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UnisulVirtual Palhoça, 2015 Universidade do Sul de Santa Catarina Criminologia e Políticas Criminais Créditos Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Reitor Sebastião Salésio Herdt Vice-Reitor Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Ensino, de Pesquisa e de Extensão Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional Luciano Rodrigues Marcelino Pró-Reitor de Operações e Serviços Acadêmicos Valter Alves Schmitz Neto Diretor do Campus Universitário de Tubarão Heitor Wensing Júnior Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Hércules Nunes de Araújo Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual Fabiano Ceretta Campus Universitário UnisulVirtual Diretor Fabiano Ceretta Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Ciências Sociais, Direito, Negócios e Serviços Amanda Pizzolo (coordenadora) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Educação, Humanidades e Artes Felipe Felisbino (coordenador) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Produção, Construção e Agroindústria Anelise Leal Vieira Cubas (coordenadora) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Saúde e Bem-estar Social Aureo dos Santos (coordenador) Gerente de Operações e Serviços Acadêmicos Moacir Heerdt Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão Roberto Iunskovski Gerente de Desenho, Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos Márcia Loch Gerente de Prospecção Mercadológica Eliza Bianchini Dallanhol Livro didático UnisulVirtual Palhoça, 2015 Designer instrucional Delma Cristiane Morari Criminologia e Políticas Criminais Giovani de Paula Priscila de Azambuja Tagliari Livro Didático Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Copyright © UnisulVirtual 2015 Professor conteudista Giovani de Paula Priscila de Azambuja Tagliari Designer instrucional Delma Cristiane Morari Projeto gráfico e capa Equipe UnisulVirtual Diagramador(a) Edison Valim Revisor(a) Diane Dal Mago Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. 341.59 P34 Paula, Giovani de Criminologia e políticas criminais : livro didático / Giovani de Paula, Priscila de Azambuja Tagliari ; design instrucional Delma Cristiane Morari. – Palhoça : UnisulVirtual, 2015. 158 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. 1. Criminologia. 2. Violência. 3. Segurança pública. I. Tagliari, Priscila de Azambuja. II. Morari, Delma Cristiane. III. Título. Sumário Introdução | 7 Capítulo 1 Ciências criminais e criminologia: conceito e campo de atuação1 | 9 Capítulo 2 Violência, controle social e sistema penitenciário1 | 35 Capítulo 3 Sistema de Justiça Criminal1 | 63 Capítulo 4 Segurança Pública: atuação do Estado e da sociedade na promoção da pacificação social1 | 93 Capítulo 5 Políticas criminais1 | 113 Considerações Finais | 141 Referências | 143 Sobre o Professor Conteudista | 153 Respostas e Comentários das Atividades de Autoavaliação | 155 Introdução Prezados alunos!! Estamos iniciando os estudos diretamente relacionada às Ciências Criminais, à UA Criminologia e Políticas Criminais, sendo muito importante para o exame e avaliação das principais causas da violência, da criminalidade, dos processos de exclusão e criminalização, das atribuições dos órgãos integrantes do sistema de justiça criminal, (com destaque para o sistema de segurança pública e sistema penitenciário), das formas e métodos de reinserção social dos apenados. Além disso, estabelece um olhar para as reais funções do sistema penal nas sociedades contemporâneas, que se atêm à questão do controle social como medida visando à ordem pública e à convivência pacífica e cidadã entre as pessoas. Nesse sentido, os indicativos e algumas experiências sobre o enfrentamento à violência e à criminalidade têm demonstrado que programas e estratégias de segurança baseados numa articulação que envolva várias organizações - estado, sociedade, entidades privadas e cidadãos – têm sido muito mais efetivos como resposta ao problema. Isso porque a questão não está restrita à segurança pública, mas compreende a necessidade de atuação em outras áreas, como a saúde, educação, assistência social, planejamento urbano e questões sistêmicas, como o problema da desigualdade, acessibilidade e da má distribuição de renda. Ao longo da UA pretende-se construir uma percepção crítica sobre o fenômeno da violência, que aponte para novas políticas de controle e de prevenção e que não estejam restritas apenas ao crime e às penas, pois o novo desafio que aparece frente às instituições que atuam na promoção de segurança e de manutenção da ordem pública não é o de trabalhar mais somente com situações definidas como “fato crime”, mas sim com problemas e conflitos no sentido de diminuir as taxas da criminalização, impulsionar ações de (re)inserção social e promover um realinhamento com a sociedade na promoção incessante da paz social. Por fim, espera-se que esses estudos e saberes possibilitem novas reflexões sobre a importância do sistema de justiça criminal numa sociedade democrática e baseada em valores de solidariedade e de cooperação na resolução dos problemas - dos individuais aos comunitários - minimizando a necessidade de uma intervenção repressiva, e caso essa seja necessária, que ocorra na medida exata do restabelecimento dos vínculos para uma convivência segura e cidadã! Bons estudos! 9 Capítulo 1 Ciências criminais e criminologia: conceito e campo de atuação1 Seção 1 A ciência criminal As ciências criminais abrangem estudos que visam à compreensão da violência - com destaque para o fenômeno do crime e sua complexidade - e das respostas que a sociedade e o Estado vêm buscando no sentido de preveni-la ou reduzir seus efeitos, para a convivência pacífica e cidadã entre as pessoas. Possui um caráter interdisciplinar e multifacetado, na medida em que recorre e interage com as ciências, destacadamente a criminologia, envolvendo ainda o direito penal e processual penal, a psiquiatria, a antropologia, a sociologia, a ciência política e a filosofia, cujas problemáticas convergem para o interesse comum de compreensão dos conflitos em nossa sociedade. O desenvolvimento nas mais variadas áreas das ciências - com novas formas de “pensar”, de “conhecer”, e de “agir” - aliado às novas tecnologias, incorporam-se ao cotidiano das pessoas e ensejam a 1 DE PAULA, Giovani; TAGLIARI, Priscila de Azambuja. Criminologia e políticas criminais. Palhoça: UnisulVirtual, 2015. 10 Capítulo 1 necessidade de adequação dos instrumentos do Estado, no sentido de que novas formas de governança possam assegurar o exercício da liberdade, da igualdade e da cidadania, num cenário do local ao global de integração e paz social. A ciência criminal tem um papel relevante nesse contexto de análise, pesquisas e estudos sobre a violência, pois se trata de um problema mundial e que vem acompanhando a trajetória histórica da humanidade em busca da “civilização” e do ideário utópico da “paz social” - razão pela qual auxilia na compreensão da vida em sociedade e dos conflitos em seus aspectos mais fundamentais. As exigências por mais segurança têm dominado os debates, num momento em que os instrumentos jurídicos de regulação social no âmbito penal não têm surtido os necessários efeitos de manutenção da ordem pública, levando à necessidade de revisão das políticas criminais, para não ficarem somente no plano punitivo, mas permitirem outras formas de intervenção nos conflitos, predominando valores constitucionais na proteção dos bens jurídicos individuais e supraindividuais. Cabe elucidar que “ordem pública” compreende o seguinte, de acordo com Art. 2°, inciso 21 do Decreto Federal nº 88.777/83: [...] conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado peloPoder de Polícia, e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum. (BRASIL, 1983). Estudos apontam que a insuficiência da atuação do Estado em outras áreas de atendimento às necessidades humanas (como educação, saúde, lazer, promoção social, infraestrutura urbana) tem levado à busca de mediação pela judicialização dos conflitos, em que a ciência criminal e a via punitiva têm servido como maior esteio. O campo de atuação da ciência criminal abrange a dogmática penal, a política criminal e a criminologia, que tem como objetivo a defesa do Estado, da sociedade e do cidadão, visando a prevenir a prática de atos que impliquem violência. Por mediação entende-se toda a intervenção que vise à composição de conflitos entre partes as quais possuem interesses antagônicos, buscando soluções possíveis construídas pelos envolvidos, de maneira que ocorra um acordo consensual e pacífico. Na judicialização, o Estado se apropria dos conflitos e dita as regras, havendo, via de regra, sempre um ganhador e um perdedor, sendo que na esfera criminal a resposta tem sido a criminalização. 