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LIVRO_PLANTANTO_IGREJAS_SAUDAVEIS

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Prévia do material em texto

ANTÔNIO R. SIQUEIRA
Edição do Autor
2013
© 2013 Antônio Rodrigues Siqueira
Editor
Vânio Alves Limiro
Projeto Gráfico | Capa
Vânio Alves Limiro
1º edição – Abril 2013
Proibida a reprodução deste livro por
qualquer meio sem a devida permissão,
podendo ser usado apenas para citações
Impressão
Gráfica Renascer – Anápolis GO
Acabamento
Editora Visão – Goiãnia GO
Siqueira, Antônio Rodrigues
Plantando Igrejas Saudáveis / Antônio Rodrigues Siqueira
Anápolis, 2013
Dedico este livro à minha esposa Adriana 
Siqueira, e meus filhos Jonathan e Rebeca, que 
são meus parceiros no ministério.
SUMÁRIO
Apresentação ..............................................................................................9
Parte 1
Fundamentação teológica para a plantação de igrejas saudáveis
Capítulo 1
 O fundamento da missão da Igreja no antigo testamento ....................13
Capítulo 2
 Fundamentos da missão da Igreja no novo testamento .......................19
Capítulo 3
 A missiologia de Lucas / Atos .............................................................31
Capítulo 4
 A missão na perspectiva de Paulo .......................................................49
Capítulo 5
 O chamado missionário na perspectiva bíblica ...................................57
Capítulo 6
 Diferenças entre a teoria e a prática missionária da igreja ..................63
Parte 2
Aspectos práticos na plantação de igrejas saudáveis
Capítulo 7
 A nobre missão de plantar igrejas ......................................................71
Capítulo 8
 Elementos necessários na plantação de igrejas saudáveis ...................75
Conclusão .................................................................................................97
Bibliografia ...............................................................................................99
APRESENTAÇÃO
Porque plantar igrejas? Já não as temos em demasiado? 
Muitas pessoas questionam a necessidade de continuar 
plantando igrejas, alegando que já temos muitas igrejas.
Convivemos com uma força desproporcional de 
expansão do evangelho. Há regiões com grande oferta de 
igrejas e a há outras com poucas. Há, ainda, lugares que não 
contam com a presença da igreja. Essa injustiça faz com que 
alguns convivam com o privilégio de ter uma igreja perto de 
casa, enquanto outros jamais poderão visitar uma comunidade 
cristã. 
Plantar igrejas não é uma atividade para aventureiros 
e nem deve ser realizada como temos visto em nossos dias. 
Temos presenciado o surgimento de muitas “igrejas”, que 
aparecem como fruto de divisões eclesiásticas, outras por 
oportunismo comercial de seus líderes inescrupulosos. 
A plantação de igrejas saudáveis é a única forma de 
continuarmos a divulgar a mensagem de Cristo ao mundo de 
forma saudável e salutar. Como numa lavoura, a escolha do 
solo, o preparo, a escolha da semente, são determinantes para 
o sucesso da plantação, na plantação de igrejas também. É 
preciso que haja planejamento na escolha do local, na melhor 
estratégia para aquela localidade, a escolha da pessoa certa 
para aquela realidade. 
As experiências de plantação de igrejas saudáveis que 
estão dando certo são aquelas que deixaram o impulso e se 
planejaram com oração, estudo de campo, análise da sociedade 
e definição dos objetivos desejados na plantação de uma 
10 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
igreja. Cremos que a plantação de uma igreja saudável requer 
consciência teológica, preparo e planejamento.
Plantar igrejas é com certeza um elemento necessário 
para a continuidade da expansão do evangelho de Jesus Cristo 
na face da terra. 
Pretendemos neste trabalho comprovar essa ideia. 
Primeiro pela demonstração da fundamentação bíblica da 
missão da igreja, tanto no Velho Testamento quanto no Novo 
Testamento. Apresentamos também a incoerência existente 
entre a nossa teoria e prática missionária. Por fim, fazemos 
uma análise dos elementos que são necessários na plantação 
de igrejas saudáveis.
Anápolis, primavera de 2013.
Antônio R. Siqueira
Parte 1
FUNDAMENTAÇÃO
TEOLÓGICA PARA
A PLANTAÇÃO DE
IGREJAS SAUDÁVEIS
CAPÍTULO 1
O FUNDAMENTO DA
MISSÃO DA IGREJA NO
ANTIGO TESTAMENTO
No que diz respeito à missão, principalmente se aderimos à compreensão tradicional da missão como envio de pregadores a lugares distantes, o Antigo 
Testamento não traz indicações de que os crentes da antiga 
aliança fossem enviados por Deus para cruzar fronteiras 
geográficas, religiosas e sociais a fim de conquistar pessoas 
para a fé em Javé. (BOSCH 2002, p.35). O livro de Jonas, de 
certa maneira, não encaixa no conceito tradicional, até porque 
o profeta não foi enviado a proclamar boas novas de salvação, 
mas juízo. Ora, Jonas não estava interessado na tarefa.
Ainda assim o Antigo Testamento é fundamental para a 
compreensão de missão no Novo Testamento (BOSCH, 2002, 
p.35). Deus é o grande missionário do Antigo Testamento. 
Nele é revelado o envolvimento de Deus com as nações. O 
Deus de Israel é o criador e Senhor do mundo inteiro. 
Deus está tão preocupado com as nações quanto com 
Israel. As nações esperam pelo Senhor e confiam Nele 
(Is 51.5). A glória do Senhor é manifesta a todas elas 
(Is 40.5). Todas as nações da terra são convidadas a 
olharem para o Senhor e serem salvas (Is 45.22). O servo 
de Javé é conhecido como luz para os gentios (Is 42.6; 
49.6). Uma estrada é construída do Egito e da Assíria 
até Jerusalém (Is 19.23) e as nações são encorajadas 
14 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
a subirem até ao monte do Senhor (Is 2.5) e trazerem 
consigo presentes ao Senhor (Is 18.7). A finalidade disto 
é cultuar ao Senhor (Sl 96.9; Is 19.25; 25.6-8) (BOSCH, 
2002, P.36).
Deus se identificou com Israel com o objetivo de se 
revelar ao mundo. Assim, podemos concluir que o objetivo 
da eleição é o serviço. O amor de Deus supera as fronteiras 
culturais, religiosas, raciais e linguísticas e o seu desejo é que 
todos tenham a oportunidade de seguir a Cristo.
Veremos a seguir um breve resumo do que cada época do 
Antigo Testamento representa no desenvolvimento da missão.
I. O PROTO-EVANGELHO
A graça é o aspecto do caráter de Deus que sempre 
norteou a relação da humanidade com seu criador. Adão 
existiu, antes da queda, em um estado de relacionamento com 
Deus baseado na graça. 
O ato da criação, a doação da vida, a concessão de dons 
são elementos da graça de Deus presentes na humanidade 
antes da queda. A graça de Deus é o elemento do caráter de 
Deus que permite ao homem criado a permanência na presença 
de Deus e também o relacionamento em profundidade com o 
seu Criador.
A graça de Deus permeia toda a trajetória do plano 
salvífico de Deus para a humanidade, uma vez que no ato da 
queda, Adão rejeitou a vida na graça, optando por viver sem 
a graça. No ato de rebelião à graça o homem passou a existir 
num estado de desgraça e de separação da presença e glória 
de Deus. Paulo confirma esse princípio afirmando que “todos 
pecaram e foram destituídos da glória de Deus” (Rm 3.23). 
Por outro lado, Pedro afirma que “o Deus de toda graça nos 
restituiu à sua glória” (1 Pe 5.10).
Em Gn 3.15 encontramos a primeira menção da ação 
salvadora de Deus pela promessa de um redentor. A promessa 
deste redentor sustenta cinco fatos:
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 15
1. A salvação é operada por Deus, portanto fruto da 
graça;
2. A salvação triunfará sobre o pecado. Não existe 
dualismo: a ação de Deus triunfará sobre o pecado e o 
diabo;
3. A salvação afetará toda a humanidade. Isso não quer 
dizer que todos serão salvos, mas que a salvação é 
eficiente para todos;
4. A salvação só é possível pelo mediador;
5. A salvação está relacionada ao sofrimento do redentor. 
O inimigo deverá ferir seu calcanhar.
II. O PERÍODO PATRIARCAL
O chamado de Deus a Abraão revela a intenção de 
Deus em trabalhar com as nações. Ao estabelecer uma aliança 
com Abraão, Deus está separando um povo para si, que o 
representariaentre a humanidade.
A base da promessa de Deus a Abraão é “em ti serão 
benditas todas as nações da terra” (Gn 12.1-3). Essa promessa 
vai sendo transferida aos descendentes de Abraão, Isaque, Jacó 
e Judá (Gn 26.4; 28.14; 49.10).
O desenvolvimento do plano salvador de Deus no período 
patriarcal se desenvolve em duas perspectivas, a eleição e a 
vocação de Abraão. 
A eleição de Abraão é resultado da graça de Deus. Numa 
decisão livre de Deus, Ele decide retirar Abraão de sua terra e 
conduzi-lo rumo a uma terra desconhecida. A causa da eleição 
é notoriamente suscitar um povo que de forma obediente 
represente Deus entre as demais nações e assim possam 
abençoá-las.
A vocação de Abraão é resultado imediato de sua eleição. 
Ninguém que tenha sido escolhido por Deus pode se eximir da 
responsabilidade que esse chamado implica. Eleição e vocação 
são dois temas que estão intimamente relacionados. A eleição 
trata da nossa identidade e de quem somos, enquanto que a 
vocação trata da nossa missão, da nossa função no reino. A 
16 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
estrutura de 1 Pedro 2.9-10 enfatiza essa afinidade, Vós sois... 
a fim de que. Na primeira parte do versículo ele declara a 
nossa identidade: vós sois raça eleita, nação santa, sacerdócio 
real, povo de propriedade exclusiva de Deus. E na segunda 
metade há uma clara declaração de nossa missão “a fim de 
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou...”.
Ao entrar em aliança com Abraão Deus tinha como 
objetivo estabelecer um povo exclusivamente seu, zeloso e de 
boas obras. Por outro lado, Abraão ao aceitar a aliança com 
Deus sabia que deveria responder positivamente ao Deus que 
o chamara. A resposta esperada por parte de Abraão implicava, 
primeiro, em ter de renunciar uma série de aspectos de sua 
vida. Abraão renunciou pátria, família, seu conforto pessoal 
para partir em rumo desconhecido. Às vezes renunciar implica 
em ir para onde não sabemos. Renúncia é um princípio de fé. 
Só podemos renunciar quando cremos de verdade naquele que 
nos chamou, quando sabemos que aquele que nos chamou é 
poderoso para terminar a boa obra que começou em nós. O 
jovem rico é um exemplo de alguém que não quis renunciar.
Segundo, Abraão teria de se submeter inteiramente ao 
chamado do Senhor. Abraão partiu em submissão ao chamado 
do Senhor. Submissão é fruto de serviço e obediência. 
