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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Registro: 2020.0000955229 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319, da Comarca de Lençóis Paulista, em que é apelante MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, são apelados ARIOVALDO RODRIGUES DE MENEZES, WILLIAN MIRANDA CABEÇONI, ANTONIO SABINO PEREIRA e GERSON INACIO DA SILVA. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 2ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores COSTABILE E SOLIMENE (Presidente sem voto), LUIZ FERNANDO VAGGIONE E FRANCISCO ORLANDO. São Paulo, 23 de novembro de 2020. AMARO THOMÉ Relator Assinatura Eletrônica PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 -Voto nº 2 Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 Comarca de Lençóis Paulista 3ª Vara Cumulativa Apelante: Ministério Público Apelados: Willian Miranda Cabeçoni, Ariovaldo Rodrigues de Menezes, Gerson Inácio da Silva e Antonio Sabino Pereira Voto nº 26.307 FURTO QUALIFICADO E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA - ABSOLVIÇÃO EM PRIMEIRO GRAU RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PRETENDIDA A CONDENAÇÃO NOS EXATOS TERMOS DA DENÚNCIA - NÃO ACOLHIMENTO AUTORIA NÃO SE ENCONTRA SUFICIENTEMENTE COMPROVADA - INDÍCIOS INSUFICIENTES PARA A FORMAÇÃO DO JUÍZO CONDENATÓRIO AUSÊNCIA DE PROVA ACUSATÓRIA PRODUZIDA SOB O CRIVO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA INTELIGÊNCIA DO ART. 155, CPP FRAGILIDADE PROBATÓRIA OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO REO ABSOLVIÇÃO MANTIDA - RECURSO NÃO PROVIDO. Cuida-se de apelação interposta pelo Ministério Público objetivando a reforma da r. sentença de fls. 1336/1355, que absolveu Willian Miranda Cabeçoni, Ariovaldo Rodrigues de Menezes, Gerson Inácio da Silva e Antonio Sabino Pereira das imputações que lhes foram endereçadas na denúncia, da prática dos crimes previstos no art. 155, §4º, incisos I e IV, c. c. o art. 29, e art. 288, caput, todos do Código Penal, com base no art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 -Voto nº 3 Inconformado, o combativo representante do Ministério Público recorre (fls. 1375/1392), pleiteando a condenação dos réus nos exatos termos da denúncia. Recurso devidamente contrarrazoado (fls. 1396/1399, 1400/1409, 1412/1427 e 1428/1437). A Douta Procuradoria-Geral de Justiça opina pelo provimento do apelo (fls. 1453/1473). Anote-se expressa oposição da defesa do réu Willian ao julgamento virtual (fls. 1449/1450). É o relatório. O recurso não comporta provimento. Ao que consta da denúncia (fls. 416/422), “entre os anos de 2010 e 2017, em local incerto, mas certamente na Cidade de Borebi, Comarca de Lençóis Paulista, WILLIAN MIRANDA CABEÇONI, vulgo “Japonês”, GERSON INACIO DA SILVA, vulgo “Chequinho”, ARIOVALDO RODRIGUES DE MENEZES, vulgo “Neguinho do assentamento” e ANTONIO SABINO PEREIRA, vulgo “Totó”, bem como com outras pessoas até aqui não identificadas, associaram-se para o fim específico de cometer crimes”. Consta nos autos do Inquérito Policial que, “no dia 17 de abril de 2017, por volta das 06 horas, na Fazenda Santo Henrique, localizada na Zona Rural da Cidade de Borebi, Comarca de Lençóis Paulista, os denunciados WILLIAN MIRANDA CABEÇONI, PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 -Voto nº 4 vulgo “Japonês”, GERSON INACIO DA SILVA, vulgo “Chequinho” e ARIOVALDO RODRIGUES DE MENEZES, vulgo “Neguinho do assentamento”, concorreram para que terceiros desconhecidos subtraíssem, para si ou para outrem, com destruição ou rompimento de obstáculo e mediante concurso de duas ou mais pessoas, 9.799 litros de óleo diesel, 16 baterias de tratores, 05 motores de arranque dos tratores, 02 alternadores, 02 roçadeiras manuais, 05 motosserras, lixadeiras elétricas, pneumáticas, furadeiras, macaco