11 Criminologia e Políticas Criminais A Dogmática Penal compreende o Direito Penal e o Direito Processual Pena, que apresentam limitações ao exercício das liberdades individuais e coletivas, em nome da convivência pacífica e manutenção da ordem pública. O Direito Penal, segundo Capez, É o segmento do ordenamento jurídico que detém a função de selecionar os comportamentos humanos mais graves e perniciosos à coletividade, capazes de colocar em risco valores fundamentais para a convivência social, e descrevê- los como infrações penais, cominando-lhes, em consequência, as respectivas sanções, além de estabelecer todas as regras complementares e gerais necessárias à sua correta e justa aplicação. (CAPEZ, 2008, p. 19). Assim, sempre que houver um ato atentatório contra os bens mais importantes da vida em sociedade, o Direito Penal se apresenta como o instrumento do Estado para a segurança das relações sociais pela via da aplicação de sanções, em que a pena é o meio de satisfação da justiça para aquele que transgride, visando não apenas à punição pelo mal causado, mas sua recuperação social. Ocorre que, muito embora haja a necessidade do Direito Penal como recurso para a preservação do bem comum, atualmente, o sistema de direito penal está em crise. Conforme Fragoso: Põe-se em dúvida o efeito preventivo do sistema punitivo, e sabe-se que não é possível emendar o criminoso através da pena. Verifica-se que a prisão necessariamente avilta, deforma a personalidade e corrompe o condenado. O exame da administração da justiça criminal revelou que o sistema funciona de forma seletiva, profundamente injusta e opressiva. Há evidente incongruência entre as aparências do magistério punitivo e suas dramáticas realidades. (FRAGOSO, 2006, p. 5). Muito embora o sistema penal esteja em crise, ainda assim ele se apresenta como um meio de justiça em razão de sua função ético-social de não apenas punir quem transgride, mas também de proteger os bens e valores necessários à vida em sociedade (tais como a vida, a saúde, a propriedade, a liberdade, a dignidade e o meio ambiente). O Código Penal e as leis penais esparsas, como a Lei de Tóxicos, Lei de Proteção Ambiental, Lei Maria da Penha, Estatuto da Criança e do Adolescente, entre outras, dão os contornos do Direito Penal em nosso país. 12 Capítulo 1 Desse modo, o Direito Penal deve refletir os anseios sociais em torno do que é justo, refreando condutas que apresentem perigo ao convívio e não um instrumento opressor em defesa do Estado, razão pela qual ampara-se em alguns princípios: 1. Legalidade – só é crime o que previamente for concebido como tal. 2. Insignificância – tutela de bens jurídicos relevantes e que merecem proteção. 3. Alteridade – leva em consideração a especificidade da pessoa humana. 4. Confiança – instrumento capaz de fazer frente à violência. 5. Adequação social – regular condutas que comprometam realmente o convívio social. 6. Intervenção mínima – aplicação somente em casos em que não se tenha outra medida possível. 7. Fragmentariedade – concorre com outras medidas. 8. Proporcionalidade – a pena deve ser aplicada na justa medida, sem excessos. 9. Humanidade – o sistema penal deve possuir um ambiente que permita a reinserção social do apenado. 10. Necessidade – a pena deve ser medida extrema a ser aplicada a quem transgride. 11. Ofensividade – a violação ao direito deve ser relevante. Deve-se perceber que muito embora o Direito Penal ainda seja uma estrutura necessária ao Estado e à sociedade, o crime não é apenas fenômeno jurídico, mas sociopolítico, em que a estrutura social e outros fatores como o econômico favorecem sua intercorrência, devendo-se ter a consciência de que a judicialização penal dos conflitos não basta para se evitá-los. O Processo Penal nasce no contexto histórico e social como forma de composição e solução de conflitos, visando a eliminar a força e a autodefesa, em que o Estado interfere visando à conciliação entre os envolvidos. 13 Criminologia e Políticas Criminais Nesse sentido, cabe destacar que: [...] nos seus primeiros anos, todos os poderes se enfeixavam nas mãos de uma só pessoa, como no regime tribal, ou na família de tipo patriarcal. Depois, com o crescimento do agrupamento humano, por certo houve necessidade de distribuição de funções, e, finalmente, num estágio mais avançado, os órgãos que desempenhavam as funções mais importantes, as funções básicas, atingiram a posição de Poderes. [...] Para atingir a seus fins, as funções básicas do Estado – legislativa, administrativa e jurisdicional – foram entregues a órgãos distintos: Legislativo, Executivo e Judiciário. Três, pois, os órgãos que se altearam a Poderes. (TOURINHO FILHO, 2009, p.1). Ao Estado atribuiu-se a função de intervir nos conflitos e intermediar a composição por meio do Poder Judiciário. No âmbito penal, somente o Estado poderá responsabilizar alguém pela prática de um fato crime, ou seja, punir, impingindo ao infrator a pena após confirmar-se sua responsabilidade, o que se fará mediante um processo, o “processo penal”. Conforme Lopes Junior, “o processo penal é um caminho para se chegar, legitimamente, à pena” (LOPES JÚNIOR, 2008, p. 9). Desse modo, quando alguém comete um fato que é considerado crime, as estruturas do Estado se mobilizam. Inicialmente, o Poder Executivo, com a ação de suas polícias, realiza a prisão do infrator (se couber) e apura, mediante uma investigação criminal, a comprovação da autoria do ilícito, examinando as provas necessárias para a responsabilização do autor do fato. A seguir, o Ministério Público promove a ação penal e esclarece sua pretensão, com base nas provas obtidas pela polícia. Feito isso, o processo é encaminhado para o Juiz que ouve as partes – Ministério Público e acusado (MP) - e analisa o material produzido para aplicar, se for o caso, a pena ou então absolver o acusado. Em síntese, este é o processo. Órgão independente, essencial à função jurisdicional incumbido da “defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. 14 Capítulo 1 Cabe observar que existem também outras situações como, por exemplo, a prevista na Lei nº 8.099/95 (que trata dos crimes de menor gravidade), em que se dá a opção ao particular a legitimidade para demonstrar o interesse na execução penal, podendo o ofendido conceder o perdão a quem o agrediu ou violou um direito seu tutelado penalmente. Pode-se citar, também, alguns exemplos do Código Penal, como o caso de estupro, previsto no artigo 225, em que o Ministério Público somente atua se houver representação da vítima (salvo se for menor de 18 anos, em que a ação será pública incondicionada, ou seja, não exigirá representação). Não obstante, manifestado o interesse do particular em começara ação, o Ministério Público dará seguimento ao processo, mas o direito de punir, em qualquer caso, sempre caberá ao Estado. Outra situação de excepcionalidade é aquela em que a pessoa pode decidir ou não pela proposta da ação penal, conforme seu juízo e avaliação, nos crimes chamados de ação privada, em que pesam outros interesses do ofendido, como, por exemplo, nos seguintes casos: • Crimes contra a honra: calúnia, injúria e difamação previstos nos artigos 138 a 140 do Código Penal; • Violação de direito autoral - artigo 184 do Código Penal; • Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento – artigo 236 do Código Penal. Nos crimes de ação penal privada, a peça inicial se chama de “queixa”, e na ação penal pública, quando o MP a impulsiona, se chama “denúncia”. Por fim, tem-se o caso em que o particular pode também entrar com a ação penal quando houver incapacidade do MP, ou seja, quando ele não começa a ação nos prazos fixados em lei. Nesse caso o particular, pode oferecer a queixa substitutiva da denúncia, muito embora o MP deva tomar ciência dos autos e retomar a titularidade da ação. O processo penal é garantidor não apenas das medidas necessárias por parte do Estado, como apurar, prevenir, reprimir e, eventualmente, responsabilizar quem tenha praticado uma conduta criminosa, mas também das garantias formais aos acusados pela prática desses atos definidos como crimes em nosso ordenamento jurídico. Cabe destacar que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988), no seu título II, artigo 5°, que trata dos “Direitos e Garantias Fundamentais”, prevê algumas regras que visam a preservar o respeito à 15 Criminologia e Políticas Criminais dignidade da pessoa humana e o direito à liberdade dos acusados, conforme se depreende dos seguintes enunciados: • não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; • a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; • a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; • ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; • ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; • aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; • são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; • ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. (BRASIL, 1988). A persecução penal é uma obrigação do Estado e visa, portanto, a investigar e apurar o ato considerado criminoso e imputar, ou isentar, alguém de responsabilidade - observadas as formalidades legais - a fim de que a segurança e o respeito ao Estado de Direito sejam preservados. A política criminal se insere no contexto das ciências criminais, tendo como objeto de estudo a questão dos meios e recursos para fazer frente à criminalidade, buscando suporte teórico nos estudos criminológicos e fazendo análises sobre os sistemas punitivos vigentes. Para Zaffaroni, a Política Criminal é a ciência ou a arte de selecionar os bens (ou direitos) que devem ser tutelados jurídica e penalmente e escolher os caminhos para efetivar tal tutela, o que iniludivelmente implica a crítica dos valores e caminhos já eleitos. (ZAFFARONI, 1999, p. 132). 