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Cinesiologia e Fisiologia do Exercício

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CINESIOLOGIA E 
FISIOLOGIA DO 
EXERCÍCIO
Noura Reda Mansour
Introdução à cinesiologia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Explicar a abrangência e a definição da cinesiologia.
 � Reconhecer a posição anatômica.
 � Identificar os planos e os eixos corporais.
Introdução
A cinesiologia é a ciência que estuda o movimento humano e suas estru-
turas. Essa área foi estudada por vários cientistas durante séculos, a fim 
de descobrir a organização e a localização das estruturas mais profundas 
do corpo humano e do movimento corporal. 
Para localizar disfunções nos segmentos corporais, é necessário apren-
der a posição anatômica, pois ela serve como referência para descrever 
várias partes do corpo humano. O nosso corpo é tão organizado que 
os movimentos articulares são realizados ao redor de eixos imaginários.
Neste capítulo, você vai ver um breve histórico da cinesiologia e a 
importância do seu conhecimento, assim como a definição da posição 
anatômica. Serão estudados também os planos anatômicos e seus eixos.
Abrangência e definição da cinesiologia
A palavra cinesiologia é proveniente do grego e significa estudo do movimento 
humano. Essa ciência tem como objetivo estudar as estruturas anatômicas e seu 
movimento. O seu estudo começou na Grécia Antiga na época de Aristóteles 
e Hipócrates. Nesse período, o anatomista e médico grego Galeno (131–201 
a.C.) iniciou suas pesquisas com esqueletos humanos e com dissecações de 
macacos e porcos que foram expostos na cidade de Alexandria.
Você sabia que os nomes das articulações, como diartrose, sinartrose e funções dos 
músculos agonistas e agonistas, foram designados por Galeno? Esses nomes são 
usados atualmente.
Na época da Renascença, em sua segunda fase, Leonardo da Vinci (1452–
1519), o famoso artista que pintou o quadro Mona Lisa, dissecou vários corpos 
humanos para estudar a musculatura e a forma do corpo humano (Figura 1). 
Logo após, os cientistas Galileu Galilei (1564–1642) e Giovanni Borelli (1608–
1679) atribuíram expressão matemática para os fenômenos relacionados ao 
movimento humano e anotaram registros sobre mecânica da ação muscular, 
equilíbrio e sua relação com o centro de gravidade, relação entre força mus-
cular e seu ângulo de aplicação e também sobre relação dos movimentos de 
rotação com os braços de alavanca do corpo (HOUGLUM; BERTOTI, 2014).
Figura 1. Formas do corpo humano por Leonardo da Vinci.
Fonte: Houglum e Bertoti (2014, p. 4).
Introdução à cinesiologia2
Continuando com a história da cinesiologia, Francis Glisson (1597–1677) 
reconheceu que as fibras musculares se contraem e, para isso, realizou 
experiências pletismográficas. Posteriormente, o fisiologista Albrecht Von 
Haller (1708–1777) complementou que a contração muscular é uma função 
do músculo independe da função neural. Outro cientista, James Keill (1674–
1719), mencionou a quantidade das fibras musculares de alguns músculos 
(PORTELA, 2016). 
Em suas teses científicas, Charles Darwin (1809–1882) defendeu a teoria 
da evolução, que, atualmente, acrescentou vários conhecimentos à cinesiolo-
gia. Posteriormente, no século XIX, Angelo Mosso (1848–1919) inventou o 
ergógrafo, em 1884, um instrumento que estuda a função muscular.
No século XX, a cinesiologia é reconhecida como área de conhecimento, 
sendo estudada em várias áreas da saúde, sendo que uma delas é a fisioterapia 
(OLIVEIRA et al., 2011). Além disso, ela foi considerada a ciência que estuda o 
movimento do corpo humano, englobando áreas da anatomia, da fisiologia, da 
física e da geometria, sendo estas relacionadas diretamente com o movimento 
do corpo humano. Essa área engloba vários conceitos básicos do corpo humano 
e estes envolvem estruturas como ossos, músculos, articulações, segmentos 
corporais, funções e ações musculares (LIPPERT, 2018).
Além de analisar os movimentos do corpo humano, o estudo da cinesiologia 
compreende a estrutura esquelética e muscular, assim como a organização 
do corpo humano. Além disso, nessa área se estuda também a posição anatô-
mica, assim como os planos e eixos para melhor compreensão das estruturas 
(PORTELA, 2016).
