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AULA 2 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA POSSE

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DIREITO CIVIL IV - CCJ0224 
Semana Aula: 2 
Posse: Elementos e teorias 
Tema 
Posse: Elementos e teorias. 
Palavras-chave 
Posse. Conceito. Teorias. Elementos. Classificações. 
Objetivos 
a) Compreender o instituto posse e sua aplicação no Direito das Coisas; 
b) Conhecer as teorias sobre posse e sua aplicação no Direito brasileiro; 
c) Identificar os elementos caracterizadores da posse; 
d) Classificar e conhecer as diversas formas de posse; 
Estrutura de Conteúdo 
UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS E POSSE 
1.2 Da Posse 
1.2.1 Teorias acerca da posse: o conceito de posse 
1.2.2 Posse: sujeitos, objeto e natureza jurídica 
1.2.3 Distinção entre posse, detenção e outros atos 
1.2.4 Classificação da posse 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS E POSSE 
 
1. Da Posse 
 
O significado técnico da palavra posse recebeu a influência de grandes escolas doutrinárias: 
a) para Savigny, a posse consistia na faculdade real e imediata de dispor fisicamente da coisa com intenção de 
dono e de defendê-la contra agressões de terceiros; 
b) para Ihering, a posse se retratava no fato de alguém proceder, intencionalmente em relação à coisa, como 
normalmente atua o proprietário, ou seja, a propriedade tem na posse a sua imagem exterior, a sua posição 
de fato. 
O art. 1.196 do CC apenas apresenta a definição de possuidor, mas não conceitua a posse. Assim, de acordo 
com o texto codificado, o possuidor é aquele que tem poderes inerentes à propriedade, conforme previstos 
no art. 1.228, do Código. Assim, Revela-se a posse quando um indivíduo exercita ou pode exercitar algum dos 
poderes correspondentes ao direito de propriedade, como o uso, gozo (fruição) ou disposição da coisa. 
Tradicionalmente, só pode haver posse onde haja propriedade privada. Entretanto, com base na concepção 
social, a posse não pode mais ser compreendida como mera visualização (ou aparência) de propriedade. A 
posse-moradia, a posse-trabalho, a posse-cultivo, entre outras, representam situações jurídicas que permitem 
o acesso à moradia, ao trabalho, à sobrevivência digna e, assim, decorrem da previsão constitucional do 
princípio e valor objetivo da dignidade da pessoa humana (art. 1°, III, CRFB/88), além de representarem 
concretizações dos direitos fundamentais no âmbito das relações privadas (arts. 5°, 6° e 7° da CRFB/88). 
 
O ponto central das discussões teóricas sobre a posse é a distinção entre ser possuidor e ser detentor, eis que, 
sob o ponto de vista exterior em termos fenomênicos não é possível distinguir possuidor de detentor, muito 
menos a qualidade da posse. A posse, em regra, exige que haja um assenhoreamento (uma senhoria como 
poder físico) com relativa autonomia. A posse independe de autorização legal e, por isso, é estranho à sua 
configuração o elemento da legalidade. Contudo, há a necessidade de que o bem seja suscetível de 
apropriação. Já em relação à situação do detentor, do chamado fâmulo da posse, a doutrina aponta os 
seguintes pressupostos: 
 
a) uma pessoa que conserva a posse em nome de outro; 
b) uma outra pessoa é titular do direito; 
c) uma relação de dependência entre elas; 
d) exercício da posse do dono pelo fâmulo em nome dele, de modo a cumprir ordens ou instruções suas, e não 
um poder próprio em benefício do dono. 
 
1.3.1. Teorias acerca da posse: o conceito de posse 
 
- O Direito Romano é referência permanente em torno do estudo histórico da posse. Diante de tal quadro, as 
duas principais teorias que foram construídas tiveram como base a tentativa de interpretar os textos romanos: 
a teoria subjetiva e a teoria objetiva. 
 
Teoria subjetiva - A posse se compõe de 2 (dois) elementos: 
 
1) o corpus, que consiste no elemento material representado pelo poder físico da pessoa sobre a coisa, 
pressupondo a apreensão desta, ou seja, a existência de relação exterior da pessoa com a coisa (um poder de 
dominação); 
 
2) o animus que se afigura no elemento intelectual (ou anímico) consistente na intenção de dono, ou seja, na 
vontade de ter a coisa como sua, daí as expressões animus domini . A posse resulta, assim, da conjunção dos 
elementos corpus e animus. Caso falte algum dos dois elementos, não há posse, e s im mera detenção, 
designada por Savigny como posse natural. 
 