Submissão é uma resposta ao fato de se sentir amado. Sendo 
amado por Deus então me submeto a Ele. Se você puder negar 
a bondade e a misericórdia de Deus por você ai então você 
pode dizer não ao Senhor.
III. O PERÍODO MOSAICO
Em Êxodo 19.4-6 encontramos um texto central, pois 
revela a constituição de Israel como servo de Deus. A eleição 
de Israel é para o serviço, ou seja, ser testemunha de Deus 
entre as nações. A função da vocação sacerdotal é interpor 
entre Deus e os homens, tanto para a intercessão, como para a 
transmissão dos oráculos de Deus.
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 17
No pacto com Abraão Israel se torna povo de Deus; 
enquanto que no pacto com Moisés, Israel se torna servo de 
Deus entre as nações.
IV. O PERÍODO DAVÍDICO
Davi é reconhecidamente aquele que deu forma à nação 
de Israel. Ele deu contornos finais à geografia da terra santa, 
organizou o culto, foi o mentor do templo, embora não seja o 
construtor. Foi a partir dele que Jerusalém passou a ser o centro 
religioso de Israel e esse fator foi preponderante para que Israel 
cumprisse sua missão de ser sacerdócio real entre as nações. 
Quando Salomão fez sua oração de consagração do templo, 
deixou muito claro o desígnio e o propósito missionário do 
templo (1 Rs 8.43, 60)
Os salmos, em sua maioria escritos por Davi, enfatizam 
a necessidade de que toda a terra louve, adore e sirva ao Senhor 
(Sl 67; 86. 9-10).
V. O PERÍODO PROFÉTICO
A mensagem dos profetas, especialmente Isaías, é muito 
clara quanto ao seu impulso missionário. Entre os profetas 
menores podemos citar Sofonias (2.11; 3.20), Habacuque 
(2.20), Joel (2.28) e Amós (9.7-12). Entre os profetas maiores 
Isaías é o grande representante. Em quase todo o seu livro 
encontramos referências à missão de Israel para com o resto do 
mundo. Em Isaías encontramos alguns dos textos missionários 
mais notáveis do Antigo Testamento.
Numa perspectiva geral, a palavra dos profetas deixa 
claro que Israel tem uma mensagem destinada ao mundo e 
era essa a responsabilidade da nação-servo. O profeta Isaías 
resume isso com três ideias sobre a missão de Israel:
1. Designação divina: Jeová é a fonte e a origem da 
missão (Is 43.21);
18 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
2. Centralidade divina: Deus é o centro e a essência da 
missão (Is 44.6);
3. Universalidade: Essa missão era destinada a todas as 
nações: (Is 40.5; 42.1,6-7,10; 45.22-23; 49.6,26; 51.4-
5; 52.10,15).
CAPÍTULO 2
FUNDAMENTOS DA MISSÃO DA 
IGREJA NO NOVO TESTAMENTO
A missão no Novo Testamento traz consigo notas do Antigo. Ela não é dissociada da missão veterotestamentária, o que temos no Novo Testamento é o prosseguimento da 
ação missionária do Deus do Antigo Testamento.
I. A VISÃO MISSIONÁRIA DE JESUS NA 
PERSPECTIVA DOS EVANGELISTAS.
Os evangelhos são documentos missionários para a igreja. 
Eles foram escritos para ajudar as comunidades a recuperar a 
visão da missão que Jesus havia dado à igreja. Todos os quatro 
evangelhos foram escritos tardiamente. Marcos, por exemplo, 
o primeiro dos escritos entre os evangelhos, é datado de 60 
a.C. (WALLACE, 1998. p 1).
O Evangelho de João é o que mais deixa em evidência 
o compromisso missionário de Deus. Por mais de 60 vezes é 
usado o verbo ou substantivo correspondente a enviar, envio 
ou enviado. Um texto chave para esta compreensão é o da 
delegação que Jesus faz aos discípulos quando afirma: “Assim 
como o Pai me enviou, eu também vos envio”.
Lucas relata o ministério de Jesus focalizando a 
preocupação do Mestre por aqueles que estão perdidos. Ele é o 
único evangelista a descrever as parábolas em que Jesus ensina 
a necessidade de encontrar aqueles que estão perdidos.
20 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
Mateus é escrito para uma comunidade de cristãos 
judeus que estavam perdendo a visão do comprometimento 
com Jesus, o Messias. O evangelho de Mateus, como afirma 
Bosch, é tanto um documento pastoral como missionário, pois, 
se por um lado procura confortar os cristãos, por outro redefine 
as convicções missionárias deixadas pelo Messias (BOSCH, 
2002. p. 85).
II. AS CARACTERÍSTICAS DA MISSÃO DE 
JESUS
Para compreendermos essas convicções missionárias 
de Jesus, iremos abordar o texto de Mateus 9.35-38 como 
um referencial daquilo que Jesus nos deixou como modelo a 
seguir.
1. A MISSÃO DE JESUS É INCLUSIVA.
Pelo modelo de Jesus aprendemos que a missão é 
inclusiva. O Divino Mestre percorria todos os povoados, vilas 
e cidades. No contexto de Mateus, as cidades e povoados 
percorridos por Jesus são na Galiléia. Este fato é profundamente 
significativo, pois Galiléia era marginalizada pelos judeus do 
sul (Judéia), devido à miscigenação que ocorrera com o povo 
galileu. A Galiléia era chamada de “Galiléia dos gentios” e de 
lá era corrente dizer não havia nenhum profeta. Para uma ala 
do judaísmo Jonas não era considerado profeta, pela natureza 
do seu ministério. Era uma forma de ofensa discriminatória 
chamar alguém de Galileu.
Ao embrenhar por estes lugares, Jesus está dando um 
modelo de ação para a igreja. Esse modelo exige que tenhamos 
em mente um evangelho inclusivo, o que nos leva a entender 
um evangelho que chega de forma compreensível e acessível 
a qualquer nível da sociedade. A igreja não tem o direito de 
eleger aqueles que devem receber o evangelho. Não podemos 
fechar os olhos, fingir que não vemos aqueles que a sociedade 
insiste em fazer de conta que não existe.
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 21
O evangelho não é para uma elite ou para um grupo 
especial, mas deve ser anunciado em todos os lugares. O homem, 
não importando sua condição social,moral ou intelectual, é 
alvo do evangelho. Portanto, onde existe humanidade ali está 
um campo missionário. Temos então de ir onde o ser humano 
está.
2. A MISSÃO DE JESUS É PERCEPTIVA.
O modelo missionário aplicado por Jesus é também 
perceptivo. Sempre encontramos relatos da capacidade de 
Jesus para conhecer e compreender a realidade das pessoas. No 
texto de Mateus 9 o evangelista fala que Jesus viu a multidão 
e se compadeceu dela. Esta ideia de compaixão é muito forte 
e denota a capacidade de compreender a extensão da dor e 
do sofrimento de alguém. Compaixão tem a ver com algo que 
sentimos no mais profundo do nosso íntimo.
É muito importante essa habilidade de “ver” para o 
desenvolvimento de um ministério efetivo. O “ver” revela 
como devemos agir. O “ver” gera atitude. No caso de Jesus ele 
viu e se compadeceu. A insensibilidade é resultado de vermos 
e não sentirmos compaixão. Se não somos sensíveis, nossas 
atitudes serão de desprezo, rejeição, inação e repelência.
Como igreja nós somos ensinados nesse modelo de Jesus: 
envolvermos movidos pela percepção da realidade humana. O 
que Jesus viu naquela multidão foi descrito por Mateus em três 
estágios:
Primeiro eram os aflitos. Note que a palavra sugere 
alguém muito machucado e que, devido aos ferimentos, está 
agonizando de dor. O que Jesus vê é uma multidão que agoniza 
diante de tanto sofrimento e pecado. Os traumas causados pela 
queda estão ardendo e a dor é tão grande que essas pessoas 
expressam em seus semblantes a dor. Estão com a alma doída.
Segundo, eram os exaustos. As pessoas que Jesus vê 
estão machucadas e à beira da morte. O melhor exemplo de 
exaustão que encontramos na Bíblia, talvez seja o do homem 
que foi assaltado e deixado semimorto na margem do caminho, 
na parábola do bom samaritano.
22 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
Terceiro, eles eram como ovelhas que não tem pastor. 
Essa é uma expressão de cunho político (Nm 27.15-17; I Rs 
22.17). Deus levantou líderes para guiar Israel, para que as 
ovelhas do seu rebanho não ficassem sem pastor. Jesus está 
denunciando o descaso das autoridades, que abandonaram o 
povo à própria sorte.
A percepção de Jesus é ampla, ou seja, não é restrita a 
algumas áreas da vida do homem. Como igreja do Senhor Jesus 
nós precisamos aprender a perceber a realidade do homem e 
da sociedade que nos cerca. Sem essa percepção não teremos 
condições de amar e ajudar essas pessoas porque nos faltará o 
princípio básico que é o de compreender a verdadeira realidade 
do ser humano.
3. A MISSÃO DE JESUS É ENVOLVENTE.
No texto de Mateus 9, após perceber a realidade do 
homem, Jesus convida seus discípulos para que vejam a mesma 
realidade. O convite é para que se veja a seara. A seara é toda 
a realidade do homem. O convite de Jesus é para que vejamos 
o homem em sua miséria e desconforto, situações produzidas 
pelo pecado que o escraviza.
A fórmula como Jesus determina para que possamos nos 
inteirar desta realidade é orar. Ninguém pode orar por uma 
causa a não ser que esteja envolvido com ela. E ninguém pode 
estar envolvido com uma causa sem orar por ela. Aqueles que 
oram são os mesmos que são enviados. Comumente oramos 
para que Deus levante e envie pessoas, mas nem sempre 
estamos conscientes de que para orar é preciso estar envolvido. 
Quem ora já está comprometido.
4. O CONCEITO DE SEMEADOR NA VISÃO DE JESUS
O conceito de Jesus sobre a semente é profundo. Ele a vê 
como algo dinâmico e vivo. O semeador, de forma decidida e 
convicta, saiu a semear. Isso nos sugere um processo dinâmico 
de produção de vida.
Todo semeador quando sai para semear tem um processo 
a seguir, desde a escolha e preparo do solo onde plantar até o 
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 23
lançar da semente, pois ele sabe que da semente virá algo vivo. 
A semente, embora inerte, está carregando em si, incubado, 
algo vivo.
5. AS CARACTERÍSTICAS DO SEMEADOR NA VISÃO 
DE JESUS.
O semeador é alguém de ação. O verbo “saiu” indica que 
este homem decidiu por os pés para fora de casa, para fora do 
lugar tranquilo em que estava e partiu para a ação.
a) Não se semeia onde quer.
