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Cartografia Temática Cartografia Temática: passado, presente e futuro Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Carlos Eduardo Martins Revisão Textual: Profa. Esp. Natalia Mendonça Conti 5 • Introdução • O desenvolvimento da Cartografia Temática a partir do Sistema Colonial Convido-o para dar início aos estudos da Cartografia Temática. Neste conteúdo trataremos da curta, mas importante história da Cartografia Temática por meio da qual será possível a você perceber a significância dos assuntos tratados por ela na atividade profissional do professor de Geografia. Cartografia Temática: passado, presente e futuro Neste módulo em que trataremos da construção da Cartografia Temática você terá acesso a diversos recursos. Não deixe de baixar o arquivo em PDF do material teórico. Assim você poderá ter acesso às nossas discussões onde quer que esteja. Veja o mapa mental que sintetiza a estrutura do assunto tratado neste módulo. Fique atento aos prazos das atividades que serão colocados no ar. Recorra sempre que possível às videoaulas e ao PowerPoint narrado para tirar eventuais dúvidas sobre o conteúdo textual. Participe do fórum de discussão proposto para o tema. No seu tempo livre, procure pesquisar as fontes do material complementar. Além disto, procure pesquisar o máximo que puder sobre o tema Cartografia Temática. Há inúmeros conteúdos na internet que são bastante úteis para o seu estudo e para a sua formação profissional. • A Geografia Sistemática de Humboldt e a ascensão da Cartografia Temática • O pragmatismo lógico aplicado à Cartografia Temática • A Cartografia Temática automatizada • Cartografia Analógica X Cartografia Automatizada 6 Unidade: Cartografia Temática: passado, presente e futuro Contextualização Senso de observação Poderá parecer curioso o que vou escrever às vésperas dos 500 anos do Descobrimento: nós ainda não descobrimos o Brasil! Os portugueses talvez, mas nós ainda não. Sílvio Romero, já em 1880, identificava como o grande problema brasileiro a “imitação do estrangeiro na vida intelectual”. Manoel Bonfim, anos depois, apontava nossa “falta de observação”. Gilberto Freyre em Casa Grande & Senzala nos definia pela “aptidão para imitar”. Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil sentenciava que somos “desterrados em nossa terra” por trazermos de outros países nossas formas de vida. Copiamos coisas prontas, traduzimos tudo, preferimos citar a pensar, ridicularizamos inclusive os observadores genuinamente brasileiros. Preferimos acreditar em Marx, Gransci, Anthony Giddens, Keynes, todos pensadores estrangeiros. Inteligentes no Brasil são os eruditos da cultura alheia. Vejam, por exemplo, o mapa do Brasil. Nenhum observador genuinamente brasileiro teria feito nosso mapa como todo leitor está acostumado a ver. Os mapas de antigamente apontavam para o Oriente, onde nasce o Sol. As caravanas acordavam, apontavam o mapa na direção do Sol, e traçava-se o caminho. Expressões como “orientar se”, “desorientado” vieram dessa época. Quando os portugueses começaram a navegar de noite, perceberam rapidamente que o Sol não era um ponto de orientação útil, e os mapas começaram a usar a estrela Polar do Norte como ponto de referência. Os mapas europeus são inúteis no Hemisfério Sul, pois não é possível localizar daqui a estrela Polar. Nosso ponto de referência é o Cruzeiro do Sul. A partir dessa premissa, imagine um mapa-múndi onde o Brasil esteja no centro, para isso o Sul tem que ser o ponto cardeal de referência, ou seja, deve estar “virado para cima”. Google Earth 7 Não é um mapa simplesmente diferente, é um mapa coerente com a realidade brasileira. Parece estar de “cabeça para baixo”, mas na realidade são os mapas atuais que estão de “ponta cabeça”. Se o leitor ainda está achando o mapa estranho, é porque está usando padrões cartográficos europeus para enxergar o próprio país. O que pode parecer um detalhe cartográfico