Algumas severas críticas foram apresentadas à teoria subjetiva: o exagerado subjetivismo, a não admissão do 
desdobramento da relação possessória, a dificuldade de identificação do estado anímico para fins de ser 
precisado concretamente, além das dificuldades de ordem prática. A exacerbação da autonomia da vontade 
para configuração da posse, segundo a corrente subjetivista, foi objeto de várias críticas, eis que refletiu o 
ideário liberal-individualista que prevalecia na época da formulação teórica. 
 
Teoria objetiva - Parte da necessidade de se precisar a distinção entre as noções de posse e propriedade que, 
coloquialmente, são confundidas. A posse passa a caracterizar-se como o poder de fato e a propriedade como 
o poder de direito sobre a coisa. A teoria objetiva admite a separação dos dois poderes em casos de subtração 
da coisa (posse injusta) e de transferência do poder de fato sobre a coisa por iniciativa do proprietário (posse 
justa). 
 
Ihering sustentava que o ius possidendi tem importância prática para o proprietário, de modo que seu 
exercício (a utilização econômica da propriedade) consistia no uso da coisa por si mesmo (utilização imediata 
ou real), ou cedendo-a a outrem (utilização mediata ou jurídica). Todos os atos de uso, gozo e consumação da 
coisa têm a posse como condição, razão pela qual a privação da posse relativamente ao proprietário significa a 
paralisação da realização econômica da propriedade. A noção de propriedade acarreta, pa ra os objetivistas, 
necessariamente o direito do proprietário à posse. 
 
Deste modo, a posse, para Ihering, consiste no aspecto normal da relação do proprietário com a coisa, é a 
condição para a realização econômica da propriedade que se expressa no uti (uso), frui (fruição) 
e consummere (consumo). De acordo com a doutrina objetiva, a posse é a expressão material da propriedade, 
o que influenciou a redação do art. 485, do CC de 1916 e, conseqüentemente, do art. 1.196, do CC de 2002. 
Para a teoria objetiva, a tutela da posse decorre da defesa imediata da propriedade, e não se fundamenta na 
necessidade de evitar a violência. 
 
Deste modo, o corpus consiste no estado normal externo da coisa, sobre que se cumpre o destino econômico 
de servir aos homens, e animus deve ser encarado sob o prisma da affectio tenendi (a vontade de ter), ou seja, 
a vontade de se tornar visível como proprietário. Ihering não exige, portanto, a presença do animus 
domini para configuração da posse. A posse corresponde ao exercício de um poder sobre a coisa atinente ao 
da propriedade ou de outro direito real. 
 
Consequências: 
 
a) reconhece-se a qualidade de possuir a várias pessoas que, na concepção clássica, são considerados meros 
detentores, como o usufrutuário, o locatário, o comodatário, o transportador, o administrador, o depositário e 
o mandatário, entre outros; 
b) admite-se o desdobramento da relação possessória como um processo normal, decorrente da diversidade 
das formas de utilização econômica da coisa, daí o reconhecimento da distinção entre posse direta e posse 
indireta; 
c) admite-se a posse por outrem eis que não se exige a intenção de dono para caracterizá-la; 
d) reconhece-se a posse de direitos, inclusive no que tange à posse de direitos pessoais. 
 
Por outro lado, a maior crítica feita à teoria objetiva diz respeito à orientação consoante a qual a posse fica 
subordinada à propriedade e, portanto, não é dotada de autonomia e independência, sendo compreendida 
como mera exteriorização da propriedade. 
 
1.3.2. Posse: sujeitos, objeto e natureza jurídica 
 
Natureza da posse - Para a teoria subjetiva (Savigny), a posse é, ao mesmo tempo, um fato e um direito. 
Considerada em si mesma, a posse é um fato; consideradanos efeitos que produz (usucapião e interditos, 
entre outros), é um direito. Isto porque, como fato, a posse independe do ordenamento jurídico, tanto assim 
que pode se originar da violência, de negócio nulo, por exemplo. No entanto, levando em consideração os 
efeitos que ela produz, a posse é um direito. 
 
