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TCC Ensino Religioso

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FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO BRAZ
O ENSINO RELIGIOSO E SUAS DIMENSÕES
 
CURITIBA/PR
2017
FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO BRAZ
SIMONE DE FATIMA BONASSOLI GRZYBOWSKI
O ENSINO RELIGIOSO E SUAS DIMENSÕES
Trabalho entregue à Faculdade de Educação São Braz, como requisito legal para convalidação de competências, para obtenção de certificado de Especialização Lato Sensu, Metodologia do Ensino Religioso conforme Norma Regimental Interna e Art. 47, Inciso 2, da LDB 9394/96. 
Orientador: Me. Jefferson Souza Santos
	
CURITIBA/PR
2017
RESUMO
Este artigo aborda as dimensões do Ensino Religioso como área do conhecimento. Aponta os pressupostos epistemológicos que o regem como as demais áreas conhecimento escolar, demonstrando que, Religião e conhecimento religioso são patrimônios da humanidade, pois, constituíram-se historicamente na inter-relação dos aspectos culturais, sociais, econômicos e políticos; sugere compreender a epistemologia do Ensino Religiosa com base em três pressupostos: fundamentação antropológica ou religião como dimensão do Ser humano; a religião como objeto de estudo e como área do conhecimento; os estudos da religião como necessária a formação do cidadão, portanto um conhecimento sistematizado para a ampliação da visão de mundo, compreensão das manifestações do sagrado, enquanto transcendente/imanente, portanto, a valorização desse conhecimento construído ao longo da história peculiarmente em diversos contextos e demais aspectos que o fundamentam o Ensino Religioso como disciplina da Educação Básica, Ensino Fundamental Anos Iniciais e Finais (sextos e sétimos anos). Objetivou-se com esta pesquisa ampliar os conhecimentos para possível superação dos desafios que ainda impedem a efetivação do Ensino Religioso como disciplina integrante da base nacional Curricular Comum, contudo, de matrícula facultativa. O procedimento utilizado foi à seleção, leitura, análise e organização do texto, cm base em materiais bibliográficos de autores que discutem e analisa o Ensino Religioso, Leis vigentes, Propostas Pedagógicas e Diretrizes. O resultado obtido demonstra que a abordagem do sagrado das diversas religiões deve efetivar do ponto de vista laico, sem proselitismo e, jamais religioso sem quaisquer juízos de valor sobre esta ou aquela prática religião.
Palavras-chave: Dimensão do Ensino Religioso. Pressupostos Epistemológicos. Conhecimento.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho aborda as dimensões do Ensino Religioso como área do conhecimento, as bases epistemológicas e afirmações indispensáveis que caracterizam como ciências, incluindo os aspectos legais e os fundamentos teóricos metodológicos e demais recomendações necessárias.
	O desafio para a efetivação do Ensino religioso como área do conhecimento é a formação dos professores nessa área, a maioria das vezes o ensino ocorre de forma laico, porém, sem levar em consideração os parâmetros fenomenológicos estabelecidos pela ciência da religião.
	Objetiva-se com esta pesquisa a busca da superação desta problemática que ainda impede a efetivação do Ensino Religioso como área do conhecimento, através da compreensão dos pressupostos epistemológicos, bases legais, teóricas e metodológicas que fundamentam a Religião e o conhecimento religioso, bem como as conjecturas destes, como dimensão do Ser humano, como objeto de estudo e como área do conhecimento, ambos imprescindíveis para ser ministrados adequadamente em sala de aula visando à formação do cidadão.
	 A metodologia tomou por base, a pesquisa qualitativa, seleção, leitura, análise, organização do material bibliográfico e virtual coletado de teóricos que abordam a questão do Ensino Religioso, documentos escolares, leis vigentes que caracterizam o Ensino Religioso como área do conhecimento. 
	O texto está organizado em três tópicos: o primeiro apresenta as bases epistemológicas que fundamentam o Ensino Religioso como área do conhecimento; o segundo expõe a legalidade do Ensino Religioso (ER) determinados pela Constituição Federal de 1988, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Nº 9.394/96 e demais aspectos que orientam para a efetivação desta área do conhecimento no âmbito escolar. 