Apesar da impressão que se trata de uma ação fortuita e 
casual, o semeador não saiu a esmo, por aí, semeando ao 
acaso. Talvez não fosse necessário mencionar que ele sai 
preparado e pronto para jogar a semente, numa ação contínua 
e processual e incessante. A ação deste semeador é contínua, 
gradativa e planejada, ou seja, tem rumo certo, ainda que não 
necessariamente de forma sistematizada.
A verdade que salta aos olhos é que a mensagem do 
evangelho, assim, como a semente, deve ser espalhada, mas 
nem sempre ela será frutífera, pois nem sempre cairá em solo 
preparado, fértil e bem cuidado.
b) A semeadura é marcada pela obediência.
Uma característica marcante no semeador é a obediência. 
O lavrador que não obedece às regras do tempo está fadado a 
ter uma colheita pífia. Ele tem que obedecer a época de arar, 
adubar e plantar, pois caso contrário corre o risco de perder a 
época certa em que a sua plantação desfrutará das chuvas e do 
sol na medida certa.
c) Paciência.
No processo da semeadura, a paciência é uma virtude 
indispensável. Neste processo existem tarefas que são 
dependentes do semeador, mas o surgimento da nova planta 
não depende da sua capacidade, vontade ou ação. Ele terá que 
esperar pelo processo natural definido pelo Criador.
24 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
Não depende do semeador a aceleração do processo de 
colheita, pois ela tem o tempo certo e, por mais esforço que 
o semeador empreenda, não fará adiantar esse processo. Da 
mesma forma, no reino do Senhor, nós os semeadores não 
podemos interferir no processo de nascimento da semente. 
Por mais ansiosos que estejamos pelo novo nascimento das 
pessoas, nosso trabalho consiste em “semear” e não o de fazer 
brotar e produzir frutos.
Cada planta tem seu ciclo de nascimento, crescimento e 
produção e isso não depende do agricultor. Assim é também 
na tarefa de semear o evangelho, cada coração tem seu ciclo 
de nascimento crescimento e produção, e isso independe da 
nossa vontade, por isso a paciência é virtude indispensável ao 
semeador.
d) Persistência.
Continuando essa comparação entre o semeador e o 
pregador, podemos verificar que a persistência é outro elemento 
indispensável em ambos os casos. Às vezes se planta e a chuva 
não vem e então há a necessidade de replantar; ou, quando 
uma praga atinge a plantação, isso vai exigir do agricultor um 
novo esforço.
Da mesma forma, na semeadura do evangelho temos que 
plantar e replantar quantas vezes se fizer necessário, até que 
tenhamos êxito em nossa pregação.
6. O ENVIO NO MODELO DE JESUS
a) O movimento de Deus em direção à humanidade.
O envio de Cristo para a humanidade demonstra um 
movimento de Deus em direção à humanidade, no desejo de 
vê-la restaurada. Deus toma a iniciativa da salvação do homem 
e isso se dá pela encarnação de Cristo e pela missão dada à 
igreja.
O destino do Filho de Deus foi o mundo de Deus: “Assim 
como o Pai me enviou”. “Assim como tu me enviaste 
ao mundo, também eu vos enviei ao mundo”. O Cristo-
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 25
homem veio ao mundo dos homens. Não a um mundo 
ideal, mas ao mundo tal e qual ele é. Ele se reduziu a 
uma cultura particular – ou, dito de outra maneira, a 
um espaço-tempo-recado. Por que toda cultura está 
limitada pela geografia, pela história e pela situação de 
pecado. Jesus enviou sua igreja “como ele foi enviado” 
ao mundo da história, da geografia e do pecado, o qual, 
no entanto, é o mundo de Deus, o mundo das Escrituras. 
(ARANA, 1992, p.83) 
 
III. OS EVANGELHOS E A PREOCUPAÇÃO 
COM OS PERDIDOS
Compreendemos, pelo estudo da Teologia Sistemática, 
que toda a criação foi afetada pelo pecado. Toda criação foi 
amaldiçoada por causa da queda, e assim podemos afirmar 
que o homem causou um prejuízo universal. Jesus intervém 
em nossa história para trazer de volta o homem que caiu no 
pecado.Jesus não veio apenas para restaurar a nossa alma, 
mas para reconstruir tudo aquilo que foi afetado pelo poder do 
pecado.
O texto de Lucas 15 é composto de três parábolas. Em 
todas elas temos semelhanças: Todas falam de algo de valor 
que se perdeu, falam do esforço daquele que sofreu a perda 
em reencontrar o bem perdido e todas falam da alegria e júbilo 
quando o bem perdido é encontrado.
Fica muito evidente que a intenção de Jesus ao contar 
essas histórias, que há goza no coração de Deus quando o 
perdido é encontrado. Podemos definir o perdido como todo 
aquele que não está numa íntima relação com Deus, e sempre 
que alguém restabelece o vínculo com Deus, há júbilo no céu.
IV. A VISÃO DA GRANDE COMISSÃO
O texto de Mateus 28.18-20, comumente conhecido 
como “a grande comissão” é o clímax, e ao mesmo tempo 
uma síntese de vários temas abordados no decorrer de todo o 
26 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
evangelho. Um exemplo desta abordagem é o da participação 
dos gentios na genealogia de Jesus.
A visita dos magos no nascimento de Cristo e a sua 
estadia no Egito por conta da perseguição estabelecida por 
Herodes, exemplificam a proclamação universal da mensagem 
de Cristo.
Vejamos a grande comissão na perspectiva estrutural do 
texto de Mateus 28.18-20
1. A AFIRMAÇÃO DA AUTORIDADE DE JESUS.
A autoridade de Cristo é a afirmação que domina toda 
a passagem de Mateus 28.18-20. As expressões, portanto 
e eis que sinalizam que toda a passagem, tanto a ordem 
(vão e façam), quanto a promessa (estarei convosco), estão 
diretamente ligadas a afirmação da autoridade de Jesus.
2. A ORDEM DO DISCIPULADO.
Dois aspectos básicos do discipulado são revelados por 
Jesus. O batismo como iniciação e a instrução como processo de 
desenvolvimento dos novos convertidos na fé que abraçaram.
3. A PROMESSA DA PRESENÇA DE JESUS.
Como resultado de sua autoridade, e também como 
garantia, Jesus promete sua presença constante com os 
discípulos. Mateus não registra nada nos últimos capítulos 
sobre o retorno de Jesus, provavelmente por que do seu ponto, 
O Mestre não teria que voltar, porque nunca se ausentou de 
seus discípulos.
4. A BASE DA GRANDE COMISSÃO ESTÁ NO 
SENHORIO, PODER E AUTORIDADE DE CRISTO.
Jesus ressuscita e recebe de Deus-Pai a posição de 
soberania absoluta. Nas palavras de Estevan Kirschener 
(KIRSCHENER, 1996, p.38) este ato expressa a concessão 
divina de seu poder e autoridade para agir.
A autoridade de Jesus não é um assunto novo e inédito 
em Mateus. No decorrer do evangelho encontramos este tema 
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 27
sendo amplamente explorado pelo evangelista. Mateus aborda 
a autoridade de Jesus em dois momentos bem específicos: no 
período pré-ressurreição e no período pós-ressurreição. A 
autoridade do período pré-ressurreição é encontrada em fatos 
e ocasiões como no ensino de Jesus (7.29), na sua capacidade 
de perdoar pecados (9.6-8). A autoridade no período pós–
ressurreição é “autoridade conferida a partir da ressurreição e 
é expandida tanto no céu como na terra; é autoridade cósmica, 
universal em seu alcance e abrangência” (KIRSCHENER, 
1996. p.36).
Depois da ressurreição Jesus assume a autoridade 
cósmica (no céu e na terra) e universal que lhe é de direito. É 
esta autoridade que se torna a base para a missão universal que 
está prestes a ser anunciada. Ir e fazer discípulos preconiza o 
Senhorio de Cristo entre as nações para que, posteriormente, 
este senhorio seja sobre as nações.
O senhorio universal de Cristo exige uma missão que 
seja universal.
5. O PROCESSO DO DISCIPULADO É A METODOLOGIA 
USADA NA GRANDE COMISSÃO.
A comissão de Jesus se baseia em sua autoridade absoluta 
e sua funcionalidade se dá pelo discipulado. No Evangelho de 
Mateus, fazer discípulos significa levar alguém a experimentar 
um novo relacionamento com Cristo, na mesma proporção que 
os discípulos já possuíam. Isto implica em chamar homens e 
mulheres para seguirem a Jesus. Fazer discípulos não é apenas 
confrontar ou desafiar o ouvinte, mas se responsabilizar pelo 
que acontece ao receptor da mensagem.
Fazer discípulo não é uma ação destinada a um único 
povo ou região. Embora Mateus 10.5 demonstre uma visão 
limitada, existem outras referências no mesmo Evangelho que 
antecipam o anúncio de Mt 28.18-20. Entre elas estão: Mt 
8.11; 21.43; 22.8-10; 26.13.
Batizando e ensinando são adjetivos que dependem do 
verbo principal, sem, contudo, levar a mesma força imperativa 
28 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
do verbo. São dois particípios modais que expressam modo 
ou maneira pela qual a ação do verbo principal se desenvolve. 
Assim, batizando e ensinando, especificam o que está envolvido 
no fazer discípulos. Os dois particípios não expressam um fim 
em si mesmo. São características daquilo que a missão implica.
O batismo que Jesus estabelece com o discipulado deriva 
seu significado e relevância da obra redentora de Cristo. É o 
rito de iniciação, que representa a identificação e compromisso 
com o Cristo morto e ressurreto. Este batismo tem a ver com 
o relacionamento desses que foram feitos discípulos com a 
Trindade.
O particípio ensinando impõe aos discípulos um papel 
até então dos mestres. Não se trata de ensinar ideias abstratas, 
mas de ética. Já na expressão todas as coisas que vos ordenei; 
não se trata de ensinar tudo que Jesus falou, mas de ensinar a 
obediência. Ensinado a obedecer.
Essa obediência é confirmação da autoridade de Cristo. 
Fazer discípulo só é ato completo quando se leva uma vida em 
que os mandamentos de Jesus são observados.
6. A GRANDE COMISSÃO TEM A GARANTIA DA 
PRESENÇA DE CRISTO ATÉ O FIM DOS TEMPOS.
Esta é uma promessa com ares de certeza. O clímax do 
evangelho termina como o livro começou, com a menção da 
presença permanente de Jesus com os discípulos. Em Mateus 
1.23 encontramos o Emanuel – Deus conosco. Algumas 
implicações são importantes aqui: 
•	 A presença permanente de Cristo é garantida por sua 
autoridade absoluta;
•	 Sua presença é o equipamento necessário para o 
desempenho da missão;
•	 Não há qualquer possibilidade de que presença de 
Jesus esteja condicionada ao sucesso da missão;
•	 A presença de Jesus é a motivação para o desempenho 
da missão proposta
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 29
V. MISSIO ECCLESIAE
As missões no passado carregavam na linguagem 
centralizada nas igrejas da Europa e Estados Unidos. Era 
a nossa missão, a nossa igreja, os nossos missionários. 