Já, de acordo com a teoria objetiva (Ihering), a posse é um direito (jus possidendi), assim entendido como o 
interesse juridicamente protegido, pois nela reúnem-se os dois elementos de um direito subjetivo, a saber, o 
elemento substancial (interesse) e o elemento formal (a proteção jurídica). 
 
Na realidade, a posse surge como um fato e, para a doutrina majoritária, sua proteção decorre da necessidade 
que o núcleo social tem de impedir o exercício arbitrário das próprias razões. Logo, a posse, em si mesma, não 
é um direito, mas em suas consequências o é. 
 
A posse, como exteriorização de uma certa situação de poder entre o homem e uma coisa, pode ser verificada 
em 3 (três) situações distintas: 
 
1) posse como conteúdo de certos direitos (posse-conteúdo); 
2) posse como requisito para aquisição de certos direitos reais (posse-condição de nascimento de direitos); 
3) a posse por si mesma (posse em si mesma). 
 
Sujeitos da posse - tanto pessoas naturais (ou físicas) quanto pessoas jurídicas, sejam de direito público ou de 
direito privado. 
Objeto da posse - A posse tem por objeto coisas (bens corpóreos), havendo polêmica quanto à 
admissibilidade da posse sobre direitos reais e, com mais intensidade, sobre direitos pessoais. A coisa, desde 
que não considerada fora do comércio jurídico, é objeto de posse, eis que viável sua utilização econômica seja 
direta ou indiretamente e, a esse respeito, não há discussão. 
Contudo, algumas polêmicas surgem: 
 
a) discute-se acerca da possibilidade de serem objeto de posse em separado os bens acessórios. Em se 
tratando de parte integrante e constitutiva da coisa principal de maneira que não possam ser destacados sem 
alteração e prejuízo da substância da coisa, entende-se que não é admissível a posse sobre o bem acessório; 
 
b) controverte-se ainda acerca da possibilidade de a posse incidir sobre cada um dos bens que integram a 
universalidade. Caso sejam universalidades de fato, compostas por coisas, obviamente que a posse pode 
incidir sobre cada uma delas (e não sobre a universalidade). Já na hipótese de serem universalidades de 
direito, sustenta-se a impossibilidade da posse eis que são abstrações jurídicas como no exemplo da herança. 
Contudo, todos os elementos que a integram, considerados individual e separadamente, são suscetíveis de 
posse eis que também compostos por direitos patrimoniais; 
 
c) há ainda, o tema dos novos bens e o objeto da posse. A questão remonta aos direitos autorais (Lei n° 
9.610/98), à propriedade intelectual dos programas de computador (Lei n° 9.609/98). A esse respeito, o 
Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula n° 228 do STJ, com o seguinte teor: É inadmissível o interdito 
proibitório para a proteção do direito autoral. 
 
No que concerne à questão do fornecimento/corte de energia, em regra, tem-se entendido que há obrigação 
de fazer no fornecimento de energia e, por isso, o regime a ser aplicado é o do Direito das Obrigações, mas há 
julgado que admitiu ação possessória para obstar o desligamento da linha telefônica ou a retirada do aparelho 
pela concessionária telefônica. O certo é que a realidade dos novos bens não se confunde com o objeto 
material dos Direitos Reais e, portanto, não podem ser considerados coisas propriamente ditas. Desse modo, a 
princípio, não se revela possível considerá-los como objeto de posse; 
 
d) A grande controvérsia diz respeito à posse de direitos. Alguns autores reconhecem apenas a posse dos 
direitos reais de fruição (ou gozo) como nos exemplos do uso, usufruto, habitação e servidão. Outros 
doutrinadores também incluem os direitos reais de garantia além dos direitos reais de gozo. Há, finalmente, 
aqueles que inserem, ainda, os direitos pessoais patrimoniais. Contudo, só pode haver posse sobre coisa, e 
não sobre direito (real ou pessoal). 
 
Posse dos direitos pessoais - A admissibilidade da posse dos direitos pessoais é considerada conseqüência 
lógica da noção de que a posse é o exercício de um direito, como postulado da teoria objetiva de Ihering. Para 
Savigny, não é possível tal admissão, eis que a posse corresponde ao poder físico sobre a coisa. 
 