16 Capítulo 1 Ocorre que o sistema de justiça criminal tem se apresentado como um instrumento de exclusão, em que, de forma recorrente, a mediação dá lugar à judicialização dos conflitos pela criminalização e pela crescente geração de novos estereótipos de “criminosos”. A política criminal tem um importante papel no sentido de proposição de alternativas ao que “está posto” como verdade, pois a concepção pautada apenas no controle social pela via da punição tem reproduzido a violência, ao invés de preveni-la. Adorno nos elucida essa questão ao afirmar que: Não são poucos os estudos que reconhecem a incapacidade do sistema de justiça criminal, no Brasil – agências policiais, ministério público, tribunais de Justiça e sistema penitenciário–, em conter o crime e a violência respeitados os marcos do Estado democrático de Direito. O crime cresceu e mudou de qualidade, porém, o sistema de Justiça permaneceu operando como há três ou quatro décadas. Em outras palavras, aumentou sobremodo o fosso entre a evolução da criminalidade e da violência e a capacidade do Estado de impor lei e ordem. (ADORNO, 2002, p. 50). Com base em Silveira Filho, cabe destacar ainda que: A política criminal, enquanto programa de controle do crime e da criminalidade, no Brasil, influenciada pelo modelo norte- americano, se configura como mera política penal, pois ”exclui políticas públicas de emprego, salário, escolarização, moradia, saúde e outras medidas complementares, como programas oficiais capazes de alterar ou reduzir as condições sociais adversas da população marginalizada do mercado de trabalho e dos direitos de cidadania, definíveis como determinações estruturais do crime e da criminalidade“. (SILVEIRA FILHO, 2007, p. 346). Desse modo, a política criminal, enquanto ciência, precisa promover a revisão dos paradigmas vigentes que permeiam as ações do sistema de justiça criminal, em que predomina a expansão do controle punitivo e o aumento dos índices de encarceramento, o que tem redundado na reprodução das violências, quer no plano macrossocial como resultante de um modelo de sociedade desigual, como na esfera das individualidades, o que traz também como consequência a deslegitimação e desestruturação do chamado “Estado Democrático de Direito”. A Criminologia, enquanto ciência criminal, é a ciência surgida no século XIX, segundo alguns autores, pela fusão da Antropologia com o pensamento sociológico, e se ocupa do estudo das teorias do direito criminal, das causas do 17 Criminologia e Políticas Criminais fenômeno criminal (e de suas características), da sua prevenção e do controle de sua incidência, tendo um caráter interdisciplinar e abrangente de outras disciplinas e ciências, tais como o Direito, a Psicologia, a Psiquiatria, a Medicina, a Sociologia e a Antropologia. O campo de estudo e atuação da criminologia tem tido definições que, apesar de convergirem para um mesmo objeto – o homem, o crime, o criminoso, os fatores criminógenos e os mecanismos de controle social – conceitualmente, apresentam suas variáveis, como se percebe nos conceitos apontados por Vieira, tais como: Amaral Fontoura: a Criminologia estuda todos os fenômenos referentes ao crime - causas, efeitos, constituição mórbida dos criminosos, estatística de crimes etc., sendo a Sociologia Criminal parte integrante dela. Paulo Dourado Gusmão: entende que a Criminologia estuda o homem criminoso, o delinquente e o crime em seu aspecto psíquico-social, fundada exclusivamente em métodos científicos, alheada das definições e das categorias jurídico-penais. Basileu Garcia: a Criminologia engloba o objeto da Biologia Criminal (compreendidas a Antropologia Criminal propriamente dita, a Psicologia Criminal e a Psiquiatria Criminal) e a Sociologia Criminal. ‘Estudando a incidência da fenomenologia psíquica da criminalidade; o elemento subjetivo do delito, que decide da culpabilidade, os motivos que dirigem o comportamento antissocial etc., a Psicologia marca os necessários rumos à avaliação da personalidade, indagação culminante no Direito Penal do nosso tempo. O material das suas conclusões alargou-se com a Psicanálise, que tenta penetrar nos mistérios do inconsciente. Magalhães Noronha: entende a Criminologia como ciência causal-explicativa que estuda as leis e fatores da criminalidade e abrange as áreas da Antropologia e da Sociologia Criminal. Augusto Thomson: a Criminologia é uma ciência natural que não dispõe de um objeto de estudo precisamente definido; o crime não é um fenômeno natural;a Criminologia considera como objeto específico de seu estudo o criminoso designado como tal pela máquina da repressão. Pablos de Molina: Cabe definir a Criminologia como ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplado este como problema individual e como problema social –, assim como sobre os programas de prevenção eficaz dele e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente. (VIEIRA, 1997, p. 33-37) 18 Capítulo 1 A Criminologia, enquanto ciência do âmbito criminal, contribui para a percepção do fenômeno da violência e da criminalidade de forma multifacetada, indo das expressões criminológicas típicas do Estado Absolutista até a concepção crítica que aponta para a necessidade de reformulação do paradigma punitivo, sob bases que considerem a realidade da estrutura social e de novas ações necessárias para a incessante resolução de conflitos e promoção da paz social. Seção 2 A criminologia O significado do vocábulo criminologia é derivado do latim crimino (crime) e do grego logos (tratado ou estudo), assim, de uma forma simplista, temos por criminologia o estudo do crime. No entanto, Edwin H. Sutherland define a criminologia de uma forma mais completa e abrangente: “criminologia é um conjunto de conhecimentos que estudam o fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do delinquente, sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo” (apud FERNANDES; FERNANDES, 2002, p.26). A criminologia é uma ciência, pois satisfaz os requisitos da Epistemologia, ou seja: - Tem um objeto específico – o homem criminoso e a criminalidade; - Usa de métodos próprios – indutivo, partindo dos influxos exógenos e endógenos e se vale da história, estatística, sociologia, biologia e demais ciências humanas e sociais a fim de chegar a conclusões sobre as razões da personalidade do criminoso e das circunstancias do crime; - Tem caráter universal – todo o mundo estuda a criminologia pelos mesmos critérios; - Ser finalística – visa à solução do problema da criminalidade através da prevenção. (FARIAS JÚNIOR, 2006, p. 22). 19 Criminologia e Políticas Criminais Quanto à história da criminologia, essa se faz presente desde a mais remota antiguidade. Resultado da evolução natural, ou fruto de Adão e Eva, o homem sempre foi o centro de pesquisa de outro homem, pois é ele que conduz o destino do próprio mundo. No entanto, a natureza da inteligência do homem faz com que seu pensamento seja incompreensível e, por vezes, seu procedimento se torna inexplicável, fazendo com que inúmeros atos humanos não sejam esclarecidos. Assim, por meio dos tempos, a criminologia sempre se fez ávida a perquirir as manifestações comportamentais do homem que, estudadas pelos doutores no assunto, por períodos ou fases, objetiva a sistematização científica de sua evolução. O crime e a violência são temas que sempre fizeram parte dos diferentes estágios de civilização das sociedades, desde os tempos primitivos ou arcaicos, com registros obtidos das inscrições rupestres sugestivas das formas de interação humana daquela época, passando pela Antiguidade Clássica; pela Idade Média, com o Estado Absolutista, que passou a ser chamado por alguns historiadores e criminólogos também de “Estado de terror penal”; a Idade Moderna com o positivismo jurídico irradiante de dogmas e postulados (que, com base principalmente na razão, contribuíram para elaborar instrumentos jurídicos de controle social que também desaguaram em expressões de violência); e a época Contemporânea, que nos confronta com um modelo político, econômico e social que tem contribuído para fomentar a cultura do medo e da violência. Portanto, é importante compreender que a história da humanidade esteve sempre atravessada pela violência. Muitos são os registros de guerras, perseguições, disputas, questões de gênero, preconceitos, desigualdades, terrorismos, explorações e por aquela modalidade de violência que muitas vezes é entendida e definida por valores de determinados grupos sociais organizados: os fatos considerados criminosos, da criminalidade e dos processos de criminalização. Os saberes produzidos sobre essas “violências”, as relações dessas violências com as estruturas de poder e as instituições, notadamente as da segurança pública, apontando as contradições do sistema penal (entre as funções declaradas, simbólicas e as reais), são contribuições que a Criminologia, enquanto ciência, nos oferece, permitindo que se perceba um modelo de política criminal equivocado, pois a reação e a punição sustentam e legitimam o discurso repressivo e do controle como única forma de proteção social e manutenção da ordem pública. Em que as obras poéticas da época como a Ilíada e a Odisseia retratavam a forma de organização social e seus problemas ou ainda a obra “Antígona”, conhecida tragédia de Sófocles (494-496 a.C.), que demonstra a crise histórica estabelecida entre o Direito Natural e o Direito Positivo. 