora (UPPs, intervenções policiais em 
comunidades de periferia, política de drogas 
proibicionista ou não proibicionaista, etc). 
Direito penal: é dogmático, aborda a 
norma penal. Pode-se falar tanto da parte material 
quanto da parte processual do direito penal. 
- Von Liszt 
Primeiro autor que trabalha a ideia de 
ciências criminais de onde se desdobram a 
criminologia, a política criminal e o direito penal. 
CONTROLE SOCIAL 
Para a escola crítica (Zaffaroni) o controle 
social pode reconhecer-se em duas dimensões: 
difusa ou institucionalizada. 
Controle social difuso: aquele feito por 
fora do Estado, são instituições que controlam 
condutas humanas sem estarem cobertas pelo poder 
estatal. Exemplo: mídia, igreja, família, escola, 
sindicatos, associações de bairro, movimentos sociais, 
ONGs, etc. 
Controle social institucionalizado: 
aquele feito através do Estado. Esse controle social 
pode ser punitivo ou não punitivo. 
Não Punitivo: se percebem estratégias 
de controle sobre condutas que não exercem 
função punitiva (por exemplo, o direito 
administrativo que estabelece controle sem 
fazer uso do direito penal. O direito civil 
regula casamento etc e outros aspectos da 
vida social sem fazer uso do direito penal). 
Punitivo: É o sistema penal, e o 
mesmo compreende instituições policiais, 
instituições judiciais, instituições 
penitenciárias ou prisionais, etc. O sistema 
penal compreende essas instituições que 
realizam o controle social punitivo sob o 
poder do Estado. 
A escola crítica usa essa classificação, mas a 
escola científica moderna trabalha com controle 
social formal e informal. 
Formal: aquele exercido nas agências do 
Estado. 
Informal: aquele exercido por fora do 
Estado. Ex. Mídia. 
DIREITO X CRIMINOLOGIA 
O direito é uma ciência normativa (“dever 
ser”), se refere a uma hipótese mas não algo concreto. 
A criminologia é uma ciência empírica (“ser”), lida 
com o mundo concreto. 
O direito possui um método dedutivo (parte-
se de valores e princípios gerais para imputar a um 
particular, sai do geral e vai ao particular) e a 
criminologia possui um método indutivo (sai do 
particular para entender o geral, se analisa a 
realidade concreta a partir do sujeito). 
Para o direito, há uma base axiológica 
(valores – lida com bem jurídico, princípios, etc) e na 
criminologia há uma base ontológica (ontologia – 
estudo do objeto, não trata de uma análise normativa 
ou valorativa mas sim de fatos). 
O direito penal valora para ordenar 
(comportamento conforme à norma é o desejado 
devido ao X valor, bem jurídico, etc) e a criminologia 
observa para explicar (“analisando, verifica-se 
seletividade na aplicação da política criminal, etc”). 
Para o direito, se está no mundo dos valores 
(cultura) e para a criminologia há o mundo dos fatos. 
POLÍTICA CRIMINAL 
Aquele ramo das ciências criminais que 
propõe adoção de medidas que possuem como objeto 
a redução da violência e da criminalidade. 
Von Liszt: trata da ideia de ciência total do 
direito penal ou ciências criminais. 
DJP + Criminologia + Política Criminal 
Dogmática jurídica penal – Há o direito 
penal e o processo penal. Há aqueles que afirmam 
que a execuçãopenal (que trata da aplicação das 
normas penais) está compreendida por esse elemento 
e outros que dizem ser um ramo autônomo das 
ciências criminais. 
ESCOLA DA CRIMINOLOGIA CLÁSSICA 
Adeptos da Criminologia Clássica: 
- Beccaria 
- Romagnosi 
- Pessina 
- Carrara 
- Carmignani 
- Bentham 
 
 
Matrizes da criminologia Clássica: 
- iluminismo 
- utilitarismo 
- racionalismo 
Noções da criminologia clássica: 
A Criminologia Clássica adveio no século 
XVIII, com Beccaria (obra: “Dos delitos e das penas” de 
1764). Tinha uma abordagem liberal do direito 
criminal, baseado na ideia de utilidade do direito de 
punir. 
Postulados da crimin ologia clássica: 
- Buscava a prevenção geral. 
- Método: dedutivo. 
- Objeto de estudo: o crime. 
- Crime: era percebido como ente jurídico, 
 diante da opção de escolha do indivíduo em 
face de seu livre-arbítrio, quando decidia sua ação. 
- Pena: tinha a função de prevenção geral. 
Antes era apenas retributiva como na inquisição. 
ESCOLA DA CRIMINOLOGIA 
POSITIVISTA 
Adeptos da criminologia positivista: 
- Lombroso 
- Ferri 
- Garofalo 
- Ingenieros 
- Raimundo Nina Rodrigues 
Matrizes da criminologia positivista: 
- Comte (positivismo) 
- Darwin (evolucionismo) 
- Spencer 
 
Lombroso: estudou o perfil físico e 
psicológico dos encarcerados para definir o perfil do 
criminoso. Contudo, em realidade, o cárcere é 
marcado por uma grande seletividade. Por isso, 
Lombroso parte da falsa premissa de que o cárcere é 
o retrato de quem são os criminosos – há a “cifra 
oculta” conforme a escola crítica, aqueles que 
praticam crimes mas não estão presos. 
Lombroso trouxe a influência da Medicina 
Legal e da Antropologia Criminal para a 
Criminologia. Após estudar mais de 400 autópsias de 
delinquentes já mortos e mais de 6 mil delinquentes 
vivos nos cárceres, defendia ideias do Criminoso 
Nato, da Degenerescência, da Teoria do Atavismo 
da Fosseta Occipital Média. Então, o autor tem 3 
teorias: 
Criminoso nato: é o perfil principal de 
criminoso, não o único. Há aquele movido por forte 
emoção, aquele que é louco, etc. O nato possui já 
uma predisposição genética para o crime. 
Teoria da Degenerescência ou do Atavismo: 
os criminosos correspondem a uma classe de 
indivíduos inferior, com uma característica atávica 
(de falta de intelecto). 
Fosseta Occipital Média: seria uma 
protuberância na testa do indivíduo que demarcava 
que o mesmo era propenso ao crime. 
Deu como classificação dos delinquentes: 
Nato, Ocasional (que cometia crimes excepcionais, 
devido à situação), Louco e Passional. 
Ferri: amenizou a teoria do atavismo. Ferri 
conteve ideias de Lombroso, corrigiu suas teses do 
criminoso nato (ele não é determinado apenas por 
fatores físicos e psicológicos), apoiou-se nos fatores 
exógenos, sócio-econômicos e culturais. Porém, 
ainda assim manteve a ideia de um perfil de 
criminoso pré-determinado, nato. 
Gerofalo: trouxe o viés jurídico ao 
positivismo criminológico. Estudou o crime como 
elemento natural, pela ofensa ao sentido moral, 
através dos sentimentos altruístas de piedade e de 
probidade. O criminoso era ontológico, pré-
determinado, tal qual com Lombroso e Ferri. 
Disciplinas conectas à Criminologia 
Positivista: Antropologia e Medicina Legal 
(Lombroso), Sociologia Criminal (Ferri) e Direito 
(Gerofalo). 
- A escola positivista buscava como função da 
pena a prevenção especial ou individual, positiva ou 
negativa. 
Prevenção especial positiva: ideia de 
ressocialização. Pensava em curar o criminoso, a 
prisão seria um “tratamento”. 
Prevenção especial negativa: corresponde à 
finalidade de neutralização. Ideia de que há um perfil 
de criminoso irrecuperável e esse não deve ser 
tratado na prisão mas simplesmente apartado do 
convívio social. 
- O objeto do estudo era o criminoso, o 
delinquente. Analisava os fatores endógenos do 
criminoso tanto físicos quanto psicológicos. 
- A escola positivista da criminologia estava 
inserida no Paradigma Etiológico que estuda as 
causas do crime, por relações de causa e efeito. A 
escola crítica propõe o paradigma da reação social, 
rompendo com o paradigma etiológico. 
ESCOLA DA CRIMINOLOGIA CRÍTICA 
Matrizes da criminologia crítica: 
- Marx (materialismo dialético) 
- Foucault (“Vigiar e Punir”) 
- Rusche 
- Kirchheimer 
Punição e estrutura social, de Rusche e 
Kirchheimer: esse livro apresentou um estudo 
empírico e histórico detalhado sobre a relação 
intrínseca entre o direito penal e as estruturas sociais 
e econômicas. Analisou-se como os métodos de 
punição estão diretamente relacionados aos modelos 
econômicos em vigor. 
No modelo penal medieval com uma 
sociedade teocêntrica onde a igreja detinha o poder 
era estratégico que se punissem crimes contra a fé, a 
moral e os costumes da igreja, por exemplo, sendo 
que esses crimes eram punidos através de uma sanção 
corporal, a ideia era mostrar o poder da igreja. Como 
não havia uma demanda por força de trabalho, o 
corpo do condenado não era importante. 
