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FUB FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA Noções de Direito Constitucional Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Livro Eletrônico DIOGO SURDI Diogo Surdi é formado em Administração Pública e é professor de Direito Administrativo em concursos públicos, tendo sido aprovado para vários cargos, dentre os quais se destacam: Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil (2014), Analista Judiciário do TRT-SC (2013), Analista Tributário da Receita Federal do Brasil (2012) e Técnico Judiciário dos seguintes órgãos: TRT-SC, TRT-RS, TRE-SC, TRE-RS, TRT- MS e MPU. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br 3 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br SUMÁRIO Direitos Individuais e Coletivos – Parte I ........................................................8 1. Origem ..................................................................................................9 2. Diferenças entre Direitos e Garantias Fundamentais ..................................11 3. Classificação, Gerações ou Dimensões .....................................................14 4. Características ......................................................................................19 5. Destinatários ........................................................................................27 6. Eficácia Horizontal e Vertical ...................................................................29 7. Restrições Legais ..................................................................................31 8. Possibilidade de Renúncia ......................................................................35 9. Tratados e Convenções Internacionais .....................................................36 10. Tribunal Penal Internacional ..................................................................38 11. Direitos Fundamentais Expressos na Constituição Federal .........................39 12. Direitos e Deveres Individuais e Coletivos ...............................................41 Questões de Concurso ...............................................................................84 Gabarito ..................................................................................................92 Gabarito Comentado .................................................................................93 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 4 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Apresentação Olá, querido(a) aluno(a), tudo certo? Espero que sim! Iniciamos agora a preparação para o concurso da Fundação Universidade de Brasília – FUB. Trata-se de uma ótima oportunidade de adentrar no serviço público, ainda mais se considerarmos os cargos oferecidos e a ótima remuneração oferecida. Sendo assim, o objetivo deste material não é outro que o de deixá-lo(a) em plenas condições de gabaritar a prova de Direito Constitucional. Para isso, todos os aspectos doutrinários, jurisprudenciais e sumulares dos principais tribunais superiores serão utilizados à exaustão. Além disso, faremos uso, como base para o nosso estudo, das disposições da Constituição Federal, que é a norma que deve ser lida e compreendida pelos candidatos. Bem... Um dos pilares que estará presente em todo o curso será o diálogo, pos- sibilitando uma melhor interação entre aluno e professor e a resolução tempestiva de todas as eventuais dúvidas que surgirem. Para isso, vamos a uma breve apresentação... Meu nome é Diogo Surdi, sou formado em Administração Pública e me considero um “concurseiro de carteirinha”. Em 2014, obtive a aprovação para o cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil. E posso dizer que a sensação de conseguir ser aprovado para um cargo como este, que é um dos mais disputados do Brasil, é incrível: envolve amigos e familiares e faz com que todo o esfor- ço tenha valido a pena! O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 5 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Além disso, obtive a aprovação em diversos outros cargos, dentre os quais destaco: Analista Judiciário do TRT-SC (3ª colocação); Analista Tributário da RFB; Técnico Judiciário dos seguintes órgãos: TRT-SC, TRT-RS, TRT-MS, TRE-SC, TRE-RS e MPU. Sobre tais aprovações, gostaria apenas de mencionar, para servir de incentivo, as “adaptações” que tive que fazer em minha rotina para alcançar a aprovação: Na época em que estudava para AFRFB, minha primeira filha tinha apenas 3 anos. Como não abria mão de vê-la, eu trabalhava no TRT-SC das 12h às 19 horas, ia para casa, ficava com minha filha e esposa e, após elas dormirem, ia para um hotel, que era localizado perto da nossa casa, para poder estudar durante toda a madrugada. Estudava das 23h às 05 da manhã, dormia das 05h às 11h e me dirigia novamente para o trabalho. E assim foi por mais de um ano! Ou seja, eu me adaptei a essa rotina para poder enfrentar a banca com garra e dedicação! O que queria passar para você, com isso, é que absolutamente nada será alcançado sem esforço, que muitas serão as dificuldades e os obstáculos que você encontrará pelo caminho... Poderá haver momentos em que você se questionará se tudo o que está passando realmente vale a pena (a privação de tempo com a família e amigos, a necessidade de poder fazer algo de que gosta sem se sentir “culpado(a)” por não estar estudando), e a resposta, meu(minha) caro(a), é que tudo vale MUITO a pena!!! Após a aprovação, cada um desses momentos de dificuldade será lembrado e tornará a conquista do seu objetivo muito mais gratificante. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 6 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br “Nunca deixem que te digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem, ou que os seus planos nunca vão dar certo, ou que você nunca vai ser al- guém...” Renato Russo Portanto, não hesite... É no pós-edital que se faz toda a diferença! Sendo assim, vamos todos com foco e força de vontade rumo à aprovação na FUB. Pode contar comigo em tudo o que for preciso para alcançarmos este objetivo. Cronograma das aulas Nosso curso será dividido em 07 aulas. Cobriremos o conteúdo programático do edital, divulgado recentemente pelo CESPE: Aula Conteúdo do Edital Nome da Aula 01 2 Direitos e garantias fundamentais. Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I 02 2 Direitos e garantias fundamentais. Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte II 03 2 Direitos e garantias fundamentais. Direitos Sociais 04 2 Direitos e garantiasfundamentais. Nacionalidade 05 2 Direitos e garantias fundamentais. Direitos Políticos e Partidos Políti- cos 06 3 Administração Pública. 3.1 Dispo- sições gerais, servidores públicos. Administração Pública 07 1 Constituição. 1.1 Conceito, classi- ficações, princípios fundamentais. Teoria Geral da Constituição O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 7 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Suporte Quando temos uma dúvida, é sinal de que nossa mente está procurando com- preender e assimilar a matéria. Se esta dúvida é solucionada de maneira tempestiva, você pode ter certeza de que nunca mais esquecerá tal assunto e, o que é mais importante, não pensará duas vezes na hora da prova... Acertará a questão rapidamente e ganhará tempo para as demais. Assim, estarei à disposição para sanar todas as dúvidas que surgirem. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 8 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS – PARTE I Olá, concurseiro(a), tudo bem? Acredito e espero que sim! Na aula de hoje, iniciaremos o estudo do Direito Constitucional. Para isso, veremos um dos tópicos mais exigidos em todas as provas de concurso público: os direitos e deveres individuais e coletivos. Considerando que o assunto (que está disciplinado, principalmente, no art. 5º da Constituição Federal) é bastante extenso, compreendendo inclusive uma série de entendimentos jurisprudenciais e doutrinários, veremos, na aula de hoje, toda a doutrina acerca dos direitos e deveres fundamentais. Além disso, iniciaremos o estudo de cada uma das previsões do art. 5º da Constituição, que é, como já ressaltado, questão praticamente certa em toda e qualquer prova de concurso público. Forte abraço e bons estudos! Prof. Diogo O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 9 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br 1. Origem A origem dos direitos fundamentais está intimamente relacionada com a necessidade de imposição de limites à atuação do Estado. Por intermédio dos direitos fundamentais, dessa forma, os indivíduos passaram a contar com uma proteção, gerando um aumento em sua liberdade e uma limitação na atuação do Poder Público. Inicialmente, a atuação do Estado consistia em uma série de imposições e deveres aos indivíduos que estavam sob a sua proteção. Como resultado dessas ações do Poder Público, havia uma população acua- da e que praticamente não podia expressar as suas vontades. Com o surgimento dos primeiros direitos fundamentais, passou-se a exigir uma “não atuação” do Estado, resultando em um aumento das liberdades con- feridas à população e em uma maior autonomia das relações privadas ante a atuação do Poder Público. Não devemos confundir os direitos fundamentais, contudo, com os direitos humanos. O termo “direitos humanos” é um conceito mais amplo, compreendendo todos os direitos reconhecidos em tratados e convenções internacio- nais pelo direito internacional público. Tais tratados e convenções podem tanto ser de âmbito global quanto regional, sendo necessário, para a sua in- clusão no ordenamento jurídico de um país, que sejam positivados pelo res- pectivo Estado. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 10 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Exemplo: o Pacto Internacional sobre Direitos Políticos é um exemplo de tra- tado global. A Convenção Americana de Direitos Humanos é exemplo de con- venção regional. Em ambas as situações, para que os direitos humanos previstos nos acordos possam ter validade em um determinado Estado, faz-se necessário que o res- pectivo país reconheça e positive os direitos acordados. Uma vez positivados, tais direitos podem ou não assumir o status de direitos fundamentais. Usamos diversas vezes o termo “positivar”. Você sabe o que isso significa? Positivar significa reconhecer, estar escrito, expresso em um docu- mento. As normas positivadas são aquelas que foram reconhecidas como aptas a regular as relações jurídicas da população de território determinado. São, em última análise, todas as normas expressas em um ordenamento, desde a Constituição Federal (que será nosso objeto de estudo), passando pe- las leis e pelos decretos regulamentares. Os direitos fundamentais, por sua vez, são os direitos reconhecidos à população de um dado território mediante a confecção de um docu- mento específico. E esse documento específico nada mais é do que a Cons- tituição do respectivo país, responsável por instituir o ordenamento jurídico e por positivar os direitos assegurados aos seus indivíduos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 11 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Com isso, chegamos à importante conclusão de que nem todos os direitos humanos são considerados direitos fundamentais, mas sim apenas aque- les que foram positivados pela Constituição Federal. 2. Diferenças entre Direitos e Garantias Fundamentais Você já se perguntou o que é um direito? E uma garantia fundamental? Ainda que o texto da Constituição Federal não tenha feito distinção expressa en- tre os dois institutos, é possível afirmar que ambos os conceitos possuem funções distintas. Os direitos fundamentais podem ser conceituados como os bens e as vantagens conferidos pela Constituição Federal. As garantias fundamentais, por outro lado, são os mecanismos constitucional- mente previstos com a finalidade de proteger os direitos fundamentais. Exemplo: como exemplo de direito fundamental, há a liberdade de locomoção, prevista em nosso ordenamento por meio do art. 5º, XV, da Constituição Federal: “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br12 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Para proteger tal direito e assegurar que possa ser exercido, a própria Constituição Federal estabelece, por exemplo, a garantia do habeas corpus, conforme previsão do art. 5º, LXVIII: “conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”. Das inúmeras garantias previstas na Constituição Federal, as mais importantes (e mais exigidas em provas de concursos) são os chamados remédios constitu- cionais. Os remédios constitucionais são uma espécie de garantia, podendo ser divi- didos em remédios administrativos e remédios judiciais. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 13 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br São remédios administrativos constitucionalmente previstos o direito de petição e o direito de certidão. Os remédios judiciais, por sua vez, são o habeas corpus, o habeas data, o mandado de segurança, o mandado de segurança coletivo, a ação popular e o mandado de injunção. Todos os remédios serão estudados em momento oportuno. Por ora, foram ex- postos com a finalidade de apresentar uma visão global acerca das diferenças exis- tentes entre os direitos e as garantias fundamentais. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 14 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br 3. Classificação, Gerações ou Dimensões De acordo com o momento histórico em que surgiram e foram reconhecidos pelo ordenamento jurídico, os direitos fundamentais podem ser classificados em cinco gerações ou dimensões. Primeira geração: até meados da Idade Média, o Estado era conduzido me- diante as ordens da monarquia. As opiniões do rei, nessa época, eram absolutas e não podiam ser objeto de contestação por parte da população. Com o passar do tempo, os indivíduos começaram a se revoltar com os desman- dos e abusos cometidos, dando ensejo ao surgimento do Liberalismo e dos primei- ros direitos fundamentais. Os direitos fundamentais de primeira geração são formados pela necessidade de uma “não atuação” do Estado, aumentando, assim, a liberdade da população. Por este motivo, tais direitos são comumente conhecidos como “direitos nega- tivos” ou “direitos de defesa”, uma vez que são resultados da necessidade de proteção à população ante os desmandos do Estado. É importante mencionar que os direitos fundamentais de primeira geração sur- giram em meados do século XVIII, possuindo como principal objetivo a conquista de liberdade e sendo materializado pelos direitos políticos e civis. Exemplo: ambos os direitos (políticos e civis) são decorrência de um aumento da liberdade conferida à população. Quando os indivíduos passam a poder votar e exercer seus direitos políticos, há um considerável aumento da liberdade. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 15 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Tal situação também ocorre quando a população passa a ter direito de usufruir de sua propriedade e de se locomover sem a necessidade de obter autorização do Poder Público (direitos civis). São exemplos, ainda, de direitos de primeira geração o direito à vida, o direito de associação e o direito de reunião. Segunda geração: com os direitos de primeira geração, a população conquis- tou um grande passo, passando a fazer jus, conforme mencionado, a uma maior liberdade de atuação. Com o passar dos anos, contudo, a simples existência de uma não interferência estatal se revelou insuficiente para que a integridade da população fosse mantida. Nesse cenário, era bastante comum que os trabalhadores fossem submetidos a jornadas de trabalho de mais de 15 horas diárias por 7 dias da semana. Surgem, então, os direitos fundamentais de segunda geração, caracterizados por prestações positivas do Estado para os indivíduos. Nesse contexto, a sociedade exige que o Poder Público não se restrinja ao fato de não interferir nas relações humanas, mas sim que ofereça a todos os indivíduos sob a sua guarda uma série de direitos que permitam a manutenção da dignidade da pessoa humana. Na segunda geração, o paradigma utilizado é a igualdade, sendo exemplos os direitos sociais, os direitos econômicos e os direitos culturais. Por assegurar uma prestação à população, tais direitos também são conhecidos como “liberdades positivas” ou “direitos do bem-estar”, tendo tido início no final do século XIX e início do século XX. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 16 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Exemplo: à medida que direitos sociais como as férias e o descanso semanal remunerado são garantidos à população, há um Estado que não apenas está deixando de agir, mas sim que está ofertando, à população, melhores condições de vida. Nessa situação, o que está pautando a atuação estatal é a igualdade, de forma que todas as pessoas que estejam sob a mesma condição devem fazer jus aos mesmos benefícios e prestações do Poder Público. Terceira geração: os direitos de terceira geração surgiram da preocupação da comunidade internacional com os ditos direitos transindividuais, ou seja, direitos que ultrapassam o próprio indivíduo. Dessa forma, os direitos de terceira geração não se destinam apenas a um indivíduo ou grupo de pessoas pertencentes a um determinado Estado. Sua inci- dência é ampla, difusa, recaindo sob toda a espécie humana. Como exemplo, cita-se o direito ao meio ambiente, ao progresso e à defesa do consumidor. Em todas essas situações, o fundamento utilizado é a fraternidade. Da análise das três primeiras gerações de direitos fundamentais, consegue-se notar uma semelhança com o lema da Revolução Francesa: liberdade, igualda- de e fraternidade. Os direitos de primeira geração conferem aos indivíduos uma maior liberda- de; os de segunda geração, por assegurarem uma série de prestações positi- vas, estão pautados na igualdade. Os de terceira geração, por sua vez, funda- mentam-se na fraternidade, uma vez que não estão direcionados para um grupo específico de pessoas, mas sim para toda a espécie humana. 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Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) - que se identifica com as liberdades positivas, reais ou concretas - acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de de- senvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, en- quanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade. Quarta geração: os direitos fundamentais de quarta geração são aqueles in- timamente relacionados com a globalização. De acordo com essa corrente, fazem parte de tal geração o direito à democracia direta, o direito à informação e todos os direitos relacionados com a biotecnologia. Nessa dimensão, os direitos fundamentais seriam os responsáveis por evitar que as manipulações genéticas ocorressem sem nenhum tipo de controle. Marcelo Novelino apresenta uma importante definição acerca dos direitos fun- damentais de quarta dimensão: Tais direitos foram introduzidos no âmbito jurídico pela globalização política, compre- endem o direito à democracia, informação e pluralismo. Os direitos fundamentais de quarta dimensão compendiam o futuro da cidadania e correspondem à derradeira fase da institucionalização do Estado social sendo imprescindíveis para a realização e legiti- midade da globalização política. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 18 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Quinta geração: parte da doutrina identifica, ainda, uma quinta dimensão ou geração de direitos fundamentais. De acordo com essa corrente, fortemente defen- dida por constitucionalistas como Paulo Bonavides, a quinta geração seria repre- sentada como o direito de toda a espécie humana à paz. De acordo com o mencionado autor, a concepção de paz deve ser a mais ampla possível, abrangendo todas as nações e servindo de base para a preservação da dignidade da pessoa humana. Tudo certo até aqui? Se os conceitos estiverem um pouco confusos no início, fique tranquilo(a)... Aos poucos, os diversos assuntos vão se unindo e formando uma base sólida. Dessa forma, podemos resumir todas as características acerca das gerações ou dimensões dos direitos fundamentais por meio do quadro: GERAÇÃO OU DIMENSÃO FUNDAMENTO CARACTERÍSTICAS 1ª Geração Liberdade Surgiram no final do século XVIII. Exigia uma não atuação do Estado. São representados pelos direitos civis e políticos. São conhecidos como “liberdades negativas”. 2ª Geração Igualdade Surgiram no final do século XIX. Exigia uma atuação positiva do Estado. São representados pelos direitos sociais, econômicos e culturais. São conhecidos como “liberdades positivas”. 3ª Geração Fraternidade Surgiram no século XX. Direitos atribuídos a toda a humanidade. São representados pelo direito ao meio ambiente, ao pro- gresso e à defesa do consumidor. 4ª Geração Biotecnologia Surgiram em meados do século XX. Fundamentados na ideia de uma sociedade sem fronteiras. Representados pelos direitos à democracia, à informação e a todas as questões biotecnológicas. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 19 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br 5ª Geração Paz Surgiram em meados do século XX. Decorre da necessidade de toda a espécie humana, indepen- dentemente das diferenças sociais e ideológicas, possuir paz. 1. (CESPE/CÂMARA DOS DEPUTADOS2/2014/CONSULTOR LEGISLATIVO) A respei- to de princípios fundamentais e de direitos e garantias fundamentais, julgue o pró- ximo item. Historicamente, os direitos fundamentais de primeira dimensão pressupõem dever de abstenção pelo Estado, ao contrário dos direitos fundamentais de segunda di- mensão, que exigem, para sua concretização, prestações estatais positivas. Certo. A questão apresenta a perfeita definição dos direitos fundamentais de primeira e segunda geração. Na primeira geração, os direitos são representados por uma abs- tenção da atuação do Estado. Na segunda geração, em sentido oposto, o Estado deve atuar e garantir prestações positivas à população. 