20 Capítulo 1 A Criminologia busca a compreensão das múltiplas dimensões dos atos de violência, principalmente os que são considerados de transgressão humana e porque o são assim considerados, tendo como premissa os mecanismos de controle social e os processos de criminalização, e não o “fato-crime” como uma realidade ontológica. Os saberes teóricos no campo da criminologia servem de base e tornam mais elucidativos alguns aspectos sobre os conceitos e dogmas equivocadamente construídos sobre o sistema penal e a chamada “criminalidade” na sociedade contemporânea, permitindo uma análise mais detalhada sobre as características dessa “criminalidade” no Brasil (a questão das drogas, da violência de gênero, da criança e do adolescente, a análise de dados estatísticos e do Plano Nacional de Combate à Violência), e as relações de interligação que essas questões estabelecem com as instituições integrantes do sistema de justiça criminal. A base teórica do pensamento criminológico permite que se questione o discurso de fortalecimento do sistema penal e as crenças equivocadas de que isso representa o interesse geral, ou seja, a erradicação dos problemas sociais com a articulação e operacionalização do sistema punitivo - “braço armado do Estado” compreendendo a Polícia, o Ministério Público, o Judiciário e o Sistema Penitenciário. Desse modo, o pensamento criminológico auxilia na desconstrução da visão estigmatizante sobre a realidade social, de concepção maniqueísta e excludente. E contrapondo ao discurso oficial com novas possibilidades de resolução pacífica dos conflitos, possibilitando a substituição das políticas criminais pelas políticas públicas. A preocupação com o crime, o castigo, a punição fazem parte do processo civilizatório, desde o Código de Hammurabi na região mesopotâmica, passando pela legislação Mosaica constante nos livros da Bíblia; as reflexões de Confúcio (551 – 478) - “tem cuidado de evitar os crimes para depois não ver-te obrigado a castigá-los”; os gregos que com Esopo asseveraram que os crimes são proporcionais à capacidade dos que os cometem , entre outros pensadores da antiguidade clássica, como Isócrates (436 – 38 a. C) – ocultar o crime é tomar parte nele -, Protágoras (485 – 415 a.C.) que sustentou o caráter preventivo da pena; Sócrates, (470 – 399 a. C.) por meio de Platão, afirmando “que se devia ensinar aos indivíduos que se tornavam criminosos como não reincidirem no crime, dando a eles a instrução e a formação de caráter de que precisavam”; Platão (427 – 347) dizendo que o ouro do homem sempre foi Monumento jurídico mais importante da Antiguidade antes de Roma. Continha 282 artigos, sendo muito desenvolvido para a época, sobretudo, no domínio do DireitoPrivado. Hammurabi foi rei da Babilônia, provavelmente entre 1726 – 1686 a.C. (GILISSEN, 2001). 21 Criminologia e Políticas Criminais motivo de seus males (A República); Aristóteles (384 – 322), sugerindo que a miséria engendra rebelião e delito e Sêneca, em Roma (4 a.C. – 65 d. C), com sua análise sobre a ira, que considerava a mola propulsora do crime, argumentando ser a razão da sociedade viver em constante luta fraticida (FERNANDES; FERNANDES, 2002, p. 62). Muito embora a preocupação com a questão da violência tenha origem em tempos remotos, em que os que exerciam o poder tendiam a manter a ordem e buscar a paz pelo controle e o desenvolvimento da sua polícia e da sua justiça, é no marco histórico do Iluminismo que ocorrem transformações que conduzem a uma verdadeira revolução na concepção jurídica e também política, econômica e social, com reflexos diretos no campo do direito penal. Na base das inquietações do marco histórico do Iluminismo, surge uma corrente do pensamento chamada Escola Clássica, com uma unidade ideológica comum, com um significado político, liberal e humanitário e se contrapondo ao estado da legislação penal vigente à época, e do excesso no ato de “punir” com castigos corporais e penas de morte, também uma arbitrária e desigual aplicação da lei, conforme a condição social do acusado (ANDRADE, 2003). O pensamento e a obra do italiano Cesare Beccaria (1738 – 1794) o torna percussor desse momento. Conforme Gilissen: Beccaria teve uma grande influência na modernização do direito penal. Escreveu o seu livro Dei delitti e delle pene (Dos delitos e das penas, 1764) com a idade de 25 anos e publicou-o como um panfleto anônimo. Novamente publicado pouco depois com um comentário de Voltaire, a obra rapidamente conheceu o sucesso e foi traduzida na maior parte das línguas europeias. Sob a influência do Contrat Social de Rousseau, Beccaria imagina um sistema jurídico no qual cada um deve ceder uma parcela da sua liberdade – tão mínima quanto possível – ao soberano, em troca da manutenção da ordem por este último. O soberano não pode abusar do seu direito de punir; os fatos são apenas puníveis se a lei os considerar como infração; é a proclamação da legalidade dos delitos e das penas; é o adágio nullun crimen, nulla poena sine lege que, embora expresso em latim, nada tem de romano. A pena deve ser proporcional ao mal a reprimir; a tortura e a pena de morte não podem ser toleradas. (GILISSEN, 2001, p. 368). Esse movimento surgiu na França do século XVII e defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média. Segundo os filósofos iluministas, essa forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade. 22 Capítulo 1 Não obstante a importância de Beccaria, é com Cesare Lombroso que se tem o marco histórico da fundação da criminologia com sua obra “L’Uomo delinqüente”, em 1876, que acaba criando a Antropologia Criminal. Essa obra estabeleceu uma relação entre o homem que pratica crimes e as suas características biopsíquicas. De acordo com Andrade, a primeira e célebre resposta sobre as causas do crime foi dada pelo médico italiano Lombroso, que sustenta, inicialmente, a tese do criminoso nato: a causa do crime é identificada no próprio criminoso. Partindo do determinismo biológico (anatômico-fisiológico) e psíquico do crime e valendo- se do método de investigação e análise próprio das ciências naturais (observação e experimentação), procurou comprovar sua hipótese através da confrontação de grupos não-criminosos com criminosos dos hospitais psiquiátricos e prisões sobretudo do sul da Itália, pesquisa na qual contou com o auxílio de Ferri, quem sugeriu, inclusive, a denominação “criminoso nato”. Procurou desta forma individualizar nos criminosos e doentes apenados anomalias sobretudo anatômicas e fisiológicas vistas como constantes naturalísticas que denunciavam, a seu ver, o tipo antropológico delinquente, uma espécie à parte do gênero humano, predestinada, por seu tipo, a cometer crimes. (ANDRADE, 2003, p. 35-36). Portanto, foi Lombroso quem iniciou os primeiros estudos em Criminologia, colocando no centro da discussão sobre a questão da criminalidade a pessoa humana “incomum”, cujo objeto central da discussão é o “homem criminoso” (aquele ser antropologicamente diferente das demais pessoas). Lombroso, prosseguindo em suas pesquisas, acrescentou como causas da criminalidade, ao lado do atavismo, a epilepsia e a loucura moral, ou seja, “o atavismo, epilepsia e loucura moral constituem o que Vonnacke denominou de tríptico lombrosiano”. (ANDRADE, 2003, p. 36). O chamado “criminoso nato”, para Lombroso, além de identificar um ladrão ou um assassino somente pelas suas feições faciais ou pela configuração de seu crânio, ou seja, dos estigmas físicos, conforme retratado nas Figuras 1.1 e 1.2, possuía sintomas psíquicos - como insensibilidade à dor, preguiça, crueldade, instabilidade emocional, superstição, precocidade sexual - sobre o qual a sociedade teria o direito de defender-se, condenando-o à prisão perpétua e excepcionalmente à morte, mas sem expiações morais ou punições infamantes (FERNANDES; FERNANDES, 2002). 23 Criminologia e Políticas Criminais Figura 1.1 - Tipos lombrosianos Fonte: Chermontlopolis, 2008. Figura 1.2 - Ambiente/local de estudos de Lombroso Fonte: Museounito [20-]. 24 Capítulo 1 Jerônimo Neto diz que Lombroso teve muita influência na sua época e enfatiza que inclusive no Brasil- a teoria de Lombroso atribuía o crime a um atavismo, uma decorrência de tendências primitivas que os seres humanos ‘normais’ teriam superado no curso da evolução. Por esse raciocínio, o criminoso estaria mais próximo dos animais do que o restante dos homens. E teriam marcas físicas diferenciadas. Se o formato das orelhas ou da mandíbula fosse mesmo indicador de comportamento criminoso, o trabalho da polícia seria bem mais fácil. (JERÔNIMO NETO, 2007, p. 83). Alguns textos da época confirmam que houve uma certa comoção quando da chegada do positivismo criminológico. Em 1928, Aragão traz um fato que demonstra essa euforia, ao comentar a trajetória de Lombroso. Por isso Van Hamel, fazendo o paralelo entre Cesar Beccaria e Cesar Lombroso, na festa solene com que glorificaram o nome do eminente professor de Turin, por ocasião do 6º congresso de antropologia criminal, pronunciou as seguintes palavras, recebidas por entre aplausos unanimes: nos dias de arbítrio, disse ao homem: conhece a justiça; Cesare Lombroso, na época em que se está aferrado às fórmulas clássicas do Direito Penal, disse à justiça: conhece o homem. (ARAGÃO, 1928, p. 37). Esse momento histórico propiciou discussões que deram origem ao surgimento do paradigma conceitual em Criminologia, sofrendo também influências de correntes do pensamento chamadas Escolas Penais. Dessas, iremos destacar as duas que consideramos mais importantes. As discussões sobre a questão do Direito Penal, do crime e da criminalidade - com suas respectivas teorias sobre o assunto - passaram a ser designadas Escolas Penais. Essas “escolas” passaram a (re)analisar os fundamentos do Sistema Penal, buscando ampliar a compreensão da chamada “criminalidade” e de suas teorias. Veja, a seguir, as principais escolas de criminologia: Escola Clássica A Escola Clássica surge no contexto do movimento Iluminista, tendo como consequência os postulados da humanização da pena. Beccaria foi o expoente e representante máximo da Escola Clássica em decorrência de sua valiosa contribuição. 