Deste modo, a despeito de corrente mais liberal admitir a posse de direitos pessoais patrimoniais (ou direitos 
obrigacionais, de crédito), há posição predominante no sentido contrário. Rechaça-se, pois, a possibilidade da 
posse dos direitos pessoais de conteúdo extrapatrimonial, somente admitindo a posse dos direitos pessoais de 
conteúdo patrimonial, cujo exercício esteja ligado ao exercício de poderes sobre uma coisa corpórea, como 
nos exemplos do locatário, mandatário, depositário, entre outros. 
 
O interesse relacionado ao tema, em termos práticos, consiste na possibilidade de extensã o dos interditos 
possessórios à defesa de direitos pessoais atinentes ao exercício da função pública e à tutela possessória dos 
interesses individuais em face da Administração Pública, daí a construção teórica da denominada posse dos 
direitos pessoais. Sucede que, na atualidade, outros remédios e instrumentos processuais têm sido utilizados 
e servidos com maior precisão técnica para tal fim, como o mandado de segurança que é contemplado com 
previsão constitucional e infraconstitucional. 
 
1.3.3. Distinção entre detenção, posse e outros atos 
 
A detenção se caracteriza pela presença de dois elementos: 
a) a presença de um vínculo de subordinação entre o detentor e o titular da posse; 
b) o detentor conserva a coisa em seu poder, em nome do titular da posse e sob as suas instruções. Daí o 
detentor ser também denominado servidor da posse. 
 
O conceito de detenção é traduzido no art. 1.198, do CC - É o do fâmulo da posse em relação ao dono, ou seja, 
uma pessoa que, devido à dependência (compreendida sob o ponto de vista econômico) relacionada a outro 
indivíduo, exerce sobre a coisa não um poder próprio, mas sim o poder de fato por ordem do último. 
 
Deve-se ainda ressaltar que não se consideram possuidores, e sim equiparados a meros detentores, aqueles 
que têm mera permissão (deve ser expressa) ou recebem a tolerância do possuidor para manterem contato 
com a coisa, bem como não autorizam a aquisição da posse os atos violentos, clandestinos ou precários (art. 
1.208, CC). 
 
Finalmente, também pode ser considerada mera detenção a situação fática relacionada à pessoa no bem 
público de uso comum do povo ou de uso especial (art. 100, CC). Tratando-se de bens que apresentam 
finalidade pública, nos termos do ordenamento jurídico brasileiro se situam fora do comércio jurídico e, 
consequentemente, são insuscetíveis de apropriação privada. 
 
Não se pode, ainda, confundir posse com mera permissão (exemplo: solicitação de uso do bem, com 
permissão do proprietário ou mero possuidor) e com a tolerância (caso em que outra pessoa utiliza a coisa, o 
que é presenciado pelo possuidor ou proprietário que, no entanto, não interfere para proibir o uso). 
 
1.3.4. Espécies de posse 
 
Há 2 (duas) grandes classificações a respeito da posse em consonância com os critérios do modo de aquisição 
e da subjetividade: 
 
1) acerca do modo de aquisição no que pertine ao reconhecimento (ou não) de vícios objetivos, a posse se 
divide em posse justa e posse injusta; 
 
2) no plano da subjetividade pode-se distinguir a posse de boa fé da posse de má fé. A presença (ou ausência) 
de qualquer dos vícios objetivos influi na qualificação da posse (justa ou injusta), podendo o possuidor ter (ou 
não) convicção de que seu poder é legítimo ou ilegítimo (posse de boa fé ou de má fé). 
 
Há, no entanto, vários outros critérios de classificação da posse, inclusive sob a perspectiva da funcionalização 
da posse. Contudo,deve haver especial cuidado na análise da doutrina e legislação estrangeiras a respeito da 
posse, eis que não existe uniformidade nos conceitos e terminologia. 
Posse direta e indireta - A divisão da posse em direta e indireta atende a uma necessidade prática, a saber, a 
determinação acerca das pessoas que merecem proteção possessória, identificando as conseqüências 
jurídicas que se relacionam à posse na sua plenitude. Lembre-se que o desdobramento da posse somente é 
possível na concepção de Ihering no âmbito da teoria objetiva da posse. Assim, podem coexistir duas posses 
sobre a mesma coisa, ou seja posses paralelas que não se excluem. A distinção entre posse direta e posse 
indireta se verifica quando os poderes inerentes à propriedade possuem distintas titularidades e passou a ser 
importante para o fim de conferir proteção possessória às pessoas que detêm algum tipo de poder inerente à 
propriedade. 
 