 	Espera-se que este trabalho, além de ampliar os conhecimentos sobre o Ensino Religioso como ciências, também possa contribuir para a concretização da práxis educativa através de princípios religiosos institucionalizados; uso da racionalização da fé e da cidadania; posturas valorativas, embasamento teórico e metodológico, sem proselitismo, posicionando o ER como componente disciplinar ou área do conhecimento escolar.
2. ENSINO RELIGIOSO: BASES EPISTEMOLÓGICAS
O Ensino Religioso (ER) é ministrado nas escolas, com uma carga horária de uma aula semanal no Ensino Fundamental Anos iniciais e Anos Finais, sexto e sétimo anos, a oferta é obrigatória, porém, a matrícula é facultativa. Assim sendo, é necessário conhecer os pressupostos epistemológicos que o regem, como as demais áreas do conhecimento. Expõe-se nesse tópico a fundamentação do Ensino Religioso e, demais implicações que configuram – o, como área do conhecimento.
Religião e conhecimento religioso são patrimônios da humanidade, pois, constituíram-se historicamente na inter-relação dos aspectos culturais, sociais, econômicos e políticos. Em virtude disso, a disciplina de Ensino Religioso deve orientar-se para a apropriação dos saberes sobre as expressões e organizações religiosas das diversas culturas na sua relação com outros campos do conhecimento (PARANÁ, 2008, p. 45).
	Em termos educacionais, a escola tem a tarefa de trabalhar para a efetivação dos conhecimentos religiosos na prática para a superação do preconceito e voltada para a diversidade religiosa.
“[...] ER o coloca em uma posição de exceção em relação a outras disciplinas e, por conseguinte, em um lugar vulnerável, até mesmo do ponto de vista legal, que acaba vigorando ao sabor das conjunturas políticas” (PASSOS, 2011, p. 114).
Nesse escopo, Passos (2011) sugere compreender a questão da epistemologia do ER a partir de três afirmações: 
1ª) Uma fundamentação antropológica: a religião como dimensão do ser humano. 
2ª) Uma fundamentação epistemológica: a religião como objeto de estudo e como área de conhecimento. 
3ª) Uma fundamentação pedagógica: o estudo da religião como necessário à educação do cidadão. (PASSOS, 2011, p.114).
	Passos (2011), quando menciona a primeira afirmação sobre a questão epistemológica, chama atenção para o fato de que se evitar ou desconhecer a dimensão religiosa do ser humano é desconsiderar o papel da ética, política social da religião e, por outro lado, é adotar uma postura da imperfeição do mesmo.
Salienta que:
A educação da dimensão religiosa diz respeito a algo que está no ser humano e na sociedade; refere-se ao estudo da religião, bem como à proposição de valores que permitam a vivência e convivência religiosa das pessoas e grupos, na mesma sociedade e sob as mesmas regras estabelecidas e coordenadas pelo Estado (PASSOS, 2011, p. 117).
A essas ponderações chama a atenção para o fato de que o Ensino Religioso como área do conhecimento “é diferente de “aula de religião”, ou catequese, ou da escola bíblica, ou ainda de qualquer modelo de doutrinação, não pressupõe a adesão e muito menos o proselitismo ou a propagação de uma determinada crença religiosa” (ASSINTEC, 2005, P. 11).
O ER como área do conhecimento, segunda afirmação acerca da questão epistemológica, Passos (2011), pontua:
A vivência religiosa pode ser vista como um tipo de conhecimento na medida em que situa o fiel em relação ao mundo e a si mesmo, tendo como referência de fundo a divindade. É nesse sentido que se pode falar em conhecimento mítico da realidade, como fizeram os estudiosos clássicos da religião. Mas, além de operar com essa lógica simbólica, as religiões, na medida em que se institucionalizam, tendem a racionalizar suas fontes e seus mecanismos de reprodução, estabelecendo regras para a aquisição
de suas verdades, regras que vão adquirindo caráter muitas vezes teórico e metodológico [...]. 