25 Criminologia e Políticas Criminais Para Andrade, a Escola Clássica teve sua origem no no marco histórico do Iluminismo e de uma transformação estrutural da sociedade e do Estado, inserindo-se, em seus momentos fundacionais, na transição da ordem feudal e o Estado absolutista (o “Antigo Regime”) para a ordem capitalista e o Estado de Direitoliberal na Europa, e se desenvolveu ao longo do processo de consolidação desta nova ordem. (ANDRADE, 2003, p. 45-46). Teve a preocupação em estabelecer as bases do Sistema Penal com fundamentos inspirados na humanização dos meios punitivos, legalidade do Direito Penal e Processual Penal - garantia e segurança jurídica - e finalidade da pena, opondo- se aos arbítrios e lutando pela segurança individual em contraposição à Justiça Penal vigente da época, cujas penas, estabelecidas “no duplo pilar da expiação moral e da intimidação coletiva, eram excessivamente arbitrárias e bárbaras, prodigando os castigos corporais e a pena de morte” (ANDRADE, 2003, p. 49). Sustentou-se num sistema dogmático e se baseou em conceitos racionalistas, considerando a imputabilidade penal diretamente vinculada ao livre arbítrio e à culpabilidade moral, tratando o delito como algo de natureza jurídica e a pena como um mal necessário à segurança jurídica. (OLIVEIRA, 1996). Deixou como herança um legado que, baseado em concepções liberais, contribuiu para a consolidação da dogmática jurídico-penal, na produção de uma ideologia especificamente penal, a “ideologia da `defesa social´, que sintetiza a sua percepção básica sobre a problemática da criminalidade e da reação social” (ANDRADE, 2003). Escola Penal Positiva A Escola Positiva, na base do pensamento positivista de Ciência, incorpora em suas análises um novo método: o indutivo e de observação dos fatos, em substituição ao Método dedutivo e de lógica abstrata da Escola Clássica, “deslocando-se da investigação racional para a factual – e do fato para o homem delinquente – deslocarão o território classicamente colonizado pelos juristas” (ANDRADE, 2003, p. 63). A obra “O homem delinquente”, de Lombroso, é outro item que contribuiu com o paradigma conceitual da criminologia, constituindo junto com a Sociologia Criminal de Ferri, é uma das matrizes fundamentais desse paradigma, que interpretava o delito como uma realidade biológico-social, constituída de fatores antropológicos e materiais, realçando como objeto do seu estudo o homem “criminoso” e suas características anatômico-fisiológicas. Distendeu o entendimento lombrosiano sobre a criminalidade, admitindo uma tríplice série de causas ligadas à etiologia do crime – individuais (orgânicas e psíquicas), físicas (ambiente telúrico) e sociais (ambiente social). 26 Capítulo 1 Essa Escola Penal, a Positiva, teve como característica a questão da responsabilidade social baseada no determinismo e na “periculosidade” do delinquente, bem como na sua compleição física e biotipo, considerando o crime como um fenômeno natural e social produzido pelo homem e a pena não mais apenas como um meio de castigo, mas de defesa social, negando o livre arbítrio e a liberdade social (OLIVEIRA,1996). Ser criminoso passou a ser um fato, um atributo, uma vez que a pessoa passa a ter estigmas determinantes que a compelem a cometer crimes e assim a necessidade de proteção da sociedade. Nas palavras de Andrade, a violência é “identificada com violência individual (de uma minoria), a qual se encontra, por sua vez, no centro do conceito dogmático de crime, imunizando a relação entre criminalidade e a violência institucional e estrutural” (ANDRADE, 2003 B, p. 37). Os seguidores da Escola Positiva defendiam as teorias relativas, ou da prevenção, em que a pena tinha um fim prático e imediato, o da prevenção geral ou especial do crime, ou seja, servia como um instrumento de “defesa social”, com o objetivo de “reajustar” ou tornar sem efeito o “homem delinquente”. As medidas de segurança, como a de internação em hospital de custódia, tratamento psiquiátrico e os institutos jurídicos (o livramento condicional e a suspensão condicional da pena) têm sua origem nesse período. 2.1 A mudança do paradigma conceitual para o Labelling Aproach (abordagem por etiquetamento) ou Paradigma da Reação Social O paradigma conceitual, de base positivista e derivado das ciências naturais, considerava que algumas características distinguiam o homem normal do homem criminoso. Daí a tese fundamental de que ser delinquente constituía uma propriedade da pessoa que a distinguia por completo dos indivíduos normais, sem que se fizesse uma análise crítica do Direito Penal Positivo enquanto definidor do crime e das penas (ANDRADE, 2003). É nesse contexto que os pressupostos e postulados das Escolas Penais e do paradigma conceitual passam a ser questionados, que o surgimento de novos saberes criminológicos começam a se contrapor à ideologia da defesa social, indagando sobre outras causas para o crime e a criminalidade, voltadas para além daquelas obtidas pela Antropologia, Sociologia e outras ciências e teorias da época. 27 Criminologia e Políticas Criminais O labelling aproach e o paradigma da reação social representam essa mudança de paradigma em criminologia, passando-se a conceber o crime, a criminalidade e o sistema penal segundo novos pressupostos, fundados, principalmente, nos processos de criminalização, o que ensejará um caminho para a construção de uma nova criminologia, a criminologia crítica. O labelling tem como fundamento e tese central [...] de que o desvio e a criminalidade não são uma qualidade intrínseca da conduta ou uma entidade ontológica pré-constituída à reação social e penal, mas uma qualidade (etiqueta) atribuída a determinados sujeitos através de complexos processos de interação social, isto é, de processos formais e informais de definição e seleção. (ANDRADE, 2003, p. 41). Muda-se o foco, indo-se além do estudo do crime e do criminoso para a questão dos processos de criminalização, para os que são criminalizados e para a reação social da conduta desviada, passando-se a questionar a legitimação do sistema penal (ANDRADE, 2003). Conforme essa corrente do pensamento, os processos de criminalização têm início não apenas no aparato político-jurídico do Estado, encarregado pelo controle social formal, que engloba a Poder Legislativo (criminalização primária), Polícia, Ministério Público, Judiciário (criminalização secundária), mas também os mecanismos de controle social informal, como a escola, a família, a religião ou a mídia (ANDRADE, 2003, p. 43). A mesma parcela social sobre a qual recai a mobilização do aparato do Sistema Penal, também acaba sendo a mais atingida pelos efeitos da violência, distribuindo-se de forma desigual os riscos reais de vitimização. E isso é atual e muito presente na sociedade brasileira, conforme Beato, “o risco de vitimização por homicídio nas grandes cidades, hoje, é cerca de 300 vezes maior para um jovem de periferia, se comparado com o risco para o mesmo crime que corre um senhor de meia idade de um bairro típico de classe média”. (BEATO, 2004). Dessas inquietações decorrem necessidades de novas discussões, surgindo um movimento criminológico intitulado “Criminologia Crítica”, cujas teorias, segundo Taylor, Walton e Young, são caracterizadas [...] pela orientação questionadora da ordem social que produz o fenômeno do crime (definição do comportamento criminoso e dos métodos de controle e de repressão da criminalidade) e pelo compromisso com uma prática social transformadora das condições estruturais da desigualdade material e da marginalidade econômica, nas sociedades fundadas na 28 Capítulo 1 divisão e na exploração de classes. O esquema teórico desse questionamento é definido pelas categorias fundamentais do pensamento marxista (modo de produção, classes sociais, luta de classes, hegemonia ideológica etc.). E por isso, está comprometido com o processo histórico de emancipação das massas, exploradas como força de trabalho e oprimidas pelos mecanismos de poder da ordem social, que seleciona não só os comportamentos, os sujeitos que devem ser incriminados. (TAYLOR; WALTON; YOUNG, 1980 p. 7). A Criminologia Crítica se apresenta, assim, com um discurso que passa a se concentrar em desconstruiro discurso da guerra contra o crime, do combate à criminalidade, tentando evidenciar que os processos de criminalização e a inflação jurídico-penal nada mais fazem do que agravar os problemas sociais, destacando-se a superlotação das prisões e outras formas de violência institucional, como a pobreza, o desemprego, o estado de abandono, a fome, o estado de terror penal em que se desconhece todo o entrelaçamento de leis e armadilhas do sistema, mas tudo, enfim, buscando criar no imaginário coletivo uma falsa sensação de segurança jurídica. Figura 1.3 - Falsa sensação de segurança jurídica Fonte: Revista Consulex, 2002 e 2004. Assim, a criminologia sofreu um processo de evolução em sua concepção, influenciado pelas correntes do pensamento das Escolas Penais, culminando na Criminologia Crítica, que redefine seus conceitos e aponta para a necessidade de um sistema de justiça o qual leve em consideração todos os valores e necessidades dos seres humanos, premissa maior para o enfrentamento de todas as formas de violência. 29 Criminologia e Políticas Criminais Seção 3 Criminologia e Segurança Pública A criminologia nos permite compreender a questão da segurança pública sob novas bases e fundamentos teóricos. As estruturas de segurança pública no país são as responsáveis pela intervenção mais direta e imediata nos problemas que dizem respeito à criminalidade e à criminalização - muito embora se saiba que uma atuação efetuada de forma cooperativa, envolvendo não apenas o poder público, mas também ações do empresariado, da sociedade civil organizada e de comunidades locais, tenha efeitos bem mais úteis sob o aspecto da solução integrada dos conflitos sociais. Ocorre que o Estado e a Sociedade têm demonstrado insuficiência na compreensão e no trato das questões que envolvem a ordem social, percebendo- se que as amostragens estatísticas oficiais apontam para um crescimento desproporcional da incidência criminal no país, isso sem falar nas cifras ocultas, daqueles crimes que não são contabilizados, os quais, para Zafarroni, correspondem a maioria das práticas delitivas. Conforme esse autor, praticamente não existe conduta - nem mesmo as ações mais privadas – que não seja objeto de vigilância por parte dos órgãos do sistema penal ou daqueles que se valem de sua executividade para realizar ou reforçar seu controle, embora se mostrem mais vulneráveis as ações realizadas em público, o que acentua a seletividade da vigilância em razão da divisão do espaço urbano que confere menores oportunidades de privacidade aos segmentos mais carentes.