hidráulico, diversos equipamentos de proteção individual, utensílios de cozinha, 293 litros de gasolina, 283,5 litros de óleo de motor, 157 litros de defensivo agrícolas, 82,4 litros de inseticidas de grande valor e 341,55 litros de fungicida, todos pertencentes à empresa Sucocítrico Cutrale LTDA”. Consta, por fim, que, “mas mesmas condições de tempo e lugar, o denunciado ANTONIO SABINO PEREIRA, vulgo “Totó”, subtraiu, para si ou para outrem, com destruição ou rompimento de obstáculo e mediante concurso de duas ou mais pessoas, 130 litros de óleo diesel e uma bateria automotiva de 12 Volts, marca Ultralux, modelo U100MFY, pertencentes à empresa Sucocítrico Cutrale LTDA”. Segundo o apurado, “os denunciados WILLIAN MIRANDA CABEÇONI, GERSON INACIO DA SILVA, e ARIOVALDO RODRIGUES DE MENEZES tratam-se das lideranças do Movimento Sem Terra MST na região de Lençóis PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 -Voto nº 5 Paulista e juntos já organizaram diversas ocupações das terras utilizadas pela Sucocítrico Cutrale LTDA para o plantio de laranja na zona rural da Cidade de Borebi”. Dessa forma, “sob o pretexto de promover a reforma agrária, WILLIAN MIRANDA CABEÇONI, GERSON INACIO DA SILVA, e ARIOVALDO RODRIGUES DE MENEZES associaram-se para, reiteradamente, praticar crimes de furto, dano ao patrimônio particular e esbulho possessórias nas propriedades rurais da região de Lençóis Paulista, Borebi e Agudos”. “ANTONIO SABINO PEREIRA, por sua vez, “ciente de que poderia subtrair bens das propriedades rurais invadidas pela organização encabeçada pelos demais denunciados, voluntariamente passou a integrar o Movimento Sem Terra, não obstante ser proprietário de uma carvoaria na Cidade de Borebi”. Apurou-se que, “desde no o ano de 2004, o Movimento Sem Terra realizou cerca de 18 ocupações ilegais, sendo WILLIAN MIRANDA CABEÇONI líder das ações por no mínimo desde 2010, agindo sempre de mesma forma: 1) O movimento aproveita da sua superioridade numérica para assumir a posse das propriedades; 2) Os integrantes do movimento arrombam as portas e furtam todos objetos e insumos que desejam; 3) Todos deixam o local dos fatos após decisão judicial de reintegração de posse, sem restituir os objetos subtraídos e deixando os mais diversos danos patrimoniais às custas dos PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 -Voto nº 6 proprietários, tudo em conformidade com os Boletins de Ocorrência de fls. 234/287”. No dia 17 de abril de 2017, “WILLIAN MIRANDA CABEÇONI, na qualidade de líder da organização, e GERSON INACIO DA SILVA, e ARIOVALDO RODRIGUES DE MENEZES, integrantes assíduos do Movimento Sem Terra, cooptaram cerca de 120 pessoas para a ocupação da Fazenda Santo Henrique, de propriedade da Sucocítrico Cutrale LTDA, a fim de integrarem um suposto plano nacional de ocupações promovido pela liderança federal do movimento social”. Todos os denunciados, “em companhia de mais cerca de 120 pessoas desconhecidas, então, trataram de dirigirem-se para a Fazenda Santo Henrique logo no nascer do dia e, sem muita resistência dos funcionários da Sucocítrico Cutrale LTDA, tomaram posse do imóvel”. WILLIAN MIRANDA CABEÇONI “prontamente determinou que as câmeras de segurança fossem quebradas, a fim de evitar a filmagem da ação de seus comandados”. WILLIAN MIRANDA CABEÇONI, “com o objetivo de estar sempre ciente das ações dos funcionários da ofendida, ainda tratou de reter os rádios comunicadores, o que o permitia ouvir possíveis diálogos dos prepostos da Cutrale”. Neste contexto, “sob a ordem e liderança dePODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 -Voto nº 7 WILLIAN MIRANDA CABEÇONI e supervisão de GERSON INACIO DA SILVA, e ARIOVALDO RODRIGUES DE MENEZES, integrantes do Movimento Sem Terra passaram a arrombar as portas dos alojamentos, cozinha, almoxarifado e