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USINAGEM Diego Batista Valim Grandezas físicas no processo de corte Objetivos de aprendizagem Ao final desta unidade você deverá apresentar os seguintes aprendizados: Descrever como ocorre o processo de corte dos materiais. Identificar as grandezas físicas presente no processo de usinagem. Analisar os fatores externos que influenciam na usinagem. Introdução Neste capítulo, você aprenderá sobre o processo de fabricação de usinagem. A usinagem é um processo mecânico que confere à peça, por meio da remoção de cavaco, forma, dimensões ou acabamento, podendo, ainda, ser uma combinação dessas três operações. Durante a operação de usinagem, uma ferramenta de corte desliza sobre a superfície do material, causando remoção do material na forma de cavaco. As peças usinadas são usadas em automóveis, máquinas, indústrias aeroespaciais e na área médica (pinos de próteses), sendo uma das operações mecânicas com maior aplicação. Neste capítulo, você vai acompanhar como ocorre o processo de corte dos materiais, quais são as grandezas físicas presentes e os fatores externos que influenciam na operação de usinagem. U N I D A D E 1 lalves Retângulo lalves Retângulo Entendendo como ocorre o processo de corte dos materiais Fabricar é transformar matérias-primas em produtos acabados por meio de uma variedade de processos. Os processos de transformação de metais e ligas metálicas em peças acabadas são divididos em duas principais categorias: processo onde ocorre a remoção de material e processo onde não ocorre a remoção de material. Usinagem é todo processo de fabricação onde ocorre a remoção de material sob a forma de cavaco. Cavaco é a porção de material removida pela ferramenta de corte e caracterizado por apresentar forma irregular. Existem diversos processos de usinagem (torneamento, fresamento e fura- ção, entre outros). Esses processos são classificados de acordo com a geometria da ferramenta de corte (FRACARO, 2017). Assim, temos: usinagem com ferramentas de geometria de corte definida: operações nas quais é possível medir a geometria da ferramenta de corte; usinagem com ferramentas de geometria de corte indefinida: opera- ções nas quais a geometria das arestas de corte não permite que sejam definidas geometricamente, pois a remoção de material é realizada por grãos mais ou menos disformes. Antes de iniciar o processo de usinagem, o material a ser usinado e a ferramenta devem ser montados em uma máquina-ferramenta de tal modo que seja permitida a remoção gradual desse material durante a operação. Durante o processo de usinagem, o avanço da ferramenta de corte em direção à barra, que é posta em rotação em torno de seu próprio eixo, provoca a retirada de material na forma de cavaco, originando a peça. Essa barra é convertida em uma peça de geometria cilíndrica com forma, acabamento e geometria previamente desejados. Grandezas físicas no processo de corte2 O processo de usinagem provoca a remoção de cavaco, mas como isso acontece? A ferramenta de corte, ou cunha cortante, normalmente feita de um material duro (cerâmico, aço ferramenta ou diamante), desliza sobre a peça, aplicando a ela determinada força. A parte da ferramenta que entra em contato com a peça recebe o nome de aresta de corte, e é formada pela intersecção das duas superfícies da cunha de corte. A aresta de corte provoca o corte e a cunha cortante, devido à sua geometria angular, penetra no material, separando-o em duas partes, como ilustra a Figura 1. Figura 1. Cunha cortante. Fonte: Rebeyka (2016, p. 15). A geometria da aresta de corte tem grande influência no desempenho da usinagem, assim como o ângulo de cunha. Quanto menor ele for, mais fácil será a execução do corte. 