Já no mercantilismo, não se podia punir desta 
forma tão violenta os burgueses, e assim surgia a pena 
de prisão como alternativa a essas punições 
corporais. Também, para garantir os interesses de 
burgueses poderosos, surgiu a fiança para aqueles 
que possuíssem propriedade. 
Com o surgimento do capitalismo na 1a 
revolução industrial, que dependia muito da força de 
trabalho, foi preciso uma imigração das pessoas do 
campo para a cidade, que foram sendo expulsas pelos 
cercamentos, morando nas cidades sem renda e 
trabalhando em condições desumanas. Assim surgiu 
a pena de prisão com o trabalho nas chamadas casas 
de correção. 
Depois, com uma produção mais mecanizada 
e dependendo menos de força humana, foi gerado 
um grande índice de desemprego. A esses indivíduos 
que não têm como obter emprego, surge o cárcere 
sem trabalho, por mais que o trabalho seja um direito 
do preso. Por isso, a preocupação atual não é 
recuperar o preso na prisão mas sim depositá-lo lá e 
afastá-lo da sociedade. 
Adeptos da criminologia crítica: 
- Paul Walto - Ian Taylor 
- Jock Young - Alessandro Baratta 
- Massimo Pavarini - Dario Melossi 
- Raul Zaffaroni - Gabriel Ignaio Anitua 
- Lola Aniyar - Rosa Del Olmo 
- Juarez Cirino - Nilo Batista 
- Maria Lucia Karam - Vera Malaguti Batista 
A criminologia crítica, criminologia radical 
ou Nova criminologia surgiu na década de 70 na 
europa e nos EUA, com a Escola Berkley. Na 
América latina se disseminam suas ideias na década 
de 80 e a crítica criminológica ocorrerá contra as 
ditaduras ainda existentes na América latina. 
- Definição de criminologia crítica 
A criminologia compreende uma série de 
discursos conjunto de conhecimentos de diversas 
áreas, que buscam explicar o fenômeno criminal 
através dos saberes das corporações hegemônicas em 
cada tempo histórico. São aplicados à análise e para 
explicar sua operatividade social e individual crítica 
do poder punitivo, além de viabilizar a redução em 
seus níveis de produção e reprodução da violência – 
Nilo Batista e Zaffaroni. 
As criminlogias anteriores buscam legitimar o 
poder punitivo, legitimar o poder de punir. A crítica 
busca um olhar crítico sobre como funciona o sistema 
penal. 
Fala-se que o cárcere é uma instituição 
criminógena onde, ao invés de diminuir o crime o 
produz. 
- Ideias centrais da criminologia crítica 
- Intrínseca relação entre sistemas penais e 
econômicos 
- Cifra oculta: o sistema penal não pune a 
todos da mesma maneira. Os crimes de colarinho 
branco somam 0,5% da população carcerária, ainda 
que praticados toda hora. Há uma grande parcela 
oculta de agentes desse tipo de crime que 
permanecem impunes. 
- Seletividade do sistema penal: o sistema 
penal atinge alvos preferenciais, aqueles que são 
afetados pelo chamado rotulacionismo ou estereótipo 
– cria-se um estereótipo de quem são os “perigosos” 
(de modo geral, jovens negros do sexo masculino 
moradores de regiões periféricas). Também serelaciona a essa seletividade a ideia de 
estigmatização, que é a marca que se deixa nessas 
pessoas que quando voltam à sociedade estão com a 
marca de ex-presidiários. 
- Vulnerabilidade: os alvos preferenciais do 
sistema penal são mais vulneráveis a este porque são 
pobres e não têm como pagar um bom advogado, 
porque são submetidos a um racismo institucional, 
porque não possuem emprego, renda ou educação. 
- Eficácia inversa: “em nome da diminuição 
da violência e da criminalidade se aplica uma solução 
milagrosa chamada prisão”, mas a prisão possui o 
fator criminógeno – ao invés de se reduzir o crime 
com o sistema penal vigente, só se cria mais crime. 
Método da escola crítica: Método do 
materialismo histórico dialético – busca estudar a 
questão criminal a partir da realidade social. 
Objeto: controle social e sistema penal. 
ESCOLA DA CRIMINOLOGIA 
CIENTÍFICA MODERNA 
Adeptos da criminologia científica moderna: 
- Molina 
- Calhau 
- Schecaira 
- Noções da criminologia científica moderna 
Preconiza implementação de programas públicos 
com objetivo de reduzir o crime e a violência. Foca 
na ideia de prevenção e não de retribuição. O 
modelo tradicional de política criminal é reativo só 
atuando depois que o crime foi praticado. Essa escola 
prioriza estudos que possam conferir instrumentos de 
como formular de maneira adequada essas políticas. 
A pergunta central da escola crítica não é quem são 
os criminosos e porque eles praticam crimes, mas sim 
porque certos indivíduos são criminalizados? Por sua 
vez, a científica moderna trouxe a vítima como um 
novo objeto da criminologia. Afirma que 
historicamente a vítima só tem um papel no sistema 
penal que é autorizar o ius puniendi contra o 
criminoso. O ganho da vítima face a atuação do 
Estado é praticamente nenhum, apenas vingança. 
No modelo penal medieval a vítima tinha um papel 
fundamental, o qual perdeu ao longo do tempo para 
o Estado. 
A escola diz que é importante estudar a vítima 
porque entender sua condição permite pensar 
políticas de prevenção mais eficazes. Ex. Violência 
doméstica. 
Ainda, pensar na condição da vítima também pode 
permitir que se reduza o sofrimento desta pessoa. 
Justiça restaurativa: a possibilidade de um encontro 
entre o agressor e a vítima com o objetivo de tentar 
restituir essa relação que se desfez pelo crime. 
Além disso, essa escola adota como método de estudo 
um método interdisciplinar. Essa característica 
marca todas as escolas da criminologia mas é 
principal nesta. Também está muito presente o 
empirismo (compreensão concreta do plano social 
através de estatísticas, dados, etc) na escola científica 
moderna. 
TENDÊNCIAS 
CONTEMPORÂNEAS DA 
CRIMINOLOGIA 
- realismo de esquerda (Young, Shaw) 
- Realismo marginal (Zaffaroni) 
- Minimalismo (Baratta) 
- garantismo penal (Ferrajoli) 
- Abolicionismo penal (Hulsman) 
REALISMO DE ESQUERDA 
Autores – John Pratt, Bernard Shaw e Jock Young. 
Surge com as primeiras reflexões da criminologia 
crítica em 70. 
Origem: crítica ao realismo de direita e ao 
idealismo radical dos anos 70 
Matriz: marxismo 
Método: materialista-histórico 
As principais contribuições do realismo de esquerda 
são denunciar as injustas estruturas sociais, busca por 
uma política social ampla ao invés de políticas 
criminais para diminuir a violência, recuperação do 
paradigma etiológico fixado nas causas do crime, 
entre as causas do crime ressalta A divisão de classes 
e a desorganização social e ocupa-se de dois tipos de 
delitos: criminalidade de rua e os crimes de colarinho 
branco. 
Criminologia cultural: é o estudo sobre a realidade e 
os comportamentos daqueles rotulados como 
desviantes. Presente no realismo de esquerda. 
REALISMO MARGINAL 
Elaborador: Zaffaroni 
Origem: década de 80 a 90 
Matriz: assumiu o ponto de vista garantista. 
Compreende o abolicionismo como possibilidade 
futura. 
Realismo marginal significa: realismo – construção 
teórica comprometida com a realidade. 
Marginal – é preciso pensar a criminologia a partir 
da nossa realidade, da nossa “margem”, não a partir 
do que os criminólogos europeus ou estadunidenses 
falam. 
Afirma que é necessário diminuir o sistema penal, 
diminuir seu poder de punir, restringindo-o apenas a 
casos graves. 
Assim como o realismo de esquerda, apresenta uma 
crítica ao sistema penal, enunciando a seletividade, a 
reprodução da violência, o condicionamento de 
condutas lesivas, a corrupção institucional, a 
concentração de poder, a verticalização da sociedade 
e a destruição das relações horizontais comunitárias. 
Trabalha com a ideia de deslegitimação do sistema 
penal – o sistema penal não possui legitimidade pois 
o que ele pretende não corresponde à sua prática. O 
sistema penal opera com alta violência, há uma 
realidade de letalidade, tem um poder configurador 
estigmatizante e deletério, é um embuste que oculta 
o verdadeiro poder que exerce, atinge os mais 
vulneráveis, reproduz as desigualdades sociais e é 
permeado pela tortura, pelos homicídios e pelas 
lesões corporais. 
Tem como propostas a integração entre o direito 
penal, a criminologia e a política criminal. O 
realismo marginal caminha rumo à supressão do 
sistema penal com o abolicionismo como uma 
viabilidade futura. 
 
MINIMALISMO PENAL 
Baratta 
Origem: década de 70 e 80 
Pretende reduzir o sistema penal, enxugá-lo. 
Defende novo modelo de integração e afirma que os 
DH devem servir como limites ao direito penal. 
Direitos humanos têm função negativa de limitar a 
intervenção punitiva e tem função positiva de definir 
o objeto da tutela penal. O direito penal não poder 
violar essas garantias imprescindíveis. 