O uso da razão, nesse caso, tem, por conseguinte, um significado de compreensão e aprofundamento da fé. O ER na escola pública não poderá ser isso. Não pode ser educação da fé, estudo da fé, nem mesmo racionalização da fé. Ele adotará uma postura metodológica fundamental: o estudo da religião a partir de fora. Assumindo o dado religioso presente no ser humano de ontem e de hoje como objeto de estudo, o ER busca discernir as práticas religiosas em nome da razão e da vida cidadã.
 [...]. O pressuposto de que estudar religião é um bem não significa necessariamente afirmar posturas confessionais, mas, tanto quanto as demais ciências, afirmar que saber é melhor que ignorar, conhecer pode produzir posturas humanas mais conscientes e responsáveis, conhecimento é valor que produz posturas valorativas.
 [...] As ciências da religião nos oferecem um acúmulo teórico e metodológico que permite situar a religião como um objeto de estudo, como qualquer outro fenômeno humano, sem qualquer exceção epistemológica. É ciência como as outras e pode fornecer bases teóricas e metodológicas para práticas pedagógicas, sociais e políticas. Para tanto, não se exige o pressuposto da crença nem mesmo a aplicação crente (pastoral) dos conhecimentos adquiridos, mas tão somente sua aplicação ética, destinação inevitável de todas as ciências (PASSOS, 2011, p.118- 119).
 	Evidencia-se que todos os aspectos apontados na segunda afirmativa, fundamentam o ER como área do conhecimento através de princípios religiosos institucionalizados; uso da racionalização da fé e da cidadania; posturas valorativas, embasamento teórico e metodológico, os quais posicionam a religião como componente disciplinar ou área do conhecimento escolar.
Na terceira afirmação, que analisa de uma fundamentação pedagógica, estabelecendo a educação religiosa e a educação do cidadão, Passos (2011) declara:
[...] Circunscrito nessa intencionalidade, o ER não significa diretamente educação religiosa, mas educação do cidadão no que se refere à sua dimensão religiosa, dimensão que pode professar pessoalmente, mas que, antes de tudo, o afeta por constituir um dado antropológico e sociocultural. Em outros termos: não se trata de buscar sujeitos mais ou menos religiosos, mas buscar sujeitos mais críticos e democráticos, capazes de dialogar e de responsabilizar-se socialmente a partir das cosmovisões crentes ou não crentes de que são portadores (PASSOS, 2011, p. 121).
O autor destaca que a argumentação da educação religiosa e a educação do cidadão são duas questões que mesmo sendo distintas se aliam possibilitando formar o cidadão na sua totalidade, numa perspectiva da constituição tanto a dimensão sociológica e antropológica.
A “[...] socialização do conhecimento religioso na escola deve promover uma abertura ao diálogo inter-religioso, na perspectiva dos valores comuns a todas as tradições, tendo por base a alteridade e o direito à liberdade de consciência e opção religiosa” (PARANÀ, 2005, p. 12).
Fórum permanente do Ensino Religioso (FONAPER, 2000) determina como enfoque sociológico as instituições e organizações que geram o conhecimento religioso, incluindo o objeto social e histórico. Aspectos relevantes da cultura humana, os quais permitem o estudo das afinidades internas e dos papéis sociais. 
Já a abordagem antropológica (FONAPER, 2000), estabelece como objeto de estudos a inclusão do ser humano com o desconhecido. Experiência essencialmente religiosa. Trata-se da manifestação humana que almeja a transcendência. Assim, busca extrapolar-se, sua condição de finitude, o contexto visando perpetuar-se e absolutizar-se.
A partir daí, (FONAPER, 2000), determina objetivos para nortear a sua vida na perspectiva de garantir o significado existencial; dessa forma, obter a liberdade, a qual é uma condição para essa procura. Isso é que se torna um ente em construção.