3Grandezas físicas no processo de corte Grandezas físicas presentes no processo de corte A cinemática, ramo da física que estuda o movimento, nos permite, quando tem seu conceito aplicado à operação de usinagem, calcular as velocidades e o tempo envolvidos nos processos. Conhecer a velocidade de corte nos permite escolher a matéria-prima e o melhor material de corte, o que evita problemas de qualidade e aumenta a vida útil da ferramenta. Tomar conhecimento do tempo gasto na operação permite programar uma linha de produção que inclua essa operação. Para que a operação de usinagem ocorra, é preciso haver um movimento relativo entre a peça e a ferramenta de corte. Nessa operação, consideramos que a ferramenta exerce o movimento e a peça permanece parada. Segundo Diniz, Marcondes e Coppini (1999), a operação de usinagem apresenta dois movimentos distintos: o que não provoca a remoção de cavaco e o que provoca a formação de cavaco. Movimentos que não provocam a formação de cavacos Movimento de aproximação: dado pela aproximação da aresta de corte da ferramenta em direção à peça. Esse movimento ocorre antes da operação de usinagem, como ilustra a Figura 2. Figura 2. Movimento de aproximação. Fonte: Pixel B/Shutterstock.com. Grandezas físicas no processo de corte4 Movimento de ajuste: é feito após o movimento de aproximação, com o intuito de posicionar a aresta do material de corte para iniciar a operação de usinagem, de modo a remover a espessura requerida da camada do material a ser usinado. Movimento de correção: é realizado quando um novo ajuste da aresta da ferramenta na direção da peça precisa ser feito. Esse movimento de correção pode ser necessário devido ao desgaste da ferramenta ou à alteração do ângulo de corte. Movimento de recuo: é o afastamento da aresta de corte da ferramenta em relação à peça. Normalmente, é empregado quando se fi naliza a operação, mas também pode ser usado para realizar a troca da ferramenta de corte. Movimentos que provocam a geração de cavacos Movimento de corte: realizado pela aresta de corte da ferramenta em direção à peça, a fi m de realizar a retirada de uma única camada, quando não utilizado juntamente com o movimento de avanço, de espessura predefi nida. Movimento de avanço: usado juntamente com o movimento de corte, visa a remoção contínua de material. Após a remoção de material no movimento de corte, ocorre a aproximação da aresta de corte da ferramenta de corte com a peça, objetivando a remoção de mais uma camada de material. Diferente do movimento de correção, no movimento de avanço não é preciso interromper a operação de usinagem. Movimento de corte efetivo: realizado pela aresta de corte da ferramenta em direção à peça, esse movimento é o resultado do movimento de corte e do movimento de avanço simultâneos, proporcionando a remoção contínua de material. 5Grandezas físicas no processo de corte Velocidade de corte A velocidade de corte é dada pela velocidade linear relativa entre a aresta de corte da ferramenta e a peça em rotação. A ABNT NBR 6162:1989 defi ne velocidade de corte como sendo a razão entre o espaço percorrido pela ferra- menta cortando um material e o tempo que ela leva para fazê-lo. Seu cálculo é feito pela equação a seguir. vc = � ∙ d ∙ n 1000 Onde: vc = velocidade de corte m min[ ]; d = diâmetro da peça [mm]; n = número de rotações por minuto [rpm]. Para definir a velocidade de corte mais adequada, é necessário analisar alguns fatores: operação (torneamento, furação, mandrilamento, etc.); material da ferramenta; material da peça; condições de refrigeração; fixação da peça. A velocidade de corte é o parâmetro que exerce maior influência na vida útil da ferramenta de corte. Normalmente, os fornecedores de ferramentas disponibilizam tabelas com recomendações de uso que variam de acordo com o tipo de material a ser usinado, relacionando a velocidade de corte com o tipo de ferramenta e dureza do material a ser usinado, como exemplifica a Tabela 1. O fator de correção (M) na Tabela 1 está relacionado com o movimento de avanço, e assim como a velocidade de corte, o tipo de material interfere nesse fator. Grandezas físicas no processo de corte6Metais ferrosos Material a ser usinado Velocidade de corte [m/mm] Aço Carbono com resistência até 500 N/mm2 28 – 32 com resistência até 700 N/mm2 25 – 28 com resistência até 900 N/mm2 20 – 25 Aço liga e Aço fundido com resistência até 900 N/mm2 14 – 18 com resistência até 1200 N/mm2 10 – 14 com resistência até 1500 N/mm2 06 – 10 Ferro fundido com dureza até 200 HB 25 – 30 com dureza até 240 HB 18 – 25 com dureza acima de 240 HB 14 – 18 Tabela 1. Velocidade de corte de acordo com o material Velocidade maior que a adequada — perda das características de dureza e tenaci- dade, desgaste prematuro da ferramenta de corte e modificação da forma e dimensões da superfície usinada, todos os problemas causados pelo superaquecimento. Velocidade menor que a adequada — o corte fica sobrecarregado, gerando trava- mento e posterior quebra da ferramenta. Velocidade de avanço A velocidade