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Alice Bastos Dermatite de fralda Dermatite da área das fraldas é expressão genérica abrangendo um conjunto de dermatoses inflamatórias que atingem a área do corpo coberta pela fralda: Períneo; Região glútea; Abdome inferior; Coxas; Como não é diagnóstico específico, incluem-se na dermatite da área das fraldas (principalmente com fins didáticos): Erupções causadas diretamente pelo uso da fralda; Dermatite irritativa primária da área das fraldas (alguns autores consideram como sinônimo de dermatite da área da fralda); Dermatite de contato alérgica ao material plástico da fralda (muito rara); Dermatites exacerbadas devido ao uso da fralda: Psoríase; Eczema atópico; Dermatite seborreica; Miliária; Candidose; Dermatite de contato alérgica; Dermatites que ocorrem na área do corpo coberta pela fralda, mas que não se relacionam com seu uso: Acrodermatite enteropática; Histiocitose de células de Langerhans; Granuloma glúteo infantil; Dermatite estreptocócica perianal; Impetigo bolhoso; Escabiose; Sífilis congênita; Aids. A dermatite da área das fraldas não deve ser interpretada como entidade diagnóstica específica, mas como diagnóstico de localização que engloba um amplo grupo de dermatoses de etiologia multifatorial. Dermatite da área da fralda irritativa primária Dermatite em W; É a mais prevalente; Popularmente chamada de assadura; Trata-se de dermatite de contato por irritante primário na região da fralda; Afeta mais de 50% dos bebês; Desconhece-se a prevalência exata da dermatite, já que costuma ser tratada de forma conservadora, em casa; É mais frequente nos dois primeiros anos de vida, com pico de incidência entre o sétimo e o décimo segundo mês de vida (período de maior utilização da fralda); Crianças de outras faixas etárias podem também desenvolver a doença em situações especiais que as levem à incontinência urinária e fecal; Nesses casos, o quadro clínico é semelhante, com iguais complicações e terapêutica; Não há predileção por sexo, raça ou padrão social. Fisiopatologia É importante conhecer os principais aspectos da fisiopatologia da doença para que se possa fazer correta prevenção e tratamento apropriado; Algumas crianças parecem ser mais susceptíveis; Crianças atópicas e com dermatite seborreica são mais susceptíveis; A concomitância com outras entidades pode dificultar o diagnóstico diferencial entre elas; Os fatores genéticos envolvidos ainda não estão completamente esclarecidos ou firmados; Alice Bastos Oclusão, maceração e presença de bactérias e Candida têm, possivelmente, função na patogenia da doença; A ingestão de antibióticos associados à diarreia também é fator de risco; O papel preciso das fraldas mantém-se desconhecido. Modelo de Berg Explica a forma como vários fatores relacionados com o uso da fralda promovem o desenvolvimento e a progressão da dermatite de fralda; A dermatite da área de fralda primária é interpretada como resultado final de uma cascata de eventos, desencadeada inicialmente por lesões no nível do estrato córneo, induzidas por exposição a múltiplos fatores, tais como: Hiper-hidratação; Fricção; Temperatura; Irritantes químicos; Urina/fezes; Após comprometimento da barreira cutânea, vários fatores adicionais potencializam as alterações, originando um ciclo vicioso vulnerável às infecções por agentes microbianos oportunistas, como Candida albicans, que é fator agravante frequente. A fralda, por si só, muito raramente está implicada no desenvolvimento de dermatites de contato irritativas ou alérgicas em criança; As fraldas descartáveis modernas possuem três camadas: Interna: funciona como filtro; Intermediária: capacidade de absorção de líquidos; Externa: à prova de água; A última camada da fralda tem papel fundamental na impermeabilidade da fralda, no entanto, previne a perspiração, o que aumenta a temperatura e umidade locais; As fraldas modernas são mais oclusivas, sendo responsáveis pelos casos raros de dermatite de contato alérgica; A fralda ideal (não existe) deveria: Ter boa capacidade de conter água; Permitir bom arejamento (menos oclusiva); Mudar de cor imediatamente após a criança urinar. A amônia, liberada na degradação bacteriana da uréia urinária, não constitui a causa principal da dermatite da área das fraldas, mas pode atuar como fator agravante em pele previamente lesionada; A ureia é convertida por bactérias em amônia, que eleva o pH cutâneo; É provável que outros produtos resultantes da degradação da urina, ainda não identificados, desempenhem papel importante no desencadeamento da dermatite; A elevação do pH aumenta a atividade das proteases e lipases fecais, que são fatores importantes na etiopatogenia da dermatite; A exposição prolongada da pele à urina aumenta a permeabilidade a substâncias irritantes; As fezes das crianças contêm quantidades importantes de enzimas