oficinas da fazenda para ter acesso aos mais diversos bens móveis disponíveis para o exercício da atividade da ofendida. Também foram arrombadas as travas das bombas de combustíveis utilizadas para abastecimento dos veículos e tratores da vítima, o que permitiu o acesso ininterrupto dos integrantes do movimento à gasolina e óleo diesel”. Dessa forma, “os integrantes do Movimento Sem Terra, dentre eles o denunciado ANTONIO SABINO PEREIRA, com consentimento e colaboração de WILLIAN MIRANDA CABEÇONI, GERSON INACIO DA SILVA, e ARIOVALDO RODRIGUES DE MENEZES, apanharam para si ou para outrem todos os bens móveis acima descritos, tomando rumo incerto após a desocupação da fazenda”. Ocorre que, “iniciadas as investigações, apurou-se a presença da Caminhonete Ford F1000, placas BKH-4137, de propriedade de ANTONIO SABINO PEREIRA, durante a ocupação. Em diligências em uma carvoaria onde ANTONIO SABINO PEREIRA trabalha, Policiais Militares lograram encontrar 130 litros de óleo diesel, separados em quatro galões de 20 litros e um de 50 litros, e uma bateria automotiva de 12 Volts, marca Ultralux, modelo U100MFY, que foram por ele subtraídos no dia dos fatos”. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 -Voto nº 8 Apurou-se que “a destruição e rompimento de obstáculo à subtração das coisas foram comprovadas por meio do laudo pericial de fls. 221/231, bem como pelas fotografias de fls. 95/205, e os bens subtraídos somavam a quantia de R$ 67.870,29 (sessenta e sete mil, oitocentos e setenta reais e vinte e nove centavos), conforme memorial descritivo de fls. 94. O prejuízo total causado à Sucocítrico Cutrale LTDA foi avaliado em R$ 1.265.326,60 (um milhão, duzentos e sessenta e cinco mil, trezentos e vinte e seis reais e sessenta centavos) (fls. 77)”. A materialidade do delito restou demonstrada pelo boletim de ocorrência (fls. 10/11), auto de exibição e apreensão (fl. 47) e laudo pericial (fls. 247/257), e demais elementos probatórios constantes nos autos. A autoria, porém, não ficou demonstrada com a segurança necessária ao édito condenatório. A prova oral colhida em juízo, consistente nos depoimentos dos policiais Luiz Vagner Bortolucci e Luiz Carlos da Silva, e das testemunhas Tiago Rodrigues Muza e Luiz Paulo Martins Gouveia, funcionários da Fazenda Santo Henrique invadida, não corroborou os depoimentos prestados na fase inquisitiva, não se podendo afirmar que os bens da vítima foram subtraídos pelos apelados. Do confronto analítico do conjunto probatório colacionado aos autos, pairam severas dúvidas sobre a imputação PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 -Voto nº 9 objetiva definida na exordial acusatória, senão vejamos. A r. sentença assim considerou a prova: O depoimento do policial militar Luiz Vagner Bortolucci, conforme fundamentado pelo juízo a quo, “somente soube dizer que possivelmente ANTONIO estaria com uma bateria e com parte do óleo diesel furtados da Fazenda Santo Henrique, não sabendo dizer mais nada a respeito dos outros réus. Contudo, a bateria em questão foi devolvida a ANTONIO (fl. 87), evidenciando-se o fato de tal objeto não pertencer à Cutrale, colocando-se em dúvida, por outro lado o suposto furto do combustível por parte do referido réu” (fl. 1342). Já o policial civil Luiz Carlos da Silva, ainda segundo o magistrado, “embora tenha avistado WILLIAN no local, não há menção expressa sobre o que ele teria subtraído ou determinado subtrair, tendo a testemunha apenas conhecimento de que ele, juntamente com ARIOVALDO e GERSON já participaram de outras ocupações ocorridas anteriormente aos fatos. Quanto a ANTONIO, não trouxe mais detalhes além do que o PM LUIZ VAGNER BORTOLUCCI havia colocado” (fl. 1344). Tiago Rodrigues Muza, funcionário da empresa-vítima, “não presenciou os fatos, apenas sabendo dizer sobre eles mediante informações