O minimalismo almeja o fim do sistema penal no 
futuro, reduzindo-o até nada. O garantismo entende 
por outro lado que a prisão sempre será necessária, 
mesmo que para casos extremos. 
DISCURSOS CRIMINOLÓGICO 
PROGRESSISTAS 
MINIMALISMO PENAL 
Minimalismo (direito penal que deve ser contido, 
deve encontrar limites nos direitos humanos) 
(Baratta) 
Origem: década de 70 e 80 
Defende novo modelo de integração, entre a 
sociologia, a política e o direito. 
Modelo integrado = criminologia + direito penal 
 O estudo do direito penal puramente dogmático, é 
ruim, acrítico, normativista! 
- Modelo integrado de estudo do direito penal, 
sempre deve ser estudado conectado a criminologia, 
para que se possa ter uma visão crítica. 
- Resgata o direito penal baseado nos direitos 
humanos 
- Direitos humanos tem função negativa de limitar a 
intervenção punitiva e tem função positiva de definir 
o objeto da tutela penal. 
- Adota o ponto de vista das classes subalternas 
“Combate as reações penais e comportamentos 
socialmente negativos pela superação das condições 
econômicas do capitalismo e do autoritarismo” 
(Baratta) 
Nunca o direito penal pode ser se sobrepor ao 
direitos humanos. 
 Princípios Intra-Sistematicos: 
- Limitação do potencial lesivo do poder punitivo 
>Formal (princípio da legalidade) 
>Funcional (o direito penal só deve se 
apresentar quando estritamente necessário/ ultima 
ratio) 
>Pessoal (princípio da personalidade) 
>Responsabilidade (vedação a 
responsabilidade penal objetiva/ in dubio pró réu) 
Ex: prisão de manifestante segundo lei de 
organização criminosa. 
>Princípio da proporcionalidade: a punição 
deve ser proporcional ao agravo (observar o princípio 
da insignificância) 
>Adequação social: situações onde se 
reconhece como uma conduta apesar de 
formalmente típica, é socialmente aceita assim não 
possuiria tipicidade material. 
Ex: casa de prostituição 
>Subsidiariedade: aplicamos o direito penal, 
apenas quando reconhecemos que ele é necessário. 
>Implementariedade Administrativa da lei (é 
possível que se responsabilize administrativamente) 
Principios extra- sistemáticos 
- Decisões de ordem política 
>Descriminalização de condutas (não cabe 
ao magistrado, mas sim ao legislativo e executivo) 
>Seleção e construção alternativa de conflitose problemas sociais (justiça restaurativa, em alguns 
casos é possível se utilizar meios alternativos para 
solucionar o conflito, se busca reconstruir as relações 
que foram dilaceradas pelo conflito) 
Existe uma distinção entre o projeto do 
baratta/ minimalismo penal radical, e o modelo do 
ferrajoli/ minimalismo penal moderado. A diferença 
é que o do baratta preconiza um enxugamento do 
direito penal, mas que tem por horizonte futuro a 
superação do sistema penal (sem prazo), por outro 
lado no do ferrajoli preconiza-se a limitação do poder 
punitivo, no entanto ele legitima o sistema penal, nao 
defendendo perspectiva que supere o sistema penal, 
apena acha que deve ser menor do que é hoje. 
GARANTISMO PENAL 
- Matrizes do garantismo penal 
Pode-se dizer que a obra de ferrajoli /direito 
e razão, é uma atualização da construção feita por 
beccaria. 
O sistema penal deve operar dentro de uma 
lógica em que se maximize as garantias, as garantias 
devem ser asseguradas e garantidas, um sistema 
penal que não as garanta não é democrático) 
 Origem = década de 80 
Local de surgimento = Itália 
- Criminologia crítica 
- Revisão do marxismo 
- Direito penal liberal (direitos reclamados 
para si pela burguesia, na transição do medievo para 
a modernidade, no iluminismo). 
- Características 
- Descriminalização 
- Descarceirização (ampliação das penas 
alternativas) 
- Amplia os substitutivos a prisão 
 Ferrajoli vai apontar que nós podemos perceber 
num plano ideal dois polos distintos, um deles o 
extremos temos o direito penal máximo ( mais penas 
, mais encarceramento, mais crimes, mais rigoroso, 
Próximo a ideia de ditadura, pode-se suspender 
garantias, associa-se as ideias de incerteza e arbítrio, 
irracionalidade, nenhum culpado pode ser absolvido, 
ainda que um inocente venha a ser punido), ou se 
pode trabalhar na perspectiva do direito penal 
mínimo, conectado a democracia, respeito as 
garantias, temos a ideia de certeza e segurança, 
racionalidade, nenhum inocente pode ser punido 
ainda que alguns criminosos/ autores de delito 
venham a ser inocentados 
- Aspectos gerais do garantismo penal 
- Limitação ao poder punitivo 
- Secularização do poder 
- Critério de tolerância e racionalidade 
- Humanismo e condição de humanidade da 
lei 
 - Confronta o autoritarismo do estado penal 
 - Proteção do mais débil (réu, Condenado, 
indiciado) 
- Limita o domínio dos mais fortes. 
O garantismo está associado a supremacia da 
constituição, não é aceitável a violação de seus 
dispositivos. A constituição de 88 é uma constituição 
adequada aos princípios do garantismo, tratados e 
convenções de direitos humanos também se associam 
a essa perspectiva, a LEP também é um texto 
extremante garantista, contudo é letra fria e que na 
prática não produz grandes efeitos práticos. 
As penas alternativas previstas do CP 
também estão enquadradas com o pensamento do 
garantismo penal. 
Princípios importantes: 
Ferrajoli trabalha com alguns princípios 
imprescindíveis. 
- 10 axiomas do sistema garantista 
1. Não há pena sem crime, princípio da 
retribuição 
 2. Não há crime sem lei, legalidade, lei previa 
certa, estrita e escrita 
3. Não há pena sem necessidade, princípio da 
necessidade, insignificância. 
4. Não há necessidade sem injuria / lesão ao 
bem jurídico, princípio da lesividade 
5. Não há lesão sem ação, princípio da 
exterioridade da ação. 
6. Não há ação sem culpa, não há conduta 
humana que não decorra de culpa, princípio da 
culpabilidade 
7. Não há culpa sem o reconhecimento em 
juízo da culpa do cidadão, não há culpa sem 
condenação criminal, princípio da jurisdicionalidade 
8. Não há juízo sem acusação (Acusatório) 
9. Não há acusação sem prova (provas licitas, 
ou vedação das provas ilícitas) 
10. Não há prova sem defesa (princípio do 
contraditório) 
ABOLICIONISMO PENAL 
Adeptos do abolicionismo penal: 
- Hermann Bianchi 
- Louk Hulsman 
- Nils Christie 
- Thomas Mathiesen 
O abolicionismo defende um projeto de sociedade 
onde o sistema penal não seja mais necessário. 
Os primeiros movimentos abolicionistas defendiam a 
abolição da escravidão, da pena de morte, etc. 
O que se defende é que se criem condições para se 
caminhar progressivamente na direção de uma 
sociedade que resolva seus conflitos por outros 
mecanismos que não o sistema penal, e não um 
rompimento imediato com o sistema prisional por 
exemplo. O abolicionismo prega isso pela revolução 
e não por reformas, diferente do minimalismo penal 
radical. 
Obs. Prega-se a abolição do sistema penal e não 
apenas da prisão. 
Não é propriamente uma escola da criminologia, 
mas é uma das vertentes da criminologia, um 
discurso criminológico. 
 
- Noções do abolicionismo penal 
O termo foi designado entre a década de 70 a de 80, 
inspirado na luta contra a escravidão e a pena de 
morte. 
Foi atribuído à deslegitimação radical do sistema 
carcerário e da lógica punitiva. A reflexão anti 
punitiva é da tradição de países escandinavos que 
defendem a tolerância como imposição ética. 
- Paradigma 
O paradigma é um compartilhamento de um 
imaginário. Atualmente, o paradigma é de que é 
preciso se organizar através do Estado. Por isso, 
geralmente pensa-se política dentro da lógica de um 
Estado. 
É possível então falar do paradigma da pena, pois 
não conseguimos pensar outra forma de punir que 
não através da pena. Nossa estrutura de sociedade 
não permite outra forma de lidar com determinados 
conflitos, e o abolicionismo prega a necessidade de 
pensar em outras formas de resolver os problemas 
que atualmente são delegados ao sistema penal que 
não através da punição com pena. 
- Justiça restaurativa 
É a alternativa proposta pelo abolicionismo penal. É 
uma forma de resolver os conflitos sem ter que 
aplicar uma punição ao agressor, obtendo uma 
conciliação entre as partes. 
- Justiça terapêutica 
Pretende tratar do sujeito do delito que padece de 
uma moléstia mental a qual a prisão não resolverá. 
Também é uma das alternativas previstas pelo 
abolicionismo. 
Ambas são diferentes da justiça punitiva, que é a 
atual, a qual não busca resolver problemas mas sim 
puramente punir diante de um problema que não 
sabe resolver. 