[...] Se todos os furtos, todos os adultérios, todos os abortos, todas as defraudações, todas as falsidades, todos os subornos, todas as lesões, todas as ameaças etc. fossem concretamente criminalizados, praticamente não haveria habitante que não fosse, por diversas vezes, criminalizado. (ZAFFARONI, 1991, p. 25-26). As estruturas de polícia, assim como as demais instâncias de poder, historicamente acabaram servindo às elites de nosso país como mecanismo de controle social, e até há pouco tempo foram extensão dos Estados, de uma ideologia voltada para a segurança nacional. Não obstante, com a abertura política e a democratização, nosso país tem procurado se adequar às novas realidades e contingências sociais, muito embora a incorporação de novos postulados inerentes aos direitos de cidadania encontre resistências individuais e institucionais. 30 Capítulo 1 Aliado a esse problema de “função das polícias”, percebe-se que, muito embora haja uma tentativa de articulação e mobilização no sentido de proporcionar segurança à sociedade e às pessoas, seus esforços têm sido muitas vezes em vão, decorrente também dos problemas crônicos de nossa sociedade, que é atravessada pelas desigualdades sociais (falta de saúde pública, infraestrutura urbana deficiente, desvalorização da educação e do sistema de ensino) e pelas mais variadas expressões de violência já citadas, como a pobreza, o desemprego, os preconceitos, o tráfico de drogas, a exploração sexual, a exploração do trabalho infantil (e adulto), a falta de assistência familiar, a falta de acesso aos meios de cultura, a violência (intrafamiliar, contra a mulher, contra os animais), entre outras questões para as quais não estão plenamente preparadas para agir. Tanto é assim que o chamado Guia para a Prevenção do Crime e da Violência nos Municípios, elaborado pelo Governo Federal, catalisa e prioriza ações nesses aspectos. Some-se a isso a cultura punitiva disseminada no contexto social e com terreno fértil na esfera policial, que dificultam os espaços para a mediação preventiva dos conflitos, e, ao contrário, pune-se e violenta-se como resposta da macroestrutura social. Assim, sob a proteção da função declarada do Direito Penal, a da prevenção “da violência e da criminalidade”, as polícias acabam contribuindo para o agravamento desse quadro, auxiliando na construção dos chamados “processos de criminalização”, exercendo influência significativa com a mobilização de seu aparato, principalmente quando vira moda falar-se em “movimentos de lei e ordem” como solução para os problemas de natureza social em momentos de crise. Na realidade, é preciso evitar, cada vez mais, que as polícias sejam órgãos a serviço de um poder (principalmente o poder econômico e o poder político) e sobre isso a afirmação de Jean-Claude Monet, estudioso de polícia, em seu livro “Polícias e Sociedades na Europa” é esclarecedora: [...] é certo que o desenvolvimento das formas modernas de polícia na Europa resultou de uma demanda crescente em matéria de segurança, emanada, no essencial, das camadas dominantes urbanas. Mas nas modalidades de sua organização, tanto quanto nas prioridades operacionais que são as suas, transparece, no mais das vezes, mais a vontade dos governantes de se dotar de instrumentos politicamente confiáveis, do que uma verdadeira preocupação de responder à demanda social de segurança. É, pelo menos, o que sugere uma observação atenta das formas e dos ritmos que escandiram o desenvolvimento dos aparelhos policiais desde sua emergência histórica. É igualmente o que revela a análise de suas estruturas atuais. (MONET, 2001, p. 100). Para mais informações veja: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Guia para a Prevenção do Crime e da Violência nos Municípios. Brasília: SENASP, 2006. 31 Criminologia e Políticas Criminais Entende-se que se deve instrumentalizar as polícias segundo políticas públicas que lhe permitam atuar também num cenário político - o que é diferente de ser “usada” politicamente - ou seja, lutar por uma atuação voltada para o atendimento às demandas sociais, legitimando suas ações mediante processos de interação e participação popular, em sintonia com o que prescreve a nossa Constituição em seu artigo 144, ao afirmar que Segurança Pública é responsabilidade de todos, não podendo ainda se esquecer que segurança, desde os tempos remotos, é preocupação dos povos e trata-se de uma necessidade básica, de bem viver, ter tranquilidade, de buscar a felicidade! Alguns autores chegam a afirmar que há sociedade sem “justiça”, mas não há sociedade sem polícia! Segundo Lazzarini: Atribui-se a Honoré de Balzac a afirmação de que `os governos passam, as sociedades morrem, a polícia é eterna´. Ela o é porque, na realidade, as nações podem deixar de ter as suas forças armadas. Nunca, porém, podem prescindir de suas polícias, da sua força pública. (LAZZARINI, 1999. p. 49). Obviamente que não se pode esquecer as muitas vezes em que a atuação das estruturas policiais exigem uma atuação eminentemente repressiva, como, por exemplo, naqueles casos em que ocorrem inevitáveis enfrentamentos diretos, contato físico, troca de tiros, situações essas em que não se torna possível o exercício de práticas de mediação, ao menos num primeiro momento, devido aos riscos e situação de perigoeminente. Ressalta-se também que essas situações constituem uma pequena parte dentro das múltiplas possibilidades da atuação policial, e ainda assim um eficiente serviço de inteligência policial poderia minimizar em muito a condição de enfrentamentos. Por outro lado, é importante também perceber que o papel da polícia muitas vezes apresenta algumas ambiguidades, como, por exemplo, as citadas por Loche et all, ao apontar que na ação da polícia revela-se uma das faces de nossa sociedade, a saber: Entrar no cotidiano da polícia descortina uma outra sociedade, funcionando sob regras e valores diferentes dos preceitos fundamentados no direito. Pode-se falar de uma lógica ocupacional, mas também de uma lógica societária que interferem no julgamento e na prática que os policiais têm de suas funções. Lógicas que exigem soluções rápidas e proporcionais aos crimes; que colocam o criminoso como Por eficiente serviço de inteligência, entenda-se aquele voltado à produção de informações e dados para a proteção social e dos direitos inerentes ao exercício de cidadania. 32 Capítulo 1 estando fora do pacto social, portanto, sem poder beneficiar-se das garantias constitucionais que foram feitas para pessoas de bem; que separam o universo em categorias polarizadas de bom x mau, delinquente x pessoa de bem etc. Mas, ao mesmo tempo, lógicas que permitem uma flexibilidade enorme no tratamento das pessoas em função de suas relações. Assim, alguns indivíduos teriam mais direitos que os demais porque, afinal, são parentes, amigos, protegidos, bem–vestidos, estudados tem conhecimento etc. que aqueles outros que não teriam. (LOCHE et al. 1999, p. 172). Essa realidade precisa ser percebida, pois trata-se de ponto de partida para delimitação dos espaços de atuação das polícias numa sociedade de classes e em que as estruturas policiais têm se mobilizado amparadas por uma ideologia liberal (burguesa), a qual insiste em hierarquizar suas ações, desconsiderando os mais vulneráveis socialmente, atuando de forma, muitas vezes, pouco isenta. O sistema penitenciário brasileiro, onde a maioria dos presos são pessoas pobres, retrata a realidade dessa situação. Tal reflexão serve para demonstrar a necessidade de construção de uma nova filosofia com relação à forma de atuação policial, rompendo com o senso comum e com a hegemonia do pensamento (ideologias dominantes), no sentido de rever “velhos” paradigmas inadequados para uma sociedade que se deseja livre e igualitária, permitindo o controle social não autoritário do desvio e que abra espaço à diversidade, garantida pela “igualdade” e expressão da individualidade do homem, como portador de capacidades e de necessidades positivas (BARATTA, 1999). A amplitude das políticas públicas necessárias para fazer frente ao problema da (in)segurança pública pressupõe o rompimento de paradigmas, em que se perceba não apenas a necessidade de novas tecnologias e modalidades de gestão, mas também a mudança de concepção sobre o papel da polícia; em que se inclua tanto na dimensão da prevenção como na repressão, a participação democrática nas ações de segurança pública. Isso porque os indicativos, e algumas experiências sobre o enfrentamento à violência e à criminalidade, têm demonstrado que programas e estratégias de segurança baseados numa articulação que envolva várias organizações - ou seja, entre estado, sociedade e cidadão - têm sido muito mais efetivos como resposta ao problema. Há que se ter a consciência de que a questão não está restrita à segurança pública, mas compreende a necessidade de atuação em outras áreas, como saúde, lazer, educação, assistência social, planejamento urbano e questões sistêmicas, como o problema da desigualdade e da má distribuição de renda. 33 Criminologia e Políticas Criminais Atividades de autoavaliação Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O gabarito está disponível no final do livro didático. Mas esforce-se para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará estimulando a sua aprendizagem. 