Nessa perspectiva, o ER deve permitir:
[...] ampliar a visão de mundo, compreender as manifestações do sagrado, enquanto transcendente/ imanente, a valorização do conhecimento religioso como patrimônio da humanidade, construído ao longo da história de maneira bastante peculiar, em diferentes contextos geográficos e culturais (Gil 2005, p.12).
	Enfim, evidencia-se que o ER compõe a formação básica para a cidadania, portanto, o conhecimento sobre o fenômeno religioso passa ser direito do aluno, o qual é garantido legalmente na Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, bem como, nas demais leis vigentes. 
3. ENSINO RELIGIOSO: LEGALIDADE
A Constituição Federal de 1988 estabelece o ensino religioso como disciplina, art. 210, § 1º: “O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”.
	“O ensino religioso é de matrícula facultativa. Trata-se de um dispositivo vinculante. Logo, é um princípio nacional e abrange o conjunto dos sistemas e suas respectivas redes públicas e privadas” (CURY, 2005, p. 185).
Ser facultativo é não ser obrigatório na medida em que não é um dever. O caráter facultativo caminha na direção de salvaguardas para não ofender o princípio da laicidade. O mesmo pode-se dizer da vedação de quaisquer formas de proselitismo e do fato de deixar a uma entidade civil multirreligiosa à definição de conteúdos (CURY, 2005, p. 189).
	Nesta visão, os pais ou responsáveis na hora da matricula dos filhos no Ensino Fundamental, etapa inicial ou final, mesmo sendo ofertado sem o proselitismo, podem optar ou não, pela frequência dos filhos no ER.
Como menciona Junqueira (2005) o ER no Brasil primeiramente era um ensino com ênfase na doutrina da religião oficial do Império, a religião católica romana. A partir da República (1889), distinguiu-se entre Igreja e Estado, a liberdade de culto e o reconhecimento da diversidade religiosa. No entanto, o ER continuou sendo, na prática, o ensino da religião cristã. A legislação de 1997 trouxe mudanças significativas na concepção do Ensino Religioso.
“O Ensino Religioso articulador pela dimensão religere (reescolher– saber em si), ou seja, havia uma perspectiva teológica e confessional sobre a disciplina de Ensino Religioso” (LDB 4024/61).
“O Ensino Religioso articulado pela dimensão religare (re-ligar – saber em relação), ou seja, havia uma perspectiva antropológica e axiológica sobre a disciplina de Ensino Religioso” (LDB 5692/71).
Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei 9394/96, tendo como eixo articulador a dimensão relegere (re-ler – saber de si), ou seja, há uma perspectiva fenomenológica sobre a disciplina de Ensino Religioso.
Em conformidade LDB, nº 9.394/96, art. 33: O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis, em caráter:
I – confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável ministrada por professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas; ou
II – interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades religiosas, que se responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa (LDB, 1996, Art. 33).
	Assim, a lei estabelece a preferência religiosa, professores preparados para tal e o pacto entre as instituições religiosas, bem como, institui o respeito à diversidade cultural e religiosa, sendo vedada qualquer forma de proselitismo.
Junqueira (2005) adverte que a religião, como demonstração da religiosidade humana, presente em todos os povos e culturas, sempre ocupou um lugar de destaque na vida dos indivíduos e das sociedades humanas. Deste modo, uma educação que vise o desenvolvimento pleno do educando não pode omitir a educação da religiosidade e o estudo do fenômeno religioso, objeto da disciplina de Ensino Religioso.
Sobre os padrões de organização do ensino religioso vigente Sena (2006) aponta:
“Confessional, oferecido de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável e ministrado por professores preparados e credenciado pelas respectivas entidades religiosas” [...] (JUNQUEIRA, 2005, p.2).
Conteúdo fundamentado na Bíblia, o qual se trata da organização “[...] Interconfessional, resultante de um acordo entre as diversas entidades religiosas, que se responsabilizarão pela elaboração dos respectivos programas [...]” (JUNQUEIRA, 2005, p.3).