é, na realidade, o começo do enorme erro destes 500 anos. Ainda não criamos nossos próprios pontos de referência, nossas balizas, nossos pontos de apoio. Por isso, não temos ainda o conceito de nação, de cidadania, justamente pelo fato de não observarmos o Brasil com nossos próprios olhos. Nossa autoestima é baixa, somos inseguros, sentimo-nos confusos, perdidos no mundo globalizado. Estamos literalmente “desnorteados”. Colocar o Brasil no centro do mapa tampouco é um ato de ufanismo (otimismo nacionalista) da minha parte ou uma crença de que o Brasil está no centro do universo. Qualquer indivíduo que olhe 360 graus em sua volta fatalmente construirá um mapa com sua cidade ou ponto de observação no centro, algo que nunca fizemos. O conhecimento humano nada mais é do que mapas simplificados que criamos para auxiliar nosso caminho. O sucesso recai justamente naqueles que fazem os melhores mapas. Damos pouco valor aos pesquisadores brasileiros, temos frases do tipo “santo de casa não faz milagres”, “ninguém é profeta em sua terra”. Vamos começar uma vida nova, de início virando esses nossos mapas para “cima”, para o Cruzeiro do Sul. Vamos criar nossos referenciais, nossos pontos de apoio, nossas formas de ver o mundo. Essa é a única forma de criar uma nação. Vamos finalmente descobrir o Brasil, mas desta vez com nossos próprios olhos. 8 Unidade: Cartografia Temática: passado, presente e futuro Introdução A necessidade humana de representar o conhecimento a respeito do mundo a partir da linguagem gráfica é bastante antiga e independe da cultura e da localização, ou seja, todas as sociedades dispõem de algum tipo de mapa do território e dos objetos que o compõe, ao qual a sociedade está de uma forma ou de outra ligada. As formas de registro e os materiais utilizados para tal são bastante relativos e dependem bastante da disponibilidade de recursos existentes, bem como das formas de apropriação deles que a sociedade desenvolve. Assim, teremos registros cartográficos em madeira, cerâmica, rochas, metais, fibras e até em tecidos. Os mapas são a representação territorial de objetos contidos nas mais diversas formas de cultura. Na literatura ficcional, os mapas indicam o caminho para um mundo mágico, para a felicidade e para a originalidade perdida da humanidade. Nos documentos oficiais, os mapas representam os poderes. Qual é o território do grupo A, B e C? Essa pergunta é mais facilmente respondida com o uso de um mapa. Como nem todas as sociedades dispõe de linguagem escrita, muitas vezes esse mapa é um discurso oral que é compartilhado entre os agrupamentos humanos de uma região, mas que, devido a uma série de fatores de ordem social, muitas vezes é transgredido por um dos lados gerando conflitos entre esses mesmos agrupamentos. Os mapas não são garantias de estabilidade política entre os povos ou indivíduos, mas eles legitimam, de certa forma, a posse do território, descrevem as formas do terreno, os recursos disponíveis nele e até as perspectivas ou projetos que a própria sociedade tem em relação a todas estas informações. Isso pode ter mais ou menos eficácia dependendo de quem produza o mapa e se este tem algum padrão normativo aceito como válido. Por estes e outros motivos a Cartografia é um ramo do conhecimento dos mais importantes que a humanidade dispõe. Todos os caminhos levam a Roma Na cartografia da antiguidade, por exemplo, os mapas já tinham a finalidade de representar as áreas de exercício do poder central de uma sociedade sobre o território. A chamada Tabula Peltingeriana (Figura 1) é um exemplo desta afirmação. A Figura 1 é um recorte de um roteiro das estradas imperiais do mundo romano, que cobre uma área que vai desde aproximadamente o sudeste da Inglaterra até o que hoje chamamos de Sri-Lanka. A reprodução mais antiga que se encontra em Viena, foi reeditada na cidade de Colmar (França) por um sacerdote cristão em 1265 que teria acrescentado alguns nomes bíblicos e omitido detalhes da fonte original. Este teria sido encontradopelo poeta alemão Konrad Celtes (1459-1508) e em 1508 foi entregue a Konrad Peltinger (1465-1547), que passou a estudá-lo e debatê-lo, em Augsburg. 