A partir de Willingen (Alemanha 1952) passa a pensar 
no missio Dei. A missão é de Deus e não nossa. “O 
movimento missionário do qual fazemos parte tem com 
fonte o Deus Trino”. A ideia desenvolvida era a de que 
Deus era ao mesmo em Jesus o que envia e o enviado. 
Deus enviou o Filho, que enviou o Espírito, que envia a 
igreja ao mundo. Posteriormente, veio também a ênfase 
no missio ecclesiae, ou seja: Não existe participação em 
Cristo sem a participação na sua missão. (BARRO, 1999. 
p 1)
Fora da igreja não existe missão. É dentro do contexto do 
corpo de Cristo que se manifesta o poder para a proclamação do 
evangelho. No livro de Atos somos informados da capacitação 
do Espírito Santo (At 1.8). Neste texto a ênfase de Jesus é sobre 
o grupo de discípulos. Quando ele diz: Recebereis poder, está 
se referindo ao grupo, ou seja, fora do âmbito do corpo não há 
poder do Espírito.
CAPÍTULO 3
A MISSIOLOGIA DE
LUCAS / ATOS
Destacar a teologia de missão de Atos parece uma tarefa razoavelmente simples, uma vez que ler os atos dos apóstolos somos remetidos a um período de expansão 
da igreja. No entanto a tarefa não é tão simples.
No desejo de abranger essa dimensão do livro é que 
propomos, em primeiro lugar, entender a cosmovisão de seu 
autor. Queremos neste estudo compreender um pouco mais de 
Lucas, que é mais do que médico e historiador, é na verdade 
um grande teólogo. Em seguida faremos um resumo do que 
seriam alguns princípios missionários do livro de Atos.
I. A IMPORTÂNCIA DOS ESCRITOS DELUCAS PARA A COMPREENSÃO DE SUA 
VISÃO MISSIONÁRIA.
Lucas tem uma compreensão de missão diferente 
de Mateus e Paulo. No entanto é inegável a importância 
que desempenha o texto da “grande comissão” de Mateus, 
especialmente no sentido de dar à igreja ocidental uma 
fundamentação bíblica da missão da igreja.
Outra passagem do Novo Testamento tem tomado lugar 
no debate sobre o fundamento da missão da igreja. Estamos 
falando da versão dada por Lucas do episodio ocorrido em 
Nazaré, terra natal de Jesus, quando este na sinagoga aplica 
a si mesmo e ao seu ministério a profecia de Isaias 61.1s. De 
32 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
acordo com (BOSCH, 2002, p. 113) para efeitos práticos, Lc 
4.16-21 substituiu a “grande comissão” de Mateus como texto 
chave não só para entender a missão do próprio Cristo, mas 
também a da igreja.
1. OS FATORES QUE OCASIONARAM OS ESCRITOS 
DE LUCAS.
Lucas talvez seja o único autor gentílico entre os escritos 
do Novo Testamento e as razões e as circunstâncias que 
motivaram a escrita de dois e não apenas um documento, não 
pode ser ignorado e nem desprezado neste momento em que 
nos propomos entender a sua percepção da missão de Cristo 
legada à igreja.
Assim como Mateus, os escritos de Lucas foram anotados 
provavelmente na década de 60 D.C, (podendo ser até a década 
de 80 D.C) muito provavelmente usando as mesmas fontes, 
sendo uma delas o evangelho de marcos.
Nos anos que se passaram muitas coisas aconteceram. 
Fatos marcantes ocorreram, dentre eles, como destaca 
(BOSCH, 2002, p.114): “a igreja cristã, que iniciara como 
um movimento de renovação do judaísmo (...) já não estava 
atraindo um número significativo de judeus para a fé em Jesus 
Cristo”. Para todos os efeitos práticos, havia se tornado uma 
igreja gentílica.
Outro elemento importante é que a igreja havia 
experimentado um grande impulso missionário com Paulo. 
Esse foi um momento de transição, havia agora uma igreja que 
já contemplava a segunda geração de convertidos, e que em 
muitos casos sofriam com alguns dilemas em relação à fé. Um 
desses dilemas dizia respeito à volta de Cristo, prometida e 
aguardada com muito fervor pela primeira geração de crentes.
O surgimento de movimentos heréticos também criou 
abalos nessa igreja, que, mesmo tendo se expandido, parecia 
sofrer um momento de estagnação. (BOSCH, 2002) diz que:
A fé da igreja era posta a prova em pelo menos duas 
frentes: a partir de dentro, houve um esmorecimento do 
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 33
entusiasmo; a partir de fora, havia hostilidade e oposição 
tanto da parte de judeus quanto de pagãos.
Talvez o principal dilema enfrentado pela igreja nessa 
nova fase seja o da identidade: Quem somos nós? Qual a nossa 
relação com o judaísmo? Somos uma nova religião ou uma 
renovação do judaísmo? A tentativa de ajudar esses novos 
crentes talvez tenha sido a motivação de todos os evangelistas.
A história precisava ser compreendida, a fé revigorada, e 
é nesse sentido que, segundo (BOSCH, 2002), Lucas ofereceu 
essa reinterpretação de um modo singular. Ele sustentou que 
os cristãos do seu tempo não estavam em situação menos 
vantajosa do que os primeiros discípulos de Jesus; que o 
Senhor ressurreto ainda estava com eles, particularmente 
através de seu Espírito, o qual os orientava continuamente para 
assumirem novas aventuras.
2. A ÊNFASE DOS ESCRITOS DE LUCAS.
Não compreendemos Atos como um texto tardio, 
resultado de uma reflexão posterior de Lucas, mas como um 
texto intencionalmente escrito, ou seja, desde o princípio Lucas 
desejava escrever dois volumes. Isso fica claro na maneira 
como ele estrutura seus escritos. No evangelho, Lucas faz uma 
única menção à missão aos gentios (Lc. 24.47). Essa missão 
foi deixada para ser mencionada no segundo livro, porque essa 
tarefa é da igreja e não do Jesus terreno. Conforme (BOSCH, 
2002) o Evangelho nos leva até o limiar dessa missão. O livro 
de atos contará essa história em detalhes.
Lucas apresenta Jesus como o filho do homem, rejeitado 
pelos judeus e oferecido aos gentios. Nesta apresentação 
Jesus é visto como o salvador universal. Esta visão encaixa-
se perfeitamente com o tema e propósito de Atos, porque, nos 
relatos do livro, Lucas está intensamente envolvido com Paulo 
na missão aos gentios.
Neste desenvolvimento certos temas são presentes nos 
escritos lucanos, como fala (BOSCH, 2002):
O ministério do Espírito Santo, a centralidade 
do arrependimento e do perdão, da oração, do 
34 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
amor e da aceitação dos inimigos, da justiça, 
da equidade nos relacionamentos interpessoais.
A ênfase de Lucas em seus escritos não recai somente 
sobre temas relevantes, mas também sobre classes de pessoas. 
Ainda de acordo com (BOSCH, 2002), no topo da lista, ao 
menos no que diz respeito ao Evangelho, estão os pobres. 
Também deve ser observada a ênfase na associação de Jesus 
com as mulheres, os coletores de impostos e os samaritanos, 
uma assombrosa ultrapassagem da barreira social e religiosa 
existente na sociedade patriarcal de sua época.
Todo o ministério de Jesus e seus relacionamentos com 
grupos e pessoas marginalizadas testemunham, nos escritos de 
Lucas, que a compaixão de Jesus ultrapassa fronteiras, atitude 
que a igreja é chamada a imitar.
II. ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO DA VISÃO 
MISSIONÁRIA DE LUCAS
1. O RELACIONAMENTO ENTRE A MISSÃO AOS 
JUDEUS E A MISSÃO AOS GENTIOS.
O relacionamento entre a missão aos judeus e aos gentios 
é presente em todo o pensamento lucano.
Lucas certamente tem uma compreensão 
teológica geral de uma missão aos judeus 
e gentios, mesmo que a forma como ele 
desenvolve isso nem sempre satisfaça as 
exigências ocidentais modernas de coerência 
lógica. (BOSCH, 2002.p 117).
Essa forma sutil de Lucas abordar um tema tão importante 
é possível de ser percebido em quatro movimentos:
a) O desenvolvimento geográfico que ele dá aos dois livros.
Uma das maneiras que temos de compreender a unidade 
entre as duas obras de Lucas é observarmos como ele faz uso 
da geografia. No Evangelho, Lucas relata o ministério de Jesus 
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 35
em três estágios diferentes, todos eles divididos pela geografia. 
A primeira parte do livro mostra o ministério de Jesus na 
Galiléia (4.14-9.50); a segunda parte do evangelho narra a 
descida de Jesus da Galiléia para Jerusalém (9.51-19.40) e 
a última parte descreve as atividades de Jesus em Jerusalém 
(19.41, até o fim). A partir daí Jerusalém se torna o centro das 
narrativas de Lucas.
Em Atos encontramos a mesma configuração, com a 
igreja se desenvolvendo em três fases. Tomando como base o 
texto de Atos 1.8, vemos que a ordem de Jesus estabelece essas 
fases de avanço simultâneo para a igreja.
Uma das maneiras que temos de esboçar o livro de 
Atos é através da geografia. Os capítulos iniciais de Atos se 
preocupam em relatar o nascimento da igreja em Jerusalém; a 
segunda parte do livro relata a expansão da igreja em Samaria 
e região, enquanto que a terceira parte expõe o avanço da igreja 
para todas as regiões, chegando até na capital do império. 
Dessa forma podemos montar um esboço de Lucas e Atos a 
partir da geografia.
b) A interpretação que Jesus dá ao texto de Isaias 61.
No texto de Lucas 4 a reação dos ouvintes é muito 
forte. Por um lado eles estão com muita expectativa, por outro 
lado há uma reação muito forte ao discurso de Jesus. Segundo 
(BOSCH, 2002) isso se dá pelo fato de “Jesus apropriar-se, 
de maneira confiante e enfática, de uma profecia do Antigo 
Testamento e a aplicar à sua pessoa e seu ministério”. O 
Espírito do Senhor está sobre ele e o ungiu.
Mas o que chocou tanto aqueles que ouviram a Jesus? 
(BOSCH, 2002) sugere que ele lhes comunicou, entre outras 
coisas, que Deus era não apenas o Deus de Israel, mas também, 
de igual modo, dos gentios. Deus não está vinculado a uma 
nação, e isto é uma tônica de Atos, em que o evangelho é 
pregado sem distinção. O fato de os judeus rejeitarema Jesus 
em Nazaré também tem um significado especial em Atos, 
uma vez que, repetidamente, no livro de Atos o evangelho 
é oferecido aos judeus, que o recusam e, como resultado, os 
apóstolos se voltam aos gentios.
36 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
c) Os encontros de Jesus com os samaritanos.