A posição anatômica
Ao descrever o corpo em movimento, deve-se utilizar um termo universal 
de referência a partir do qual todos os movimentos começam (BEHNKE, 
2014). A posição anatômica é uma posição de referência universal utilizada 
para descrever as estruturas do corpo. Nessa posição a pessoa fica ereta e em 
pé, com os olhos e a cabeça posicionados para frente, os membros superiores 
são pendentes ao lado do corpo com as palmas das mãos voltadas para frente 
e os membros inferiores ficam paralelos com os pés apoiados no chão e tam-
bém virados para frente (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016; TORTORA; 
DERRICKSON, 2017).
3Introdução à cinesiologia
Pense que você deseja identificar alguma lesão no corpo de um paciente. 
Para fazer isso, este deverá estar posicionado conforme a posição anatômica 
para melhor observação (Figura 2).
Figura 2. Posição anatômica.
Fonte: Behnke (2014, p. 47).
Os movimentos começam a partir da posição anatômica. Além disso, ela nos 
serve como referência para a localização de músculos, por exemplo, músculos 
mediais do braço e músculos laterais da coxa. Isso acaba facilitando a identi-
ficação de alguma alteração musculoesquelética no paciente, quando houver.
Introdução à cinesiologia4
Termos de direção
O nosso corpo se movimenta em várias direções e, para definirmos onde ocor-
rem esses movimentos, alguns termos devem ser utilizados e estes englobam 
os termos de direção (Figura 3). Estes, por sua vez, servem para descrever as 
partes do corpo. Esses termos são considerados universais para a discussão 
da relação espacial entre uma estrutura a outra (DIMON JR. 2010; BEHNKE, 
2014).
 � Superior ou cranial: identifica uma estrutura que está acima ou em um 
grau superior. Exemplo: a cabeça é superior ao tórax.
 � Inferior ou caudal: se refere à estrutura que está abaixo ou em direção 
aos pés. Exemplo: o tórax se encontra em posição inferior à cabeça.
 � Anterior ou ventral: se refere à estrutura que se encontra em frente ou 
próxima à parte da frente do corpo. Exemplo: o abdome s encontra em 
posição anterior à coluna vertebral.
 � Posterior ou dorsal: quando uma estrutura está atrás ou em direção às 
costas. Exemplo: a coluna vertebral se encontra em posição posterior 
ao abdome.
 � Medial: se refere à estrutura que está perto da linha mediana do corpo. 
Exemplo: o nariz encontra-se em posição medial à orelha.
 � Lateral: se refere à estrutura que está longe do centro do corpo. Exemplo: 
as orelhas estão em posição lateral ao rosto.
 � Proximal: é um termo usado apenas para os membros e se refere à 
estrutura que está próxima da raiz de um membro. Exemplo: o punho 
é proximal à mão e o tornozelo é proximal ao pé.
 � Distal: é um termo usado apenas para os membros e se refere à estrutura 
que está mais próxima à extremidade do membro. Exemplo: a mão é 
distal ao braço.
5Introdução à cinesiologia
Figura 3. Termos de direção.
Fonte: Adaptada de Rizzo (2012).
Posterior
(dorsal)
Anterior
(ventral)
Distal
Proximal
Lateral
MedianoSuperior
(craniano)
Inferior
(caudal)
Inferior Distal
Proximal
Superior
Planos e eixos corporais
O plano é uma superfície imaginária plana que atravessa o corpo e esta serve 
para dividir ou seccionar o corpo a fim de facilitar a observação das estruturas 
corporais por dentro. Tanto os órgãos como os segmentos corporais são seccio-
nados e, para definir o tipo de divisão, tornou-se necessário organizar o plano 
em três planos diferentes: sagital, frontal ou coronal e transversal (Figura 4).
Vamos citar um exemplo para entendermos a importância dos planos anatômicos. Ao 
dividir uma maçã na metade, você pode dividi-la em três formatos, certo? Os planos 
servem para dar o nome a cada formato do corte. 
Introdução à cinesiologia6
O plano sagital, também denominado de anteroposterior, passada região 
anterior para a região posterior do corpo e ele divide o corpo em duas metades, 
lado direito e lado esquerdo. Quando essas duas metades forem exatamente 
iguais, o plano passa a ser chamado de plano mediano.
O plano frontal ou coronal atravessa o corpo de lado a lado, como se fosse 
uma tiara, e divide o corpo em região anterior e região posterior. O plano 
transversal ou horizontal passa pelo corpo no sentido horizontal, dividindo-o 
corpo em duas partes, a superior e a inferior. 
Entre os três planos, existe um ponto de intersecção que serve como re-
ferência para o centro de gravidade. Este muda à medida que o corpo vai se 
movimentando.