Desdobramento da posse - A teoria subjetiva da posse não admitia, por exemplo, a posse do locatário, do 
comodatário, e considerava que o credor pignoratício e o depositário somente tinham posse derivada porque 
a lei expressamente o autorizou. A teoria objetiva da posse, ao contrário, passou a admitir o desdobramento 
da posse e, desse modo, reconheceu e legitimou a posse em favor das pessoas acima referidas na condição de 
possuidores diretos. 
 
O CC de 2002, no art. 1.197, encampou a possibilidade do desdobramento da relação possessória, referindo-se 
claramente à posse direta que pode coexistir com a posse indireta. Em razão da mediação que se estabelece 
entre posse direta e posse indireta, costuma-se designar o fenômeno como desmembramento vertical da 
posse, distinguindo-o do desmembramento horizontal da posse, este reconhecido em relação à composse. 
Distinção - A posse direta (também denominada de posse subordinada) é aquela reconhecida ao não 
proprietário a quem cabe o exercício de uma das faculdades da propriedade, por força de obrigação ou de 
direito real sobre coisa alheia. A posse direta envolve o exercício de contato físico imediato (direto) sobre o 
bem, permitindo que o possuidor administre o bem. É a posse pertencente à pessoa que tem a coisa sob seu 
poder físico e imediato, em razão de um direito real ou obrigacional. 
 
A posse direta é temporária, eis que entre o possuidor direto e o possuidor indireto existe uma relação jurídica 
de natureza transitória que tende a se extinguir, quando então todos os poderes se concentram na pessoa do 
titular da propriedade. Além disso, a posse direta é sempre derivada, sendo limitada no tempo. Entretanto, 
isto não obsta que o possuidor direto defenda sua posse por iniciativa própria, independentemente da 
assistência ou intervenção do possuidor indireto. Reconhece-se, inclusive, a possibilidade de o possuidor 
direto defender sua posse contra o possuidor indireto, e vice-versa. 
 
A posse indireta, por sua vez, é aquela que o proprietário conserva para si quando se demite, 
temporariamente, de um dos poderes elementares da propriedade, cedendo-o seu exercício a outra pessoa. 
Neste caso, o proprietário permanece como titular do ius possidendi, transferindo o ius possessionisou parte 
do ius possidendi a alguém. 
 
Pressupostos da posse indireta: 
a) que a coisa se encontre na posse direta de outra pessoa; 
b) que entre os dois possuidores direto e indireto haja relação jurídica de que derive o desdobramento da 
posse, seja por vínculo originário dos Direitos Reais, Direito das Obrigações, Direito das Sucessões ou Direito 
de Família. 
 
Posse justa e injusta - A classificação que distingue a posse justa da posse injusta leva em conta o 
reconhecimento da existência (ou ausência) de vícios objetivos quando da aquisição da posse. 
 
A posse justa é aquela cuja aquisição não repugna ao Direito, ou seja, é a posse isenta dos vícios da violência, 
clandestinidade ou precariedade no momento da sua aquisição pelo possuidor (art. 1.200, CC). 
 
Ao revés, a posse injusta é aquela cuja aquisição repugna ao Direito, cuidando-se da posse adquirida por 
modo proibido, apresentando vício objetivo na sua aquisição (violência, clandestinidade ou precariedade); é a 
posse ilícita no momento da sua aquisição. Os vícios da posse são a violência, a clandestinidade e a 
precariedade, daí a subclassificação da posse injusta em posse violenta, posse clandestina e posse precária. 
É importante mencionar a possibilidade da posse justa se transformar em posse injusta e vice-versa. A 
mudança do título da posse (justa e injusta) ocorre pela superveniência de uma causa exterior adversa à 
manutenção da mesma espécie de posse. 
 
2.4. Posse de boa fé e de má fé - A classificação que distingue a posse de boa fé e a posse de má fé também é 
adotada no CC (art. 1.201), apresentando clara importância prática quanto aos seus efeitos. Trata -se de 
classificação que leva em consideração o plano da subjetividade do possuidor quanto à circunstância de haver 
vício ou obstáculo que impeça a regular e legítima aquisição da coisa. 
 