Supraconfessional, ministrado nas escolas públicas, não admite qualquer tipo de proselitismo religioso, preconceito ou manifestação em desacordo com o direito individual dos alunos e de suas famílias de professar um credo religioso ou mesmo o de não professar nenhum, devendo assegurar o respeito a Deus, à diversidade cultural e religiosa, e fundamenta-se em princípios de cidadania, ética, tolerância e em valores universais presentes em todas as religiões. (JUNQUEIRA, 2005, p. 3).
	Também, como:
Disciplina curricular. Nesse modelo o Ensino Religioso é pensado, como área de conhecimento, a partir da escola e não das crenças ou religiões e tem como objeto de estudo o fenômeno religioso. Independente do posicionamento ou opção religiosa, os educandos são convidados a cultivar as disposições necessárias para a vivência coerente de um projeto de vida profundamente humano e pautar-se pelos princípios do respeito às liberdades individuais; tolerância para com os que manifestam crenças diferentes e convivência pacífica entre as diversas manifestações religiosas que compõem a pluralidade étnica e cultural da nação brasileira (JUNQUEIRA, 2005, p. 3).
	Diante da organização curricular ou como área do conhecimento que compõe a Educação Básica, detecta - se que aos alunos é assegurado um conhecimento do prodígio religioso visando à formação humana respeitando as diversas religiões e seus princípios.
	Em síntese, a apropriação do ensino religioso desenvolvido a partir e por meio das múltiplas relações no contexto político-educacional, os quais poderão contribuir com bases metodológicas coerentes para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem.
4. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS
	Sabe-se que para trabalhar os conteúdos específicos do ER para cada série/ano, exige um tempo maior de estudos e pesquisas dos professores o emprego de uma metodologia dinâmica que favoreça tanto o ensino como a aprendizagem. 
	Nesse sentido, (FONAPER, 2000) sugere a busca da decodificação e a análise dos elementos básicos que forma o fenômeno religioso focando os conteúdos através de uma rede de relações contínuas na perspectiva de ampliar a visão de mundo do aluno, exercitar o diálogo inter-religioso e simbólico a partir das vivências do educando.
	Para iniciar o Ensino Religioso tido como área de conhecimento (JUNQUEIRA, 2005) recomenda o estabelecimento de um referencial estruturado de leitura e interpretação da realidade a partir do seu foco de ação, do seu objeto de estudo.
	Junqueira (2005) aborda que é preciso propor a metodologia com base na matriz teórica: Tradições e Culturas Teologias, Textos Orais e Escritos Sagrados, Ritos e Ethos, adequação do teórico a comunidade escolar em relação ao ensino e aprendizagem. Processo pelo qual permita a releitura e compreensão do religioso na sociedade, por meio de uma metodologia que possibilite a efetivação:
· A observação do fenômeno religioso em suas múltiplas dimensões, destacando-se desta observação a análise da ação, falta ou parte dela em seu contexto e em suas relações, para explorar e trabalhar os conceitos básicos do Ensino Religioso. 
· A informação enquanto aproximação de um aspecto do conhecimento religioso a partir do qual se torna possível ao educando ampliar seu conhecimento para construir instrumentos que possibilitem referenciais de interpretação ou análise, efetivando-se a ressignificação de conceitos. 
· Reflexão como aspecto que oportuniza o confronto pedagógico do conhecimento teórico com a prática. É a partir da reflexão que se exercitam e gerenciam as observações e informações, mensurando os elementos, aspectos, fatos e outros necessários à construção do conhecimento. Isso mobiliza o educando a dominar linguagens, compreender os fenômenos, construir argumentações para enfrentar situações e elaborar propostas para uma convivência fraterna e de respeito (FONAPER, 2000, p.8).
Essa relação pode-se ser realizada através da articulação entre os aspectos históricos estabelecidos pelas diferentes tradições religiosas e sua presença na cultura vigente. “É necessário, portanto, que o tratamento metodológico se concretize na ação–reflexão–ação promovida pela observação–informação–reflexão” (FONAPER, 2000, p. 8).