DISCURSOS CRIMINOLÓGICOS 
PUNITIVOS 
SEGURANÇA X LIBERDADE 
Zygmunt Bauman: Segurança sem liberdade é 
escravidão. Liberdade sem segurança é o caos. O 
problema é que ninguém na história encontrou a 
fórmula dourada, a mistura perfeita entre elas. 
Sempre que se consegue mais segurança, entrega-se 
uma parcela da liberdade, e o contrário também é 
válido. Contudo, a segurança têm sobrepujado a 
liberdade atualmente. 
A atmosfera criada depois do 11 de setembro foi que 
para se garantir a verdadeira segurança era preciso 
abrir mão de muitas liberdades. Isso se deu com a 
edição do Patriot Act (pacote de leis antiterroristas) e 
o Military Act. 
PANORAMA GLOBAL DO 
AUTORITARISMO 
Estado de Exceção – Agamben: decretos de 
plenos poderes suprimindo direitos fundamentais. 
Ocorreram no Brasil através dos AI’s. Esses decretos 
são características de regimes autoritários mas essa 
prática ocorre atualmente, mesmo dentro de regimes 
democráticos. No Brasil cada vez mais criminalizam-
se movimentos sociais, como por exemplo a atual lei 
que aguarda aprovação tornando terrorismo 
protestar. 
Fascismo societal – Boaventura de Souza 
Santos: não é um fascismo onde um presidente 
busca implementar um regime com um partido único 
mas as características do fascismo persistem – estado 
cada vez mais totalitário, supressão de garantias, 
ideia de um nacionalismo exacerbado, etc. 
Estado de sítio – Paulo Arantes: faz a mesma 
leitura dos anteriores só com um termo diferente. 
Estado penal – Loic Wacquant: o Estado se 
ausenta cada vez mais das políticas sociais mas se 
aumenta nas políticas criminais. Ele é cada vez mais 
presente nas políticas criminais enquanto as sociais 
são as que podem representar a diminuição do crime 
e da violência. 
Bonapartismosoft – Domenico Losurdo 
Autoritarismo cool – Zaffaroni: os gestores 
autoritários atuais para defender a repressão não 
aparentam serem autoritários, isso é trabalhado 
midiaticamente como algo “cool”. 
Militarização da vida social – Marildo 
Menegat: todas as dimensões das nossas vidas estão 
cada vez mais militarizadas. Em qualquer protesto, 
ainda que pacífico, se vê um grande contingente de 
policiais, por exemplo. 
Doutrina de choque – Naomi Klein: o 
autoritarismo se vale de discursos ambientais para 
aplicar medidas autoritárias. Em nome do “meio 
ambiente” se removem várias pessoas pobres de 
determinadas áreas, onde se fazem obras gigantescas 
pelo interesse de empresas e políticos 
mancomunados com estas. 
Sociedade de controle – Deleuze: vivemos na 
era da sociedade de controle onde há o 
monitoramento eletrônico, a interceptação de e-
mails e ligações telefônicas de forma clandestina, etc. 
O AUTORITARISMO NO DIREITO 
PENAL 
DIREITO PENAL DE EMERGÊNCIA 
Emergência leva à ideia de busca por soluções 
imediatistas, o direito penal seria uma solução 
simples e rápida. 
O direito penal de emergência é, por exemplo, votar 
a redução da maioridade penal para resolver 
magicamente o problema da prática de delitos por 
jovens. Ou seja, afirma-se que o direito penal 
resolverá os problemas imediatamente apresentando 
respostas imediatas, sendo que tratam-se de 
problemas estruturais de desigualdade que não se 
resolvem da noite para o dia e muito menos com o 
direito penal. 
Há papel decisivo dos meios de comunicação. 
Também se pode falar dentro da ideia de direito 
penal de emergência do populismo punitivo ou 
populismo penal. 
 
• Populismo Punitivo 
É uma prática política que não busca resolver 
problemas mas atender um clamor da sociedade 
através da repressão. A mídia produz um ideal no 
imaginário coletivo de que os problemas serão 
resolvidos através do direito penal. A mídia 
representa o senso comum punitivo e permeará a 
sociedade com esse modo de pensar, e com isso a 
sociedade passa a demandar punição. 
Por outro lado, a classe política tem o interesse de 
manter-se no poder e não de cuidar da nação, e, por 
isso, atende a esses clamores sem fundamento. Cria 
novos crimes, regimes mais rigorosos de 
cumprimento de pena, etc. 
Um sistema penal mais repressivo, porém, não reduz 
a violência, e sim a aumenta. 
MOVIMENTO DE LEI E ORDEM 
A corrente de política criminal denominada Law and 
Order, ou seja, do Movimento da Lei e da Ordem, 
surgiu na década de 70 no bojo da sistemática 
violência contra negros e latinos nos subúrbios dos 
EUA. Este movimento considera a criminalidade 
uma doença infecciosa a ser combatida, e o 
criminoso, um ser daninho. 
Fomenta uma repressão cada vez maior, um sistema 
penal mais repressivo. Na sua criação, afirmavam 
que haveria uma suposta ameaça à segurança dos 
EUA, criando o conceito de crime organizado, 
associando esse conceito não em relação aos grandes 
conglomerados econômicos (tráfico da indústria 
farmacêutica, de armas, de pessoas, etc.) mas sim na 
prática de imigrantes que realizavam atividades 
ilegais (mexicanos com tráfico de drogas, máfia 
italiana com sonegação de impostos, etc.). 
Esse discurso terá reflexo na repressão sobre as 
periferias, os guetos negros. 
Quem criou essa expressão foi o doutrinador Ralf 
Dahrendorf. 
Nesse discurso existe uma dicotomia maniqueísta de 
bem e mal (gente de bem classe média x as classes 
perigosas). 
- Ideia de dicotomia de bem e mal (cidadãos de bem 
e ervas daninhas). 
- Não se dirige à repressão de pequenos delitos, 
trabalha muito com a ideia de crimes organizados, 
levando à repressão dos italianos (máfia), mexicanos 
(drogas) e negros. Desconsidera tráfico de armas, 
pessoas, etc. como crime organizado. 
TOLERÂNCIA ZERO E BROKEN WINDOWS 
Também surgiu nos EUA, similar ao anterior mas no 
discurso tolerância zero, que surgiu principalmente 
quando Rudolph Giuliani foi prefeito de NY, aposta-
se na repressão cada vez mais profunda sobre os 
menores delitos. O discurso versa que a segurança 
pública fica ameaçada com a tolerância aos pequenos 
delitos (ex. pichação, pequenos furtos, uso de 
entorpecentes, vadiagem, etc.) que poderiam ser 
resolvidos por outra via que não a penal. Esses delitos 
são praticados sobretudo pelos moradores dos guetos 
norte-americanos. 
A ideia de tolerância zero não é de tolerância zero 
com qualquer tipo de crime, mas com determinados 
crimes. Essa política não gerou uma repressão brutal 
sobre os crimes econômicos, ampliação da 
investigação de sonegação de impostos, de lavagem 
de capitais, por exemplo. A repressão apenas foi 
ampliada sobre as camadas populares. 
Wilson e Kelling: principais doutrinadores. 
- Broken Windows 
O programa Tolerância Zero se baseia muito na 
chamada teoria das janelas quebradas (broken 
Windows) de Kelling. O argumento da teoria é o de 
que uma pequena infração quando tolerada pode 
levar a um clima de anomia que gerará as condições 
propícias para que crimes mais graves aconteçam. 
Há ideia de que a ausência do restado representa 
uma maior tendência ao crime. 
A certeza da impunidade é um estímulo ao crime, ok, 
mas a ideia de só ter crime onde tem desordem não 
faz sentido uma vez que onde o Estado está 
organizado também tem crime (poderes do Estado 
representam a sua presença e mesmo assim não 
evitam a prática de crimes ali). Os crimes econômicos 
não têm “janelas quebradas” para incitá-los. 
Mesmo assim, a ausência do Estado não significa que 
ali é um terreno fértil para o crime. Há mais 
condições para o sucesso do criminoso mas não 
necessariamente haverá aumento do crime. 
Esse é um dos fatores para aumento do crime mas 
não é o único. 
No momento que a política tolerância zero foi 
implantada houve uma redução da violência em NY, 
mas essa redução estava realmente associada à 
repressão seletiva? 
Loic Wacquant: Em verdade, essa redução ocorreu 
em várias outras cidades americanas, mesmo 
naquelas que não implementaram essa política. 
Naquele determinado momento a economia norte-
americana tinha melhorado, foi diminuído e 
desemprego e, portanto, a miséria e, por isso, 
reduziram-se esses delitos de rua. 
DIREITO PENAL MÁXIMO 
Expressão criada pelo Ferrajoli, contrapondo a 
expressão “direito penal mínimo” aproximado da 
ideia de democracia. Direito penal máximo se 
aproxima da ideia de ditadura. Ferrajoli não defende 
o DP Máximo. 
Dentro do modelo de DP máximo existe: 
a) a demanda pela ampliação de leis penais, criação 
de novos crimes; 
b) ampliação das penas dos crimes que já existem, 
majoração das penas; 
c) regimes prisionais cada vez mais rigorosos (ex. 