9 Figura 1. Tabula Peltingeriana ou Itinerário Romano A partir do século XVI esse documento passou a ser conhecido como Tabula Peltingeriana ou Itinerário Romano. Após uma publicação restrita, em 1598, Abraham Ortelius publicou oito das doze seções da versão de Peltinger, em Antuerpia, como parte da sua obra Theatri Orbis Terrarum Parergon, considerado o primeiro atlas da história da Cartografia. Acredita-se, pois boa parte do material original nunca foi encontrada, que o mapa inteiro era um pergaminho que, originalmente, media 22 metros de comprimento e 1,75 centímetros de largura e foi confeccionado entre um e 250 d.C. e que teria sido inspirado no mapa do mundo de Agrippa (350 a. C.). A Tabula Peltingeriana não tem a pretensão de representar as proporções e nem as formas continentais precisas das conquistas romanas, pelo contrário, é um mapa de rotas ou itinerários com o delineamento dos caminhos alongados longitudinalmente entre as cidades centrais romanas, no caso, Roma, Constantinopla, Alexandria e Antioquia e os postos conquistados. Ao longo das rotas é possível observar o posicionamento de fontes d’água, locais de peregrinação, cadeias montanhosas, cidades menores, florestas e outros elementos que tinham alguma importância estratégica como a posição das tribos “bárbaras” em relação à fronteira do império, pois, as tabulas tinham objetivos claramente militares e comerciais. Estes objetivos independiam de maiores preocupações técnicas e artísticas. Percebe-se que não há a aplicação de técnicas de projeções, escalas e nem de perspectivas visto que os caminhos estão representados verticalmente e os objetos estão em ângulo horizontal ou até oblíquo em relação ao observador. A partir dessa discussão podemos deduzir que a representação gráfica da espacialidade dos objetos, a sociedade demonstra não apenas a sua necessidade de saber o que são, mas destacar onde estão e por quais meios e vias é possível chegar a eles. E foi justamente esta necessidade que impulsionou o desenvolvimento da Cartografia Temática. Fonte: Wikimedia Commons 10 Unidade: Cartografia Temática: passado, presente e futuro O desenvolvimento da Cartografia Temática a partir do Sistema Colonial Da antiguidade aos dias atuais, a Cartografia Temática desenvolveu-se no sentido de aperfeiçoar, a todo e qualquer custo, a informação voltada, principalmente, aos interesses dominantes a cada novo contexto. Em boa parte dos casos, os mapas justificavam tomadas de decisão no sentido da dominação ou proporcionavam reverter situações de dominação já existentes. Neste sentido a Cartografia Temática pode ser entendida como o conhecimento dos recursos existentes em território alheio em benefício dos interesses de quem os cobiçavam, além daqueles disponíveis em seu próprio território. Os chamados mapas políticos são bons exemplos para entendermos esse papel da Cartografia Temática. Esses mapas, apesar dos títulos abrangentes, são relativos à estrutura política vigente, ou seja, expressam as fronteiras definidas pelas classes dominantes. Os mapas políticos omitem as territorialidades dos micropoderes e principalmente daqueles poderes anteriores ao estabelecimento de uma dominância socioeconômica e cultural sobre outras. A Figura 2 dá a dimensão que o problema pode alcançar. Ele representa a sobreposição das fronteiras internacionais entre o Brasil e a Venezuela, originadas a partir da colonização portuguesa e espanhola, respectivamente. Figura 2. Sobreposição entre as fronteiras coloniais e da ocupação Yanomami. proyanomami.org.br Fonte: proyanomami.org.br Se analisarmos as fronteiras dos dois países considerando apenas as estruturas políticas de origem colonial deixamos de lado o fato de elas terem se superposto à territorialidade dos povos que já habitavam a região, como é o caso da sociedade Yanomami. Os yanomamis ocupam terras que estão abrangidas tanto pelo Brasil quanto pela Venezuela, ou seja, seu território foi apropriado pela sociedade de origem colonial e os mapas políticos expressam apenas esta ocupação. 