 Em relação aos critérios didáticos- metodológicos para ER incluem a forma de organização do conteúdo que deem suporte a construção do conhecimento. Para tal requer, “[...] respeitar o desenvolvimento cognitivo, afetivo e de relações dos educandos nas diferentes fases do processo de ensino-aprendizagem [...]”. Para tal, é preciso considerar:
· Os conhecimentos anteriores, interesses e possibilidades dos educandos; 
· A maneira de socializar um assunto (conteúdo), garantindo a participação, interação, cooperação numa perspectiva de gerar respeito à diferença, abertura para aprendizagem e autonomia; 
· Adequação de recursos, linguagem simbolismo, textos, alegorias e outros de maneira a permitir ao educando construir significados, atualizar seu conhecimento, refletir sobre a diversidade religiosa à sua volta, sensibilizar-se para o mistério; 
· As diferenças sociais e culturais, para que o educando possa aprender a conviver e respeitar as diferentes tradições religiosas, vivenciar a própria cultura e tradição religiosa; 
· A necessidade do educando estabelecer relações, interações, conexões entre os conhecimentos do seu universo religioso pessoal, os conhecimentos religiosos de seus colegas e os conhecimentos apresentados no ambiente escolar; 
· Os encaminhamentos para aprendizagem: objetivo, conteúdo, metodologia, avaliação, técnicas, recursos, estratégias... Todos esses elementos e outros se tornam critérios para serem observados no Ensino Religioso (FONAPER, 2000, p. 8-9).
Pode-se perceber que o trabalho com os conteúdos do ER demanda o estabelecimento e o cumprimento de uma diversidade de critérios, para que ao mesmo tempo em que permite ao aluno a observar e respeitar a diversidade religiosa, possa também viver intensamente a sua própria religiosidade.
As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008) recomenda para o ER, que mais do que planejar formas, métodos, conteúdos ou materiais a serem adotados em sala de aula, implica num constante repensar das ações que auxiliam esse trabalho, pois, uma abordagem nova de um conteúdo escolar leva, inevitavelmente, a novos métodos de investigação, análise e ensino.
	
Para efetivar esse processo de ensino-aprendizagem com êxito faz-se necessário abordar cada expressão do Sagrado do ponto de vista laico, não religioso. Assim, o professor estabelecerá uma relação pedagógica frente ao universo das manifestações religiosas, tomando-o como construção histórico-social e patrimônio cultural da humanidade. [...] repudia-se, então, quaisquer juízos de valor sobre esta ou aquela prática religião. (PARANÁ, 2008, p. 66).
Nesse ensejo é imprescindível que o professor considere que para efetivação do ER seja desenvolvido os conhecimentos das bases teóricas que “compõem o universo das diferentes culturas, nas quais se firmam o Sagrado e suas expressões coletivas” (PARANÁ, 2008, p. 67).
No entender de Biaca (2008), o docente do ER deve preparar os recursos didáticos em conformidade com o conteúdo/tema a ser desenvolvido. Assim sendo, ele poderá propor aos alunos: Leitura e interpretação de textos sobre as tradições religiosas e suas festas, enfatizando a beleza e o colorido das mesmas, elaboração de painéis ou cartazes sobre algumas tradições religiosas e suas respectivas festas,
pesquisas e apresentações das mesmas, elaboração de acróstico, música, desenhos, ilustrações, leituras de imagens e símbolos, encenações, símbolos religiosos, trabalho interdisciplinar, etc.. Sugere-se que os alunos trabalhem, tanto em grupo, como no individual.
Diante do exposto neste texto, confirma-se que ainda é um desafio trabalhar essa disciplina na escola. A análise teórica, legal e metodológica possibilitou o enriquecimento e a reflexão sobre os conhecimentos acadêmicos já adquiridos, acerca dos fundamentos básicos do ER. Entretanto, reconhece que para exercer o cargo de professor dessa especialidade requer dedicação e formação continua. 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Detectou-se nessa pesquisa que o Ensino Religioso deve orientar-se para a apropriação dos saberes sobre as expressões e organizações religiosas das diversas culturas, a sua relação com outros campos do conhecimento, até porque sendo patrimônio da humanidade é saber clássico que tem base histórica e, inter-relaciona com os aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos indispensáveis para a formação básica do cidadão.