digestivas proteolíticas e lipolíticas; Quando em contato prolongado com aa superfície cutânea coberta pela fralda, as enzimas causam alterações consideráveis na barreira epidérmica; Alguns autores sugerem papel relevante dos ácidos biliares na etiopatogenia da dermatite. Ç A fricção entre duas áreas de pele e da pele com a fralda durante os movimentos da criança é um fator predisponente ao aparecimento da dermatite; Esse fato pode ser confirmado pela predileção da dermatite pelas superfícies convexas (genitais, região glútea, parte inferior do abdome e área proximal das coxas) e pelo não acometimento das pregas. Ç O ambiente de hiper-hidratação pode ser causado por: Fraldas; Ureia urinária; Alice Bastos Certas situações clínicas como febre; Apesar das fraldas modernas conterem material absorvente, o ambiente quente e úmido não foi completamente eliminado; A hidratação excessiva: Torna a pele mais susceptível à fricção originada pela movimentação sob a fralda; É responsável por maceração cutânea que leva, posteriormente, a alterações da função de barreira da epiderme; Então, é criado o ambiente ideal para a proliferação de microrganismos. A fralda dificulta a perspiração da pele subjacente, ocasionando o aumento da temperatura local; Esse aumento leva à vasodilatação e, consequentemente, à inflamação. Têm efeito tóxico direto sobre a pele; Destacam-se: Alguns óleos; Desodorizantes; Conservantes; Com o estabelecimento da dermatite, vários agentes podem determinar maior irritação do quadro: Sabonete; Óleos; Talco; Pomadas; Banho de ervas; Resíduos químicos ou detergentes de lavagem presentes nas fraldas; Loções aplicadas diretamente na pele; Alguns medicamentos sistêmicos: Podem afetar a motilidade e a flora intestinal, assim como o controle autônomo da urina e das fezes (como citei antes, urina e fezes colaboram com o quadro da dermatite); Podem ser irritantes quando eliminados pelo organismo. A dermatite da área das fraldas é muitas vezes confundida com a dermatite de contato alérgica às fraldas, contudo essa situação é excepcional nos primeiros anos de vida. A pele, quando tem suas barreiras de defesa lesadas por qualquer mecanismo, está sujeita à infecção secundária; É comum achar a associação da dermatite com superinfecção por: Candida albicans; Staphylococus aureus; Bacilos faecallis; Proteus; Pseudômona; Streptococcus; Candida albicans: Contamina frequentemente crianças com dermatite da área das fraldas com mais de três dias de evolução; Pode ser encontrada em percentual que varia de 8 a 77% dos casos; Há forte associação entre a gravidade da dermatite e o número de colônias presentes; A maioriados autores acredita que a C. albicans invada apenas secundariamente a pele lesada, embora outros defendam seu desempenho de papel primário; As bactérias fecais têm provável efeito sinérgico com a Candida em produzir a erupção; É capaz de penetrar a barreira epidérmica por liberação de queratinases; Inúmeras bactérias foram implicadas no desenvolvimento da dermatite de fraldas, no entanto, as evidências mais recentes favorecem a infecção pela C. albicans. Quadro clínico Caracteriza-se por um eritema brilhante, com aspecto “envernizado”, que varia de intensidade ao longo do tempo; Alice Bastos Pode se apresentar na forma de pápulas eritematosas associadas a edema e ligeira descamação; Atinge tipicamente as áreas de maior contato com a fralda (dermatite em “W”): Superfícies convexas das nádegas; Coxas; Parte inferior do abdome; Púbis; Grandes lábios; Escroto; As pregas são poupadas; Quando o eritema começa a resolver, a pele torna-se enrugada com aspecto apergaminhado; Em crianças com menos de 4 meses de idade, a primeira manifestação pode ser um ligeiro eritema perianal; A intensidade das alterações cutâneas varia de leve a grave; A alteração do pH da pele pode desencadear o desenvolvimento de infecções oportunistas de origem bacteriana, fúngica ou viral; Nos casos mais graves, a erupção pode atingir áreas não cobertas pela fralda; Se não houver tratamento, ou se infeccionar, pode evoluir para maceração e exsudação, formação de pápulas, vesículas ou bolhas, erosão ou ulceração da pele, infecção do pênis, vulva ou do trato urinário; Quando associado com síndrome diarreica, o quadro frequentemente tem rápida evolução e é mais intenso; Existem dois subtipos morfológicos menos frequentes de dermatite da fralda irritativa primária: Dermatite das marés; Dermatite de Sevestre-Jacquet. Caracteriza-se por um eritema em banda, confinado apenas às margens da fralda na área do abdome e coxas; Resulta da fricção constante que ocorre no bordo da fralda, agravada por ciclos consecutivos de umidade e secagem. Forma incomum e grave da dermatite da área da fralda; Se desenvolve pela persistência e intensidade do agente agressor, associação de fatores agravantes (irritantes, tópicos, fungos) e/ou por manejo