A posse de boa fé é aquela em que o possuidor ignora o vício original, ou o obstáculo que lhe impede a 
aquisição da coisa. A boa fé é concebida de modo negativo, como ignorância, e não como convicção. Aspectos 
essenciais da posse de boa fé: a) existência de um vício obstativo da aquisição da posse, ou seja, uma mácula, 
mancha ou senão que restringe a aquisição da posse ao campo dos meros fatos; b) ou a presença de um 
obstáculo impeditivo da aquisição da posse, a saber, um empeço, um estorvo, um óbice à constituição da 
situação jurídica titularizada; c) e a ignorância, por parte do possuidor, da ocorrência do elemento material 
que impede a regular aquisição da coisa. Os tribunais brasileiros presumem a boa fé do possuidor. 
 
A posse de boa fé, por sua vez, se subdivide em posse de boa fé real e posse de boa fé presumida. A primeira 
ocorre quando a convicção do possuidor se fundamenta em elementos objetivos evidentes, não suscitando 
dúvida quanto à legitimidade da aquisição. A segunda consiste na posse de boa fé em que o possuidor tem 
justo título, gerando presunção iuris tantum. 
 
A posse de má fé, ao contrário, é aquela em que o possuidor tem consciência de que há obstáculo, ou sabe da 
existência do vício que impede a aquisição da coisa. É a posse em que o possuidor tem conhecimento do vício, 
sabe da ilegitimidade de sua posse e, apesar de tal conhecimento, mantém-se possuidor. Não basta a alegação 
da ausência de ciência da ilicitude como atitude passiva do indivíduo para caracterizar a posse de boa fé; há 
um aspecto dinâmico na questão da ciência de boa fé no sentido da investigação acerca da existência de 
proprietário ou de outro possuidor com melhor posse. Devem ser empregados todos os meios necessários 
para certificação da legitimidade de sua posse. 
 
A posse originalmente de boa fé pode, no curso da situação possessória, pode trans formar-se em posse de má 
fé. Há dificuldade em se determinar o momento em que a posse de boa fé perde esse caráter. Em tese, a boa 
fé desaparece quando as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui 
indevidamente, deslocando-se para dados objetivos (art. 1.202, CC). Há parcela da doutrina que defende que, 
neste caso, o momento da cessação da boa fé seria o momento da citação. 
 
Posse com ou sem justo título - Tal classificação é especialmente importante para o efeito da usucapião 
ordinária com a diminuição dos prazos para fins de reconhecimento do fenômeno da aquisição da 
propriedade através da usucapião, entre outros efeitos. Além disso, trata-se de classificação que se relaciona à 
classificação anterior na distinção entre posse de boa fé e posse de má fé. 
 
O justo título é a situação jurídica, o fato jurígeno que, formalmente, é hábil para transmitir um direito, mas 
que possui um defeito intrínseco, normalmente não conhecido pelo adquirente, daí a posse com justo título 
ser normalmente considerada como posse de boa fé (presumida).O título é considerado a causa eficiente da 
posse, a qualidade com que a pessoa figura na situação possessória, e não o instrumento comprobatório de 
negócio ou ato jurídico. O justo título configura estado de aparência que enseja a conclusão de que o 
indivíduo tem boa posse. 
A presunção de boa fé em favor do possuidor com justo título, no entanto, não é absoluta ( iuris et de iure), 
admitindo seu afastamento diante da certeza provocada pela prova em contrário ou decorrente de 
mandamento legal expresso proibitivo da presunção. 
 
Posse nova e posse velha - O CC de 2002 não reproduziu os antigos preceitos contidos nos arts. 507 e 508, do 
CC de 1916, que disciplinavam as denominadas posse nova e posse velha. A posse nova é aquela reconhecida 
com período temporal inferior a ano e dia. Já a posse velha é aquela reconhecida com período temporal 
superior a ano e dia. Tais preceitos, no entanto, prosseguem previstos no CPC, que atribui o direito de 
reintegração ou manutenção de posse liminarmente quando o esbulho ou a turbação datar de menos de ano 
e dia. 
 
Posse ad interdicta e ad usucapionem - A classificação que divide a posse ad interdicta e a posse ad 
usucapionem leva em conta os efeitos jurídicos da posse. 
 