de avanço é o produto do avanço, pela rotação da peça, ou seja, é a distância percorrida pela aresta de corte pelo número de giros da peça (RPM), e, é obtida por meio da a equação a seguir. A velocidade de avanço é responsável pela qualidade do acabamento da peça. A natureza da operação 7Grandezas físicas no processo de corte de usinagem, assim como o tipo de material, é determinante para defi nir a velocidade de avanço. vf = f ∙ n ∙ z Onde: vf = velocidade de avanço mm min[ ]; f = distância percorrida pela ferramenta [mm]; n = número de rotações por minuto [rpm]; z = número de dentes (ou cortes) da ferramenta. Para operações com furação, a distância percorrida é calculada de acordo com a espessura da broca. Em operações com brocas de até 8 milímetros de diâmetro, utilizamos a primeira equação a seguir. Para brocas com diâmetro superior a 8 e inferior a 20 milímetros, utiliza-se a equação seguinte. Para brocas com diâmetro entre 20 e 50 milímetros, utiliza-se a próxima equação. O fator de correção (M), presente nas fórmulas, altera de acordo com o tipo de material e normalmente é informado pelo fabricante da ferramenta de corte. 0 < Ø < 8mm → f = 0,0250.Ø.M 8 < Ø < 20mm → f = (0,0150.Ø + 0,1) .M 20 < Ø < 50mm → f = (0,008.Ø + 0,19) .M Tempo de corte O tempo de corte nos fornece o tempo gasto para realizar uma operação de usinagem, e é obtido pela equação anterior, usada para os processos de usinagem que apresentam velocidade de avanço constante. tc = L vf Onde: tc = tempo de corte [min] vf = velocidade de avanço mm min[ ]; L = comprimento do corte [mm]. Grandezas físicas no processo de corte8 Fatores externos que influenciam as grandezas físicas durante o processo de usinagem Nas operações de usinagem, é preciso avaliar vários fatores para defi nir os melhores parâmetros de trabalho, sendo quase impossível defi nir propriedades com base somente em um fator. Muitas vezes, eles se correlacionam; por exemplo, a velocidade de corte é dependente do material da ferramenta de corte e a ferramenta é dependente do material da peça. Com isso, ao executar uma operação de usinagem, é preciso levar em consideração o maior número de fatores conhecidos. Material da peça: as matérias-primas mais usadas na operação de usinagem são o aço, o aço-liga ou o ferro fundido (MACHADO et al., 2009; DINIZ; MARCONDES; COPPINI, 1999). As características mecânicas de dureza e ductilidade são fatores determinantes no processo de usinagem. Metais que apresentam alta ductilidade e baixa dureza, não permitem elevada taxa de velocidade de corte, assim como os que apresentam altos valores de dureza (superiores a 240 HB). Os materiais que apresentam maior dureza apresentam maior resistência ao corte e provocam maior desgaste da ferramenta de corte. Material da ferramenta: durante a usinagem, o material da ferramenta necessita cortar o material a ser usinado, mas, para tal operação, ele precisa ser mais duro que a matéria-prima, ao mesmo tempo em que precisa ser tenaz; porém, à medida que se aumenta a dureza, a tena- cidade, geralmente, diminui. Por esse motivo, encontrar/desenvolver um material com essas características vem sendo objetivo de diversas empresas. Os materiais mais utilizados para ferramentas de cortes são: aço-rápido (HSS), metal duro (Widea), cerâmica (compostas por carbonetos, nitretos e óxidos), e materiais de alta dureza (apresentam maiores valores de dureza). A Figura 3 apresenta a divisão do material de corte para operações de usinagem com geometria definida. Temperatura na região de corte: como você deve ter lido anterior- mente, a velocidade de corte interfere na temperatura do processo. O aquecimento excessivo da região de corte pode causar avarias na ferramenta e/ou na peça, ou simplesmente aumentar o desgaste da ferramenta, tornando a operação mais onerosa. Para evitar o supera- quecimento, alguns materiais são usinados com o fluido de corte, que dentre outras aplicações visa refrigerar a região de contato da peça com a ferramenta (MACHADO et al., 2009). 