Com relação aos samaritanos, a postura de Lucas também 
é relevante. De acordo com (BOSCH, 2002), Marcos não faz 
qualquer referência a samaritanos, ao passo que Mateus só 
registra a proibição de Jesus de entrar em qualquer cidade 
samaritana (Mt 10.5).
Lucas, por outro lado, faz diversas referências dessas, 
das quais pelo menos algumas são altamente significativas para 
o propósito de Lucas – Atos, ou seja, mostrar que a missão aos 
samaritanos foi o início da missão aos gentios e fazia parte do 
plano divino.
Lucas menciona pelo menos três encontros de Jesus com 
os samaritanos na parte central do seu evangelho. A primeira 
menção em 9.51-56. Nesse episódio Jesus envia mensageiros 
para preparar hospedagem numa cidade samaritana, mas seus 
habitantes recusam hospedar o Mestre. Isto provoca a ira de 
Tiago e João, que pedem a Jesus que mande fogo do céu para 
consumir os samaritanos, mas são repreendidos pelo Filho de 
Deus. Essa atitude de João e Tiago pode ser compreendida à 
luz da história desses dois grupos de Israel: Os samaritanos são 
considerados impuros por profanarem o templo e pela matança 
de um grupo de judeus.
O que é incompreensível é a atitude de Jesus, o que 
reflete, segundo (BOSCH, 2002), uma negação explícita e 
ativa por parte de Jesus na lei da retaliação, apontando assim 
para uma missão que ultrapassaria as fronteiras israelitas.
A segunda menção de Lucas aos samaritanos é na 
parábola do bom samaritano. (10.25-37). Precisamos ter em 
mente que para o judeu do tempo de Jesus o samaritano era um 
representante da não humanidade. Ele é um inimigo de Deus. 
É este sujeito que Jesus enaltece como aquele que oferece 
amparo ao que está à margem do caminho. Este evento sugere 
que fora do circulo religioso judaico, existe ação graciosa, que 
aqueles considerados profanos podem se tornar portadores de 
bondade e misericórdia.
A terceira menção que Lucas faz aos samaritanos em 
seu evangelho é na cura dos dez leprosos (17.11-19). Neste 
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 37
episódio dez homens se aproximam de Jesus e pedem que sejam 
curados. Os doentes eram nove judeus e um samaritano. Todos 
são enviados ao sacerdote e apenas um retorna para agradecer 
a Jesus pelo benefício recebido, justamente o samaritano. A 
palavra de Jesus ao homem grato é que ele fora salvo por causa 
da manifestação de sua fé. Isso “aponta claramente para o 
fato de que a salvação também veio a esse povo desprezado” 
(BOSCH, 2002.p, 121).
d) A atitude positiva de Lucas para com os judeus
Lucas não é tão duro com os judeus como foi, por 
exemplo, Mateus. Ele tenta manter um clima de cortesia 
e simpatia. Em Lucas os fariseus nunca são chamados de 
hipócritas ou de guias de cegos. Lucas relata que Jesus, por 
três ocasiões diferentes, esteve na casa de fariseus e faz essas 
narrativas para “exaltar a atitude de Jesus, não com a intenção 
de censurá-lo. Só em Lucas o crucificado ora dizendo: Perdoa-
lhes porque não sabem o que fazem” (BOSCH, 2002.p, 122).
O desejo de Deus sempre foi, a partir de Israel, revelar 
sua glória ao mundo, e, com a aceitação do evangelho, esses 
judeus crentes cumprem a vontade de Deus: Eles são o renovo. 
Com isso podemos afirmar que a missão aos gentios não foi 
uma mudança de rota, os gentios não foram procurados porque 
os judeus rejeitaram o evangelho.
Lucas não descreve a igreja cristã como uma espécie de 
terceira raça, que se somaria aos judeus e gentios. Para ele, 
antes, a comunidade cristã consiste dos judeus convertidos, 
aos quais se acrescentaram gentios convertidos. A igreja cristã 
não começou como uma entidade nova no dia do pentecostes. 
Naquele dia muitos judeus tornaram-se o que verdadeiramente 
eram: Israel.
Subsequentemente os gentios foram incorporados 
a Israel. Os cristãos gentílicos são parte de Israel, não um 
novo Israel. Não há ruptura na história da salvação. Não se 
converter significa ser expurgado de Israel. A conversão 
significa participação na aliança com Abraão. A igreja nasce 
no seio do Israel antigo, não como um intruso reivindicando 
38 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
prerrogativas. (BOSCH, 2002.p, 127).
2. O INTERESSE PELOS POBRES E MARGINALIZADOS
Uma leitura simples do evangelho de Lucas revela a grande 
preocupação do evangelista com os grupos marginalizados da 
sociedade de sua época. (1.53; 6.20,24; 12.16-21; 16.19-31; 
19.1-10). Todos esses eventos são encontrados somente em 
Lucas. Na versão lucana do Pai Nosso ele diz “perdoa nossas 
dívidas”, dando uma conotação monetária, enquanto Mateus 
usa “perdoa nossas ofensas” termo que sugere mais uma 
questão relacional.
Lucas, ao contrario de Mateus e Marcos, faz uso 
constante da palavra “ptochos” (Dez vezes em Lucas e cinco 
vezes em Mateus e Marcos).
Se não tivéssemos Lucas provavelmente teríamos 
perdido uma parte importante, se não a mais importante, 
da tradição protocristã e sua imensa preocupação com 
a figura e mensagem de Jesus como a esperança dos 
pobres. (SCHOTTROFF & STEGEMANN apud BOSCH, 
2002.p, 130).
a) Quem é o pobre?
A etimologia da palavra pobre tem conexão com “fardo”, 
“peso”. No grego antigo eram usadas duas palavras para definir 
o pobre. A primeira (penēs) se refere ao homem que não tem 
condições de viver com sua renda, mas tem que trabalhar com 
as próprias mãos. A segunda é (ptochos) que é a palavra usada 
para aquele que é pobre o suficiente para mendigar, e que 
precisa de socorro.
Essa concepção grega migra para as páginas do Antigo 
Testamento. Na concepção hebraica (penēs) se emprega 
para aqueles que são oprimidos jurídica e economicamente, 
enquanto (ptochos) é aquele que precisa de esmolas.
Existe uma clara concepção no Antigo Testamento que 
Deus faz prosperar aqueles que são justos, que guardam os 
seus mandamentos, mas apesar dessa convicção a pobreza 
sempre existiu entre o povo judeu. Segundo o Novo 
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, o 
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 39
empobrecimento da população era entendido não só com um 
problema social, mas também religioso, pois era compreendida 
como resultado da quebra da lei divina (BROWN, 1989). O 
Novo Dicionário da Bíblia amplia essa discussão, esclarecendo 
outras causas para a pobreza existente entre o povo israelita.
A pobreza dos mesmos pode ter sido causada por meio 
de desastres naturais que conduzira a más colheitas, por 
meio de invasões de inimigos, por meio de opressão 
por parte de vizinhos poderosos, ou por meio de usura 
extorsiva. (DOUGLAS, 1995)
A relação para com o pobre sempre teve uma atenção 
especial por parte de Javé. Foram criadas leis claras em relação 
ao pobre, que deveriam ser observadas pelos ricos, para que se 
estabelecesse a justiça social. A lei estipulava que:
•	 Se alguém, por motivo de dívidas, tivesse que ser 
vendido como escravo, no ano do jubileu deveria ser 
liberto;
•	 O produto da colheita no ano do descanso era do pobre;
•	 Era expressamente proibido explorar ou oprimir o 
pobre;
•	 O próprio Javé se proclama como o protetor dos pobres.
A visão teológica revela que o pobre é aquele que sofre 
a injustiça, a opressão. Como a pobreza era concebida como 
fruto indireto da desobediência a lei de Javé, a pessoa que se 
tornou pobre porque outros desobedeceram a lei, era então 
considerada injustiçada e podia buscar em Javé o alívio de suas 
necessidades. Diante dessa volta constante a Javé, passou-se a 
considerar também a ideia de que pobre é todo aquele que se 
volta a Deus buscando socorro.
Não podemos simplesmente espiritualizar essa 
definição, como fazem alguns estudiosos. A palavra ptochos 
é um termo geral, abrangente que traduz a ideia de todos os 
que se encontram em uma situaçãode desvantagem, engloba 
a todos os que por algum motivo vivenciam a miséria e se 
tornam necessitados.
40 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
b) Qual a mensagem aos pobres?
Lucas reúne todos os marginalizados sob a figura do pobre 
e o faz com a intenção de mostrar que eles são necessitados de 
boas novas.
A construção do texto de Lucas 4 é muito rica e precisa 
de nossa atenção: Primeiro, para a citação de Isaias 61.1. Este 
texto é uma profecia aos judeus que retornam do exílio, com 
o objetivo de encorajá-los “assegurando que Deus não se 
esquecera deles, mas virá em seu socorro introduzindo o ano 
aceitável do Senhor”. (BOSCH, 2002.p.132). Em segundo 
lugar temos que considerar a inserção feita por Lucas, de parte 
do texto de Isaias 58.6 “colocar em liberdade os cativos”. 
Esse texto encontra-se num perfil social, uma critica social que 
Isaias faz do seu povo.
Ele encontra-se no contexto da crítica profética de 
discrepâncias sociais existentes em Judá, da exploração 
dos pobres pelos ricos. Mesmo num dia de jejum os 
ricos perseguem seus próprios interesses, fazem seus 
empregados trabalharem mais duramente (v.3) e altercam 
com aqueles lhes devem dinheiro (BOSCH 2002).
A realidade dos judeus que voltam do exílio é terrível, 
muitos perderam todos os seus bens e em alguns casos, se 
venderam ou venderam seus filhos para pagar o tributo cobrado 
pelo rei persa. Os oprimidos de Isaias 58.6:
Devem ser entendidos como as pessoas que 
estão economicamente arruinadas, que haviam 
se tornado escravos e não tinham esperança 
de escapar das garras sufocantes da pobreza. 
(BOSCH, 2002.p.133).
Somente a boa nova do ano aceitável do Senhor poderia 
alentar algum tipo de alivio a tais corações.
c) Zaqueu e Barnabé: Paradigmas para os cristãos ricos.
Ao contrário da mensagem de alguns teólogos da 
libertação, que pregam um evangelho para os pobres, nem 
Jesus, nem o evangelho é preferencialmente para os pobres ou 
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 41
qualquer outro grupo isolado. Lucas deixa em evidência que 
Jesus se relaciona com pessoas ricas. O livro de Atos registra 
que pessoas de posse se juntaram a igreja.
O evangelho traz a manifestação da justiça em todos 
os seus sentidos, o que inclui o aspecto social, sendo assim 
o evangelho de Jesus deve promover a boa convivência entre 
pobres e ricos. A clara intenção de Lucas é:
Que as pessoas ricas e respeitáveis se 
reconciliem com a mensagem e o modo de vida 
de Jesus e de seus discípulos; quer motivá-los 
para uma conversão que esteja de acordo com 
a mensagem social de Jesus. (SCHOTTROFF & 
STEGEMANN apud BOSCH, 2002).