A posse ad interdicta é aquela considerada em si mesma, correspondendo ao ius possessionis já que 
independe da existência de direito do possuidor sobre a coisa. É a posse apenas considerada como poder de 
fato sobre a coisa e, assim, merece proteção dos interditos possessórios. Posse ad interdicta é aquela apta a 
receber os benefícios da proteção possessória via os interditos (ações de reintegração e manutenção, e ação 
proibitória). Toda situação de fato caracterizada como posse, em regra, é tutelada via os interditos 
possessórios, inclusive o possuidor injusto e o possuidor de má fé quando sofrer ameaça ou agressão de 
terceiro. 
 
A posse ad usucapionem é aquela que apenas é reconhecida em favor da pessoa que possui a coisa como sua, 
ou seja, com a presença do animus rem sibi habendi (ou animus domini) de Savigny. Cuida-se da posse que 
enseja a usucapião como modo de aquisição da propriedade, ou em outras palavras, é o elemento de suporte 
fático da usucapião, a posse qualificada pelo animus domini. Não há usucapião sem posse, daí a posse ad 
usucapionem como modalidade de posse cujo titular é o possuidor que possui a coisa como lhe pertencendo. 
Não é necessário que o possuidor da coisa se julgue proprietário - opinio domini, sendo suficiente que tenha 
vontade de possuir a coisa como se ela lhe pertencesse. 
O locatário, por exemplo, somente tem posse ad interdicta eis que não apresenta o ânimo de ter a coisa para 
si. 
 
Outras classificações - Além dos critérios de classificação da posse mais conhecidos, há outros que se revel am 
importantes para certos fins e efeitos, além de haver classificação mais atual e contemporânea à luz da função 
social. 
 
Posse natural e civil - A posse natural é a posse considerada como poder físico sobre a coisa ou a possibilidade 
de utilização da coisa; posse que se exterioriza; exige-se o contato físico do possuidor em relação à coisa. A 
posse civil é a que decorre da lei sem que o possuidor pratique qualquer comportamento ou adote qualquer 
conduta para tanto, como no exemplo do direito de saisine no âmbito do Direito das Sucessões (art. 1.784, 
CC). 
 
Ius possessionis e ius possidendi - Trata-se de critério de classificação da posse que leva em consideração a 
figura do possuidor relativamente à coisa, daí a distinção entre ius possessionis e ius possidendi. O ius 
possessionis é a posse que decorre do poder físico, do assenhoreamento da coisa. O ius possidendi é a posse 
que existe por força de um direito, como no exemplo do proprietário que, em razão do direito real de 
propriedade, tem posse baseada no ius possidendi. 
 
Posse simples e posse funcionalizada - Na realidade, a tessitura da função social, seja na propriedade, seja na 
posse, se localiza na atividade desempenhada pelo titular da relação sobre a coisa à sua disposição. Se a 
função social da propriedade se exerce pela função social que a posse-conteúdo tem, ou seja, se é pela posse 
que a função da propriedade se cumpre, é correta a afirmação de que é a posse que tem uma função social 
saliente, e não a propriedade em si. 
A função social da posse gera a distinção entre a posse qualificada (ou posse social) e a posse simples. Atitudes 
como cercar, murar o terreno, construir um cômodo nos fundos, de modo a atrair, a tentar exteriorizar poder 
sobre a coisa, impedindo que outras pessoas se apossem da coisa imóvel, caracterizam a posse simples, ou 
seja, atos de gestor de negócios de modo a atender presumivelmente à vontade do dono da coisa. 
 
A posse funcionalizada permite a proteção do ser nas exigências mínimas da vida em sociedade, como um 
lugar para morar (posse-moradia), um lugar para plantar (posse-trabalho), um lugar para exercer as atividades 
econômicas e sociais relevantes, ou seja, seu exercício permite o atendimento aos direitos fundamentais de 
segunda geração. 
 
A posse com função social permite que o imóvel (urbano ou rural) atenda aos direitos fundamentais de 
segunda geração e, por isso, é mister reconhecer-se a necessidade de proteção especial à posse 
funcionalizada. 
 
Posse exclusiva, Composse e posses paralelas - Como regra, o objeto da posse deve ser exclusivo. A posse 
exclusiva é o que comumente ocorre. A título excepcional, no entanto, admite-se a pluralidade de possuidores 
sobre a mesma coisa. Se a propriedade pode ser comum, também é reconhecida a posse comum, exercida pro 
indiviso. Daí a regra do art. 1.199, do CC, que reconhece a composse, ou seja, a posse em comum da mesma 
coisa, no mesmo grau, de mais de uma pessoa. A composse é a posse de duas ou mais pessoas sobre cois a 
indivisa, desde que os atos possessórios de qualquer deles não excluam os demais. A composse é a comunhão 
da situação fática da posse, ao passo que o condomínio é a comunhão da propriedade. 
 