9Grandezas físicas no processo de corte Figura 3. Divisão dos materiais de corte empregados em ope- rações de usinagem. Fonte: Adaptada de Fracaro (2017, p. 42). M at er ia l Aço ferramenta Aços para trabalho a frio Aços para trabalho a quente Cerâmicas de nitreto de silício (não óxidas) Ações rápidas WC-CO TiC/TiN-CO, Ni WC (Ti, Ta, No) C-Co Cerâmicas óxidas Cerâmicas mistas Diamante Nitreto de boro Metais duros Cerâmicos Materiais de alta dureza 1. Qual é a definição do processo de usinagem? a) Usinagem é todo processo de fabricação que transforma a matéria-prima por meio de deformações plásticas. b) Usinagem é um processo mecânico que confere à peça determinada geometria por meio de cortes realizados acima da temperatura de fusão. c) Usinagem é todo processo de fabricação onde o material Grandezas físicas no processo de corte10 removido pela ferramenta de corte é caracterizado por apresentar formato irregular. d) Usinagem é um processo de fabricação no qual o produto final é obtido por meio de reações químicas. e) Usinagem é todo processo de fabricação onde a ferramenta de corte provoca a remoção do material por meio de impactos. 2. A operação de usinagem apresenta dois movimentos distintos: o movimento que não provoca a remoção de cavaco e o movimento que provoca a geração de cavaco. Acerca desses movimentos, assinale a alternativa correta. a) Movimento de aproximação – o objetivo desse movimento é posicionar a aresta de corte da ferramenta de forma a iniciar o processo de usinagem. b) Movimento de correção – utilizado quando a ferramenta de corte apresenta algum desgaste. c) Movimento de avanço – movimento caracterizado pela aproximação entre a aresta de corte da ferramenta e a peça a ser usinada. d) Movimento de corte – movimento caracterizado pela retirada de duas camadas de material da peça. e) Movimento de corte efetivo – movimento realizado pela peça em direção à aresta de corte da ferramenta. Esse movimento permite a remoção continuada de material da peça. 3. Uma peça com 0,01 metro de diâmetro necessita ser torneada. O torno a qual a peça será usinada trabalha com 955 rotações por minuto. Qual será a velocidade de corte em metros/minutos da operação? De acordo com a tabela, qual seria o material dessa peça? a) 30 m/min – aço carbono com resistência até 500 N/ mm2 ou ferro fundido com até 200 HB de dureza. b) 30 m/min – aço carbono com resistência até 700 N/ mm2 ou ferro fundido com até 200 HB de dureza. c) 18 m/min – aço liga com resistência até 900 N/ mm2 ou ferro fundido com até 240 HB de dureza. d) 18 m/min – aço carbono com resistência até 900 N/ mm2 ou ferro fundido acima de 240 HB de dureza. e) 3 m/min – aço carbono com resistência até 500 N/ mm2 ou ferro fundido com até 200 HB de dureza. 4. Uma empresa de usinagem precisa passar o orçamento para seu cliente. Para isso, é preciso calcular o tempo gasto para execução do serviço. O serviço orçado foi: realizar 4 furosde 2 mm em 30 chapas de 3 mm de espessura. Calcule o tempo gasto para realização do serviço. Desconsidere o tempo gasto com a movimentação da furadeira e com a troca de chapas. A furadeira trabalha com limitação de 300 rpm. Utilize M = 1. a) 24 minutos b) 6 horas c) 16 minutos d) 40 horas e) 26 horas 11Grandezas físicas no processo de corte 5. Os materiais apresentam características mecânicas que interferem no processo de usinagem, podendo comprometer toda a operação. Respectivamente, quais são as características mecânicas buscadas na ferramenta de corte, e quais são as características mecânicas apresentadas pelo material a ser usinado que dificultam a sua usinagem? a) Dureza e ductilidade / Tenacidade e dureza b) Dureza e refratariedade / Dureza e ductilidade c) Tenacidade e dureza / Dureza e ductilidade d) Ductilidade e tenacidade / Dureza e refrateriedade e) Dureza e tenacidade / Dureza e refrateriedade ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6162:1989. Movimentos e relações geométricas na usinagem dos metais – terminologia. Rio de Janeiro: ABNT, 1989. DINIZ, A. E.; MARCONDES, F. C.; COPPINI, N. L. Tecnologia da usinagem dos materiais. São Paulo: MM Editora, 1999. FRACARO, J. Fabricação pelo processo de usinagem e meio de controle. Curitiba: Inter- saberes, 2017. MACHADO, A. R. et al. Teoria da usinagem dos materiais. São Paulo: Edgard Blücher, 2009. REBEYKA, C. J. Princípios dos processos de fabricação por usinagem. Curitiba: Intersa- beres, 2016. Leituras recomendadas FERRARESI, D. Fundamento da usinagem dos metais. São Paulo: Edgard Blücher, 1970. FITZPATRICK, M. Introdução aos processos de usinagem. Porto Alegre: AMGH, 2013 (Série Tekne). Grandezas físicas no processo de corte12 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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