11 A Figura 3 representa o Mapa Das Américas de Nicholas Janzoon Visscher, de 1658. Este mapa pode ser considerado uma das primeiras representações preocupadas com as repartições políticas voltadas aos interesses europeus da História da Cartografia. Figura 3. Mapa Das Américas de Nicholas Janzoon Visscher, de 1658. Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons Trata-se de uma cartografia resultante de técnicas de geometria já bastante avançadas e do emprego de diversos instrumentos de medição e obtenção de parâmetros astronômicos que conferiam aos mapas uma precisão cada vez maior. O mapa de Visscher estabelece a regionalização colonial já em um estágio bastante avançado de conquistas, mas traz uma série de informações geográficas ainda pouco compreendidas. Além e contornos distorcidos em relação aos mapas mais modernos, esta representação mostra a atual Península da Califórnia como uma ilha. A ideia de que a Califórnia era uma ilha perdurou por muitos anos antes de o seu mapeamento correto, efetuado apenas após as excursões por terra do missionário jesuíta Eusebio Kino, por volta de 1705. Entre outras lacunas apresentadas por Visscher, pode-se notar a ausência dos limites ocidentais dos Grandes Lagos, representados por um único corpo d’água aberto para o oeste. Na porção meridional do continente, é possível observar que os contornos imprecisos já delineiam a expansão concreta da colonização portuguesa para além do Meridiano de Tordesilhas, mas esse detalhe contrasta com a localização do Lago Parima e de outros lagos como sendo os 12 Unidade: Cartografia Temática: passado, presente e futuro mananciais dos grandes rios. Esta crença somente foi desfeita a partir das explorações navais às cabeceiras dessas grandes bacias empreendidas entre os séculos XIX e XX. A cidade mítica de Manoa, ou o El Dorado, posicionada às margens do Lago Parima, alimentava as empreitadas exploratórias ao interior da Amazônia e justificava as grandes somas de recursos financeiros empregadas nas entradas colonizadoras e civilizatórias. Como se pode notar, além das limitações devidas ao caráter empírico ou opção ideológica que os mapas detêm e que fazem deles recortes espaciais do mundo concreto, a temporalidade dos temas que eles retratam, também deve ser cuidadosamente analisada, pois a dinâmica que a sociedade imprime ao território exige que os mapas sejam vistos sempre associados a um contexto e que, portanto, ele também seja analisado sob um recorte temporal. A Geografia Sistemática de Humboldt e a ascensão da Cartografia Temática Alexander Von Humboldt teve grande relevância para a evolução da Cartografia Temática. Seu trabalho é visto como o grande marco de renovação metodológica da Geografia como ciência acadêmica e como ferramenta de legitimação da conquista, por meio do conhecimento, do novo mundo. Essa renovação teve a ver com a incorporação dos princípios positivistas inaugurados por Comte nos quais, entre tantos objetivos, está o de superar os limites impostos até então pelo mero descritivismo que marcava a ciência de modo geral e alcançar o conhecimento verdadeiro. Para Humboldt, a tarefa da Geografia era buscar as leis causais que promovem a diferenciação entre os lugares e entre estes e a totalidade do mundo, ou o Cosmos. Humboldt vai se utilizar metodologicamente de estratégias oriundas na mecânica elaborada pela zoologia e botânica para explicar a estrutura da vida, para criar seu modelo de espaço geográfico e, assim, revelar, segundo ele, as leis reguladoras do sistema do mundo, ou, a ordem da natureza. A lógica empírico-indutiva adotada por Humboldt é a da observação comparativa dos lugares sempre aos pares, da