O teor dessa mensagem pode ser observado no contraste 
que Lucas faz entre dois personagens do evangelho, Zaqueu e 
o jovem rico; e outros dois Atos, Barnabé e Ananias. Ananias e 
o jovem são homens ricos que, em confronto com a mensagem 
de Jesus, reagem negativamente; enquanto que Zaqueu e 
Barnabé, que também são homens ricos, em confronto com 
a mesma mensagem, reagem positivamente. Analisando esses 
personagens fica ainda mais evidente o contraste, se tomarmos 
como paradigma Zaqueu e o jovem rico.
De um lado temos um homem zeloso e cumpridor da 
lei, moralmente aceito e reconhecido em seu meio social, um 
homem exemplar, do qual todos tinham plena convicção de 
que seria aceito no reino de Deus. Do outro lado temos um 
homem que é cobrador de impostos, que socialmente tinha um 
estilo de vida desonroso e que todos tinham certeza seria um 
dos habitantes do Sheol.
Lucas não condena o fato de ser rico. A questão levantada 
por ele é que o cristão deve ser rico seguindo a conduta social 
de Jesus, como fizeram Barnabé e Zaqueu.
Tanto Isaias 58.5, quanto o evangelho de Lucas 
dirigem-se aos ricos. Ambos desejam inspirá-
los a realizar feitos extraordinários e de amplas 
conseqüências, a renunciar a grande parte 
de suas posses e desistir de cobrar dividas, e 
42 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
a dar esmolas de modo geral, aliviando dessa 
maneira, a difícil situação dos membros pobres 
da comunidade. Isaias 58.5-9 falou ao estrato 
superior da comunidade imediatamente depois 
do exílio, em meio a uma grave crise social; 
Lucas dirige sua obra de dois volumes ao estrato 
superior da comunidade helenística. (ALBERTZ 
apud BOSCH, 2002.p, 135).
3. A COMPREENSÃO DE ARREPENDIMENTO, 
PERDÃO E SALVAÇÃO.
É muito frágil a argumentação de que o evangelho seja 
para este ou aquele grupo. O evangelho é para o ser humano 
caído e excluído da presença de Deus. Sendo assim pobres e 
ricos carecem da graça de Cristo para a obtenção de livramento 
de seus pecados e o cancelamento de sua dívida com a justiça 
de Deus.
Os pobres são pecadores como todas as outras 
pessoas, porque, em última análise, a pecaminosidade 
está enraizada no coração humano. Assim como os 
materialmente ricos podem ser espiritualmente pobres, 
os materialmente pobres podem ser espiritualmente 
pobres. (BOSCH, 2002.p.136).
Lucas faz uso intenso de soteria e soterion nos dois 
volumes de sua obra, seis vezes no Evangelho e duas vezes 
em Atos. Dos outros evangelistas, João só as utiliza uma vez, 
enquanto Mateus e Marcos não fazem uso delas nos seus 
escrotos.
Do ponto de vista de Lucas, a salvação tem Cristo como 
o sujeito principal. Entre os sinóticos, Lucas é o único a chamar 
Jesus de salvador (Lc 2.11; At 5.31; 13.23).
A salvação em Lucas “inclui a transformação total da 
vida humana, o perdão do pecado, a cura das enfermidades e 
a libertação de qualquer tipo de escravidão.” (BOSCH, 2002. 
p, 139). Que tipo de libertação ou transformação os judeus e 
gentios precisam experimentar em sua vida para alcançar a 
salvação? A mensagem dos apóstolos, especialmente Pedro, 
indica que é necessário se arrepender de seus pecados. Para 
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 43
Bosch “judeus e gentios têm pecados diferentes” (BOSCH, 
2002. p, 138). Os judeus por terem participado na morte de 
Jesus (At 2.36-40), enquanto os gentios devem se arrepender 
da adoração aos ídolos (Rm 1.18-32).
O pecado na teologia lucana é está relacionado á conduta 
moral, em particular no que diz respeito ao meu semelhante.
Isso já se torna evidente no relato Lucano acerca do 
ministério de João Batista (3.10-14). De igual maneira o rico 
da parábola (16.19-31) é considerado pecador porque não 
mostra compaixão para com Lázaro. O sacerdote e o levita são, 
por implicação, retratados como pecadores na medida em que 
ignoraram os apuros em que se encontra o a pessoa que caiu 
nas mãos de salteadores (10.30-37). O filho pródigo (15.11-32) 
pecou contra o céu e contra seu pai, por sua conduta, porém, 
mais ainda pela maneira como tratou o pai. (BOSCH, 2002. p, 
138).
A ampliação do conceito de salvação nos mostra 
que o ato de redenção “implica a reversão de todas as más 
conseqüências do pecado, tanto contra Deus, quanto contra 
o próximo. Ela não tem só uma dimensão vertical.” (BOSCH, 
2002.p, 140).
A salvação não pode ser compreendida como um ato 
isolado no coração da pessoa, isso torna a salvação subjetiva 
demais, enquanto Lucas nos demonstra que a salvação deve 
ser um elemento de objetividade, relembrando os princípios 
de retribuição presentes na lei de Moises. “A libertação de 
também é libertação para; do contrário não é expressão da 
salvação. E a libertação para sempre implica em amor a Deus 
e ao próximo.” (BOSCH, 2002. p, 140).
Isso significa que não podemos reduzir os efeitos da 
salvação na conduta de uma pessoa. A salvação deve ser tratada 
como algo maior do que tem sido pregado em nossos dias.
Qualquer pessoa que reduza o seguimento de 
Jesus a um empreendimento do coração, da 
cabeça e de relações interpessoais privadas 
restringe o seguimento de Jesus e trivializa o 
próprio Jesus. (SCHOTTROFF & STEGEMANN 
apud BOSCH, 2002.p, 140).
44 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
Em Lucas, Jesus é apresentado como aquele que se volta 
para o necessitado, marginalizado, e lhe dá um lugar no reino 
de Deus. Assim, a missão da igreja nolivro de Atos é uma 
missão salvadora, como foi a obra do Senhor.
 
4. O MINISTÉRIO DE JESUS QUE VISA SUPLANTAR 
A VINGANÇA
A mensagem inaugural do ministério público de Jesus, 
numa sinagoga na Galiléia, era uma mensagem de libertação, 
do anúncio do “ano aceitável do Senhor”. O messias anunciado 
pelos profetas e esperado por Israel era um libertador. “as 
pessoas criam que o messias restabeleceria a dinastia de Davi 
e libertaria o povo de toda opressão estrangeira” (TROCMÉ, 
2004. p.13).
A quebra de expectativa gerada por Jesus se deu quando 
ele para seu discurso sem enunciar a frase seguinte, que 
anunciaria ao dia da vingança.
Quando Jesus leu o livro de Isaías (61) na 
sinagoga, a congregação provavelmente 
esperava que ele anunciasse vingança contra 
os inimigos, especialmente contra os romanos. 
Uma vingança que seria o passo preliminar 
rumo à época de libertação. Eles estavam 
esperando ardentemente um sermão com 
impulso revolucionário e talvez as palavras 
iniciais de Jesus: “Hoje se cumpriu a Escritura 
que acabais de ouvir”, atiçou ainda mais essa 
expectativa. (BOSCH, 2002. p,143).
Ford chama a nossa atenção para o fato de que a missão 
de Jesus, a partir do ponto de vista de Lucas, tem um aspecto 
que vem sendo negligenciado ao longo do tempo, que é o 
aspecto da pacificação, da retribuição não violenta ao mal; da 
futilidade e natureza autodestrutiva da vingança e do ódio.
Ao longo do seu evangelho, Lucas detalha como essa 
atitude pacificadora de Jesus foi vivenciada. O apóstolo deixa 
claro que a missão de Jesus é de compaixão para com os pobres 
e marginalizados, até mesmo para o inimigo. “Ele é o ungido 
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 45
de Deus que anunciará um ano de favor, tanto para os judeus, 
quanto para os seus oponentes” (BOSCH, 2002. p, 144).
A mensagem do messias suplanta a vingança e em 
episódios como a atitude de Jesus para com os samaritanos, 
em que Tiago e João pedem para descer fogo do céu, diante 
da recusa em dar hospedagem a Jesus é uma evidência de que 
Jesus não quer adotar sentimentos vingativos. Outro episódio 
relatado por Lucas que destaca essa atitude pacificadora de 
Jesus é encontrado no capítulo 13.1-5. Os ouvintes de Jesus 
esperam que ele exprima sua reprovação aos romanos, mas 
ao invés disso Jesus usa essa situação para chamá-los ao 
arrependimento no lugar do sentimento de vingança. A 
própria atitude de Jesus diante de seus algozes ressalta o 
seu compromisso com a não violência. Seu comportamento 
nos eventos que ocorreram durante sua crucificação e morte 
ressalta a completa ausência do sentimento de vingança.
Sua oração, juntamente com a palavra de perdão 
dirigida aos criminosos da cruz, ambos relatados somente por 
Lucas, mostra que, mesmo ao sofrer a morte de um escravo 
e criminoso, Jesus voltou-se em amor e perdão para os 
marginalizados e inimigos, vivenciando assim, uma ética que 
era completamente contrária à ideologia militante, tanto dos 
opressores quanto dos oprimidos. (FORD apud BOSCH 2002. 
p, 145-146).
Lucas está convencido de que o evangelho de Jesus é 
pacificador, que estimula o perdão e o amor aos inimigos. No 
reino de Cristo não há espaço para a vingança e o ódio.
III. OS PRINCÍPIOS MISSIONÁRIOS DE ATOS
Atos é uma continuação de Lucas. A motivação de Lucas 
ao escrever Atos é continuar mostrando os atos de Jesus através 
do seu Espírito na vida dos crentes. Lucas mostra o surgimento 
da igreja, a descida do Espírito e ampliação do reino de Deus, 
ainda que debaixo de perseguição. O livro mostra ainda, a 
transição da igreja de Jerusalém, Antioquia para Roma. Atos é 
um livro de movimento, começa com a igreja judaica e termina 
com a igreja gentílica.
46 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
Da compreensão da mente de Lucas como teólogo e do 
objetivo do autor em escrever esse livro, podemos extrair os 
seguintes princípios missionários do livro de Atos.
1. A SIMULTANEIDADE DA MISSÃO
Uma grande confusão que se estabelece em nossa mente, 
com relação ao desenvolvimento da missão: Ela é simultânea? 
Ou progressiva?
A missão da igreja deve ser local e global ao mesmo 
tempo. (Atos 1.8). A manifestação de Atos 2, revela que o 
enchimento do Espírito é para capacitar a igreja ao cumprimento 
da missão. A igreja por mais santa e consagrada, continua 
imperfeita e incapaz de conduzir a obra de Deus, por essa 
razão ela é capacitada por Deus com a plenitude do Espírito.