que lhe chegavam, mas nada que tenha observado de forma direta, não trazendo, portanto, elementos que PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 -Voto nº 10 ajudassem a esclarecer os supostos crimes ocorridos na Fazenda Santo Henrique” (fl. 1345). Por fim, o coordenador de segurança da empresa-vítima, Luiz Paulo Martins Gouveia, também “não presenciou diretamente os fatos, sabendo dizer apenas que em outras invasões ocorridas WILLIAN estaria envolvido e liderando seus companheiros. As informações obtidas pela testemunha, relativamente à invasão objeto desta demanda, foram mediante alegações de vigias que trabalhavam na Fazenda Santo Henrique, que nem sequer foram ouvidas na fase judicial. Em suma, nada soube dizer sobre o que ocorreu a invasão ocorrida em 17/04/2017” (fl. 1347). Todos os quatro acusados, ouvidos em juízo, negaram a subtração dos bens, em que pese Ariovaldo e Gerson tenham admitido ter participado da invasão à Fazenda Santo Henrique, contudo, sem praticar o crime patrimonial. Willian também admite ter participado de diversas invasões, informando que a empresa Cutrale ocupa terras que envolve disputas com a União, no que se refere a questão reforma agrária, todavia, afirma categoricamente que, na data dos fatos, não estava na Fazenda Santo Henrique, logo, não praticou o crime descrito na exordial. Por fim, Antonio também nega a prática delitiva, afirmando que a bateria e o óleo diesel encontrados em PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 -Voto nº 11 sua propriedade lhe pertenciam, em que pese não possuir a nota fiscal dos referidos bens. A prova oral compilada não aponta, de maneira segura e estreme de dúvidas, que Ariovaldo, Gerson, Willian e Antonio tenham praticado os delitos de furto qualificado e associação criminosa descritos na denúncia. Assim, não há confissão judicial dos acusados, e os depoimentos dos dois policiais e das duas testemunhas, ouvidas em juízo, não foram firmes, categóricos e harmoniosos no sentido de que os acusados tenham sido os autores do crime patrimonial praticado na Fazenda Santo Henrique, tampouco, presenciaram os fatos. A r. sentença considerou a prova frágil, fundamentando a absolvição com os seguintes argumentos: “A prova oral colhida em juízo, conforme adiantado, não demonstra de forma insofismável a autoria, já que, de fato, nenhuma das testemunhas presenciou diretamente os fatos, apenas relatando o que outras pessoas teriam afirmado a elas. É bem verdade que na fase policial houve menções de que WILLIAN teria coordenado a invasão de mais de 100 pessoas à Fazenda Santo Henrique e, lá, teria determinado a subtração dos bens, incluindo o arrombamento de portas e armários da sede do local. Entretanto, conforme adiantado, as pessoas que fizeram tais assertivas PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 -Voto nº 12 não foram inquiridas sob o crivo do contraditório, permanecendo tais elementos apenas na fase policial, o que é inservível para formar o convencimento deste juízo para um decreto condenatório, nos termos do art. 155 do CPP. Além disso, o único ponto em que poderia ser reconhecida a participação de ao menos um dos réus no suposto furto qual seja, o fato de a camionete de ANTONIO ter sido vista no local dos fatos e, com isso, a diligência policial em sua propriedade, localizando-se uma bateria e 130 litros de óleo dieselé duvidoso, uma vez que a bateria foi apreendida pela autoridade policial e, em seguida, devolvida a ANTONIO (fl. 87), pois não se identificou tal objeto como um dos que foram subtraídos. Outrossim, os elementos probatórios não indicam a forma como se deu a subtração, não sendo crível, a bem da verdade, que os quatro réus tivessem conseguido furtar de forma tão sorrateira a quantidade de quase 10 mil litros de óleo diesel 16 baterias de tratores, 05 