adequado; Manifesta-se por lesões papuloerosivas e úlceras; Atinge mais frequentemente crianças mais velhas; Nos meninos, as úlceras podem envolver a glande e o meato urinário, causando desconforto e disúria (desconforto, dor ou queimação ao urinar). Diagnóstico É clínico; Deve-se realizar exame micológico direto para a pesquisa de Candida quando o eritema se intensificar, houver pústulas satélites ou ocorrer resolução lenta do quadro. Prevenção Engloba um conjunto de medidas que têm como principais objetivos: Manter a área seca; Limitar a mistura e dispersão da urina e das fezes; Reduzir o contato com a pele; Evitar irritação e maceração; Manter, sempre que possível, um pH ácido; A remoção da oclusão é a melhor e mais antiga medida de prevenção e tratamento desta situação; Alice Bastos As medidas preventivas incluem a eliminação ou minimização de todos os fatores implicados na etiopatogenia da dermatite de fraldas; Existem 5 aspectos fundamentais na prevenção da dermatite da área das fraldas: Frequência da troca de fraldas; Capacidade de absorção das fraldas; Controle de infecções; Fraldas descartáveis X fraldas de pano; Higiene diária. A fralda deve ser mudada, sempre que possível, após a criança defecar ou urinar, a fim de que a capacidade de absorção não seja superada, evitando contato da urina com a pele; Em recém-nascidos a troca deve ser horária; Nas crianças restantes, a troca deve ser realizada com 3 a 4 horas de intervalo. Ç A maioria das fraldas comercializadas contêm um material acrílico em gel superabsorvente, eficaz em manter a área da fralda seca e em meio ácido; A fralda descartável determina efeito oclusivo maior do que o das fraldas de pano, não eliminando o contato pele/fezes; Esta capacidade das fraldas não deve ser um estímulo para os pais manterem a mesma fralda por períodos mais longos. Ç A C. albicans contamina frequentemente a dermatite da fralda; A infecção por esta levedura deve ser considerada, pesquisada e tratada em dermatites com mais de 3 dias de evolução. As fraldas descartáveis superabsorventes são as que possuem maior capacidade de manter a área da fralda seca; Fraldas descartáveis produzem um número significativamente menor de eritema e menor grau de dermatite; Alguns autores defendem o uso das fraldas de pano pela menor oclusão que estas provocam. A higiene diária da fralda com água morna e algodão, sem recorrer a sabonetes, é suficiente na limpeza diária da urina; É desnecessário lavar com sabão toda vez que a criança urinar, pois pode acarretar dermatite de contato pelo sabão; Quando são utilizados sabões suaves, estes não deverão ser aplicados mais do que 2 vezes por dia; Para as fezes, sabonetes brandos são recomendados; Lenços umedecidos não são recomendados pela maioria dos autores; Podem ser úteis apenas em situações de locomoção; Eles contêm sabões e o contato continuado com a pele, pode lesar a barreira cutânea; Seria adequado enxágue após o uso; O uso rotineiro de preparações tópicas para prevenir dermatite da área das fraldas não é necessário para crianças com pele normal; Os aditivos dessas preparações têm o potencial de causar sensibilização de contato, irritação e/ou toxicidade percutânea; Aplicar cremes de barreira ou pastas mais espessas e aderentes; Evitam a umidade excessiva da área das fraldas; Minimizam as perdas transepidérmicas de água; Diminuem a permeabilidade da pele. Ç Preparações contendo ácido bórico e pó talco (pó de amido) devem ser evitados pelos riscos de toxicidade e de desenvolvimento de granulomas; Tratamentos caseiros, com clara de ovo e leite, por seu poder alergênico. Alice Bastos Tratamento O tratamento médico consiste em medidas simples, aplicadas de acordo com a gravidade e o tipo de dermatite; O mais importante é uma higiene adequada: Trocas muito frequentes de fraldas; Limpeza com agentes brandos e água morna; Cremes de barreira. São basicamente os mesmos cuidados da prevenção. Se o eritema persistir, pode-se associar um corticoide de baixa potência, como hidrocortisona a 1%, no máximo duas vezes ao dia por dois a sete dias a fim de aliviar a inflamação. Corticoides de potência mais elevada estão contraindicados pelo risco aumentado de atrofia e de estrias, além de que o efeito oclusivo da fralda aumenta a potência do corticoide aplicado. Suspeitar de infecção por Candida; Aplicar creme antifúngico, como nistatina ou miconazol 1%, duas vezes ao dia por 7 a 15 dias; O corticoide pode ser revezado com o antifúngico, aplicando-os antes do creme barreira. Ç Antibioticoterapia tópica; Ex.: neomicina, gentamicina ou mupirocina a 2%. Alcatrões em pomada; Contraindicado em alguns países, pelos riscos de carcinogênese. Pesquisar diagnósticos diferenciais, como dermatite atópica, dermatite seborreica, psoríase da área das fraldas e dermatite de contato.
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