Deus capacitou a igreja com poder e autoridade. Poder 
é a capacitação que necessitamos para realizarmos a tarefa 
que nos foi designada. Sem este poder não temos como levar 
adiante uma tarefa que é maior que a nossa capacidade de 
ação. O mecanismo que Deus nos deu é a simultaneidade: 
“tanto em”, “como em”. A igreja, portanto, só pode agir na 
dinâmica do Espírito. A igreja que não cumpre a missão de ir 
a todos os lugares ao mesmo tempo não tem em si a habitação 
do Espírito.
2. A MISSÃO TEM COMO BASE A IGREJA LOCAL.
Missões é basicamente uma responsabilidade da igreja 
local. Ela é o celeiro de missionários, é dela que saem os 
recursos para missões e por ela devem ser administrados. Ela 
é quem deve se preocupar com grupos não alcançados em sua 
cidade, região e mundo. (DEL PINO, 1993.p.55).
Essa tarefa de fazer discípulos em todas as partes é 
trabalho da igreja, enquanto corpo de Cristo.
A missão da igreja, e por tanto das igrejas, 
é proclamar o evangelho de Cristo e reunir 
os crentes em igrejas locais onde podem ser 
edificados na fé e tornados eficazes no serviço, e 
assim implantar novas congregações no mundo 
inteiro. (HESSELGRAVE, 1995. p.13).
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 47
A igreja local é a base de toda o operação de Deus, 
porque nela encontramos o material humano necessário para o 
serviço. O livro de Atos nos relata que na igreja em Antioquia 
haviam pastores e mestres.
Os primeiros enviados da igreja não vieram de 
organizações paraeclesiásticas, mas sim da igreja. Além do 
mais sabemos que é na igreja que o poder de Deus age. A 
capacitação do Espírito é para o cristão. Os crentes da igreja de 
Antioquia serviam ao Senhor quando receberam a incumbência 
de enviar a Barnabé e a Saulo.
3. A PRIORIDADE MISSIONÁRIA DA IGREJA É 
FAZER DISCÍPULOS.
A prioridade da igreja é fazer discípulos. Essa foi a 
tarefa que Jesus nos incumbiu. Como já citamos acima fazer 
discípulos implica em conduzir todo homem a obedecer a 
Cristo. A missão da igreja consiste em levar a humanidade 
a estado de obediência ao Criador. O que encontramos no 
livro de Atos é exatamente essa preocupação. Por todos os 
lugares por onde Paulo passou anunciando o Evangelho fica 
evidente que ele priorizou o ensino dos fundamentos da fé. 
Isso é mais claro e evidente nos casos de Corinto, em que ele 
passou dezoito meses, provavelmente na consolidação da fé 
dos novos convertidos. Em Éfeso, ele ficou por mais de três 
anos ensinando o evangelho.
CAPÍTULO 4
A MISSÃO NA
PERSPECTIVA DE PAULO
I. A MOTIVAÇÃO MISSIONÁRIA DE PAULO
Ninguém jamais conseguiria sofrer tantas privações e 
provações como Paulo sofreu sem que sua motivação fosse 
realmente verdadeira.
O que motivou Paulo a sair por toda a bacia do 
mediterrâneo anunciando uma mensagem que parecia loucura 
para os gregos e era desprezada pelos judeus? Paulo estava 
motivado por suas convicções teológicas. Essas convicções 
foram tão fortes que o impulsionou a ir pelo mundo pregando 
o evangelho e plantando igrejas.
Davi Bosch sugere que três motivos missionários agiam 
em Paulo, o senso de preocupação, o senso de responsabilidade 
e o senso de gratidão. Augustus Nicodemos em seu artigo 
intitulado “Paulo um plantador de igrejas – Repensando os 
fundamentos bíblicos da obra missionária”, afirma que a 
motivação do Apóstolo dos Gentios para sair por pelo império 
anunciando o evangelho e plantando novas igrejas era a sua 
convicção teológica. Ainda de acordo com Nicodemos são três 
as convicções teológicas de Paulo que o movia na expansão 
do evangelho. Primeiroera a convicção de que os últimos dias 
haviam chegado, a segunda convicção era a de que a igreja 
encarna a plenitude das promessas de Deus e, terceiro, era a 
convicção de que Deus o havia chamado para edificar essa 
igreja.
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II. A POLÍTICA MISSIONÁRIA DE PAULO
Segundo John Stott “a maior diferença entre Paulo e nós 
é que ele fundava igreja enquanto nós fundamos organizações” 
(STOTT, 1990. p, 234).
Podemos dizer que a política missionária de Paulo girava 
em torno de três eixos centrais: o ensino apostólico, o cuidado 
pastoral e confiança em Deus.
III. A ESTRATÉGIA MISSIONÁRIA DE 
PAULO – O EXEMPLO DE CORINTO
A cidade de Corinto localizava-se num istmo estreito 
de apenas seis quilômetros de largura, que faz a interligação 
do sul da Grécia com o restante do país.
Esta posição geográfica privilegiada fez com que a 
cidade de Corinto se transformasse num dos principais centros 
comercias do mundo antigo. Como diz Prior (1985, p. 11) por 
terra todos passavam por ela, pelo mar os marinheiros preferiam 
usar os portos de Lequeu e Cencréia, que flanqueavam a 
cidade nos dois extremos do istmo, isto para não circundar as 
perigosas águas do cabo de Maleia, um percurso de mais de 
320 quilômetros.
Nero, imperador romano (40-66 D. C), tentou de 
forma frustrada construir um canal neste istmo, para facilitar a 
navegação naquela região. O canal de Corinto só foi terminado 
em 1893.
 
1. CORINTO ERA UM CENTRO RELIGIOSO
Corinto tornou-se uma cidade próspera, e também 
licenciosa. Viver em Corinto era sinônimo de licenciosidade, 
a evidência disso é que os gregos tinham uma palavra para 
designar uma vida de libertinagem: korinthiazein, isto é viver 
como um Corinto. (PRIOR, 1985, p.11) A licenciosidade de 
Corinto era evidenciada em sua prática religiosa. A religiosidade 
dos corintos era caracterizada por alguns aspectos:
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 51
a) Culto dedicado à glorificação do sexo.
A cidade estava ao pé do Acrocorinto, uma montanha 
com mais de 560 metros de altura, sobre a qual se encontrava 
o grande templo de Afrodite, a deusa grega do amor.
O templo contava com mil sacerdotisas do templo, que 
eram prostitutas cultuais, que sempre ao cair da tarde desciam 
à cidade para oferecer seus serviços sexuais.
 
b) Culto dedicado à glorificação do corpo.
Além do templo de Afrodite, no centro da cidade estava 
o Templo de Apolo. Ele era o deus da música, do canto e da 
poesia; o deus Apolo representava o ideal da beleza masculina. 
Em Corinto havia estátuas e frisos de Apolo nu. Essas esculturas 
“exibiam virilidade e inflamavam seus adoradores masculinos 
a prestarem devoção através de demonstrações físicas com os 
belos rapazes a serviço da divindade. Corinto era, portanto, um 
centro de prática homossexual.” (PRIOR, 1985, p.12)
 
c) Culto sincretista
Ao pé do Acrocorinto realizava-se também o culto a 
Melicertes, que era o deus patrono da navegação. Esse deus 
era o mesmo adorado na cidade de Tiro, também conhecido 
como “Baal”, essa divindade que foi inserida em Israel por 
Acabe quando se casou com Jezabel, filha do rei de Tiro e 
Sidom. (1 Reis 17).
Tanto o culto a Afrofite e a Melicertes eram cultos que 
receberam a influência das religiões orientais. Em Corinto a 
religião havia se misturado de tal forma, que não havia mais 
uma identidade cultual.
 
2. CORINTO ERA UM CENTRO COSMOPOLITA
Corinto era um ponto de parada natural da rota de 
Roma para o Oriente e o lugar onde se encontravam várias 
rotas de comércio. A antiga Corinto foi totalmente destruída 
pelo romano Mummius Achaicus em 146 a.C. Quando um 
século mais tarde a cidade foi reerguida como colônia romana, 
reconquistou rapidamente muito da sua grandeza anterior. A 
52 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
colônia era uma pequena Roma plantada em terras habitadas 
por outros povos e fora escolhida para ser um centro de vida 
romana e manter a paz.
Como a nova cidade era colônia romana, naturalmente 
seus habitantes eram romanos. No começo os gregos pareciam 
relutantes com esta nova cidadania, mas aos pouco retornaram 
em grande número. A cidade atraiu também homens de muitas 
raças orientais, incluindo uma população judia tão grande que 
poderia ter uma sinagoga. Farrar descreve a cidade da seguinte 
maneira:
Essa população híbrida e heterogênea de 
gregos aventureiros e romanos burgueses, com 
uma mistura marcante de fenícios; essa massa 
de judeus, ex-soldados, filósofos, mercadores, 
marinheiros, escravos, libertos, comerciantes, 
vendedores ambulantes e promotores de todas 
as formas de vícios. (FARRAR, apud, PRIOR, 
1985, p.12)
Corinto foi caracterizada como uma colônia “sem 
aristocracia, sem tradição e sem cidadãos bem estabelecidos”.
(PRIOR, 1985, p.13). Corinto experimentava no primeiro 
século os mesmos desafios que enfrentamos em nossa 
sociedade moderna. Já no primeiro século a cidade de Corinto 
era agitada e cheia de violência. Paulo enfrentou em Corinto 
os mesmos dilemas e desafios que temos em nossas cidades 
modernas como Rio de Janeiro, São Paulo ou Nova Iorque.
II. O TRABALHO MISSIONÁRIO DE PAULO EM 
CORINTO 
Em vista destes fatores, não nos surpreende descobrir 
que Paulo foi ter entre eles com temor e tremor. (PRIOR, 1985, 
p. 13). O fato de ele destacar o seu “temor e tremor” deveria 
indicar que ele considerava Corinto uma cidade assustadora.
 Paulo ficou por dezoito meses em Corinto (Atos 
18:1-18), essa foi uma das maiores estadias de Paulo em um 
único lugar, com exceção de Éfeso. A partir daí podemos 
destacar alguns fatos sobre seu ministério.
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 53
1. AS ESTRATÉGIAS DE PAULO PARA PENETRAR NA 
SOCIEDADE CORINTIANA 
a) Estabelecer contato com gente comum (At 18: 2,3)
Paulo precisava ser introduzido na sociedade. Chegar 
alugar uma casa e apresentar-se ao prefeito como missionário, 
parece não ser a melhor pedida. Seu contato com Áquila e 
Priscila foi sobremodo estratégico. (At 18:2-3). Primeiro 
porque seria muito comum um novo comerciante se estabelecer 
na cidade, buscando dias melhores. Segundo, porque ele 
precisava garantir sua subsistência e terceiro, porque sendo 
comerciante Paulo poderia penetrar com mais facilidade no 
dia-a-dia da sociedade de Corinto.