análise dos elementos que compõem esses lugares para, após recorrer aexperimentos físicos, químicos e bióticos, deduzir leis gerais, definindo as regras para a determinação das paisagens naturais homogêneas e, por fim, o resultado da análise deveria ser representado em um mapa temático de escala o mais abrangente possível, que pudesse definir, sem sombra de dúvidas a fisionomia da paisagem. O conceito de paisagem de Humboldt equivale à ideia de uma região estabelecida com base em uma fisionomia natural peculiar que determina as características sociais, ou seja, os 13 limites espaciais deveriam ser determinados segundo o conjunto de elementos constituintes das paisagens naturais participantes da vida cotidiana das sociedades relacionadas a eles. Os estudos sobre a geografia física da Terra no tempo de Humboldt passavam pela turbulenta mudança da visão netunista-catastrofista de Werner sobre a natureza do mundo físico, para o princípio uniformitarista-atualista de Hutton e Lyell, muito embora um e outro apareçam entrelaçados nos discursos da época, dada a falta de maturidade e a fragilidade das provas materiais que sustentam essas mudanças paradigmáticas. Dessa forma os conceitos de Hutton (1795) sobre os processos geológicos elaborados no plano de uma temporalidade profunda, influenciam Humboldt de maneira decisiva nas suas observações de campo. Pesa o fato de que até o tempo de Humboldt a percepção que prevalece é a da não-processualidade e que no plano da divindade qualquer fenômeno da natureza havia sido criado de maneira episódica e no mesmo estado em que se encontravam no contexto analisado. Qualquer evidência de dinamismo era, no máximo, encarada como fruto do acaso ou acidental. Em sua longa jornada de cinco anos (1799 a 1804) pelo continente americano, Humboldt dedicou tempo suficiente para realizar diversos experimentos e observações comparativas e inúmeros mapas temáticos como, por exemplo, a Carte du Mexique (Figura 4), publicada em 1811. Figura 4. Carte de Mexique. A. Von Humboldt, 1811 Fonte: Wikimedia Commons A partir de Humboldt, a Cartografia Temática ganha um impulso tremendo visto que as expedições de caráter exploratório passaram a ter, via de regra, os produtos cartográficos como resultados práticos. Esses resultados passaram a ser cada vez mais delineadores de uma linguagem específica da Geografia acadêmico-científica e de grande popularidade tendo em vista a ascensão das sociedades geográficas nacionais. Além disso, o método de Humboldt de observar os fenômenos naturais e colher parâmetros a partir de instrumentos de medição para daí confeccionar as cartas temáticas, foi adotado em 14 Unidade: Cartografia Temática: passado, presente e futuro larga escala e passaram a ser utilizados nas publicações de Geografia e Ciências da Terra. Como exemplo, A Figura 5 representa as faixas climáticas deduzidas a partir de dados colhidos por Humboldt, em medições repetitivas e da observação dos cultivos. Figura 5. Carta Isotermal inspirada nos dados de Humboldt (sem data) Fonte: Wikimedia Commons O pragmatismo lógico aplicado à Cartografia Temática O século XX é marcado por grandes reformas nas bases teóricas das ciências. O positivismo lógico ascendera ao status de paradigma metodológico em paralelo ao desenvolvimento das tecnologias decorrentes das guerras mundiais e da guerra fria, tendo sido mais evidente nas áreas aeroespaciais, eletrônicas e mecânicas. Tal convergência de avanços foi incorporada à produção de mapas, principalmente na obtenção de dados e informações por meio de aerofotos e imagens de satélites. 