RDD), com mais restrições aos direitos do preso de 
educação, contato com a família, etc.; 
d) discurso tolerância zero, repressão dura mesmo 
contra os pequenos delitos, eles não devem ser 
tolerados Ex. furtos de bagatela, crime de vadiagem, 
uso de entorpecentes – condutas percebidas nas 
classes populares das periferias urbanas; 
e) demanda pela redução da maioridade penal; 
f) a pena de prisão para usuário de drogas; 
 
DOUTRINA DE SEGURANÇA NACIONAL 
Surge como consequência da guerra fria no contexto 
das ditaduras militares latino-americanas. Essa 
doutrina foi trazida para o Brasil, foi criada por uma 
política de Estado norte-americana onde na 
chamada “Escola das Américas” que era uma 
instituição que formava oficiais da américa latina. 
Essa doutrina fomenta a ideia de que existe um 
inimigo interno. O exército serve para garantir a 
segurança nacional contra uma ameaça externa, 
para conter conflitos internos existe a polícia. 
Contudo, nesse contexto, busca-se que as forças 
armadas se dirijam a um inimigo interno. 
Contudo, o inimigo interno também é um cidadão 
nacional. Aqui também está presente a dicotomia 
cidadão x inimigo. 
O inimigo interno seria aquele que ameaça o regime 
de exceção, o regime civil-militar. Esse inimigo é 
identificado dentro das organizações adeptas de 
ideias socialistas/comunistas/anarquistasou 
qualquer um que pertença a organizações que lutem 
contra o regime mesmo que não adeptos dessas 
ideias. Padres católicos eram também etiquetados 
como inimigos por exemplo. 
Ainda, há a ideia de que esse inimigo interno 
apresentava a ameaça comunista e por isso a 
ditadura atual se justificaria face a essa ameaça de 
ditadura comunista. 
Através dessa doutrina criou-se a tortura amparada 
pela lei como meio idôneo para investigação. 
Também houve a criação da pena de morte e a 
retirada de várias garantias (ex. Habeas corpus). 
Esse discurso ainda permanece nas forças armadas e 
sobretudo na polícia militar. Com a reabertura 
democrática a polícia praticamente não mudou 
desde a ditadura. 
DIREITO PENAL DO RISCO 
Ulrick Beck: criou a expressão “sociedade de 
risco”. Afirma que as transformações que foram 
acontecendo nas sociedades pós-industriais (na atual 
fase do capitalismo) vivemos a aparição de novos 
riscos que antes não estavam no nosso campo de 
preocupação. Ex. aquecimento global. Riscos 
associados ao funcionamento do mercado, porque 
ele está mais complexo – prática de crimes 
econômicos por exemplo. 
Com esses novos problemas surge a questão de como 
resolver esses conflitos. Esses novos problemas têm 
apresentado como reflexo a expansão do direito 
penal para novas fronteiras, essa é a ideia de um 
direito penal do risco que vai, portanto, buscar 
controlar esses novos riscos/problemas. 
Jesús-Maria Silva Sánchez: autor de “A Expansão do 
Direito Penal”. Afirma que cada vez mais 
intensamente o direito penal se expande para tutelar 
novos bens jurídicos. 
• Expansão da Tutela de Bens Jurídicos 
O direito penal surgido como conhecemos aparece 
no contexto de Beccaria, é o direito penal liberal, 
criado para conter o poder punitivo do Estado. Ele 
tinha como propósito a proteção da pessoa humana 
face ao Estado. Tutelava principalmente crimes 
contra a pessoa e contra o patrimônio, associava-se à 
lesão de bem jurídico (quando tem lesão a bem 
jurídico o direito penal atua). No Direito Penal do 
Risco o direito penal se expande para tutelar novos 
bens jurídicos – se antes eram sobretudo crimes 
contra a pessoa e o patrimônio, agora aparecerão 
novos bens jurídicos para serem tutelados pelo direito 
penal (ex. crimes ambientais, crimes de trânsito, 
crimes econômicos, crimes cibernéticos). Além disso, 
surge a ideia de crimes de perigo enquanto no direito 
penal clássico consideravam-se apenas crimes de 
dano, aqueles onde há efetiva lesão de bens jurídicos. 
Crimes de perigo Perigo concreto 
 Perigo abstrato 
Perigo concreto: onde o risco precisa ser comprovado 
no processo. 
Perigo abstrato: onde o risco sequer precisa ser 
comprovado. Ex. dirigir alcoolizado, não precisa 
provar que a pessoa iria gerar risco de lesão, o risco 
é presumido. 
Atualmente admite-se até a punição de atos 
preparatórios (ex. repressão aos manifestantes, 
acreditando que eles praticariam atos X ou Y porque 
estavam com determinado objeto dentro da 
mochila). 
DIREITO PENAL DO INIMIGO 
Direito penal do inimigo, que é, em suma, a 
existência de leis penais que utilizam esse discurso do 
inimigo, ou seja, quando posso diante do inimigo e 
não do cidadão suspender garantias. 
Gunther Jakobs: nos anos 80 desenvolveu essa teoria 
do direito penal do inimigo. Conforme o autor... 
1ª fase: descritiva – o autor descreve o que está 
acontecendo, não defendendo. 
2ª fase: legitima – o autor defende esse fato que ele 
percebe que está ocorrendo. 
Ele percebeu que de um lado haviam cidadãos que 
tinham suas garantias protegidas e que de outro lado 
haveriam os indivíduos considerados inimigos, uma 
outra categoria jurídica que não a de cidadão. 
Percebeu que várias legislações (especialmente as de 
terrorismo e crime organizado) vão estabelecendo 
essa distinção. 
Ex. a prisão para criminosos comuns tem mais 
critérios do que as de terrorismo. 
Esse passa a defender a tese do direito penal do 
inimigo depois do 11 de setembro. 
Jakobs afirma que numa situação de normalidade 
institucional, há a figura do cidadão. Para o cidadão, 
prevalecem as garantias penais e processuais penais, 
elas são respeitadas. No entanto, ele diz que quando 
se está diante de um contexto de insegurança, de 
ameaça à ordem pública, se estaria diante do que ele 
chama de inimigo. Para o inimigo, é possível 
suprimir as garantias. Além disso, o que vale para o 
cidadão é o processo penal (devido processo legal) 
mas para o inimigo vale um procedimento de guerra 
(processo de exceção). 
E quem é o inimigo? O inimigo é aquele que nega a 
se submeter às regras do Estado democrático de 
direito. Se ele se nega a estar submetido às regras do 
contrato social, ele não pode ser beneficiado pelo 
contrato social. Portanto, o inimigo não pode ser 
beneficiado pelo conceito de “pessoa”. 
Isso permite qualquer tipo de violação de garantias 
que não seria possível para o cidadão, a tortura, a 
pena de morte, a prisão sem motivo. A Europa com 
fundamento nisso voltou a discutir a pena de morte, 
e Jakobs apoiou a ideia apenas para terroristas. 
A principal refutação é que isso é um retrocesso, 
porque umas pessoas teriam mais direitos que outras. 
Ø Quem pode ser os inimigos? 
Aquele que é acusado de terrorista, traficantes de 
drogas, criminosos sexuais, criminosos econômicos, 
criminosos de crime organizado (milicianos, máfia, 
etc.). 
O livro do Jakobs foi publicado em 2001, no Brasil 
ao ser traduzido chegou com outro livro 
esculhambando a tese do Direito Penal do Inimigo, 
do autor Cancio Meliá (os primeiros capítulos eram 
do Jakobs e os demais do Cancio Meliá). 
Zaffaroni: “Livro O inimigo no Direito Penal” – fala 
como ao longo da história sempre existiu o bode 
expiatório, aquele perfil de indivíduo contra o qual 
recai a seletividade penal. Ao longo da história 
aqueles que o Jakobs chama de inimigos foram 
mudando, e sempre foram os de classes mais 
subalternas. 
O inimigo público na atualidade: 
Ditadura militar – o inimigo público era o militante 
comunista. Doutrina de segurança nacional 
Democracia: o inimigo público é o traficante. 
Doutrina de segurança pública (guerra às drogas) 
Lei 12.850/2013 (de organizações criminosas): prevê 
várias suspensões de garantias, dentre elas a de 
delação premiada. 
DEMAIS CONTRIBUIÇÕES PARA 
O ESTUDO DO CRIME 
BIOLOGIA CRIMINAL 
Surgiu com Lombroso. Estuda os aspectos biológicos 
daquele considerado delinquente. Esses estudos 
caminham também para estudos de ordem genética, 
daquilo chamado de biodireito, bioética. Alguns 
desses estudos são muito criticados porque partem de 
um conceito de um criminoso ontológico, pré-
determinado. 
PSICOLOGIA CRIMINAL 
É a contribuição dos chamados saberes psicológicos 
(psicologia, psiquiatria, etc). estudaa sobretudo a 
personalidade do criminoso. 
SOCIOLOGIA CRIMINAL 
Também é importante para o estudo do crime. 