1. Conforme Carvalho (2008), o projeto político da Modernidade, no qual se insere o discurso das ciências criminais, tem como objetivo a busca da felicidade pela negação da barbárie e da afirmação da civilização. Com base no enunciado acima, é correto afirmar sobre as ciências criminais e a criminologia: a) ( ) As ciências criminais abrangem estudos que visam à compreensão da violência - com destaque para o fenômeno do crime e sua complexidade. b) ( ) A Criminologia se ocupa do estudo do homem delinquente e das causas que o levam a praticar atos de violência. c) ( ) As ciências criminais são integradas pelas normas penais e processuais penais, bem como pela criminologia e pelos postulados da política criminal, tendo por objetivo controlar a violência e assegurar os ideais de paz social, muito embora isso incorra na realidade social, pois ao invés de contê-la, o Estado acaba por reproduzi-la. d) ( ) Historicamente, o campo de investigação da criminologia esteve reduzido à concepção voltada à intervenção punitiva, no espaço da pena e dos cárceres e só recentemente se ampliou a perspectiva multifacetada do fenômeno criminal. e) ( ) A Política Criminal é a ciência ou a arte de selecionar os bens (ou direitos) que devem ser tutelados jurídica e penalmente e escolher os caminhos para efetivar tal tutela. 2. “A história das penas é seguramente mais horrenda e infame para a humanidade que a própria história dos delitos” (Ferrajoli,1998, p. 382). Escreva, entre 10 e 15 linhas, com uma perspectiva criminológica, sobre os fundamentos do Direito Penal em nossa sociedade e seus objetivos, dos declarados aos reais! 34 Capítulo 1 3. Um governo comprometido com a justiça e o exercício da ética na política, determinado a aprofundar a democracia, incorporando os brasileiros mais pobres à cidadania plena, estendendo a todos os homens e mulheres de nosso país os direitos civis e os benefícios do Estado de Direito Democrático, terá de dedicar- se com prioridade ao combate à violência, em todas as suas formas. Da fome à tortura, do desemprego à corrupção, da desigualdade injusta à criminalidade. (Plano Nacional de Segurança Pública) Com base no enunciado acima, aponte os principais aspectos do Plano Nacional de Segurança Pública, que se alinham com uma política criminal de base criminológica! 4. Apresente uma charge que tenha alguma relação com o perfil do “homem delinquente” descrito por Cesare Lombroso! Faça uma pesquisa na internet, revistas, livros ou jornais. 35 Capítulo 2 Violência, controle social e sistema penitenciário1 Seção 1 Violência, criminalidade, criminalização e vitimologia Simplificando, pode-se afirmar que ao nascer, a violência se expressa em decorrência dos traumas do ato em si (parto e dor); na morte, pelo desaparecimento e sofrimento que gera; e no viver, decorrente do exercício conflituoso da vida e da necessidade de sobrevivência. Portanto, parte-se do pressuposto de que a história da humanidade esteve envolvida pela violência, pelos conflitos, inerentes à vida em sociedade. Muitos são os registros de guerras, perseguições, disputas, questões de gênero, preconceitos, desigualdades, terrorismos, explorações, e pela modalidade de violência que, muitas vezes, é entendida e definida por valores de determinados grupos sociais organizados: os fatos considerados criminosos, da criminalidade e dos processos de criminalização. 1 DE PAULA, Giovani; TAGLIARI, Priscila de Azambuja. Criminologia e políticas criminais. Palhoça: UnisulVirtual, 2015. 36 Capítulo 2 Historicamente, o ser humano é falível no que se refere aos seus sentimentos, reações, impulsos, comportamentos, enfim, como ser político por natureza, o homem nasce, vive e morre num contexto das mais variadas condições e possibilidades de situações de poder e conflitos, tendo estabelecidoconsensualmente nas sociedades uma estrutura de poder superior para sua resolução (a que denominamos “Estado”), fazendo com que as sociedades transitem entre a autorregulação e o controle formal. Essas estruturas evocavam, inicialmente, forças metafísicas, religiosas, presentes nos relatos históricos das figuras dos pajens, chefes de tribo, feiticeiros, enfim, cuja autoridade definia a figura do proibido, do pecado, do castigo. Na realidade, consistia numa das manifestações de poder e cooptação sobre o grupo. Hans Kelsen nos dá uma dimensão aproximada da natureza das normas dos povos antigos: [...] na consciência dos homens que vivem em sociedade, existe a representação de normas que regulam a conduta entre eles e vinculam os indivíduos. [...] As normas mais antigas da humanidade são provavelmente aquelas que visam frenar e limitar os impulsos sexuais e agressivos. O incesto e o homicídio são deveras os crimes mais antigos, e a perda da paz (isto é a exclusão do grupo) e a vingança de sangue as mais antigas sanções socialmente organizadas. Está-lhes na base uma regra que determina toda a vida social dos primitivos, a regra da retribuição (retaliação). (KELSEN, 2003, p. 92). A violência, na sua característica estrutural, institucional ou individual, manifesta- se das mais variadas formas sobre a(s) pessoa(s), direta ou indiretamente, de forma ostensiva ou oculta, de maneira instrumental ou simbólica, gerando uma série de consequências. Entre as várias maneiras e formas de compreender a violência enquanto fenômeno social, vamos recorrer a uma definição ampla do termo, baseada em Michaud: Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários autores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais. (MICHAUD, 2001, p. 11). 37 Criminologia e Políticas Criminais Não se pode esquecer que, com a estatização dos aparatos político-jurídicos e com a modernização da burocracia estatal e seus instrumentos, emergiu uma nova figura simbólica: o chamado “Estado de Direito”, que, para ter legitimidade, teve que se estabelecer sobre bases democráticas. Mas isso não foi suficiente para parar os impulsos geradores das violências em suas diferentes formas de expressão e “distribuição”. E o sistema penal, surgido exatamente para conter a violência, tem sido historicamente um dos (re)produtores mais eficientes dessas violências. Exemplo disso são as legislações penais da Grécia e da Roma Antiga, onde a construção de uma teoria da pena tinha suas bases no excesso punitivo (sendo comuns o emprego da pena de morte, o desterro, a imposição da Lei de Talião – “olho por olho, dente por dente”) e outras formas de retaliação para questões de pouca gravidade. Na Europa, no século XVIII, essa crueldade também teve muita visibilidade, a ponto de na França, até que a Revolução de 1789 igualasse todo mundo na hora de prestar contas ao carrasco, aos nobres era reservado o método indolor da decapitação, enquanto para as pessoas de baixa extração sobravam geralmente a forca, a fogueira e o terrível suplício da roda, no qual o carrasco, depois de amarrar a vítima na horizontal com o rosto virado para o céu, braços e pernas bem abertos fazendo um grande “xis”, quebrava-lhe as articulações dos membros com uma barra de ferro, depois aplicava-lhe alguns golpes violentos no estômago (LECHERBONNIER, 1989). Era chamado o suplício da roda porque, finda essa primeira parte, o carrasco dobrava os braços e pernas do suplicado para trás, de modo que os calcanhares tocassem a cabeça do infeliz, e amarrava o sinistro “embrulho” numa roda, também na horizontal, que ficava exposta ao público (OLIVEIRA, 1994). No Brasil, a história da violência se destaca pelas injustiças históricas e processos de marginalização que vão da esfera penal à social, sempre com dificuldades de reconhecimento dos direitos mais elementares da pessoa humana. Os índios foram as primeiras vítimas desse processo. Dallari relata que: desde o início da colonização do território brasileiro pelos portugueses, no ano de 1500, foi estabelecida no Brasil uma sociedade profundamente marcada pela diferenciação entre os novos senhores da terra e os outros. As primeiras vítimas dessa nova sociedade foram os índios, primitivos habitantes da terra brasileira, que o colonizador explorou de várias formas, tentando escravizá-lo e roubando suas terras. Acostumado a viver em liberdade, em relação íntima com a natureza, o índio tentou resistir, mas a superioridade de armas e a ambição de riqueza dos colonizadores foram mais fortes. 