15 As aerofotos são recursos analógicos por meio da restituição, os mapas adquiriram a terceira dimensão com a representação das altitudes. As figuras 6a, 6b e 6c mostram o processo de transformação da aerofoto em mapa topográfico. Note que as formas do terreno foram codificadas e adaptadas à representação gráfica para leitura visual. Figura 6. Confecção de carta altimétrica a partir de imageamento de satélite. U.S. Geological Survey Fonte: U.S. Geological Survey A melhora na qualidade dos produtos cartográficos foi alcançada com o advento da computação e atualmente das ferramentas de geoprocessamento, uma ampla gama de recursos que envolvem a coleta de dados e informações empíricas, os softwares, hardwares e a tecnologia aeroespacial, principalmente o Global Positioning System - GPS, ou, Sistema de Posicionamento Global. Esse conjunto de recursos materiais permite gerar mapas muito mais precisos e mais ágeis do ponto de vista da atualização, correção e inserção de dados e informações geográficas. A coloração artificial das imagens de satélite se deve à qualidade de radiação que cada sensor do satélite é capaz de processar em relação à reflexão dos objetos na Terra. Ao combinar as cores resultantes da porção ou banda espectral que cada objeto na superfície reflete, é possível reconstruir cores artificialmente e atribuí-las às imagens tornando-as “coloridas” ou multiespectrais. A Figura 7 representa a junção de três bandas e o resultado obtido. Dependendo da capacidade de resolução dos sensores é possível trabalhar com inúmeras bandas aumentando significativamente a qualidade do produto. Figura 7. Bandas espectrais e produto de imageamento multiespectral. MundoGEO Fonte: MundoGEO As figuras 8a e 8b são a combinação de técnicas de geoprocessamento aplicados à produção de mapas baseados em imageamento de satélite com a coloração artificial. Note que as figuras concretas são convertidas em linhas, pontos e polígonos, ou seja, são codificadas, na nova imagem. 16 Unidade: Cartografia Temática: passado, presente e futuro A partir da conversão dos aspectos geográficos analógicos em digitais é possível associar um banco de dados e informações a estas informações espaciais acelerando diversos processos de análise, necessários às demandas atuais às quais a Cartografia Temática atende, dentre elas os estudos ambientais. Figura 8a e 8b. Produto cartográfico digital a partir de combinação de técnicas de geoprocessamento Fonte: Digital Globe/Cnes-Astrium/Google Earth Na atualidade, as cartas temáticas têm tido grande importância para a gestão do espaço urbano e regional de forma geral. Da mesma forma os estudos ambientais levados a efeito para subsidiar a tomada de decisão quanto à aprovação ou não de empreendimentos que façam uso de recursos ambientais ou mesmo que sejam comprovadamente impactantes ao meio ambiente, são abundantemente constituídos de mapas temáticos. Isto porque a Cartografia Temática é um recurso de grande eficiência na visualização, correlação e síntese do espaço geográfico. Por meio da Cartografia Temática, os estudos ambientais tornam-se mais próximos da realidade concreta, pois permitem a correlação de temas, muitas vezes vistos como incomensuravelmente dissociados e incompatíveis. É por meio da análise combinada de temas como a Geologia, a Geomorfologia, a Pedologia e a Declividade do terreno, combinados com o uso e a ocupação do solo pelas atividades humanas, é que se torna possível gerar produtos como as cartas de Fragilidade e ou de Vulnerabilidade do terreno. Parâmetros estes são em larga medida utilizados internacionalmente no planejamento urbano e regional, para definir ou redefinir os usos que se fazem do solo no sentido de melhorar a vida das pessoas e da própria natureza, através de uma relação entre as necessidades da sociedade e os processos naturais, mais harmônica e duradoura. 