Dentro da sociologia criminal é importante perceber 
que as teorias se situam em dois campos: teorias do 
consenso e teorias do conflito. 
TEORIAS DO CONSENSO 
Partem da ideia de que a dinâmica de funcionamento 
da sociedade gira em torno da busca de um consenso, 
como se fosse possível alcançar um consenso entre 
todos. Trabalha com uma ideia de que o sistema de 
justiça penal (o controle punitivo) busca construir 
consenso, coesão social, como se buscasse alcançar os 
interesses de todos. Contudo, esse tipo de visão 
despreza que existem conflitos dentro da sociedade 
(quem é rico quer continuar rico, quem é miserável 
quer saciar sua fome, etc). 
Adeptos: Durkheim e Merton 
Exemplos: Escola de Chicago e Teoria Estrutural 
Funcionalista 
- Escola de Chicago 
Principal contribuição da sociologia criminal nos 
EUA, surgiu na segunda metade do séc. XX. 
Trabalhava a análise sobre a questão criminal 
principalmente com as teorias: 
Teoria Ecológica: A estrutura do espaço urbano (a 
cidade) contribui para a dinâmica da prática de 
crimes dependendo de como ela se estrutura. Se 
trabalha com umconceito de ecologia humana. Fala-
se portanto que se não tem políticas públicas de 
cultura, esporte, lazer, se a cidade não tem 
equipamentos que fomentem isso, isso também 
contribui para a questão criminal. Por isso que se 
pode falar que dependendo de como se estrutura o 
espaço da cidade esse espaço pode ter efeito 
criminógeno. 
Teoria da desorganização social: cidade que 
cresce de maneira desordenada. Isso também 
contribui para o crescimento do número de crimes. 
Teoria das zonas concêntricas: especificamente 
para Chicago. Analisando a zona 1, onde há um 
grande fluxo de pessoas e sem aqueles equipamentos 
supramencionados, pode-se dizer que ela seria um 
espaço com tendência maior à prática de crimes. Já 
a 2 seria uma área onde tem concentração de 
indústria e em torno do centro. Teria mais 
criminalidade que nas zonas 3 e 4 mas menos que na 
zona 1. Nos 3 e 4 há bairros mais afastados com 
melhor infraestrutura e bairros mais abastados. No 
RJ não há essas zonas concêntricas, o espaço urbano 
é muito diferente. 
O problema é que esse olhar criminológico só está 
voltado para a criminalidade de rua e não para a 
criminalidade econômica. Novamente há 
seletividade pois se analisou apenas um determinado 
tipo de criminalidade. Esse é um problema das 
teorias de consenso. 
Teoria estrutural funcionalista (Durkheim): 
o crime é um fato social, em toda sociedade humana 
ele existe. É inalcançável uma sociedade sem crime. 
Portanto, é preciso almejar que pelo menos não 
exista a anomia – aquele Estado onde as leis 
praticamente não têm valor, onde a legalidade é 
extremamente frágil. Por isso, precisamos observar a 
chamada solidariedade social, isso que manteria o 
respeito à norma, a diminuição de crime. 
Aponta-se que essa solidariedade social pode se 
estruturar de duas maneiras: mecânica ou orgânica. 
Mecânica: presente nas sociedades primitivas, onde 
o respeito à ordem se dá apenas com a ameaça da 
punição. 
Orgânica: sociedades modernas. Obtém-se a 
obediência não apenas pela violência mas através da 
busca do consenso e o direito contribuiria para essa 
busca do consenso. 
Teoria da Anomia (Merton): aprofunda aquilo 
que foi tratado pelo Durkheim sobre a anomia. 
Analisam-se padrões de adaptação à sociedade. 
TEORIAS DO CONFLITO 
Trabalham nessa dimensão de que a dinâmica de 
funcionamento da sociedade se dá com os conflitos 
de interesses, sejam eles religiosos, culturais, etc. as 
teorias do conflito entendem que na ordem social há 
disputas, confrontos, força. O controle social formal 
institucionalizado exerce o poder e busca assegurá-
lo. 
Adeptos: Vold, Simmel, Coser, Sellin e Dahrendorf 
Exemplo: Labelling Approach e Criminologia 
Crítica. 
Teoria do labelling approach: é imprescindível 
para o surgimento da criminologia crítica, é uma 
teoria da sociologia criminal. 
Matrizes da teoria: 
- Becker – desenvolveu o conceito de rotulação – 
“Outsiders” 
- Goffman – desenvolveu o conceito de estigma 
- Chapman – desenvolveu o conceito de estereótipo 
Labelling Approach significa a teoria do 
etiquetamento, analisa a seletividade estrutural do 
sistema penal, onde se tutelam muito mais 
punitivamente crimes como roubo e furto que crimes 
econômicos. Isso gera um etiquetamento daqueles 
que são atingidos pelo sistema penal. 
- Rotulacionismo x Estigmatização 
São dois momentos. O primeiro é aquele antes de o 
sistema penal atingir seu alvo preferencial, um rótulo. 
Se estabelece o rotulacionismo sobre o indivíduo 
jovem e negro, geralmente. De outro lado, depois 
que o sistema penal atinge o sujeito (o condena e o 
leva a cumprir pena) há a dimensão da 
estigmatização, ele é estigmatizado. Essa 
estigmatização tem sérias consequências na nossa 
sociedade. A chance desse indivíduo se reinserir na 
sociedade é mínima por uma série de fatores. Por isso 
estigmatização – depois que o indivíduo passa pelo 
sistema penal, ele fica com uma marca “eterna”. 
 
 
- Mudança de paradigma 
Com a teoria do labelling approach surge uma forma 
de entender a questão criminal que vai romper com 
as visões anteriores. Então, o que se aponta é que 
existem 2 paradigmas: um que é o etiológico (estudo 
das causas, tentar apontar quais são as causas do 
crime, isso é da criminologia tradicional, 
compreendido sobretudo na criminologia positivista 
e na sociologia criminal do consenso) e outro que é o 
da reação social (não foca sua análise nas raízes do 
crime mas sim na seletividade estrutural do sistema 
penal, estando previsto na sociologia criminal do 
labelling approach e na criminologia crítica). 
PRISÃO 
INTRODUÇÃO 
- Não há continuidade histórica no Direito 
Penal (Zaffaroni) 
- Sucessão de marchas e contramarchas na 
qual vai surgindo a concepção de homem como 
pessoa 
- Legislação penal tem caráter cultural e não 
natural 
- História das penas é mais sangrenta que a 
história dos crimes 
A prisão não é uma instituição que sempre existiu, 
alguns autores afirmam que é uma forma de punição 
que foi inventada. Os métodos de punição não estão 
na natureza, são criações humanas, embora no 
imaginário atual a prisão esteja tão introjetada que 
não é possível imaginar um mundo sem prisão. 
Os métodos de punição são datados historicamente e 
dependendo da sociedade há métodos de punição 
distintos. Ou seja, a pena tem componente social e 
histórico. 
Não há continuidade na história das penas 
(Zaffaroni): não se pode dizer que houve um processo 
de humanização das penas de uma maneira linear. A 
história é marcada por rupturas e permanências – 
certos traços de violência são acabados mas outros 
permanecem. Isso explicaria porque em pleno século 
20 houve o Holocausto, mesmo depois de vários 
avanços. Por tal motivo não se pode dizer que ao 
passar dos séculos estamos necessariamente mais 
humanos. 
Ferrajoli: história das penas é mais violenta que a dos 
crimes – em nome de garantir a segurança, a paz e 
combater o crime a humanidade tem praticado atos 
de muito mais barbárie que aqueles que pretende 
evitar e punir. Quantos presos não passam fome, 
quantos filhos cresceram sem pais, quantos presos 
ainda sofrem abusos? 
ANTIGUIDADE 
Há principalmente 2 momentos na história das 
penas, o pré clássico e aquele após a escola clássica 
da criminologia. 
• Ideias pré clássicas (antes do séc. 
XVIII) 
Antes da escola clássica de Beccaria predominava a 
ideia de que a pena estava sempre associada à ideia 
de vingança. 
- Vingança privada 
É a ideia do justiçamento (linchamentos, p.ex.). Essa 
ideia predominava no contexto da antiguidade onde 
não havia Estado. A instituição que deliberava sobre 
a punição não era um tribunal nem do Estado nem 
da igreja, pois haviam cidades-Estado mas não a 
estrutura de um Estado. O que haviam eram os clãs 
(grupos de famílias que se organizavam e defendiam 
uma tradição que apontava normas de condutas, e 
quem as violasse seria punido). A defesa da 
propriedade sempre foi algo central. 
Quem definia qual seria a resposta para o delito era 
a vítima ou seu grupo social. Por isso, muitas vezes, 
davam-se respostas violentas aos delitos já que não 
havia parâmetro escrito. 
Lei de Talião – olho por olho, dente por dente. 
Essa lei representou uma espécie de embrião do 
princípio da proporcionalidade. Não se pode punir 
alguém que praticou um furto na mesma proporção 
que se pune um homicida. 
 
IDADE MÉDIA 
- Vingança divina (séc. IV – queda do império 
romano) 
Contexto onde a igreja – principalmente a igreja 
católica – definirá a pena aplicável ao delito. 