38 Capítulo 2 Calculam os historiadores que existiriam no Brasil, no ano de 1500, entre quatro e cinco milhões de índios. Mas eles foram sendo dizimados, ou pelas armas ou por falta do ambiente natural que garantia sua sobrevivência, conseguindo sobreviver apenas as comunidades mais protegidas pela floresta e poucos grupos isolados em alguns pontos do litoral. Hoje restam menos de trezentos mil índios, muitos deles sendo vítimas da espoliação e das pressões da sociedade circundante. Empresários e agentes do governo se mostram impacientes e procuram apressar a eliminação dos grupos tribais remanescentes, considerados obstáculos à plena ocupação do território e à exploração das riquezas do solo e do subsolo. [...] É um genocídio mais ou menos disfarçado, que necessita de algum tempo para se consumar, mas é absolutamente certo. Os “civilizados” estão assassinando os “selvagens”. (DALLARI, 1995, p. 19-20). Com os afrodescendentes, a história não foi diferente: diante da resistência dos índios em serem escravizados (os colonizadores interpretavam como “pouca aptidão para o trabalho”), eles foram “importados” por Portugal de suas colônias africanas, implantadas por volta do século XV. Os negros eram trazidos nos chamados “navios negreiros”, em condições desumanas, sendo que muitos morriam mesmo antes de chegar ao Brasil. A escravidão consistiu na apropriação sobre o outro – o escravo – por meio da coerção e da força, em que um “senhor”, “dono” ou “comerciante” tinha direitos sobre ele, podendo explorar sua força produtiva, comprar ou vendê-lo e puni- lo, no Brasil, pelo chamado “castigo exemplar”, aplicado em público e visando a intimidar os demais escravos. A escravidão ocorreu desde a antiguidade e foi utilizada por diversos povos e civilizações. No Brasil, a violência da escravidão esteve muito presente e faz parte da construção da nação brasileira. Segundo Bueno: No porão dos navios negreiros que por mais de trezentos anos cruzaram o Atlântico, desde a costa oeste da África até a costa nordeste do Brasil, mais de três milhões de africanos fizeram uma viagem sem volta, cujos horrores geraram fortunas fabulosas, ergueram impérios familiares e construiram uma nação. O bojo dos navios da danação e da morte era o ventre da besta mercantilista: uma máquina de moer carne humana, funcionando incessantemente para alimentar as plantações e os engenhos, as minas e as mesas, a casa e a cama dos senhores – e, mais do que tudo, os cofres dos traficantes de homens. A cena foi minuciosamente descrita por centenas de obervadores. Quanto mais são os depoimentos cotejados, mais dificil é crer que tantos sobrenomes famosos tenham seu fausto e suas glórias 39 Criminologia e Políticas Criminais vinculados a tantas desgraças. Mas assim foi, e assim teria sido por mais tempo se, por circunstâncias meramente econômicas, a escravidão não deixasse de ser um negócio tão lucrativo.(BUENO, 2003, p. 124). Conforme retratado a baixo, na pintura de Jean- Baptiste Debret, um escravo sendo castigado por seu capataz, é a representação de cotidiano da escravidão no período do Brasil Imperial, época em que a violência era uma das formas usadas paracontrolar os escravos. Figura 2.1- Feitor castigando o escravo Fonte: Monteiro, 2013. No ciclo do ouro no Brasil, os escravos eram submetidos, além das punições, a exaustivos e árduos trabalhos; a condições de risco, pois muitos se feriam ou morriam em acidentes, como os provocados pelos gases que alimentavam as lamparinas e carburetos; à má alimentação e a péssimas condições de higiene que deterioravam suas condições de saúde, sendo que a maioria, iniciando suas atividades na mineração, ainda como crianças, acabavam morrendo após cinco/ dez anos de trabalho. Há relatos de que se escolhiam escravos em fase púbere com determinado tipo físico (estatura baixa para o trabalho apertado nas minas), para serem “reprodutores” e muitos deles eram “castrados” de forma rudimentar (marretada em cima do escroto sobre pedra) para não terem desenvolvimento físico que inviabilizasse seu trabalho nas minas de ouro. Um poder que se mantinha no controle tendo como base a violência. Artista francês a serviço da corte portuguesa no Brasil entre 1816 e 1831. Em suas telas retratou a paisagem, a sociedade brasileira, e destacou a forte presença dos escravos. 40 Capítulo 2 Figura 2.2 - Trabalho escravo em mina de ouro – pintura de Johann Moritz Rugendas de 1770 Fonte: Museu do Ipiriranga, 2009. Com a abolição da escravatura no ano de 1888, começou a migração, para o Brasil, de um grande contingente de trabalhadores europeus, o que gerou um novo problema. Dallari relata que: Os negros libertados, sem dinheiro e sem preparação profissional, foram abandonados à sua própria sorte e passaram a constituir um segmento marginal da sociedade. Vivendo na miséria e, além disso, vítimas de um tratamento preconceituoso, passaram a trabalhar nas atividades mais rudimentares e com menor remuneração, o que arrastou muitos deles para a criminalidade, agravando ainda mais os preconceitos, embora estes sejam sempre negados. (DALLARI, 1995, p. 31). A classe dominante brasileira da época se encarregou de elaborar leis que criminalizassem as classes consideradas “subalternas”, onde os pobres e negros em geral foram os principais alvos, além de mobilizar as estruturas de poder para exercer o controle pela via punitiva. Tem-se como exemplo, entre outros, a previsão de ser crime os atos de capoeira e de vadiagem - pano de fundo para justificar os instrumentos de repressão e de controle social e proibir o acesso dos indivíduos de camadas sociais mais baixas à participação política e seu melhor acesso aos bens materiais. O controle da segurança pública nesse cenário de desigualdade social, representada principalmente pelo escravagismo, dava-se por meio do emprego, para a manutenção da ordem e dos meios de produção da economia, do que seriam os embriões das atuais polícias. Não havia interação entre as instituições e as comunidades, mas sim um conjunto de constantes intervenções do Estado que judicializavam os conflitos visando ao controle e ao domínio. O patronato, o paternalismo, o clientelismo e outras formas espúrias de relação de poder e autoritarismo se fundamentaram nesse contexto. Pintor alemão que viajou pelo Brasil durante o período de 1822 a 1825, pintando os povos e costumes. 41 Criminologia e Políticas Criminais Portanto, ao lado das situações de desigualdade, das injustiças e da marginalização social, o problema da violência é decorrente também dos fatos considerados crime, sendo delegado a um sistema formal de controle chamado de “Sistema Penal” - composto pelo Legislador (criminalização primária), Polícia, Ministério Público e Judiciário (criminalização secundária) - indo até os mecanismos de controle social informal, como a família, a escola, o mercado de trabalho, a mídia. Essas estruturas sociais acabam - de forma articulada e seguindo uma “orquestração ideológica” proveniente de um modelo sociopolítico que incorporou novos padrões de dominação - destacando-se a economia, gerando desigualdades, exclusão social e um aumento dos processos de criminalização, que tem recaído sobre um alvo preferencial: os pobres, submetidos em nossas prisões aos mais vergonhosos aviltamentos de suas garantias e direitos fundamentais, além da perda da sua subjetividade como ser humano. Ao ingressar em um presídio brasileiro, o sentenciado é “despido de sua aparência usual”. É despojado de seus pertences pessoais, recebendo um uniforme padronizado, o qual é obrigado a utilizar. Seu nome é substituído por um número, denominado matrícula. O seu cabelo é raspado. É privado de toda e qualquer comodidade material, recebendo tão-somente o necessário a sua higiene pessoal. E, por fim, é informado das normas do estabelecimento e das consequências do se descumprimento. Este processo, denominado perda da subjetividade, consiste na desprogramação do indivíduo, na perda de sua identidade, de modo a torná-lo apto a um novo mecanismo de reprogramação, agora baseado em regras de enquadramento, adestramento e de padronização. Ao determinar ao sentenciado uma rotina diária a ser seguida, pretende-se uma renúncia à própria vontade e ao desejo. Este sistema, denominado por Goffman pasteurização do indivíduo, consiste na perda e na anulação da singularidade. Os dados empíricos apresentados refletem a ideologia que está por detrás das práticas propostas pelo sistema penal: punir os pobres! Daí a distinção entre a criminalidade e a criminalização, ambas operadas pelo sistema penal, em que a primeira corresponde aos resultados apresentados pela segunda mediante os processos de definição, etiquetamento e seleção. Essa forma de interpretar e significar o problema da violência e da criminalidade, em que o sistema de justiça criminal se limita a sua reprodução encontrando notável visibilidade nos cárceres e que se subsume a sofrimento e dor não é algo exclusivo da sociedade brasileira, é fenômeno global e que vem sendo repensado e discutido por pesquisadores no sentido de se vislumbrar alternativas a um modelo falido há algum tempo. 42 Capítulo 2 Continuação Sobre a questão do crime, enquanto conduta, criminalidade enquanto ato de violência tipificado como crime e criminalização como ação do Estado sobre quem praticou esse ato, Vera Regina Pereira de Andrade nos esclarece que: Uma conduta não é criminal “em si” (qualidade negativa ou nocividade inerente) nem seu autor um criminoso por concretos traços de sua personalidade ou influências de seu meio ambiente. A criminalidade se revela, principalmente, como um status atribuído a determinados indivíduos mediante um duplo processo: a “definição” legal de crime, que atribui à conduta o caráter criminal, e a “seleção” que etiqueta e estigmatiza um autor como criminoso entre todos aqueles que praticaram tais condutas. Consequentemente, não é possível estudar a criminalidade independentemente desses processos. Por isso mais apropriado que falar da criminalidade (e do criminoso) é falar da criminalização (e do criminalizado), e esta é uma das várias maneiras de construir a realidade social. (PORTO, 2009, p. 84). Dessa maneira, o sistema de justiça criminal tem se apresentado como um instrumento de exclusão, onde, de forma recorrente, a mediação dá lugar à judicialização dos conflitos pela criminalização e pela crescente geração de novos estereótipos de “criminosos”. Com isso, reproduz-se a violência, no plano simbólico e no plano real: A política criminal, enquanto programa de controle do crime e da criminalidade, no Brasil, influenciada pelo modelo norte- americano, se configura como mera política penal, pois ´exclui políticas públicas de emprego, salário, escolarização, moradia, saúde e outras medidas complementares, como programas oficiais capazes de alterar ou reduzir as condições sociais adversas da população marginalizada do mercado de trabalho e dos direitos de cidadania, definíveis como determinações estruturais do crime e da criminalidade´. (SILVEIRA FILHO,
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