17 A Cartografia Temática Automatizada O produto gráfico de um SIG resulta da superposição de níveis de informações que ocupam um mesmo espaço. A cartografia automatizada não passa de uma caneta sofisticada. A automatização da cartografia passa pela incorporação de técnicas da informatização computacional tanto das redes de coordenadas geográficas anteriormente analógicas, quanto da transformação dos dados e informações que antes eram tratados de maneira monográfica ou dissertativa, em uma planilha ou tabela relacional. Os aplicativosconhecidos como Sistema de Informação Geográfica – SIG são responsáveis pela ligação entre os bancos de dados e informações transformados em tabelas relacionais e as redes de coordenadas geográficas. As primeiras aplicações dos sistemas de informações geográficas ocorreram na década de 1950 e buscavam soluções para problemas de gerenciamento de dados espaciais referenciados, na maioria das vezes relacionados com o uso da terra, recursos naturais e análises ambientais. No final da década de 1960, o governo canadense implantou o Canadian Geographic Information System - CGIS, composto por informações a respeito do uso da terra, florestais, agrícolas, vida silvestre, divisões censitárias, agricultura e aptidões de recreação. Esta iniciativa permitiu ao Canadá, de forma pioneira, desenvolver análises baseadas em mapas de alta resolução, considerando diversos aspectos de seus recursos naturais e condições socioeconômicas. Durante as décadas de 1950 e 1970 muitas universidades e institutos de pesquisa interessaram- se pelos sistemas de informações geográficas e deram contribuições valiosas para a evolução desta área de conhecimento multidisciplinar. O Massachusetts Institute of Technology – MIT, desenvolveu a tecnologia computer-aided drafting. A mesa digitalizadora foi desenvolvida na Inglaterra no final da década de 1950 e disponibilizada comercialmente, juntamente com plotters, no início dos anos 1960. O progresso mais marcante dos sistemas de informações geográficas iniciou-se na década de 1970 e continua até os dias de hoje. Na década de 1980 e início da década de 1990 a tecnologia difundiu-se e estabeleceu-se definitivamente, graças à evolução e queda dos custos, dos equipamentos de informática, das linguagens de computação e de áreas tais como sensoriamento remoto e processamento de imagens. A estrutura do SIG (Figura 9) pode ser entendida então como um conjunto de camadas de dados e informações sobre a porção de superfície ou espaço geográfico que se queira gerenciar, armazenados em um Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados – SGBD, associado a uma rede de coordenadas conhecida e que podem ser arranjados na medida da necessidade, e que se combinados de forma integrada podem responder a questões a respeito da posição, rota e tempo de deslocamento com muito mais eficiência que uma análise de mapas analógicos faria. 18 Unidade: Cartografia Temática: passado, presente e futuro Figura 9. Estrutura de um SIG Fonte: Secretaria do Planejamento/Prefeitura SP Cartografia Analógica X Cartografia Automatizada Os mapas analógicos são a evolução de representações primitivas de porções da superfície terrestre, e constituem o meio mais comum para combinar e apresentar informações geográficas, geralmente separadas por temas. Os temas contidos nos mapas são codificados em formas geométricas espaciais simbólicas como os pontos, as linhas e os polígonos, posicionados segundo sistemas de coordenadas conhecidos. A demanda por mapas temáticos analógicos é enorme, tendo em vista atender às demandas da sociedade moderna. Implantar e ler informações geográficas em mapas temáticos não é tarefa das mais complexas, principalmente se se trata de uma área limitada da superfície da Terra. A dificuldade aumenta quando se necessita aumentar a área de abrangência da informação e/ou, se deseja considerar as interações entre os temas presentes na realidade e impossíveis de se relacionarem uns aos outros nos mapas analógicos. É aí que a Cartografia Automatizada torna-se mais vantajosa. Outro inconveniente associado aos mapas analógicos é a dificuldade quanto à atualização dos dados e informações constantes neles. O fato de a cartografia analógica ser impressa torna o processo lento, caro e trabalhoso tendo em vista a necessidade de sincronização das novas informações em relação às já existentes e ainda válidas. Comparativamente, a Cartografia