Quando o império romano decreta que sua religião 
oficial é o cristianismo, a ideia da vingança divina 
passa a ter prevalência. 
A ideia é de que a resposta ao crime deverá se dar 
associando-se o crime ao pecado. Isso chegará ao 
ápice no contexto da Inquisição. 
>Castigos eram aplicados pelos sacerdotes. 
>Opunha-se à vingança privada. 
>Prisão como pena de reflexão para punir clérigos 
faltosos (penitência) 
- Vingança pública 
Associada ao surgimentodo Estado. O fundamento 
da pena nesse momento onde o Estado é absoluto é 
a desobediência de ordem do soberano (ideia de lesa-
majestade). 
As ideias de vingança divina e pública conviveram 
durante algum tempo. 
Nesta época havia uma jurisdição penal bipartite – 
de um lado a religião e de outro o Estado. Isso gerava 
tribunais da igreja (“Tribunais do Santo Ofício”) e 
tribunais do Estado (“Tribunais Leigos”). Havia 
também uma distribuição de competência – cabia 
aos tribunais religiosos julgar eminentemente alguns 
crimes (crimes contra a fé, a moral e os bons 
costumes). Para os tribunais leigos, cabiam os crimes 
contra a pessoa e contra o patrimônio. 
Crimes punidos pela Inquisição: heresia, feitiçaria, 
sodomia, bestialidade, protestantismo, maometismo 
e judaísmo. 
Penas aplicadas: 
1. Penas acessórias – multa, confisco de bens. 
2. Penas principais – pena de morte civil, pena 
de morte na fogueira e suplícios. 
O propósito das penas acessórias era econômico, 
garantir o poderio econômico da igreja. Na época 
quem emprestava dinheiro com juros eram os judeus, 
e a igreja condenava essa prática como Usura. Por 
esse motivo haviam essas penas econômicas. 
>Suplícios 
- técnicas sofisticadas de poder. Mais do que mera 
violência. Retenção da vida no estado de sofrimento. 
- aplicados oficialmente até a primeira metade do 
século XVIII (Foucault). 
Características do suplício: 
- verdade: tem como objetivo extrair a verdade 
especificamente a partir da tortura, ou seja, de 
verdade não tem nada. 
- cerimonial: era um procedimento que era uma 
espécie de cerimonial, feito em praça pública para 
servir de exemplo para a população. 
- confissão: baseado na confissão, o principal meio de 
prova era a confissão. 
- publicidade: se confunde com a ideia do cerimonial. 
A aplicação da pena era feita de maneira pública, 
geralmente na presença de centena ou milhares de 
pessoas para servir de exemplo. 
- provas: obtidas por meio da violência. Também 
haviam provas testemunhais. 
- sigilo processual: o processo corria totalmente em 
sigilo, o acusado sequer tinha advogado. Também 
não tinha acusador separado, quem acusava e 
julgava era o mesmo. 
A inquisição no Brasil: não foi uma instituição 
permanente. Apenas 4 visitações do Tribunal do 
Santo Ofício. 
Alvos: Hereges, mulheres, pobres, cristãos novos, 
judeus, vadios, homossexuais, protestantes. 
Nilo Batista – As Matrizes Ibéricas do Sistema Penal: 
a influência do sistema penal ibérico na colônia é a 
raiz de nossa polícia violenta, nossas prisões terríveis. 
Suplícios no Brasil: a primeira Constituição 
(1824) dizia que o escravo não era pessoa, era 
propriedade (res semovente). Ao mesmo tempo, o 
Código penal de 1830 reconhecia que o escravo 
poderia ser punido. O código penal reconhece a 
humanidade do escravo apenas para puni-lo, a 
humanidade do escravo não é reconhecida para 
trata-lo como cidadão. 
Esse código penal estipulava penas corporais e de 
morte para escravos e para os brancos as penas de 
prisão e multa. 
Obs. A legislação brasileira diferente da americana 
estipulava as diferenças de tratamento sobre a 
questão de ser escravo ou não, e não sobre a questão 
racial. 
Por mais que tenham havido apenas 4 visitas da 
Inquisição no Brasil, a tradição dos suplícios existia 
nas punições corporais aos escravos. 
Quando o Brasil se tornou império, não era mais 
permitido ao Senhor punir os escravos. Foi criado o 
“calabouço” – o senhor tinha que levar o escravo lá 
e remunerar um agente público para açoitar o 
escravo. 
IDADE MODERNA 
è Transição do Medievo para a Modernidade 
- surgimento do capitalismo e ascensão da burguesia 
- desenvolvimento do comércio. Grandes 
navegações. 
- concepções antropocêntricas. 
- revolução científica – revolução industrial, trabalho 
passa a ser o centro da sociedade. As industrias 
precisavam de mão de obra e os camponeses passam 
a migrar para os centros urbanos. 
- humanismo e renascimento. 
- burguesia x teocentrismo da igreja (contra usura) 
- revoluções liberais. 
- racionalismo 
- individualismo (contra o coletivismo feudal) 
Não é razoável pensar que o sistema penal ficaria o 
mesmo se tudo mudou. 
Revolução francesa -> queda da bastilha -> a 
bastilha representava todo o sistema penal violento. 
Era nela que as pessoas aguardavam para ser 
torturadas, ser levadas à forca, à fogueira. Era um 
símbolo do modelo penal medieval, do antigo 
regime. A revolução francesa desejava deixar para 
trás essas penas de tortura. 
REAÇÃO HUMANITÁRIA 
Séc. XVIII – Iluminismo 
è Reforma do Sistema Penal 
Beccaria e a escola clássica: o modelo baseado em 
penas de morte e tortura não era mais possível, 
propondo-se uma humanização do sistema penal, 
uma reforma humanitária. 
Para essa reforma seria necessária a codificação de 
um código penal (movimento codificador). 
Propõe-se para essa reforma, então: 
- criação de um código penal 
- instituição da prisão como principal forma de 
punição 
- adoção de princípios penais que seriam limitadores 
do poder punitivo 
Mudanças estruturais do séc. XVIII, então: 
- a reforma humanitária 
- movimento codificador 
- observância a princípios penais 
- limitação do poder punitivo 
- proteção do indivíduo face ao Estado 
Estas foram mudanças estruturais do sistema penal. 
Contudo, essa mudança não aconteceu por 
preocupação humanitária mas sim econômica. 
Foucault: aponta críticas à Reforma. Afirma que na 
verdade com o surgimento da prisão (“a invenção da 
prisão”) como modelo de punição não se trata de 
punir menos (se a reforma é humanitária, essa 
poderia ser a percepção) mas de punir mais e melhor. 
Não é porque se tem a prisão que as barbáries 
cessaram, dentro da prisão continuam a ocorrer 
agressões, morte, estupros, etc. Com o modelo penal 
moderno o sistema penal atinge uma massa, muito 
mais pessoas que anteriormente. 
Foucault afirma também que a prisão é um símbolo 
do modelo econômico capitalista. 
PRISÃO E PENAS ECLESIÁSTICAS 
A prisão sempre existiu mas a que existia antes da 
modernidade tinha uma função cautelar, não 
sendo a principal forma de punição. Antes do séc. 
XVIII a prisão era uma prisão-meio, uma forma de 
aguardar a condenação definitiva que reconhecia 
como penas as corporais e de morte. A partir do séc. 
XVIII a prisão passa a ser a pena fim, pena definitiva. 
Há um momento intermediário de Direito Penal 
Canônico (que vigorava para aqueles que integravam 
a estrutura da igreja católica) onde se previam 
punições eclesiásticas, chamadas de penitências. O 
indivíduo deveria ficar em penitência para expurgar 
seus pecados, ou seja, ficavam presos. Essa ideia foi 
resgatada pelos Iluministas posteriormente, 
universalizando essa punição que era restrita aos 
sacerdotes. 
TRANSIÇÃO DAS PENAS DE SUPLÍCIOS 
PARA PENAS DE PRISÃO 
- transformações e mudanças na subjetividade da 
população diante do animus punitivo 
- aclamações / protestos / manifestações populares 
pelo abrandamento penal 
- repúdio às execuções, pedido de soltura dos 
condenados 
- Antes: Criminosos eram ridicularizados 
Depois: criminosos associados a pequenos furtos 
eram heroiczados por boletins apócrifos. 
Poder Feudal Poder Moderno 
Exuberante Modesto 
Visual Anônimo 
Voluptuoso Simples e discreto 
Majestoso Funcional e útil 
Vertical Horizontal 
 
Vertical – só o 3º estado era alvo dessas punições, a 
plebe principalmente, não a nobreza. 
Para o sistema capitalista é muito mais interessante 
prender alguém e explorar sua força de trabalho ao 
invés de lhe aplicar pena de morte. Ainda, atingia-se 
também o patrimônio com penas de multa. 
- casas de correção 
Primeiras prisões surgidas na europa, também 
chamadas de workhouse, eram um misto de prisão e 
trabalho. 
Fábrica + prisão 
A prisão cumpria o papel de adestrar para o trabalho. 