Ele somente se dedicou ao ministério de tempo integral 
depois da chegada de Timóteo e Silas, depois que ele já havia 
penetrado o suficiente na estrutura da sociedade. Paulo nos 
ensina com isso, que quanto maior a identificação entre o 
mensageiro e o ouvinte, maior a possibilidade de êxito na 
comunicação, daí a sua preocupação em estabelecer pontes 
com o seu público, associando-se a cidadãos comuns.
b) Semear em solo já preparado (At 18:4)
Verifique que Paulo faz a mesma coisa em todas as 
cidades por onde passou, com exceção de Filipos, onde não 
foi à sinagoga, mas ao “lugar de oração” (At 16.12-13; 17.1; 
17.10; 17.16-17; 18.4). Porque Paulo ia à sinagoga?
Peter Wagner lança uma luz quando caracteriza três 
tipos de pessoas que frequentavam a sinagoga: judeus, como 
sempre atrelados ao cerimonialismo e ao legalismo, frutos de 
sua má interpretação da lei; prosélitos, aqueles que se tornaram 
judeus por opção, algo como se naturalizar em outro país; e os 
tementes a Deus, como Tito Justo, que morava ao lado da 
sinagoga. Este grupo é caracterizado pela expectativa do algo 
mais, estavam saturados com o estilo de vida de Corinto, mas 
achavam o preço do judaísmo alto demais. Eles queriam o Deus 
dos judeus, a ética dos judeus, mas rejeitavam o fanatismo e a 
intolerância dos judeus.
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c) Apresentar um evangelho puro (At 18: 5,8)
O judaísmo, mal interpretado, com seus aparatos 
legalistas não conseguiu fisgar os tementes a Deus. Paulo 
apresentou Cristo como Senhor. Paulo apresentou uma 
mensagem enxuta, nem mias nem menos do que deus exigiu 
e exige.
O cristianismo é uma proposta muito mais radical, 
mas também muito mais simples. A justificaçãopela fé em 
contrapartida ao emaranhado sacrificial; a motivação interna 
da obediência, em contrapartida ao legalismo hipócrita; a 
igualdade entre todos, nivelados pela cruz, em contrapartida 
ao sectarismo arrogante dos judeus. Estes eram alguns pontos 
que tornavam o cristianismo uma possibilidade mais honesta 
penetrante àqueles que esperavam bases sólidas para suas 
vidas.
De fato, as pessoas têm sido afastadas do evangelho 
não pelo evangelho em si, mas por sua embalagem. Há cristãos 
que confundem sua cultura com o evangelho, isto é, valorizam 
mais a embalagem do que o conteúdo.
d) Depender absolutamente de Deus (At 18: 9-10)
Os primeiros resultados foram desfavoráveis (At 18:6). 
A possibilidade do desânimo do apóstolo Paulo é eminente. 
Deus se apressa em estimulá-lo e o faz de duas maneiras: 
Providenciando resultados positivos (At 18:8) e falando com 
ele pessoalmente (At 18:9-10).
A certeza da presença de Deus é inegociável em 
qualquer empreendimento do reino de Deus. Jesus sabia disso 
e nos deixou a promessa: “Estarei com vocês todos os dias” 
(Mt 28:20). Deus se apressa em tirar o medo do apóstolo: “Não 
temas”. Receio que o oposto da fé não seja a dúvida, mas o 
medo. O medo nos impede de avançar, nos faz mais cautelosos 
conosco mesmo do que com a obra de Deus, nos convida 
aos patamares onde nos sentiremos seguros e deixamos de 
depender dos livramentos do Senhor. Pessoas medrosas são 
péssimas empreendedoras, não arriscam, não lançam suas 
sementes.
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 55
Deus também faz com que Paulo anteveja o sucesso do 
seu ministério: “Tenho muito povo nesta cidade” (At 18.10).
 
e) Consolidar o trabalho mediante o ensino sistemático da 
Palavra de Deus (At 18.11).
O texto de Atos 18.11 afirma que Paulo ficou em 
Corinto ensinando a Palavra de Deus. O discipulado, portanto, 
faz parte do processo missionário. Precisamos aqui fazer 
duas considerações: A primeira, a Bíblia ensina que o alvo do 
discipulado é o não cristão; na segunda, temos de considerar 
as fases do discipulado:
A fase do TESTEMUNHO visa conduzir pessoas à 
conversão. Em seguida vem a fase da INTEGRAÇÃO, que 
pretende fazer o convertido comprometer-se com o corpo de 
Cristo. A terceira fase é a MATURIDADE, que implica em 
estabelecer, à luz da Palavra de Deus, um alicerce sólido para 
o novo convertido. Finalmente a fase da REPRODUÇÃO, 
quando o discípulo passa a fazer discípulos. Provavelmente 
Paulo ficou em Corinto o tempo necessário para cobrir as 
quatro fases.
CAPÍTULO 5
O CHAMADO MISSIONÁRIO
NA PERSPECTIVA BÍBLICA
De certa forma todos nós como cristãos somos chamados para cumprir a missão. Somos chamados para executar a tarefa da evangelização, uma vez que a grande 
comissão é dada a todos os discípulos de Jesus. Quanto a 
isso não há nenhuma dúvida. Timóteo Carriker faz a seguinte 
afirmação:
Quando se fala em ‘missões’ um dos problemas 
mais complexos, um verdadeiro quebra-cabeças 
para os jovens que estão considerando um 
ministério transcultural é a questão de um 
chamamento missionário. (CARRIKER, 1993).
Nossa intenção neste momento não é esgotar o assunto, 
mas servir de facilitador, deste assunto que é tão complexo e, 
ao mesmo tempo, desafiador. Buscaremos uma compreensão 
bíblica do que seria um chamado missionário, e também nos 
preocuparemos em analisar alguns aspectos práticos deste 
chamado em nossos dias. Vejamos algumas considerações 
bíblicas sobre o chamado:
I. O CHAMADO NO VELHO TESTAMENTO.
O verbo kaleo - chamar é usado no Velho Testamento 
com vários sentidos. É usado para dar nomes a coisas, como 
em Gn 1:5, para nomear pessoas (Gn 25:26), cidades (2 Sm 
5:9) e até mesmo para qualificar coisas ( Is 35:8).
58 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
É também o verbo usado para descrever o chamamento 
da parte de pessoas de posição superior aos seus subordinados. 
Neste caso o chamado assume a forma de ordem, e não um 
mero convite (Jó 13.22). Nesta modalidade de chamada, 
espera-se que os homens a ouçam e obedeçam.
O chamado no Velho Testamento em geral responde a 
quatro princípios gerais.
1. COMPREENDER QUE O CHAMADO RECEBIDO 
VEM DA PARTE DE DEUS.
Nem sempre a pessoa está preparada para receber 
um chamado. A experiência de Samuel (1 Sm 3.1-10), nos 
revela que nem sempre se tem a compreensão do que está 
acontecendo. Mesmo estando vivendo dentro do santuário, 
aprendendo aos pés de Eli, Samuel teve dificuldades de saber 
quem na verdade falava com ele. O que demonstra que nem 
sempre estamos preparados para entender o chamado de Deus.
2. O CHAMADO PODE SER INICIALMENTE 
RECUSADO.
Temos dois casos que exemplificam este princípio. 
Um deles é o de Abraão. Segundo o texto de Atos 7.2-3, O 
patriarca foi chamado em Ur dos Caldeus, mas resistiu a este 
chamamento até a morte de seu pai em Harã, quando não se 
opôs mais ao chamado de Deus (Gn 12.1-4). Jonas é o outro 
exemplo. Quando foi chamado por Deus para ir a Nínive, 
recusou veementemente, partindo para o lugar mais longínquo 
do mundo antigo, tentando assim resistir ao chamamento de 
Deus.
3. AQUELES QUE SÃO CHAMADOS QUASE SEMPRE 
SE SENTEM INCAPAZES PARA TAL TAREFA.
Moisés e Jeremias exemplificam este princípio. Quando 
Moisés foi chamado por Deus para voltar ao Egito, libertar 
seus irmãos da escravidão e conduzí-los à terra prometida, sua 
resposta foi alegar que se considerava inapto para a tarefa.
PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS | 59
Jeremias, diante da Palavra do Senhor de que havia 
sido designado profeta antes mesmo do seu nascimento, 
reage com o mesmo argumento de Moisés. Este sentimento 
de incapacidade é relevante, pois revela que as pessoas 
envolvidas no chamamento têm consciência do que significa 
ser chamado por Deus. É nesse sentido que temos a afirmação 
de Guilherme Kerr: “Deus é que declara alguém profeta, e a 
igreja reconhece, concorda e usufrui deste ministério. Quem a 
si mesmo se declara profeta, em geral não o é”. (KERR, 2000).
4. O CHAMADO É DEFINIDO POR SEU CONTEÚDO 
E FORMA.
Este grupo de palavras - Kaleo e seus derivados - não 
ocorre em todas as narrativas de chamado (Jz 6.13; Is 6:1-8), 
talvez porque o chamamento não se caracteriza por uma forma 
gráfica. Deus fala ao homem, a quem, por seu conhecimento 
prévio, deseja incumbir de uma tarefa, que pode ser política ou 
profética (Is 48.14-15) e pode ser definida imediatamente ou 
mais tarde. (BROWN, 1981).
O chamado é o meio pelo qual Deus transforma homens 
sem nenhuma capacidade em instrumentos de sua vontade. De 
acordo com Oswaldo Prado, nunca podemos esquecer que a 
vocação nada mais é que um momento histórico em que se 
concretiza algo que já aconteceu no coração de Deus antes da 
fundação do mundo. (PRADO, 2000).
II. O CHAMADO NO NOVO TESTAMENTO.
O Novo Testamento corrobora aquilo que o velho define 
sobre o chamado, ou seja, Deus continua chamando as pessoas 
que Ele quer chamar para a realização de seus propósitos 
salvíficos.
O Novo Testamento talvez amplie alguns princípios já 
elaborados no Velho Testamento. O chamado de Jesus aos seus 
discípulos é no sentido de “fazer uma chamada imperiosa a um 
indivíduo, ou a um grupo existente e mais ou menos definido 
como discípulos”. (BROWN, 1981).
60 | PLANTANDO IGREJAS SAUDÁVEIS
Isto nos ajuda a compreender a ideia do chamado 
específico. O chamado não é entendido por Jesus como um 
fim em si mesmo, mas como o meio de realizar os propósitos 
de Deus entre os homens.
Outro aspecto interessante e que precisa ser analisado 
é que o chamado está sempre vinculado à Igreja. O Novo 
Testamento não abre possibilidade para o autochamamento. 
A igreja é que concede o aval do chamado. Em At 13:1-3 
ocorre exatamente isto, onde se lê que o Espírito Santo separa 
a Barnabé e a Saulo e a igreja avaliza este chamado, impondo 
as mãos, abençoando e enviando estes irmãos.
III. O CHAMADO NA VISÃO DE PAULO.
Eleição e vocação são dois aspectos inseparáveis na 
visão de Paulo. Ele entende a vocação:
Como sendo o processo através

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