Os requisitos para configuração da composse são: a) a posse de duas ou mais pessoas; b) a coisa indivisa como 
objeto da composse. A composse é situação verificável nos casos de em que várias pessoas exercem 
simultaneamente ingerência fática sobre a mesma coisa, sem que as partes sejam localizadas, contando cada 
compossuidor com uma fração ideal sobre a posse. É alvissareiro salientar que cada compossuidor: 
 
a) é considerado possuidor do todo em relação a terceiro e, assim, poderá exercer todos os direitos que lhe 
competem, inclusive o de, per se, invocar a proteção possessória para a defesa da coisa comum no seu todo, e 
não apenas na sua parte ideal; 
 
b) deverá agir de modo harmônico e civilizado para não suprimir os direitos dos outros compossuidores, na 
relação interna. 
 
A composse pode terminar pela: 
a) divisão consensual ou judicial da coisa comum devido ao desaparecimento da coisa comum; b) posse 
comum de um dos compossuidores que isole uma parte da coisa comum, sem oposição dos demais, passando 
a praticar atos possessórios com exclusividade, acarretando uma divisão de fato. 
 
A composse oferece dois fenômenos: 
 
a) a posse pro-diviso que consiste naquela que o compossuidor continua a ter, em termos de contato físico e 
material, eis que antes da morte do antigo possuidor já tinha. Na posse pro-diviso, a coisa é divisível (apesar 
de manter-se indivisa), e os compossuidores podem exercer poderes sobre partes distintas; 
b) a posse pro-indiviso é aquela que os compossuidores passarão a ter pela primeira vez, porquanto nunca a 
tiveram anteriormente. Neste caso, a coisa é indivisível fisicamente e, por isso, não comporta o exercício de 
poderes em relação a partes distintas, e sim apenas sobre a totalidade da coisa. 
 
Por fim, a composse não pode ser confundida com o desdobramento da relação possessória em posse direta e 
posse indireta, em que os graus da posse são diversos, como nos exemplos do locador (possuidor indireto)e 
locatário (possuidor indireto). Neste caso, sobre uma coisa pode incidir mais de uma posse exclusiva, cada 
qual recaindo sobre poder diferente. O desdobramento da relação possessória em posse direta e posse 
indireta caracteriza, ao seu turno, a existência de posses paralelas em graus diferentes, o que distingue tal 
situação da composse. O fenômeno do desdobramento da relação possessória só foi admitido na teoria 
objetiva de Ihering. 
 
Convalescimento (interversão) da posse - De acordo com o Direito brasileiro, considera-se que a posse 
mantém o mesmo caráter em que foi adquirida, preservando suas características e particularidades, salvo 
prova em contrário (CC, art. 1.203). A regra é, portanto, a de que não há possibilidade de alguém, 
unilateralmente, modificar a qualificação da posse, convalescendo os vícios objetivos e subjetivos quanto à 
aquisição da posse. 
 
Contudo, duas exceções têm sido indicadas à imodificabilidade do caráter da posse: 
 
a) fato de natureza jurídica, que consiste na constituição de relação jurídica de direito real ou de direito 
obrigacional, convertendo-se a posse injusta em posse justa com base na intervenção da posse que se 
caracteriza pela bilateralidade; 
 
b) fato de natureza material, que se verifica quando da manifestação da inequívoca intenção do possuidor de 
privar o proprietário do poder de disposição sobre a coisa, mediante a prática de atos prolongados neste 
sentido, sem a oposição da pessoa que deveria reverter a situação. O Enunciado n° 237, da III Jornada de 
Direito Civil do Conselho da Justiça Federal, encampou tal orientação. 
 
Função social da posse - Tal como ocorre em relação à propriedade, a posse não pode ser dissociada da noção 
de função social. No sistema jurídico brasileiro, fundado na solidariedade política, econômica e social e na 
busca do pleno desenvolvimento da pessoa humana, o conteúdo da função social assume a idéia e o papel do 
tipo promocional na direção de que a disciplina das formas e espécies de posse e suas interpretações devem 
ser atuadas para garantir e promover os valores sobre os quais se funda o ordenamento.

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