è Corpos obedientes e dóceis 
Instituições disciplinares, que introjetavam o controle 
nas pessoas e criavam “corpos obedientes e dóceis”, 
indivíduos acríticossubmetidos a dominação, ao 
controle, adestrados a naturalizar o fato de trabalhar 
18 horas por dia, de que podem morrer trabalhando, 
etc. 
Deslocamento do objeto do sofrimento: 
Busca-se uma dor psicológica, que atinge a 
subjetividade e não o corpo do indivíduo (muito 
embora o sofrimento físico continue existindo). 
Conforme Foucault, as características da prisão: 
1. Novo sistema de poder 
2. Principal efeito é a legitimação do poder 
punitivo da sociedade disciplinar 
3. Vigia, classifica, distribui e registra 
4. É símbolo punitivo capitalista 
5. Não é punir menos mas punir melhor 
Séc. XVI – XIX 
- Casa de correção (prisão com trabalho) 
- Modelo correcionalista (“ressocializar”) 
Séc XX – XXI 
- crise do trabalho (capitalismo pós fordista) 
- modelo atuarial 
Modelo correcionalista / ressocializador: No 
modelo onde havia a coexistência de prisão e 
trabalho usava-se como argumento para o trabalho 
forçado a ressocialização do preso pelo trabalho 
forçado. 
No mundo contemporâneo houve a crise do trabalho 
(desemprego brutal) e isso teve como reflexo não ter 
trabalho na prisão por mais que hoje se reconheça o 
trabalho como um direito do preso. 
- Princípio da menor elegibilidade 
Surgiu no séc. XVIII, XIX. Esse princípio diz que 
nenhum homem livre poderia viver em condições 
piores do que um homem preso. Não se pode gerar a 
sensação social de que ser encarcerado constitui uma 
ascensão social. Ou seja, o preso tem que viver nas 
condições mais adversas, em condições piores do que 
qualquer homem livre. Por muito tempo a prisão 
conviveu com a fome deliberada. O discurso atual de 
gestores públicos não aceita isso, por mais que isso 
aconteça. 
Modelo atuarial: antes, era a ideia de prisão como 
fábrica. Aqui é a ideia de prisão como depósito de 
gente, ou seja, agora não se preocupa com recuperar 
ninguém mas segregar do convívio. 
MODELOS PENITENCIÁRIOS / 
PRISIONAIS 
Antes a prisão do modelo com trabalho era uma 
bagunça, não tinha um modo de gestão. Por isso 
foram surgindo modelos penitenciários. 
• Filadélfico (1790) 
Prisão de Walnut, EUA: 
Solitary system, isolamento celular (isolamento + 
silêncio) 
Crítica: altamente nefasto para a saúde psíquica do 
condenado, os presos enlouqueciam. 
• Albhurniano (1818) 
Prisão de Alburn, EUA: 
Apresenta uma novidade que é a questão do 
trabalho. 
Trabalho diurno + silêncio e isolamento noturno 
Crítica: Exploração do apenado pela lógica 
capitalista. Era um trabalho forçado que não 
agregava conhecimento ao preso e não tinha como 
norte a dignidade dele mas sim seu sofrimento. 
Ex. desse tipo de prisão: Alcatraz. 
Recapitulando: Modelos prisionais – 1. Filadélfico 
(isolamento + silêncio); 2. Alburniano (trabalho 
durante o dia e isolamento noturno + silêncio); 3. 
Sistemas progressistas (3 – inglês; 4 – irlandês). 
Sistemas progressistas 
Progressista – progride de um regime mais grave 
para um menos grave. 
Traz a inovação de premiar o bom comportamento. 
Os anteriores não faziam essa distinção. Medida 
importante para reduzir fugas do cárcere, etc. 
Criado por um general inglês que gerenciou uma 
prisão na Austrália. 
• Sistema progressista inglês 
(Inglaterra – Austrália) 
Estabelece relação da duração da pena com o 
trabalho e o bom comportamento (sistema de 
pontos). 
Mark system – sistema baseado em pontos, preso 
com bom comportamento acumula pontos e depois 
de X pontos acumulados ele progride para uma 
etapa melhor (3 etapas): 
1. Isolamento + silêncio (noite) – equivale ao 
sistema filadélfico. 
2. Trabalho com silêncio (dia) e isolamento + 
silêncio (noite) – equivale ao sistema 
alburniano. 
3. Liberdade condicional 
A principal novidade é a 3ª etapa, “liberdade 
condicional” (atualmente chama-se de livramento 
condicional). É o direito de o preso cumprir o 
restante da pena em liberdade caso ele tenha 
demonstrado bom comportamento e cumprido parte 
da sua pena. Não é um regime de cumprimento de 
pena, o preso estará em liberdade, tendo esse 
benefício. É condicional porque o indivíduo precisa 
demonstrar bom comportamento em liberdade, caso 
contrário volta ao cárcere. 
O modelo progressista representou um avanço ao 
sofrimento da prisão baseado só na reclusão. 
Diminuíram-se as fugas, as rebeliões, etc. 
• Sistema progressista irlandês 
Livramento condicional + colônias agrícolas ou 
industriais – regime de cumprimento de pena semi 
aberto. 
Surge aqui a ideia de regime semi aberto, atualmente 
previsto na nossa LEP. São locais onde o preso pode 
aprender um trabalho que pode agregar – não é só 
importante que o preso aprenda um trabalho mais 
sim é importante a “laborterapia”, a terapia onde o 
sujeito tem contato com a terra (no trabalho agrícola, 
por exemplo) e isso o humanizaria. 
Atualmente no RJ só há uma colônia agrícola, em 
Magé. 
Tem uma novidade em relação ao anterior, que é 
mais uma etapa, a ideia de regime semi aberto e a 
possibilidade de trabalho em colônias agrícolas ou 
industriais. 
1. Isolamento + silêncio 
2. Trabalho (dia) + isolamento e silêncio (noite) 
3. * Período intermediário: trabalho em 
colônias agrícolas ou industriais (trabalho 
extra muro) 
4. Livramento condicional 
Crítica: bom comportamento advém de disciplina ou 
dissimulação do preso. Instrumento de poder do 
agente penitenciário. 
- Panóptico 
- modelo de arquitetura prisional 
- elaborado por Jeremy Bentham (séc. XVIII) 
- Utilização da claridade (luz e contra-luz) 
- Interno nunca sabia se estava ou não sendo vigiado 
Bentham reúne as palavras pan + optiko (o que se 
buscava com o panóptico era uma vigilância total). 
Não era apenas a ideia de arquitetura de prisão mas 
sim uma forma de Estado, um Estado capaz de vigiar 
tudo. Dentro dessa ideia há interceptação telefônica, 
interceptação de e-mails, câmeras nas ruas, etc. Tudo 
isso faz parte da concepção de um Estado que pode 
controlar tudo. Então esta ideia foi trazida para a 
prisão. 
Características: 
- instrumento de dominação 
- vinculado à disciplina como tática de poder 
- ligado ao poder disciplinar 
Essa arquitetura prisional era feita de uma forma de 
maneira que o preso não conseguia saber se estavam 
o vigiando. O que havia era uma sensação de 
vigilância total por mais que isso não estivesse 
acontecendo. O preso não tem nenhuma 
privacidade. Isso pretendia acabar com qualquer tipo 
de resistência (rebeliões, fugas, etc.). 
Das poucas existentes do Brasil, considera-se como a 
principal prisão com este modelo a de Manaus. 
Importante – o panóptico não representou um 
modelo de gestão de prisão como era o filadélfico ou 
alburniano, ele era uma arquitetura prisional. 
Atualmente prevalece o sistema progressista irlandês 
(Brasil, Europa, etc) baseado no bom 
comportamento e na progressão de regime. 
 
FUNÇÕES DA PENA 
TEORIAS DA PENA 
As seguintes são as teorias que fundamentam o uso 
da prisão – teorias penalógicas ou teorias da pena. 
Explicam porque o Estado pode punir as pessoas, 
qual a finalidade, função da pena. 
O juiz deve levar em conta uma série de questões 
para aplicar a pena com o objetivo de retribuir e 
prevenir o crime (art. 59 CP). Então, conforme nosso 
CP, a função da punição é retribuir e prevenir o 
crime. 
Retribuir – retribui o mal causado. 
Prevenir – evitar novos crimes. 
TEORIAS ABSOLUTAS/RETRIBUTIVAS DA 
PENA 
Retribuição – a pena é um fim em si mesmo. A 
função da pena é vingança, aplicação da pena serve 
para cumprir esse papel de vingança. Essa uma ideia 
primitiva mas até hoje permanece. Existem 3 
concepções da “vingança” como função da pena, três 
principais argumentos deste tipo de teoria: 
1. Religiosa: fundamento religioso da punição 
encontrado na civilização judaico-cristã. É a 
ideia de punição (pena) em face de um desvio. 
Há uma associação entre crime e pecado e a 
pena teria a função de expiar o pecado, 
purgar a culpa. Isso permeia todo o ocidente. 
2. Kant: traz um argumento laico que retira o 
caráter religioso da argumentação anterior.

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