	Para tanto, fica evidente que o ER faz parte da formação básica para a cidadania, portanto, o conhecimento sobre o fenômeno religioso passa ser direito do aluno, dessa forma, estabelecido legitimamente na Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, bem como, com organizações didáticas, metodológicas e pedagógicas para a concretização na práxis.
	Assim sendo, reforça - se a ideia de que a escola deve propiciar a análise dos elementos básicos que forma o fenômeno religioso, sendo necessário focar os conteúdos por meio de uma rede de relações contínuas na perspectiva de ampliar a visão de mundo do aluno, exercitar o diálogo inter-religioso e simbólico a partir das vivências do educando.
Mesmo o ER sendo de matrícula facultativa, é obrigatório constituir disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, e pautar-se pelos princípios do respeito às liberdades individuais; tolerância para com os que manifestam crenças diferentes e convivência pacífica entre as diversas manifestações religiosas que compõem a pluralidade étnica e cultural dos educandos.
	 Para tal, exige proporcionar uma metodologia com base na matriz teórica proposta pelas Diretrizes Curriculares para o ER. Faz-se necessário abordar cada expressão do Sagrado do ponto de vista laico, não religioso. Exige à afirmação pedagógica diante do universo das manifestações religiosas, que possibilite ao educando reconhecer que estas são construções, histórico-social, patrimônio cultural da humanidade e postura de rejeição de quaisquer descrições de valor sobre esta ou aquela prática religiosa.
	Afinal, o desafio para a concretização do ER, como área do conhecimento existe e, principalmente na práxis educativa, porém, é possível se houver a formação docente, mudanças de concepções, planejamento, metodologia adequada, considerado que é apenas uma aula semanal, esta deve fazer a diferença na formação dos educandos aliada as demais disciplinas curriculares. 
REFERÊNCIAS
ASSINTEC. Ensino religioso: Sugestão de Proposta Pedagógica para o Ensino Religioso. Curitiba: ASSINTEC, 2005.
BIACA, Valmir et al. O Sagrado no Ensino Religioso. Cadernos para o Ensino Religioso, v. Curitiba: CEDITEC - SEED-PR, 2008.
BRASIL, Constituição: República Federativa do Brasil. Brasília 1988.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/1996, Brasília, 1996.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 4.024/1961, Brasília, 1961.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 5.692//1971, Brasília, 1971.
BRASIL. Lei N.º 9.475, de 22 de Julho de 1997. Dá nova redação ao art. 33 da
LDBEN n° 9.394/96.
CURY, Carlos Roberto Jamil. Ensino religioso na escola pública: o retorno de uma polêmica recorrente, Revista Brasileira de Educação, 2005.
FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO (FONAPER). Ensino religioso capacitação para o novo milênio. Cadernos 1-12. Ano 2000.
FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO (FONAPER). Ensino Religioso: Questões e Fundamentos. Disponível em: http://www.gper.com.br/newsletter/0363a8cd70a96bdc70f42fb5916fcc1e.pdf > Acesso, 02/12/2016. 
JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo. ENSINO RELIGIOSO EM QUESTÃO – Boletim do Setor de Ensino Religioso da CNBB, 2005.
JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo. O processo de escolarização do Ensino Religioso no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2002, 159 pp.
PARANÁ, Secretaria de Estado de Educação. Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso para a Educação Básica. Curitiba: 2008.
PASSOS, João Décio. Ensino Religioso: construção de uma proposta. São Paulo, SP: Paulinas, 2011, 143 pp.
SENA, Luiz .Religiosidade no ambiente escolar.São Paulo: 2006
GIL, Fausto . O sagrado e o profano. Curitiba:2005

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