Figura 4. Planos: (A) sagital, (B) vertical ou anteroposterior e (C) horizontal.
Fonte: Martini (2009, p. 210).
Plano sagitalPlano frontal
Plano transverso
7Introdução à cinesiologia
Antes de entrarmos na definição dos eixos e seus movimentos produzidos, 
vamos aprender os termos dados aos movimentos dos segmentos corporais. 
 � Flexão: neste movimento dobramos a articulação; por exemplo, quando 
você dobra o cotovelo, dizemos que você está flexionando.
 � Extensão: é o movimento de estender ou esticar; pense que você agora 
está estendendo o cotovelo que estava flexionado.
 � Hiperextensão: é quando estendemos algum membro a 180 graus.
 � Abdução: é movimento dos membros se afastando da linha mediana 
do corpo; por exemplo, quando você abre os braços, dizemos que eles 
foram abduzidos.
 � Adução: é o contrário de abdução, se refere ao movimento dos membros 
em direção à linha mediana; por exemplo, quando fechamos os braços, 
dizemos que eles foram aduzidos.
 � Circundação: é o movimento circular dos segmentos, como do tronco e 
dos membros; é uma combinação dos movimentos de flexão, abdução, 
extensão e adução.
 � Rotação: se refere ao movimento giratório do corpo ou do membro em 
torno do seu eixo vertical; pode ser classificado em rotação lateral, 
quando um segmento roda lateralmente, ou seja, para longe da linha 
medial, e rotação medial, quando o membro roda próximo à linha 
mediana do corpo.
 � Flexão lateral: se refere ao movimento de inclinação do tronco.
Agora que você aprendeu os movimentos, vamos definir os eixos. O eixo 
é uma linha reta imaginária que atravessa as articulações e é perpendicu-
lar aos planos, ou seja, cada eixo gira em torno do seu plano para produzir 
os movimentos articulares específicos, pois os nossos músculos produzem 
movimentos dos segmentos do nosso corpo em um ou mais dos três planos. 
Ao redor de cada plano gira um eixo, sendo eles: eixo látero-lateral, eixo 
anteroposterior e eixo horizontal (Figura 5). O eixo látero-lateral é perpendi-
cular ao plano sagital e em redor desse eixo ocorrem os movimentos de flexão 
e extensão dos segmentos corporais. O eixo anteroposterior é perpendicular 
ao plano frontal e em torno dele ocorrem os movimentos de adução, abdução 
inclinação lateral esquerda e inclinação lateral direita. O eixo horizontal é 
perpendicular ao plano transversal, permitindo os movimentos de rotação 
medial e rotação lateral dos segmentos corporais.
Introdução à cinesiologia8
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9Introdução à cinesiologia
O Quadro 1 a seguir resume os planos e os movimentos realizados em 
torno dos seus respectivos eixos. O conhecimento destes é fundamental para 
a localização e a realização dos movimentos articulares.
Fonte: Adaptado de Lippert (2018).
Plano Eixo Movimento articular
Sagital Látero-lateral Flexão/extensão
Frontal Anteroposterior Abdução/adução, desvio radial/
ulnar, eversão/inversão
Transverso Horizontal Rotação medial/lateral, supinação/pronação
Quadro 1. Planos, eixos e seus movimentos articulares
BEHNKE, R. S. Anatomia do movimento. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
DIMON JR., T. Anatomia do corpo em movimento: ossos, músculos e articulações. 2. ed. 
Barueri, SP: Manole, 2010.
HOUGLUM, P. A.; BERTOTI, D. B. Cinesiologia clínica de Brunnstrom. 6. ed. Barueri, SP: 
Manole, 2014.
LIPPERT, L. S. Cinesiologia clínica e anatomia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
MARTINI, F. H; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre: 
Artmed, 2009.
OLIVEIRA, A. L. et al. Licenciatura em Educação Física: Cinesiologia. Ponta Grossa, 2011. 
Disponível em: http://www.cpaqv.org/cinesiologia/livro_cinesiologia_guanis.pdf. 
Acesso em: 16 fev. 2019.
PORTELA, J. P. Cinesiologia. Sobral: Inta, 2016. Disponível em: http://md.intaead.com.
br/geral/cinesiologia/pdf/Cinesiologia.pdf. Acesso em: 16 fev. 2019.
RIZZO, D. C. Fundamentos de anatomia e fisiologia. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 
10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
VANPUTTE, C.; REGAN, J.; RUSSO, A. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto Alegre: 
AMGH, 2016.
Introdução à cinesiologia10

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