Automatizada se releva muito mais eficiente quanto à concepção, armazenamento, apresentação, manutenção e consulta de dados espaciais e reduzindo custos, esforços e tempo envolvidos nestes processos, principalmente quando a quantidade de dados é grande. Disto resulta que, na medida do possível, os sistemas de informações geográficas analógicos tendam a serem substituídos por sistemas de informações geográficas automatizados, ou SIGs. 19 Aplicações mais usuais Aplicações Socioeconômicas: · Uso da terra, que incluem cadastros rurais, agroindústria e irrigação; · Ocupação antrópica, composta por cadastros urbanos, cadastros regionais, sistemas de serviços de utilidade pública; · Atividades econômicas, que envolvem marketing e indústrias. As fontes mais comuns dos dados usados em aplicações socioeconômicas são os censos, mapas e as aerofotos. Aplicações Ambientais: · Ecossistemas, sistemas climáticos, gerenciamento florestal, áreas degradadas; · Uso de recursos naturais, tais como: extrativismo vegetal, mineral, energia, recursos hídricos e oceânicos. Os dados usados em aplicações ambientais são provenientes de sensoriamento remoto, tais como imagens de satélites ou de radar, comparadas com amostras de campo. 20 Unidade: Cartografia Temática: passado, presente e futuro Explore Artigos O atlas do Estado de São Paulo: uma reflexão metodológica. Marcello Martinelli. http://confins.revues.org/6166 Geoprocessamento - Introdução http://www.dpi.inpe.br/gilberto/tutoriais/gis_ambiente/1introd.pdf Bancos de dados digitais GEOBANK – Página do CPRM que disponibiliza mapas físicos do Brasil inteiro em escala 1:1.000.000 para visualização no Google Earth. http://geobank.sa.cprm.gov.br/ Loja do IBGE – Página do IBGE onde você pode adquirir todas as informações estatísticas e ge- ocientíficas produzidas pelo IBGE de forma prática e rápida. Os downloads das versões digitais são gratuitos, mas é sempre bom confirmar antes de baixar. http://loja.ibge.gov.br/cartas-mapas-e-cartogramas/mapeamento-topografico.html IBGE downloads – Página do IBGE que reúne os arquivos para download de todas as áreas do IBGE. http://downloads.ibge.gov.br/downloads_geociencias.htm IBGE Biblioteca – Revista Brasileira de Geografia – Nesta página você vai encontrar a coleção completa da RBG desde 1939. Trata-se de um excelente material de pesquisa com inúmeros artigos de ícones da nossa área. http://biblioteca.ibge.gov.br/d_detalhes.php?id=7115 IBGE Biblioteca – Boletim de Geografia – Esta publicação do IBGE ocorreu de 1943 a 1978 e reúne artigos de grande relevância para a Geografia configurando-se material de pesquisa essencial. http://biblioteca.ibge.gov.br/d_detalhes.php?id=719 Material Complementar http://confins.revues.org/6166 http://www.dpi.inpe.br/gilberto/tutoriais/gis_ambiente/1introd.pdf http://geobank.sa.cprm.gov.br/ http://loja.ibge.gov.br/cartas-mapas-e-cartogramas/mapeamento-topografico.html http://downloads.ibge.gov.br/downloads_geociencias.htm http://biblioteca.ibge.gov.br/d_detalhes.php?id=7115 http://biblioteca.ibge.gov.br/d_detalhes.php?id=719 21 ALMEIDA, Rosângela Doin de (org.) Cartografia escolar. Ed. Contexto. ALMEIDA, Rosangela Doin de. Novos rumos da cartografia escolar currículo linguagem e tecnologia. ALMEIDA, Rosângela Doin de. Do desenho ao mapa iniciação cartográfica na escola. 5. ed. Contexto. BESALU, Miquel J. Pavon diccionario de cartografia. Espanha. Editora: Miquel J. Pavón Besa. 2012. FONSECA, Fernanda Padovesi e Oliva, Jaime. Cartografia. Editora: Melhoramentos, 2013. MARTINELLI, Marcelo. Mapas da Geografia e cartografia temática. 4. ed. revista e atualizada. Contexto, 2000. RUDNICK, Rosane Maria; SOUZA, Sandra Mara Lopes de. O ensino de Geografia e suas linguagens. IBPEX, 2010. Referências e Webgrafia 22 Unidade: Cartografia Temática: passado, presente e futuro Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000 http://www.planalto.gov.br
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