4. Características Um dos assuntos mais exigidos acerca da teoria dos direitos fundamentais é o re- lacionado com as características atribuídas pela doutrina a esses direitos. Po- de-se identificar, assim, a existência de 10 características dos direitos fundamentais. Nas provas de concurso, as características dos direitos fundamentais são exigi- das, comumente, de duas formas: • a banca apresenta uma característica e tenta confundir o(a) candidato(a) com o conceito de outra; O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br https://www.tecconcursos.com.br/conteudo/concursos/3997 20 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br • um caso concreto é apresentado, solicitando que o(a) candidato(a) assi- nale qual a característica pertinente. Para resolvermos ambos os tipos de questões, basta conhecermos o conceito bási- co de cada uma das características. Universalidade: como regra, os direitos fundamentais devem ser assegurados a to- dos os seres humanos, independentemente de crença, raça, credo ou convicção política. Isso não implica afirmar, contudo, que todos os direitos fundamentais devem, obrigatoriamente, ser assegurados de igual forma a todos, uma vez que a diversidade da humanidade e da realidade vivida por pessoa não é uniforme no tempo. Ainda assim, certos direitos fundamentais (aos quais a doutrina identifica um núcleo existencial), pela sua importância, devem ser assegurados, indistintamente, a todos. Exemplo: se tomarmos como exemplo o direito à vida, nota-se que se trata de um direito fundamental que deve ser assegurado a toda a humanidade. Todas as pes- soas são titulares desse direito, que, devido à sua importância, é reconhecido como parte deum núcleo essencial de direitos fundamentais. Se, em sentido, oposto, tomarmos como exemplo o direito social a férias remune- radas, veremos que este, ainda que se seja um direito fundamental, não é asse- gurado, indistintamente, a toda a população, mas sim apenas aos trabalhadores. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 21 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Historicidade: os direitos fundamentais não surgem com base em um acon- tecimento histórico isolado no tempo. Em sentido oposto, a existência de direitos fundamentais está intimamente relacionada com as conquistas da humanidade ao longo dos anos. Prova disso são as diferentes gerações de direitos fundamentais. No início, como o homem estava sendo oprimido pela atuação do Estado, a grande conquista foi exigir que o Estado deixasse de atuar, gerando uma maior liberdade aos indivíduos. Posteriormente, tendo a população uma maior liberdade, a exigência era de que o Estado não apenas deixasse de atuar, mas sim que prestasse a toda a sua popu- lação uma série de direitos mínimos necessários à sua existência. Conclusão: os direitos fundamentais são ampliados com o passar dos anos, uma vez que as necessidades dos indivíduos sob a guarda do Poder Público, em igual sentido, tende a aumentar com o decorrer do tempo. Inalienabilidade: os direitos fundamentais não podem ser transferidos ou ne- gociados com terceiros, sendo de titularidade exclusiva da pessoa que os possui. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 22 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Como consequência, é correto afirmar que os direitos fundamentais não possuem conteúdo econômico ou patrimonial. Em outras palavras, ninguém pode sair por aí vendendo um direito fundamental. Indivisibilidade: Os direitos fundamentais são indivisíveis, motivo pelo qual apenas atingem à finalidade para a qual se propõem se exercidos em conjunto. Como decorrência, não poderá o particular usufruir apenas dos direitos que entenda necessários para a sua pessoa. Deverá ele, para preservar sua dignidade, fazer uso do conjunto de direitos previstos em nosso ordenamento jurídico, respei- tadas, como não poderia deixar de ser, as particularidades de cada pessoa. Imprescritibilidade: a prescrição está relacionada com a impossibilidade da O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 23 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br utilização das medidas cabíveis, após o decurso de um determinado período, para fazer jus a um direito. Com os direitos fundamentais, contudo, isso não ocorre. Assim, caso uma pes- soa não utilize um direito fundamental da qual é titular por um longo período, ainda assim poderá fazer uso, a qualquer momento, do direito em questão. Isso implica afirmar que os direitos fundamentais são personalíssimos, impossí- veis de serem alcançados pelo instituto da prescrição. Irrenunciabilidade: como regra, o titular de um direito fundamental não pode dele dispor, renunciando ao ser exercício. Contudo, em determinadas situações, e desde que por um prazo certo de tem- po, poderá a pessoa renunciar ao exercício de certos direitos fundamentais. Após o mencionado lapso temporal, o direito objeto da renúncia voltará à sua plenitude. Ressalta-se, entretanto, que a renúncia jamais poderá ser feita por um período indeterminado, tampouco abranger todos os direitos fundamentais previstos no ordenamento jurídico. Dada a importância do assunto, a característica da irrenunciabilidade será mais bem detalhada em momento posterior. Relatividade: de início, precisamos memorizar uma afirmativa amplamente utilizada pelas bancas organizadoras: “não existem direitos fundamentais de caráter absoluto”. Como consequência, todos os direitos fundamentais se revestem de caráter relativo, encontrando limites na própria existência de outros direitos fundamentais previstos na Constituição Federal. Dessa forma, os direitos fundamentais não podem ser utilizados como uma for- O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 24 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br ma de acobertar o cometimento de atividades ilícitas, tampouco a responsabilidade das pessoas que, fazendo uso desse direito, cometam infrações tipificadas como crime em nosso ordenamento jurídico. Em caso de conflito entre dois ou mais direitos fundamentais, deverá a autori- dade competente, analisando o caso concreto, fazer uso da concordância prática ou da harmonização. Nessa situação, um direito prevalecerá sobre o outro, de forma que a decisão apenas será aplicável às partes do conflito. Caso, posteriormente, ambos os di- reitos novamente sejam objeto de conflito, a autoridade deverá realizar o mesmo procedimento de análise do caso concreto, podendo perfeitamente decidir pela prevalência do outro direito. Tudo dependerá, conforme mencionado, da análise do caso concreto. Exemplo: caso uma pessoa, invocando o direito fundamental da liberdade de pen- samento, expresse comentários racistas acerca de outrem, estaremos diante de um conflito entre direitos fundamentais. De um lado, a liberdade do pensamento. Do outro, a vedação ao racismo. Nessa situação, a autoridade competente deverá analisar o caso concreto e decidir, com base na ponderação e na harmonização, qual o direito que deverá prevalecer. Como a decisão apenas produzirá efeitos para as partes envolvidas, nada impede que a autoridade competente, em momento posterior, e estando diante de uma situação na qual os mesmos direitos estejam em conflito, decida de forma con- trária. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 25 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Ainda que a imensa maioria da doutrina entenda que nenhum dos direitos e garantias fundamentais possua caráter absoluto, tem crescido, cada vez mais, o entendimento (ainda minoritário) de que três situações seriam o caso de direitos de caráter absoluto, sendo eles: • a proibição à tortura; • a proibição à escravidão; • a proibição ao tratamento cruel ou degradante. Todas as três situações derivamdo princípio maior da dignidade da pessoa humana. De acordo com a doutrina que defende a existência de direitos de caráter absoluto, a relativização das situações apresentadas geraria uma relativização da própria dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, merece destaque o entendimento de Ingo Wolfgang Sarlet: A dignidade da pessoa humana, na condição de valor fundamental atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais, exige e pressupõe o reconhecimento e prote- ção dos direitos fundamentais de todas as dimensões. Assim, sem que se reco- nheçam à pessoa humana os direitos fundamentais que lhe são inerentes, em verdade estar-se-á negando-lhe a própria dignidade. Ressalta-se, contudo, que tal entendimento ainda é minoritário. Em provas de concurso, devem ser adotados os seguintes procedimentos: • em questões genéricas que apenas exijam o conhecimento das caracterís- ticas dos direitos fundamentais, deve-se sempre afirmar que tais direitos não possuem caráter absoluto, sendo, por isso mesmo, relativos; O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 26 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br • em questões mais avançadas e que exijam expressamente a doutrina mi- noritária (com enunciados que versem sobre o tema dos direitos absolutos), deve-se afirmar que os três direitos acima mencionados se revestem de ca- ráter absoluto. Complementariedade: os direitos fundamentais não devem ser interpretados de forma isolada, mas sim de forma conjunta, complementar, possibilitando que a finalidade para a qual foram instituídos seja alcançada em sua plenitude. Exemplo: uma das principais finalidades dos direitos fundamentais é assegurar a todos a dignidade da pessoa humana. Contudo, você acha que esse objetivo será alcançado em sua plenitude de que maneira: com apenas alguns dos direitos ou com todos os direitos fundamentais existentes? Logicamente que a utilização e interpretação de todos os direitos fundamentais é que proporcionará o atingimento da finalidade. Concorrência: o particular pode exercer diversos direitos fundamentais ao mesmo tempo, de forma concorrente, não havendo necessidade do esgotamento da utilização de um direito para que outro possa ser exercido. Efetividade: cabe ao Estado, materializado pelas inúmeras políticas públicas, assegurar condições para que os direitos fundamentais possam ser concretizados e efetivados pela população. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 27 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br 5. Destinatários Inicialmente, os destinatários dos direitos fundamentais eram apenas as pes- soas naturais, uma vez que o que estava sendo exigido era uma não atuação do Estado em prol da liberdade da população. Com o tempo, a doutrina passou a estender os efeitos dos direitos fundamentais para as pessoas jurídicas, sendo que uma série de direitos positivados em nosso ordenamento são destinados a tais pessoas. Modernamente, os direitos fundamentais passaram a ter como destinatários, ainda, o próprio Estado, ou seja, órgãos e entidades da Administração Pública. Isso não implica dizer que todos os direitos fundamentais previstos da Consti- tuição Federal são destinados, indistintamente, às pessoas naturais, às pessoas jurídicas e ao Estado. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 28 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Em sentido oposto, nossa Constituição Federal apresenta direitos que possuem como destinatários exclusivamente as pessoas naturais, direitos que apenas podem ser exercidos pelas pessoas jurídicas, direitos exclusivos do Estado e, ainda, direitos fundamentais que podem ser exercidos pelas três classes de pessoas. Exemplo: como exemplo de direito fundamental exclusivamente destinado às pessoas naturais, há o direito à intimidade. Não faria nenhum sentido se esse direito fosse atribuído às pessoas jurídicas ou ao Estado, não é mesmo? Como exemplo de direito fundamental exclusivamente destinado às pesso- as jurídicas, cito o direito à existência de partidos políticos, uma vez que os partidos nada mais são do que pessoas jurídicas de direito privado. Como exemplo de direito fundamental exclusivo do Estado (órgãos e entida- des), há a possibilidade de requisição administrativa. Nessa situação, apenas um ente superior como o Estado pode requisitar a propriedade privada, uma vez que é função do Poder Público utilizar todas as medidas possíveis para garantir a integridade da população. Como exemplo de direito fundamental atribuído a todas as classes de pessoas, cito o direito à propriedade, uma vez que tanto as pessoas naturais quanto as pessoas jurídicas e o Estado podem ser proprietários, por exemplo, de bens imóveis. 2. (CESPE/OPERADOR DE CÂMERA/TV/FUB/FUB/2015) No que se refere aos direitos fundamentais, julgue o próximo item. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 29 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br O respeito aos direitos fundamentais deve subordinar tanto o Estado quanto os particulares, igualmente titulares e destinatários desses direitos. Certo. De acordo com a doutrina atual, os destinatários dos direitos fundamentais são as pessoas naturais, as pessoas jurídicas e até mesmo o Estado. 6. Eficácia Horizontal e Vertical Como anteriormente afirmado, os primeiros direitos fundamentais surgiram ante uma necessidade de limitação da atuação do Estado com relação aos particu- lares. E como o Estado possui uma superioridade (uma vez que sua finalidade é a de garantir o bem-estar da população) havia, com relação aos primeiros direitos, uma relação de verticalidade. Dessa forma, era correto afirmar que a eficácia (produção de efeitos jurídicos) dos direitos fundamentais, inicialmente, apenas era possível de forma vertical. Posteriormente, em meados do século XX, a doutrina começou a visualizar a possibilidade de produção de efeitos jurídicos decorrentes dos direitos fundamen- tais no âmbito das relações entre particulares, ou seja, nas situações em que o Estado não estava presente. Como as relações entre particulares são pautadas pelo princípio da igualdade, estamos diante, quando da sua ocorrência, de uma relação de horizontalidade. Ainda que a possibilidade de os direitos fundamentais influenciarem as rela- O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquertítulo, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 30 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br ções privadas não se trate de uma unanimidade (uma vez que certos países, como os Estados Unidos, não admitem tal possibilidade), o nosso ordenamento jurídico aceita a teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais. Exemplo: suponhamos que duas pessoas tenham formulado um contrato de tra- balho, sendo que uma das cláusulas do instrumento em questão previa que o tra- balhador renunciaria expressamente ao seu direito de férias anuais remuneradas. Nessa situação, o contrato de trabalho é válido? A reposta é sim! Como estamos no âmbito das relações particulares, nada impede que um instrumento seja pactuado da forma como demonstrado. Contudo, como as férias anuais remuneradas são um dos direitos sociais previstos na Constituição Federal, tal cláusula é nula, não podendo ser invocada por nenhu- ma das partes. Nessa situação, o que houve foi a eficácia dos direitos fundamentais influenciando as relações entre particulares. Quando os direitos fundamentais são utilizados no âmbito das relações entre particulares, estamos diante da eficácia horizontal desses direitos, também co- nhecida como eficácia externa. Por outro lado, quando os direitos fundamentais são utilizados no âmbito das relações entre os particulares e o Poder Público, a eficácia será vertical ou interna: • Particular x Particular = horizontal e externa; • Particular x Poder Público = vertical e interna. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 31 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br 7. Restrições Legais Como decorrência da característica da relatividade, os direitos fundamentais não são absolutos, podendo, conforme já mencionado, sofrer limitações decorren- tes de outro direito constitucionalmente previsto. Contudo, se considerarmos que os direitos fundamentais são normas constitu- cionais, poderia o legislador infraconstitucional, por intermédio de uma simples lei, limitar os direitos fundamentais? A resposta é positiva. Conforme afirmado, não existem, em nosso ordenamen- to, direitos de caráter absoluto. Assim, cabe ao legislador, por meio das leis, estabelecer limitações com a fina- lidade de disciplinar a forma como os inúmeros direitos fundamentais conviverão em harmonia. No entanto, não poderá o legislador, fazendo uso da prerrogativa de limitação, restringir os direitos fundamentais de uma forma abusiva e que descaracterize a O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 32 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br própria razão de existir de tais direitos. Deve a atuação do legislador infraconstitu- cional ser exercida de forma limitada, dando ensejo ao surgimento da “teoria dos limites”. Limites dos limites? O que significa isso? Isso significa dizer, em outros termos, que a possibilidade de limitação dos di- reitos fundamentais por meio de lei apenas poderá ocorrer quando exercida de forma limitada. Quando, em sentido oposto, a lei limitar demasiadamente os direitos fundamen- tais, terá ferido o seu núcleo essencial. Se tal situação fosse possível, perderia a Constituição Federal o status de norma hierarquicamente superior às leis, haja vista que simples leis ordinárias poderiam limitar direitos constitucionalmente previstos. Merecem destaque os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. De acordo com os mencionados princípios, a atuação do legislador apenas será válida quando exercida de forma adequada, necessária e proporcional. Como consequência, caso uma lei restrinja toda a essência de um direito funda- mental, atingindo assim o seu núcleo essencial, deverá o Poder Judiciário, invocan- do os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, declarar a norma inválida e inconstitucional. Note, dessa forma, que a teoria dos limites foi concebida com uma finalidade bem específica: evitar que um direito fundamental perca a sua essência por meio da atuação abusiva do legislador. “Professor, tem como simplificar essa teoria?” Certamente! A teoria dos limites fica mais fácil de ser compreendida por meio do “gráfico”: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 33 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Como verificado, a essência da teoria dos limites é a existência de um núcleo fundamental dos direitos fundamentais. E a existência desse núcleo essencial, ain- da que reconhecida pela doutrina, é explicada por meio de duas diferentes teorias: a teoria absoluta (também conhecida como teoria interna) e a teoria relativa (de- nominada também de teoria externa). Por meio da teoria absoluta, o núcleo essencial dos direitos fundamentais é uma unidade autônoma aos próprios direitos. Como consequência, é possível que esse núcleo seja identificado independentemente de estarmos diante de um caso con- creto, bastando, para isso, a análise da norma de forma abstrata. A teoria relativa, em sentido oposto, afirma que o núcleo essencial dos direitos fundamentais apenas pode ser analisado diante de um caso concreto. Não é pos- sível, de acordo com a teoria relativa, a identificação do núcleo essencial de um direito fundamental pela simples interpretação da norma. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 34 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br 3. (CESPE/OPERADOR DE CÂMERA/FUB/2015) Por meio da aplicação do princípio da proporcionalidade, coíbem-se excessos que afrontem os direitos fundamentais e exigem-se mecanismos que os efetivem. Certo. Como analisado, o princípio da proporcionalidade impede que os abusos cometidos pelo legislador alcancem o núcleo essencial dos direitos fundamentais. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 35 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br 8. Possibilidade de Renúncia Como regra, os direitos fundamentaissão irrenunciáveis, o que implica dizer que os seus destinatários não possuem disposição sobre estes. Em outros termos, o titular de um direito fundamental não pode abrir mão de sua titularidade. Nos dias atuais, contudo, a doutrina tem entendido que a característica da ir- renunciabilidade pode, diante de um caso concreto e desde que por um período determinado, ser abrandada. Assim, dois são os requisitos que sempre devem estar presentes para que a renúncia possa acontecer: • estar o particular diante de um caso concreto; • a renúncia ocorrer por um período determinado. Em sentido oposto, não se admite a renúncia a todos os direitos fundamentais ao mesmo tempo, tampouco que tal procedimento ocorra por um período indeter- minado. Exemplo: caso um particular resolva participar de um programa de “reality show” como o Big Brother Brasil, estará ele, durante o período em que permanecer na com- petição, sem a possibilidade de fazer uso dos direitos da intimidade e da vida privada. Nessa hipótese, poderá renunciar a tais direitos, uma vez que a renúncia se dará diante de um caso concreto (a participação no programa de televisão) e por um prazo determinado (enquanto o participante permanecer na competição). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 36 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br 9. Tratados e Convenções Internacionais Estabelece a Constituição Federal, no art. 5º, § 3º, a seguinte redação: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Dessa forma, para que um tratado ou convenção internacional seja alçado ao status de norma constitucional, dois são os requisitos essenciais: versarem sobre direitos humanos e serem aprovados pelo quórum qualificado previsto na Constituição Federal. Uma vez tendo sido observados ambos os requisitos, os termos do acordo pas- sam a fazer parte da própria Constituição Federal, situando-se em patamar hie- rarquicamente superior às leis e gozando de todas as prerrogativas que as demais normas constitucionais possuem. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 37 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Nem todos os tratados e convenções internacionais, porém, alcançarão o status de norma constitucional. De acordo com o STF, duas são as outras posições jurídi- cas que tais acordos podem assumir: • os tratados e convenções que versem sobre direitos humanos, mas que não tenham sido aprovados de acordo com o quórum qualificado previsto na Constituição Federal terão eficácia de supralegalidade, localizando-se acima das leis ordinárias e abaixo das normas constitucionais; • os demais tratados e convenções internacionais (aqueles que não versem sobre direitos humanos) terão eficácia de lei ordinária. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 38 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br 10. Tribunal Penal Internacional No art. 5º, § 4º, a Constituição Federal apresenta a seguinte redação: O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. Como decorrência do princípio fundamental da soberania, uma decisão judicial apenas terá eficácia quando prolatada por órgão do Poder Judiciário pertencente ao respectivo Estado. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 39 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Consequentemente, as decisões estrangeiras apenas terão validade em nosso país quando homologadas pelo órgão competente, que, em nosso caso, é o Superior Tribunal de Justiça, conforme previsão do art. 105, I, i, da Constituição Federal: Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I – processar e julgar, originariamente: i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas ro- gatórias. O Tribunal Penal Internacional não se trata de um órgão subordinado a um país específico, mas sim de um organismo internacional independente. Assim, ainda que o acatamento das decisões do Tribunal Penal Internacional represente um abrandamento da soberania do país, é importante frisar que tais de- cisões não são oriundas de um Estado estrangeiro, mas sim de um organismo independente, constituído e assinado por diversos países. O Brasil aderiu ao Tribunal Penal Internacional no ano 2000, mediante a assina- tura do intitulado Estatuto de Roma. Posteriormente, em 2002, o Congresso Nacio- nal efetuou a aprovação e o Presidente da República a sua promulgação, após a qual as disposições do Tribunal Penal Internacional passaram a ter vigor em nosso país. A função do Tribunal Penal Internacional é a de julgar os crimes que causem graves violações aos direitos humanos, tais como o de genocídio, os crimes de guerra e os de agressão de um país a outro. 11. Direitos Fundamentais Expressos na Constituição Federal A Constituição Federal, ao tratar dos direitos fundamentais, classificou-os em cinco diferentes grupos, sendo eles: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 40 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br • direitos e deveres individuais e coletivos; • direitos sociais; • direitos relativos à nacionalidade; • direitos políticos; • direitos relacionados com a existência dos partidos políticos. Os direitos e deveres individuais e coletivos são aqueles ligados ao conceito da pessoa humana. Tais direitos podem ser divididos em individuais (como direito à vida e à liberdade) e coletivos (como o direito de reunião e o direito de associação). Os direitos sociais são constituídos de prestações positivas, materializadas em políticas públicas realizadas pelo Estado. Tais direitos possuem como objetivo a concretização da igualdade, sendo exemplos as férias anuais, o descanso semanal remunerado e o aviso prévio proporcional ao tempo de serviço. Os direitos relativos à nacionalidade regulam os aspectos relacionados com o vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a um determinadoEstado sobera- no. Por meio da nacionalidade, verifica-se quais as pessoas que são consideradas brasileiros natos, naturalizados ou estrangeiros. Os direitos políticos regulamentam a forma como a soberania popular será exercida pela população, seja de forma direta (por meio de plebiscito, referendo e iniciativa popular), seja de forma indireta (por meio de representantes eleitos). Os direitos relacionados com a existência dos partidos políticos deter- minam que tais associações, ainda que constituídas sob a forma de pessoa jurídica de direito privado, são os instrumentos necessários para que a preservação da de- mocracia. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 41 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br 12. Direitos e Deveres Individuais e Coletivos Iniciaremos, agora, o estudo de um dos pontos mais exigidos de todo o Direito Constitucional: o art. 5º da Constituição Federal e seus inúmeros incisos. Neste ponto da matéria, é essencial que você saiba tanto a literalidade dos incisos quanto os entendimentos doutrinários e jurisprudenciais deles decorrentes. Por isso mesmo, optei por comentar todos os incisos do art. 5º da Constituição Federal, já fazendo menção, quando necessário, à doutrina e aos principais julga- dos do STF. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantin- do-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: Inicialmente, precisamos saber que o caput do art. 5º da Constituição Federal faz menção a cinco direitos fundamentais, sendo eles os direitos à vida, à li- berdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Esses cinco direitos, de O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 42 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br acordo com a doutrina majoritária, são a base dos demais direitos e garantias fundamentais expressos na Constituição Federal. Deve-se frisar, contudo, que tais direitos não possuem uma hierarquia superior aos dele decorrentes. Nem mesmo o direito à vida, expressão direta da dignidade da pessoa humana e elemento necessário para a fruição dos demais direitos e ga- rantias, apresenta essa superioridade. Como consequência, é correto afirmar que não há hierarquia entre os di- reitos fundamentais constitucionalmente previstos, ainda que alguns deles, conforme mencionado, sirvam como base para a existência dos demais. Importante questão que se refere ao alcance dos direitos fundamentais previs- tos na Constituição Federal. Assim, ainda que o caput do art. 5º faça menção aos “brasileiros e aos estrangeiros residentes no País”, o entendimento atual é de que os direitos fundamentais, como regra, podem ser usufruídos pelos brasilei- ros, pelos estrangeiros residentes no país e até mesmo pelos estrangeiros residentes no exterior e que estejam em território nacional por um curso espaço de tempo. Nas palavras do STF (proferidas no julgamento do HC n. 94.016), “o súdito es- trangeiro, mesmo o não domiciliado no Brasil, tem plena legitimidade para impetrar O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 43 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br o remédio constitucional do “habeas corpus”, em ordem a tornar efetivo, nas hipó- teses de persecução penal, o direito subjetivo, de que também é titular, à obser- vância e ao integral respeito, por parte do Estado, das prerrogativas que compõem e dão significado à cláusula do devido processo legal”. Exemplo: caso um argentino esteja passando uma semana de férias em território brasileiro, poderá, ainda que sua residência não seja no Brasil e sua estadia seja breve, fazer uso, caso sofra coação em sua liberdade de locomoção, do habeas corpus, remédio constitucional utilizado com a finalidade de evitar que o direito de ir e vir seja prejudicado. As questões de concurso podem ser exigidas de duas diferentes formas no que se refere ao alcance dos direitos fundamentais: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 44 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br • de forma literal, exigindo o conhecimento da literalidade do caput do art. 5º (brasileiros e estrangeiros residentes no país); • de maneira mais avançada, exigindo o entendimento do STF (brasileiros, estrangeiros residentes e estrangeiros não residentes). Uma das principais características dos direitos fundamentais é a relatividade. Por meio dela, não existem, em nosso ordenamento, direitos e garantias de caráter absoluto. Muitas são as questões de prova que exigem a característica da relatividade dos direitos fundamentais. Em todos os casos, devemos memorizar que “não existem direitos ou garantias de caráter absoluto”. Como consequência, até mesmo o direito à vida, necessário para que o indi- víduo possa fazer uso dos demais direitos, pode, em determinadas situações, ser relativizado diante de um caso concreto. Nesse sentido, o conceito de vida não abrange apenas a vida extrauterina, mas também a vida intrauterina. Como consequência, a prática de aborto, ressalvadas as exceções previstas em lei, é considerada crime em nosso ordenamento jurídico. Uma dessas exceções consta em importante julgado do STF, conforme se ob- serva da leitura da ADPF n. 54, por meio da qual a Suprema Corte estabeleceu a possibilidade de interrupção da gravidez no caso de fetos anencéfalos. No caso, foi levado em conta o fato de a anencefalia ser considerada uma patologia letal, de forma que os bebês nascidos em tal condição morrem poucas horas após o parto. FETO ANENCÉFALO – INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ – MULHER – DIGNIDADE –DIREITOS FUNDAMENTAIS. Mostra-se inconstitucional interpretação de a interrupção da gravidez de feto anencéfalo ser conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, do Código Penal. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 45 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Outra decisão importante do STF e intimamente relacionada com a inviolabi- lidade do direito à vida refere-seà possibilidade de realização de pesquisas com células-tronco. De acordo com o Tribunal, a pesquisa é possível quando atender a duas condições: • as células embrionárias tenham sido obtidas de embriões humanos produzi- dos por fertilização in vitro; • os embriões decorrentes da fertilização não sejam utilizados em procedimen- tos reprodutivos posteriores. I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Consti- tuição; O inciso faz menção à isonomia, que, por sua vez, deriva diretamente do clássi- co princípio da igualdade. Por meio da isonomia, deve o legislador tratar de forma igual os iguais e de forma desigual os desiguais, na medida das suas desi- gualdades. Exemplo: quando o legislador edita uma norma conferindo aos maiores de 60 anos o direito de transitar pelo território nacional, em empresas concessionárias de serviço público, mediante o não pagamento da passagem, estamos diante da isonomia. Assim, ainda que os demais indivíduos não façam jus a esse direito, não há que se falar em violação ao princípio da igualdade, uma vez que a isonomia confere a pos- sibilidade de tratamento desigual às pessoas que estejam em condições diferentes. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 46 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Salienta-se, contudo, que as medidas discriminatórias de tratamento de- vem ser exercidas de acordo com o princípio da razoabilidade, evitando-se que excessos cometidos pelo legislador agridam a dignidade da pessoa humana dos particulares envolvidos. Em outros termos, é plenamente possível que o legislador trate determina- das classes de pessoas de forma diferenciada, sem que isso configure desres- peito ao texto da Constituição Federal. Em consonância com esse entendimento, o STF já afirmou que a Lei Maria da Penha, criada com a finalidade de proteger a mulher das práticas de violência doméstica, é plenamente constitucional. Nessa situação, entende o Tribunal que a medida, ainda que discriminatória, é decorrência di- reta do princípio da isonomia, revestindo-se de razoabilidade e assegurando às mulheres um tratamento que as iguale, em proteção, às demais classes de pessoas. Nesse mesmo sentido, merece destaque a questão da política nacional de “cotas raciais”, por meio do qual um número de vagas é reservado aos descendentes de determinadas etnias. No caso, estamos, mais uma vez, dian- te do princípio da isonomia, oportunidade em que a razoabilidade deve ser analisada. Merece destaque, ainda com relação à possibilidade de tratamento diferen- ciado, a decisão do STF no âmbito do AI n. 443.315. No julgado em questão, estabeleceu o Tribunal que “não afronta o princípio da isonomia a adoção de critérios distintos para a promoção de integrantes do corpo femini- no e masculino da Aeronáutica”. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 47 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Da análise das situações expostas, consegue-se identificar algumas característi- cas que devem ser observadas para a adoção de critérios discriminatórios: A doutrina costuma diferenciar as expressões “igualdade na lei” e “igualdade perante a lei”. Ao passo que a “igualdade na lei” ocorre em um momento anterior, sendo direcionada ao legislador, a “igualdade perante a lei” ocorre com a lei já elabora. Na “igualdade na lei”, a ideia é que o legislador, ao elaborar as leis, o faça da forma menos discriminatória possível, abrangendo todas as pessoas que eventual- mente possam fazer jus aos seus efeitos. Na “igualdade perante a lei”, como a lei já se encontra elaborada, a sua des- tinação é para os aplicadores e intérpretes. Assim, deve a interpretação e, como consequência, a aplicação dos efeitos decorrentes da norma, serem amplas. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 48 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Outra classificação existente refere-se à isonomia material e formal. De acordo com esse entendimento, a isonomia formal está relacionada com a possibilidade que todas as pessoas possuem, independentemente de suas condições financeiras, étnicas e sociais, de buscar os direitos previstos em lei. Trata-se a isonomia formal, como consequência, de um direito conferido a to- dos os indivíduos: o de buscar alcançar os direitos que lhe são assegurados. A isonomia material, por sua vez, vai além da isonomia formal, possibilitando que seja conferido tratamento desigual às pessoas que estejam em condi- ções desiguais. Possibilita a isonomia material a adoção de políticas discrimina- tórias com a finalidade de igualar as condições de grupos que estejam em desvan- tagem. Por esse motivo, a isonomia material também é conhecida como igualdade real, uma vez que atua não apenas no campo teórico, mas sim na prática, modifi- cando a realidade social das pessoas atingidas. Exemplo: quando uma lei determina que “todas as pessoas terão direito aos serviços de energia elétrica e de água encanada”, estamos diante da isono- mia formal, de forma que todos aqueles que desejarem fazer uso desses serviços devem adotar os procedimentos previstos em lei, sendo que a energia elétrica e a água encanada nada mais são do que direitos a eles conferidos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Nome do Concurseiro(a) - 000.000.000-00, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. http://www.grancursosonline.com.br http://www.grancursosonline.com.br 49 de 109 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Parte I Prof. Diogo Surdi www.grancursosonline.com.br Quando o Poder Público assegura à população de baixa renda os serviços de ener- gia elétrica e de água encanada de forma gratuita, estamos diante da isonomia material, sendo que a ideia do legislador, com a medida, é, mediante a adoção de políticas discriminatórias, reduzir as desigualdades das pessoas de baixa renda. Merece destaque, ainda, a impossibilidade de o Poder Judiciário, baseado no princípio da igualdade, estender vantagens a determinados grupos de pessoas. Tal situação ocorreria, por exemplo, caso o Poder em questão conferisse aos servidores da categoria X as mesmas vantagens asseguradas aos servidores da categoria Y. Caso isso fosse possível, estaria o Poder Judiciário exercendo a função de legis- lar, algo que, em nosso ordenamento, não é possível em virtude da separação de Poderes. Sedimentando o assunto, o STF editou a Súmula n. 339, de seguinte teor: “não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar venci- mentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia”. II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de