motores de arranque dos tratores, 02 alternadores, 02 roçadeiras manuais, 05 motosserras, lixadeiras elétricas, pneumáticas, furadeiras, macaco hidráulico, diversos equipamentos de proteção individual, utensílios de cozinha, 293 litros de gasolina, 283,5 litros de óleo de motor, 157 litros de defensivo agrícolas, 82,4 litros de inseticidas de grande valor e 341,55 litros de fungicida, considerando-se que nenhuma testemunha observou exatamente o momento que cada item ia sendo PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 -Voto nº 13 levado, a forma como estavam conduzidos e onde foram acondicionados. O que se têm, na realidade, são imputações feitas de forma geral aos réus, apenas se detalhando um pouco mais relativamente a WILLIAN, apontando-o como suposto chefe. Porém, as testemunhas não conseguiram precisar como essa liderança era exercida (pois nenhuma delas presenciou os fatos) nem como os demais réus agiram para a consecução dos delitos a eles imputados. Além disso, embora seja incontroverso que WILLIAN tenha se valido do pleito de reforma agrária para realizar invasões a fazendas anteriormente à ocorrida em 17/04/2017, praticamente todos os boletins de ocorrência de fls. 260/356 apontam que ele era o autor dos fatos lá imputados, sem fazer qualquer menção aos demais réus, o que também afasta as alegações na denúncia de que havia uma associação entre eles para cometimento de crimes. Além disso, repise-se, na fase instrutória, sob o contraditório, essa suposta associação não foi confirmada, nem a forma como ela seria organizada ou estruturada, tornando também impossível uma condenação no aspecto. Dessa forma, ausentes elementos probatórios suficientes para um decreto condenatório, a absolvição é medida que se impõe aos quatro réus” (sic, fls. 1353/1354). O comando constitucional do livre convencimento motivado está vinculado à análise das provas PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 -Voto nº 14 obtidas em contraditório judicial e, por interpretação lógica do sistema penal, é vedado basear-se exclusivamente nos elementos produzidos no inquérito, por não existir, em sua plenitude, o desenvolvimento da ampla defesa e do contraditório, corolários do devido processo legal. Tal disposição, aliás, é o espelho da redação inserida no art. 155, do Cód. de Processo Penal: “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”. Nesse sentido a jurisprudência do Col. STJ: “III - Ademais, nos termos do que dispõe o art. 155, do Código de Processo Penal, "O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas". Em outras palavras, ainda que o recorrente confessasse o crime em sede inquisitorial, tal elemento jamais poderia supedanear, isoladamente, a sua condenação, o que PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Criminal nº 0002657-35.2017.8.26.0319 -Voto nº 15 denota ainda mais a ausência de prejuízo no caso concreto” (RHC 72929/MG. Min. Rel. Felix Fischer. T5 Quinta Turma. Julgado em 02/02/2017. DJe 22/02/2017). Vale dizer, probabilidade não é certeza. Ressalto que o juízo de probabilidade não é suficiente, no processo penal, para lastrear uma condenação, sendo imprescindível para tal a certeza inequívoca da responsabilidade penal do agente, de sorte que: "Na valoração da prova testemunhal, na incerteza preferível a absolvição de um provável culpado à condenação de um possível inocente" (JUTACRIM 57/278). Preferível, sempre, a absolvição de um provável culpado à condenação de um possível inocente. Havendo dúvida quanto à existência do fato, é de rigor, nos termos do art. 386, inc. VII, do Código de Processo Penal, manter a absolvição, com base no princípio da presunção de inocência. Ante o exposto, nego provimento ao recurso. AMARO THOMÉ Relator 2020-11-23T16:49:28-0300 Not specified
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